terça-feira, 6 de abril de 2021

Deu na Imprensa - 06/04/2021

 

Nas manchetes dos jornalões, três temas ganham destaque: 1) a decisão de Gilmar Mendes de vetar os cultos em São Paulo com a discussão sobre o veto a aberturas de igrejas indo para o plenário – manchete da Folha e, por tabela, do Globo, que reporta que os cultos e missas já estão liberados em 22 capitais brasileiras. 2) Pelo menos 18 empresas desistiram de lançar ações na bolsa por conta da pandemia – manchete de capa do Estadão. E 3) O aumento da disparidade de renda entre setor público e privado – com o funcionalismo colocado como alvo do Valor

Na política, a notícia do dia é a pesquisa XP/Ipespe que mostra desaprovação recorde a Bolsonaro – chega a 60% – e a dianteira do ex-presidente Lula na preferência do eleitorado à frente de Bolsonaro. Embora estejam tecnicamente empatados, Lula segue à frente, com 29% das intenções de voto e o presidente da República tem 28%. Os jornalões – à exceção do Valor – escondem a pesquisa nos impressos, mantendo o material mergulhado no cipoal de textos em seus sites. A notícia, contudo, ganha ampla repercussão na blogosfera, merecendo manchete do Brasil 247DCMRede Brasil Atual e Vi o MundoO Globo dá alto de página para a declaração do presidente Baleia Rossi de que o MDB não vai apoiar o petista em 2022

Coluna do Estadão repercute o "pedido" de Ciro Gomes para que Lula não dispute as próximas eleições presidenciais. Escreve Alberto Bombig"O pedido de Ciro para que Lula dê um "passo atrás" na caminhada rumo a mais uma candidatura presidencial escancarou o que parte da esquerda não petista debate em privado: até que ponto a rejeição ao PT pode favorecer eleitoralmente Jair Bolsonaro?". Segundo o colunista, a performance de Ciro, em evento de sindicatos, foi entendida também como um aceno ao petista. "Afinal, um dos sonhos de parte da esquerda é ver o ex-presidente como vice de Ciro. Por isso, a citação a Cristina Kirchner", pontua. "O PT deu de ombros: não quer ouvir falar".

Espremido pelas críticas crescentes dos ricos e do establishment econômico, Bolsonaro tenta sair das cordas e retomar algum tipo de interlocução com o mundo empresarial.  Poder 360 informa que o presidente convidou um grupo de executivos para jantar na quarta-feira, em São Paulo. Entre eles, estão Rubens Ometto (Cosan), Flávio Rocha (Riachuelo), André Esteves (BTG Pactual) e Luiz Trabuco (Bradesco). Um dos organizadores do encontro é o ministro Fábio Faria.

No Estadão, outro empresário insatisfeito surge dando entrevistas com críticas ao presidente da República. Vice-presidente do conselho do Grupo Boticário, Artur Grynbaum acreditava em maior tranquilidade em 2021, mas agora vê 'ano duro'. Ele também aponta a importância da vacinação e diz que recuperação vai depender da transparência do processo de imunização. E confessa: "Não sobra alternativa a não ser lockdown".

O capital parece mesmo insatisfeito. Estadão relata que a troca na Petrobrás e a condução da pandemia levaram investidores estrangeiros a retirar R$ 15,9 bilhões da Bolsa em dois meses. Apenas em março, fuga de capitais na Bolsa chegou a R$ 4,6 bilhões. Em janeiro, antes da piora do quadro da pandemia e da mudança na Petrobrás, saldo foi positivo em R$ 23,5 bilhões.

O pessimismo é contagiante. Valor diz que a vacinação lenta é risco também para a retomada no 2º semestre. Entre economistas, já há quem coloque projeções mais otimistas em dúvida.

Ainda sobre Lula, repercute nos jornais o pedido de procuradores da Lava Jato para que o Supremo Tribunal Federal mantenha a suspeição do ex-juiz Sergio Moro no caso de Lula. O plenário do STF julga dia 14 se confirma ou não a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações e todas as decisões tomadas em quatro processos contra o ex-presidente. Em caráter reservado, ministros disseram ao Globo que a tendência é que a medida seja mantida. No TijolaçoFernando Brito diz que os procuradores não têm sequer competência para apresentar memorial, já que não são parte da ação, movida por Lula.

Na imprensa internacional, o Brasil volta a ser merecer destaque negativo, por conta da atuação de Bolsonaro e do descontrole da pandemia no país. O jornal americano Washington Post destaca em manchete de primeira página que a variante brasileira P1 passou a ser um problema não só para o Brasil, como também para a América Latina e o resto do mundo. O inglês The Guardian, por sua vez, aponta o dedo para Bolsonaro e o coloca como um perigo para o Brasil e o mundo. O editorial é contundente. (Leia em NA GRINGA).

Ainda no noticiário internacional, todos os grandes jornais destacam o esforço do governo dos EUA em promover uma ampla reforma tributária que permita taxar as grandes empresas corporativas que têm alcance global. O jornal The New York Times destaca em manchete de capa que Biden e os democratas detalham planos para aumentar impostos sobre empresas multinacionais

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que os EUA apoiariam um imposto mínimo global, enquanto os principais democratas revelaram seu próprio plano para aumentar os impostos sobre as empresas multinacionais. A proposta pode arrecadar até US$ 1 trilhão nos próximos 15 anos de grandes empresas, exigindo que paguem impostos mais altos sobre os lucros que ganham no exterior. O assunto também ganhou espaço no Le MondeLibérationFinancial Times e WSJ. O jornal Washington Post informa que o plano de infraestrutura de Biden está sob ataque de ansiosos republicanos.

Outro destaque do dia na imprensa internacional é o anúncio de que a Índia registrou 100 mil casos em um único dia. As autoridades do estado mais afetado do país voltaram a impor bloqueios e advertiram que os hospitais, mesmo em cidades menores, estavam ficando sem leitos. A Índia está vacinando mais de três milhões de pessoas todos os dias, em um dos maiores esforços do mundo.


ORÇAMENTO

No Congresso, permanece o impasse em torno da proposta de orçamento. O governo ainda continua à procura de uma solução jurídica para o problema. Fontes da equipe econômica de Paulo Guedes apontam avanços na negociação que já conseguiu subir para um valor entre R$ 12,5 bilhões e R$ 13 bilhões o ajuste a ser feito na peça. O assunto é tema de alguns colunistas. 

