quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O Bolsonaro que visitou Putin exibiu sua própria falta de expressão.

 

Após depositar uma coroa de flores no túmulo do soldado soviético desconhecido, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com seu par russo, Vladimir Putin. De cara, prestou solidariedade — mas não explicou pelo quê. “Temos muito a colaborar em várias áreas. Defesa, petróleo e gás, agricultura. As reuniões estão acontecendo”, afirmou. “Tenho certeza que até mesmo essa passagem por aqui é o retrato para o mundo de que nós podemos crescer muito com as nossas relações bilaterais.” Putin foi cordial. “O Brasil é o principal parceiro comercial na região da América Latina. Bem-vindo.” (g1)

Em termos práticos, o resultado foi que Brasil e Rússia assinaram um único acordo. Agora existe um critério de comum acordo para classificar entre reservados, secretos e ultrassecretos os documentos trocados entre os países. (Globo)

Bruno Boghossian: “O Bolsonaro que visitou Putin exibiu sua própria falta de expressão. Ninguém se incomodou muito quando o presidente disse que os brasileiros eram ‘solidários à Rússia’ — o que poderia indicar que o país apoiava o Kremlin nas tensões com a Ucrânia. Na mesa dos adultos da diplomacia, ele praticamente desapareceu. O presidente preferiu investir na retórica e na propaganda, suas ferramentas políticas favoritas desde os tempos de deputado. Tentou pegar carona na piada que o associava ao recuo das tropas russas na fronteira e, para conseguir uma foto ao lado de Putin, se curvou silenciosamente às regras que costuma contestar com valentia no Brasil, como o confinamento e o uso de máscara.” (Folha)

É… Bolsonaro sendo Bolsonaro, sinalizando para suas redes. “Mantivemos nossa agenda e, por coincidência ou não, parte das tropas deixaram as fronteiras.” (Estadão)

Enquanto isso... Thomas Friedman analisa a relação Biden-Putin. “Se houve sinceridade quando Putin afirmou que ‘segue negociando’ é porque a habilidade de Biden como estadista o fez piscar. O americano mobilizou os aliados da OTAN, transferiu armas para a Ucrânia e sugeriu sanções econômicas fortes o suficiente contra a Rússia para fazer Putin parar e pensar: ‘se eu partir para uma invasão total e der errado — arrebentando com a economia russa e com soldados russos voltando para casa mortos numa guerra com outros eslavos — será que isto pode me levar a cair?’ Este é o único cálculo relevante e Biden fez o melhor que um presidente americano poderia fazer dada a assimetria de interesses de EUA e Rússia, na Ucrânia. Aliás, ao endereçar Putin, Biden também mandou um recado importante para a China. ‘Acreditamos em alianças e, quando agimos juntos, cerramos um punho forte — isso em caso de vocês cogitarem invadir Taiwan.’” (New York Times)




A notícia não é boa — o general Fernando Azevedo e Silva desistiu, em cima do laço, de assumir o cargo de diretor-geral do Tribunal Superior Eleitoral. Próximo da Corte — ele havia sido assessor da presidência do STF —, o general vinha participando de reuniões de transição normalmente. Na noite de terça-feira, porém, comunicou aos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes que um problema cardíaco sério o impossibilitaria de aceitar o convite. (Veja)

Azevedo e Silva era visto como uma proteção para o golpismo do presidente Jair Bolsonaro, que ameaça as eleições livres com notícias falsas a respeito de sua segurança. No Planalto, a avaliação é de que o general desistiu do cargo porque as Forças Armadas investigam as urnas eletrônicas. De fato, durante o recesso em dezembro, uma série de perguntas técnicas foram encaminhadas ao TSE. Entre militares, Azevedo é tido como alguém que evita conflitos. (Estadão)

Então... Ontem mesmo, o Tribunal tornou pública sua resposta aos militares. Dá mais de 700 páginas em detalhes técnicos. (TSE)

Caio Junqueira: “A escalada de tensionamento entre Bolsonaro e ministros do TSE e a previsão de que aumente conforme a eleição se aproxima, fez com que se ampliasse uma pressão familiar para que ele não assumisse o cargo. A interlocutores, Azevedo disse nos últimos dias que o trabalho no TSE será pesado e que não haveria muita margem de manobra na corte tendo em vista que a organização das eleições já está bem avançada. Nos 15 dias que circulou pelo TSE, saiu bem impressionado. Trata-se de uma visão distinta da de Braga Netto, seu sucessor no Ministério da Defesa, que tem liderado os questionamentos ao processo eleitoral. A avaliação nas Forças Armadas é de que quem as dragou para o processo eleitoral foi o próprio TSE, que convidou para participar do Comitê de Transparência Eleitoral. Por outro lado, oficiais da ativa das forças afirmaram à CNN que, a partir do momento em que Bolsonaro aceita participar da eleição, ele deve se submeter às regras do jogo. E que a tradição das forças é de respeito a instituição eleitoral.” (CNN Brasil)

Pois é... Bolsonaro reforçou o ataque, ontem, contra o atual presidente do TSE e os dois ministros que ocuparão o cargo durante este ano. “Essas três pessoas não colaboram com o Brasil em absolutamente nada. Querem apenas uma narrativa para desgastar o governo. Se comportam como adolescentes, têm um objetivo”, afirmou em entrevista à rádio governista Jovem Pan. “Me parece que eles têm um interesse, né? Primeiro, buscar uma maneira de me tornar inelegível, na base da canetada. A outra é eleger o seu candidato, que é o Lula.” Assista. (YouTube)




O ex-presidente Lula (PT) segue na liderança das intenções de voto para o Planalto, de acordo com nova pesquisa do PoderData, realizada entre 13 e 15 de fevereiro. Hoje, ele teria 40% contra 31% do presidente Jair Bolsonaro (PL) — uma diferença de 9 pontos percentuais. Há um mês, a diferença entre ambos era de 14 pontos, mas as oscilações de um e do outro ocorreram dentro da margem de erro de dois pontos. O ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) marcou 9% e, Ciro Gomes (PDT), 4%. João Doria (PSDB) é o quinto colocado, com 3%. A soma das intenções de todos os candidatos menos o líder é de 51% perante os 40% de Lula. Para uma vitória no primeiro turno, o petista precisaria vencer com um número maior de votos do que todos somados. Num eventual segundo turno, Lula venceria qualquer um dos principais oponentes por ao menos 15 pontos de vantagem. (Poder 360)

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