segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O país contabiliza 172.848 óbitos desde o início da pandemia.

Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio decidiu reabrir as escolas equivalentes ao nosso Ensino Fundamental 1. Ele vinha sofrendo uma grande pressão por dar mais atenção à proteção da economia que aos eventuais problemas que o isolamento poderia trazer a essa faixa etária. Um dos epicentros da Covid-19 nos EUA, Nova York tinha reaberto as escolas em setembro, mas voltou atrás há 11 dias devido à segunda onda da doença. Estudos indicam que, seguindo protocolos estritos, as aulas presenciais para crianças mais novas são seguras. (New York Times)

Já no Reino Unido o contágio pela doença caiu 30% desde a decretação do lockdown em vigor. (BBC)

O Brasil foi às urnas, mas a Covid-19 não tirou folga. Segundo dados coligidos pelo consórcio de veículos de comunicação, morreram no domingo 261 pessoas, mas é importante lembrar que muitos números não são atualizados no fim de semana. Por conta disso, a média móvel de 522 óbitos nós últimos sete dias indica estabilidade em relação às duas semanas anteriores. O país contabiliza 172.848 óbitos desde o início da pandemia.


Segundo turno dá vitória à tradição

 


O Brasil que sai das urnas nas eleições municipais de 2020 é muito diferente daquele que emergiu após as de 2018. Há dois anos o eleitor rompeu com a política e fez uma aposta de muitas formas radical. Ideologicamente radical na direita, e radicalmente antipolíticos, um rompimento com o passado. Durou pouco a experiência. Os cinco maiores partidos de direita e centro governarão mais de 60% dos brasileiros, nas contas do Poder 360 — PSDB, MDB, DEM, PSD e Progressistas. Das cinco siglas, só o PSD tem menos de 30 anos. O DEM foi PFL e, o Progressistas, é o antigo PDS. “A tal nova política ficou velha muito rápido”, observou hoje, em entrevista à Folha, o presidente nacional do DEM, ACM Neto. “Acabou a história do novidadeiro, dos blogueirinhos, dos famosos ou do discurso antipolítica.” A rejeição não foi apenas da extrema-direita. “O eleitor mostra ter virado a página da polarização que levou ao segundo turno entre Bolsonaro e o PT”, analisa Vera Magalhães no Estadão. Porque o eleitorado de esquerda não diminuiu na classe média — mas o PT foi punido pelos eleitores de esquerda, que optaram por votar em candidatos de PSOL, PCdoB, PDT, PSB e outras siglas do flanco. Pela primeira vez desde a redemocratização o partido de Lula não elegeu prefeito em nenhuma das capitais. Já havia tombado feio em 2016, quando de 638 prefeitos passou a 254. Em 220 desce a 182. E embora tenham sido derrotados em São Paulo e Porto Alegre, Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila saem desta eleição maiores. O que fica é um alerta, como leu, no Globo, Dimitrius Dantas. A esquerda começou a perder voto entre os mais pobres.

O tucano Bruno Covas se elegeu, em São Paulo, com 59,38% contra Guilherme Boulos, do PSOL, que teve 40,62%. No Rio de Janeiro a derrota do prefeito Marcelo Crivella, do Republicanos, para Eduardo Eduardo Paes, do DEM, foi grande. 64,07% a 35,93%. Dentre brigas mais disputadas, a de Porto Alegre terminou com Sebastião Melo (MDB) vitorioso, 54,63%, e Manuela D’Ávila em segundo. 45,37%. No Recife, João Campos, do PSB, venceu a prima petista, Marília Arraes. 56,27% contra 43,73%. Veja os outros eleitos. (G1)




Os números da eleição mostram um claro redesenho partidário e demográfico. O MDB se manteve como governante no maior número de cidades, mas viu esse total despencar de 1.046 prefeitos eleitos em 2016 para 784 este ano. O PSDB também caiu muito, de 804 para 520 prefeituras, mas mantém, especialmente por conta da capital paulista, o maior número de governados, 34,1 milhões de habitantes. Nesse quesito, os grandes vencedores foram partidos do Centrão. O PP assumiu a segunda colocação ao saltar de 498 para 685 prefeituras, seguido pelo PSD, que foi de 539 para 655. Na esquerda, apenas o PSOL avançou, de duas para cinco prefeituras. PDT perdeu pouco, de 333 para 314, PSB foi de 409 para 252 e PCdoB de 82 para 46. O PT, em que pese ter ficado sem capitais pela primeira vez e recuado de 256 para 183 prefeituras, teve uma variação pequena em número de pessoas sob seu governo, de 6,1 milhões para 6 milhões. (Folha)

O voto no Brasil só é obrigatório no nome. Isso é o que se depreende da abstenção de 29,5% registrada no segundo turno das eleições municipais. Em São Paulo, 2.769.179 eleitores (30,81%) não compareceram para votar. Mais que os 2.168.109 que votaram em Guilherme Boulos (PSOL), o segundo colocado. O mesmo aconteceu com Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre. Ela obteve 307.745 votos, abaixo do total de eleitores que não compareceram, 354.692 (32,76%). No Rio, a situação foi ainda mais gritante. A abstenção recorde de 35,45% (1.720.154 eleitores) foi maior que a votação do vencedor, Eduardo Paes (DEM), que obteve 1.629.319 votos. Mas, em geral, as capitais tiveram abstenção abaixo da média nacional. No Recife, por exemplo, foram 246.010 ausentes (21,26%); em Manaus, 298.712 (22,43%); e em Fortaleza, 414.959 (22,78%).

Veja a lista de prefeitos eleitos neste segundo turno.



Ricardo Kotscho: “Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Foi a maior derrocada do PT nestes 40 anos e, para não ser surpreendido outra vez, seria bom que se preparasse melhor para as próximas eleições, de preferência, antes que as urnas falem. O antipetismo ficou maior do que o petismo. Se o partido não descobrir e atacar as causas, renovar suas lideranças e programas, vai continuar andando para trás, porque mudou o mundo em que ele foi criado e se tornou o maior do país no começo do século. Só faltam dois anos para a próxima eleição.” (UOL)

Bernardo Mello Franco: “Ao despejar Marcelo Crivella, o eleitor carioca impôs um freio ao plano de poder da Igreja Universal. Nos últimos quatro anos, o Rio virou laboratório de um projeto que mistura fé e política. Ontem essa fórmula foi rechaçada nas urnas. No reinado de Crivella, a prefeitura promoveu o obscurantismo e sufocou a diversidade. A vitória esmagadora do ex-prefeito (Eduardo Paes) teve um quê de exorcismo. No futuro, 2020 será lembrado como o ano em que os cariocas se libertaram de Crivella.” (Globo)

Meio em vídeo. Se um brasileiro fosse dormir só uns meses antes de virarmos do século vinte para o vinte um e acordasse perante este Brasil da eleição municipal de 2020, olha, ele teria poucas surpresas. Sim, o país se inclinou mais à direita. Mas, diferentemente do que fez há apenas dois anos, nesta eleição votou seguindo suas tradições políticas mais profundas. Assista.




Covid é coisa séria, mas é impossível não arregalar os olhos com a situação de Goiânia. Maguito Vilela (MDB) foi eleito com 52,6% dos votos e não sabe disso. Internado em um hospital de São Paulo, ele está intubado e sedado desde o dia 15. (Globo)




Mais uma vez sem apresentar provas, Jair Bolsonaro levantou suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas, alegando que, em 2018, só foi eleito porque teve “muito voto mesmo”. Após votar no Rio, ele disse que está discutindo a volta do voto impresso e falou até da eleição nos EUA, dizendo que, segundo suas fontes, “houve muita fraude lá”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) reagiu dizendo tratar de voto impresso é “colocar em xeque um sistema seguro”. Já o presidente do TSE, ministro Roberto Barroso, lembrou que jamais houve uma comprovação de fraude na urna eletrônica e partiu para a ironia: “Não tenho controle sobre o imaginário das pessoas. Tem gente que acha que a terra é plana, que o Trump venceu as eleições nos EUA.”

Falando no presidente, na reta final do primeiro turno, Bolsonaro gravou lives de apoio a 13 candidatos a prefeito. Nove foram derrotados e dois eleitos no primeiro turno. Os outros dois, Capitão Wagner (PROS) em Fortaleza e Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio, perderam ontem.




Em sua primeira entrevista após as eleições, Donald Trump insistiu nas acusações sem provas de fraude, mas admitiu que dificilmente conseguirá levar as eleições para a Suprema Corte. Para piorar a situação do presidente, a recontagem de votos no Wisconsin confirmou a vitória de Joe Biden no estado.

Bolsonarismo, o grande derrotado das eleições 2020

 

Brasil


Apurados os votos do segundo turno das eleições municipais, uma coisa ficou clara: o grande vencedor foi a pauta social. O repórter Aiuri Rebello explica que em meio a uma crise econômica que já dura seis anos com poucos refrescos e a maior pandemia em mais de um século com a covid-19, o eleitor brasileiro depositou seu voto naqueles que conseguiram sinalizar saídas ou mostrar realizações em áreas como saúde, educação e emprego. "O discurso dos vencedores anuncia já um clima de opinião muito diferente do clima de 2018. A eleição municipal é importante não para dizer quem vai ganhar a eleição presidencial, mas para vermos o humor, os assuntos, o clima de opinião”, analisa. O grande tema para 2022 é a questão social no país. E isso é o contrário do bolsonarismo”, afirma o cientista político Fernando Abrucio.

Em São Paulo, Bruno Covas (PSDB) conseguiu superar o desgaste provocado por seu vice, Ricardo Nunes (MDB) e foi reeleito à prefeitura, se firmando como uma das novas lideranças da base tucana no país. Apesar de não ter vencido nas urnas, Guilheme Boulos (PSOL) saiu maior do que entrou nestas eleições,  ao conseguir aglutinar, no segundo turno, todos os partidos do campo progressista e conquistar 2 milhões de votos. Um ensaio paulistano da chamada “frente única conta Bolsonaro”, que não se concretizou em 2018 e que é discutida para 2022, conforme mostram as matérias de Gil Alessi. O mesmo aconteceu em Porto Alegre, onde a candidata derrotada, Manuela D’Ávila (PCdoB) conseguiu formar uma frente ampla, em uma candidatura que transcendeu o debate local. Manuela deu mais uma mostra de popularidade e liderança entre a esquerda e termina a campanha como porta-voz da rejeição ao bolsonarismo, escreve de Porto Alegre Naira Hofmeister.

A tônica “todos contra Bolsonaro” também se fez presente na disputa pela prefeitura de Fortaleza, com a unificação de 16 partidos em torno de José Sarto (PDT), que venceu o bolsonarista Capitão Wagner Sousa (PROS) em uma vitória apertada. Em Recife, João Campos (PSB) derrotou Marília Arraes (PT) em uma batalha política com contornos familiares. Com a vitória de Campos, foram enterradas as pretensões do Partido dos Trabalhadores de crescer em cidades relevantes e de ser liderança entre legendas consideradas progressistas, aponta Afonso Benites, que acompanhou a última semana da corrida eleitoral no Ceará e em Pernambuco.

E ainda nesta edição, a correspondente na França, Silvia Ayuso, conta que em Paris o fim de semana foi marcado por protestos e pela escalada da violência, que resultou em pessoas presas e feridas. No sábado, os manifestantes tomaram as ruas para protestar contra a Lei de Segurança Global do Governo Macron, apontada como “liberticida" e uma forma de favorecer a impunidade policial na capital francesa. “Na democracia não há nada mais antidemocrático do que impedir de filmar. Com George Floyd vimos a importância de gravar a polícia", afirmou uma das manifestantes.

E para começar a semana bem, recomendamos a leitura de uma entrevista exclusiva do EL PAÍS com a artista Patti Smith, símbolo da independência e sabedoria de saber viver com pouco. Inclassificável como artista, Smith, que se considera uma sobrevivente, saiu as ruas em plena pandemia para cantar e incentivar as pessoas a votar nas eleições que levaram Joe Biden à Casa Branca. "Quando me irrito com Trump ou com ditadores de outros países, saio às ruas e protesto."


Eleições municipais trazem vitória de pauta social e derrota do bolsonarismo
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Candidatos que se preocuparam com aflições concretas do eleitor como saúde, educação e emprego foram eleitos ou tiveram bons resultados
Ministro do TSE refuta ilação de Bolsonaro: “Não controlo imaginário”
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Mesmo sem incidentes, presidente sugere fraude no sistema eleitoral. Bolsonaro busca partido para iniciar sua campanha pela reeleição

Análise de Mídia 30/11

 




 

CAPA – Manchete principal: *”Covas é reeleito; no país, PT e Bolsonaro são derrotados”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”SP, dedicação integral”*: A vitória de Bruno Covas (PSDB), 40, para a Prefeitura de São Paulo, embora tecnicamente uma reeleição, representa também a sua primeira passagem como protagonista pelo rito consagrador das urnas num pleito majoritário. Os desafios a sua frente serão gigantescos. Não bastassem os problemas habituais de uma metrópole de 12,3 milhões de habitantes, ainda longe em sua grande maioria de ostentarem padrões de renda e bem-estar das capitais do mundo rico, há o impacto sanitário e econômico da pandemia de coronavírus. Dentre os fatores que parecem ter levado à prevalência do tucano neste domingo (29) —quando se tornou o segundo a ser reeleito na capital— está justamente a atuação na crise. A melhora da sua popularidade vincula-se à aprovação pela população das ações municipais contra a onda infecciosa. Essa decerto é uma história que ainda está para ser contada em sua totalidade, e os próximos dias serão decisivos para isso, pois a cidade saberá se as autoridades retardaram a adoção de medidas restritivas por motivos eleitorais. Ainda assim, o contraste com a irresponsabilidade e a inépcia do governo do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia é patente. Apesar de relativamente jovem, Bruno Covas teve a oportunidade de observar e conviver com políticos experientes, com os quais espera-se que tenha aprendido que lições não se tiram apenas das derrotas, mas também das vitórias.
Cabe-lhe detectar no bom desempenho de seu adversário, Guilheme Boulos (PSOL), demandas mal atendidas de largos segmentos da população por mais equidade no desfrute das facilidades urbanas. Combater a desigualdade também significa interferir em dispositivos cegos que produzem moradias precárias e distantes, além de transporte deficiente, para milhões de paulistanos. Requer creches de qualidade nas periferias, e não depósitos de crianças pequenas. A segunda lição dessa eleição para Bruno Covas é política. O prefeito poderia ter tido caminho mais suave nas urnas se dois de seus correligionários e antecessores no cargo, José Serra (2006) e João Doria (2018), não tivessem abandonado a prefeitura com menos da metade do mandato cumprido para candidatar-se ao governo estadual. São Paulo é grande e complexa o bastante para exigir do prefeito dedicação integral à tarefa administrativa. A derrota de Serra na disputa da prefeitura em 2012 e a grande rejeição a Doria na capital atestam esse fato de modo cristalino. Quem assume sem compromisso acaba queimado na grande fogueira de carreiras políticas que tem sido a prefeitura paulistana. Que Bruno Covas absorva o ensinamento e faça bom governo.

PAINEL - *”Fora de capitais e coadjuvante em cidades-chave, PT tenta entoar discurso de que não sai derrotado da eleição”*: Fora das capitais, derrotado em 11 das 15 cidades no segundo turno, com menos de 40% dos votos em seis delas, coadjuvante em locais-chave (como São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza), o PT tenta entoar o discurso de que não fracassou na eleição. Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, afirma que a legenda se recolocou em disputas relevantes e foi à final em mais municípios neste ano do que no pleito passado —foram 7 no segundo turno de 2016. Para ela, ainda há efeito da onda anti-PT, com ataques que agora foram usados até por antigos aliados. Lula, por ora, silenciou. Gleisi faz duras críticas ao PSB, a quem acusa de ter “adotado métodos da extrema direita” para atacar Marília Arraes. “Marília sai politicamente vitoriosa, embora não eleitoralmente”. Gleisi e José Guimarães (PT-CE) foram os principais defensores da candidatura própria em Recife.
Para Alexandre Padilha (PT-SP), o apoio petista foi determinante em cidades como Porto Alegre, onde Manuela D’Avila (PC do B) se beneficiou do fato de ter sido a vice de Fernando Haddad, em 2018. Ela saiu na frente nas pesquisas, mas acabou derrotada. "Em capitais onde o PSOL também chegou bem, como em SP e em Belém, é graças a uma história ligada ao petismo", diz. “O sentimento é de animação, não de euforia”, afirma. O líder do PT na Câmara, Ênio Verri (PT-PR), admite que o resultado efetivo, de só 4 vitórias, “é pouco” e que ele esperava mais. Em sua avaliação, porém, a esquerda sai vitaminada, com vitórias como em Maceió (PSB), Recife (PSB), Fortaleza (PDT) e Belém (PSOL), mostrando-se capaz de competir com Bolsonaro em 2022, desde que unida. Petistas viram no ato de Flávio Dino (PC do B-MA), neste domingo (29), o início de uma via de reconciliação, após o racha em Recife. O governador apoiou João Campos (PSB), rival do PT, mas foi votar com a camisa estampada de “Lula Livre”. O ato também foi motivo de crítica.

PAINEL - *”Parlamentares dizem que Bolsonaro desistiu de CPMF; para Economia, tributação é tema para 2021”*

PAINEL - *”Operações suspeitas dobram, e Coaf terá recorde histórico na produção de relatórios”*: O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) vai terminar o ano com a maior produção de relatórios de inteligência da história. Até novembro, o órgão contabilizava 10.247 documentos. O recorde era do ano de 2018 (7.350). No ano passado, decisão do STF e mudanças de subordinação fizeram as atividades despencarem. O Coaf diz que o número de operações suspeitas recebidas no órgão praticamente dobrou, contribuindo para o aumento dos números de RIFs. O conselho atribui o resultado também à otimização de processos e fortalecimento do quadro técnico. Foi em um monitoramento do Coaf, que identificou movimentação atípica nas contas de Fabricio Queiroz, que se iniciou a investigação contra Flávio Bolsonaro.

*”Bruno Covas (PSDB) é reeleito prefeito de São Paulo”* - Bruno Covas (PSDB), 40, foi reeleito neste domingo (29) prefeito de São Paulo, para o mandato 2021-2024. Com 98,18% dos votos apurados, ele tinha 59,34%, contra 40,66% de seu adversário no segundo turno, o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL). Por volta das 18h45, o candidato do PSOL ligou para o prefeito reeleito o parabenizando pela vitória. Neste domingo, ao votar pela manhã, Covas prometeu cumprir o mandato de prefeito até o fim caso fosse eleito. "Quero ser reeleito para entregar o cargo no dia 1º de janeiro de 2025", afirmou. O tucano, que era vice de João Doria (PSDB), chegou ao cargo em abril de 2018, com a renúncia do então prefeito para concorrer ao governo do estado. Embora os dois ainda sejam aliados, o candidato à reeleição escondeu Doria de sua campanha por causa da alta rejeição a ele na cidade. Na noite de domingo, Doria parabenizou Covas pelas redes sociais "pela expressiva vitória na eleição". "Sua reeleição representa a vitória do respeito, equilíbrio e eficiência. E a consolidação da força eleitoral do PSDB. Viva a democracia!", tuitou.​ Dos quatro prefeitos que tentaram um novo mandato após a lei que permitiu a reeleição, de 1998, só um até hoje havia conseguido o feito, Gilberto Kassab (à época no DEM, hoje no PSD), em 2008. Covas é o segundo a ser reconduzido ao cargo.
Marta Suplicy (então no PT, hoje sem partido), em 2004, e Fernando Haddad (PT), em 2016, saíram derrotados das respectivas campanhas pela reeleição. E há aqui uma coincidência: Kassab também havia recebido a cadeira do ex-titular, José Serra (PSDB), que deixou o posto após 15 meses para concorrer à Presidência da República, em 2006. Com a vitória nas urnas, ele permaneceu no Edifício Matarazzo, sede do poder público municipal, durante seis anos. Explorando a ideia de que representa segurança e alguma previsibilidade, Covas se vendeu ao longo da campanha como um político habilidoso e gestor eficiente, em contraponto à inexperiência de Boulos, que construiu sua trajetória em movimentos sociais e nunca ocupou cargo público.
Sem marcas de governo, o tucano, neto do ex-prefeito e ex-governador Mário Covas (1930-2001), aproveitou o segundo turno mais curto da história para martelar o discurso de que era o mais preparado para o cargo e que já fez muito pela cidade, mas queria "continuar fazendo mais". Ele conseguiu manter a dianteira conquistada no primeiro turno, do qual saiu com 32% dos votos válidos, ante 20% de Boulos. Apenas duas semanas separaram os dois turnos, naquele que foi o intervalo mais reduzido da história, em razão da pandemia do novo coronavírus. A crise sanitária da Covid-19 alterou todo o calendário eleitoral e também postergou a votação de outubro, tradicional mês do pleito, para novembro. Com 15 dias, em vez das três ou até quatro semanas de outras disputas, a campanha de Covas administrou a vantagem, neutralizou o avanço de Boulos sobre fatias do eleitorado e conseguiu se desvencilhar de percalços como as denúncias contra o candidato a vice, Ricardo Nunes (MDB). O companheiro de chapa se tornou uma pedra no sapato, com as suspeitas que pesam sobre suas relações com creches conveniadas com a prefeitura e o registro de violência doméstica feito em 2011 pela esposa de Nunes, revelado pela Folha.
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*”É possível fazer política sem ódio, diz Covas em discurso da vitória ao lado de Doria”* - "É possível fazer política sem ódio", disse na noite deste domingo (29) o prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em discurso ao comemorar sua vitória, no qual apelou à moderação e disse que a cidade respeita a democracia e o equilíbrio. Dirigindo-se aos eleitores do candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL), Covas afirmou que vai "governar para todos". "A partir de amanhã não existe distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo", afirmou, emulando o discurso do presidente eleito nos Estados Unidos, Joe Biden, que disse que "não haverá estado azul e estado vermelho", se referindo à disputa americana. "É possível fazer política sem ódio", disse na noite deste domingo (29) o prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em discurso ao comemorar sua vitória, no qual apelou à moderação e disse que a cidade respeita a democracia e o equilíbrio. Dirigindo-se aos eleitores do candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL), Covas afirmou que vai "governar para todos". "A partir de amanhã não existe distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo", afirmou, emulando o discurso do presidente eleito nos Estados Unidos, Joe Biden, que disse que "não haverá estado azul e estado vermelho", se referindo à disputa americana.
O discurso de Covas foi feito no diretório estadual do PSDB, aonde chegou junto do governador João Doria (PSDB), seu padrinho político que, com alta rejeição na cidade, passou a campanha escondido. O governador discursou afirmando que a "vitória foi conquistada coletivamente, com um grande candidato, mas coletivamente", em uma fala em que acenou para uma campanha presidencial em 2022, citando esperança, mudança e democracia. "Quero destacar também os valores da democracia. O valor de uma campanha bem feita, bem conduzida, sob liderança do Bruno Covas, que vencendo a discriminação de uma doença, a dor e a luta, soube conduzir sua campanha sem fazer uso de fake news, mentiras e ataques", disse o governador. Doria falou por cerca de nove minutos, enquanto o discurso do próprio prefeito reeleito durou pouco mais de 7 minutos. O vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB), principal calo da campanha, fustigado por durante o segundo turno por uma denúncia de violência doméstica em 2011 e por ligações controversas com creches conveniadas, também discursou, afirmando que "Covas tem um vice do lado dele, que é seu fiel escudeiro", disse.
Covas agradeceu o vereador. "Queria fazer uma homenagem e agradecimento especial ao meu vice Ricardo Nunes, que sofreu muito durante essa campanha. Esteja certo, Ricardo, que partir de 1ºde janeiro vamos governar e mostrar para São Paulo quem nós somos e qual é a nossa visão de mundo. Tenho certeza que todo sacrifício vai valer a pena", disse. O espaço das falas estava lotado e a campanha ignorou as queixas da imprensa sobre as aglomerações. O próprio prefeito foi questionado sobre as aglomerações. "Veio muita gente da imprensa, mas a gente recebe a todos aqui", respondeu Covas. Estavam no local diversas figuras do PSDB, como o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, e até o deputado federal Alexandre Frota. Joice Hasselmann (PSL) também esteve presente ao lado de Covas. Contando com Covas, sete pessoas discursaram, mas nenhuma mulher. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, ressaltou que a campanha foi feita sem ataques entre os candidatos. "Vencer é sempre importante. Na vida pública, vencer com dignidade, com respeito, dedicação é ainda mais importante. A eleição do Bruno Covas demonstrou que política, vida pública, pode ser feita sem escolher o adversário como inimigo", disse. "O eleitor brasileiro não quer extremismo, não quer discussões alheias além da necessidade da vida real. O eleitor quer moderação", continuou Araújo.
Já nesta segunda-feira (30), um dia após a reeleição, Covas terá que tomar medidas em relação à quarentena em São Paulo —a cidade poderá retroceder no Plano São Paulo, que estabelece níveis de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. Na reta final do segundo turno, quando a vantagem de Covas para Guilherme Boulos (PSOL) diminuiu nas pesquisas e as internações por Covid-19 começaram a aumentar na cidade, o prefeito passou a minimizar um repique da doença. Covas chegou a chamar alertas de especialistas de “fake news” e “alarmismo”, para afastar boatos de que os comércios poderiam ser fechados novamente, o que teria impacto eleitoral negativo. Neste sábado (28), o prefeito disse que "na cidade de São Paulo, não há espaço para o discurso alarmista dizendo que estamos escondendo dados, como não há espaço para discurso de que a pandemia já acabou."
Covas foi escolhido para um novo mandato de quatro anos após uma reviravolta que o transformou, em pouco mais de dois anos, de um vice-prefeito desconhecido e baladeiro em um nome forte do PSDB que se projeta como líder nacional. Neste domingo, ao ir votar, Covas prometeu cumprir o mandato até o fim, ao contrário de outros tucanos que deixaram a prefeitura para buscar outros cargos —mas que também haviam feito a mesma promessa, como Doria, eleito prefeito em 2016 e que se elegeu governador de São Paulo dois anos depois. Para entrar na vida política, Covas se fiou no sobrenome e no capital político do avô, o fundador e personagem histórico do PSDB Mario Covas, que foi prefeito, senador e governador de São Paulo até sua morte, em 2001. O neto foi eleito pela primeira vez deputado estadual em 2006 e reeleito no pleito seguinte com a maior votação do estado, mas se licenciou para ser secretário estadual de Meio Ambiente entre 2011 e 2014, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), período em que teve atuação discreta. Na eleição de 2014, foi eleito deputado federal com 352 mil votos, cargo do qual também se licenciou dois anos depois para disputar a eleição em São Paulo como candidato a vice-prefeito na chapa liderada por Doria.
Eleito, Covas foi nomeado, em 2017, secretário de Prefeituras Regionais (hoje subprefeituras), mas a gestão passou a ser alvo de queixas por falta de zeladoria, e Doria o demitiu do cargo em novembro do mesmo ano. Para minimizar o problema, Doria o colocou para articular projetos na Câmara Municipal e brincou, na ocasião, que seu vice havia "caído para cima", mas deixando claro que "a população fez algumas reclamações". “Não há nenhum reparo na gestão do Bruno, mas com esta nova estrutura vamos melhorar ainda mais. Já disse que temos que ter os ouvidos muito ligados na população, e a população fez algumas reclamações”, disse Doria na época. Na ocasião Doria testava uma possível candidatura à Presidência ainda em 2018, furando a fila de seu padrinho político Alckmin, de quem Covas é próximo. Meses depois, em abril, Doria quebrou a promessa de prefeitar por quatro anos e deixou o cargo, não para a disputa nacional, mas para se eleger governador. Covas, então, assumiu a cadeira de prefeito, em um momento em que havia perdido 16 quilos, começado a fazer exercícios físicos e, divorciado, frequentar festas na cidade. Nessa época, enfrentou desgaste político e investigação do Ministério Público por nomeações de uma parente, de amigos de balada e de faculdade e da mãe do seu secretário-executivo para postos de confiança na administração municipal.
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ANÁLISE - *”Primeira fala de Covas ecoa Biden e mostra prefeito de SP como cabo eleitoral de Doria”*
ANÁLISE - *”Vitória de Covas é abertura do jogo de Doria contra Bolsonaro em 2022”*
*”Vitória de Covas aumenta independência em relação a Doria e projeta governador para 2022”*
*”Campanha de Covas evitou nacionalização, fez do prefeito seu foco e tropeçou em vice”*

*”Reeleito, Covas seguirá em tratamento contra câncer sem previsão de término”*
*”Ricardo Nunes assumirá vice-prefeitura de São Paulo com rótulo de principal calo eleitoral de Covas”*
*”Em novo mandato, Covas terá vereador do DEM em tropa de choque e série de aliados para acomodar*”
*”Aulas, pandemia, finanças e Plano Diretor estão entre desafios de Covas para 2021”*

*”'A gente saiu vitorioso, é o início de um ciclo', diz Boulos, derrotado em SP, apontando para cenário nacional”* - Com o segundo lugar na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), 38, sai da eleição de 2020 com uma derrota eleitoral para Bruno Covas (PSDB), mas afirma ter colhido uma vitória política e faz acenos nacionais ao falar de futuro. Ao reconhecer a derrota na noite deste domingo (29), Boulos afirmou que sua campanha servirá de inspiração para o Brasil e criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de forma velada. "Vou trabalhar [...], para que o que a gente conseguiu construir e unir em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil. Para ajudar a derrotar o atraso e o autoritarismo. Vou estar à disposição, como sempre estive, das lutas do nosso povo, em São Paulo e no país, por democracia, justiça e direitos sociais", afirmou em breve fala transmitida online. Boulos fez seu discurso pelas redes sociais por estar em isolamento em sua casa. Ele foi diagnosticado com Covid-19 na sexta (27), na reta final do segundo turno, e nem sequer pôde ir votar neste domingo. "Nessa campanha nós não construímos apenas uma onda de esperança para a eleição desse domingo. Nós construímos muito mais, nós apontamos para o futuro. [...] Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo", afirmou. A fala corroborou a avaliação entre políticos, tanto adversários como aliados, de que o resultado da campanha cacifou Boulos para voos mais altos em 2022. No segundo turno, ele obteve quase 2,2 milhões de votos --40,62% do eleitorado da capital. "Os mais de dois milhões de votos que a gente recebeu hoje são a energia que a gente precisa para seguir lutando. [...] É a força, é o ponto de partida para que a onda de esperança que a gente viu aqui não fique só aqui. Que seja exemplo e inspiração para milhões de pessoas lutarem por um país mais justo, democrático e diverso", afirmou Boulos em seu discurso.
"Olhando para a história e para o futuro, não tenho dúvida alguma de que, apesar de a gente não ter ganho essa eleição, a gente saiu vitorioso. É o início de um ciclo que se anuncia", completou. No discurso, Boulos agradeceu ainda todos os partidos e nomes que o apoiaram, citando o ex-presidente Lula (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o governador Flávio Dino (PC do B). "Nós vamos seguir lutando por uma sociedade onde ninguém more na rua, onde ninguém vire o lixo para poder comer. Uma sociedade onde ninguém seja morto pela cor da sua pele, onde as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, onde todas as formas de amor sejam respeitadas", disse. Em uma aparição anterior na sacada de sua casa, perto das 19h30, ele agradeceu aos apoiadores que estavam no local e ressaltou sua vontade de atuar por "um país sem autoritarismo, que combata o atraso". Alguns militantes choraram. Ele falou brevemente, ao lado da mulher, Natalia Szermeta, também ativista de moradia. O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) conseguiu aglutinar em torno de si uma frente de partidos de esquerda que também serve de ensaio para a eleição nacional daqui a dois anos.
Apesar da derrota, a campanha do PSOL acabou fortalecendo o campo progressista. Não sem crises, é claro. O resultado da eleição vai exigir uma reacomodação entre PT e PSOL na cidade. O período eleitoral foi marcado por pressão ao candidato do PT, Jilmar Tatto, sempre atrás de Boulos nas pesquisas, para que desistisse, mas ele só aderiu a Boulos no segundo turno. Para o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, Boulos "sai credenciado como o principal nome da esquerda em São Paulo". "É um feito extraordinário superar as dificuldades materiais, o preconceito, todas as adversidades e chegar a esse resultado. Estamos muito satisfeitos", afirmou. O dirigente disse ainda que a legenda fecha a eleição em São Paulo com um vitória política, apesar de ter perdido para o PSDB. "O PSOL saiu maior, mais legitimado politicamente." Ele afirmou que o fortalecimento do partido o torna "um ator decisivo na articulação das oposições para derrotar o retrocesso representado por Jair Bolsonaro em nível nacional". O presidente nacional do PSOL despista ao ser questionado sobre o futuro de Boulos. De acordo com Medeiros, ainda é prematuro discutir qualquer projeção sobre 2022. "Agora vamos nos debruçar sobre os ensinamentos dessa linda campanha para só depois pensar os próximos passos." Pessoas próximas ouvidas pela Folha também consideram um feito para a esquerda a ida de Boulos ao segundo turno e a concorrência que impôs ao PSDB do governador João Doria, virtual candidato à Presidência da República em 2022. O coordenador do MTST saiu do primeiro turno com 1 milhão de votos na capital paulista, mais do que os 617 mil alcançados no Brasil em 2018, quando concorreu ao Planalto.
O próprio Boulos, em sua fala, sinaliza que a conquista o habilita para o pleito de 2022 --seja o governo do estado seja a Presidência, a depender do cenário. Aliados comemoraram a performance ao lembrar que o PSDB, além de mais recursos e um tempo superior na propaganda eleitoral (17 segundos contra 3min29s no primeiro turno), controla as máquinas municipal e estadual. Enquanto Covas gastou mais de R$ 19 milhões na campanha, Boulos teve disponíveis cerca de R$ 6,4 milhões. A ideia de que "sai maior do que entrou", entoada por apoiadores de Boulos, evoca também uma analogia com o pleito de 2018, o primeiro em que se candidatou, depois de se filiar ao PSOL naquele ano. Desconhecido nacionalmente, ele foi engolido pela polarização entre o PT de Lula e Haddad e o fenômeno Bolsonaro (à época no PSL, hoje sem partido). Conseguiu relevo com participações em debates e entrevistas, além do apoio de artistas e intelectuais, condições que se repetiram em 2020.
Ele conseguiu desta vez um movimento inédito ao aglutinar alguns dos principais partidos de esquerda e centro-esquerda do país, algo almejado no plano nacional mas até então inconcreto. No segundo turno, o PSOL, que já contava na coligação com PCB e UP, obteve o apoio de PT, PC do B, PDT, PSB e Rede Sustentabilidade. Ao montar o que chamou de "frente democrática por São Paulo", o candidato procurou evitar que Lula ganhasse protagonismo e fortalecesse a estratégia dos tucanos de o associarem ao ex-presidente. Procurou apaziguar divisões no partido e atraiu para vice a deputada federal e ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL), um antídoto para as críticas sobre sua inexperiência. Mirou o que considera um esquema de disseminação de fake news a respeito dele e do movimento de luta por moradia e buscou desmentir a pecha de invasor explicando a atuação do MTST, grupo no qual milita há 20 anos e do qual é coordenador nacional. As ações de invasões em terrenos, bloqueios de avenidas e protestos que culminaram em atos de violência ajudaram a forjar a imagem de radical explorada por adversários.
Mas Boulos refuta a fama de intransigente, dizendo que o discurso conciliador da campanha municipal sempre o acompanhou, mas era desconhecido da maioria por causa de preconceitos. A candidatura do PSOL apresentou um plano de governo ancorado no combate à desigualdade social e na defesa de maior atenção à periferia e aos cidadãos que mais precisam. Por outro lado, tentou quebrar resistências no mercado financeiro e no empresariado, como revelou a Folha, a seu programa, que previa reduzir a presença da iniciativa privada no setor público e aumentar tributos sobre bancos. Os acenos reavivaram comparações com Lula, das quais Boulos buscou se desvencilhar, embora reafirme sua admiração e amizade.
A trajetória do líder do MTST na política, afinal, se cruza com Lula e o PT. Depois de estar à frente de protestos contra a Copa do Mundo de 2014, Boulos participou das manifestações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2015 e 2016. Esteve à frente de vigílias contra a prisão de Lula e recebeu agradecimento do ex-presidente. Ao ampliar sua voz nas ruas e atrair setores da juventude com um forte trabalho em redes sociais, Boulos eclipsou o adversário petista à prefeitura. O psolista impôs um desafio a Tatto já na pré-campanha, ao atrair o apoio de petistas históricos. Os dois mantiveram uma relação de cordialidade, sem troca de ataques. Com o crescimento de Boulos nas pesquisas, Lula, o partido e o próprio Tatto sofreram intensa pressão para abrir mão da candidatura em nome de uma união com o concorrente, mas as tentativas nunca prosperaram. Encerrado o primeiro turno, com 8,65% dos votos e a sexta colocação, pior resultado para a legenda em eleições para prefeito de São Paulo, o PT embarcou imediatamente na campanha do PSOL. Na ocasião, a narrativa difundida por petistas se assemelhou à usada agora para falar de Boulos: afirmaram que seu candidato poderia até ter sido derrotado, mas o campo da esquerda saiu vitorioso com a classificação do "adversário aliado" para o segundo turno. Perder, por essa ótica, nem sempre é perder.