Estadão diz que o aval a R$ 16,5 bilhões em emendas no Orçamento expõe a divisão entre equipes do próprio Ministério da Economia. No Valor, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco surge crítico a Guedes. "Equipe econômica mudou o discurso", afirma. Em evento com investidores, ele disse que houve algum erro na formulação da peça orçamentária, mas o governo também contribuiu para esse equívoco. "Há um impasse hoje [em relação ao Orçamento], mas que definitivamente não foi criado pelo Congresso Nacional. Houve um trabalho feito a quatro, seis ou oito mãos, em que todos concordaram, e agora houve uma mudança de discurso por parte do Ministério da Economia", disse.

Folha informa que a crise entre Executivo e Legislativo continua e que o impasse vai atrasar o 13º de aposentados e o programa de corte de jornada e salário que o governo quer. Ainda na Folha, reportagem mostra que as pensões de militares pioraram as contas públicas, e que a União acumula um passivo recorde de R$ 4,4 trilhões. "Pandemia e incorporação de benefícios para integrantes das Forças Armadas afetam números", reporta.

No Globo, Míriam Leitão diz que o nó no orçamento de 2021 reflete a incompetência política do governo Bolsonaro. "O ministro Paulo Guedes disse que não há briga. Há sim. Briga entre os poderes e dentro do governo. Entre os técnicos e a ala política", afirma a colunista. "O Ministério Público de Contas quer que o TCU alerte o governo preventivamente de que a sanção pode representar crime de responsabilidade fiscal. O parecer do TCU deve sair amanhã. Paulo Guedes na live para um banco disse que se o Orçamento for deixado como está as contas podem ser reprovadas no ano que vem e 'alguém' terá a 'capacidade de atingir a candidatura presidencial'. O assunto é técnico mas aperta todos os botões políticos, do relacionamento com o Congresso e da sustentação do governo".


NA GRINGA

O editorial do jornal inglês The Guardian aponta Bolsonaro como um perigo para o Brasil e para o mundo"O presidente de extrema direita deu rédea solta à Covid-19 e à destruição da Amazônia. Agora parece que ele planeja se apegar a tudo o que os eleitores disserem", avalia. O jornal diz que Bolsonaro fez mudanças no governo e "o gatilho imediato para as demissões foi o retorno bombástico do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, no mês passado, depois que um juiz anulou suas condenações criminais – abrindo a porta para ele concorrer novamente no ano que vem"

Diz o jornal: "A possibilidade do retorno de Lula é suficiente para concentrar mentes da direita em encontrar um candidato alternativo, menos extremista do que Bolsonaro. Pode ser irritante ver aqueles que ajudaram sua ascensão se posicionarem como os guardiões da democracia, ao invés de seus próprios interesses. Mas sua saída seria bem-vinda, pelo bem do Brasil e do planeta".

Em manchete de primeira página, o jornal Washington Post destaca que a variante no Brasil coloca em risco a América Latina. De acordo com o jornal, a variante P1, que contém um conjunto de mutações que a torna mais transmissível e potencialmente mais perigosa, não é mais um problema apenas do Brasil. É um problema da América do Sul – e do mundo. 

Nas últimas semanas, o vírus foi transportado por rios e fronteiras, evitando medidas restritivas destinadas a conter seu avanço pelo continente. "Há uma ansiedade crescente em partes da América do Sul de que a P1 possa rapidamente se tornar a variante dominante, transportando o desastre humanitário do Brasil – pacientes adoecendo sem cuidados, um número de mortos disparado – para seus países", diz. A íntegra está ao final deste briefing.

Sobre o ex-presidente Lula, o jornalista angolano João Melo escreve no Diário de Notícias de Portugal apontando o líder político brasileiro como um social-democrata"Lula não é um radical e muito menos um comunista. Salvaguardadas as devidas nuances, ele pode ser classificado, à luz das medidas que defende e aplicou quando foi presidente, um social-democrata (de fato e não apenas de nome, como o PSDB brasileiro, cujo elitismo o levou a colocar o bolsonarismo no poder)", observa.


COLUNISTAS

No EstadãoEliane Cantanhede critica o ministro Kassio Nunes, do STF. "Liberar cultos, missas e aglomerações equivale a mandar o gado para o matadouro", lamenta. "Em meio ao caos, o bolsonarista do Supremo, Kassio Nunes Marques, passa por cima de decisões do plenário".

No ValorAndrea Jubé trata das articulações do PT para as eleições de 2022. Ela informa que uma ala do PT não esconde a euforia com a perspectiva da candidatura presidencial do de Lula, e expectativa de vitória, amparada na convicção de que 2022 repetirá a bem sucedida campanha de 2002"Naquele ano, o Lulinha 'paz e amor', candidato de uma aliança do trabalho com o capital, representado pelo vice e empresário mineiro José Alencar, fez a 'esperança vencer o medo', para relembrar o 'slogan' daquela eleição", escreve. Ela diz que Eduardo Paes deve ser um aliado prioritário do PT, citando declarações de Washington Quaquá.


MANSÃO

De volta às agruras do presidente, outra fonte de desgaste a Bolsonaro é a confirmação de que  o Ministério Público do DF investiga empréstimo de banco a Flávio Bolsonaro para a compra de mansão. Imóvel foi adquirido pelo filho do presidente por R$ 6 milhões. O BRB financiou R$ 3,1 milhões do total. A casa no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, bairro nobre da capital federal, foi adquirida pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro em janeiro. O imóvel de 1.100 m² de área construída, em um terreno de 2.500 m², custou R$ 6 milhões.

