Os mísseis lançados contra Kiev, capital da Ucrânia, começaram a explodir por volta das 5h desta quinta-feira, meia-noite no Brasil. Às 7h, as sirenes de alarme de ataques aéreos soaram e pais em toda capital receberam por SMS o aviso de que as aulas, hoje, seriam online. As estações de metrô, que servem de abrigo perante ataques aéreos, encheram de pessoas. No fim da manhã, um longo engarrafamento, carros em fuga partindo na direção da Europa, havia se formado. As sirenes também tocaram em Lviv, a metrópole mais próxima da fronteira polonesa. Lá, a população foi aconselhada a desligar as luzes, ter consigo seus documentos mais importantes e buscar abrigo. É a cidade para onde muitos dos diplomatas estrangeiros haviam sido realocados, vindos da capital. Comboios militares cruzaram a fronteira vindos da própria Rússia e também de Belarus, invadindo a Ucrânia. “Estamos nos defendendo”, afirmou em pronunciamento na TV o presidente russo Vladimir Putin. “Esta é uma operação militar especial para desmilitarizar e denazificar a Ucrânia.” Putin instou os soldados a ucranianos a não resistir, a largar suas armas. “Jurem aliança ao povo ucraniano, não a esta junta anti-povo que rouba a Ucrânia e abusa da população”, ele seguiu. “Todos que tentarem interferir devem saber que a reação da Rússia será imediata e levará a consequências nunca experimentadas na história.” As explosões continuavam no flanco oriental de Kiev quando esta edição fechou. (CNN)
Há batalhas em curso nas regiões sul e leste do país, onde os exércitos de Ucrânia e Rússia já se encontraram. De acordo com o governo ucraniano, 50 soldados russos foram mortos, em Schastya, e quatro tanques foram queimados na estrada para Kharkiv, que é a segunda maior cidade do país. Ambas ficam no leste. Seis caças russos e um helicóptero foram abatidos. (Financial Times)
“O mundo está conosco”, tuitou o presidente Volodymyr Zelenski. Ele já havia conversado ao telefone com o americano Joe Biden, o britânico Boris Johnson, o alemão Olaf Scholz e o polonês Andrzej Duda. (Twitter)
Também no Twitter, o senador republicano Marco Rubio afirmou que o ataque está ocorrendo exatamente como haviam previsto os sistemas de inteligência americanos. “Este é um assalto militar pleno que ocorre em toda a Ucrânia. Há desembarques navais, ataques de mísseis vindos do ar, da terra e do mar, ataques cibernéticos e uma grande força de ocupação de território.” (Twitter)
Então... Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia, países da OTAN que têm fronteiras com Rússia e Ucrânia, ativaram o artigo 4 do Tratado do Atlântico Norte. É quando países membros avisam oficialmente de que estão sob ameaça militar. O temor é de que a guerra afete seus territórios. Não é o mesmo que ativar o artigo 5 — este exige que todos os membros respondam juntos a um ataque. (Financial Times)
EUA, Reino Unido e União Europeia estudam excluir a Rússia do sistema SWIFT. É o que conecta os bancos do mundo uns aos outros, permitindo movimentações financeiras. Os bancos russos se veriam impossibilitados de receber e enviar dinheiro para fora. O receio é de que isto dificultaria a vida para países europeus que precisam comprar óleo e gás russos. (Washington Post)
O preço do barril de petróleo já começou a aumentar, chegando a US$ 102 no mercado de futuros e cruzando a linha dos cem dólares pela primeira vez desde 2014. E o rublo despencou, perdendo mais de 10% de seu valor nas primeiras horas após o ataque. (CNBC)