ANÁLISE - *”Resultado em SP alça Guilherme Boulos a ator indispensável em costura da esquerda para 2022”*

*”Covas vence em 50 das 58 zonas eleitorais da cidade, e Boulos tem ganhos na periferia”* - Se Bruno Covas (PSDB) pintou o mapa eleitoral de São Paulo de azul no primeiro turno, teve de aceitar algumas derrotas em áreas periféricas do município na rodada final. Mesmo onde perdeu, contudo, o prefeito reeleito mostrou ser competitivo, sem sofrer nada que remotamente se pareça a uma humilhação em qualquer canto da cidade. O tucano venceu em 50 das 58 zonas eleitorais de São Paulo. Foi especialmente bem no centro expandido e obteve sua vitória mais folgada em Indianópolis, com 75,87% dos votos. Da mesma forma, venceu fácil em áreas como Jardim Paulista (73,36%) e Santo Amaro (72,2%). Mas também saiu-se vitorioso em regiões da periferia, como São Miguel Paulista (56,28%), Itaquera (55,4%) e Itaim Paulista (54,74%), todos na zona leste da cidade.
As áreas em que Guilherme Boulos (PSOL) triunfou são todas nas áreas mais afastadas da cidade, sendo 6 na zona sul e 2 na zona leste. Mas mesmo nessas, as vitórias sobre seu adversário foram medianas ou apertadas. Um exemplo eloquente é o Campo Limpo, onde o candidato psolista mora, em que venceu com 50,6%, quase empatado com Covas, que obteve 49,4%. Em Parelheiros, extremo da zona sul, a vitória foi ainda mais apertada, por 50,35% contra 49,65% do prefeito reeleito. O melhor resultado para Boulos foi obtido em Cidade Tiradentes, na zona leste, onde teve 56,42%. Percentual praticamente idêntico ao do Valo Velho, na zona sul, zona na qual conseguiu 56,41%. Em parte, o bom desempenho de Covas mostra o acerto da costura política de sua candidatura. Ele conseguiu arregimentar o apoio de líderes com eficiente máquina eleitoral nos extremos da cidade, como o vereador Milton Leite (DEM) e seu próprio vice, Ricardo Nunes (MDB).
Também contou a favor o engajamento da ex-prefeita Marta Suplicy, que ajuda a explicar o bom desempenho em áreas como Grajaú e Parelheiros, apesar de as duas terem dado mais votos a Boulos. Já o candidato do PSOL mostrou que conseguiu resolver em parte o que foi apontado como uma das grandes deficiências de sua campanha, a falta de penetração na periferia. Paradoxalmente, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), com atuação forte nas áreas afastadas, parecia ter mais facilidade de conseguir apoios entre as classes médias progressistas do centro expandido. O apoio do PT à sua candidatura no segundo turno foi importante para arregimentar parte desse voto de menor renda, mas não foi suficiente para a vitória. Boulos, apesar da derrota, seguiu sendo bem votado em algumas regiões centrais. Teve, por exemplo, 44,18% dos votos na Bela Vista e 39,72% na Santa Ifigênia. Mas a onda que se esperava em alguns bairros mais nobres não aconteceu, e ele teve derrotas contundentes em vários deles. Amealhou, por exemplo, 30,08% no Tatuapé e apenas 26,64% no Jardim Paulista.
O mapa eleitoral de São Paulo, no fim de uma eleição marcada por sucessivas reviravoltas, acabou parecido com o que já ocorreu em eleições anteriores: a esquerda vencendo na periferia, mas com dificuldade nas regiões centrais. Boulos conseguiu obter alguma entrada nas regiões de classe média e classe alta e recuperou-se nas áreas mais afastadas no segundo turno, mas faltou intensidade a esses dois movimentos para vencer a engrenagem eleitoral montada para a reeleição de Covas.

ANÁLISE - *”Bruno Covas avança mais em áreas ricas das zonas leste e norte da capital paulista”*
*”Menor no Brasil, PSDB de Doria amplia domínio em São Paulo”*
*”Dário Saadi (Republicanos) é eleito prefeito de Campinas”*
*”Rodrigo Manga (Republicanos) confirma favoritismo e é eleito em Sorocaba”*
*”Ex-prefeito, Alexandre Ferreira volta ao cargo após quatro anos em Franca (SP)”*

*”Encolhido, PT volta a governar na região do ABCD Paulista”* - Com duas vitórias neste domingo (29), o PT voltou à região do ABCD Paulista. O ex-prefeito José de Filippi, 63, foi eleito para aquele que será seu quarto mandato em Diadema. Em Mauá, o vereador Marcelo Oliveira (PT), 48, derrotou o candidato à reeleição Atila Jacomussi (PSB). Com os resultados, o partido consegue um pequeno avanço em relação 2016, quando conseguiu eleger apenas um prefeito na região metropolitana de São Paulo —em Franco da Rocha—, mas nenhum na região do ABCD, seu berço político. Em 2008, durante o segundo mandato de Lula na Presidência, o partido teve o seu melhor resultado na Grande São Paulo, com 11 prefeitos eleitos. Sem contar a capital paulista, desde 2000, 17 municípios da região já elegeram ao menos uma vez prefeitos da sigla. Em 2020, Filippi liderou as pesquisas e conseguiu quase 46% dos votos no primeiro turno realizado no dia 15, o melhor desempenho do PT na Grande São Paulo naquela etapa do pleito, contra 15% de Taka, que também disputou a prefeitura da cidade em 2016. Com população estimada em cerca de 427 mil habitantes, Diadema tem a segunda maior densidade demográfica do país, atrás apenas de Taboão da Serra.
O petista já governou Diadema por três mandatos, foi deputado estadual e federal e secretário de saúde na gestão de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo. A campanha de Filippi foi a mais cara da cidade, com mais de R$1,9 milhão. Taka, seu oponente, recebeu R$ 237 mil. O vencedor formou uma coligação de cinco partidos. Além do PT, recebeu o apoio do PDT, PSOL, e PCdoB no segundo turno. Como vice, ele escolheu a empresária e mulher negra, Patty Ferreira (PT). Em Mauá, o PT recebeu 50,74% dos votos contra 49,26% do atual mandatário da cidade, do PSB. A vice da chapa de Oliveira é Celma Dias (PT), casada com o ex-prefeito Oswaldo Dias. O resultado é uma virada em relação ao primeiro turno do dia 15, quando Atila —que teve o mandato marcado por duas prisões e suspeitas de corrupção— terminou como mais votado com 36% dos votos, contra quase 20% de Oliveira. Vereador por três mandatos consecutivos e presidente da Câmara de 2015 a 2016, Oliveira é ex-militante sindical e disputou pela primeira vez a prefeitura da cidade de 477 mil habitantes. Sua campanha foi a mais cara da cidade, com gastos de mais de R$ 1 milhão. No segundo turno, o PT também amargou uma derrota na Grande São Paulo. O ex-prefeito de Guarulhos Elói Pietá perdeu a eleição para o atual prefeito, Gustavo Henric Costa (PSD), conhecido como Guti, que teve 57,83%. Essa foi a segunda derrota consecutiva para o petista, que também se candidatou em 2016 e terminou em terceiro lugar no pleito.
Após vencer 12 disputas no primeiro turno na região da Grande São Paulo, o PSDB perdeu nas duas cidades que disputava neste segundo turno. Em Mogi das Cruzes, pela primeira vez neste século, não houve reeleição. O tucano Marcus Melo, 48, perdeu para o vereador Caio Cunha (Podemos), 42. Principal cidade do Alto Tietê, com 450 mil habitantes, desde 1997 a cidade é governada pelo mesmo grupo político, do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão. O PL, partido do político, compunha a chapa de Melo com o candidato à vice. Cunha foi um dos vereadores que esteve à frente dos protestos contra o aumento do IPTU na cidade que marcou a insatisfação com a gestão de Melo. Vereador por dois mandatos, ele recebeu 58,39% dos votos contra 41,61% de Melo. A vitória foi projetada pelo Datafolha. Como vice, ele escolheu a professora Priscila Yamagami (Podemos). Com R$ 369 mil para a campanha —Melo teve R$ 1,2 milhão—, Cunha conseguiu formar uma coligação com o Solidariedade e o PTB, e foi apoiada pelo PDT no segundo turno. Em Taboão da Serra, após ter governado a cidade por 16 anos, Fernando Fernandes não conseguiu eleger seu sucessor, Daniel Bogalho, que recebeu 49,37% dos votos e acabou derrotado pelo deputado estadual e empresário do setor imobiliário Aprigio da Silva (Podemos), preferido por 50,63% dos taboanenses. Aprigio havia sido derrotado por Fernandes nos dois pleitos em que disputou o cargo anteriormente na cidade.

*”Guti (PSD) é reeleito em Guarulhos, segunda cidade mais populosa de SP”*

*”Nas capitais, centro avança, e PT fica sem eleger prefeitos pela primeira vez desde 1985”* - A eleição municipal de 2020 exibiu a força de partidos de centro e centro-direita na maioria das capitais do país, com um segundo turno de poucas vitórias da esquerda e de candidatos bolsonaristas. O PT, que ainda concorria no Recife e em Vitória, foi derrotado em ambas as cidades. Pela primeira vez desde 1985, quando Maria Luiza Fontenele saiu vitoriosa em Fortaleza, o partido não elegeu prefeitos em capitais. Nesses dois centros, venceram respectivamente João Campos (PSB), na disputa contra Marília Arraes, e Delegado Pazolini (Republicanos), ante João Coser. Em Porto Alegre, Manuela d’Ávila (PC do B) perdeu para o ex-vice-prefeito Sebastião Melo (MDB). A vitória mais expressiva da esquerda aconteceu em Belém, com o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) vencendo o Delegado Federal Eguchi (Patriota), que fez uma campanha em defesa dos valores promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Também foi derrotado Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio, que havia recebido o apoio do presidente. A vitória de um candidato apoiado por Bolsonaro aconteceu em Rio Branco, onde o ex-prefeito de Acrelândia (AC) Tião Bocalom (PP) derrotou a prefeita Socorro Neri (PSB). Pazolini, que venceu em Vitória, também é alinhado ao discurso bolsonarista, mas passou a campanha tentando se descolar do rótulo.
A disputa deste domingo (29) em 18 capitais foi de poucas surpresas, com a virada de candidatos que estavam em segundo lugar e acabaram vencendo a eleição apenas em Manaus, com David Almeida (Avante), em Cuiabá, com a reeleição do atual prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), e em Maceió, com JHC (PSB). No saldo de primeiro e de segundo turno, o MDB levou cinco capitais e o DEM e PSDB, quatro cada um. Esse número representa uma derrota para o PSDB, que havia liderado a disputa nas capitais em 2016, com sete prefeitos eleitos. Os tucanos conseguiram, no entanto, reeleger Bruno Covas na maior cidade do país e mantêm hegemonia no estado de São Paulo. Além de Covas, o partido reelegeu Hildon Chaves em Porto Velho no segundo turno. Perdeu, contudo, em Teresina, cidade onde o partido vence as eleições municipais desde 1992. O DEM ainda pode empatar com o MDB na liderança das capitais caso Josiel, irmão do presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), vença em Macapá. Devido ao apagão, o primeiro turno na cidade acontecerá em 6 de dezembro. Seus principais concorrentes são Patrícia Ferraz (Podemos) e Dr. Furlan (Cidadania).
O partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), saltou de apenas um eleito em 2016, o prefeito de Salvador ACM Neto, para os atuais quatro nas capitais neste ano. Contribuiu para isso a filiação de prefeitos eleitos por outros partidos há quatro anos, como Rafael Greca em Curitiba (ex-PMN) e Gean Loureiro em Florianópolis (ex-MDB). Neste domingo, o DEM elegeu no Rio outro ex-emedebista, o ex-prefeito Eduardo Paes. O perfil dos políticos eleitos no segundo turno é de nomes tradicionais e que já têm experiência em mandatos eletivos. É o caso do ex-governador Cícero Lucena (PP) em João Pessoa e o deputado federal Eduardo Braide (Podemos) em São Luís. Em Goiânia, venceu o ex-governador de Goiás Maguito Vilela (MDB), apesar de estar intubado em um hospital de São Paulo devido à Covid-19. Partidos de centro-esquerda tiveram bons resultados no Nordeste. Pelo PDT, venceram José Sarto em Fortaleza, que é o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará apoiado pelo ex-governador Ciro Gomes (PDT), e o prefeito Edvaldo Nogueira em Aracaju. Além de João Campos no Recife, o deputado JHC foi eleito pelo PSB em Maceió.

*”Barroso ironiza críticas às urnas eletrônicas e enaltece eleição em meio à pandemia”*

*”Sem provas, Bolsonaro volta a questionar segurança da urna eletrônica”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a sugerir neste domingo (29), sem provas, que o voto eletrônico no país não é confiável. Ele votou na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, zona oeste do Rio, por volta das 10h40. Bolsonaro ficou por cerca de 15 minutos no interior do colégio e, na saída, falou cerca de meia hora com a imprensa. Ele defendeu o voto impresso e disse que tem conversado com lideranças do Congresso sobre o tema, acrescentando que essas mudanças dependem somente do Executivo e do Legislativo. Bolsonaro também disse que a apuração dos votos tem que ser pública. “A minha eleição em 2018 só entendo que fui eleito porque tive muito, mas muito voto. Tinha reclamações que o cara queria votar no 17 e não conseguia. O que aconteceu em muitas sessões. Vão querer que eu prove. É sempre assim. O cara botava um pingo de cola na tecla 7, um tipo de adulteração”, afirmou, sem apresentar provas para a acusação de fraude. Ele também disse que pediu oficialmente a relação de todas as seções eleitorais e respectivas votações. Afirmou que, no caso de indício de irregularidades, em qualquer área, repassa a informação ao chefe da Polícia Federal. O presidente disse, ainda, que houve “muita fraude” nas eleições dos Estados Unidos, onde o voto é impresso. Questionado, afirmou que vai aguardar mais um pouco pra reconhecer a vitória do presidente eleito, o democrata Joe Biden. “Tenho minhas fontes [que dizem] que realmente teve muita fraude lá. Isso ninguém discute. Se foi suficiente para definir um ou outro, eu não sei.” Depois de comparar em pronunciamento oficial a Covid-19 com uma gripezinha, o presidente também voltou a afirmar que nunca fez essa comparação. Bolsonaro disse que a imprensa distorceu sua fala, e que afirmou, na verdade, que a Covid seria uma gripezinha para ele, e não para todos. “Falei que era para mim. Para mim, pelo meu passado atlético, pela vida que levo, não passará de uma gripezinha. Vocês deturparam, para variar."
Ainda sobre a pandemia, Bolsonaro afirmou que foi no meio do povo sem máscara e que é “um general na frente da batalha com o povo brasileiro”. Disse que o Brasil não vive uma segunda onda, e que o aumento de casos acontece pela circulação das pessoas que antes estavam isoladas em casa. “Se fechar tudo novamente não sei como podemos reagir. O auxílio não foi dinheiro que estava no cofre, foi endividamento. O Brasil aguenta outra dessa?”, disse. Bolsonaro também voltou a defender o uso da cloroquina, cuja eficácia já foi descartada por diversos estudos. “Quem critica apresente uma alternativa, é simples.” De máscara, o presidente chegou acompanhado por seguranças, conversou e tirou fotos com cerca de 20 apoiadores que o aguardavam no local de votação. O apoio de Bolsonaro ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) não foi o bastante para alavancar sua candidatura, conforme indicam as pesquisas eleitorais. Na véspera do segundo turno, segundo o Datafolha, Crivella tinha 32% dos votos válidos, contra 68% de seu adversário, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Neste domingo, Bolsonaro sugeriu que a relação com Paes, se eleito, será normal. "Você nunca encontrou alguém que não conseguiu falar comigo, que não foi atendido.

*”Abstenção pelo país bate 29,5% no 2º turno em meio à pandemia, maior índice já registrado”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Bolsonaro perdeu nas urnas e nas ideias”*
*”Governo minimiza derrota de aliados de Bolsonaro e reforça laços com centrão”*
*”Eduardo Paes (DEM) derrota Crivella e é eleito prefeito do Rio de Janeiro”*
ANÁLISE - *”Revés de Crivella é ápice de derrota bolsonarista em base eleitoral”*

*”João Campos (PSB) vence Marília Arraes no Recife e será prefeito mais novo de uma capital”*
*”José Sarto (PDT) bate Capitão Wagner e será prefeito de Fortaleza”*
*”Sedado após contrair Covid-19, Maguito Vilela (MDB) é eleito em Goiânia”*
*”Delegado Pazolini (Republicanos) derrota ex-prefeito e é eleito em Vitória (ES)”*

*”Sebastião Melo (MDB) derrota Manuela d'Ávila e é eleito prefeito de Porto Alegre”*
*”Edmilson Rodrigues, do PSOL, é eleito prefeito de Belém”*

*”Cinco partidos de centro-direita conquistam maioria das grandes cidades; PT fica sem -capitais”* - Cinco partidos de centro-direita conquistaram o maior número das grandes prefeituras do país, no computo geral da campanha municipal encerrada com o segundo turno, neste domingo (29). Apesar de ter perdido cerca de 40% das cidades governadas em comparação com as eleições de 2016, o que equivale a uma redução de 32% da população governada, PSDB de João Dória manteve São Paulo, a maior cidade do país, com a reeleição de Bruno Covas, e continua com o maior número de prefeituras nos 94 grandes municípios do país, aqueles com mais de 200 mil eleitores. Apesar de manter o domínio sobre São Paulo, os tucanos irão governar agora uma população de cerca de 20 milhões de pessoas, contra 30 milhões que governariam caso repetisse o resultado de quatro anos atrás. Outros partidos que saem com resultados expressivos nos grandes centros urbanos são MDB, DEM, PSD e Podemos. Essas siglas não integram o chamado "centrão" no Congresso —o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab age alinhado em alguns momentos, em outros, não— e devem disputar com esse grupo o comando da Câmara dos Deputados, eleição que será realizada em fevereiro. O MDB foi o partido com mais eleitos nas grandes cidades do pais no segundo turno, dez, e teve um leve crescimento no conjunto dessas cidades, em comparação com quatro anos atrás.
Já o trio DEM, PSD e Podemos vem logo abaixo, com crescimento expressivo. Partido dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), o DEM conquistou dez grandes cidades ao todo, entre elas o Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, um crescimento de 100% em relação a 2016. Com a vitória no Rio, a população governada pelo partido subirá quase 200%. O PSD (10) e o Podemos (7) também tiveram um fortalecimento relevante em relação a quatro anos atrás. Em 2016, o partido de Kassab havia eleito quatro prefeitos nos grandes centros urbanos. O Podemos, só um —Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, pelo PHS, sigla que se fundiu depois ao Podemos. Já a esquerda teve vitórias e derrotas e deve assistir a um rearranjo no grupo, com perda de prevalência do PT. Partido que esteve no topo do ranking de prefeitos eleitos nas grandes cidades de 2000 a 2012, o PT despencou em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, quando conseguiu emplacar apenas um prefeito de capital, Marcos Alexandre, em Rio Branco (AC). Agora, o péssimo desempenho se atenuou timidamente, fruto da estratégia da legenda de priorizar os grandes centros, mas, mesmo assim, o resultado ficou bem distante dos anos em que controlava o governo federal e dos prognósticos traçados pela sigla. O partido não elegeu ninguém nas grandes cidades, no primeiro turno e não conseguiu levar nem Recife nem Vitória, suas principais apostas deste domingo. A disputadíssima eleição na capital Pernambucana, com troca de ofensas de lado a lado, deve contribuir ainda para o afastamento de PSB e PT.
Nos 15 segundos turnos que disputou, o PT venceu quatro –Contagem e Juiz de Fora, em Minas Gerais, Diadema e Mauá, em São Paulo. Nas duas principais cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, seus candidatos ficaram na sexta e quarta posições, respectivamente. Apesar de não ter vencido em nenhuma capital, a sigla de Luiz Inácio Lula da Silva terá um acréscimo de cerca de 400% na população governada com a eleição nas quatro grandes cidades do interior de Minas e São Paulo. O PSB também perdeu peso, apesar da vitória de João Campos no Recife. O partido tinha saído como um dos grandes vitoriosos das eleições municipais de 2016, com a conquista de sete grandes cidades. Agora, venceu em 4. O PC do B do governador Flavio Dino (Maranhão) sofreu uma derrota ao perder em São Luís e ao não conseguir eleger Manuela D'Ávila em Porto Alegre. O vitorioso na esquerda é o PSOL, que não havia eleito nenhum prefeito em uma grande cidade, em 2016, e agora conseguiu emplacar Edmílson Rodrigues em Belém, além da ida de Guilherme Boulos para o segundo turno em São Paulo.
Os partidos do "centrão", hoje sustentáculo político do governo Bolsonaro, tiveram desempenho díspares. O PP de Arthur Lira (AL), pré-candidato ao comando da Câmara dos Deputados, deu um salto em relação a 2016, conquistando sete grandes prefeituras, entre eles João Pessoa e Rio Branco, e aumentando em cerca de 200% a população governada.​ Já PL caiu de 4 para 2 grandes prefeituras e o PTB de 2 para zero. O Republicanos de Celso Russomanno, que não conseguiu ir para o segundo turno em São Paulo, subiu de duas grandes cidades comandadas em 2016 para três agora. Mas sofreu um baque na população governada com a derrota de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Embora partidos e políticos ressaltem não verem relação direta entre as eleições municipais e a disputa presidencial de 2022, é certo que vitoriosos e derrotados desse domingo irão levar em conta os resultados para a disputa daqui a dois anos.
Bolsonaro está alinhado ao centrão e apoia a tentativa de Lira de comandar a Câmara, passo considerado importante para o alinhamento político com vistas à disputa de 2022. Os partidos de esquerda tendem a se aliar a DEM, PSDB e MDB para derrotar Bolsonaro na eleição para o comando do Congresso. As 94 maiores cidades do país que concluíram a eleição neste domingo —em decorrência do apagão, Macapá terá o primeiro turno no dia 6 e, se for necessário, o segundo no dia 20— englobam as capitais dos estados, exceto Palmas, e outras 69 cidades com mais de 200 mil eleitores. Trinta e sete das 94 cidades já haviam decido as eleições no primeiro turno. O PSDB e o MDB haviam conseguido manter a hegemonia das eleições anteriores nesses grandes centros urbanos, mas dessa vez foram seguidos de perto por PSD, DEM e PP, que ampliaram seu alcance. Das grandes cidades, três ainda dependem de confirmação dos tribunais, já que seus candidatos enfrentam problemas na Justiça —Washington Reis (MDB), em Duque de Caxias, Neto (DEM), em Volta Redonda, e Rubens Bomtempo (PSB), em Petrópolis, todas no Rio de Janeiro.

*”Apesar de cotas, situação de mulheres e negros fica praticamente estável nas grandes cidades”*

*”PSDB terá maior população governada pelo país, e poder fica mais pulverizado”* - Empurrado pela vitória em São Paulo, o PSDB se manterá como o partido que governa uma parcela maior da população nos municípios do país, embora tenha perdido o controle de importantes metrópoles nos estados. Terão prefeitos tucanos 34,1 milhões de pessoas país afora, ante 26,1 milhões do segundo partido com o maior nesse quesito, o MDB. De maneira geral, em relação há quatro anos, o poder político estará menos concentrado em poucos partidos. O recorte de população governada tem importância no jogo de forças partidário do país porque reflete as zonas de influência de cada agremiação, um ativo, por exemplo, na hora da montagem dos palanques nas eleições gerais de 2022. Também reflete o peso orçamentário sob a administração de cada legenda, fator relevante para a confecção de vitrines políticas ou na formação de novas lideranças de projeção nacional. Só na capital paulista, o PSDB governará 12,3 milhões de habitantes. O partido, porém, encolheu 35% no número de prefeitos eleitos em relação ao pleito de 2016 e vai sair de grandes prefeituras, como Porto Alegre, Manaus e Teresina. Mas permanece com hegemonia no estado de São Paulo, onde tem o governador há sete mandatos e ampliou agora a quantidade de prefeituras. Em outro estado onde tem o governador, o Rio Grande do Sul, venceu em três cidades no segundo turno: Santa Maria, Caxias do Sul e Pelotas.
Em 2016, impulsionado por uma onda de rejeição ao PT, os tucanos haviam atingido a maior marca de população governada neste século, com 49 milhões de pessoas. Ainda nesse campo político, o MDB, que continua como líder em prefeitos eleitos pelo país, embora com uma retração de cerca de 25% em relação a 2016, reverteu em partes um fenômeno ocorrido na eleição de 2018. Naquele ano, alvejado na onda de renovação nas eleições gerais, sofreu derrotas com antigos caciques, como Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO). Agora, ganhou importantes prefeituras com nomes que remetem à sua tradição política, como em Boa Vista, reduto de Jucá, em Cuiabá (MT), e principalmente em Goiânia, onde quem venceu foi Maguito Vilela, que tinha sido governador de Goiás mais de 20 anos atrás. O DEM, que passou por reveses nos tempos em que o PT detinha a Presidência da República, dobrou sua população governada, além de ter sido um dos partidos que mais aumentaram a quantidade de prefeitos eleitos em relação há quatro anos. A quantidade de eleitores é diretamente influenciada pela eleição de Eduardo Paes no Rio, segundo município mais populoso do país, com 6,7 milhões de habitantes. O partido também obteve reeleições em primeiro turno em 2 das 3 capitais sulistas —Curitiba e Florianópolis. O paranaense Rafael Greca e o catarinense Gean Loureiro, porém, têm pouco tempo de legenda —haviam vencido em 2016 respectivamente pelo PMN e MDB. O DEM pode estender seus redutos eleitorais caso vença em Macapá (AP), onde a eleição foi adiada por causa de um apagão no início do mês. Nessa cidade, o partido chegou a aparecer à frente em pesquisas, com o candidato Josiel Alcolumbre. Integrante do bloco parlamentar conhecido como centrão, o PP também foi um dos que mais avançaram em número de prefeitos eleitos: governará 16,6 milhões. Nas capitais, venceu em João Pessoa (PB) e em Rio Branco (AC), município que detinha a marca de eleger apenas prefeitos petistas desde 2004.
O PSD, também integrante do centrão, emplacou no primeiro turno a reeleição de Alexandre Kalil em Belo Horizonte e de Marquinhos Trad em Campo Grande (MS), e agora conseguiu renovar o mandato em Guarulhos, maior município que não é capital no país, com 1,4 milhão de habitantes. Também ganhou em Campos dos Goytacazes, no Rio, que voltará a ser governada pela família Garotinho. Depois de quatro mandatos do casal Anthony e Rosinha, o vitorioso foi o filho, Wladimir Matheus de Oliveira, 35, atualmente deputado federal. Mas a candidatura ainda está sub júdice. No espectro político mais à esquerda, o PDT permanece no ranking de população governada à frente do PT, que agora novamente sofreu retração na quantidade de prefeitos eleitos. Pedetistas vão governar Aracaju (SE) e Fortaleza. O PT pela primeira vez desde a redemocratização não ganhou em capitais. Em 2016, já havia sofrido uma queda de 60% no número de prefeitos eleitos. Diferentemente da situação de quatro anos atrás, quando a campanha ocorreu em meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff e ao auge da Operação Lava Jato, desta vez o partido teve algum sucesso em regiões metropolitanas. Elegeu os prefeitos de Diadema e Mauá (ambas na Grande São Paulo) e em Contagem (MG).
Destaque no campo da esquerda ao passar para o segundo turno em São Paulo, o PSOL elegeu pela segunda vez em sua história um prefeito em capital, com Edmilson Rodrigues, em Belém. A população governada por psolistas passará, portanto, a 1,5 milhão. Já o partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente em 2018, o PSL terá em Ipatinga (MG) a sua principal cidade. O partido ainda concorre em Macapá. Outro partido que se destacou em 2018, o Novo, elegeu pela primeira vez um prefeito no país. Foi no interior de Santa Catarina, um dos estados mais identificados com o bolsonarismo dois anos atrás. Empresário do setor farmacêutico e novato na política, Adriano Silva, 42, foi eleito em Joinville, cidade mais populosa do estado, com quase 600 mil moradores. O Novo, que ficou em quinto lugar na eleição presidencial de 2018, já governa Minas Gerais. O Republicanos perdeu a Prefeitura do Rio, com a derrota de Marcelo Crivella, mas aumentou a quantidade de prefeitos eleitos em relação a 2016 e mostrou força no interior de São Paulo, com vitórias em Campinas e Sorocaba. O partido é ligado à Igreja Universal e abriga dois dos filhos do presidente Bolsonaro. O Podemos, sucessor do nanico PTN e encorpado por adesão nos últimos anos, governará uma população maior do que a do PT. No segundo turno, por exemplo, venceu em Blumenau (SC).

VOTO A VOTO - *”Triunfos de PSD, DEM e PP redesenham mapa eleitoral do país à direita”*
*”Pela atuação na pandemia, atividade jornalística leva prêmio do ano da Associação Nacional de Jornais”*
ENTREVISTA DA 2ª - *”Nova política ficou velha cedo demais, e esquerda perdeu completamente o discurso, diz ACM Neto”*

*”Após resistência de governo, São Paulo pode regredir de fase na quarentena nesta segunda”*
*”Covid-19 cresce e pressiona hospitais no interior de SP”*
*”Em meio a pressão de farmacêuticas, Anvisa avalia flexibilizar 'RG de remédios'”*
*”Punições por racismo esbarram em interpretação da Justiça, dizem especialistas”*

TABATA AMARAL - *”A urgência da luta antirracista”*
*”Dez anos depois, ideia de que Alemão foi ocupado sem tiros ignora mortos”*

MÔNICA BERGAMO - *”Resistência maior a medidas contra a disseminação da Covid-19 já preocupa governadores”*: A necessidade de novas medidas contra a disseminação da Covid-19 já preocupa governadores, que anteveem uma resistência maior a elas do que na primeira onda da doença. Passadas as eleições, o assunto volta à ordem do dia. Lideranças ouvidas pela coluna acreditam em uma resistência muito maior e numa militância mais ativa, por parte de empresários, contra iniciativas que talvez precisem ser anunciadas.

MÔNICA BERGAMO - *”Ex-candidata questiona PT sobre comprometimento com renovação em 2024”*: A candidata a vereadora derrotada Luna Brandão (PT), que concorreu na capital paulista, abriu uma consulta junto ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores questionando um ponto do estatuto da legenda que limita seus filiados a terem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo. Brandão, que recebeu 17.296 votos, cita a necessidade de "uma grande renovação da bancada, que não ocorreu no pleito deste ano". Ela questiona se vereadores agora eleitos para seu terceiro mandato consecutivo desde que a norma foi baixada pelo partido, em 2012, serão orientados a abrir mão da disputa já em 2024. Procurado, o PT não respondeu até a conclusão desta edição.