 

AS MANCHETES DO DIA

Folha: Gilmar veta cultos em SP, e discussão vai para o plenário

Estadão: Pandemia e crise fazem empresas cancelar lançamento de ações

O Globo: Cultos e missas já foram liberados em 22 capitais

Valor: Disparidade de renda cresce entre setor público e privado

El País (Brasil): Falta de vacinas para a covid-19 reaviva o debate sobre suspender as patentes durante  pandemia

BBC Brasil: O que se sabe sobre efeitos de tipos sanguíneos em casos graves de covid-19

UOL: Impasse no Orçamento atrasa 13º do INSS e programa de corte de salário

G1:  1ª parcela do auxílio emergencial começa a ser paga hoje

R7: Começa nesta terça o pagamento do novo auxílio emergencial para 45,6 milhões de pessoas

Luís Nassif: O vergonhoso Ministro Kássio Nunes

Tijolaço: 'Bilete' da Lava Jato pede anulação de suspeição de Moro ao STF

Brasil 247: Jornais da mídia corporativa escondem pesquisa XP, que mostra Lula à frente de Jair Bolsonaro

DCM: Lula ultrapassa Bolsonaro já no primeiro turno, diz pesquisa

Rede Brasil Atual: XP/Ipespe: Lula lidera sucessão. Avaliação negativa de Bolsonaro dispara

Brasil de Fato: Brasil tem 19 milhões de pessoas passando fome em meio à pandemia

Ópera Mundi: Para a lógica neofascista, a mulher precisa voltar para o lar, diz Yara Frateschi

Vi o Mundo: Lula ultrapassa Bolsonaro na pesquisa Ipespe e Moro despenca de 24% para 9%; desaprovação do presidente bate em 60%

Fórum: Aras avaliza Nunes Marques: "Estado deve assegurar assistência religiosa em tempo de paz e de guerra"

Poder 360: Para conter críticas, ministro organiza jantar entre Bolsonaro e empresários

New York Times: Democratas pressionam por impostos mais altos para empresas globais

Washington Post:  Variante no Brasil coloca em risco a região

WSJ: Google vence disputa de direitos autorais com Oracle na Suprema Corte

Financial Times: Johnson se prepara para confronto com conservadores após apoiar passaportes da Covid

The Guardian: Johnson promete retornar a uma 'aparência de normalidade'

The Times: Primeiro-ministro esperançoso de feriados estrangeiros no próximo mês

Le Monde: Febre especulativa nas finanças globais

Libération: Astrazeneca. A mal amada

El País: A esquerda se rearma em Madri depois do empate que indica pesquisa

El Mundo: Covid19. Um funcionário da EMA confirma uma ligação entre a vacina AstraZeneca e trombose

Clarín: Covid. Governo mostra cifras para tomar medidas mais duras

Página 12: A nova onda

Gramna: O prestígio de Cuba nos direitos humanos desqualifica as acusações norte-americanas

Diário de Notícias: Reforma das Forças Armadas. PS promete "olhar crítico" à proposta do governo 

Público: China e Rússia são suspeitas de terem feito ciberespionagem a Portugal

Frankfurter Allgemeine Zeitung: O ABC do Corona

Süddeutsche Zeitung: Conflito ucraniano. O Ocidente deve ameaçar com sanções que possam ferir

The Moscow Times: Coronavírus na Rússia: Mortes ultrapassam 100.000. Vacinação em massa

Global Times: China publica 'livro branco' sobre redução da pobreza para compartilhar experiências na erradicação

Diário do Povo: Comentários de Xi sobre a redução da pobreza na China

segunda-feira, 5 de abril de 2021

A média móvel de óbitos em sete dias, 2.747, teve alta de 20% em relação ao período anterior

 O Brasil ultrapassou a Índia como segundo país com mais casos de Covid-19 no mundo e se aproxima dos 13 milhões de infectados desde o início da pandemia. No domingo foram registrados, segundo dados do consórcio de veículos de comunicação, 30.939 novos casos, totalizando 12.983.560. Houve ainda 1.233 mortes, elevando o total a 331.530. A média móvel de óbitos em sete dias, 2.747, teve alta de 20% em relação ao período anterior. A tendência é de alta no Distrito Federal e em 12 estados: ES, MG, RJ, SP, DF, MS, MT, AP, CE, MA, PB, PE e PI. (G1)

Segundo o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, da Universidade de Washington, o Brasil deve ter cem mil mortes por Covid-19 ao longo do mês de abril. Esse é o pior dos três cenários traçados pela instituição, que leva em conta fatores como uso de máscaras e respeito às regras de distanciamento social. (UOL)

Quando se fala em colapso nos sistemas de saúde, geralmente se pensa em ocupação de leitos e falta de material, mas há um outro que chama menos a atenção: o dos profissionais. Médicos, enfermeiros e técnicos chegam ao esgotamento, agravado pela sensação de que a população não está colaborando para melhorar a situação. (Globo)

Uma boa notícia é que o número de internados nos hospitais em todo o estado de São Paulo caiu, embora continue alto. Segundo o governo do estado, havia neste domingo 29.962 pacientes internados, o que representa uma queda de 1.041 em relação à última sexta-feira. (Folha)

O presidente argentino Alberto Fernández, diagnosticado com Covid-19 na sexta-feira, está em isolamento, mas sem apresentar sintomas, segundo a equipe médica da Casa Rosada. (UOL)

E a pandemia fez surgir um novo negócio, o turismo de imunização. Uma agência norueguesa cobrando o equivalente a até R$ 20 mil por um pacote de duas viagens de quatro dias a Moscou que inclui city tour e duas doses da vacina Sputnik V, que ainda não foi aprovada pela agência de saúde da União Europeia. (Poder360)




O Brasil tem hoje 18 estados sem aulas presenciais e em 19 as escolas particulares só podem operar remotamente. É o maior número desde julho de 2020, quando terminou o primeiro fechamento completo para tentar conter a pandemia de Covi-19. A Fiocruz reconhece que escolas são serviços essenciais, mas diz que seu funcionamento só pode ser garantido em regiões com a doença sob controle. (Globo)

E a Justiça do Rio suspendeu o decreto do prefeito Eduardo Paes permitindo a retomada hoje das aulas presenciais no município. (G1)

Mesmo diante dos problemas causados pela pandemia, da exclusão digital e da falta de investimentos na educação, a prioridade do MEC no momento é a regulamentação, ainda no primeiro semestre do ensino doméstico. Não se trata do ensino à distância, mas de um sistema em que os próprios pais educam os filhos em casa. Em todo o mundo é uma pauta de grupos fundamentalistas religiosos, que buscam blindar as crianças de temas como evolução e educação sexual. (G1)

