quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Moscou e Washington estão jogando uma partida complexa e de alto risco

 

Após o anúncio russo de que começa a retirar tropas da fronteira ucraniana, o presidente americano Joe Biden afirmou que ainda há 150 mil soldados alocados na região e que seu governo não detectou movimentos de recuo. “Não enviarei soldados americanos para lutar na Ucrânia”, Biden afirmou. “Mas se a Rússia atacar os EUA ou nossos aliados por meios assimétricos, como ciberataques contra nossas empresas ou infraestrutura crítica, estamos preparados para responder.” Em Moscou, a ambiguidade permanece. A Duma, parlamento russo, aprovou um pedido para que o presidente Vladimir Putin reconheça a independência dos estados ucranianos de Donetsk e Luhansk, onde uma guerra civil já ocorre. (Guardian)

Max Fisher, analista de política externa: “Moscou e Washington estão jogando uma partida complexa e de alto risco, enviando sinais para tentar conquistar seus objetivos sem disparar um tiro. Diplomacia, movimentos de tropas, ameaças de sanções, fechamento de embaixadas, encontros de líderes e vazamento de inteligência têm por objetivo provar que cada país está disposto a cumprir suas ameaças e que aceitam certos riscos. Nesta negociação arriscada, o objetivo é definir o futuro da Europa sem iniciar uma guerra mas, ao mesmo tempo, telegrafando como um conflito se daria. Ao movimentar as tropas, a Rússia deseja convencer Washington e Kiev de que está disposta a encarar uma guerra de grande porte para conquistar suas demandas, então é melhor que os países cedam pacificamente. Ao anunciar que já considera a guerra iminente, fechar sua embaixada em Kiev e chamar os americanos de volta, o governo Biden sinaliza para Moscou que, mesmo na iminência da guerra, não entra em desespero e sai fazendo concessões. Quanto mais ambos os lados tentam mostrar que suas ameaças realmente valem, maior o risco de que um erro de cálculo leve à perda de controle do jogo.” (New York Times)




Enquanto isso… A CNN Brasil teve de desmentir o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que publicou uma montagem no Twitter. O político atribuía ao canal de notícias a informação de que o presidente Jair Bolsonaro “evitou a terceira guerra mundial” ao negociar com seu par russo, ainda no avião, um recuo de tropas. (CNN Brasil)

Este tom, o de que Bolsonaro está ativamente envolvido em negociações de paz, é generalizado entre influenciadores de seu campo político. E só lá. (Metrópoles)

Não é à toa, o TSE formalizou ontem parceria com oito plataformas digitais para o combate à desinformação eleitoral. TikTok, Facebook e Instagram se comprometeram a excluir os conteúdos que o tribunal considerar problemáticos. O Kwai prometeu um canal direto com a corte para denúncia de conteúdos que violem a lei e ponham em risco o pleito. O Twitter tem planos de trabalhar não apenas com exclusão mas também oferecendo contexto para parte do conteúdo que fica. O WhatsApp excluirá contas com ‘atividade inautêntica’. O braço de publicidade do Google publicará relatórios de transparência a respeito das propagandas políticas. A oitava é o YouTube, que também promete filtragem. O Telegram está ausente. (Agência Brasil)

Atentem-se para o tom do ministro Edson Fachin, a uma semana de tomar posse como presidente do TSE. “Teremos o maior teste das instituições democráticas do Brasil. Um grande teste para o Parlamento, que, na democracia representativa, representa a sociedade. Um grande teste para as Forças Armadas, que são forças permanentes, institucionais, do Estado, e que estou seguro que permanecerão fiéis à sua missão constitucional e não se atrelarão a interesses conjunturais. Também será um teste para a Justiça Eleitoral, que é uma instituição permanente do Estado. A nós caberá organizar, realizar as eleições, declarar os eleitos, diplomar e, em seguida, haverá posse para que cada um governe. É para efetivamente isso que vamos trabalhar. Tivemos 25 anos de uma ditadura civil-militar que trouxe consequências nefastas para o Brasil. Ditadura nunca mais. Espero que minha geração não veja isso de novo e que meus netos cresçam numa democracia.” (Estadão)




Sem ainda cheiro de partidos aliados, o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) pode ter apenas R$ 15 milhões para financiar sua campanha, conta Natuza Nery. É muito pouco e põe em risco a competitividade de sua campanha. “Não é impossível fazer uma campanha com pouco dinheiro”, escreve Natuza. “Bolsonaro venceu. Mas Moro não é um político de carreira que, por anos, cultivou um exército digital a seu favor.” (g1)

Pois é… Pressionado num encontro com 20 gestores do mercado financeiro, Moro retrucou. “O Podemos tem R$ 180 milhões, não é pouco”, conta Malu Gaspar. O problema: este dinheiro, que pode chegar a R$ 200 milhões, é para todos os candidatos a todos os cargos do Podemos. Aliás… Durante a conversa, o ex-ministro da Justiça ainda ouviu uma provocação do emedebista Carlos Marun. O aliado de Temer lembrou ter ouvido uma crítica de amigos petistas após o impeachment, em 2016. “Vocês tiraram os malucos da gaiola, então agora que cuidem deles.” Marun então se virou para Moro. “Você não se sente assim, responsável por tirar os malucos da gaiola?” O ex-juiz riu e desconversou. (Globo)




Então… Por sua vez, o ex-presidente Lula está ativamente envolvido em inúmeras negociações simultâneas. Em uma delas, na Bahia, sugeriu que o ex-senador petista Jaques Wagner desista do projeto de se candidatar ao governo do estado. Em seu lugar correria o hoje senador Otto Alencar (PSD). Seria uma isca para atrair o partido de Gilberto Kassab, que deverá ter uma das mais importantes bancadas no Congresso. Por este desenho, o ex-tucano Geraldo Alckmin poderia ser vice de Lula não pelo PSB, mas pelo PSD. (Globo)




Meio em vídeo: O que a filosofia tem a nos ensinar sobre liberdade de expressão e seus limites, numa democracia? O professor Fabricio Pontin, da Universidade LaSalle (RS), responde no Conversas com o Meio. Assista. (YouTube)

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