MÔNICA BERGAMO - *”Deputada quer CPI para investigar denúncias de crimes sexuais no Cafe de la Musique”*
MÔNICA BERGAMO - *”Atriz Angelita Feijó será estagiária no escritório de advocacia do marido”*
MÔNICA BERGAMO – *”Carlos Jardim prepara documentário sobre trajetória de Maria Bethânia”*
MÔNICA BERGAMO - *”Xilogravuras de artista brasileiro expostas na sede da ONU serão apresentadas em mostra virtual”*
MÔNICA BERGAMO - *”Coletivo organiza ato em frente à Ancine para pedir liberação de recursos de fundo do audiovisual”*
MÔNICA BERGAMO - *”Tati Bernardi protagonizará série com perguntas provocativas sobre mulheres”*
MÔNICA BERGAMO - *”Chapa apoiada por Antonio Claudio Mariz e Miguel Reale Júnior promete mulher na presidência da AASP”*

CAPA – Manchete principal: *”Paes e Covas vencem, celebram a política e refutam o radicalismo”*

*”Vitória e aceno ao diálogo – Paes e Covas são eleitos com discurso alinhado contra o radicalismo”*
*”O mais jovem – Aos 27 anos, João Campos se elege no Recife”*
*”Marília não ligou para parabenizar e promete oposição ao primo”*

*”Porto Alegre – Melo, do MDB, vence Manuela D’Ávila”*

*”Candidato de Ciro Gomes, José Sarto vence na capital cearense”*
ENTREVISTA: EDUARDO PAES, prefeito eleito do Rio - *”Vamos buscar 450 mil testes do Ministério da Saúde”*
*”Preferência absoluta – Paes vence Crivella em todas as zonas; maior abstenção foi em Copacabana”*
*”Futuro governo ganha forma – Paes estuda trazer nomes de sua gestão anterior”*
*”Após derrota, Crivella fala em ‘transição da paz’”*

*”Reeleição tucana – Para Covas, ‘São Paulo disse sim à moderação e à ciência”*
*”Cacife eleitoral – Boulos emerge com novo papel para 2022”*
*”Em Belém – PSOL derrota bolsonarista”*
*”Entubado com Covid, Maguito Vilela é eleito em Goiânia”*

*”Apoio sem resultado – Só um dos escolhidos por Bolsonaro nas capitais é eleito prefeito”* - O embarque do presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral, com vídeos em defesa de candidaturas e uma programação de lives no Facebook, não se traduziu em vitórias expressivas: apenas um dos 25 prefeitos eleitos em capitais contou com o apoio expresso do chefe do Poder Executivo. Em uma eleição marcada pela vitória da chamada política tradicional, o vencedor solitário, Tião Bocalom (PP), escolhido em Rio Branco, tem uma longa trajetória — comandou, por dois mandatos, a prefeitura de Acrelândia, no interior do estado, e perdeu três vezes disputas ao governo do Acre. Bolsonaro apoiou três outros candidatos no segundo turno que acabaram derrotados: Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio; Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza (CE); e Delegado Eguchi (Patriota), em Belém (PA). Na primeira etapa da eleição, a associação ao nome do presidente também não rendeu frutos a Celso Russomanno (Republicanos), que chegou a liderar a corrida em São Paulo, mas terminou em quarto lugar. Como O GLOBO mostrou na quinta-feira, a aprovação a Bolsonaro caiu ou oscilou para baixo em 23 das 26 capitais ao longo da campanha, segundo o Ibope — o instituto chegou a fazer levantamentos em Macapá, onde a eleição foi adiada em função da sequência de apagões de energia.
Vitórias de última hora
Nos três municípios onde o preferido de Bolsonaro foi derrotado no segundo turno, os vitoriosos têm, em comum, estrada no mundo político: Eduardo Paes (DEM) é ex-prefeito e vai para o terceiro mandato no Rio; José Sarto (PDT) deixará o mandato de deputado estadual — é o atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará — para assumir a prefeitura de Fortaleza; Edmilson Rodrigues (PSOL), hoje deputado federal, voltará a administrar Belém. Se nas capitais o desempenho de Bolsonaro foi fraco, dois apoios de última hora no segundo turno fizeram com que o presidente saísse da reta final da disputa com outras vitórias a comemorar: em Anápolis (GO) e São Gonçalo, na Região Metropolitana . Dos 13 prefeitos que buscaram a reeleição, seis já tinham vencido no primeiro turno, como Alexandre Kalil (PSD), em Belo Horizonte, e outros quatro conquistaram a vitória ontem: Bruno Covas (PSDB), em São Paulo; Edvaldo Nogueira (PDT), em Aracaju; Emanuel Pinheiro (MDB), em Cuiabá; e Hildon Chaves (PSDB), em Porto Velho. Nenhum dos 25 eleitos nas capitais era candidato pela primeira vez. São Paulo: 'É possível fazer política sem ódio', afirma Bruno Covas, em primeiro discurso como prefeito eleito de São Paulo O outsider que chegou mais perto da vitória foi Nilvan Ferreira (MDB), radialista, que perdeu em João Pessoa para o experiente Cícero Lucena (PSDB), que já foi prefeito e governador. Outro novato bem cotado, Alfredo Gaspar (MDB), que tinha o respaldo da família Calheiros, foi derrotado pelo deputado federal João Henrique Caldas (PSB).
A eleição consagrou personagens conhecidos nos cenários regionais. Assim como Cícero Lucena na capital paraibana, Maguito Vilela (MDB), em Goiânia, é outro prefeito eleito que já foi governador do estado. Diagnosticado com coronavírus durante a campanha, ele está internado em uma UTI em São Paulo e entubado desde o dia 15. O MDB, inclusive, foi o partido que conquistou mais capitais, cinco, seguido por DEM e PSDB, cada um com quatro — o PT, por sua vez, não vai administrar nenhuma. Já o novo prefeito de Vitória (ES), Delegado Pazolini (Republicanos) é um dos menos experientes. Ele está em seu primeiro mandato de deputado estadual e bateu o ex-prefeito João Coser (PT). Outro que tem pouco tempo de mandato é João Campos (PSB), que, aos 26 anos, venceu a prima Marília Arraes (PT) no Recife (PE). Entre as capitais, apenas Palmas será administrada por uma mulher —Cinthia Ribeiro (PSDB) foi eleita no primeiro turno. Levando-se em consideração o país todo, apenas sete das 53 mulheres que concorreram no segundo turno saíram vitoriosas, em um total de 658 cidades que serão comandadas por mulheres, ou 12% dos municípios do país.

*”Liderança mantida – PSDB continua governando a maior parcela da população”*
*”Pela 1ª vez, PT está fora de capitais – Esquerda tem seu pior resultado desde 1985”*
*”Estado pulverizado – 19 partidos estarão à frente de 92 prefeituras”*
*”Abstenção é recorde – Quase 30% dos eleitores não votaram”*

*”Urna eletrônica – Barroso defende sistema após críticas de Bolsonaro”*

*”Meio milhão – Em cinco anos, Brasil forma número recorde de professores à distância”* - O Brasil formou, entre 2015 e 2019, mais de meio milhão de educadores em cursos à distância, um recorde. No ano passado, pela primeira vez na História, houve mais pedagogos e professores terminando seus cursos na modalidade não-presencial do que fisicamente em salas de aulas. Nesses cinco anos, foram 1,2 milhão de educadores formados no país. Desses, 533 (42%) mil estudaram à distância. Já em 2019, dos 254 mil que completaram os cursos de pedagogia e licenciaturas, 133 mil (56%) tiveram as aulas de forma não-presencial.
— Essa seria uma ótima notícia, especialmente em tempos de pandemia, mas essa área é dominada por universidades privadas que, sem regulamentação necessária, têm oferecido cursos de baixíssima qualidade — afirmou Carlos Eduardo Bielschowsky, ex-Secretário de Educação a Distância do Ministério de Educação.
A educação superior brasileira é majoritariamente operada pelo setor privado, que possui cerca de 75% das matrículas no país. Já a formação de professores e pedagogos à distância é ainda mais concentrada em universidades particulares. Elas foram responsáveis por 90% dos 533 mil formandos dos últimos cinco anos. A formação à distância tem seus desafios. Vanessa dos Anjos, que cursa o 6º período de Pedagogia da Centro universitário Augusto Motta (Unisuam), está satisfeita com seu curso, mas diz que teve problemas de comunicação.
— Às vezes, o professor demora muito a dar a resposta da sua dúvida e fica uma coisa fria. Você e o computador. Mas isso tem melhorado com mais tutores — diz a morador de Realengo, no Rio.
Já Gabrielle Brito, de 26, aluna da Universidade Cruzeiro do Sul, diz que a educação à distância (EaD) ainda sofre com preconceito.
— Mas tenho certeza que a minha experiência a distância como aluna me faz ver melhor o que funciona e o que não funciona tão bem num momento como esse de ensino à distância — avalia. — E cada vez mais essa modalidade será usada. O ensino básico pode ter algumas aulas implantadas e desenvolvidas de uma forma remota que fique interessante.
Pandemia muda cenário
Em 2020, as tecnologias educacionais ganharam absoluto protagonismo com a pandemia. Impedidos pelo coronavírus de irem para a escola, 46 milhões de alunos brasileiros (da educação básica ao ensino superior) tiveram que migrar para atividades remotas.
— Os professores formados à distância saem da universidade com vivência em ambientes virtuais de aprendizagem. Se tivéssemos alguma dúvida do do quanto isso é importante, ela seria encerrada em março deste ano — diz Ronaldo Mota, diretor da Digital Pages e do Instituto de Profissionalização Digital (IPD). — Não tem o menor nexo formar educadores que não tenham uma forte bagagem nessas ferramentas de aprendizagem.
Essa experiência foi mais do que necessária durante a pandemia. para William Santos, de 24 anos, que se formou em Matemática, à distância, pelo Cederj. Ele mora na zona rural do Espírito Santo e precisava ajudar a família na lavoura.
— Eu e meu irmão fizemos faculdade assim. Ele agora está no doutorado e eu dou aulas na rede estadual do Espírito Santo — diz William, que vive em Mimoso do Sul. — A formação à distância me ajudou principalmente a compreender as dificuldades que meus alunos estão passando agora.
William conta que o curso EaD desenvolve uma autonomia que faz o aluno depender menos do professor e buscar novos materiais de estudo.
— Os meus alunos são adolescentes. Eles estão precisando aprender a estudar sozinhos em casa, mas não têm hábito de manter uma rotina de estudos, de buscar novos materiais — explica o professor. — Quando preparo uma atividade, já consigo pensar nas possíveis dificuldades que eles vão ter e preparo o material com isso na cabeça.
Para Ronaldo Mota, que também ocupou a chefia da secretaria nacional de Educação à Distância, a universidade brasileira (pública, privada, à distância e presencial) já percebeu que precisa melhorar a formação de professores. E, na avaliação dele, um dos passos fundamentais para isso tem sido um progressivo fim do preconceito contra tecnologias da educação.
— O professor tem que saber lidar de forma positiva, não inibida, com ambientes virtuais de aprendizagem. O educador tem que saber mais que do os procedimentos básicos.
Segundo Mota, o educador deve saber como usar ferramentas que o ajudem a fornecer um aprendizado que seja único para cada estudante.
— A inteligência artificial é capaz disso. Cada pessoa tem um DNA educacional. Uns aprendem melhor com vídeos, outros com áudio, outros com gabaritos comentados. As plataformas de aprendizagem permitem que o educador dê conta de uma massa enorme de alunos com uma eficácia impossível anos atrás — diz Mota. — É deixar para trás nosso passado de educar bem quando tínhamos poucos alunos e educar mal após a universalização de ensino.
Novas regras
No fim de 2019, contra a pressão das universidades privadas, o Conselho Nacional de Educação (CNE) determinou na Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica que a formação de professores à distância deveria ter pelo menos 2.400 horas remotas e outras 800 presenciais.
— A base tem um conjunto de habilidades que a universidade tem que desenvolver no aluno que se tornará professor e define que o Inep tem até o fim de 2021 para iniciar um processo de avaliação de formação docente — explica Mozart Ramos, membro do CNE.
No Chile, país da América Latina de melhor desempenho no Pisa, a formação inicial docente é exclusivamente presencial, assim como no México. Austrália, Canadá e EUA, que têm dimensões territoriais semelhantes ao Brasil, permitem a formação docente à distância. Em nenhum deles, porém, há a predominância da EaD. Segundo o Todos Pela Educação, a Austrália é quem tem o maior percentual de matrículas à distância nos cursos de formação de professores e é de apenas 25% das matrículas. Cláudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial, ressalta:
— As 800 horas presenciais são um avanço. Se forem bem trabalhadas, é um desafio enorme e até dá para formar bem. O problema é que boa parte dos cursos não são de qualidade.

 

CAPA – Manchete principal: *”’Restam poucos dias para o negacionismo’”*
+++ A frase dita por Bruno Covas aparece no alto da capa acima da foto do prefeito reeleito com o punho direito erguido

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Os múltiplos desafios do prefeito”*: A reeleição do prefeito Bruno Covas em São Paulo significa que os paulistanos estão razoavelmente satisfeitos com sua administração, ainda mais considerando as circunstâncias excepcionais criadas pela pandemia de covid-19. Confirmado pelas urnas, Bruno Covas terá pela frente o imenso desafio de não somente lidar com a possibilidade de uma nova onda de contaminações, mas principalmente de proporcionar as condições para que a cidade se recupere desse imenso baque. O Estado mostrou, em sua edição de ontem, uma lista com os dez principais problemas com os quais o prefeito Bruno Covas terá que lidar. Chama a atenção o fato de que vários deles são recorrentes há muitos anos – ou seja, já está mais do que na hora de superá-los. Não há uma hierarquia dos temas, mas é inevitável colocar entre os mais importantes o sistema de saúde no Município, que está sob forte tensão em razão da pandemia. Há falta de médicos e de outros profissionais de saúde para trabalhar com um sistema cada vez mais demandado, o que provoca filas crônicas para exames, consultas e cirurgias. Também por causa da pandemia, a educação deve ser prioridade da próxima administração, sobretudo porque a crise sanitária escancarou a desigualdade nesse setor. A nota do Município no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é apenas a 10.ª melhor entre as capitais, o que não condiz com a riqueza da metrópole paulistana. Urge uma ação decisiva para que as escolas nos bairros mais pobres ofereçam melhores condições para reduzir o fosso socioeconômico na cidade.
A desigualdade econômico-social, contudo, é muito mais ampla e tem de receber atenção redobrada do poder público, como mostra, aliás, a boa votação recebida pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL), cuja campanha foi centrada nesse tema. O Mapa da Desigualdade mostra, por exemplo, que somente 18,1% da população paulistana mora num raio de até 1 km de alguma estação de trem ou metrô, e a maior parte desses afortunados vive no centro. O transporte, a propósito, continua a ser um setor com problemas crônicos – atrasos, má qualidade do serviço e uma malha insuficiente – e, como mostrou o Estado, é subfinanciado e fortemente subsidiado. O modelo atual aumenta a remuneração das empresas prestadoras do serviço mesmo que este seja de má qualidade – a tarifa sobe enquanto os ônibus estão cada vez mais lotados. Outro problema urgente é o habitacional. A quantidade de moradores de rua aumentou significativamente, como pode atestar qualquer um que passe pela região central, como resultado direto da crise causada pela pandemia. Se por um lado é preciso atuar com firmeza para atender essa população, dando-lhe dignidade e proporcionando condições para que possa trabalhar e se sustentar, por outro lado é igualmente urgente enfrentar o déficit habitacional, que condena milhões de paulistanos a viver em favelas ou então muito longe da região onde trabalham.
Por fim, mas não menos importante, é preciso aumentar e melhorar a qualidade dos investimentos públicos em São Paulo. Há recorrente redução desses investimentos nos últimos anos, sob as mais diversas desculpas. Está na hora de aperfeiçoar não apenas a arrecadação, com criatividade e eficiência, mas principalmente a distribuição dos recursos, cujo controle atual é muito precário. A reeleição do prefeito Bruno Covas indica uma aposta na continuidade, sem aventuras orçamentárias nem mudanças radicais. O paulistano escolheu o caminho conhecido, pautado pela moderação e pela serenidade. Num país até recentemente marcado pela disputa extremista entre esquerda e direita, esse desfecho é um claro indicativo de que o tempo das aventuras passou. Os problemas são tantos e tão desafiadores que demandam administradores que conciliam os sonhos de uma cidade melhor com a noção dos limites impostos pela realidade. Que o prefeito Bruno Covas tenha sabedoria, nos próximos quatro anos, para estimular soluções criativas e inteligentes para os múltiplos desafios que acaba de receber. A pujança de São Paulo fará o resto.

*”Fux conduz no STF agenda de contraponto ao Planalto”* - À frente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o ministro Luiz Fux tem emplacado uma agenda “progressista” de contraponto à pauta conservadora do Palácio do Planalto. Contrariando a linha do antecessor, Dias Toffoli, que mostrou proximidade com Jair Bolsonaro, Fux tem mantido uma relação distante do presidente, sem trocas de afagos públicos – uma convivência protocolar e institucional. Em menos de três meses na chefia do Poder Judiciário, Fux já instituiu cotas para negros em estágios na Justiça, criou um observatório no CNJ para questões ligadas ao meio ambiente e costurou uma mudança no regimento do Supremo para evitar novas derrotas da Lava Jato em julgamentos. Os contrastes entre Fux e Bolsonaro ficaram explícitos na semana passada. Responsável por definir os casos que serão analisados pelos colegas nas sessões plenárias, o presidente da Corte colocou na pauta do STF um caso que discute se a injúria racial é uma espécie de racismo, crime imprescritível, inafiançável e sujeito a pena de reclusão. O julgamento foi agendado após a comoção provocada pela morte de João Alberto Freitas, homem negro assassinado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre na véspera do Dia da Consciência Negra. Bolsonaro, por outro lado, negou o problema do racismo no País.
O tema também ganhou tratamento prioritário de Fux no CNJ, órgão responsável não apenas por investigar juízes, mas também por desenvolver políticas que melhorem o funcionamento da Justiça. Uma das primeiras medidas aprovadas pelo conselho, sob o comando de Fux, foi a reserva de ao menos 30% das vagas de estágio na Justiça para negros. Já o presidente disse reiteradas vezes ser contrário a ações afirmativas nesse sentido. “Nossa gestão baseia-se em cinco eixos: a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente, a garantia da segurança jurídica para a otimização da economia, o combate à corrupção, o acesso à justiça digital e o fortalecimento da vocação constitucional do STF”, disse Fux ao Estadão. “Todos esses eixos estão alinhados com a Constituição Federal e suas aspirações de institucionalidade, espírito republicano e democracia.” Interlocutores de Fux e analistas ouvidos pela reportagem avaliam que a agenda do ministro do STF não é uma resposta direta a Bolsonaro nem uma tentativa de fazer oposição ao Planalto, mas expõe que “os princípios e as prioridades” de cada um são diferentes. “Não é de se esperar outra coisa de um presidente da Suprema Corte que não seja a defesa da Constituição. Vemos um Executivo que ataca constantemente a Constituição, e um Supremo que a defende”, avalia o professor de Direito Constitucional da FGV, Roberto Dias.
Novo ministro. O chefe do Executivo deixou o presidente do STF de fora das articulações que levaram à escolha de Nunes Marques para uma cadeira na Corte, na vaga de Celso de Mello, que se aposentou. As pontes de Bolsonaro no tribunal são com os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, que chancelaram a indicação. Durante os dois anos em que presidiu o tribunal, a postura de Toffoli foi vista internamente por colegas como a de uma espécie de “consultor jurídico” do governo, dando aval, por exemplo, à sanção da criação do “juiz de garantias”, polêmica medida prevista no pacote anticrime – e rechaçada pelo então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. “(Na gestão Toffoli) Houve uma mistura de papéis absolutamente não saudável do ponto de vista democrático, republicano. O que mostra que há uma certa reversão dessa atuação quando a gente fala na presidência do ministro Fux”, opina Dias.
Mudança. A escolha de Nunes Marques mudou o perfil da Segunda Turma do STF, que passou a ter maioria “garantista” (mais propensa a ficar do lado dos réus) em julgamentos. Para evitar novas derrotas da Lava Jato, Fux articulou a retirada de inquéritos e ações penais da operação na 2.ª Turma, levando esses casos para o plenário, onde é apreciado pelos 11 integrantes da Corte. “Todas as ações penais e todos os inquéritos passarão pela responsabilidade do plenário porque o STF tem o dever de restaurar a imagem do País”, discursou Fux na abertura do 14.º Encontro Nacional do Poder Judiciário. A agenda ambiental é outro ponto de contraposição entre Supremo e Planalto. Enquanto o governo federal tem postura de confronto com a comunidade internacional, ONGS e ambientalistas no que diz respeito ao combate ao desmatamento na Amazônia, Fux criou um Observatório do Meio Ambiente no âmbito do CNJ. “A preservação ambiental propulsiona o Brasil no mercado internacional, é um elemento primordial na realização de investimentos no País, necessários para a retomada da economia, em especial no cenário pós-pandemia”, disse Fux. Assim, é essencial que o debate sobre a sustentabilidade seja transversal na elaboração e implementação de nossas políticas públicas, sejam do Judiciário, sejam dos demais poderes nos três níveis da federação.”

*”Brasil ensaia diálogo com Argentina ao ver Fernández mais distante de Cristina”* - Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, participarão de uma videoconferência na manhã desta segunda-feira, 30. Será a primeira vez que os dois terão um encontro, mesmo que virtual, desde a eleição do argentino, em outubro do ano passado. O gesto tem sido considerado por diplomatas brasileiros como um primeiro passo para a reaproximação entre os dois países, tradicionais parceiros comerciais, após Bolsonaro manter uma relação conflituosa com o vizinho. Candidato ligado ao “kirchnerismo”, Fernández visitou o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva em plena campanha pela Casa Rosada. O episódio foi considerado inaceitável por Bolsonaro, que desde então acirrou as críticas ao argentino. O brasileiro chegou a lamentar o resultado da eleição e se recusou a cumprimentar o colega. Desde então, não houve contatos oficiais. De acordo com diplomatas ouvidos pelo Estadão, no entanto, sinais de afastamento entre Fernández e sua vicepresidente, Cristina Kirchner, abriram espaço para uma reaproximação neste momento. Com a pandemia e a consequente desaceleração econômica no país, que causou a maior saída de empresas multinacionais da Argentina desde a crise de 2002, Fernández passou a moderar seu discurso e tem se afastado da cartilha de Cristina, para tentar salvar a economia.
Segundo a assessoria de imprensa da presidência da Argentina, durante a reunião “Fernández e Bolsonaro buscarão continuar fortalecendo as múltiplas agendas comuns que compõem a relação bilateral em busca de uma maior integração”. O comunicado também afirma que “o diálogo é fruto do trabalho sustentado de coordenação política que os dois países vêm desenvolvendo nos últimos meses e que resultou no crescimento do comércio bilateral, a ponto de o Brasil mais uma vez se posicionar como o principal parceiro comercial da Argentina”. De acordo com fontes no governo argentino, a iniciativa de estabelecer a relação partiu da Casa Rosada. Oficialmente, o motivo da videoconferência é o 35.º aniversário do encontro dos ex-presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney, em Foz de Iguaçu. A reunião ocorreu em 30 de novembro de 1985, e ficou marcada como o dia da amizade Argentino-brasileira. Mas o primeiro bate-papo virtual entre Bolsonaro e Fernández significa mais do que isso. Tanto Bolsonaro quanto Fernández estarão em suas residências oficiais, Palácio da Alvorada e o de Olivos, respectivamente, durante a videoconferência, prevista para as 11h30. No ano passado, essa comemoração não foi realizada com participação dos presidentes. Na avaliação de diplomatas brasileiros, o que virá daqui para a frente dependerá de como for a conversa amanhã. Um deles lembrou que a relação entre os dois países sempre foi de idas e vindas, “dramática, como um tango”.
Tentativas. A relação entre Bolsonaro e Fernández começou com troca de farpas e críticas de ambos os lados. Em fevereiro, o novo embaixador da Argentina no Brasil, o empresário e ex-candidato a presidente Daniel Scioli, tentou contornar a situação. Em entrevista ao Estadão, Scioli disse que estava no Brasil para “facilitar, unir, procurar pontos de convergência e acordos que resultem em influência positiva na agenda comum que temos”. Scioli afirmou na ocasião que iria “prevalecer a responsabilidade e os interesses comuns”, e que era preciso “respeitar a vontade do povo”. O embaixador e o chanceler argentino, Felipe Solá, começaram a promover uma tentativa de reunião entre os dois presidentes. Um primeiro encontro entre os dois depois das trocas de farpas que começaram durante a campanha de Fernández, no ano passado, foi proposto por Bolsonaro a Felipe Solá, durante reunião em Brasília. A ideia de Bolsonaro era a de aproveitar que ambos estariam em Montevidéu para aposse do presidente eleito do Uruguai.
Fernández e Bolsonaro iriam se encontrar em março, em Montevidéu, no Uruguai, para a posse do presidente uruguaio Luis Lacalle Pou. Às vésperas do evento, Fernández adiou o encontro. “Lamentavelmente não poderei viajares te dia,éo discurso na aberturadas sessões ordinárias( do Congresso Nacional ). Senão posso viajar neste dia, irei no dia seguinte”, disse Fernández. Desde então, Bolsonaro eFernándezvol taram afalar frases de efeito um contra o outro. Em março, Fernández disse que “as declarações e ações de Bolso na rol evam apensar que o país pode entrar numa mesma espiral que a Itália”, dando a entender que aposturado presidente brasileiro em relaçãoà pandemia poderia levara muitas mortes. Em setembro, o presidente argentino disse que Bolsonaro e sua família estão “muito preocupados comigo e coma argentina ”. em outubro,Bol sonar o voltou a atacara Argentina .“existe um modelo econômico que conseguiu o impossível:argentinas em carne, venezuela sem petróleo, Cu basem açúcar ”, afirmou o presidente.

*”Policiais franceses depõem sobre o caso de negro espancado”*
*”EUA podem ter 60 mil mortes por covid após feriado”*

*”Bastidores da teimosia de Donald Trump”* - Os fatos eram indiscutíveis: o presidente Donald Trump havia perdido. Mas Trump se recusou a ver dessa forma. Isolado na Casa Branca e ruminando longe da vista do público após sua derrota nas eleições, furioso e às vezes delirante em uma torrente de conversas privadas, Trump estava, conforme relata um conselheiro próximo, como “George, o rei louco, resmungando, ‘Eu venci. Eu venci. Eu venci.’” Por mais alertas que os assessores de Trump possam ter dado sobre sua derrota para o presidente eleito Joe Biden, muitos deles o encorajaram a continuar lutando com processos judiciais. Eles ficaram “felizes em alimentar essa coceira”, disse um conselheiro ouvido pelo Washington Post. “Se ele pensa que ganhou, é como,‘ Shh. . . não vamos contar a ele.’” O Washington Post entrevistou 32 altos funcionários do governo Trump, assessores de campanha e outros assessores do presidente, bem como outras figuras-chave em sua batalha jurídica, muitos das quais falaram sob condição de anonimato. O relato dos 20 dias entre a eleição de 3 de novembro e o sinal verde da transição de Biden exemplificam algumas das marcas da vida na Casa Branca na era Trump: um governo paralisado pelo frágil estado emocional do presidente; conselheiros alimentando suas fábulas; brigas carregadas de palavrões entre facções de assessores e conselheiros; e uma perniciosa mistura de verdade e fantasia. O resultado foi um período pós-eleitoral sem precedentes na história dos EUA. Com sua negação do resultado, apesar de uma série de derrotas em tribunais pelo país, Trump colocou em risco a democracia dos EUA, ameaçou minar a segurança nacional e a saúde pública e enganou milhões de seus apoiadores ao fazê-los acreditar, talvez permanentemente, que Biden foi eleito de forma ilegítima.
As alegações de Trump e a hostilidade de sua retórica – e seu poder singular de persuadir e galvanizar seus seguidores – geraram uma pressão extraordinária sobre os funcionários eleitorais estaduais e locais para lidar com suas alegações de fraude e tomar medidas para bloquear a certificação dos resultados da eleição. Quando alguns deles se recusaram, tiveram de receber reforço de segurança para proteção contra as ameaças que estavam recebendo. “Foi como um rastilho de pólvora”, disse o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger. Apesar de ser um republicano que votou em Trump, Raffensperger disse que recusou as repetidas tentativas dos aliados de Trump de fazê-lo cruzar os limites éticos. “Eu não acho que tive escolha. Meu trabalho é seguir a lei. Não vamos ser empurrados para fora dela fazendo isso. Integridade ainda é importante.” Ao mesmo tempo, Trump abdicou amplamente das responsabilidades do seu trabalho, o principal deles gerenciar uma pandemia de coronavírus enquanto o número de infecções e mortes disparava em todo o país. Em uma reviravolta irônica, o conselheiro de Trump escolhido para coordenar a campanha legal e de comunicações pós-eleitoral, David Bossie, testou positivo para o vírus e foi afastado.
Reversão. Apenas em 23 de novembro Trump, relutantemente, concordou em iniciar uma transferência pacífica de poder, permitindo que o governo federal começasse oficialmente a transição de Biden – ainda assim, ele protestou dizendo que era o verdadeiro vencedor. Embora Trump tenha falhado em sua tentativa de roubar a eleição, sua batalha de semanas conseguiu minar a fé nas eleições e a legitimidade da vitória de Biden.
Nos dias após a votação, enquanto Trump lutava para escapar da realidade, o presidente praticamente ignorou sua equipe de campanha e os advogados que o orientaram durante o julgamento de impeachment, bem como o seu exército original de advogados. Em vez disso, Trump empoderou os seus leais escudeiros, que estavam dispostos a dizer o que ele queria ouvir: que teria uma vitória esmagadora se a eleição não tivesse sido fraudada e roubada. E então sacrificar suas reputações travando uma campanha nos tribunais e na mídia para convencer o público dessa ilusão. O esforço culminou em 19 de novembro, quando os advogados Rudolph Giuliani, Jenna Ellis e Sidney Powell falaram em nome do presidente na sede do Comitê Nacional Republicano para alegar uma “conspiração de longo alcance e coordenada para roubar a eleição” para Joe Biden. Não havia nenhuma evidência para apoiar qualquer uma dessas alegações. “Não apenas nossas instituições se mantiveram intactas, mas o esforço de um presidente para reverter o veredicto do povo na história americana realmente não levou a lugar nenhum”, disse William Galston, presidente do programa de estudos de governança do Brookings Institution. “Não é que ficou aquém. Não chegou a lugar nenhum. Isso, para mim, é notável.”
A transformação de Trump em um presidente que estimulou a descrença nos resultados começou na noite da eleição na Casa Branca, onde se juntou ao gerente de campanha Bill Stepien, aos conselheiros Jared Kushner e Jason Miller e a outros assessores importantes em uma “sala de guerra” improvisada para monitorar os retornos da eleição. Seis meses antes da eleição, Trump lançou as bases para acusar a eleição de ter sido “fraudada”, como costumava chamá-la, alertando sobre uma fraude generalizada. Em junho, durante uma reunião no Salão Oval com conselheiros políticos e consultores externos, Trump levantou a possibilidade de processar os governos estaduais pela forma como administram as eleições e disse que não podia acreditar que eles tinham permissão para mudar as regras. Todos os Estados, disse ele, devem seguir as mesmas regras. Assessores disseram que ele não iria querer que o governo federal comandasse as eleições. “Você realmente tem que entender a psicologia de Trump”, disse Anthony Scaramucci, um antigo aliado dele e ex-diretor de comunicações da Casa Branca que se afastou do presidente. “Os sintomas clássicos de alguém como ele é que tem de haver uma conspiração. Não são minhas deficiências, mas há uma cabala contra mim. É por isso que ele é afeito a essas teorias da conspiração”.

*”Pais vão à Justiça para pedir volta às aulas presenciais em SP ainda este ano”* - Um grupo de mães e pais vai entrar esta semana com uma ação popular contra a Prefeitura de São Paulo para pedir a abertura das escolas particulares e públicas para aulas regulares ainda este ano. Em uma semana, mais de 8 mil pessoas assinaram o manifesto que apoia o movimento. A capital só permite atividades extracurriculares para o ensino infantil e fundamental – o médio foi liberado para aulas no dia 3. Com a piora da pandemia no Estado, o grupo teme que o prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB) queira fechar as escolas novamente.
A mobilização surgiu na semana passada em um grupo de Whatsapp de pais da Saint Paul’s School, escola britânica de elite da capital. Eles então se organizaram, procuraram ajuda jurídica e começaram a rodar um abaixo-assinado para outras escolas de São Paulo. Entre as cerca de 20 autoras da ação há mães de Miguel de Cervantes, Porto Seguro, Chapel School, Avenues, Santa Cruz, Viva, Gracinha, Pentágono, Mobile, Dante, entre outros. Responsáveis de alunos de escolas estaduais também assinaram o manifesto. O grupo entende que há segurança para manter a educação funcionando, desde que respeitando os protocolos sanitários e o distanciamento. Eles se baseiam em pesquisas científicas que indicam que crianças transmitiriam menos o coronavírus e têm menos complicações. Grupos de pediatras da capital também divulgaram nota na semana passada com o mesmo pedido. “As mães inicialmente estavam muito bravas com as escolas e aí começaram a entender que há decisões governamentais por trás e que, como sociedade civil, podíamos lutar contra”, diz a administradora e uma das autoras da ação Lana Romani, de 43 anos, mãe de três filhos em escolas particulares da capital. “Sabemos que somos privilegiadas, que nossos filhos podem fazer aulas online com todo conforto, mas nosso pleito é por todas as escolas. Os impactos vão ser sentidos numa geração inteira.” Para ela, há uma “inversão de valores”, já que restaurantes, bares e festas estão sendo permitidos pela Prefeitura, enquanto a educação não é liberada para dar aulas e apenas para atividades extracurriculares, que não suficientes.
Os exemplos vindos da Europa nesta segunda onda ajudaram a fortalecer o argumento. Em outubro, quando países como França, Alemanha, Bélgica e Inglaterra voltaram a fazer lockdown e a fechar bares, restaurantes e academias, as escolas permaneceram abertas. Autoridades como o presidente francês Emmanuel Macron e a chanceler Angela Merkel defenderam publicamente a manutenção da educação, entendida como prioridade para o desenvolvimento das crianças e dos países. No Brasil, as escolas fecharam logo no começo da pandemia, no meio de março. Mas uma nova posição também tem ganhado força no País. Segundo apurou o Estadão, o governo de João Doria também estuda permitir que a educação continue funcionando mesmo com possíveis restrições que devem ser anunciadas esta semana com a piora nos índices da covid-19. No entanto, a Prefeitura pode ser mais restritiva, como já ocorreu na primeira liberação das escolas feita pelo Estado em setembro, não acompanhada pela capital. No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) mudou as regras na semana passada e autorizou que as escolas permaneçam abertas mesmo durante a fase vermelha no Estado, considerada de alto risco de contágio. Até então, a educação só podia funcionar quando as regiões estivessem na etapa de risco médio. Em live, ele disse que “saúde não é apenas não contrair o vírus” e, sim, garantir o desenvolvimento cognitivo, emocional e nutricional das crianças. Cerca de 35% da população gaúcha está em áreas de bandeira vermelha.
Lockdown. Segundo o advogado do grupo, Daniel Neves, também pai assinante do manifesto, a ação vai se basear na quebra de isonomia e irrazoabilidade. “Tudo está liberado, esportes coletivos, festas, fica muito claro que são dois pesos e duas medidas”, diz. “Não estaríamos brigando se houvesse um lockdown, o que não dá para aceitar são todos os ramos de atividade funcionando plenamente e não as escolas”. Para a designer Patrícia Leme, de 47 anos, mãe de dois alunos do Dante, é preciso passar uma mensagem contundente para a sociedade de que “as crianças não podem estar no fim da fila”. Mesmo que o grupo não ganhe a ação agora, elas dizem que continuarão pedindo a abertura para 2021, o que inclui exigir que o poder público invista para preparar as escolas estaduais e municipais para cumprir os protocolos. “As mães precisam ficar mais confortáveis em lutar.” O texto do manifesto pede a “retomada gradual das atividades escolares regulares presenciais em todas as escolas do Município que se adequarem aos protocolos de higiene e distanciamento” e diz que cabe “às famílias a decisão sobre levar seus filhos para a escola.” Outra coordenadora do grupo, a advogada Isabel Quintella, de 41 anos, mãe de duas filhas, diz que ainda há falta de informação dos que afirmam que seus filhos só voltarão para a escola “depois da vacina”. “Muitas mães sequer sabem que as crianças não serão vacinadas tão cedo”, diz. “Hoje já sabemos como funciona um pouco melhor a pandemia, podemos nos informar melhor para decidir se mandamos ou não para a escola”, completa Patrícia.