Marques libera cultos, STF deve levar caso a plenário

Causou grande mal estar entre os ministros do STF a decisão de Kássio Nunes Marques, nomeado no ano passado por Jair Bolsonaro, de liberar a realização de cerimônias religiosas presenciais em todo o Brasil, justamente no momento mais grave da pandemia de Covid-19. A liminar contraria o entendimento do Plenário do Supremo de que estados e municípios têm autonomia para estabelecer regras de distanciamento social e restrição de atividades. Já há um movimento da Corte para que o presidente Luiz Fux leve o caso ao Plenário. Há inclusive uma estratégia para isso. Gilmar Mendes, que criticou acidamente Nunes Marques no julgamento da suspeição de Sérgio Moro, analisa uma ação semelhante, proposta pelo PSD. Se for na contramão do colega e rejeitar a liberação das cerimônias, o assunto irá para o Plenário automaticamente. (Globo)

O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Jonas Donizette, também pediu que o STF se manifeste sobre o que está valendo. A decisão anterior do Plenário ou a liminar de Nunes Marques? “Essa flagrante contradição atrapalha o enfrentamento à pandemia em um país federado e de dimensões continentais como o nosso”, disse. (G1)

Intimado por Nunes Marques, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, suspendeu a proibição das cerimônias religiosas, mas lamentou nas redes sociais. “Por mais que doa no coração de quem defende a vida, ordem judicial se cumpre”, escreveu o prefeito. (Poder360)

Com a liberação pelo ministro, igrejas católicas e evangélicas fizeram cerimônias para comemorar o domingo de Páscoa. (Folha)

Mas o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, criticou duramente a decisão de Marques. “A essencialidade da liberdade religiosa é o testemunho. Não é ir no templo. Tem muita gente que vai no templo e não testemunha Jesus. Vai no templo para testemunhar o cofre. Vai no templo para testemunhar o lucro, não Jesus”, disse o padre, em celebração online da Páscoa. (UOL)

Thiago Amparo: “Direito é como um castelo de cartas, onde as peças (os argumentos) empilham-se delicadamente; sem isso, o castelo todo cai por terra. É o que acontece com a decisão do ministro Kassio Nunes. Que fique claro: o ministro desafia a hermenêutica e a paciência jurídicas ao tentar, sem sucesso, empilhar de forma desconexa argumentos que, juntos, não convencem e, sozinhos, estão errados.” (Folha)

Então... A dívida das igrejas com a União já chega a R$ 1,9 bilhão. O valor se refere ao imposto de renda e à contribuição previdenciária descontados no contracheque dos funcionários e embolsados pelos templos. (Estadão)

E o Twitter removeu ontem um vídeo em que o ex-deputado condenado no mensalão e presidente do PTB, Roberto Jefferson, incentiva cristãos a se armarem contra “Satanás que quer fechar igrejas e impor o comunismo no Brasil”. (Poder360)




O presidente Jair Bolsonaro usou o domingo de Páscoa para, na contramão do que dizem os cientistas, criticar mais uma vez as medidas de isolamento social decretadas por estados e municípios. No Twitter, ele publicou o vídeo de um apresentador de TV que o apoia atacando o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), a partir de supostos repasses federais para o combate à pandemia no estado. Só mais tarde Bolsonaro usou o Twitter para desejar feliz Páscoa aos brasileiros. (UOL)

Câmara e outros governadores reagiram com indignação ao ataque de Bolsonaro. “Em lugar de disseminar fake news, por que não assumir suas verdadeiras atribuições e fazer parte do enfrentamento à pandemia?”, escreveu Câmara no Twitter. (Poder360)




Líder da minoria na Câmara e possível candidato ao governo do Rio, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) defende que uma candidatura de esquerda – tanto no estado quanto na disputa presidencial – reúna também o centro. “Não dá para dividir o país apenas entre bolsonaristas e petistas”, diz o deputado, que defende ainda o apoio de seu partido à candidatura de Lula (PT) e diz que gostaria de ver Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente no mesmo palanque. (Estadão)

E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu em artigo a formação, para o pleito de 2022, de uma candidatura de centro que seja “progressista, social e economicamente”.

Fernando Henrique Cardoso: “A liberdade é como o ar que respiramos: sem nos darmos conta, é dele que vivemos. Basta cortá-lo para aparecerem consequências nefastas. Daí que eu veja com apreensão o momento atual. Apresentemos aos brasileiros, quanto antes, um programa de ação realista, que permita juntar ao redor dele os partidos e as pessoas para formar um centro que seja progressista, social e economicamente. Centro que não pode ser anódino: terá lado, o da maioria, o dos pobres; mas não só, também o dos que têm visão de Brasil e os que são aptos para produzir. Quem personificará esse centro? É cedo para saber.” (Globo e Estadão)

Meio em vídeo. Circulou na semana passada um manifesto pela consciência democrática que é assinado por seis pré-candidatos à presidência da República. Mas não é assinado por Lula. Que é um democrata. Qual, então, é intenção de Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoêdo, João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta? Veja no Ponto de Partida no Youtube.




A pandemia de Covid-19 se converteu em mais uma ferramenta do governo Bolsonaro para desestabilizar as Polícias Militares, em particular nos estados com governadores vistos como “inimigos” pelo Planalto. Redes de extrema-direita têm disseminado informações falsas atacado publicações das PMs em estados como São Paulo, Bahia, Piauí e Maranhão. Segundo o coronel Lindomar Castilho, comandante da PM do Piauí, há pessoas que “tentam desinformar e fazer a cabeça dos policiais” sob seu comando. (Estadão)

Nessa estratégia de levar as PMs ao confronto com os governos estaduais, outra ferramenta importante são policiais de baixa patente, mas com liderança dentro da categoria. Segundo especialistas, há uma tentativa de “politizar” queixas históricas da Polícia Militar, ligadas a questões salariais e estrutura de trabalho. Para um ex-comandante da PM, porém, a recusa da polícia baiana a se amotinar após a morte de um soldado em surto psicótico mostra resistência às tentativas de politização. (Globo)

Aliás, a participação da Polícias Militares em tentativas de golpe (pelo menos uma bem-sucedida) ao longo do século 20 foi o tema da edição de sábado do Meio.