Michael McFaul, ex-embaixador americano na Rússia: “Putin não pensa como nós. Ele acredita que o Ocidente ditou termos injustos para a paz após a Guerra Fria. Do jeito como vê, foi imposta uma reestruturação liberal na Rússia, Moscou foi forçada a assinar tratados de controle armamentista, a OTAN expandiu ignorando seu país e — pior de todos os pecados — os eslavos foram divididos em países diferentes. (Na verdade, foram os líderes de três repúblicas soviéticas eslavas que assinaram um tratado dividindo a URSS.) Agora que a Rússia é novamente poderosa, Putin está preparado para arriscar muito para rever o que chama de ordem imperial americana. Ele vai pressionar para desfazer a ordem internacional liberal enquanto estiver no poder. Normalizar anexação de territórios, negar soberania aos vizinhos, sabotar ideias liberais, sociedades democráticas e dissolver a OTAN são seus objetivos futuros. Putin não vê países como atores únicos. Ele olha para dentro dos países e separa os grupos pró-autocracias dos grupos pró-democracias. Ele acredita que o incentivo americano a democracias ameaça seu comando autocrático. A maioria das crises que abriu com os EUA não foram provocadas por expansão da OTAN. Foram por mobilizações pró-democracia — ele as chama de ‘revoluções das cores’ — que ocorreram dentro de países. A Geórgia, em 2003; Ucrânia, em 2004; a Primavera Árabe, em 2011; a Rússia, em 2011 e a Ucrânia, novamente, em 2014.” (Washington Post)
Thomas Friedman: “Putin vê a ambição ucraniana de deixar sua esfera de influência tanto como uma derrota estratégica quanto como uma humilhação pessoal e nacional. Mas há um contexto relevante. A obsessão pela Ucrânia não vem de um nacionalismo místico, há dois pedaços de lenha mantendo este fogo vivo. O primeiro é a decisão mal pensada dos EUA de expandir a OTAN nos anos 1990, apesar do colapso da União Soviética. O segundo, muito maior, é como Putin explorou de forma cínica esta expansão para convencer os russos a ficarem de seu lado apesar do desastre de seu governo. Putin fracassou em tentar fazer da Rússia um modelo econômico que poderia tanto atrair seus vizinhos quanto manter, na Rússia, seus maiores talentos. Hoje eles buscam vistos para viver no Ocidente. Quando Putin escolheu, por questões políticas internas, se tornar um nacionalista belicista, o que o esperava para seduzir a população? A expansão da OTAN. Sim, esta guerra Putin criou. Ele é um líder ruim para a Rússia e seus vizinhos. Mas os EUA e a OTAN não são inocentes a respeito de como chegamos até aqui.” (New York Times)
O bolsonarismo partiu ontem para o ataque. A começar pelo próprio presidente, que falou do Planalto para uma plateia num evento promovido pelo banco BTG. Ele estava “irritadiço, falando alto, por vezes gritando”, descreveu Vera Magalhães. Em seu discurso, Bolsonaro tentou atiçar o antipetismo de executivos do setor financeiro e indústrias, que o assistiam. Afirmou existir um plano de governo Lula — que em verdade não existe. “O Lula de Bolsonaro vai revogar as reformas trabalhista e da Previdência, reverter a autonomia do Banco Central, recriar o Imposto Sindical, reestatizar as empresas privatizadas, acabar com o teto de gastos, fortalecer o MST, recolher armas das mãos do cidadão de bem, extinguir escolas cívico-militares e colégios militares, liberar drogas, legalizar o aborto e... reaproximar o Brasil de Cuba.” (Globo)
Pois é… Não é coincidência que o Planalto esteja atrás de outro grupo com capacidade de financiar campanhas — o de empresários do agronegócio. Vários foram convidados para um encontro no próximo dia 7. E a forma do convite gerou desconforto. “O modo como o encontro foi chamado gerou insegurança pelo que foi considerado falta de transparência”, conta Juliana Dal Piva. “A ideia era que, em um primeiro momento, o grupo se encontrasse com Jair Bolsonaro no Palácio para uma conversa e, posteriormente, no mesmo dia, uma segunda reunião ocorreria sem o presidente e seriam feitos convites para contribuição com a campanha.” Sua campanha está sentindo falta de recursos. (UOL)
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