*”Covas é reeleito em São Paulo; vitória reforça centro político”*
*”Tucano leva 50 zonas eleitorais, PSOL, 8”*
*”No discurso da reeleição, crítica ao negacionismo”*
*”Derrota ‘não é o fim de uma caminhada’, afirma Boulos”*

*”Na Câmara, tucano terá oposição fortalecida”*
*”Guti é reeleito em Guarulhos; Filippi vence em Diadema”*

*”PSDB segue líder, DEM cresce e PT estaciona”* - Prefeitos do PSDB devem governar cerca de 17% dos eleitores do País a partir de 2021. O partido se manteve no primeiro lugar nesse ranking, mas perdeu poder desde a eleição anterior, quando sua fatia do eleitorado chegou a 24%. Os tucanos também encolheram no número de prefeitos eleitos, de 805 há quatro anos para 533 agora. Mas mantiveram São Paulo, a prefeitura mais importante do País em população, orçamento e projeção política. Em número de prefeitos vitoriosos, o MDB ficou em primeiro lugar, com 803. Mas o partido segue em declínio, se o atual resultado for comparado com os de disputas anteriores. Em 2008, 2012 e 2016, a legenda, antigo PMDB, ganhou em 1.204, 1.038 e 1.048 cidades, respectivamente. No mesmo período, a cota de eleitores governados de 22%, 16% e 15%. Agora, caiu novamente, para 13%. Apesar do recuo, o MDB conseguiu eleger prefeitos em cinco capitais neste ano: Porto Alegre, Goiânia, Boa Vista, Cuiabá e Teresina.
Estagnado. O PT, principal rival dos tucanos até recentemente, encolheu no número de prefeitos eleitos, mas conquistou cidades maiores e, com isso, manteve a parcela de eleitores que vai governar: 3%, o mesmo resultado obtido em 2016. Petistas conquistaram quatro das cidades que fazem parte do “clube do segundo turno” – as que têm mais de 200 mil eleitores. Mas, ontem, foram derrotados em Vitória e Recife. Com isso, não governarão nenhuma capital. É a segunda eleição municipal consecutiva em que petistas apresentam fraco desempenho. Em 2012, o partido chegou a ficar em primeiro lugar no ranking de eleitorado governado por prefeituras, com pouco mais de 19%. Na eleição seguinte, a primeira após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a fatia do eleitorado governado por petistas teve uma redução de quase 85%. Conquistas. Três partidos de centro-direita tiveram avanços no tabuleiro político municipal: DEM, PSD e PP. Juntos, eles vão governar quase um terço dos eleitores brasileiros (32%). Em 2016, as prefeituras conquistadas pelos três englobavam apenas 17% do eleitorado. O maior crescimento foi registrado no DEM, partido que já se chamou PFL e que tem em suas raízes a Arena, agremiação de sustentação do regime militar. Em 2016, o DEM elegeu 277 prefeitos. Agora, saltou para 476. Em porcentagem de eleitores nos municípios governados, o aumento foi de 5,5% para quase 12%. No mapa das capitais, o DEM venceu no Rio de Janeiro e em Salvador e ainda reelegeu prefeitos nas capitais Curitiba e Florianópolis. Já PP e PSD ganharam em Belo Horizonte, Campo Grande, João Pessoa e Rio Branco. Finalista do segundo turno em São Paulo, o PSOL elegeu apenas cinco prefeitos neste ano, entre eles o de Belém. No total, o partido vai governar 0,7% dos eleitores brasileiros.
Modesto. O PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu, e que conquistou a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados em 2018, teve crescimento modesto nessa eleição. De 30 prefeitos em 2016, passou para 92 agora. Mas sua fatia no eleitorado nacional será de apenas 1,3%. Para o cientista político Cláudio Couto, professor da FGVSP, o bloco dos ganhadores nesta eleição é formado pelos “partidos de adesão”, que compõem o chamado Centrão, e o DEM, que ampliou em cerca de 70% o número de prefeituras. Já a fila dos maiores perdedores é puxada pelo presidente da República. “Bolsonaro não teve partido para disputar a eleição e perdeu a oportunidade de fortalecer uma estrutura que poderia ser útil para 2022”, afirmou. “O Centrão ninguém compra, só aluga. Não dá para imaginar que esses partidos darão a vida pelo governo.”
Para Couto, a esquerda também sofreu nestas eleições, principalmente o PT. “Ela diminuiu ainda mais do que em 2016, quando já tinha tomado um grande tombo. O PT foi praticamente expulso dos grandes centros, com exceção de algumas cidades. E ainda comprou brigas que podem ser caras no futuro, como contra o PSB, no Recife.” O cientista político da USP José Álvaro Moisés também aponta Bolsonaro como o principal derrotado nestas eleições. Mas faz a ressalva de que um de seus principais adversários – o governador de São Paulo, João Doria – também não saiu tão vitorioso assim com a reeleição de Bruno Covas na capital paulista, pois o prefeito adotou uma postura de distanciamento em relação ao colega de partido ao longo da campanha. Moisés destaca ainda que a esquerda tradicional, representada pelo PT, não conseguiu se recuperar nos municípios. “Para além disso, temos a emergência de uma nova esquerda, mais jovem e vigorosa e com um posicionamento diferente”, afirma ele, citando disputas de PSOL, PSB e PCDOB nas capitais. “O grande desafio é se ela será capaz de dialogar e compor uma frente com o setor moderado para derrotar Bolsonaro em 2022.”

*”Eleição na pandemia tem abstenção de 29,47%, maior taxa desde 1996”*
*”Melo diz que equilíbrio fiscal será prioridade”*
*”Paes obtém maior triunfo desde a redemocratização”*
*”Apoiado por Damares, delegado Pazolini leva em Vitória”*

*”Recife elege Campos; PT fica sem capitais”* - O deputado federal João Campos (PSB), que completou 27 anos na sexta-feira, foi eleito prefeito de Recife ontem, ao vencer uma acirrada disputa contra sua prima de segundo grau, a também deputada federal Marília Arraes (PT). Ele obteve 56,27% dos votos válidos, ante 43,73% recebidos por ela. O índice de abstenção foi de 21,26%, e 9,17% dos votos foram nulos e 3,48% em branco.
Com a derrota de Marília no Recife, e João Coser, em Vitória, o PT amargou o pior resultado em eleições municipais da sua história – o partido sempre elegeu prefeitos em capitais desde 1985, quando os chefes dos Executivos municipais passaram a ser escolhidos de forma direta. A sigla acreditava em uma recuperação nas eleições deste ano – em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, o partido tinha eleito apenas Marcus Alexandre, em Rio Branco. Em 2012, a legenda havia conquistado quatro capitais, inclusive São Paulo, que neste ano levou PSDB e PSOL ao segundo turno. No primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados, Campos agradeceu eleitores e aliados. “Se faz política olhando o futuro. A razão verdadeira de disputar essa eleição é que a gente pode fazer muito, sim, pela cidade do Recife. A gente tem que dormir um dia acreditando que o dia seguinte vai ser melhor. E vai ser melhor”, disse o prefeito eleito, em meio a citações de aliados, como a deputada federal Tabata Amaral (PDTSP) – sua namorada – o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). O prefeito eleito também lembrou do pai, o ex-governador Eduardo Campos, que morreu em um acidente de avião quando disputava a eleição presidencial, em 2014. “Não tem como vir aqui hoje, celebrar essa vitória, e não fazer homenagem, não lembrar daquele que é referência na minha vida na política, como pessoa, como cidadão, que é o meu pai, Eduardo Campos”, afirmou o prefeito eleito, que venceu sua segunda disputa eleitoral – a primeira foi há dois anos, quando conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados.
Ataques. O parentesco e a origem política comum – ambos são herdeiros políticos dos exgovernadores de Pernambuco Eduardo Campos e Miguel Arraes – não foram suficientes para tornar a campanha mais propositiva. A disputa na capital pernambucana tem relação direta com o equilíbrio de forças da esquerda para a eleição presidencial daqui dois anos. De um lado, Campos liderava a aliança PSB-PDT contra o PT, que contou com o apoio do PSOL. No segundo turno, Campos adotou um forte discurso antipetista, atitude diferente de 2018, quando apoiou Fernando Haddad ainda no primeiro turno da disputa presidencial e chegou a participar de agendas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de sua prisão. A estratégia de Campos tinha como objetivo atrair os cerca de 200 mil eleitores antipetistas que optaram por candidatos da direita. Já Marília atacou a inexperiência do rival. Segundo ela, se Campos chegasse à Prefeitura de Recife, ele seria um fantoche da mãe, Renata Campos – viúva de Eduardo Campos e aliada de Julio e Câmara. A petista chamou o primo de “frouxo” e sugeriu que ele estava se escondendo atrás de sua vice, Isabella de Roldão (PDT), para criticar propostas petistas. Ontem, ao agradecer a votação, Campos mudou o tom e, embora não tenha citado sua adversária, pregou união. “Vamos mostrar que se faz política se unindo; que se faz política olhando nos olhos, que se faz política enfrentando cada um dos desafios da cidade. A razão verdadeira de disputar a eleição é saber que a gente pode fazer muito ainda pela cidade do Recife”, afirmou, durante entrevista coletiva em um hotel no bairro do Pina, no Recife.
Derrota. Após a totalização das urnas, Marília criticou a campanha do seu rival, a quem acusou de espalhar fake news a seu respeito. “Temos a consciência tranquila de que fizemos uma campanha bonita, limpa, diferente do nosso adversário, que iniciou o segundo turno parecendo que era outro candidato, outra pessoa, com uma campanha baseada em agressões, fake news e argumentos fundamentalistas, inclusive que buscavam trazer a ilusão das pessoas sobre minha imagem, colocando a fé das pessoas no meio”, disse Marília.

*”Candidato de Ciro Gomes, Sarto vence em Fortaleza”*
*”Na UTI com covid, Maguito Vilela é eleito”*
*”Ex-prefeito do PSOL voltará a comandar Belém”*

*”Resultado em SP reforça ‘guinada’ de Dória ao centro”* - A vitória de Bruno Covas (PSDB) representa o cumprimento de uma das etapas no projeto presidencial para 2022 do governador João Doria (PSDB). Mas o resultado ascendeu o prefeito, voz moderada no partido, a um posto de liderança nacional, o que tornou mais aguda a necessidade de o governador modular o discurso em direção ao centro para manter-se rumo a Brasília. Doria indica migrar para um espaço que Covas já ocupa. Ao falar com jornalistas após votar, ontem, ele citou três vezes a palavra “democracia” e disse que a reeleição era “um resgate” do partido no plano nacional. Ao Estadão, na semana passada, defendeu diálogos com a “centroesquerda”. É um discurso diferente da oposição inegociável ao PT apresentado na eleição de 2018, quando ele defendia o slogan “Bolsodoria” e tentou uma aproximação de Jair Bolsonaro. Mas Covas, que já se apresenta como um político de centro, obteve o resultado de ontem com uma estratégia que deixou Doria de fora da propaganda eleitoral. Durante a campanha, o prefeito manteve a cordialidade com o adversário. Ele defendeu “a responsabilidade fiscal com justiça social” e, internamente, no PSDB, prestigiou tucanos que haviam perdido força após março de 2019, quando Bruno Araújo, candidato de Doria, foi eleito presidente da legenda. A eleição “tem sentido de uma vitória porque Doria é o governador e o Bruno Covas foi seu viceprefeito”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Mas Covas é um perfil que aponta para a recuperação da identidade social-democrata do partido e, nesse sentido, não se pode dizer que é uma vitória acachapante do João Doria.”
Hegemonia. O movimento ao centro é visto como vital para viabilizar uma candidatura hegemônica contra o bolsonarismo. Nesse sentido, o governador buscou diálogos com nomes como o governador do Maranhão (Flávio Dino, do PCDOB) e da Bahia (Rui Costa, do PT). Mas a própria candidatura já não é certa. “O quadro que estava de uma cor só ficou mais colorido”, disse Moisés, sobre a possibilidade de outros nomes surgirem. “O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, por exemplo, tem sido mencionado como alternativa. Só o fato de aparecerem alternativas indica que a coisa não está definida”, completa Moisés. A cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) ressalta que Doria terá também de renegociar os acordos com partidos aliados como DEM e MDB, que também saíram vitoriosos. “Poderia haver um racha aí se Doria não aceitar uma chapa que esteja de acordo com ele. Doria pode ser até um problema para o PSDB”, afirmou Maria, uma vez que o partido busca a volta à Presidência. Um sinal da viabilidade ou não de uma aliança de centro, avalia a professora, deve ser dado na eleição do Congresso, em que o Centrão bolsonarista disputará a presidência das casas.

*”Bolsonaro acumula novas derrotas no 2º turno das eleições”*

*”No País, 17% das cidades não terão vereadoras”* - Apesar de as candidaturas de pautas identitárias – em defesa de grupos LGBT, feministas, antirracistas ou de povos indígenas – avançarem, a falta de representatividade ainda é realidade em boa parte dos municípios brasileiros. Levantamento feito pelo Estadão mostra que quase uma em cada cinco cidades do País – ou 931 municípios (17% do total) – não elegeu nenhuma vereadora neste ano. O número de cidades é maior ainda do que o registrado em 2016, quando 1.292 câmaras municipais ficaram sem representatividade feminina. Segundo especialistas, a cota de 30% de candidatas ajudou a conquistar mais espaço, mas ainda falta investimento e apoio das siglas.
Em Cotia, Carolina Rubinato (PSOL), de 38 anos, bem que tentou quebrar a sequência de 32 anos sem eleger uma só mulher no município. Ela uniu forças com outras quatro para lançar o Mandato Coletivo Feminino. Mas, relata, esbarrou no machismo e na falta de investimento do partido. “Ganhamos R$ 1.425, que foram depositados uma semana antes da eleição. Não deu tempo nem de rodar papel. Nós mesmas bancamos a impressão do folheto, os cartões e as redes sociais”, disse Carolina, que é especialista em política empresarial e pública para mulheres. Ainda que com poucos recursos, ela foi a que teve maior votação entre as mulheres: ao todo, 1.052. O resultado de quatro décadas de um Legislativo composto só por homens é a falta de políticas para mulheres em áreas como saúde e educação, segundo Carolina. “Eles não têm o olhar da necessidade da mulher. Por isso, a paridade de gênero é importante: para que as políticas atinjam a todos.” Na Grande São Paulo, Cotia não é exceção: outras nove cidades também não tiveram mulheres eleitas, quase 30% de toda a região. Carapicuíba e Embu das Artes ficaram de fora do levantamento, pois o resultado da eleição ainda não foi validado pela Justiça Eleitoral.
Mesmo com as cotas, as candidaturas femininas tiveram crescimento tímido. Parte da explicação tem a ver com a formação da cúpula dos partidos, que por ser majoritariamente masculina e branca, prioriza candidatos homens, segundo a cientista social Beatriz Della Costa Pedreira, diretora e cofundadora do Instituto Update. “As pessoas eleitas refletem o sistema interno partidário, que não é democrático. As mulheres não conseguem vencer essas barreiras, porque elas não têm apoio, inclusive financeiro, dos partidos.” Sempre houve resistência por parte das legendas em cumprir a lei de cotas, que não é apenas incluir mulheres em condição de candidatura, mas com chances reais de serem eleitas, diz a cientista política Malu A. C. Gatto, professora da University College London. “Para que isso seja possível, elas não somente precisam estar na lista de concorrentes, mas ter acesso a recurso e a apoio partidário.” Nas últimas eleições, as siglas começaram a respeitar mais a lei em termos de proporção de candidaturas, diz Malu. Mas a maioria não tem passado dos 30% exigidos. “A cota se tornou um teto, em vez de um piso”, diz a especialista. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nenhum partido lançou mais mulheres do que homens nas eleições 2020. O que mais se aproximou da paridade foi a recémcriada Unidade Popular (UP), com 43,28% de candidatas. Em seguida, vem o PSTU (38,94%).
A sub-representação também afeta pretos e pardos, que são a maioria da população. Este ano, 766 municípios não elegeram vereadores pretos ou pardos. Mas, em comparação com 2016, houve uma conquista de 277 cidades. Campina Grande, na Paraíba, é uma delas. Lá, a assistente social Jô Oliveira (PCDOB), de 39 anos, será a primeira negra a ocupar uma cadeira na Câmara. Sua candidatura vinha sendo construída desde 2016, quando ficou como suplente. Em um município onde famílias tradicionais dominam a política, Jô fez uma campanha de poucos recursos, mas com mobilização social. Recebeu o fundo partidário e o recurso da cota racial do partido, só que nas duas últimas semanas. Em comparação com adversários, que arrecadaram quase R$ 200 mil, ela obteve R$ 13 mil. “Quem tem mais dinheiro tem mais tempo para estar na rua, mais pessoas para pedir votos, equipes de redes sociais. Os recursos são primordiais. Mas, o que eu não pude pagar, tive pessoas que ajudaram.” Da construção do programa de mandato até começar a pedir votos, Jô teve a ajuda de movimentos como o das mulheres e o da juventude. Isso a levou a conseguir 3.050 votos. “É uma conquista importante enfrentar essa estrutura. Conseguir um mandato marca um espaço. Mas ainda temos muito o que avançar.”
A cientista política Ana Claudia Farranha, professora de Direito da Universidade de Brasília (UNB), diz que é importante que espaços como a câmara municipal representem a diversidade do País. “Quanto mais a gente tiver o espelhamento da sociedade nas instâncias representativas, ela estará mais próxima da realidade da sociedade.” A redução da desigualdade vai ao encontro da determinação de um critério racial na divisão de recursos do Fundo Eleitoral. O TSE decidiu, em agosto, que a distribuição do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda eleitoral gratuita devem ser proporcionais ao número de candidatos negros do partido. Apesar de o plenário ter entendido que a medida deveria valer a partir de 2022, o Supremo Tribunal Federal antecipou a regra para este ano. A eleição mostra que candidaturas de pautas identitárias avançaram, mas ainda não são maioria. “Sabemos que 81,7% dos novatos são homens e 52,7%, brancos e brancas. Pretos e pretas são 6,58%”, diz Malu Gatto. Ela explica que, ao se analisar gênero e raça, as mulheres pretas continuam sendo minoria, com apenas 1,02% de eleitos. “Houve ganhos. Mas é um espaço que vem sendo conquistado lentamente e carregando com ele essas desigualdades sociodemográficas.”

*”Socorro da União supera em R$ 24 bi impacto da covid nas contas municipais”* - A grande maioria dos novos prefeitos eleitos nas eleições municipais vai herdar um caixa mais cheio no dia primeiro de janeiro de 2021. Durante a pandemia da covid-19, o repasse feito pelo governo federal aos municípios superou em R$ 24 bilhões o impacto da calamidade sobre as contas das prefeituras. O socorro compensou a perda de receitas e o que os prefeitos de fato gastaram no combate da doença. Essa gordura vai aumentar até o fim do ano porque a arrecadação está reagindo e a suspensão do pagamento das dívidas concedida no pacote de socorro aos Estados e municípios continuará até dezembro. Nos 29 municípios mais populosos, o caixa engordou R$ 16 bilhões de janeiro a agosto – um crescimento de 60% na comparação com mesmo período de 2019. Na cidade de São Paulo, o dinheiro disponível em caixa deu um salto de 50% no período, de R$ 13 bilhões para R$ 19,5 bilhões. Em São Luís, o crescimento foi de 398% e, em Recife, alcançou 204%. Na cidade de Uberlândia (MG), o dinheiro em caixa subiu 184% e em Ribeirão Preto (SP), 157%. É o que aponta radiografia feita pelo pesquisador do Insper, Marcos Mendes, nas finanças de 2.229 municípios (com dados disponíveis) que representam 40% dos 5.570 municípios do País. O grupo representa 77% da população brasileira e inclui as maiores cidades em termos fiscais. O saldo médio disponível no caixa de 1.960 prefeituras (que divulgam esse dado) subiu de 15% da receita corrente líquida para 21% em 2020. Apenas 13% dos municípios tiveram redução nos seus caixas como porcentual da receita.
Os dados coletados apontam melhora nos indicadores municipais de receita, despesa, rombos, saldo de caixa e dívida líquida. O único senão continua sendo despesa de pessoal, que permanece em nível elevado. “Os novos prefeitos precisam administrar esse caixa de forma cuidadosa para não quebrar a prefeitura no primeiro ano de governo”, alerta Mendes, especialista em contas públicas. Para ele, o governo federal deve ainda ter cuidado com propostas de ampliação de socorro aos municípios em 2021. “Se do lado municipal acumularam-se gorduras ao longo de 2020, no nível federal houve um insustentável aumento do déficit e da dívida pública, que já ameaça a estabilidade macroeconômica”, avalia. Segundo Mendes, o bom desempenho das finanças municipais também é explicado pela rápida recuperação econômica e seu impacto na arrecadação municipal e do ICMS, imposto estadual, mas que tem um quarto de suas receitas transferidas aos municípios. A queda na transferência de Fundo de Participação dos Municípios (FPM) foi de R$ 3,9 bilhões e do ICMS de R$ 1,6 bilhão. A perda total de receita – de R$ 5,5 bilhões – contrasta com a ajuda financeira do governo federal de R$ 43,1 bilhões. A ajuda desembolsada até agosto foi quase oito vezes maior que a efetiva perda de receita no período.

 

CAPA – Manchete principal: *”Centro não bolsonarista vence pleito”*

*”Com silêncio de Bolsonaro, vitória de Biden vira “tabu” no Planalto”* - Presidente só deve cumprimentar eleito nos EUA após a oficialização de sua vitória, em 14 de dezembro

*”ONG lança sistema que prevê qualidade da água”* - Objetivo é usar as projeções para subsidiar e pressionar governos e órgãos ambientais para criarem ou ampliarem políticas de preservação

*”Um país cada vez mais isolado”* - Com a derrota de Trump nas eleições americanas, o Brasil fica distante de todas as principais potências globais

*”Guedes ‘aparece’ para ativar agenda econômica”* - Ministro aumenta exposição pública como estratégia para “lembrar” Congresso de votações importantes

*”Após apagão no AP, Aneel defende revisar modelo de governança”* - Principais redes do país vão passar por pente-fino a partir desta semana, diz Pepitone

*”Com expansão fiscal, PIB deve crescer perto de 9% no 3º tri”*
*”Repique de inflação afeta atividade, aponta consultoria”* 
- Mercado de trabalho em baixa, queda da renda e elevação dos custos para empresas comprometem retomada da economia, sugere AC Lacerda

*”MG prevê aumento de 40% da pobreza com fim de auxílio”* - Governo do Estado vai deixar de pagar íntegra do 13º salário de servidores pelo terceiro ano seguido

*”Maior fatia dos orçamentos vai para PSDB, MDB, DEM e PSD”* - Com a reeleição do prefeito Bruno Covas em São Paulo, a maior cidade do país, vitórias em outras três capitais - Natal, Palmas e Porto Velho - e em mais 529 municípios em todo o Brasil, o PSDB é o partido que, a partir de 2021, irá administrar a maior fatia das receitas municipais e terá influência direta sobre a maior fatia do eleitorado. Tomando como base os valores de janeiro a dezembro de 2019, serão cerca de R$ 155,1 bilhões de receitas orçamentárias somadas nas mãos de prefeitos tucanos. No conjunto esses municípios sob o comando do PSDB a partir de 2021 reúnem 24,8 milhões de eleitores. Os rankings de receitas orçamentárias e eleitorado são quase idênticos (confirma no quadro ao lado). Os outros três partidos com maior fatia de receitas são o MDB, com R$ 93,3 bilhões; o DEM, com R$ 91 bilhões; e o PSD, com R$ 82,3 bilhões. A conta leva em consideração um conjunto de 5.229 municípios com informações disponíveis até a última sexta no site da Secretaria do Tesouro Nacional. Apesar da liderança, a influência do PSDB sobre as máquinas municipais a partir do dia 1º de janeiro passa a ser menor que a de quatro anos atrás. Em 2016, o partido colheu vitórias em 799 municípios, conjunto que somava R$ 183,2 bilhões em receitas em valores corrigidos.
A queda do PSDB - a maior em termos nominais - fica mais visível quando se compara a participação relativa dos tucanos no ranking. Em 2017, prefeitos eleitos pelo PSDB no ano anterior passaram a administrar 27,4% das receitas orçamentárias de todos os municípios do país. Em 2021, passarão a gerir 21%. Com R$ 4,9 bilhões a menos (queda de 4,9%), o MDB, o segundo colocado do ranking de receitas e eleitorado, também terá participação menor a partir do ano que vem. Cai de R$ 98,2 bilhões para R$ 93,3 bilhões. É o oposto do que ocorre com DEM, PSD e PP, os outros três partidos que irão gerir os valores mais altos em receitas. O melhor resultado é o do DEM, puxado pelas vitórias de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, ontem, além dos triunfos já no primeiro turno de Rafael Greca, em Curitiba, Gean Loureiro, em Florianópolis, e Bruno Reis, em Salvador. Somadas ao avanço nas cidades médias e pequenas, o domínio do DEM em receitas municipais salta de R$ 32,5 bilhões para R$ 91 bilhões. O PSD e o PP também avançam significativamente do ponto de vista monetário. O PSD praticamente dobra sua influência, de R$ 42,9 bilhões para R$ 82,3 bilhões. O PP cresce de R$ 34 bilhões para R$ 54,5 bilhões.
No polo oposto, as maiores quedas depois do PSDB, entre os partidos grandes e médios, são do PSB e do Republicanos. O primeiro recuou de R$ 51,6 bilhões para R$ 29,9 bilhões, queda de 42%. Poderia ter sido pior se o candidato do partido no Recife, João Campos, não tivesse vencido ontem. O segundo retrocedeu de R$ 42,1 bilhões para R$ 25,8 bilhões (-16,8%). Sigla que já foi líder no ranking de gestão de receitas orçamentárias e eleitorado governado, o PT ficou na 11º posição neste ano, responsável pela administração de R$ 20,2 bilhões a partir de janeiro de 2021. É um avanço de 13,8% na comparação com quatro anos atrás. Dos 15 municípios em que disputou segundo turno, o PT venceu em quatro: Diadema e Mauá, em São Paulo, Contagem e Juiz de Fora, em Minas. Mas candidatos petistas perderam nas duas capitais disputadas (Recife e Vitórias). É a primeira vez desde sua fundação, em 1980, que o PT sai de uma eleição municipal sem nenhuma vitória em capital. Os prefeitos das 95 cidades com mais de 200 mil eleitores irão administrar o equivalente a 44% da receita total de todas as cidades do país. A grandes cidades foram as que mais sofreram pressão de gastos em razão de demandas por serviços de saúde em meio à pandemia e tiveram mais dificuldade na recomposição de receitas. A receita total dos 95 municípios totalizou R$ 213 bilhões de janeiro a agosto de 2020, com aumento nominal de 9,2% em relação a igual período do ano passado. Nas demais cidades do país o desempenho foi ligeiramente melhor, com receita de R$ 269,8 bilhões e alta de 11,5%.
Das 95 maiores cidades, só não foi considerado o município fluminense de São João de Meriti, que não divulgou seus relatórios. Na conta estão dados de 4.740 prefeituras que entregaram os resultados ao Tesouro. O desempenho de receitas dita o ritmo dos gastos. A despesa corrente dos 95 municípios cresceu 4,4% de janeiro a agosto em comparação com iguais meses de 2019, puxada por 15,3% de avanço na saúde. Nos demais municípios, a despesa corrente avançou 6,5%, com alta de 16,7% na saúde. Nos investimentos também fica clara a perda de fôlego das cidades maiores. Nas 95 grandes, o investimento cresceu 38,9%. Nas demais, 47,8%. Para o economista Manoel Pires, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), é possível que os prefeitos eleitos das grandes cidades enfrentem maior dificuldade fiscal e sofram maior pressão de gastos em caso de dificuldade maior no controle da covid-19. Municípios de maior porte tendem a ter mais problemas crônicos, diz. Neles, exemplifica, dentro das despesas de pessoal, os gastos com aposentadoria já demandam mudanças mais estruturais e por isso a recente descentralização resultante da reforma previdenciária é mais importante. Além, disso, as transferências federais que socorreram os municípios em 2020 favoreceram mais as pequenas cidades, já que o critério utilizado foi mais redistributivo. E com uma parcela de arrecadação própria maior entre as receitas, as grandes cidades sofreram em 2020 impacto maior dos efeitos econômicos do isolamento social.

*”Direita ganha poder municipal e esquerda, chance de renovação”* - Se o primeiro turno consolidou a direita como detentora da maior máquina municipal no conjunto das cidades, o segundo turno trouxe o fortalecimento do centro no Sudeste e a projeção de lideranças de esquerda que, a despeito de amplamente derrotada, quebram o monopólio do PT, partido que já chegou a eleger nove prefeitos de capitais e agora não elegeu nenhum. A conquista do Rio pelo DEM de Eduardo Paes e a manutenção do PSDB com a reeleição de Bruno Covas, em São Paulo, somam-se à reeleição do prefeito Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte, no primeiro turno, para consolidar o centro nas três capitais com maior peso na opinião pública nacional. Juntos, os três partidos elegeram dez prefeitos de capitais. Somados aos do MDB (Boa Vista, Cuiabá, Goiânia, Porto Alegre e Teresina), o centro não-bolsonarista elegeu 15 prefeitos de capitais. Na esquerda, a despeito do pior desempenho em capitais da história, dois personagens se sobressaíram, Guilherme Boulos (Psol), em São Paulo, e Manuela d’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, que tiveram mais de 40% dos votos. Colheram derrotas, como em 2018, quando um foi candidato à Presidência, e a outra, a vice de Fernando Haddad (PT), mas saíram maiores do que naquela eleição pela capacidade de renovar o discurso, ampliar suas bases políticas e combater a imagem de radicais. Boulos ligou para parabenizar Covas antes mesmo de concluída a apuração. Ironicamente, seu partido e o de Manuela correm risco de extinção em 2022, em função do fim das coligações e da cláusula de desempenho.
Foi com discurso - contra corrupção e violência - e sem máquina partidária que o presidente Jair Bolsonaro venceu as eleições em 2018. Em 2022, o presidente, pela aliança com o Centrão, pode até conseguir um partido para disputar, mas lhe faltará discurso, especialmente em função da crise econômica que ameaça se aprofundar no país a partir de 2021. A vitória da centro-direita não-bolsonarista se deu, basicamente, em função de gestões bem avaliadas na pandemia que se opuseram às determinações do presidente da República. Dos 13 prefeitos de capital que tentaram a reeleição, dez foram reconduzidos. Nenhum da base bolsonarista. As perdas do presidente, que assistiu à queda de sua popularidade na maior parte das capitais, se ampliaram com a derrota do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, do Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, e do Delegado Eguchi (Patriotas), em Belém. De candidatos deste segundo turno por quem pediu votos, apenas Tião Bocalom (PP), se elegeu em Rio Branco. No outro lado, porém, nenhum dos atuais pré-candidatos à Presidência teve um desempenho retumbante nas campanhas em que mais se empenharam.
Dois dos postulantes presidenciais mais expostos nessas eleições municipais, o governador paulista João Doria (PSDB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) venceram em suas capitais de origem, São Paulo e Fortaleza. A reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), no entanto, se deu apesar do governador e não por sua causa. A rejeição de Doria na capital só não é maior do que a do presidente da República. Cresce, entre tucanos, a percepção de que o governador hoje tem mais apoio na legenda para disputar a reeleição do que para um voo presidencial. O bom desempenho do PSDB no Estado, inclusive na Região Metropolitana, reforçou esta percepção. Entre os adversários internos de Doria, há tanto partidários do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, quanto do apresentador Luciano Huck. Ciro Gomes, por outro lado, não enfrenta disputa interna em torno da vitória de José Sarto para a Prefeitura de Fortaleza, mas esta eleição apenas mantém suas posições na capital cearense. O ex-ministro não avançou para fincar bases no centro-sul com as derrotas, no primeiro turno, de seus candidatos no Rio, Martha Rocha (PDT), e em São Paulo, Márcio França (PSB). O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), outro presidenciável, assistiu, no primeiro turno seu principal adversário local, a família Sarney, ser reduzido a uma única vereadora em São Luís, mas manteve-se equidistante da disputa na capital. Empenhou-se no segundo turno, mas não foi capaz de impedir a derrota de Duarte Jr. (Republicanos) por Eduardo Braide (Podemos).
Os cinco únicos prefeitos da esquerda eleitos nas capitais - dois do PSB (Recife e Maceió), dois do PDT (Aracaju e Fortaleza) e um do Psol (Belém) - representam um terço da presença dos partidos deste campo eleitos em 2004, primeira disputa municipal da era petista. Foi no Recife onde as disputas internas da esquerda chegaram ao limite da autodestruição. A capital pernambucana foi a única a ter dois candidatos não apenas do mesmo campo na reta final como egressos da mesma família. Como seus partidos foram aliados até aqui, sobrou para as campanhas do bisneto do ex-governador Miguel Arraes, o deputado federal e prefeito eleito, João Campos (PSB), e de sua neta, a também deputada Marília Arraes (PT), resvalar para ataques pessoais. Com isso, trincaram o legado de uma liderança que, a despeito de falecida há 15 anos, ainda pauta a política local. Os rumos da esquerda dependem, ainda, do futuro da legislação eleitoral e partidária cujo reexame será renegociado com os postulantes à mesa diretora da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2021. Nenhum personagem, porém, depende tanto desta eleição quanto o presidente Jair Bolsonaro. A Casa, além de abrigar 52 pedidos de impeachment, tem o poder de deliberar sobre o nó fiscal que paralisa o governo. Seu candidato na Câmara, Arthur Lira (PP-AL), comandará uma máquina partidária robustecida pelas eleições municipais que derrotaram seu principal adversário local, a família Calheiros, em Maceió e Arapiraca. Seu principal adversário, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também foi vitorioso nessas eleições municipais, tanto pelo desempenho do DEM quanto pela vitória de Eduardo Paes (DEM), no Rio. Sua recandidatura depende do Supremo Tribunal Federal, numa deliberação virtual marcada para a próxima sexta-feira, em que saem os 148 milhões de eleitores e entram os 11 ministros da Corte.