Brasil fecha março como mês mais mortífero da pandemia

 

Brasil fecha março como mês mais mortífero da pandemia
Brasil fecha março como mês mais mortífero da pandemia
Congresso e Governo Federal preparam mudança para que empresários possam comprar vacinas e imunizar funcionários

Mortes entre trabalhadores essenciais disparam na pandemia

 


Trabalhadores que não puderam ficar em casa em nenhum momento da pandemia exercem algumas das ocupações que mais registraram aumento nos desligamentos do emprego por morte no Brasil, segundo um levantamento exclusivo feito para o EL PAÍS com base em informações do Ministério da Economia. Entre frentistas de posto de gasolina, por exemplo, houve um salto de 68% no número de mortes entre janeiro e fevereiro de 2020, meses antes da chegada da pandemia no país, e dois dos piores meses da crise sanitária, no início de 2021. Operadores de caixa de supermercado perderam 67% mais colegas no mesmo período.

Nos primeiros dois meses do ano, ao menos 83 professores do ensino fundamental morreram, contra 42 no ano passado. Os dados não recolhem só óbitos por covid-19, mas a alta atípica permite usar o conceito de "excesso de mortes" para estimar o peso da covid-19 nas categorias. A análise feita por Marcelo Soares sinaliza, pela primeira vez, o custo da pandemia para os setores tidos como essenciais.

"Os EUA servem para mostrar como a política pode influir em uma pandemia, porque durante meses tiveram o maior número de mortes por dia", disse o médico e escritor Drauzio Varella à correspondente Naiara Galarraga Gortázar, para ilustrar seu argumento de que Jair Bolsonaro, assim como foi Donald Trump, é um fator que piora a tragédia da covid-19. Na conversa, Drauzio critica a atitude dos países ricos de comprar mais vacinas do que necessitam no momento. "Não se justifica. Por que não emprestar vacinas e recebê-las de volta depois? Deveria haver um acordo internacional intermediado pela OMS."

Também nesta edição, o repórter Felipe Betim conta como presos em uma cadeia do Piauí morreram subnutridos sob a tutela do Estado. De acordo com um relatório do Ministério da Saúde, seis detentos perderam a vida e 56 foram internados por surto de beribéri, causada pela falta de vitamina B1, em unidade de Altos. O motivo? Monotonia na dieta, baseada em carboidratos simples. Caso, ocorrido em 2020, chama atenção para problemas na alimentação em presídios com as visitas familiares restritas por causa da pandemia —em geral, os parentes levam alimentos.

O gasoduto mais polêmico da geopolítica mundial passa pelas gélidas águas do Báltico. Nesse mar interior, o barco russo Fortuna trabalha para terminar o Nord Stream 2 quando faltam 6% para a conclusão, mas a controvérsia permanece. A reportagem de María R. Sahuquillo, de Moscou, e Elena G. Sevillano, de Berlim, explica tudo que está em jogo na construção do gasoduto da discórdia.

Para começar a semana com planos para o futuro, um texto de Francesc Mirales sobre a chamada "terceira juventude". "Há pessoas que florescem tarde. Uma existência ativa e com propósito é a melhor via para morrer jovem aos 100 anos", escreve ele. Mirales lista algumas dicas para trilhar esse caminho.

Fique em casa se puder. Ajude os mais vulneráveis se tiver chance. Se cuide.


Mortes entre caixas, frentistas e motoristas de ônibus aumentaram 60% no Brasil durante o auge da pandemia
Mortes entre caixas, frentistas e motoristas de ônibus aumentaram 60% no Brasil durante o auge da pandemia
Análise de contratos formais de trabalhadores que não puderam ficar em casa revela "excesso de óbitos" em janeiro e fevereiro de 2021. Ao menos 83 professores do ensino fundamental morreram, contra 42 antes da covid-19

Pesadelo do coronavírus no Brasil: ‘Bolsonaro está mais isolado do que nunca’

 Pesadelo do coronavírus no Brasil: ‘Bolsonaro está mais isolado do que nunca’


Com as infecções disparando e a economia enfraquecendo novamente, o presidente está lutando para manter seu governo unido

Michael Stott em Londres, Michael Pooler e Bryan Harris | Financial Times


A declaração do Ministério da Defesa do Brasil foi compacta – duas sentenças.  Mas detonou com o poder explosivo de uma bomba. No mais curto do comunicado, anunciou que os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica “haviam sido substituídos” em 30 de março. A saída dos principais chefes militares, em protesto contra a demissão do ministro da Defesa no dia anterior, marcou uma ruptura dramática entre o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro e a instituição que ele procurava cultivar tão assiduamente. 


A saída repentina dos generais ocorre em meio a um desastre de saúde pública, com um número recorde de mortes por coronavírus, tornou o Brasil o epicentro global da pandemia. A mudança aprofundou a crise política sobre a oposição teimosa de Bolsonaro aos bloqueios e as ameaças do ex-capitão do Exército de usar os militares contra as autoridades locais que tentaram impô-lo. 


“Na história da República, nunca houve uma decisão dos três comandantes de renunciar ao mesmo tempo, muito menos em protesto contra o presidente”, diz Carlos Fico, professor de estudos militares da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Nunca houve uma crise dessas dimensões antes”. 


As Forças Armadas não são a única instituição que perde a paciência com o Bolsonaro. Uma semana antes, centenas de líderes empresariais proeminentes assinaram um manifesto exigindo ação governamental eficaz para controlar a segunda onda de agravamento da pandemia, que ameaça a recuperação econômica instável do Brasil. 


No Congresso, há os primeiros murmúrios de uma tentativa potencial de impeachment do presidente. E com o retorno do ex-presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva à política, depois que sua condenação por corrupção foi derrubada, Bolsonaro não é mais o favorito nas eleições do ano que vem. 


Um dos maiores céticos do coronavírus do mundo, Bolsonaro recusou-se a usar máscara durante a maior parte do ano passado, criticou as vacinações e classificou a pandemia como “uma gripezinha”. Ele agora está lutando para manter seu governo unido e suas esperanças de reeleição vivas em meio a alguns dos piores números da Covid-19 do mundo. 


“Bolsonaro está mais isolado do que nunca”, diz Mario Marconini, diretor-gerente da consultoria Teneo. “À medida que a pandemia inevitavelmente piora, haverá outro acerto de contas pelo Congresso em um futuro não muito distante para ver se ele se tornou mais descartável do que é agora”. 


