segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Segundo turno dá vitória à tradição

 


O Brasil que sai das urnas nas eleições municipais de 2020 é muito diferente daquele que emergiu após as de 2018. Há dois anos o eleitor rompeu com a política e fez uma aposta de muitas formas radical. Ideologicamente radical na direita, e radicalmente antipolíticos, um rompimento com o passado. Durou pouco a experiência. Os cinco maiores partidos de direita e centro governarão mais de 60% dos brasileiros, nas contas do Poder 360 — PSDB, MDB, DEM, PSD e Progressistas. Das cinco siglas, só o PSD tem menos de 30 anos. O DEM foi PFL e, o Progressistas, é o antigo PDS. “A tal nova política ficou velha muito rápido”, observou hoje, em entrevista à Folha, o presidente nacional do DEM, ACM Neto. “Acabou a história do novidadeiro, dos blogueirinhos, dos famosos ou do discurso antipolítica.” A rejeição não foi apenas da extrema-direita. “O eleitor mostra ter virado a página da polarização que levou ao segundo turno entre Bolsonaro e o PT”, analisa Vera Magalhães no Estadão. Porque o eleitorado de esquerda não diminuiu na classe média — mas o PT foi punido pelos eleitores de esquerda, que optaram por votar em candidatos de PSOL, PCdoB, PDT, PSB e outras siglas do flanco. Pela primeira vez desde a redemocratização o partido de Lula não elegeu prefeito em nenhuma das capitais. Já havia tombado feio em 2016, quando de 638 prefeitos passou a 254. Em 220 desce a 182. E embora tenham sido derrotados em São Paulo e Porto Alegre, Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila saem desta eleição maiores. O que fica é um alerta, como leu, no Globo, Dimitrius Dantas. A esquerda começou a perder voto entre os mais pobres.

O tucano Bruno Covas se elegeu, em São Paulo, com 59,38% contra Guilherme Boulos, do PSOL, que teve 40,62%. No Rio de Janeiro a derrota do prefeito Marcelo Crivella, do Republicanos, para Eduardo Eduardo Paes, do DEM, foi grande. 64,07% a 35,93%. Dentre brigas mais disputadas, a de Porto Alegre terminou com Sebastião Melo (MDB) vitorioso, 54,63%, e Manuela D’Ávila em segundo. 45,37%. No Recife, João Campos, do PSB, venceu a prima petista, Marília Arraes. 56,27% contra 43,73%. Veja os outros eleitos. (G1)




Os números da eleição mostram um claro redesenho partidário e demográfico. O MDB se manteve como governante no maior número de cidades, mas viu esse total despencar de 1.046 prefeitos eleitos em 2016 para 784 este ano. O PSDB também caiu muito, de 804 para 520 prefeituras, mas mantém, especialmente por conta da capital paulista, o maior número de governados, 34,1 milhões de habitantes. Nesse quesito, os grandes vencedores foram partidos do Centrão. O PP assumiu a segunda colocação ao saltar de 498 para 685 prefeituras, seguido pelo PSD, que foi de 539 para 655. Na esquerda, apenas o PSOL avançou, de duas para cinco prefeituras. PDT perdeu pouco, de 333 para 314, PSB foi de 409 para 252 e PCdoB de 82 para 46. O PT, em que pese ter ficado sem capitais pela primeira vez e recuado de 256 para 183 prefeituras, teve uma variação pequena em número de pessoas sob seu governo, de 6,1 milhões para 6 milhões. (Folha)

O voto no Brasil só é obrigatório no nome. Isso é o que se depreende da abstenção de 29,5% registrada no segundo turno das eleições municipais. Em São Paulo, 2.769.179 eleitores (30,81%) não compareceram para votar. Mais que os 2.168.109 que votaram em Guilherme Boulos (PSOL), o segundo colocado. O mesmo aconteceu com Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre. Ela obteve 307.745 votos, abaixo do total de eleitores que não compareceram, 354.692 (32,76%). No Rio, a situação foi ainda mais gritante. A abstenção recorde de 35,45% (1.720.154 eleitores) foi maior que a votação do vencedor, Eduardo Paes (DEM), que obteve 1.629.319 votos. Mas, em geral, as capitais tiveram abstenção abaixo da média nacional. No Recife, por exemplo, foram 246.010 ausentes (21,26%); em Manaus, 298.712 (22,43%); e em Fortaleza, 414.959 (22,78%).

Veja a lista de prefeitos eleitos neste segundo turno.



Ricardo Kotscho: “Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Foi a maior derrocada do PT nestes 40 anos e, para não ser surpreendido outra vez, seria bom que se preparasse melhor para as próximas eleições, de preferência, antes que as urnas falem. O antipetismo ficou maior do que o petismo. Se o partido não descobrir e atacar as causas, renovar suas lideranças e programas, vai continuar andando para trás, porque mudou o mundo em que ele foi criado e se tornou o maior do país no começo do século. Só faltam dois anos para a próxima eleição.” (UOL)

Bernardo Mello Franco: “Ao despejar Marcelo Crivella, o eleitor carioca impôs um freio ao plano de poder da Igreja Universal. Nos últimos quatro anos, o Rio virou laboratório de um projeto que mistura fé e política. Ontem essa fórmula foi rechaçada nas urnas. No reinado de Crivella, a prefeitura promoveu o obscurantismo e sufocou a diversidade. A vitória esmagadora do ex-prefeito (Eduardo Paes) teve um quê de exorcismo. No futuro, 2020 será lembrado como o ano em que os cariocas se libertaram de Crivella.” (Globo)

Meio em vídeo. Se um brasileiro fosse dormir só uns meses antes de virarmos do século vinte para o vinte um e acordasse perante este Brasil da eleição municipal de 2020, olha, ele teria poucas surpresas. Sim, o país se inclinou mais à direita. Mas, diferentemente do que fez há apenas dois anos, nesta eleição votou seguindo suas tradições políticas mais profundas. Assista.




Covid é coisa séria, mas é impossível não arregalar os olhos com a situação de Goiânia. Maguito Vilela (MDB) foi eleito com 52,6% dos votos e não sabe disso. Internado em um hospital de São Paulo, ele está intubado e sedado desde o dia 15. (Globo)




Mais uma vez sem apresentar provas, Jair Bolsonaro levantou suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas, alegando que, em 2018, só foi eleito porque teve “muito voto mesmo”. Após votar no Rio, ele disse que está discutindo a volta do voto impresso e falou até da eleição nos EUA, dizendo que, segundo suas fontes, “houve muita fraude lá”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) reagiu dizendo tratar de voto impresso é “colocar em xeque um sistema seguro”. Já o presidente do TSE, ministro Roberto Barroso, lembrou que jamais houve uma comprovação de fraude na urna eletrônica e partiu para a ironia: “Não tenho controle sobre o imaginário das pessoas. Tem gente que acha que a terra é plana, que o Trump venceu as eleições nos EUA.”

Falando no presidente, na reta final do primeiro turno, Bolsonaro gravou lives de apoio a 13 candidatos a prefeito. Nove foram derrotados e dois eleitos no primeiro turno. Os outros dois, Capitão Wagner (PROS) em Fortaleza e Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio, perderam ontem.




Em sua primeira entrevista após as eleições, Donald Trump insistiu nas acusações sem provas de fraude, mas admitiu que dificilmente conseguirá levar as eleições para a Suprema Corte. Para piorar a situação do presidente, a recontagem de votos no Wisconsin confirmou a vitória de Joe Biden no estado.

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