*”Centro-direita se espalha nos maiores municípios”* - Disputas do segundo turno em 57 municípios mostra fortalecimento da centro-direita e apostas fracassadas da esquerda

*”Barroso defende melhorias para evitar novos ataques a sistema”* - De acordo com o presidente do TSE, a investigação sobre a atuação das “milícias digitais” ainda está no início

*”No Rio e Goiânia, alienação beira a 50% do eleitorado”* - Abstenções foram recorde nessa eleição

*”Planalto ainda vê PT como principal rival para 2022”* - O vice-presidente, Hamilton Mourão, disse ao Valor que o resultado do segundo turno das eleições evidenciou a escolha da população por bons gestores. Para o vice-presidente, a escolha de candidatos experientes também foi demonstração de "bom senso". "Considero que a população buscou escolher aqueles que demonstraram a capacidade de gestão, que é o que se deve esperar de um prefeito", afirmou. "Além disso, o bom senso também venceu, pois gente que nunca tinha administrado o prédio em que reside não teve o apoio necessário".Ao final do primeiro turno, Mourão já havia avaliado que partidos de Centro saíram vitoriosos do pleito e que o mau desempenho de candidatos apoiados por Jair Bolsonaro não poderia ser debitado ao presidente porque ele não "entrou de cabeça" na disputa. Auxiliares próximos do presidente Jair Bolsonaro afirmam que o PT, mesmo enfraquecido após as eleições municipais, continua sendo o principal adversário de Bolsonaro para 2022. Embora o PT ainda seja tido como o principal rival de Bolsonaro para 2022, o partido não governará nenhuma capital a partir do ano que vem. É a primeira vez que isso acontece desde a redemocratização. Na opinião de ministros ouvidos pelo Valor, Guilherme Boulos (Psol) desponta como uma nova liderança importante no campo da esquerda, mas tem mais potencial no momento para disputar o governo de São Paulo do que para rivalizar com Bolsonaro na disputa pelo Palácio Planalto.
Passada a votação, as atenções no governo se voltam para a pauta legislativa. A “prioridade zero” é votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e depois votar outros projetos travados por conta das eleições locais. Para um outro ministro ouvido pela reportagem, Bolsonaro “só perde a reeleição para si próprio”. Diferentemente de outros membros do governo, ele não viu nas derrotas dos republicanos Marcelo Crivella (Rio) e Celso Russomanno (São Paulo) um grande revés para o presidente. Por diferentes razões, diz, ambos eram candidatos fracos e com grande potencial de derrota. O presidente, por outro lado, fez um gesto para um partido importante de sua base. Agora está mais bem posicionado para negociar com a legenda uma composição para a sucessão da presidência da Câmara e cobrar apoio para projetos importantes para o governo na Casa. Ontem, com os eleitores ainda indo às urnas, o Planalto definia prioridades da agenda legislativa. O primeiro passo é tentar achar uma solução para o conflito entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o deputado Arthur Lira (PP-AL), sobre a composição da Comissão Mista de Orçamento (CMO). Na mira do governo, estão também o PLP 137 (que libera recursos R$ 177 bilhões de 29 fundos ao coronavírus), a PEC Emergencial, o PL da Cabotagem e o PLP 101, que estabelece o Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal.
O resultado das eleições aumentou também as divisões entre a ala ideológica do governo, de um lado, e a ala militar e ministros políticos. Esse último grupo viu na vitória dos partidos de centro-direita em diversas capitais um chamado à moderação para que Bolsonaro chegue com chances de vitória daqui a dois anos. Uma análise muito ouvida é que a população está cansada da polarização política. Já os “ideológicos” defendem que o presidente tenha um partido próprio e atribui a isso a derrota de candidatos apoiados por ele. Um dos ministros ouvidos pelo Valor fica no meio termo. Para ele, Bolsonaro já vem se posicionando mais ao centro, mas não pode abandonar a retórica mais agressiva nem tampouco esquecer da pauta conservadora do grupo que o levou ao poder em 2018. A indicação de Kassio Nunes Marques ao Supremo Tribunal (STF), afirma, “já sinaliza que não está flertando com o extremo”. “Retórica é uma coisa, gesto é outra. O presidente fazendo gestos reiterados de que preza a governabilidade”, diz a fonte. “Mesmo assim, não pode abrir mão de ter a relação com o eleitorado que o levou à Presidência.

*”Governadores com projeto nacional não podem comemorar, diz analista”* - Flavio Dino, Romeu Zema, Eduardo Leite e Ronaldo Caiado tiveram revezes e Doria não pode chamar vitória em São Paulo, de sua, segundo Creomar de Souza

*”Para especialista, Rodrigo Maia se fortalece”* - Consultor do Diap acredita que vitória do Centrão é derrota bolsonarista

*”Emprego e renda serão desafios para eleitos”* - Municípios terão que identificar a nova população de vulneráveis que se formou com a pandemia

*”Vitória de Covas favorece aliança para 2022”* - União de PSDB, DEM e MDB em torno do prefeito de São Paulo projeta candidatura de João Doria

*”É o início de um ciclo que se anuncia, diz Boulos”* - Agora, tanto Boulos quanto o Psol planejam voos mais altos

*”Eleição em SP consolida tendência de voto na centro-direita”* - Estado elegeu prefeitos do PSDB para 172 cidades, sendo 169 deles eleitos no primeiro turno

*”Bolsonarista ganha em São Gonçalo e filho de Garotinho em Campos”* - Tendências nacionais como o encolhimento do MDB e fraco desempenho do PT também se manifestaram

*”Melo contraria Ibope e vence Manuela”* - Apoiado pelos partidos bolsonaristas, emedebista derrota Manuela D’Avila (PCdoB)

*”No Recife, Campos derrota a prima”* - Peso da máquina do PSB foi decisivo na reta final da campanha do deputado que gastou R$ 7,5 milhões

*”Edvaldo confirma favoritismo e é reeleito em Aracaju”* - Com 150.823 votos, o pedetista e sua vice, Katarina Feitosa (PSD), ficaram com 57,86% do total dos votos computados

*”Delegado Pazolini bate o ex-prefeito e petista João Coser e governará Vitória”* - Candidato do Republicanos teve 58,50% dos votos válidos e superou expectativas apontadas em pesquisa

*”PT vence em duas cidades mineiras e Zema consegue por aliada em Uberaba”* - Contagem e Juiz de Fora, nas mãos do PT, deverão ser palcos importantes na eleição para governador em 2022

*”Sarto é eleito em Fortaleza por margem estreita”* - Apesar do amplo leque de apoios, candidato de Ciro Gomes tem desempenho abaixo do esperado

*”Dr. Pessoa derrota PSDB e Nogueira em Teresina”* - Vitória do emedebista coloca fim à hegemonia tucana de três décadas

*”Lucena volta à Prefeitura de João Pessoa pela 3ª vez”* - Com 53,16% dos votos, candidato do PP superou Nilvan Ferreira (MDB) e ocupará mais uma vez a prefeitura da capital paraibana

*”JHC vence Gaspar, candidato dos Calheiros”* - Disputando a eleição pelo PSB, Caldas obteve 58,64% dos votos e vai governar Maceió

*”Braide derrota grupo de Flávio Dino em São Luís”* - Governador se envolveu no 2° turno, mas não reverteu desvantagem

*”Moro torna-se diretor de empresa americana de consultoria”* - Ex-juiz da Lava-Jato de Curitiba vai trabalhar em administradora judicial da Odebrecht, com cláusula para não atuar em áreas com conflito de interesses

*”Para Temer, governo não deve politizar vacina”* - Na avaliação do ex-presidente, a saúde deve prevalecer sobre a economia

*”’Foi dado um sinal amarelo para o Planalto’, diz Schuler”* - Segundo cientista político, disputa tirou ilusões de que bolsonarismo pode se descolar da economia

*”Boulos não é ameaça a PT ou Ciro em 2022, diz Arretche”* - Para Marta Arretche, da USP, Psol ainda é pequeno para a disputa presidencial

 

CAPA – Manchete principal: *”Covas é reeleito; no país, PT e Bolsonaro são derrotados”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”SP, dedicação integral”*: A vitória de Bruno Covas (PSDB), 40, para a Prefeitura de São Paulo, embora tecnicamente uma reeleição, representa também a sua primeira passagem como protagonista pelo rito consagrador das urnas num pleito majoritário. Os desafios a sua frente serão gigantescos. Não bastassem os problemas habituais de uma metrópole de 12,3 milhões de habitantes, ainda longe em sua grande maioria de ostentarem padrões de renda e bem-estar das capitais do mundo rico, há o impacto sanitário e econômico da pandemia de coronavírus. Dentre os fatores que parecem ter levado à prevalência do tucano neste domingo (29) —quando se tornou o segundo a ser reeleito na capital— está justamente a atuação na crise. A melhora da sua popularidade vincula-se à aprovação pela população das ações municipais contra a onda infecciosa. Essa decerto é uma história que ainda está para ser contada em sua totalidade, e os próximos dias serão decisivos para isso, pois a cidade saberá se as autoridades retardaram a adoção de medidas restritivas por motivos eleitorais. Ainda assim, o contraste com a irresponsabilidade e a inépcia do governo do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia é patente. Apesar de relativamente jovem, Bruno Covas teve a oportunidade de observar e conviver com políticos experientes, com os quais espera-se que tenha aprendido que lições não se tiram apenas das derrotas, mas também das vitórias.
Cabe-lhe detectar no bom desempenho de seu adversário, Guilheme Boulos (PSOL), demandas mal atendidas de largos segmentos da população por mais equidade no desfrute das facilidades urbanas. Combater a desigualdade também significa interferir em dispositivos cegos que produzem moradias precárias e distantes, além de transporte deficiente, para milhões de paulistanos. Requer creches de qualidade nas periferias, e não depósitos de crianças pequenas. A segunda lição dessa eleição para Bruno Covas é política. O prefeito poderia ter tido caminho mais suave nas urnas se dois de seus correligionários e antecessores no cargo, José Serra (2006) e João Doria (2018), não tivessem abandonado a prefeitura com menos da metade do mandato cumprido para candidatar-se ao governo estadual. São Paulo é grande e complexa o bastante para exigir do prefeito dedicação integral à tarefa administrativa. A derrota de Serra na disputa da prefeitura em 2012 e a grande rejeição a Doria na capital atestam esse fato de modo cristalino. Quem assume sem compromisso acaba queimado na grande fogueira de carreiras políticas que tem sido a prefeitura paulistana. Que Bruno Covas absorva o ensinamento e faça bom governo.

PAINEL - *”Fora de capitais e coadjuvante em cidades-chave, PT tenta entoar discurso de que não sai derrotado da eleição”*: Fora das capitais, derrotado em 11 das 15 cidades no segundo turno, com menos de 40% dos votos em seis delas, coadjuvante em locais-chave (como São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza), o PT tenta entoar o discurso de que não fracassou na eleição. Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, afirma que a legenda se recolocou em disputas relevantes e foi à final em mais municípios neste ano do que no pleito passado —foram 7 no segundo turno de 2016. Para ela, ainda há efeito da onda anti-PT, com ataques que agora foram usados até por antigos aliados. Lula, por ora, silenciou. Gleisi faz duras críticas ao PSB, a quem acusa de ter “adotado métodos da extrema direita” para atacar Marília Arraes. “Marília sai politicamente vitoriosa, embora não eleitoralmente”. Gleisi e José Guimarães (PT-CE) foram os principais defensores da candidatura própria em Recife.
Para Alexandre Padilha (PT-SP), o apoio petista foi determinante em cidades como Porto Alegre, onde Manuela D’Avila (PC do B) se beneficiou do fato de ter sido a vice de Fernando Haddad, em 2018. Ela saiu na frente nas pesquisas, mas acabou derrotada. "Em capitais onde o PSOL também chegou bem, como em SP e em Belém, é graças a uma história ligada ao petismo", diz. “O sentimento é de animação, não de euforia”, afirma. O líder do PT na Câmara, Ênio Verri (PT-PR), admite que o resultado efetivo, de só 4 vitórias, “é pouco” e que ele esperava mais. Em sua avaliação, porém, a esquerda sai vitaminada, com vitórias como em Maceió (PSB), Recife (PSB), Fortaleza (PDT) e Belém (PSOL), mostrando-se capaz de competir com Bolsonaro em 2022, desde que unida. Petistas viram no ato de Flávio Dino (PC do B-MA), neste domingo (29), o início de uma via de reconciliação, após o racha em Recife. O governador apoiou João Campos (PSB), rival do PT, mas foi votar com a camisa estampada de “Lula Livre”. O ato também foi motivo de crítica.

PAINEL - *”Parlamentares dizem que Bolsonaro desistiu de CPMF; para Economia, tributação é tema para 2021”*

PAINEL - *”Operações suspeitas dobram, e Coaf terá recorde histórico na produção de relatórios”*: O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) vai terminar o ano com a maior produção de relatórios de inteligência da história. Até novembro, o órgão contabilizava 10.247 documentos. O recorde era do ano de 2018 (7.350). No ano passado, decisão do STF e mudanças de subordinação fizeram as atividades despencarem. O Coaf diz que o número de operações suspeitas recebidas no órgão praticamente dobrou, contribuindo para o aumento dos números de RIFs. O conselho atribui o resultado também à otimização de processos e fortalecimento do quadro técnico. Foi em um monitoramento do Coaf, que identificou movimentação atípica nas contas de Fabricio Queiroz, que se iniciou a investigação contra Flávio Bolsonaro.

*”Bruno Covas (PSDB) é reeleito prefeito de São Paulo”* - Bruno Covas (PSDB), 40, foi reeleito neste domingo (29) prefeito de São Paulo, para o mandato 2021-2024. Com 98,18% dos votos apurados, ele tinha 59,34%, contra 40,66% de seu adversário no segundo turno, o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL). Por volta das 18h45, o candidato do PSOL ligou para o prefeito reeleito o parabenizando pela vitória. Neste domingo, ao votar pela manhã, Covas prometeu cumprir o mandato de prefeito até o fim caso fosse eleito. "Quero ser reeleito para entregar o cargo no dia 1º de janeiro de 2025", afirmou. O tucano, que era vice de João Doria (PSDB), chegou ao cargo em abril de 2018, com a renúncia do então prefeito para concorrer ao governo do estado. Embora os dois ainda sejam aliados, o candidato à reeleição escondeu Doria de sua campanha por causa da alta rejeição a ele na cidade. Na noite de domingo, Doria parabenizou Covas pelas redes sociais "pela expressiva vitória na eleição". "Sua reeleição representa a vitória do respeito, equilíbrio e eficiência. E a consolidação da força eleitoral do PSDB. Viva a democracia!", tuitou.​ Dos quatro prefeitos que tentaram um novo mandato após a lei que permitiu a reeleição, de 1998, só um até hoje havia conseguido o feito, Gilberto Kassab (à época no DEM, hoje no PSD), em 2008. Covas é o segundo a ser reconduzido ao cargo.
Marta Suplicy (então no PT, hoje sem partido), em 2004, e Fernando Haddad (PT), em 2016, saíram derrotados das respectivas campanhas pela reeleição. E há aqui uma coincidência: Kassab também havia recebido a cadeira do ex-titular, José Serra (PSDB), que deixou o posto após 15 meses para concorrer à Presidência da República, em 2006. Com a vitória nas urnas, ele permaneceu no Edifício Matarazzo, sede do poder público municipal, durante seis anos. Explorando a ideia de que representa segurança e alguma previsibilidade, Covas se vendeu ao longo da campanha como um político habilidoso e gestor eficiente, em contraponto à inexperiência de Boulos, que construiu sua trajetória em movimentos sociais e nunca ocupou cargo público.
Sem marcas de governo, o tucano, neto do ex-prefeito e ex-governador Mário Covas (1930-2001), aproveitou o segundo turno mais curto da história para martelar o discurso de que era o mais preparado para o cargo e que já fez muito pela cidade, mas queria "continuar fazendo mais". Ele conseguiu manter a dianteira conquistada no primeiro turno, do qual saiu com 32% dos votos válidos, ante 20% de Boulos. Apenas duas semanas separaram os dois turnos, naquele que foi o intervalo mais reduzido da história, em razão da pandemia do novo coronavírus. A crise sanitária da Covid-19 alterou todo o calendário eleitoral e também postergou a votação de outubro, tradicional mês do pleito, para novembro. Com 15 dias, em vez das três ou até quatro semanas de outras disputas, a campanha de Covas administrou a vantagem, neutralizou o avanço de Boulos sobre fatias do eleitorado e conseguiu se desvencilhar de percalços como as denúncias contra o candidato a vice, Ricardo Nunes (MDB). O companheiro de chapa se tornou uma pedra no sapato, com as suspeitas que pesam sobre suas relações com creches conveniadas com a prefeitura e o registro de violência doméstica feito em 2011 pela esposa de Nunes, revelado pela Folha.
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*”É possível fazer política sem ódio, diz Covas em discurso da vitória ao lado de Doria”* - "É possível fazer política sem ódio", disse na noite deste domingo (29) o prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em discurso ao comemorar sua vitória, no qual apelou à moderação e disse que a cidade respeita a democracia e o equilíbrio. Dirigindo-se aos eleitores do candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL), Covas afirmou que vai "governar para todos". "A partir de amanhã não existe distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo", afirmou, emulando o discurso do presidente eleito nos Estados Unidos, Joe Biden, que disse que "não haverá estado azul e estado vermelho", se referindo à disputa americana. "É possível fazer política sem ódio", disse na noite deste domingo (29) o prefeito reeleito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em discurso ao comemorar sua vitória, no qual apelou à moderação e disse que a cidade respeita a democracia e o equilíbrio. Dirigindo-se aos eleitores do candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL), Covas afirmou que vai "governar para todos". "A partir de amanhã não existe distrito azul e vermelho, existe a cidade de São Paulo", afirmou, emulando o discurso do presidente eleito nos Estados Unidos, Joe Biden, que disse que "não haverá estado azul e estado vermelho", se referindo à disputa americana.
O discurso de Covas foi feito no diretório estadual do PSDB, aonde chegou junto do governador João Doria (PSDB), seu padrinho político que, com alta rejeição na cidade, passou a campanha escondido. O governador discursou afirmando que a "vitória foi conquistada coletivamente, com um grande candidato, mas coletivamente", em uma fala em que acenou para uma campanha presidencial em 2022, citando esperança, mudança e democracia. "Quero destacar também os valores da democracia. O valor de uma campanha bem feita, bem conduzida, sob liderança do Bruno Covas, que vencendo a discriminação de uma doença, a dor e a luta, soube conduzir sua campanha sem fazer uso de fake news, mentiras e ataques", disse o governador. Doria falou por cerca de nove minutos, enquanto o discurso do próprio prefeito reeleito durou pouco mais de 7 minutos. O vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes (MDB), principal calo da campanha, fustigado por durante o segundo turno por uma denúncia de violência doméstica em 2011 e por ligações controversas com creches conveniadas, também discursou, afirmando que "Covas tem um vice do lado dele, que é seu fiel escudeiro", disse.
Covas agradeceu o vereador. "Queria fazer uma homenagem e agradecimento especial ao meu vice Ricardo Nunes, que sofreu muito durante essa campanha. Esteja certo, Ricardo, que partir de 1ºde janeiro vamos governar e mostrar para São Paulo quem nós somos e qual é a nossa visão de mundo. Tenho certeza que todo sacrifício vai valer a pena", disse. O espaço das falas estava lotado e a campanha ignorou as queixas da imprensa sobre as aglomerações. O próprio prefeito foi questionado sobre as aglomerações. "Veio muita gente da imprensa, mas a gente recebe a todos aqui", respondeu Covas. Estavam no local diversas figuras do PSDB, como o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, e até o deputado federal Alexandre Frota. Joice Hasselmann (PSL) também esteve presente ao lado de Covas. Contando com Covas, sete pessoas discursaram, mas nenhuma mulher. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, ressaltou que a campanha foi feita sem ataques entre os candidatos. "Vencer é sempre importante. Na vida pública, vencer com dignidade, com respeito, dedicação é ainda mais importante. A eleição do Bruno Covas demonstrou que política, vida pública, pode ser feita sem escolher o adversário como inimigo", disse. "O eleitor brasileiro não quer extremismo, não quer discussões alheias além da necessidade da vida real. O eleitor quer moderação", continuou Araújo.
Já nesta segunda-feira (30), um dia após a reeleição, Covas terá que tomar medidas em relação à quarentena em São Paulo —a cidade poderá retroceder no Plano São Paulo, que estabelece níveis de isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. Na reta final do segundo turno, quando a vantagem de Covas para Guilherme Boulos (PSOL) diminuiu nas pesquisas e as internações por Covid-19 começaram a aumentar na cidade, o prefeito passou a minimizar um repique da doença. Covas chegou a chamar alertas de especialistas de “fake news” e “alarmismo”, para afastar boatos de que os comércios poderiam ser fechados novamente, o que teria impacto eleitoral negativo. Neste sábado (28), o prefeito disse que "na cidade de São Paulo, não há espaço para o discurso alarmista dizendo que estamos escondendo dados, como não há espaço para discurso de que a pandemia já acabou."
Covas foi escolhido para um novo mandato de quatro anos após uma reviravolta que o transformou, em pouco mais de dois anos, de um vice-prefeito desconhecido e baladeiro em um nome forte do PSDB que se projeta como líder nacional. Neste domingo, ao ir votar, Covas prometeu cumprir o mandato até o fim, ao contrário de outros tucanos que deixaram a prefeitura para buscar outros cargos —mas que também haviam feito a mesma promessa, como Doria, eleito prefeito em 2016 e que se elegeu governador de São Paulo dois anos depois. Para entrar na vida política, Covas se fiou no sobrenome e no capital político do avô, o fundador e personagem histórico do PSDB Mario Covas, que foi prefeito, senador e governador de São Paulo até sua morte, em 2001. O neto foi eleito pela primeira vez deputado estadual em 2006 e reeleito no pleito seguinte com a maior votação do estado, mas se licenciou para ser secretário estadual de Meio Ambiente entre 2011 e 2014, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), período em que teve atuação discreta. Na eleição de 2014, foi eleito deputado federal com 352 mil votos, cargo do qual também se licenciou dois anos depois para disputar a eleição em São Paulo como candidato a vice-prefeito na chapa liderada por Doria.
Eleito, Covas foi nomeado, em 2017, secretário de Prefeituras Regionais (hoje subprefeituras), mas a gestão passou a ser alvo de queixas por falta de zeladoria, e Doria o demitiu do cargo em novembro do mesmo ano. Para minimizar o problema, Doria o colocou para articular projetos na Câmara Municipal e brincou, na ocasião, que seu vice havia "caído para cima", mas deixando claro que "a população fez algumas reclamações". “Não há nenhum reparo na gestão do Bruno, mas com esta nova estrutura vamos melhorar ainda mais. Já disse que temos que ter os ouvidos muito ligados na população, e a população fez algumas reclamações”, disse Doria na época. Na ocasião Doria testava uma possível candidatura à Presidência ainda em 2018, furando a fila de seu padrinho político Alckmin, de quem Covas é próximo. Meses depois, em abril, Doria quebrou a promessa de prefeitar por quatro anos e deixou o cargo, não para a disputa nacional, mas para se eleger governador. Covas, então, assumiu a cadeira de prefeito, em um momento em que havia perdido 16 quilos, começado a fazer exercícios físicos e, divorciado, frequentar festas na cidade. Nessa época, enfrentou desgaste político e investigação do Ministério Público por nomeações de uma parente, de amigos de balada e de faculdade e da mãe do seu secretário-executivo para postos de confiança na administração municipal.
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ANÁLISE - *”Primeira fala de Covas ecoa Biden e mostra prefeito de SP como cabo eleitoral de Doria”*
ANÁLISE - *”Vitória de Covas é abertura do jogo de Doria contra Bolsonaro em 2022”*
*”Vitória de Covas aumenta independência em relação a Doria e projeta governador para 2022”*
*”Campanha de Covas evitou nacionalização, fez do prefeito seu foco e tropeçou em vice”*

*”Reeleito, Covas seguirá em tratamento contra câncer sem previsão de término”*
*”Ricardo Nunes assumirá vice-prefeitura de São Paulo com rótulo de principal calo eleitoral de Covas”*
*”Em novo mandato, Covas terá vereador do DEM em tropa de choque e série de aliados para acomodar*”
*”Aulas, pandemia, finanças e Plano Diretor estão entre desafios de Covas para 2021”*

*”'A gente saiu vitorioso, é o início de um ciclo', diz Boulos, derrotado em SP, apontando para cenário nacional”* - Com o segundo lugar na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), 38, sai da eleição de 2020 com uma derrota eleitoral para Bruno Covas (PSDB), mas afirma ter colhido uma vitória política e faz acenos nacionais ao falar de futuro. Ao reconhecer a derrota na noite deste domingo (29), Boulos afirmou que sua campanha servirá de inspiração para o Brasil e criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de forma velada. "Vou trabalhar [...], para que o que a gente conseguiu construir e unir em São Paulo sirva de inspiração para o Brasil. Para ajudar a derrotar o atraso e o autoritarismo. Vou estar à disposição, como sempre estive, das lutas do nosso povo, em São Paulo e no país, por democracia, justiça e direitos sociais", afirmou em breve fala transmitida online. Boulos fez seu discurso pelas redes sociais por estar em isolamento em sua casa. Ele foi diagnosticado com Covid-19 na sexta (27), na reta final do segundo turno, e nem sequer pôde ir votar neste domingo. "Nessa campanha nós não construímos apenas uma onda de esperança para a eleição desse domingo. Nós construímos muito mais, nós apontamos para o futuro. [...] Hoje não é o fim de uma caminhada, é o começo", afirmou. A fala corroborou a avaliação entre políticos, tanto adversários como aliados, de que o resultado da campanha cacifou Boulos para voos mais altos em 2022. No segundo turno, ele obteve quase 2,2 milhões de votos --40,62% do eleitorado da capital. "Os mais de dois milhões de votos que a gente recebeu hoje são a energia que a gente precisa para seguir lutando. [...] É a força, é o ponto de partida para que a onda de esperança que a gente viu aqui não fique só aqui. Que seja exemplo e inspiração para milhões de pessoas lutarem por um país mais justo, democrático e diverso", afirmou Boulos em seu discurso.
"Olhando para a história e para o futuro, não tenho dúvida alguma de que, apesar de a gente não ter ganho essa eleição, a gente saiu vitorioso. É o início de um ciclo que se anuncia", completou. No discurso, Boulos agradeceu ainda todos os partidos e nomes que o apoiaram, citando o ex-presidente Lula (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o governador Flávio Dino (PC do B). "Nós vamos seguir lutando por uma sociedade onde ninguém more na rua, onde ninguém vire o lixo para poder comer. Uma sociedade onde ninguém seja morto pela cor da sua pele, onde as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, onde todas as formas de amor sejam respeitadas", disse. Em uma aparição anterior na sacada de sua casa, perto das 19h30, ele agradeceu aos apoiadores que estavam no local e ressaltou sua vontade de atuar por "um país sem autoritarismo, que combata o atraso". Alguns militantes choraram. Ele falou brevemente, ao lado da mulher, Natalia Szermeta, também ativista de moradia. O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) conseguiu aglutinar em torno de si uma frente de partidos de esquerda que também serve de ensaio para a eleição nacional daqui a dois anos.
Apesar da derrota, a campanha do PSOL acabou fortalecendo o campo progressista. Não sem crises, é claro. O resultado da eleição vai exigir uma reacomodação entre PT e PSOL na cidade. O período eleitoral foi marcado por pressão ao candidato do PT, Jilmar Tatto, sempre atrás de Boulos nas pesquisas, para que desistisse, mas ele só aderiu a Boulos no segundo turno. Para o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, Boulos "sai credenciado como o principal nome da esquerda em São Paulo". "É um feito extraordinário superar as dificuldades materiais, o preconceito, todas as adversidades e chegar a esse resultado. Estamos muito satisfeitos", afirmou. O dirigente disse ainda que a legenda fecha a eleição em São Paulo com um vitória política, apesar de ter perdido para o PSDB. "O PSOL saiu maior, mais legitimado politicamente." Ele afirmou que o fortalecimento do partido o torna "um ator decisivo na articulação das oposições para derrotar o retrocesso representado por Jair Bolsonaro em nível nacional". O presidente nacional do PSOL despista ao ser questionado sobre o futuro de Boulos. De acordo com Medeiros, ainda é prematuro discutir qualquer projeção sobre 2022. "Agora vamos nos debruçar sobre os ensinamentos dessa linda campanha para só depois pensar os próximos passos." Pessoas próximas ouvidas pela Folha também consideram um feito para a esquerda a ida de Boulos ao segundo turno e a concorrência que impôs ao PSDB do governador João Doria, virtual candidato à Presidência da República em 2022. O coordenador do MTST saiu do primeiro turno com 1 milhão de votos na capital paulista, mais do que os 617 mil alcançados no Brasil em 2018, quando concorreu ao Planalto.
O próprio Boulos, em sua fala, sinaliza que a conquista o habilita para o pleito de 2022 --seja o governo do estado seja a Presidência, a depender do cenário. Aliados comemoraram a performance ao lembrar que o PSDB, além de mais recursos e um tempo superior na propaganda eleitoral (17 segundos contra 3min29s no primeiro turno), controla as máquinas municipal e estadual. Enquanto Covas gastou mais de R$ 19 milhões na campanha, Boulos teve disponíveis cerca de R$ 6,4 milhões. A ideia de que "sai maior do que entrou", entoada por apoiadores de Boulos, evoca também uma analogia com o pleito de 2018, o primeiro em que se candidatou, depois de se filiar ao PSOL naquele ano. Desconhecido nacionalmente, ele foi engolido pela polarização entre o PT de Lula e Haddad e o fenômeno Bolsonaro (à época no PSL, hoje sem partido). Conseguiu relevo com participações em debates e entrevistas, além do apoio de artistas e intelectuais, condições que se repetiram em 2020.
Ele conseguiu desta vez um movimento inédito ao aglutinar alguns dos principais partidos de esquerda e centro-esquerda do país, algo almejado no plano nacional mas até então inconcreto. No segundo turno, o PSOL, que já contava na coligação com PCB e UP, obteve o apoio de PT, PC do B, PDT, PSB e Rede Sustentabilidade. Ao montar o que chamou de "frente democrática por São Paulo", o candidato procurou evitar que Lula ganhasse protagonismo e fortalecesse a estratégia dos tucanos de o associarem ao ex-presidente. Procurou apaziguar divisões no partido e atraiu para vice a deputada federal e ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL), um antídoto para as críticas sobre sua inexperiência. Mirou o que considera um esquema de disseminação de fake news a respeito dele e do movimento de luta por moradia e buscou desmentir a pecha de invasor explicando a atuação do MTST, grupo no qual milita há 20 anos e do qual é coordenador nacional. As ações de invasões em terrenos, bloqueios de avenidas e protestos que culminaram em atos de violência ajudaram a forjar a imagem de radical explorada por adversários.
Mas Boulos refuta a fama de intransigente, dizendo que o discurso conciliador da campanha municipal sempre o acompanhou, mas era desconhecido da maioria por causa de preconceitos. A candidatura do PSOL apresentou um plano de governo ancorado no combate à desigualdade social e na defesa de maior atenção à periferia e aos cidadãos que mais precisam. Por outro lado, tentou quebrar resistências no mercado financeiro e no empresariado, como revelou a Folha, a seu programa, que previa reduzir a presença da iniciativa privada no setor público e aumentar tributos sobre bancos. Os acenos reavivaram comparações com Lula, das quais Boulos buscou se desvencilhar, embora reafirme sua admiração e amizade.
A trajetória do líder do MTST na política, afinal, se cruza com Lula e o PT. Depois de estar à frente de protestos contra a Copa do Mundo de 2014, Boulos participou das manifestações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2015 e 2016. Esteve à frente de vigílias contra a prisão de Lula e recebeu agradecimento do ex-presidente. Ao ampliar sua voz nas ruas e atrair setores da juventude com um forte trabalho em redes sociais, Boulos eclipsou o adversário petista à prefeitura. O psolista impôs um desafio a Tatto já na pré-campanha, ao atrair o apoio de petistas históricos. Os dois mantiveram uma relação de cordialidade, sem troca de ataques. Com o crescimento de Boulos nas pesquisas, Lula, o partido e o próprio Tatto sofreram intensa pressão para abrir mão da candidatura em nome de uma união com o concorrente, mas as tentativas nunca prosperaram. Encerrado o primeiro turno, com 8,65% dos votos e a sexta colocação, pior resultado para a legenda em eleições para prefeito de São Paulo, o PT embarcou imediatamente na campanha do PSOL. Na ocasião, a narrativa difundida por petistas se assemelhou à usada agora para falar de Boulos: afirmaram que seu candidato poderia até ter sido derrotado, mas o campo da esquerda saiu vitorioso com a classificação do "adversário aliado" para o segundo turno. Perder, por essa ótica, nem sempre é perder.

ANÁLISE - *”Resultado em SP alça Guilherme Boulos a ator indispensável em costura da esquerda para 2022”*

*”Covas vence em 50 das 58 zonas eleitorais da cidade, e Boulos tem ganhos na periferia”* - Se Bruno Covas (PSDB) pintou o mapa eleitoral de São Paulo de azul no primeiro turno, teve de aceitar algumas derrotas em áreas periféricas do município na rodada final. Mesmo onde perdeu, contudo, o prefeito reeleito mostrou ser competitivo, sem sofrer nada que remotamente se pareça a uma humilhação em qualquer canto da cidade. O tucano venceu em 50 das 58 zonas eleitorais de São Paulo. Foi especialmente bem no centro expandido e obteve sua vitória mais folgada em Indianópolis, com 75,87% dos votos. Da mesma forma, venceu fácil em áreas como Jardim Paulista (73,36%) e Santo Amaro (72,2%). Mas também saiu-se vitorioso em regiões da periferia, como São Miguel Paulista (56,28%), Itaquera (55,4%) e Itaim Paulista (54,74%), todos na zona leste da cidade.
As áreas em que Guilherme Boulos (PSOL) triunfou são todas nas áreas mais afastadas da cidade, sendo 6 na zona sul e 2 na zona leste. Mas mesmo nessas, as vitórias sobre seu adversário foram medianas ou apertadas. Um exemplo eloquente é o Campo Limpo, onde o candidato psolista mora, em que venceu com 50,6%, quase empatado com Covas, que obteve 49,4%. Em Parelheiros, extremo da zona sul, a vitória foi ainda mais apertada, por 50,35% contra 49,65% do prefeito reeleito. O melhor resultado para Boulos foi obtido em Cidade Tiradentes, na zona leste, onde teve 56,42%. Percentual praticamente idêntico ao do Valo Velho, na zona sul, zona na qual conseguiu 56,41%. Em parte, o bom desempenho de Covas mostra o acerto da costura política de sua candidatura. Ele conseguiu arregimentar o apoio de líderes com eficiente máquina eleitoral nos extremos da cidade, como o vereador Milton Leite (DEM) e seu próprio vice, Ricardo Nunes (MDB).
Também contou a favor o engajamento da ex-prefeita Marta Suplicy, que ajuda a explicar o bom desempenho em áreas como Grajaú e Parelheiros, apesar de as duas terem dado mais votos a Boulos. Já o candidato do PSOL mostrou que conseguiu resolver em parte o que foi apontado como uma das grandes deficiências de sua campanha, a falta de penetração na periferia. Paradoxalmente, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), com atuação forte nas áreas afastadas, parecia ter mais facilidade de conseguir apoios entre as classes médias progressistas do centro expandido. O apoio do PT à sua candidatura no segundo turno foi importante para arregimentar parte desse voto de menor renda, mas não foi suficiente para a vitória. Boulos, apesar da derrota, seguiu sendo bem votado em algumas regiões centrais. Teve, por exemplo, 44,18% dos votos na Bela Vista e 39,72% na Santa Ifigênia. Mas a onda que se esperava em alguns bairros mais nobres não aconteceu, e ele teve derrotas contundentes em vários deles. Amealhou, por exemplo, 30,08% no Tatuapé e apenas 26,64% no Jardim Paulista.
O mapa eleitoral de São Paulo, no fim de uma eleição marcada por sucessivas reviravoltas, acabou parecido com o que já ocorreu em eleições anteriores: a esquerda vencendo na periferia, mas com dificuldade nas regiões centrais. Boulos conseguiu obter alguma entrada nas regiões de classe média e classe alta e recuperou-se nas áreas mais afastadas no segundo turno, mas faltou intensidade a esses dois movimentos para vencer a engrenagem eleitoral montada para a reeleição de Covas.