‘Nunca houve distanciamento social’ 


“No ano passado, eles não morreram como neste mês. Este ano está muito pior, até com a vacina”, diz Jadna Batista Pereira, enfermeira de 51 anos de um hospital público de São Paulo. 


Ela está exausta, zangada e com sintomas de coronavírus apesar de ter sido vacinada. “Todo o meu hospital está lidando com Covid. Temos três UTIs e todas estão 100% ocupadas”, acrescenta.


O Brasil notifica regularmente mais de 80.000 novos casos de coronavírus todos os dias, o maior número de infecções do mundo. Mais de 325.000 pessoas morreram enquanto o país sofre uma nova onda de doenças muito pior do que a do ano passado.  


A crise expôs o que os especialistas consideram erros desastrosos de Bolsonaro ao lidar com a pandemia. As consequências estão sendo sentidas muito além das fronteiras do Brasil. 


A Organização Pan-Americana da Saúde informou na semana passada que a variante P. 1 que impulsiona a segunda onda no Brasil foi encontrada em 15 nações das Américas. “Infelizmente, a terrível situação no Brasil também está afetando os países vizinhos”, disse Carissa Etienne, diretora da OPAS.  


Membros seniores do Congresso que apoiaram o presidente estão tendo dúvidas. Arthur Lira, o presidente da Câmara dos Deputados, emitiu um “sinal amarelo” ao governo na semana passada e pela primeira vez insinuou a possibilidade de impeachment do presidente. 


Sempre uma figura polarizadora, Bolsonaro, 66, tornou-se um alvo particular por causa de suas opiniões sobre o coronavírus. Como o ex-presidente dos Estados Unidos e sua alma gêmea política Donald Trump, ele constantemente minimizou o vírus, dizendo aos brasileiros para “aceitá-lo como um homem”. 


Sua postura chocou os profissionais médicos. Ainda assim, em uma grande economia de mercado emergente onde os recursos financeiros para subscrever bloqueios são limitados e a pobreza é aguda, a insistência de Bolsonaro de que fechar a economia seria um mal maior atingiu alguns brasileiros. 


Populista astuto, o presidente cumprimentou multidões de apoiadores sem máscara no auge das infecções do ano passado, comprando um cachorro-quente de um vendedor para mostrar sua opinião sobre como manter a economia funcionando. Quando ele próprio contraiu o vírus em julho passado, Bolsonaro garantiu aos seus torcedores que, graças ao seu “histórico de atleta”, se recuperaria rapidamente – e se recuperou. 


As mortes no Brasil atingiram um patamar em meados do ano passado e gradualmente diminuíram. O apoio governamental generoso para o terço mais pobre da sociedade, apelidado de “coronavoucher”, amenizou a dor financeira. Ajudada pelas doações, a economia do Brasil contraiu 4,1% no ano passado, melhor do que os economistas temiam. No quarto trimestre, o produto interno bruto se recuperou. À medida que as mortes diminuíam e a economia crescia, as avaliações do Bolsonaro aumentavam. Por um breve período, parecia que sua aposta arriscada poderia valer a pena.  


Mas em novembro, as taxas de infecção começaram a aumentar novamente. À medida que as mortes aumentaram constantemente durante o verão brasileiro, Bolsonaro manteve o ceticismo quanto ao vírus. Ele atacou repetidamente um medicamento desenvolvido na China e, em dezembro, sugeriu que a vacina da BioNTech / Pfizer poderia até transformar as pessoas em crocodilos. 


Na temporada de carnaval, em meados de fevereiro, as taxas de mortalidade no Brasil ultrapassaram as da primeira onda. Depois, mais que dobraram novamente e, no final de março, o Brasil bateu um novo recorde de mais de 3.000 mortes em um único dia. 


Felipe Naveca, virologista da Fiocruz Amazônia, diz que o Brasil “entrou em um ciclo vicioso [que] levou ao surgimento de uma variante mais transmissível”. “A raiz do problema é que nunca houve distanciamento social como deveria ter ocorrido no Brasil. E a pior consequência de todas foi P.1.” 


Ainda assim, no início de março, quando as mortes se aproximavam de 2.000 por dia, Bolsonaro disse aos brasileiros para “pararem de choramingar” e perguntou: “Por quanto tempo vocês vão continuar chorando por causa disso?” 


A oposição de Bolsonaro aos bloqueios é apenas parte do problema. Sua negação, comunicada por vários grupos de mídia social, também é influente. 


Jamal Suleiman, especialista em infecções do Instituto Emilio Ribas, em São Paulo, está muito irritado com isso. Ele reclama que seus conhecidos ficam perguntando se as cenas de falta de oxigênio na televisão são reais. “Neste fim de semana recebi mais de meia dúzia de vídeos de amigos perguntando se era verdade ou não”, diz. 


A maneira como o presidente lidou com a pandemia faz parte de sua disputa com a liderança militar. Três vezes no mês passado, Bolsonaro invocou o que chamou de “meu exército” como um aliado em sua batalha contra os bloqueios, alarmando líderes militares que não desejavam ser arrastados para a política de pandemia partidária. “Meu exército não vai às ruas forçar as pessoas a ficarem em casa”, disse ele em 8 de março. 


O general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa demitido por Bolsonaro três semanas depois, referiu-se claramente na sua carta de despedida ao facto de ter “preservado as Forças Armadas como instituições do Estado”. 


‘Uma bagunça completa’ 


Por um campo de montículos recém-escavados de solo ocre, homens vestindo macacões de proteção brancos, máscaras de respiração e luvas carregam um caixão para uma das dezenas de cemitérios vazios. 


Fileiras e mais sepulturas estão sendo lentamente preenchidas no maior cemitério da América Latina, no leste de São Paulo, onde escavadeiras mecânicas reviram a terra em antecipação à chegada de novas pessoas.  


Em tempos normais, haveria de 35 a 40 enterros por dia, diz um coveiro se abrigando do sol tropical sob uma árvore; agora são 80 a 90. 