ANÁLISE - *”Bruno Covas avança mais em áreas ricas das zonas leste e norte da capital paulista”*
*”Menor no Brasil, PSDB de Doria amplia domínio em São Paulo”*
*”Dário Saadi (Republicanos) é eleito prefeito de Campinas”*
*”Rodrigo Manga (Republicanos) confirma favoritismo e é eleito em Sorocaba”*
*”Ex-prefeito, Alexandre Ferreira volta ao cargo após quatro anos em Franca (SP)”*

*”Encolhido, PT volta a governar na região do ABCD Paulista”* - Com duas vitórias neste domingo (29), o PT voltou à região do ABCD Paulista. O ex-prefeito José de Filippi, 63, foi eleito para aquele que será seu quarto mandato em Diadema. Em Mauá, o vereador Marcelo Oliveira (PT), 48, derrotou o candidato à reeleição Atila Jacomussi (PSB). Com os resultados, o partido consegue um pequeno avanço em relação 2016, quando conseguiu eleger apenas um prefeito na região metropolitana de São Paulo —em Franco da Rocha—, mas nenhum na região do ABCD, seu berço político. Em 2008, durante o segundo mandato de Lula na Presidência, o partido teve o seu melhor resultado na Grande São Paulo, com 11 prefeitos eleitos. Sem contar a capital paulista, desde 2000, 17 municípios da região já elegeram ao menos uma vez prefeitos da sigla. Em 2020, Filippi liderou as pesquisas e conseguiu quase 46% dos votos no primeiro turno realizado no dia 15, o melhor desempenho do PT na Grande São Paulo naquela etapa do pleito, contra 15% de Taka, que também disputou a prefeitura da cidade em 2016. Com população estimada em cerca de 427 mil habitantes, Diadema tem a segunda maior densidade demográfica do país, atrás apenas de Taboão da Serra.
O petista já governou Diadema por três mandatos, foi deputado estadual e federal e secretário de saúde na gestão de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo. A campanha de Filippi foi a mais cara da cidade, com mais de R$1,9 milhão. Taka, seu oponente, recebeu R$ 237 mil. O vencedor formou uma coligação de cinco partidos. Além do PT, recebeu o apoio do PDT, PSOL, e PCdoB no segundo turno. Como vice, ele escolheu a empresária e mulher negra, Patty Ferreira (PT). Em Mauá, o PT recebeu 50,74% dos votos contra 49,26% do atual mandatário da cidade, do PSB. A vice da chapa de Oliveira é Celma Dias (PT), casada com o ex-prefeito Oswaldo Dias. O resultado é uma virada em relação ao primeiro turno do dia 15, quando Atila —que teve o mandato marcado por duas prisões e suspeitas de corrupção— terminou como mais votado com 36% dos votos, contra quase 20% de Oliveira. Vereador por três mandatos consecutivos e presidente da Câmara de 2015 a 2016, Oliveira é ex-militante sindical e disputou pela primeira vez a prefeitura da cidade de 477 mil habitantes. Sua campanha foi a mais cara da cidade, com gastos de mais de R$ 1 milhão. No segundo turno, o PT também amargou uma derrota na Grande São Paulo. O ex-prefeito de Guarulhos Elói Pietá perdeu a eleição para o atual prefeito, Gustavo Henric Costa (PSD), conhecido como Guti, que teve 57,83%. Essa foi a segunda derrota consecutiva para o petista, que também se candidatou em 2016 e terminou em terceiro lugar no pleito.
Após vencer 12 disputas no primeiro turno na região da Grande São Paulo, o PSDB perdeu nas duas cidades que disputava neste segundo turno. Em Mogi das Cruzes, pela primeira vez neste século, não houve reeleição. O tucano Marcus Melo, 48, perdeu para o vereador Caio Cunha (Podemos), 42. Principal cidade do Alto Tietê, com 450 mil habitantes, desde 1997 a cidade é governada pelo mesmo grupo político, do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão. O PL, partido do político, compunha a chapa de Melo com o candidato à vice. Cunha foi um dos vereadores que esteve à frente dos protestos contra o aumento do IPTU na cidade que marcou a insatisfação com a gestão de Melo. Vereador por dois mandatos, ele recebeu 58,39% dos votos contra 41,61% de Melo. A vitória foi projetada pelo Datafolha. Como vice, ele escolheu a professora Priscila Yamagami (Podemos). Com R$ 369 mil para a campanha —Melo teve R$ 1,2 milhão—, Cunha conseguiu formar uma coligação com o Solidariedade e o PTB, e foi apoiada pelo PDT no segundo turno. Em Taboão da Serra, após ter governado a cidade por 16 anos, Fernando Fernandes não conseguiu eleger seu sucessor, Daniel Bogalho, que recebeu 49,37% dos votos e acabou derrotado pelo deputado estadual e empresário do setor imobiliário Aprigio da Silva (Podemos), preferido por 50,63% dos taboanenses. Aprigio havia sido derrotado por Fernandes nos dois pleitos em que disputou o cargo anteriormente na cidade.

*”Guti (PSD) é reeleito em Guarulhos, segunda cidade mais populosa de SP”*

*”Nas capitais, centro avança, e PT fica sem eleger prefeitos pela primeira vez desde 1985”* - A eleição municipal de 2020 exibiu a força de partidos de centro e centro-direita na maioria das capitais do país, com um segundo turno de poucas vitórias da esquerda e de candidatos bolsonaristas. O PT, que ainda concorria no Recife e em Vitória, foi derrotado em ambas as cidades. Pela primeira vez desde 1985, quando Maria Luiza Fontenele saiu vitoriosa em Fortaleza, o partido não elegeu prefeitos em capitais. Nesses dois centros, venceram respectivamente João Campos (PSB), na disputa contra Marília Arraes, e Delegado Pazolini (Republicanos), ante João Coser. Em Porto Alegre, Manuela d’Ávila (PC do B) perdeu para o ex-vice-prefeito Sebastião Melo (MDB). A vitória mais expressiva da esquerda aconteceu em Belém, com o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) vencendo o Delegado Federal Eguchi (Patriota), que fez uma campanha em defesa dos valores promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Também foi derrotado Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio, que havia recebido o apoio do presidente. A vitória de um candidato apoiado por Bolsonaro aconteceu em Rio Branco, onde o ex-prefeito de Acrelândia (AC) Tião Bocalom (PP) derrotou a prefeita Socorro Neri (PSB). Pazolini, que venceu em Vitória, também é alinhado ao discurso bolsonarista, mas passou a campanha tentando se descolar do rótulo.
A disputa deste domingo (29) em 18 capitais foi de poucas surpresas, com a virada de candidatos que estavam em segundo lugar e acabaram vencendo a eleição apenas em Manaus, com David Almeida (Avante), em Cuiabá, com a reeleição do atual prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), e em Maceió, com JHC (PSB). No saldo de primeiro e de segundo turno, o MDB levou cinco capitais e o DEM e PSDB, quatro cada um. Esse número representa uma derrota para o PSDB, que havia liderado a disputa nas capitais em 2016, com sete prefeitos eleitos. Os tucanos conseguiram, no entanto, reeleger Bruno Covas na maior cidade do país e mantêm hegemonia no estado de São Paulo. Além de Covas, o partido reelegeu Hildon Chaves em Porto Velho no segundo turno. Perdeu, contudo, em Teresina, cidade onde o partido vence as eleições municipais desde 1992. O DEM ainda pode empatar com o MDB na liderança das capitais caso Josiel, irmão do presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), vença em Macapá. Devido ao apagão, o primeiro turno na cidade acontecerá em 6 de dezembro. Seus principais concorrentes são Patrícia Ferraz (Podemos) e Dr. Furlan (Cidadania).
O partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), saltou de apenas um eleito em 2016, o prefeito de Salvador ACM Neto, para os atuais quatro nas capitais neste ano. Contribuiu para isso a filiação de prefeitos eleitos por outros partidos há quatro anos, como Rafael Greca em Curitiba (ex-PMN) e Gean Loureiro em Florianópolis (ex-MDB). Neste domingo, o DEM elegeu no Rio outro ex-emedebista, o ex-prefeito Eduardo Paes. O perfil dos políticos eleitos no segundo turno é de nomes tradicionais e que já têm experiência em mandatos eletivos. É o caso do ex-governador Cícero Lucena (PP) em João Pessoa e o deputado federal Eduardo Braide (Podemos) em São Luís. Em Goiânia, venceu o ex-governador de Goiás Maguito Vilela (MDB), apesar de estar intubado em um hospital de São Paulo devido à Covid-19. Partidos de centro-esquerda tiveram bons resultados no Nordeste. Pelo PDT, venceram José Sarto em Fortaleza, que é o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará apoiado pelo ex-governador Ciro Gomes (PDT), e o prefeito Edvaldo Nogueira em Aracaju. Além de João Campos no Recife, o deputado JHC foi eleito pelo PSB em Maceió.

*”Barroso ironiza críticas às urnas eletrônicas e enaltece eleição em meio à pandemia”*

*”Sem provas, Bolsonaro volta a questionar segurança da urna eletrônica”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a sugerir neste domingo (29), sem provas, que o voto eletrônico no país não é confiável. Ele votou na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, zona oeste do Rio, por volta das 10h40. Bolsonaro ficou por cerca de 15 minutos no interior do colégio e, na saída, falou cerca de meia hora com a imprensa. Ele defendeu o voto impresso e disse que tem conversado com lideranças do Congresso sobre o tema, acrescentando que essas mudanças dependem somente do Executivo e do Legislativo. Bolsonaro também disse que a apuração dos votos tem que ser pública. “A minha eleição em 2018 só entendo que fui eleito porque tive muito, mas muito voto. Tinha reclamações que o cara queria votar no 17 e não conseguia. O que aconteceu em muitas sessões. Vão querer que eu prove. É sempre assim. O cara botava um pingo de cola na tecla 7, um tipo de adulteração”, afirmou, sem apresentar provas para a acusação de fraude. Ele também disse que pediu oficialmente a relação de todas as seções eleitorais e respectivas votações. Afirmou que, no caso de indício de irregularidades, em qualquer área, repassa a informação ao chefe da Polícia Federal. O presidente disse, ainda, que houve “muita fraude” nas eleições dos Estados Unidos, onde o voto é impresso. Questionado, afirmou que vai aguardar mais um pouco pra reconhecer a vitória do presidente eleito, o democrata Joe Biden. “Tenho minhas fontes [que dizem] que realmente teve muita fraude lá. Isso ninguém discute. Se foi suficiente para definir um ou outro, eu não sei.” Depois de comparar em pronunciamento oficial a Covid-19 com uma gripezinha, o presidente também voltou a afirmar que nunca fez essa comparação. Bolsonaro disse que a imprensa distorceu sua fala, e que afirmou, na verdade, que a Covid seria uma gripezinha para ele, e não para todos. “Falei que era para mim. Para mim, pelo meu passado atlético, pela vida que levo, não passará de uma gripezinha. Vocês deturparam, para variar."
Ainda sobre a pandemia, Bolsonaro afirmou que foi no meio do povo sem máscara e que é “um general na frente da batalha com o povo brasileiro”. Disse que o Brasil não vive uma segunda onda, e que o aumento de casos acontece pela circulação das pessoas que antes estavam isoladas em casa. “Se fechar tudo novamente não sei como podemos reagir. O auxílio não foi dinheiro que estava no cofre, foi endividamento. O Brasil aguenta outra dessa?”, disse. Bolsonaro também voltou a defender o uso da cloroquina, cuja eficácia já foi descartada por diversos estudos. “Quem critica apresente uma alternativa, é simples.” De máscara, o presidente chegou acompanhado por seguranças, conversou e tirou fotos com cerca de 20 apoiadores que o aguardavam no local de votação. O apoio de Bolsonaro ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) não foi o bastante para alavancar sua candidatura, conforme indicam as pesquisas eleitorais. Na véspera do segundo turno, segundo o Datafolha, Crivella tinha 32% dos votos válidos, contra 68% de seu adversário, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Neste domingo, Bolsonaro sugeriu que a relação com Paes, se eleito, será normal. "Você nunca encontrou alguém que não conseguiu falar comigo, que não foi atendido.

*”Abstenção pelo país bate 29,5% no 2º turno em meio à pandemia, maior índice já registrado”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Bolsonaro perdeu nas urnas e nas ideias”*
*”Governo minimiza derrota de aliados de Bolsonaro e reforça laços com centrão”*
*”Eduardo Paes (DEM) derrota Crivella e é eleito prefeito do Rio de Janeiro”*
ANÁLISE - *”Revés de Crivella é ápice de derrota bolsonarista em base eleitoral”*

*”João Campos (PSB) vence Marília Arraes no Recife e será prefeito mais novo de uma capital”*
*”José Sarto (PDT) bate Capitão Wagner e será prefeito de Fortaleza”*
*”Sedado após contrair Covid-19, Maguito Vilela (MDB) é eleito em Goiânia”*
*”Delegado Pazolini (Republicanos) derrota ex-prefeito e é eleito em Vitória (ES)”*

*”Sebastião Melo (MDB) derrota Manuela d'Ávila e é eleito prefeito de Porto Alegre”*
*”Edmilson Rodrigues, do PSOL, é eleito prefeito de Belém”*

*”Cinco partidos de centro-direita conquistam maioria das grandes cidades; PT fica sem -capitais”* - Cinco partidos de centro-direita conquistaram o maior número das grandes prefeituras do país, no computo geral da campanha municipal encerrada com o segundo turno, neste domingo (29). Apesar de ter perdido cerca de 40% das cidades governadas em comparação com as eleições de 2016, o que equivale a uma redução de 32% da população governada, PSDB de João Dória manteve São Paulo, a maior cidade do país, com a reeleição de Bruno Covas, e continua com o maior número de prefeituras nos 94 grandes municípios do país, aqueles com mais de 200 mil eleitores. Apesar de manter o domínio sobre São Paulo, os tucanos irão governar agora uma população de cerca de 20 milhões de pessoas, contra 30 milhões que governariam caso repetisse o resultado de quatro anos atrás. Outros partidos que saem com resultados expressivos nos grandes centros urbanos são MDB, DEM, PSD e Podemos. Essas siglas não integram o chamado "centrão" no Congresso —o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab age alinhado em alguns momentos, em outros, não— e devem disputar com esse grupo o comando da Câmara dos Deputados, eleição que será realizada em fevereiro. O MDB foi o partido com mais eleitos nas grandes cidades do pais no segundo turno, dez, e teve um leve crescimento no conjunto dessas cidades, em comparação com quatro anos atrás.
Já o trio DEM, PSD e Podemos vem logo abaixo, com crescimento expressivo. Partido dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), o DEM conquistou dez grandes cidades ao todo, entre elas o Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, um crescimento de 100% em relação a 2016. Com a vitória no Rio, a população governada pelo partido subirá quase 200%. O PSD (10) e o Podemos (7) também tiveram um fortalecimento relevante em relação a quatro anos atrás. Em 2016, o partido de Kassab havia eleito quatro prefeitos nos grandes centros urbanos. O Podemos, só um —Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, pelo PHS, sigla que se fundiu depois ao Podemos. Já a esquerda teve vitórias e derrotas e deve assistir a um rearranjo no grupo, com perda de prevalência do PT. Partido que esteve no topo do ranking de prefeitos eleitos nas grandes cidades de 2000 a 2012, o PT despencou em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, quando conseguiu emplacar apenas um prefeito de capital, Marcos Alexandre, em Rio Branco (AC). Agora, o péssimo desempenho se atenuou timidamente, fruto da estratégia da legenda de priorizar os grandes centros, mas, mesmo assim, o resultado ficou bem distante dos anos em que controlava o governo federal e dos prognósticos traçados pela sigla. O partido não elegeu ninguém nas grandes cidades, no primeiro turno e não conseguiu levar nem Recife nem Vitória, suas principais apostas deste domingo. A disputadíssima eleição na capital Pernambucana, com troca de ofensas de lado a lado, deve contribuir ainda para o afastamento de PSB e PT.
Nos 15 segundos turnos que disputou, o PT venceu quatro –Contagem e Juiz de Fora, em Minas Gerais, Diadema e Mauá, em São Paulo. Nas duas principais cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, seus candidatos ficaram na sexta e quarta posições, respectivamente. Apesar de não ter vencido em nenhuma capital, a sigla de Luiz Inácio Lula da Silva terá um acréscimo de cerca de 400% na população governada com a eleição nas quatro grandes cidades do interior de Minas e São Paulo. O PSB também perdeu peso, apesar da vitória de João Campos no Recife. O partido tinha saído como um dos grandes vitoriosos das eleições municipais de 2016, com a conquista de sete grandes cidades. Agora, venceu em 4. O PC do B do governador Flavio Dino (Maranhão) sofreu uma derrota ao perder em São Luís e ao não conseguir eleger Manuela D'Ávila em Porto Alegre. O vitorioso na esquerda é o PSOL, que não havia eleito nenhum prefeito em uma grande cidade, em 2016, e agora conseguiu emplacar Edmílson Rodrigues em Belém, além da ida de Guilherme Boulos para o segundo turno em São Paulo.
Os partidos do "centrão", hoje sustentáculo político do governo Bolsonaro, tiveram desempenho díspares. O PP de Arthur Lira (AL), pré-candidato ao comando da Câmara dos Deputados, deu um salto em relação a 2016, conquistando sete grandes prefeituras, entre eles João Pessoa e Rio Branco, e aumentando em cerca de 200% a população governada.​ Já PL caiu de 4 para 2 grandes prefeituras e o PTB de 2 para zero. O Republicanos de Celso Russomanno, que não conseguiu ir para o segundo turno em São Paulo, subiu de duas grandes cidades comandadas em 2016 para três agora. Mas sofreu um baque na população governada com a derrota de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Embora partidos e políticos ressaltem não verem relação direta entre as eleições municipais e a disputa presidencial de 2022, é certo que vitoriosos e derrotados desse domingo irão levar em conta os resultados para a disputa daqui a dois anos.
Bolsonaro está alinhado ao centrão e apoia a tentativa de Lira de comandar a Câmara, passo considerado importante para o alinhamento político com vistas à disputa de 2022. Os partidos de esquerda tendem a se aliar a DEM, PSDB e MDB para derrotar Bolsonaro na eleição para o comando do Congresso. As 94 maiores cidades do país que concluíram a eleição neste domingo —em decorrência do apagão, Macapá terá o primeiro turno no dia 6 e, se for necessário, o segundo no dia 20— englobam as capitais dos estados, exceto Palmas, e outras 69 cidades com mais de 200 mil eleitores. Trinta e sete das 94 cidades já haviam decido as eleições no primeiro turno. O PSDB e o MDB haviam conseguido manter a hegemonia das eleições anteriores nesses grandes centros urbanos, mas dessa vez foram seguidos de perto por PSD, DEM e PP, que ampliaram seu alcance. Das grandes cidades, três ainda dependem de confirmação dos tribunais, já que seus candidatos enfrentam problemas na Justiça —Washington Reis (MDB), em Duque de Caxias, Neto (DEM), em Volta Redonda, e Rubens Bomtempo (PSB), em Petrópolis, todas no Rio de Janeiro.

*”Apesar de cotas, situação de mulheres e negros fica praticamente estável nas grandes cidades”*

*”PSDB terá maior população governada pelo país, e poder fica mais pulverizado”* - Empurrado pela vitória em São Paulo, o PSDB se manterá como o partido que governa uma parcela maior da população nos municípios do país, embora tenha perdido o controle de importantes metrópoles nos estados. Terão prefeitos tucanos 34,1 milhões de pessoas país afora, ante 26,1 milhões do segundo partido com o maior nesse quesito, o MDB. De maneira geral, em relação há quatro anos, o poder político estará menos concentrado em poucos partidos. O recorte de população governada tem importância no jogo de forças partidário do país porque reflete as zonas de influência de cada agremiação, um ativo, por exemplo, na hora da montagem dos palanques nas eleições gerais de 2022. Também reflete o peso orçamentário sob a administração de cada legenda, fator relevante para a confecção de vitrines políticas ou na formação de novas lideranças de projeção nacional. Só na capital paulista, o PSDB governará 12,3 milhões de habitantes. O partido, porém, encolheu 35% no número de prefeitos eleitos em relação ao pleito de 2016 e vai sair de grandes prefeituras, como Porto Alegre, Manaus e Teresina. Mas permanece com hegemonia no estado de São Paulo, onde tem o governador há sete mandatos e ampliou agora a quantidade de prefeituras. Em outro estado onde tem o governador, o Rio Grande do Sul, venceu em três cidades no segundo turno: Santa Maria, Caxias do Sul e Pelotas.
Em 2016, impulsionado por uma onda de rejeição ao PT, os tucanos haviam atingido a maior marca de população governada neste século, com 49 milhões de pessoas. Ainda nesse campo político, o MDB, que continua como líder em prefeitos eleitos pelo país, embora com uma retração de cerca de 25% em relação a 2016, reverteu em partes um fenômeno ocorrido na eleição de 2018. Naquele ano, alvejado na onda de renovação nas eleições gerais, sofreu derrotas com antigos caciques, como Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO). Agora, ganhou importantes prefeituras com nomes que remetem à sua tradição política, como em Boa Vista, reduto de Jucá, em Cuiabá (MT), e principalmente em Goiânia, onde quem venceu foi Maguito Vilela, que tinha sido governador de Goiás mais de 20 anos atrás. O DEM, que passou por reveses nos tempos em que o PT detinha a Presidência da República, dobrou sua população governada, além de ter sido um dos partidos que mais aumentaram a quantidade de prefeitos eleitos em relação há quatro anos. A quantidade de eleitores é diretamente influenciada pela eleição de Eduardo Paes no Rio, segundo município mais populoso do país, com 6,7 milhões de habitantes. O partido também obteve reeleições em primeiro turno em 2 das 3 capitais sulistas —Curitiba e Florianópolis. O paranaense Rafael Greca e o catarinense Gean Loureiro, porém, têm pouco tempo de legenda —haviam vencido em 2016 respectivamente pelo PMN e MDB. O DEM pode estender seus redutos eleitorais caso vença em Macapá (AP), onde a eleição foi adiada por causa de um apagão no início do mês. Nessa cidade, o partido chegou a aparecer à frente em pesquisas, com o candidato Josiel Alcolumbre. Integrante do bloco parlamentar conhecido como centrão, o PP também foi um dos que mais avançaram em número de prefeitos eleitos: governará 16,6 milhões. Nas capitais, venceu em João Pessoa (PB) e em Rio Branco (AC), município que detinha a marca de eleger apenas prefeitos petistas desde 2004.
O PSD, também integrante do centrão, emplacou no primeiro turno a reeleição de Alexandre Kalil em Belo Horizonte e de Marquinhos Trad em Campo Grande (MS), e agora conseguiu renovar o mandato em Guarulhos, maior município que não é capital no país, com 1,4 milhão de habitantes. Também ganhou em Campos dos Goytacazes, no Rio, que voltará a ser governada pela família Garotinho. Depois de quatro mandatos do casal Anthony e Rosinha, o vitorioso foi o filho, Wladimir Matheus de Oliveira, 35, atualmente deputado federal. Mas a candidatura ainda está sub júdice. No espectro político mais à esquerda, o PDT permanece no ranking de população governada à frente do PT, que agora novamente sofreu retração na quantidade de prefeitos eleitos. Pedetistas vão governar Aracaju (SE) e Fortaleza. O PT pela primeira vez desde a redemocratização não ganhou em capitais. Em 2016, já havia sofrido uma queda de 60% no número de prefeitos eleitos. Diferentemente da situação de quatro anos atrás, quando a campanha ocorreu em meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff e ao auge da Operação Lava Jato, desta vez o partido teve algum sucesso em regiões metropolitanas. Elegeu os prefeitos de Diadema e Mauá (ambas na Grande São Paulo) e em Contagem (MG).
Destaque no campo da esquerda ao passar para o segundo turno em São Paulo, o PSOL elegeu pela segunda vez em sua história um prefeito em capital, com Edmilson Rodrigues, em Belém. A população governada por psolistas passará, portanto, a 1,5 milhão. Já o partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente em 2018, o PSL terá em Ipatinga (MG) a sua principal cidade. O partido ainda concorre em Macapá. Outro partido que se destacou em 2018, o Novo, elegeu pela primeira vez um prefeito no país. Foi no interior de Santa Catarina, um dos estados mais identificados com o bolsonarismo dois anos atrás. Empresário do setor farmacêutico e novato na política, Adriano Silva, 42, foi eleito em Joinville, cidade mais populosa do estado, com quase 600 mil moradores. O Novo, que ficou em quinto lugar na eleição presidencial de 2018, já governa Minas Gerais. O Republicanos perdeu a Prefeitura do Rio, com a derrota de Marcelo Crivella, mas aumentou a quantidade de prefeitos eleitos em relação a 2016 e mostrou força no interior de São Paulo, com vitórias em Campinas e Sorocaba. O partido é ligado à Igreja Universal e abriga dois dos filhos do presidente Bolsonaro. O Podemos, sucessor do nanico PTN e encorpado por adesão nos últimos anos, governará uma população maior do que a do PT. No segundo turno, por exemplo, venceu em Blumenau (SC).

VOTO A VOTO - *”Triunfos de PSD, DEM e PP redesenham mapa eleitoral do país à direita”*
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TABATA AMARAL - *”A urgência da luta antirracista”*
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MÔNICA BERGAMO - *”Resistência maior a medidas contra a disseminação da Covid-19 já preocupa governadores”*: A necessidade de novas medidas contra a disseminação da Covid-19 já preocupa governadores, que anteveem uma resistência maior a elas do que na primeira onda da doença. Passadas as eleições, o assunto volta à ordem do dia. Lideranças ouvidas pela coluna acreditam em uma resistência muito maior e numa militância mais ativa, por parte de empresários, contra iniciativas que talvez precisem ser anunciadas.

MÔNICA BERGAMO - *”Ex-candidata questiona PT sobre comprometimento com renovação em 2024”*: A candidata a vereadora derrotada Luna Brandão (PT), que concorreu na capital paulista, abriu uma consulta junto ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores questionando um ponto do estatuto da legenda que limita seus filiados a terem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo. Brandão, que recebeu 17.296 votos, cita a necessidade de "uma grande renovação da bancada, que não ocorreu no pleito deste ano". Ela questiona se vereadores agora eleitos para seu terceiro mandato consecutivo desde que a norma foi baixada pelo partido, em 2012, serão orientados a abrir mão da disputa já em 2024. Procurado, o PT não respondeu até a conclusão desta edição.

MÔNICA BERGAMO - *”Deputada quer CPI para investigar denúncias de crimes sexuais no Cafe de la Musique”*
MÔNICA BERGAMO - *”Atriz Angelita Feijó será estagiária no escritório de advocacia do marido”*
MÔNICA BERGAMO – *”Carlos Jardim prepara documentário sobre trajetória de Maria Bethânia”*
MÔNICA BERGAMO - *”Xilogravuras de artista brasileiro expostas na sede da ONU serão apresentadas em mostra virtual”*
MÔNICA BERGAMO - *”Coletivo organiza ato em frente à Ancine para pedir liberação de recursos de fundo do audiovisual”*
MÔNICA BERGAMO - *”Tati Bernardi protagonizará série com perguntas provocativas sobre mulheres”*
MÔNICA BERGAMO - *”Chapa apoiada por Antonio Claudio Mariz e Miguel Reale Júnior promete mulher na presidência da AASP”*

CAPA – Manchete principal: *”Paes e Covas vencem, celebram a política e refutam o radicalismo”*

*”Vitória e aceno ao diálogo – Paes e Covas são eleitos com discurso alinhado contra o radicalismo”*
*”O mais jovem – Aos 27 anos, João Campos se elege no Recife”*
*”Marília não ligou para parabenizar e promete oposição ao primo”*

*”Porto Alegre – Melo, do MDB, vence Manuela D’Ávila”*

*”Candidato de Ciro Gomes, José Sarto vence na capital cearense”*
ENTREVISTA: EDUARDO PAES, prefeito eleito do Rio - *”Vamos buscar 450 mil testes do Ministério da Saúde”*
*”Preferência absoluta – Paes vence Crivella em todas as zonas; maior abstenção foi em Copacabana”*
*”Futuro governo ganha forma – Paes estuda trazer nomes de sua gestão anterior”*
*”Após derrota, Crivella fala em ‘transição da paz’”*

*”Reeleição tucana – Para Covas, ‘São Paulo disse sim à moderação e à ciência”*
*”Cacife eleitoral – Boulos emerge com novo papel para 2022”*
*”Em Belém – PSOL derrota bolsonarista”*
*”Entubado com Covid, Maguito Vilela é eleito em Goiânia”*

*”Apoio sem resultado – Só um dos escolhidos por Bolsonaro nas capitais é eleito prefeito”* - O embarque do presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral, com vídeos em defesa de candidaturas e uma programação de lives no Facebook, não se traduziu em vitórias expressivas: apenas um dos 25 prefeitos eleitos em capitais contou com o apoio expresso do chefe do Poder Executivo. Em uma eleição marcada pela vitória da chamada política tradicional, o vencedor solitário, Tião Bocalom (PP), escolhido em Rio Branco, tem uma longa trajetória — comandou, por dois mandatos, a prefeitura de Acrelândia, no interior do estado, e perdeu três vezes disputas ao governo do Acre. Bolsonaro apoiou três outros candidatos no segundo turno que acabaram derrotados: Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio; Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza (CE); e Delegado Eguchi (Patriota), em Belém (PA). Na primeira etapa da eleição, a associação ao nome do presidente também não rendeu frutos a Celso Russomanno (Republicanos), que chegou a liderar a corrida em São Paulo, mas terminou em quarto lugar. Como O GLOBO mostrou na quinta-feira, a aprovação a Bolsonaro caiu ou oscilou para baixo em 23 das 26 capitais ao longo da campanha, segundo o Ibope — o instituto chegou a fazer levantamentos em Macapá, onde a eleição foi adiada em função da sequência de apagões de energia.
Vitórias de última hora
Nos três municípios onde o preferido de Bolsonaro foi derrotado no segundo turno, os vitoriosos têm, em comum, estrada no mundo político: Eduardo Paes (DEM) é ex-prefeito e vai para o terceiro mandato no Rio; José Sarto (PDT) deixará o mandato de deputado estadual — é o atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará — para assumir a prefeitura de Fortaleza; Edmilson Rodrigues (PSOL), hoje deputado federal, voltará a administrar Belém. Se nas capitais o desempenho de Bolsonaro foi fraco, dois apoios de última hora no segundo turno fizeram com que o presidente saísse da reta final da disputa com outras vitórias a comemorar: em Anápolis (GO) e São Gonçalo, na Região Metropolitana . Dos 13 prefeitos que buscaram a reeleição, seis já tinham vencido no primeiro turno, como Alexandre Kalil (PSD), em Belo Horizonte, e outros quatro conquistaram a vitória ontem: Bruno Covas (PSDB), em São Paulo; Edvaldo Nogueira (PDT), em Aracaju; Emanuel Pinheiro (MDB), em Cuiabá; e Hildon Chaves (PSDB), em Porto Velho. Nenhum dos 25 eleitos nas capitais era candidato pela primeira vez. São Paulo: 'É possível fazer política sem ódio', afirma Bruno Covas, em primeiro discurso como prefeito eleito de São Paulo O outsider que chegou mais perto da vitória foi Nilvan Ferreira (MDB), radialista, que perdeu em João Pessoa para o experiente Cícero Lucena (PSDB), que já foi prefeito e governador. Outro novato bem cotado, Alfredo Gaspar (MDB), que tinha o respaldo da família Calheiros, foi derrotado pelo deputado federal João Henrique Caldas (PSB).
A eleição consagrou personagens conhecidos nos cenários regionais. Assim como Cícero Lucena na capital paraibana, Maguito Vilela (MDB), em Goiânia, é outro prefeito eleito que já foi governador do estado. Diagnosticado com coronavírus durante a campanha, ele está internado em uma UTI em São Paulo e entubado desde o dia 15. O MDB, inclusive, foi o partido que conquistou mais capitais, cinco, seguido por DEM e PSDB, cada um com quatro — o PT, por sua vez, não vai administrar nenhuma. Já o novo prefeito de Vitória (ES), Delegado Pazolini (Republicanos) é um dos menos experientes. Ele está em seu primeiro mandato de deputado estadual e bateu o ex-prefeito João Coser (PT). Outro que tem pouco tempo de mandato é João Campos (PSB), que, aos 26 anos, venceu a prima Marília Arraes (PT) no Recife (PE). Entre as capitais, apenas Palmas será administrada por uma mulher —Cinthia Ribeiro (PSDB) foi eleita no primeiro turno. Levando-se em consideração o país todo, apenas sete das 53 mulheres que concorreram no segundo turno saíram vitoriosas, em um total de 658 cidades que serão comandadas por mulheres, ou 12% dos municípios do país.

*”Liderança mantida – PSDB continua governando a maior parcela da população”*
*”Pela 1ª vez, PT está fora de capitais – Esquerda tem seu pior resultado desde 1985”*
*”Estado pulverizado – 19 partidos estarão à frente de 92 prefeituras”*
*”Abstenção é recorde – Quase 30% dos eleitores não votaram”*

*”Urna eletrônica – Barroso defende sistema após críticas de Bolsonaro”*

*”Meio milhão – Em cinco anos, Brasil forma número recorde de professores à distância”* - O Brasil formou, entre 2015 e 2019, mais de meio milhão de educadores em cursos à distância, um recorde. No ano passado, pela primeira vez na História, houve mais pedagogos e professores terminando seus cursos na modalidade não-presencial do que fisicamente em salas de aulas. Nesses cinco anos, foram 1,2 milhão de educadores formados no país. Desses, 533 (42%) mil estudaram à distância. Já em 2019, dos 254 mil que completaram os cursos de pedagogia e licenciaturas, 133 mil (56%) tiveram as aulas de forma não-presencial.
— Essa seria uma ótima notícia, especialmente em tempos de pandemia, mas essa área é dominada por universidades privadas que, sem regulamentação necessária, têm oferecido cursos de baixíssima qualidade — afirmou Carlos Eduardo Bielschowsky, ex-Secretário de Educação a Distância do Ministério de Educação.
A educação superior brasileira é majoritariamente operada pelo setor privado, que possui cerca de 75% das matrículas no país. Já a formação de professores e pedagogos à distância é ainda mais concentrada em universidades particulares. Elas foram responsáveis por 90% dos 533 mil formandos dos últimos cinco anos. A formação à distância tem seus desafios. Vanessa dos Anjos, que cursa o 6º período de Pedagogia da Centro universitário Augusto Motta (Unisuam), está satisfeita com seu curso, mas diz que teve problemas de comunicação.
— Às vezes, o professor demora muito a dar a resposta da sua dúvida e fica uma coisa fria. Você e o computador. Mas isso tem melhorado com mais tutores — diz a morador de Realengo, no Rio.
Já Gabrielle Brito, de 26, aluna da Universidade Cruzeiro do Sul, diz que a educação à distância (EaD) ainda sofre com preconceito.
— Mas tenho certeza que a minha experiência a distância como aluna me faz ver melhor o que funciona e o que não funciona tão bem num momento como esse de ensino à distância — avalia. — E cada vez mais essa modalidade será usada. O ensino básico pode ter algumas aulas implantadas e desenvolvidas de uma forma remota que fique interessante.
Pandemia muda cenário
Em 2020, as tecnologias educacionais ganharam absoluto protagonismo com a pandemia. Impedidos pelo coronavírus de irem para a escola, 46 milhões de alunos brasileiros (da educação básica ao ensino superior) tiveram que migrar para atividades remotas.
— Os professores formados à distância saem da universidade com vivência em ambientes virtuais de aprendizagem. Se tivéssemos alguma dúvida do do quanto isso é importante, ela seria encerrada em março deste ano — diz Ronaldo Mota, diretor da Digital Pages e do Instituto de Profissionalização Digital (IPD). — Não tem o menor nexo formar educadores que não tenham uma forte bagagem nessas ferramentas de aprendizagem.
Essa experiência foi mais do que necessária durante a pandemia. para William Santos, de 24 anos, que se formou em Matemática, à distância, pelo Cederj. Ele mora na zona rural do Espírito Santo e precisava ajudar a família na lavoura.
— Eu e meu irmão fizemos faculdade assim. Ele agora está no doutorado e eu dou aulas na rede estadual do Espírito Santo — diz William, que vive em Mimoso do Sul. — A formação à distância me ajudou principalmente a compreender as dificuldades que meus alunos estão passando agora.
William conta que o curso EaD desenvolve uma autonomia que faz o aluno depender menos do professor e buscar novos materiais de estudo.
— Os meus alunos são adolescentes. Eles estão precisando aprender a estudar sozinhos em casa, mas não têm hábito de manter uma rotina de estudos, de buscar novos materiais — explica o professor. — Quando preparo uma atividade, já consigo pensar nas possíveis dificuldades que eles vão ter e preparo o material com isso na cabeça.
Para Ronaldo Mota, que também ocupou a chefia da secretaria nacional de Educação à Distância, a universidade brasileira (pública, privada, à distância e presencial) já percebeu que precisa melhorar a formação de professores. E, na avaliação dele, um dos passos fundamentais para isso tem sido um progressivo fim do preconceito contra tecnologias da educação.
— O professor tem que saber lidar de forma positiva, não inibida, com ambientes virtuais de aprendizagem. O educador tem que saber mais que do os procedimentos básicos.
Segundo Mota, o educador deve saber como usar ferramentas que o ajudem a fornecer um aprendizado que seja único para cada estudante.
— A inteligência artificial é capaz disso. Cada pessoa tem um DNA educacional. Uns aprendem melhor com vídeos, outros com áudio, outros com gabaritos comentados. As plataformas de aprendizagem permitem que o educador dê conta de uma massa enorme de alunos com uma eficácia impossível anos atrás — diz Mota. — É deixar para trás nosso passado de educar bem quando tínhamos poucos alunos e educar mal após a universalização de ensino.
Novas regras
No fim de 2019, contra a pressão das universidades privadas, o Conselho Nacional de Educação (CNE) determinou na Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica que a formação de professores à distância deveria ter pelo menos 2.400 horas remotas e outras 800 presenciais.
— A base tem um conjunto de habilidades que a universidade tem que desenvolver no aluno que se tornará professor e define que o Inep tem até o fim de 2021 para iniciar um processo de avaliação de formação docente — explica Mozart Ramos, membro do CNE.
No Chile, país da América Latina de melhor desempenho no Pisa, a formação inicial docente é exclusivamente presencial, assim como no México. Austrália, Canadá e EUA, que têm dimensões territoriais semelhantes ao Brasil, permitem a formação docente à distância. Em nenhum deles, porém, há a predominância da EaD. Segundo o Todos Pela Educação, a Austrália é quem tem o maior percentual de matrículas à distância nos cursos de formação de professores e é de apenas 25% das matrículas. Cláudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial, ressalta:
— As 800 horas presenciais são um avanço. Se forem bem trabalhadas, é um desafio enorme e até dá para formar bem. O problema é que boa parte dos cursos não são de qualidade.

 

CAPA – Manchete principal: *”’Restam poucos dias para o negacionismo’”*
+++ A frase dita por Bruno Covas aparece no alto da capa acima da foto do prefeito reeleito com o punho direito erguido

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Os múltiplos desafios do prefeito”*: A reeleição do prefeito Bruno Covas em São Paulo significa que os paulistanos estão razoavelmente satisfeitos com sua administração, ainda mais considerando as circunstâncias excepcionais criadas pela pandemia de covid-19. Confirmado pelas urnas, Bruno Covas terá pela frente o imenso desafio de não somente lidar com a possibilidade de uma nova onda de contaminações, mas principalmente de proporcionar as condições para que a cidade se recupere desse imenso baque. O Estado mostrou, em sua edição de ontem, uma lista com os dez principais problemas com os quais o prefeito Bruno Covas terá que lidar. Chama a atenção o fato de que vários deles são recorrentes há muitos anos – ou seja, já está mais do que na hora de superá-los. Não há uma hierarquia dos temas, mas é inevitável colocar entre os mais importantes o sistema de saúde no Município, que está sob forte tensão em razão da pandemia. Há falta de médicos e de outros profissionais de saúde para trabalhar com um sistema cada vez mais demandado, o que provoca filas crônicas para exames, consultas e cirurgias. Também por causa da pandemia, a educação deve ser prioridade da próxima administração, sobretudo porque a crise sanitária escancarou a desigualdade nesse setor. A nota do Município no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é apenas a 10.ª melhor entre as capitais, o que não condiz com a riqueza da metrópole paulistana. Urge uma ação decisiva para que as escolas nos bairros mais pobres ofereçam melhores condições para reduzir o fosso socioeconômico na cidade.
A desigualdade econômico-social, contudo, é muito mais ampla e tem de receber atenção redobrada do poder público, como mostra, aliás, a boa votação recebida pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL), cuja campanha foi centrada nesse tema. O Mapa da Desigualdade mostra, por exemplo, que somente 18,1% da população paulistana mora num raio de até 1 km de alguma estação de trem ou metrô, e a maior parte desses afortunados vive no centro. O transporte, a propósito, continua a ser um setor com problemas crônicos – atrasos, má qualidade do serviço e uma malha insuficiente – e, como mostrou o Estado, é subfinanciado e fortemente subsidiado. O modelo atual aumenta a remuneração das empresas prestadoras do serviço mesmo que este seja de má qualidade – a tarifa sobe enquanto os ônibus estão cada vez mais lotados. Outro problema urgente é o habitacional. A quantidade de moradores de rua aumentou significativamente, como pode atestar qualquer um que passe pela região central, como resultado direto da crise causada pela pandemia. Se por um lado é preciso atuar com firmeza para atender essa população, dando-lhe dignidade e proporcionando condições para que possa trabalhar e se sustentar, por outro lado é igualmente urgente enfrentar o déficit habitacional, que condena milhões de paulistanos a viver em favelas ou então muito longe da região onde trabalham.
Por fim, mas não menos importante, é preciso aumentar e melhorar a qualidade dos investimentos públicos em São Paulo. Há recorrente redução desses investimentos nos últimos anos, sob as mais diversas desculpas. Está na hora de aperfeiçoar não apenas a arrecadação, com criatividade e eficiência, mas principalmente a distribuição dos recursos, cujo controle atual é muito precário. A reeleição do prefeito Bruno Covas indica uma aposta na continuidade, sem aventuras orçamentárias nem mudanças radicais. O paulistano escolheu o caminho conhecido, pautado pela moderação e pela serenidade. Num país até recentemente marcado pela disputa extremista entre esquerda e direita, esse desfecho é um claro indicativo de que o tempo das aventuras passou. Os problemas são tantos e tão desafiadores que demandam administradores que conciliam os sonhos de uma cidade melhor com a noção dos limites impostos pela realidade. Que o prefeito Bruno Covas tenha sabedoria, nos próximos quatro anos, para estimular soluções criativas e inteligentes para os múltiplos desafios que acaba de receber. A pujança de São Paulo fará o resto.

*”Fux conduz no STF agenda de contraponto ao Planalto”* - À frente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o ministro Luiz Fux tem emplacado uma agenda “progressista” de contraponto à pauta conservadora do Palácio do Planalto. Contrariando a linha do antecessor, Dias Toffoli, que mostrou proximidade com Jair Bolsonaro, Fux tem mantido uma relação distante do presidente, sem trocas de afagos públicos – uma convivência protocolar e institucional. Em menos de três meses na chefia do Poder Judiciário, Fux já instituiu cotas para negros em estágios na Justiça, criou um observatório no CNJ para questões ligadas ao meio ambiente e costurou uma mudança no regimento do Supremo para evitar novas derrotas da Lava Jato em julgamentos. Os contrastes entre Fux e Bolsonaro ficaram explícitos na semana passada. Responsável por definir os casos que serão analisados pelos colegas nas sessões plenárias, o presidente da Corte colocou na pauta do STF um caso que discute se a injúria racial é uma espécie de racismo, crime imprescritível, inafiançável e sujeito a pena de reclusão. O julgamento foi agendado após a comoção provocada pela morte de João Alberto Freitas, homem negro assassinado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre na véspera do Dia da Consciência Negra. Bolsonaro, por outro lado, negou o problema do racismo no País.
O tema também ganhou tratamento prioritário de Fux no CNJ, órgão responsável não apenas por investigar juízes, mas também por desenvolver políticas que melhorem o funcionamento da Justiça. Uma das primeiras medidas aprovadas pelo conselho, sob o comando de Fux, foi a reserva de ao menos 30% das vagas de estágio na Justiça para negros. Já o presidente disse reiteradas vezes ser contrário a ações afirmativas nesse sentido. “Nossa gestão baseia-se em cinco eixos: a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente, a garantia da segurança jurídica para a otimização da economia, o combate à corrupção, o acesso à justiça digital e o fortalecimento da vocação constitucional do STF”, disse Fux ao Estadão. “Todos esses eixos estão alinhados com a Constituição Federal e suas aspirações de institucionalidade, espírito republicano e democracia.” Interlocutores de Fux e analistas ouvidos pela reportagem avaliam que a agenda do ministro do STF não é uma resposta direta a Bolsonaro nem uma tentativa de fazer oposição ao Planalto, mas expõe que “os princípios e as prioridades” de cada um são diferentes. “Não é de se esperar outra coisa de um presidente da Suprema Corte que não seja a defesa da Constituição. Vemos um Executivo que ataca constantemente a Constituição, e um Supremo que a defende”, avalia o professor de Direito Constitucional da FGV, Roberto Dias.
Novo ministro. O chefe do Executivo deixou o presidente do STF de fora das articulações que levaram à escolha de Nunes Marques para uma cadeira na Corte, na vaga de Celso de Mello, que se aposentou. As pontes de Bolsonaro no tribunal são com os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, que chancelaram a indicação. Durante os dois anos em que presidiu o tribunal, a postura de Toffoli foi vista internamente por colegas como a de uma espécie de “consultor jurídico” do governo, dando aval, por exemplo, à sanção da criação do “juiz de garantias”, polêmica medida prevista no pacote anticrime – e rechaçada pelo então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. “(Na gestão Toffoli) Houve uma mistura de papéis absolutamente não saudável do ponto de vista democrático, republicano. O que mostra que há uma certa reversão dessa atuação quando a gente fala na presidência do ministro Fux”, opina Dias.
Mudança. A escolha de Nunes Marques mudou o perfil da Segunda Turma do STF, que passou a ter maioria “garantista” (mais propensa a ficar do lado dos réus) em julgamentos. Para evitar novas derrotas da Lava Jato, Fux articulou a retirada de inquéritos e ações penais da operação na 2.ª Turma, levando esses casos para o plenário, onde é apreciado pelos 11 integrantes da Corte. “Todas as ações penais e todos os inquéritos passarão pela responsabilidade do plenário porque o STF tem o dever de restaurar a imagem do País”, discursou Fux na abertura do 14.º Encontro Nacional do Poder Judiciário. A agenda ambiental é outro ponto de contraposição entre Supremo e Planalto. Enquanto o governo federal tem postura de confronto com a comunidade internacional, ONGS e ambientalistas no que diz respeito ao combate ao desmatamento na Amazônia, Fux criou um Observatório do Meio Ambiente no âmbito do CNJ. “A preservação ambiental propulsiona o Brasil no mercado internacional, é um elemento primordial na realização de investimentos no País, necessários para a retomada da economia, em especial no cenário pós-pandemia”, disse Fux. Assim, é essencial que o debate sobre a sustentabilidade seja transversal na elaboração e implementação de nossas políticas públicas, sejam do Judiciário, sejam dos demais poderes nos três níveis da federação.”

*”Brasil ensaia diálogo com Argentina ao ver Fernández mais distante de Cristina”* - Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da Argentina, Alberto Fernández, participarão de uma videoconferência na manhã desta segunda-feira, 30. Será a primeira vez que os dois terão um encontro, mesmo que virtual, desde a eleição do argentino, em outubro do ano passado. O gesto tem sido considerado por diplomatas brasileiros como um primeiro passo para a reaproximação entre os dois países, tradicionais parceiros comerciais, após Bolsonaro manter uma relação conflituosa com o vizinho. Candidato ligado ao “kirchnerismo”, Fernández visitou o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva em plena campanha pela Casa Rosada. O episódio foi considerado inaceitável por Bolsonaro, que desde então acirrou as críticas ao argentino. O brasileiro chegou a lamentar o resultado da eleição e se recusou a cumprimentar o colega. Desde então, não houve contatos oficiais. De acordo com diplomatas ouvidos pelo Estadão, no entanto, sinais de afastamento entre Fernández e sua vicepresidente, Cristina Kirchner, abriram espaço para uma reaproximação neste momento. Com a pandemia e a consequente desaceleração econômica no país, que causou a maior saída de empresas multinacionais da Argentina desde a crise de 2002, Fernández passou a moderar seu discurso e tem se afastado da cartilha de Cristina, para tentar salvar a economia.
Segundo a assessoria de imprensa da presidência da Argentina, durante a reunião “Fernández e Bolsonaro buscarão continuar fortalecendo as múltiplas agendas comuns que compõem a relação bilateral em busca de uma maior integração”. O comunicado também afirma que “o diálogo é fruto do trabalho sustentado de coordenação política que os dois países vêm desenvolvendo nos últimos meses e que resultou no crescimento do comércio bilateral, a ponto de o Brasil mais uma vez se posicionar como o principal parceiro comercial da Argentina”. De acordo com fontes no governo argentino, a iniciativa de estabelecer a relação partiu da Casa Rosada. Oficialmente, o motivo da videoconferência é o 35.º aniversário do encontro dos ex-presidentes Raúl Alfonsín e José Sarney, em Foz de Iguaçu. A reunião ocorreu em 30 de novembro de 1985, e ficou marcada como o dia da amizade Argentino-brasileira. Mas o primeiro bate-papo virtual entre Bolsonaro e Fernández significa mais do que isso. Tanto Bolsonaro quanto Fernández estarão em suas residências oficiais, Palácio da Alvorada e o de Olivos, respectivamente, durante a videoconferência, prevista para as 11h30. No ano passado, essa comemoração não foi realizada com participação dos presidentes. Na avaliação de diplomatas brasileiros, o que virá daqui para a frente dependerá de como for a conversa amanhã. Um deles lembrou que a relação entre os dois países sempre foi de idas e vindas, “dramática, como um tango”.
Tentativas. A relação entre Bolsonaro e Fernández começou com troca de farpas e críticas de ambos os lados. Em fevereiro, o novo embaixador da Argentina no Brasil, o empresário e ex-candidato a presidente Daniel Scioli, tentou contornar a situação. Em entrevista ao Estadão, Scioli disse que estava no Brasil para “facilitar, unir, procurar pontos de convergência e acordos que resultem em influência positiva na agenda comum que temos”. Scioli afirmou na ocasião que iria “prevalecer a responsabilidade e os interesses comuns”, e que era preciso “respeitar a vontade do povo”. O embaixador e o chanceler argentino, Felipe Solá, começaram a promover uma tentativa de reunião entre os dois presidentes. Um primeiro encontro entre os dois depois das trocas de farpas que começaram durante a campanha de Fernández, no ano passado, foi proposto por Bolsonaro a Felipe Solá, durante reunião em Brasília. A ideia de Bolsonaro era a de aproveitar que ambos estariam em Montevidéu para aposse do presidente eleito do Uruguai.
Fernández e Bolsonaro iriam se encontrar em março, em Montevidéu, no Uruguai, para a posse do presidente uruguaio Luis Lacalle Pou. Às vésperas do evento, Fernández adiou o encontro. “Lamentavelmente não poderei viajares te dia,éo discurso na aberturadas sessões ordinárias( do Congresso Nacional ). Senão posso viajar neste dia, irei no dia seguinte”, disse Fernández. Desde então, Bolsonaro eFernándezvol taram afalar frases de efeito um contra o outro. Em março, Fernández disse que “as declarações e ações de Bolso na rol evam apensar que o país pode entrar numa mesma espiral que a Itália”, dando a entender que aposturado presidente brasileiro em relaçãoà pandemia poderia levara muitas mortes. Em setembro, o presidente argentino disse que Bolsonaro e sua família estão “muito preocupados comigo e coma argentina ”. em outubro,Bol sonar o voltou a atacara Argentina .“existe um modelo econômico que conseguiu o impossível:argentinas em carne, venezuela sem petróleo, Cu basem açúcar ”, afirmou o presidente.

*”Policiais franceses depõem sobre o caso de negro espancado”*
*”EUA podem ter 60 mil mortes por covid após feriado”*

*”Bastidores da teimosia de Donald Trump”* - Os fatos eram indiscutíveis: o presidente Donald Trump havia perdido. Mas Trump se recusou a ver dessa forma. Isolado na Casa Branca e ruminando longe da vista do público após sua derrota nas eleições, furioso e às vezes delirante em uma torrente de conversas privadas, Trump estava, conforme relata um conselheiro próximo, como “George, o rei louco, resmungando, ‘Eu venci. Eu venci. Eu venci.’” Por mais alertas que os assessores de Trump possam ter dado sobre sua derrota para o presidente eleito Joe Biden, muitos deles o encorajaram a continuar lutando com processos judiciais. Eles ficaram “felizes em alimentar essa coceira”, disse um conselheiro ouvido pelo Washington Post. “Se ele pensa que ganhou, é como,‘ Shh. . . não vamos contar a ele.’” O Washington Post entrevistou 32 altos funcionários do governo Trump, assessores de campanha e outros assessores do presidente, bem como outras figuras-chave em sua batalha jurídica, muitos das quais falaram sob condição de anonimato. O relato dos 20 dias entre a eleição de 3 de novembro e o sinal verde da transição de Biden exemplificam algumas das marcas da vida na Casa Branca na era Trump: um governo paralisado pelo frágil estado emocional do presidente; conselheiros alimentando suas fábulas; brigas carregadas de palavrões entre facções de assessores e conselheiros; e uma perniciosa mistura de verdade e fantasia. O resultado foi um período pós-eleitoral sem precedentes na história dos EUA. Com sua negação do resultado, apesar de uma série de derrotas em tribunais pelo país, Trump colocou em risco a democracia dos EUA, ameaçou minar a segurança nacional e a saúde pública e enganou milhões de seus apoiadores ao fazê-los acreditar, talvez permanentemente, que Biden foi eleito de forma ilegítima.
As alegações de Trump e a hostilidade de sua retórica – e seu poder singular de persuadir e galvanizar seus seguidores – geraram uma pressão extraordinária sobre os funcionários eleitorais estaduais e locais para lidar com suas alegações de fraude e tomar medidas para bloquear a certificação dos resultados da eleição. Quando alguns deles se recusaram, tiveram de receber reforço de segurança para proteção contra as ameaças que estavam recebendo. “Foi como um rastilho de pólvora”, disse o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger. Apesar de ser um republicano que votou em Trump, Raffensperger disse que recusou as repetidas tentativas dos aliados de Trump de fazê-lo cruzar os limites éticos. “Eu não acho que tive escolha. Meu trabalho é seguir a lei. Não vamos ser empurrados para fora dela fazendo isso. Integridade ainda é importante.” Ao mesmo tempo, Trump abdicou amplamente das responsabilidades do seu trabalho, o principal deles gerenciar uma pandemia de coronavírus enquanto o número de infecções e mortes disparava em todo o país. Em uma reviravolta irônica, o conselheiro de Trump escolhido para coordenar a campanha legal e de comunicações pós-eleitoral, David Bossie, testou positivo para o vírus e foi afastado.
Reversão. Apenas em 23 de novembro Trump, relutantemente, concordou em iniciar uma transferência pacífica de poder, permitindo que o governo federal começasse oficialmente a transição de Biden – ainda assim, ele protestou dizendo que era o verdadeiro vencedor. Embora Trump tenha falhado em sua tentativa de roubar a eleição, sua batalha de semanas conseguiu minar a fé nas eleições e a legitimidade da vitória de Biden.
Nos dias após a votação, enquanto Trump lutava para escapar da realidade, o presidente praticamente ignorou sua equipe de campanha e os advogados que o orientaram durante o julgamento de impeachment, bem como o seu exército original de advogados. Em vez disso, Trump empoderou os seus leais escudeiros, que estavam dispostos a dizer o que ele queria ouvir: que teria uma vitória esmagadora se a eleição não tivesse sido fraudada e roubada. E então sacrificar suas reputações travando uma campanha nos tribunais e na mídia para convencer o público dessa ilusão. O esforço culminou em 19 de novembro, quando os advogados Rudolph Giuliani, Jenna Ellis e Sidney Powell falaram em nome do presidente na sede do Comitê Nacional Republicano para alegar uma “conspiração de longo alcance e coordenada para roubar a eleição” para Joe Biden. Não havia nenhuma evidência para apoiar qualquer uma dessas alegações. “Não apenas nossas instituições se mantiveram intactas, mas o esforço de um presidente para reverter o veredicto do povo na história americana realmente não levou a lugar nenhum”, disse William Galston, presidente do programa de estudos de governança do Brookings Institution. “Não é que ficou aquém. Não chegou a lugar nenhum. Isso, para mim, é notável.”
A transformação de Trump em um presidente que estimulou a descrença nos resultados começou na noite da eleição na Casa Branca, onde se juntou ao gerente de campanha Bill Stepien, aos conselheiros Jared Kushner e Jason Miller e a outros assessores importantes em uma “sala de guerra” improvisada para monitorar os retornos da eleição. Seis meses antes da eleição, Trump lançou as bases para acusar a eleição de ter sido “fraudada”, como costumava chamá-la, alertando sobre uma fraude generalizada. Em junho, durante uma reunião no Salão Oval com conselheiros políticos e consultores externos, Trump levantou a possibilidade de processar os governos estaduais pela forma como administram as eleições e disse que não podia acreditar que eles tinham permissão para mudar as regras. Todos os Estados, disse ele, devem seguir as mesmas regras. Assessores disseram que ele não iria querer que o governo federal comandasse as eleições. “Você realmente tem que entender a psicologia de Trump”, disse Anthony Scaramucci, um antigo aliado dele e ex-diretor de comunicações da Casa Branca que se afastou do presidente. “Os sintomas clássicos de alguém como ele é que tem de haver uma conspiração. Não são minhas deficiências, mas há uma cabala contra mim. É por isso que ele é afeito a essas teorias da conspiração”.

*”Pais vão à Justiça para pedir volta às aulas presenciais em SP ainda este ano”* - Um grupo de mães e pais vai entrar esta semana com uma ação popular contra a Prefeitura de São Paulo para pedir a abertura das escolas particulares e públicas para aulas regulares ainda este ano. Em uma semana, mais de 8 mil pessoas assinaram o manifesto que apoia o movimento. A capital só permite atividades extracurriculares para o ensino infantil e fundamental – o médio foi liberado para aulas no dia 3. Com a piora da pandemia no Estado, o grupo teme que o prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB) queira fechar as escolas novamente.
A mobilização surgiu na semana passada em um grupo de Whatsapp de pais da Saint Paul’s School, escola britânica de elite da capital. Eles então se organizaram, procuraram ajuda jurídica e começaram a rodar um abaixo-assinado para outras escolas de São Paulo. Entre as cerca de 20 autoras da ação há mães de Miguel de Cervantes, Porto Seguro, Chapel School, Avenues, Santa Cruz, Viva, Gracinha, Pentágono, Mobile, Dante, entre outros. Responsáveis de alunos de escolas estaduais também assinaram o manifesto. O grupo entende que há segurança para manter a educação funcionando, desde que respeitando os protocolos sanitários e o distanciamento. Eles se baseiam em pesquisas científicas que indicam que crianças transmitiriam menos o coronavírus e têm menos complicações. Grupos de pediatras da capital também divulgaram nota na semana passada com o mesmo pedido. “As mães inicialmente estavam muito bravas com as escolas e aí começaram a entender que há decisões governamentais por trás e que, como sociedade civil, podíamos lutar contra”, diz a administradora e uma das autoras da ação Lana Romani, de 43 anos, mãe de três filhos em escolas particulares da capital. “Sabemos que somos privilegiadas, que nossos filhos podem fazer aulas online com todo conforto, mas nosso pleito é por todas as escolas. Os impactos vão ser sentidos numa geração inteira.” Para ela, há uma “inversão de valores”, já que restaurantes, bares e festas estão sendo permitidos pela Prefeitura, enquanto a educação não é liberada para dar aulas e apenas para atividades extracurriculares, que não suficientes.
Os exemplos vindos da Europa nesta segunda onda ajudaram a fortalecer o argumento. Em outubro, quando países como França, Alemanha, Bélgica e Inglaterra voltaram a fazer lockdown e a fechar bares, restaurantes e academias, as escolas permaneceram abertas. Autoridades como o presidente francês Emmanuel Macron e a chanceler Angela Merkel defenderam publicamente a manutenção da educação, entendida como prioridade para o desenvolvimento das crianças e dos países. No Brasil, as escolas fecharam logo no começo da pandemia, no meio de março. Mas uma nova posição também tem ganhado força no País. Segundo apurou o Estadão, o governo de João Doria também estuda permitir que a educação continue funcionando mesmo com possíveis restrições que devem ser anunciadas esta semana com a piora nos índices da covid-19. No entanto, a Prefeitura pode ser mais restritiva, como já ocorreu na primeira liberação das escolas feita pelo Estado em setembro, não acompanhada pela capital. No Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) mudou as regras na semana passada e autorizou que as escolas permaneçam abertas mesmo durante a fase vermelha no Estado, considerada de alto risco de contágio. Até então, a educação só podia funcionar quando as regiões estivessem na etapa de risco médio. Em live, ele disse que “saúde não é apenas não contrair o vírus” e, sim, garantir o desenvolvimento cognitivo, emocional e nutricional das crianças. Cerca de 35% da população gaúcha está em áreas de bandeira vermelha.
Lockdown. Segundo o advogado do grupo, Daniel Neves, também pai assinante do manifesto, a ação vai se basear na quebra de isonomia e irrazoabilidade. “Tudo está liberado, esportes coletivos, festas, fica muito claro que são dois pesos e duas medidas”, diz. “Não estaríamos brigando se houvesse um lockdown, o que não dá para aceitar são todos os ramos de atividade funcionando plenamente e não as escolas”. Para a designer Patrícia Leme, de 47 anos, mãe de dois alunos do Dante, é preciso passar uma mensagem contundente para a sociedade de que “as crianças não podem estar no fim da fila”. Mesmo que o grupo não ganhe a ação agora, elas dizem que continuarão pedindo a abertura para 2021, o que inclui exigir que o poder público invista para preparar as escolas estaduais e municipais para cumprir os protocolos. “As mães precisam ficar mais confortáveis em lutar.” O texto do manifesto pede a “retomada gradual das atividades escolares regulares presenciais em todas as escolas do Município que se adequarem aos protocolos de higiene e distanciamento” e diz que cabe “às famílias a decisão sobre levar seus filhos para a escola.” Outra coordenadora do grupo, a advogada Isabel Quintella, de 41 anos, mãe de duas filhas, diz que ainda há falta de informação dos que afirmam que seus filhos só voltarão para a escola “depois da vacina”. “Muitas mães sequer sabem que as crianças não serão vacinadas tão cedo”, diz. “Hoje já sabemos como funciona um pouco melhor a pandemia, podemos nos informar melhor para decidir se mandamos ou não para a escola”, completa Patrícia.

*”Covas é reeleito em São Paulo; vitória reforça centro político”*
*”Tucano leva 50 zonas eleitorais, PSOL, 8”*
*”No discurso da reeleição, crítica ao negacionismo”*
*”Derrota ‘não é o fim de uma caminhada’, afirma Boulos”*

*”Na Câmara, tucano terá oposição fortalecida”*
*”Guti é reeleito em Guarulhos; Filippi vence em Diadema”*

*”PSDB segue líder, DEM cresce e PT estaciona”* - Prefeitos do PSDB devem governar cerca de 17% dos eleitores do País a partir de 2021. O partido se manteve no primeiro lugar nesse ranking, mas perdeu poder desde a eleição anterior, quando sua fatia do eleitorado chegou a 24%. Os tucanos também encolheram no número de prefeitos eleitos, de 805 há quatro anos para 533 agora. Mas mantiveram São Paulo, a prefeitura mais importante do País em população, orçamento e projeção política. Em número de prefeitos vitoriosos, o MDB ficou em primeiro lugar, com 803. Mas o partido segue em declínio, se o atual resultado for comparado com os de disputas anteriores. Em 2008, 2012 e 2016, a legenda, antigo PMDB, ganhou em 1.204, 1.038 e 1.048 cidades, respectivamente. No mesmo período, a cota de eleitores governados de 22%, 16% e 15%. Agora, caiu novamente, para 13%. Apesar do recuo, o MDB conseguiu eleger prefeitos em cinco capitais neste ano: Porto Alegre, Goiânia, Boa Vista, Cuiabá e Teresina.
Estagnado. O PT, principal rival dos tucanos até recentemente, encolheu no número de prefeitos eleitos, mas conquistou cidades maiores e, com isso, manteve a parcela de eleitores que vai governar: 3%, o mesmo resultado obtido em 2016. Petistas conquistaram quatro das cidades que fazem parte do “clube do segundo turno” – as que têm mais de 200 mil eleitores. Mas, ontem, foram derrotados em Vitória e Recife. Com isso, não governarão nenhuma capital. É a segunda eleição municipal consecutiva em que petistas apresentam fraco desempenho. Em 2012, o partido chegou a ficar em primeiro lugar no ranking de eleitorado governado por prefeituras, com pouco mais de 19%. Na eleição seguinte, a primeira após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a fatia do eleitorado governado por petistas teve uma redução de quase 85%. Conquistas. Três partidos de centro-direita tiveram avanços no tabuleiro político municipal: DEM, PSD e PP. Juntos, eles vão governar quase um terço dos eleitores brasileiros (32%). Em 2016, as prefeituras conquistadas pelos três englobavam apenas 17% do eleitorado. O maior crescimento foi registrado no DEM, partido que já se chamou PFL e que tem em suas raízes a Arena, agremiação de sustentação do regime militar. Em 2016, o DEM elegeu 277 prefeitos. Agora, saltou para 476. Em porcentagem de eleitores nos municípios governados, o aumento foi de 5,5% para quase 12%. No mapa das capitais, o DEM venceu no Rio de Janeiro e em Salvador e ainda reelegeu prefeitos nas capitais Curitiba e Florianópolis. Já PP e PSD ganharam em Belo Horizonte, Campo Grande, João Pessoa e Rio Branco. Finalista do segundo turno em São Paulo, o PSOL elegeu apenas cinco prefeitos neste ano, entre eles o de Belém. No total, o partido vai governar 0,7% dos eleitores brasileiros.
Modesto. O PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu, e que conquistou a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados em 2018, teve crescimento modesto nessa eleição. De 30 prefeitos em 2016, passou para 92 agora. Mas sua fatia no eleitorado nacional será de apenas 1,3%. Para o cientista político Cláudio Couto, professor da FGVSP, o bloco dos ganhadores nesta eleição é formado pelos “partidos de adesão”, que compõem o chamado Centrão, e o DEM, que ampliou em cerca de 70% o número de prefeituras. Já a fila dos maiores perdedores é puxada pelo presidente da República. “Bolsonaro não teve partido para disputar a eleição e perdeu a oportunidade de fortalecer uma estrutura que poderia ser útil para 2022”, afirmou. “O Centrão ninguém compra, só aluga. Não dá para imaginar que esses partidos darão a vida pelo governo.”
Para Couto, a esquerda também sofreu nestas eleições, principalmente o PT. “Ela diminuiu ainda mais do que em 2016, quando já tinha tomado um grande tombo. O PT foi praticamente expulso dos grandes centros, com exceção de algumas cidades. E ainda comprou brigas que podem ser caras no futuro, como contra o PSB, no Recife.” O cientista político da USP José Álvaro Moisés também aponta Bolsonaro como o principal derrotado nestas eleições. Mas faz a ressalva de que um de seus principais adversários – o governador de São Paulo, João Doria – também não saiu tão vitorioso assim com a reeleição de Bruno Covas na capital paulista, pois o prefeito adotou uma postura de distanciamento em relação ao colega de partido ao longo da campanha. Moisés destaca ainda que a esquerda tradicional, representada pelo PT, não conseguiu se recuperar nos municípios. “Para além disso, temos a emergência de uma nova esquerda, mais jovem e vigorosa e com um posicionamento diferente”, afirma ele, citando disputas de PSOL, PSB e PCDOB nas capitais. “O grande desafio é se ela será capaz de dialogar e compor uma frente com o setor moderado para derrotar Bolsonaro em 2022.”