Os cientistas ainda estão estudando a variante P. 1, que surgiu na Amazônia em dezembro passado. A maioria concorda que é significativamente mais transmissível e pode reinfectar algumas pessoas que já tiveram o vírus. Um artigo não revisado por pares por uma equipe de pesquisadores do Reino Unido e Brasil descobriu que era entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível.  


O contágio do P. 1 foi mostrado graficamente em Manaus no início do ano, quando houve uma explosão de casos Covid-19 na cidade amazônica quatro vezes maior que o pico do ano passado. 


“A maioria dos profissionais de saúde acredita que é uma doença diferente e mais grave… Com pior prognóstico nos jovens”, diz José Eduardo Levi, pesquisador da Universidade de São Paulo. “Minha opinião é que é mais patogênico, mais fatal”. 


A rápida propagação do P. 1 inundou o sistema de saúde do Brasil. Domingos Alves, professor do Laboratório de Inteligência em Saúde da Universidade de São Paulo, diz que uma previsão precisa agora é impossível por causa da falta de leitos hospitalares. “A possibilidade de chegar a 5 mil mortes por dia é muito grande”, acrescenta. 


Diante do desastre sanitário que se desenrola, as opções do Brasil são limitadas. A vacinação tem demorado a ser iniciada, apesar do respeitado sistema de saúde pública do país. Em 27 de março, pouco mais de 7% da população havia recebido pelo menos uma dose da vacina, uma proporção maior do que a da Rússia ou da Índia, mas bem atrás da Turquia ou do Chile. 


Os críticos culpam a desorganização dentro do Ministério da Saúde, que agora está em seu quarto ministro desde o início da pandemia. “Faltou planejamento total”, diz Monica de Bolle, especialista em Brasil do Peterson Institute, em Washington. “Em dezembro, eles começaram a pensar em uma campanha de vacinação, mas não tinham nem seringas suficientes. Foi uma bagunça completa”. 


O Ministério da Saúde agora diz que contratou 562 milhões de doses de vacina para entrega este ano – mais do que o suficiente para aplicar duas injeções em toda a população de 213 milhões do Brasil – mas isso depende da produção local, que ainda não começou. 


‘Perto do colapso’ 


Os brasileiros continuam divididos em relação aos bloqueios e sua eficácia é limitada pela necessidade das famílias mais pobres de sair para ganhar a vida. Pagamentos mais generosos da Previdência resolveriam isso, mas, como Bolsonaro reconheceu no início do ano, “o Brasil está quebrado”. A dívida do governo está oscilando em torno de 90% do PIB, um nível alto para um país emergente. 


Para piorar as coisas, a inflação começou a decolar. Os preços subiram 5,2% em fevereiro, gerando raiva entre aqueles que lutam para sobreviver. Maria Izabel de Jesus, aposentada de 72 anos que mora na Zona Leste de São Paulo, diz que a comida ficou inacessível. “É muito. Você não pode comprar nada”, disse ela.


Surgiram pichações nas paredes denunciando o “Bolsocaro” , um trocadilho que usa o nome do presidente e a palavra portuguesa para “caro”. A piora das expectativas sobre a inflação forçou o banco central a elevar as taxas de juros de baixas históricas neste mês e alertou sobre aumentos futuros. 


O aumento nos casos de coronavírus está forçando os economistas a rebaixar as previsões. Cassiana Fernández, economista-chefe do JPMorgan para o Brasil, vê uma contração de 5,5% no PIB no primeiro trimestre, seguida por uma recuperação fraca de 1,5 por cento no segundo trimestre. “O próximo mês será especialmente desafiador”, diz ela. “Corremos o risco de um cenário mais disruptivo. Estamos muito próximos de ver o colapso do sistema de saúde público e privado nas grandes cidades”. 


Diante de uma economia em deterioração, uma crise de saúde de proporções globais e uma tentativa de reeleição no próximo ano, Bolsonaro recebeu outro golpe no mês passado: Lula, o político mais famoso do Brasil, está livre para concorrer novamente ao cargo depois que um juiz da Suprema Corte anulou seu condenações por corrupção. 


Embora impopular entre alguns brasileiros por causa dos escândalos de corrupção que perseguiram seus governos, Lula tem mais chances de derrotar Bolsonaro do que qualquer outro na eleição presidencial de outubro próximo, de acordo com pesquisas de opinião. 


A elite empresarial do país, tradicionalmente hostil a Lula, começa a acreditar que o ex-líder sindical é o mal menor. Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, diz: “Vejo muita gente dizendo que se a situação fosse entre Bolsonaro e Lula, eles tapariam o nariz e votariam em Lula”. 


Os partidários de Bolsonaro, no entanto, não desistem. “O ressurgimento de Lula em cena, por mais trágico que seja, fez com que este governo entrasse no jogo”, diz um financista próximo ao presidente. “Bolsonaro é constantemente subestimado”. 


Sob pressão do crescente número de mortos e da eleição iminente, o presidente do Brasil deu alguns sinais provisórios de mudança de rumo. 


De vez em quando, ele agora usa uma máscara em público. Na semana passada, discursou à Nação na televisão falando sobre vacinas. Ele finalmente convocou uma força-tarefa nacional contra o coronavírus e falou em tons mais conciliatórios. 


“O Bolsonaro tratou mal a pandemia, de todas as maneiras possíveis”, diz Matias Spektor, professor associado da Fundação Getulio Vargas. “Agora ele está começando a inverter, para usar uma melodia diferente. O motivo é o colapso absolutamente chocante do sistema de saúde em todo o Brasil, além da aparição de Lula”. 


Bolsonaro também precisa de apoio para evitar o risco de impeachment. A mudança ministerial desta semana, que trocou o ministro da Defesa, também entregou um cargo chave no gabinete a um membro do Centrão, um bloco político não ideológico que apóia o presidente em troca de gastos extras. “Eles não precisam dele, mas sabem que ele precisa deles”, diz de Bolle. 


As ameaças do presidente de usar o Exército em apoio a suas políticas polêmicas – ou mesmo em um esforço ao estilo de Trump para se manter no cargo após uma eleição disputada no ano que vem – agora parecem cada vez mais improváveis, na esteira da insistência pública dos generais em se manter papel constitucional, embora Bolsonaro ainda pudesse tentar apelar diretamente para a base militar, onde permanece popular. 