*”Eleição na pandemia tem abstenção de 29,47%, maior taxa desde 1996”*
*”Melo diz que equilíbrio fiscal será prioridade”*
*”Paes obtém maior triunfo desde a redemocratização”*
*”Apoiado por Damares, delegado Pazolini leva em Vitória”*

*”Recife elege Campos; PT fica sem capitais”* - O deputado federal João Campos (PSB), que completou 27 anos na sexta-feira, foi eleito prefeito de Recife ontem, ao vencer uma acirrada disputa contra sua prima de segundo grau, a também deputada federal Marília Arraes (PT). Ele obteve 56,27% dos votos válidos, ante 43,73% recebidos por ela. O índice de abstenção foi de 21,26%, e 9,17% dos votos foram nulos e 3,48% em branco.
Com a derrota de Marília no Recife, e João Coser, em Vitória, o PT amargou o pior resultado em eleições municipais da sua história – o partido sempre elegeu prefeitos em capitais desde 1985, quando os chefes dos Executivos municipais passaram a ser escolhidos de forma direta. A sigla acreditava em uma recuperação nas eleições deste ano – em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, o partido tinha eleito apenas Marcus Alexandre, em Rio Branco. Em 2012, a legenda havia conquistado quatro capitais, inclusive São Paulo, que neste ano levou PSDB e PSOL ao segundo turno. No primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados, Campos agradeceu eleitores e aliados. “Se faz política olhando o futuro. A razão verdadeira de disputar essa eleição é que a gente pode fazer muito, sim, pela cidade do Recife. A gente tem que dormir um dia acreditando que o dia seguinte vai ser melhor. E vai ser melhor”, disse o prefeito eleito, em meio a citações de aliados, como a deputada federal Tabata Amaral (PDTSP) – sua namorada – o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). O prefeito eleito também lembrou do pai, o ex-governador Eduardo Campos, que morreu em um acidente de avião quando disputava a eleição presidencial, em 2014. “Não tem como vir aqui hoje, celebrar essa vitória, e não fazer homenagem, não lembrar daquele que é referência na minha vida na política, como pessoa, como cidadão, que é o meu pai, Eduardo Campos”, afirmou o prefeito eleito, que venceu sua segunda disputa eleitoral – a primeira foi há dois anos, quando conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados.
Ataques. O parentesco e a origem política comum – ambos são herdeiros políticos dos exgovernadores de Pernambuco Eduardo Campos e Miguel Arraes – não foram suficientes para tornar a campanha mais propositiva. A disputa na capital pernambucana tem relação direta com o equilíbrio de forças da esquerda para a eleição presidencial daqui dois anos. De um lado, Campos liderava a aliança PSB-PDT contra o PT, que contou com o apoio do PSOL. No segundo turno, Campos adotou um forte discurso antipetista, atitude diferente de 2018, quando apoiou Fernando Haddad ainda no primeiro turno da disputa presidencial e chegou a participar de agendas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de sua prisão. A estratégia de Campos tinha como objetivo atrair os cerca de 200 mil eleitores antipetistas que optaram por candidatos da direita. Já Marília atacou a inexperiência do rival. Segundo ela, se Campos chegasse à Prefeitura de Recife, ele seria um fantoche da mãe, Renata Campos – viúva de Eduardo Campos e aliada de Julio e Câmara. A petista chamou o primo de “frouxo” e sugeriu que ele estava se escondendo atrás de sua vice, Isabella de Roldão (PDT), para criticar propostas petistas. Ontem, ao agradecer a votação, Campos mudou o tom e, embora não tenha citado sua adversária, pregou união. “Vamos mostrar que se faz política se unindo; que se faz política olhando nos olhos, que se faz política enfrentando cada um dos desafios da cidade. A razão verdadeira de disputar a eleição é saber que a gente pode fazer muito ainda pela cidade do Recife”, afirmou, durante entrevista coletiva em um hotel no bairro do Pina, no Recife.
Derrota. Após a totalização das urnas, Marília criticou a campanha do seu rival, a quem acusou de espalhar fake news a seu respeito. “Temos a consciência tranquila de que fizemos uma campanha bonita, limpa, diferente do nosso adversário, que iniciou o segundo turno parecendo que era outro candidato, outra pessoa, com uma campanha baseada em agressões, fake news e argumentos fundamentalistas, inclusive que buscavam trazer a ilusão das pessoas sobre minha imagem, colocando a fé das pessoas no meio”, disse Marília.

*”Candidato de Ciro Gomes, Sarto vence em Fortaleza”*
*”Na UTI com covid, Maguito Vilela é eleito”*
*”Ex-prefeito do PSOL voltará a comandar Belém”*

*”Resultado em SP reforça ‘guinada’ de Dória ao centro”* - A vitória de Bruno Covas (PSDB) representa o cumprimento de uma das etapas no projeto presidencial para 2022 do governador João Doria (PSDB). Mas o resultado ascendeu o prefeito, voz moderada no partido, a um posto de liderança nacional, o que tornou mais aguda a necessidade de o governador modular o discurso em direção ao centro para manter-se rumo a Brasília. Doria indica migrar para um espaço que Covas já ocupa. Ao falar com jornalistas após votar, ontem, ele citou três vezes a palavra “democracia” e disse que a reeleição era “um resgate” do partido no plano nacional. Ao Estadão, na semana passada, defendeu diálogos com a “centroesquerda”. É um discurso diferente da oposição inegociável ao PT apresentado na eleição de 2018, quando ele defendia o slogan “Bolsodoria” e tentou uma aproximação de Jair Bolsonaro. Mas Covas, que já se apresenta como um político de centro, obteve o resultado de ontem com uma estratégia que deixou Doria de fora da propaganda eleitoral. Durante a campanha, o prefeito manteve a cordialidade com o adversário. Ele defendeu “a responsabilidade fiscal com justiça social” e, internamente, no PSDB, prestigiou tucanos que haviam perdido força após março de 2019, quando Bruno Araújo, candidato de Doria, foi eleito presidente da legenda. A eleição “tem sentido de uma vitória porque Doria é o governador e o Bruno Covas foi seu viceprefeito”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Mas Covas é um perfil que aponta para a recuperação da identidade social-democrata do partido e, nesse sentido, não se pode dizer que é uma vitória acachapante do João Doria.”
Hegemonia. O movimento ao centro é visto como vital para viabilizar uma candidatura hegemônica contra o bolsonarismo. Nesse sentido, o governador buscou diálogos com nomes como o governador do Maranhão (Flávio Dino, do PCDOB) e da Bahia (Rui Costa, do PT). Mas a própria candidatura já não é certa. “O quadro que estava de uma cor só ficou mais colorido”, disse Moisés, sobre a possibilidade de outros nomes surgirem. “O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, por exemplo, tem sido mencionado como alternativa. Só o fato de aparecerem alternativas indica que a coisa não está definida”, completa Moisés. A cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) ressalta que Doria terá também de renegociar os acordos com partidos aliados como DEM e MDB, que também saíram vitoriosos. “Poderia haver um racha aí se Doria não aceitar uma chapa que esteja de acordo com ele. Doria pode ser até um problema para o PSDB”, afirmou Maria, uma vez que o partido busca a volta à Presidência. Um sinal da viabilidade ou não de uma aliança de centro, avalia a professora, deve ser dado na eleição do Congresso, em que o Centrão bolsonarista disputará a presidência das casas.

*”Bolsonaro acumula novas derrotas no 2º turno das eleições”*

*”No País, 17% das cidades não terão vereadoras”* - Apesar de as candidaturas de pautas identitárias – em defesa de grupos LGBT, feministas, antirracistas ou de povos indígenas – avançarem, a falta de representatividade ainda é realidade em boa parte dos municípios brasileiros. Levantamento feito pelo Estadão mostra que quase uma em cada cinco cidades do País – ou 931 municípios (17% do total) – não elegeu nenhuma vereadora neste ano. O número de cidades é maior ainda do que o registrado em 2016, quando 1.292 câmaras municipais ficaram sem representatividade feminina. Segundo especialistas, a cota de 30% de candidatas ajudou a conquistar mais espaço, mas ainda falta investimento e apoio das siglas.
Em Cotia, Carolina Rubinato (PSOL), de 38 anos, bem que tentou quebrar a sequência de 32 anos sem eleger uma só mulher no município. Ela uniu forças com outras quatro para lançar o Mandato Coletivo Feminino. Mas, relata, esbarrou no machismo e na falta de investimento do partido. “Ganhamos R$ 1.425, que foram depositados uma semana antes da eleição. Não deu tempo nem de rodar papel. Nós mesmas bancamos a impressão do folheto, os cartões e as redes sociais”, disse Carolina, que é especialista em política empresarial e pública para mulheres. Ainda que com poucos recursos, ela foi a que teve maior votação entre as mulheres: ao todo, 1.052. O resultado de quatro décadas de um Legislativo composto só por homens é a falta de políticas para mulheres em áreas como saúde e educação, segundo Carolina. “Eles não têm o olhar da necessidade da mulher. Por isso, a paridade de gênero é importante: para que as políticas atinjam a todos.” Na Grande São Paulo, Cotia não é exceção: outras nove cidades também não tiveram mulheres eleitas, quase 30% de toda a região. Carapicuíba e Embu das Artes ficaram de fora do levantamento, pois o resultado da eleição ainda não foi validado pela Justiça Eleitoral.
Mesmo com as cotas, as candidaturas femininas tiveram crescimento tímido. Parte da explicação tem a ver com a formação da cúpula dos partidos, que por ser majoritariamente masculina e branca, prioriza candidatos homens, segundo a cientista social Beatriz Della Costa Pedreira, diretora e cofundadora do Instituto Update. “As pessoas eleitas refletem o sistema interno partidário, que não é democrático. As mulheres não conseguem vencer essas barreiras, porque elas não têm apoio, inclusive financeiro, dos partidos.” Sempre houve resistência por parte das legendas em cumprir a lei de cotas, que não é apenas incluir mulheres em condição de candidatura, mas com chances reais de serem eleitas, diz a cientista política Malu A. C. Gatto, professora da University College London. “Para que isso seja possível, elas não somente precisam estar na lista de concorrentes, mas ter acesso a recurso e a apoio partidário.” Nas últimas eleições, as siglas começaram a respeitar mais a lei em termos de proporção de candidaturas, diz Malu. Mas a maioria não tem passado dos 30% exigidos. “A cota se tornou um teto, em vez de um piso”, diz a especialista. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nenhum partido lançou mais mulheres do que homens nas eleições 2020. O que mais se aproximou da paridade foi a recémcriada Unidade Popular (UP), com 43,28% de candidatas. Em seguida, vem o PSTU (38,94%).
A sub-representação também afeta pretos e pardos, que são a maioria da população. Este ano, 766 municípios não elegeram vereadores pretos ou pardos. Mas, em comparação com 2016, houve uma conquista de 277 cidades. Campina Grande, na Paraíba, é uma delas. Lá, a assistente social Jô Oliveira (PCDOB), de 39 anos, será a primeira negra a ocupar uma cadeira na Câmara. Sua candidatura vinha sendo construída desde 2016, quando ficou como suplente. Em um município onde famílias tradicionais dominam a política, Jô fez uma campanha de poucos recursos, mas com mobilização social. Recebeu o fundo partidário e o recurso da cota racial do partido, só que nas duas últimas semanas. Em comparação com adversários, que arrecadaram quase R$ 200 mil, ela obteve R$ 13 mil. “Quem tem mais dinheiro tem mais tempo para estar na rua, mais pessoas para pedir votos, equipes de redes sociais. Os recursos são primordiais. Mas, o que eu não pude pagar, tive pessoas que ajudaram.” Da construção do programa de mandato até começar a pedir votos, Jô teve a ajuda de movimentos como o das mulheres e o da juventude. Isso a levou a conseguir 3.050 votos. “É uma conquista importante enfrentar essa estrutura. Conseguir um mandato marca um espaço. Mas ainda temos muito o que avançar.”
A cientista política Ana Claudia Farranha, professora de Direito da Universidade de Brasília (UNB), diz que é importante que espaços como a câmara municipal representem a diversidade do País. “Quanto mais a gente tiver o espelhamento da sociedade nas instâncias representativas, ela estará mais próxima da realidade da sociedade.” A redução da desigualdade vai ao encontro da determinação de um critério racial na divisão de recursos do Fundo Eleitoral. O TSE decidiu, em agosto, que a distribuição do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda eleitoral gratuita devem ser proporcionais ao número de candidatos negros do partido. Apesar de o plenário ter entendido que a medida deveria valer a partir de 2022, o Supremo Tribunal Federal antecipou a regra para este ano. A eleição mostra que candidaturas de pautas identitárias avançaram, mas ainda não são maioria. “Sabemos que 81,7% dos novatos são homens e 52,7%, brancos e brancas. Pretos e pretas são 6,58%”, diz Malu Gatto. Ela explica que, ao se analisar gênero e raça, as mulheres pretas continuam sendo minoria, com apenas 1,02% de eleitos. “Houve ganhos. Mas é um espaço que vem sendo conquistado lentamente e carregando com ele essas desigualdades sociodemográficas.”

*”Socorro da União supera em R$ 24 bi impacto da covid nas contas municipais”* - A grande maioria dos novos prefeitos eleitos nas eleições municipais vai herdar um caixa mais cheio no dia primeiro de janeiro de 2021. Durante a pandemia da covid-19, o repasse feito pelo governo federal aos municípios superou em R$ 24 bilhões o impacto da calamidade sobre as contas das prefeituras. O socorro compensou a perda de receitas e o que os prefeitos de fato gastaram no combate da doença. Essa gordura vai aumentar até o fim do ano porque a arrecadação está reagindo e a suspensão do pagamento das dívidas concedida no pacote de socorro aos Estados e municípios continuará até dezembro. Nos 29 municípios mais populosos, o caixa engordou R$ 16 bilhões de janeiro a agosto – um crescimento de 60% na comparação com mesmo período de 2019. Na cidade de São Paulo, o dinheiro disponível em caixa deu um salto de 50% no período, de R$ 13 bilhões para R$ 19,5 bilhões. Em São Luís, o crescimento foi de 398% e, em Recife, alcançou 204%. Na cidade de Uberlândia (MG), o dinheiro em caixa subiu 184% e em Ribeirão Preto (SP), 157%. É o que aponta radiografia feita pelo pesquisador do Insper, Marcos Mendes, nas finanças de 2.229 municípios (com dados disponíveis) que representam 40% dos 5.570 municípios do País. O grupo representa 77% da população brasileira e inclui as maiores cidades em termos fiscais. O saldo médio disponível no caixa de 1.960 prefeituras (que divulgam esse dado) subiu de 15% da receita corrente líquida para 21% em 2020. Apenas 13% dos municípios tiveram redução nos seus caixas como porcentual da receita.
Os dados coletados apontam melhora nos indicadores municipais de receita, despesa, rombos, saldo de caixa e dívida líquida. O único senão continua sendo despesa de pessoal, que permanece em nível elevado. “Os novos prefeitos precisam administrar esse caixa de forma cuidadosa para não quebrar a prefeitura no primeiro ano de governo”, alerta Mendes, especialista em contas públicas. Para ele, o governo federal deve ainda ter cuidado com propostas de ampliação de socorro aos municípios em 2021. “Se do lado municipal acumularam-se gorduras ao longo de 2020, no nível federal houve um insustentável aumento do déficit e da dívida pública, que já ameaça a estabilidade macroeconômica”, avalia. Segundo Mendes, o bom desempenho das finanças municipais também é explicado pela rápida recuperação econômica e seu impacto na arrecadação municipal e do ICMS, imposto estadual, mas que tem um quarto de suas receitas transferidas aos municípios. A queda na transferência de Fundo de Participação dos Municípios (FPM) foi de R$ 3,9 bilhões e do ICMS de R$ 1,6 bilhão. A perda total de receita – de R$ 5,5 bilhões – contrasta com a ajuda financeira do governo federal de R$ 43,1 bilhões. A ajuda desembolsada até agosto foi quase oito vezes maior que a efetiva perda de receita no período.

 

CAPA – Manchete principal: *”Centro não bolsonarista vence pleito”*

*”Com silêncio de Bolsonaro, vitória de Biden vira “tabu” no Planalto”* - Presidente só deve cumprimentar eleito nos EUA após a oficialização de sua vitória, em 14 de dezembro

*”ONG lança sistema que prevê qualidade da água”* - Objetivo é usar as projeções para subsidiar e pressionar governos e órgãos ambientais para criarem ou ampliarem políticas de preservação

*”Um país cada vez mais isolado”* - Com a derrota de Trump nas eleições americanas, o Brasil fica distante de todas as principais potências globais

*”Guedes ‘aparece’ para ativar agenda econômica”* - Ministro aumenta exposição pública como estratégia para “lembrar” Congresso de votações importantes

*”Após apagão no AP, Aneel defende revisar modelo de governança”* - Principais redes do país vão passar por pente-fino a partir desta semana, diz Pepitone

*”Com expansão fiscal, PIB deve crescer perto de 9% no 3º tri”*
*”Repique de inflação afeta atividade, aponta consultoria”* 
- Mercado de trabalho em baixa, queda da renda e elevação dos custos para empresas comprometem retomada da economia, sugere AC Lacerda

*”MG prevê aumento de 40% da pobreza com fim de auxílio”* - Governo do Estado vai deixar de pagar íntegra do 13º salário de servidores pelo terceiro ano seguido

*”Maior fatia dos orçamentos vai para PSDB, MDB, DEM e PSD”* - Com a reeleição do prefeito Bruno Covas em São Paulo, a maior cidade do país, vitórias em outras três capitais - Natal, Palmas e Porto Velho - e em mais 529 municípios em todo o Brasil, o PSDB é o partido que, a partir de 2021, irá administrar a maior fatia das receitas municipais e terá influência direta sobre a maior fatia do eleitorado. Tomando como base os valores de janeiro a dezembro de 2019, serão cerca de R$ 155,1 bilhões de receitas orçamentárias somadas nas mãos de prefeitos tucanos. No conjunto esses municípios sob o comando do PSDB a partir de 2021 reúnem 24,8 milhões de eleitores. Os rankings de receitas orçamentárias e eleitorado são quase idênticos (confirma no quadro ao lado). Os outros três partidos com maior fatia de receitas são o MDB, com R$ 93,3 bilhões; o DEM, com R$ 91 bilhões; e o PSD, com R$ 82,3 bilhões. A conta leva em consideração um conjunto de 5.229 municípios com informações disponíveis até a última sexta no site da Secretaria do Tesouro Nacional. Apesar da liderança, a influência do PSDB sobre as máquinas municipais a partir do dia 1º de janeiro passa a ser menor que a de quatro anos atrás. Em 2016, o partido colheu vitórias em 799 municípios, conjunto que somava R$ 183,2 bilhões em receitas em valores corrigidos.
A queda do PSDB - a maior em termos nominais - fica mais visível quando se compara a participação relativa dos tucanos no ranking. Em 2017, prefeitos eleitos pelo PSDB no ano anterior passaram a administrar 27,4% das receitas orçamentárias de todos os municípios do país. Em 2021, passarão a gerir 21%. Com R$ 4,9 bilhões a menos (queda de 4,9%), o MDB, o segundo colocado do ranking de receitas e eleitorado, também terá participação menor a partir do ano que vem. Cai de R$ 98,2 bilhões para R$ 93,3 bilhões. É o oposto do que ocorre com DEM, PSD e PP, os outros três partidos que irão gerir os valores mais altos em receitas. O melhor resultado é o do DEM, puxado pelas vitórias de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, ontem, além dos triunfos já no primeiro turno de Rafael Greca, em Curitiba, Gean Loureiro, em Florianópolis, e Bruno Reis, em Salvador. Somadas ao avanço nas cidades médias e pequenas, o domínio do DEM em receitas municipais salta de R$ 32,5 bilhões para R$ 91 bilhões. O PSD e o PP também avançam significativamente do ponto de vista monetário. O PSD praticamente dobra sua influência, de R$ 42,9 bilhões para R$ 82,3 bilhões. O PP cresce de R$ 34 bilhões para R$ 54,5 bilhões.
No polo oposto, as maiores quedas depois do PSDB, entre os partidos grandes e médios, são do PSB e do Republicanos. O primeiro recuou de R$ 51,6 bilhões para R$ 29,9 bilhões, queda de 42%. Poderia ter sido pior se o candidato do partido no Recife, João Campos, não tivesse vencido ontem. O segundo retrocedeu de R$ 42,1 bilhões para R$ 25,8 bilhões (-16,8%). Sigla que já foi líder no ranking de gestão de receitas orçamentárias e eleitorado governado, o PT ficou na 11º posição neste ano, responsável pela administração de R$ 20,2 bilhões a partir de janeiro de 2021. É um avanço de 13,8% na comparação com quatro anos atrás. Dos 15 municípios em que disputou segundo turno, o PT venceu em quatro: Diadema e Mauá, em São Paulo, Contagem e Juiz de Fora, em Minas. Mas candidatos petistas perderam nas duas capitais disputadas (Recife e Vitórias). É a primeira vez desde sua fundação, em 1980, que o PT sai de uma eleição municipal sem nenhuma vitória em capital. Os prefeitos das 95 cidades com mais de 200 mil eleitores irão administrar o equivalente a 44% da receita total de todas as cidades do país. A grandes cidades foram as que mais sofreram pressão de gastos em razão de demandas por serviços de saúde em meio à pandemia e tiveram mais dificuldade na recomposição de receitas. A receita total dos 95 municípios totalizou R$ 213 bilhões de janeiro a agosto de 2020, com aumento nominal de 9,2% em relação a igual período do ano passado. Nas demais cidades do país o desempenho foi ligeiramente melhor, com receita de R$ 269,8 bilhões e alta de 11,5%.
Das 95 maiores cidades, só não foi considerado o município fluminense de São João de Meriti, que não divulgou seus relatórios. Na conta estão dados de 4.740 prefeituras que entregaram os resultados ao Tesouro. O desempenho de receitas dita o ritmo dos gastos. A despesa corrente dos 95 municípios cresceu 4,4% de janeiro a agosto em comparação com iguais meses de 2019, puxada por 15,3% de avanço na saúde. Nos demais municípios, a despesa corrente avançou 6,5%, com alta de 16,7% na saúde. Nos investimentos também fica clara a perda de fôlego das cidades maiores. Nas 95 grandes, o investimento cresceu 38,9%. Nas demais, 47,8%. Para o economista Manoel Pires, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), é possível que os prefeitos eleitos das grandes cidades enfrentem maior dificuldade fiscal e sofram maior pressão de gastos em caso de dificuldade maior no controle da covid-19. Municípios de maior porte tendem a ter mais problemas crônicos, diz. Neles, exemplifica, dentro das despesas de pessoal, os gastos com aposentadoria já demandam mudanças mais estruturais e por isso a recente descentralização resultante da reforma previdenciária é mais importante. Além, disso, as transferências federais que socorreram os municípios em 2020 favoreceram mais as pequenas cidades, já que o critério utilizado foi mais redistributivo. E com uma parcela de arrecadação própria maior entre as receitas, as grandes cidades sofreram em 2020 impacto maior dos efeitos econômicos do isolamento social.

*”Direita ganha poder municipal e esquerda, chance de renovação”* - Se o primeiro turno consolidou a direita como detentora da maior máquina municipal no conjunto das cidades, o segundo turno trouxe o fortalecimento do centro no Sudeste e a projeção de lideranças de esquerda que, a despeito de amplamente derrotada, quebram o monopólio do PT, partido que já chegou a eleger nove prefeitos de capitais e agora não elegeu nenhum. A conquista do Rio pelo DEM de Eduardo Paes e a manutenção do PSDB com a reeleição de Bruno Covas, em São Paulo, somam-se à reeleição do prefeito Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte, no primeiro turno, para consolidar o centro nas três capitais com maior peso na opinião pública nacional. Juntos, os três partidos elegeram dez prefeitos de capitais. Somados aos do MDB (Boa Vista, Cuiabá, Goiânia, Porto Alegre e Teresina), o centro não-bolsonarista elegeu 15 prefeitos de capitais. Na esquerda, a despeito do pior desempenho em capitais da história, dois personagens se sobressaíram, Guilherme Boulos (Psol), em São Paulo, e Manuela d’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, que tiveram mais de 40% dos votos. Colheram derrotas, como em 2018, quando um foi candidato à Presidência, e a outra, a vice de Fernando Haddad (PT), mas saíram maiores do que naquela eleição pela capacidade de renovar o discurso, ampliar suas bases políticas e combater a imagem de radicais. Boulos ligou para parabenizar Covas antes mesmo de concluída a apuração. Ironicamente, seu partido e o de Manuela correm risco de extinção em 2022, em função do fim das coligações e da cláusula de desempenho.
Foi com discurso - contra corrupção e violência - e sem máquina partidária que o presidente Jair Bolsonaro venceu as eleições em 2018. Em 2022, o presidente, pela aliança com o Centrão, pode até conseguir um partido para disputar, mas lhe faltará discurso, especialmente em função da crise econômica que ameaça se aprofundar no país a partir de 2021. A vitória da centro-direita não-bolsonarista se deu, basicamente, em função de gestões bem avaliadas na pandemia que se opuseram às determinações do presidente da República. Dos 13 prefeitos de capital que tentaram a reeleição, dez foram reconduzidos. Nenhum da base bolsonarista. As perdas do presidente, que assistiu à queda de sua popularidade na maior parte das capitais, se ampliaram com a derrota do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, do Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, e do Delegado Eguchi (Patriotas), em Belém. De candidatos deste segundo turno por quem pediu votos, apenas Tião Bocalom (PP), se elegeu em Rio Branco. No outro lado, porém, nenhum dos atuais pré-candidatos à Presidência teve um desempenho retumbante nas campanhas em que mais se empenharam.
Dois dos postulantes presidenciais mais expostos nessas eleições municipais, o governador paulista João Doria (PSDB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) venceram em suas capitais de origem, São Paulo e Fortaleza. A reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB), no entanto, se deu apesar do governador e não por sua causa. A rejeição de Doria na capital só não é maior do que a do presidente da República. Cresce, entre tucanos, a percepção de que o governador hoje tem mais apoio na legenda para disputar a reeleição do que para um voo presidencial. O bom desempenho do PSDB no Estado, inclusive na Região Metropolitana, reforçou esta percepção. Entre os adversários internos de Doria, há tanto partidários do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, quanto do apresentador Luciano Huck. Ciro Gomes, por outro lado, não enfrenta disputa interna em torno da vitória de José Sarto para a Prefeitura de Fortaleza, mas esta eleição apenas mantém suas posições na capital cearense. O ex-ministro não avançou para fincar bases no centro-sul com as derrotas, no primeiro turno, de seus candidatos no Rio, Martha Rocha (PDT), e em São Paulo, Márcio França (PSB). O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), outro presidenciável, assistiu, no primeiro turno seu principal adversário local, a família Sarney, ser reduzido a uma única vereadora em São Luís, mas manteve-se equidistante da disputa na capital. Empenhou-se no segundo turno, mas não foi capaz de impedir a derrota de Duarte Jr. (Republicanos) por Eduardo Braide (Podemos).
Os cinco únicos prefeitos da esquerda eleitos nas capitais - dois do PSB (Recife e Maceió), dois do PDT (Aracaju e Fortaleza) e um do Psol (Belém) - representam um terço da presença dos partidos deste campo eleitos em 2004, primeira disputa municipal da era petista. Foi no Recife onde as disputas internas da esquerda chegaram ao limite da autodestruição. A capital pernambucana foi a única a ter dois candidatos não apenas do mesmo campo na reta final como egressos da mesma família. Como seus partidos foram aliados até aqui, sobrou para as campanhas do bisneto do ex-governador Miguel Arraes, o deputado federal e prefeito eleito, João Campos (PSB), e de sua neta, a também deputada Marília Arraes (PT), resvalar para ataques pessoais. Com isso, trincaram o legado de uma liderança que, a despeito de falecida há 15 anos, ainda pauta a política local. Os rumos da esquerda dependem, ainda, do futuro da legislação eleitoral e partidária cujo reexame será renegociado com os postulantes à mesa diretora da Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2021. Nenhum personagem, porém, depende tanto desta eleição quanto o presidente Jair Bolsonaro. A Casa, além de abrigar 52 pedidos de impeachment, tem o poder de deliberar sobre o nó fiscal que paralisa o governo. Seu candidato na Câmara, Arthur Lira (PP-AL), comandará uma máquina partidária robustecida pelas eleições municipais que derrotaram seu principal adversário local, a família Calheiros, em Maceió e Arapiraca. Seu principal adversário, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também foi vitorioso nessas eleições municipais, tanto pelo desempenho do DEM quanto pela vitória de Eduardo Paes (DEM), no Rio. Sua recandidatura depende do Supremo Tribunal Federal, numa deliberação virtual marcada para a próxima sexta-feira, em que saem os 148 milhões de eleitores e entram os 11 ministros da Corte.

*”Centro-direita se espalha nos maiores municípios”* - Disputas do segundo turno em 57 municípios mostra fortalecimento da centro-direita e apostas fracassadas da esquerda

*”Barroso defende melhorias para evitar novos ataques a sistema”* - De acordo com o presidente do TSE, a investigação sobre a atuação das “milícias digitais” ainda está no início

*”No Rio e Goiânia, alienação beira a 50% do eleitorado”* - Abstenções foram recorde nessa eleição

*”Planalto ainda vê PT como principal rival para 2022”* - O vice-presidente, Hamilton Mourão, disse ao Valor que o resultado do segundo turno das eleições evidenciou a escolha da população por bons gestores. Para o vice-presidente, a escolha de candidatos experientes também foi demonstração de "bom senso". "Considero que a população buscou escolher aqueles que demonstraram a capacidade de gestão, que é o que se deve esperar de um prefeito", afirmou. "Além disso, o bom senso também venceu, pois gente que nunca tinha administrado o prédio em que reside não teve o apoio necessário".Ao final do primeiro turno, Mourão já havia avaliado que partidos de Centro saíram vitoriosos do pleito e que o mau desempenho de candidatos apoiados por Jair Bolsonaro não poderia ser debitado ao presidente porque ele não "entrou de cabeça" na disputa. Auxiliares próximos do presidente Jair Bolsonaro afirmam que o PT, mesmo enfraquecido após as eleições municipais, continua sendo o principal adversário de Bolsonaro para 2022. Embora o PT ainda seja tido como o principal rival de Bolsonaro para 2022, o partido não governará nenhuma capital a partir do ano que vem. É a primeira vez que isso acontece desde a redemocratização. Na opinião de ministros ouvidos pelo Valor, Guilherme Boulos (Psol) desponta como uma nova liderança importante no campo da esquerda, mas tem mais potencial no momento para disputar o governo de São Paulo do que para rivalizar com Bolsonaro na disputa pelo Palácio Planalto.
Passada a votação, as atenções no governo se voltam para a pauta legislativa. A “prioridade zero” é votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e depois votar outros projetos travados por conta das eleições locais. Para um outro ministro ouvido pela reportagem, Bolsonaro “só perde a reeleição para si próprio”. Diferentemente de outros membros do governo, ele não viu nas derrotas dos republicanos Marcelo Crivella (Rio) e Celso Russomanno (São Paulo) um grande revés para o presidente. Por diferentes razões, diz, ambos eram candidatos fracos e com grande potencial de derrota. O presidente, por outro lado, fez um gesto para um partido importante de sua base. Agora está mais bem posicionado para negociar com a legenda uma composição para a sucessão da presidência da Câmara e cobrar apoio para projetos importantes para o governo na Casa. Ontem, com os eleitores ainda indo às urnas, o Planalto definia prioridades da agenda legislativa. O primeiro passo é tentar achar uma solução para o conflito entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o deputado Arthur Lira (PP-AL), sobre a composição da Comissão Mista de Orçamento (CMO). Na mira do governo, estão também o PLP 137 (que libera recursos R$ 177 bilhões de 29 fundos ao coronavírus), a PEC Emergencial, o PL da Cabotagem e o PLP 101, que estabelece o Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal.
O resultado das eleições aumentou também as divisões entre a ala ideológica do governo, de um lado, e a ala militar e ministros políticos. Esse último grupo viu na vitória dos partidos de centro-direita em diversas capitais um chamado à moderação para que Bolsonaro chegue com chances de vitória daqui a dois anos. Uma análise muito ouvida é que a população está cansada da polarização política. Já os “ideológicos” defendem que o presidente tenha um partido próprio e atribui a isso a derrota de candidatos apoiados por ele. Um dos ministros ouvidos pelo Valor fica no meio termo. Para ele, Bolsonaro já vem se posicionando mais ao centro, mas não pode abandonar a retórica mais agressiva nem tampouco esquecer da pauta conservadora do grupo que o levou ao poder em 2018. A indicação de Kassio Nunes Marques ao Supremo Tribunal (STF), afirma, “já sinaliza que não está flertando com o extremo”. “Retórica é uma coisa, gesto é outra. O presidente fazendo gestos reiterados de que preza a governabilidade”, diz a fonte. “Mesmo assim, não pode abrir mão de ter a relação com o eleitorado que o levou à Presidência.

*”Governadores com projeto nacional não podem comemorar, diz analista”* - Flavio Dino, Romeu Zema, Eduardo Leite e Ronaldo Caiado tiveram revezes e Doria não pode chamar vitória em São Paulo, de sua, segundo Creomar de Souza

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*”É o início de um ciclo que se anuncia, diz Boulos”* - Agora, tanto Boulos quanto o Psol planejam voos mais altos

*”Eleição em SP consolida tendência de voto na centro-direita”* - Estado elegeu prefeitos do PSDB para 172 cidades, sendo 169 deles eleitos no primeiro turno

*”Bolsonarista ganha em São Gonçalo e filho de Garotinho em Campos”* - Tendências nacionais como o encolhimento do MDB e fraco desempenho do PT também se manifestaram

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*”No Recife, Campos derrota a prima”* - Peso da máquina do PSB foi decisivo na reta final da campanha do deputado que gastou R$ 7,5 milhões

*”Edvaldo confirma favoritismo e é reeleito em Aracaju”* - Com 150.823 votos, o pedetista e sua vice, Katarina Feitosa (PSD), ficaram com 57,86% do total dos votos computados

*”Delegado Pazolini bate o ex-prefeito e petista João Coser e governará Vitória”* - Candidato do Republicanos teve 58,50% dos votos válidos e superou expectativas apontadas em pesquisa

*”PT vence em duas cidades mineiras e Zema consegue por aliada em Uberaba”* - Contagem e Juiz de Fora, nas mãos do PT, deverão ser palcos importantes na eleição para governador em 2022

*”Sarto é eleito em Fortaleza por margem estreita”* - Apesar do amplo leque de apoios, candidato de Ciro Gomes tem desempenho abaixo do esperado

*”Dr. Pessoa derrota PSDB e Nogueira em Teresina”* - Vitória do emedebista coloca fim à hegemonia tucana de três décadas

*”Lucena volta à Prefeitura de João Pessoa pela 3ª vez”* - Com 53,16% dos votos, candidato do PP superou Nilvan Ferreira (MDB) e ocupará mais uma vez a prefeitura da capital paraibana

*”JHC vence Gaspar, candidato dos Calheiros”* - Disputando a eleição pelo PSB, Caldas obteve 58,64% dos votos e vai governar Maceió

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*”Moro torna-se diretor de empresa americana de consultoria”* - Ex-juiz da Lava-Jato de Curitiba vai trabalhar em administradora judicial da Odebrecht, com cláusula para não atuar em áreas com conflito de interesses

*”Para Temer, governo não deve politizar vacina”* - Na avaliação do ex-presidente, a saúde deve prevalecer sobre a economia

*”’Foi dado um sinal amarelo para o Planalto’, diz Schuler”* - Segundo cientista político, disputa tirou ilusões de que bolsonarismo pode se descolar da economia

*”Boulos não é ameaça a PT ou Ciro em 2022, diz Arretche”* - Para Marta Arretche, da USP, Psol ainda é pequeno para a disputa presidencial