Mas ainda não está claro se os esforços tardios do Bolsonaro para intensificar a vacinação e deter a disseminação do vírus podem conter as mortes e interromper a transmissão da variante P. 1, que ameaça populações em todos os lugares. 


“O mundo precisa perceber o risco que o Brasil representa hoje para a população global”, diz Levi, da Universidade de São Paulo. “Existem apenas duas maneiras de combater isso: isolamento social e vacinação rápida em massa”. 


Reportagem adicional de Carolina Pulice em São Paulo


https://www.ft.com/content/55713895-2423-4259-a222-f778f9587490


 


 


Em meio à tragédia do Brasil, nossa esperança é a perspectiva de derrota do Bolsonaro no próximo ano



À medida que as mortes de Covid sobem, o presidente parece estar jogando o país em um abismo do qual será difícil escapar

Celso Amorim | The Guardian

Não é exagero dizer que o Brasil vive a crise mais grave de sua história. Com quase 4.000 mortes por dia e avançando rapidamente para a cifra de 500.000 pessoas mortas pela Covid-19, o Brasil não é apenas o epicentro da pandemia. Também se tornou o terreno fértil para novas variantes do vírus: uma ameaça real para seu próprio povo e toda a humanidade.


Em meio a uma guerra de saúde pública que está perdendo, o presidente Jair Bolsonaro está jogando o país mais fundo no abismo, de onde dificilmente sairá. Além do sofrimento causado a centenas de milhares, talvez milhões, de parentes e amigos das vítimas, a economia mergulhou na recessão, com 14% da força de trabalho condenada a algum tipo de ajuda governamental. Em contraste com o que aconteceu durante a primeira onda da pandemia, quando o Congresso forçou o governo a distribuir ajuda financeira relativamente significativa para uma grande parte da população, agora menos pessoas serão beneficiadas e com um valor menor.


É claro que a recuperação nacional é impossível até que a situação de saúde melhore. No campo da política, as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal, que revogou condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trouxeram esperanças de uma volta à normalidade, mas o súbito afastamento pelo presidente do ministro da Defesa, somado à renúncia dos chefes das forças armadas, jogou o país na incerteza institucional.


Rumores indicam que a cúpula não concordou com as sugestões de Bolsonaro de estabelecer um “estado de sítio”, como um possível prelúdio para uma espécie de “ autogolpe ”, no qual ele adquiriria poderes extraordinários. Ainda não está claro como essa crise militar se desdobrará e se algum tipo de golpe ainda pode ocorrer. É mais provável que tal possibilidade fique em segundo plano como uma ameaça permanente a ser usada no caso de procedimentos de impeachment contra o presidente serem iniciados pelo Congresso ou - algo que não está fora do cenário - a agitação social crescente como resultado da gestão desastrosa do crise de saúde e da desaceleração econômica.


Com seus repetidos avisos sobre o caos iminente, Bolsonaro parece estar conscientemente brincando com uma “profecia autorrealizável”, de cujas terríveis consequências ele espera de alguma forma lucrar. O mesmo vale para as constantes ameaças — do próprio presidente ou de algum de seus associados — de uso da força contra governadores de estados que tomam medidas, como bloqueios e toques de recolher, para combater a propagação da pandemia.


Ameaças veladas também estão sendo expressas por militares radicalizados (principalmente aqueles que não estão mais no serviço ativo) e, de acordo com algumas versões, pelo próprio Bolsonaro. Na verdade, uma das razões para a animosidade do presidente em relação ao ex-comandante do exército, Edson Pujol - um general de quatro estrelas amplamente respeitado, considerado apegado à lei e à Constituição (um "legalista") — foi sua relutância em acatar a sugestão de Bolsonaro de que se pronunciasse criticamente sobre a decisão da Suprema Corte que devolveu os direitos políticos de Lula, possibilitando ao ex-presidente concorrer novamente à Presidência no ano que vem.


Poucas horas antes do anúncio das mudanças nas Forças Armadas, o presidente, sob forte pressão do Senado, havia demitido o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cuja desastrosa conduta da diplomacia brasileira foi amplamente tida como responsável pela dificuldade de obtenção das vacinas tão necessárias na China, Índia e Estados Unidos.


Araújo, no entanto, gozava do apoio de muitos partidários da extrema direita do Bolsonaro, incluindo os filhos do presidente. Sua demissão foi vista como uma derrota em relação ao Congresso. De certa forma, seu surpreendente movimento contra os chefes militares foi uma forma de mostrar que o presidente mantém a capacidade de tomar a iniciativa. E, aliás, em uma área extremamente sensível.


E agora? Com sua popularidade caindo, apesar do apoio continuado de cerca de 30% da população, a perda da simpatia (ou tolerância) do grande capital, para não falar da lamentada derrota de seu amigo e guru Donald Trump, Bolsonaro está preocupado acima de tudo com sua sobrevivência política imediata, de olho nas eleições de 2022. Os debates sobre se ele saiu mais forte ou mais fraco na semana passada provavelmente permanecerão inconclusivos.


Uma coisa me parece certa, do meu ponto de vista: o Bolsonaro ficou “menor”, ​​principalmente por causa das tensões criadas com as Forças Armadas. Mas ele continua contando com grupos informais, como as milícias, além da maioria das polícias militares estaduais e grande parte da população que está sob influência de alguns ramos das igrejas evangélicas.


Uma tentativa de um de seus apoiadores na Câmara dos Deputados de arrancar o controle da polícia militar local (uma espécie de guarda nacional) dos governadores estaduais e transferi-la para o presidente acaba de fracassar. Mas outros movimentos ou provocações estão fadados a ocorrer, com consequências imprevisíveis, em meio a uma situação socioeconômica cada vez mais volátil. Tudo isso tendo como pano de fundo uma presença cada vez maior de Lula na arena política, nacional e internacional. A possível vitória da esquerda ou centro-esquerda nas próximas eleições presidenciais está novamente no horizonte. Para muitas pessoas, isso significa esperança em meio à tragédia.


Celso Amorim foi ministro das Relações Exteriores do Brasil em 1993-1994 e 2003-2010, e ministro da Defesa em 2011-2014

https://www.theguardian.com/commentisfree/2021/apr/02/brazil-tragedy-bolsonaro-defeat-covid-deaths-president