quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Bolsonaro vê Brasil de maricas e ameaça pólvora contra EUA

 


Ontem, o presidente Jair Bolsonaro começou o dia celebrando, no Facebook, o que ele via ser o fracasso da vacina chinesa. “Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la”, escreveu em resposta a um torcedor. “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha.” Já havia deixado as redes atônitas ao deixar explícita torcida contra vacina quando, perante um microfone no Planalto, escalou. “Todos vamos morrer um dia”, afirmou a respeito da pandemia a um grupo de empresários. “Tem que deixar de ser um país de maricas.” Dane-se a vacina se for do adversário, melhor enfrentar a morte. Aí, porque talvez tenha se sentido bem pouco maricas, achou por bem falar enfim do presidente eleito americano, Joe Biden. “Assistimos há pouco um candidato a chefia de Estado dizendo que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele vai levantar barreiras comerciais”, comentou o presidente brasileiro. “Apenas a diplomacia não dá”, pôs-se a se explicar. “Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora.” É. Bolsonaro falou em usar pólvora contra os EUA. De presto, no Twitter, o jornalista Thomas Traumann sutilmente publicou o trailer de O Rato que Ruge, filme de Peter Selles em que um país irrelevante declara guerra aos EUA. Correspondente na Argentina da GloboNews, Ariel Palácios se lembrou de Leopoldo Galtieri, o bizarro ditador argentino que declarou guerra contra o Reino Unido. E o embaixador trumpista em Brasília escolheu menos sutileza. Publicou um vídeo lembrando que os EUA têm seus marines prontos para qualquer parada. Ontem não foi um dia normal. (Poder 360)

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, respondeu num tuíte só. “Entre pólvora, maricas e o risco à hiperinflação, temos mais de 160 mil mortos no país, uma economia frágil e um estado às escuras.”




Como sói acontecer — Bolsonaro levanta muita marola quando o noticiário não lhe é favorável e quer gerar distrações. Também ontem, o ministro Ricardo Lewandowski encaminhou à Procuradoria-Geral da República notícia-crime contra Bolsonaro pelo suposto uso da estrutura do governo (GSI, Abin, Receita Federal e Serpro) para beneficiar a defesa do filho Zero Um no caso Queiroz, conta Guilherme Amado. (Época)

E Paulo Guedes levantou a possibilidade de o Brasil ter de lidar com hiperinflação caso não role sua dívida pública. E isto num contexto em que, segunda-feira, um estudo do Ibre, da FGV, já havia mostrado que o Brasil deixará este ano o ranking das dez maiores economias do mundo. (Estadão)




A decisão da Anvisa de interromper os testes da Coronavac no Brasil devido à morte de um voluntário passou a ser mais questionada quando a polícia informou que ele teria cometido suicídio. Apesar disso, a agência afirma que a decisão foi técnica e que não havia recebido informações sobre a causa mortis do participante. Já a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Ministério da Saúde, informou que também analisou os dados e não viu necessidade de interromper a pesquisa. E o Comitê Internacional Independente, órgão que avalia disparidades em pesquisas de vacinas, recomendou que a suspensão seja revogada, mas a palavra final é da Anvisa. A Coronavac é produzida em parceria pelo laboratório chinês SinoVac e o Instituto Butantan, do governo paulista.

O Butantan disse ter enviado à Anvisa todas as informações sobre o caso no dia 6 de novembro, incluindo a conclusão de que a morte não teve relação com a vacina, mas a agência alega não ter recebido os dados devido a um ataque hacker à rede do Ministério da Saúde.

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF, deu 48 horas para a Anvisa explicar os motivos da suspensão dos testes, enquanto o MP pediu que o TCU avalie se o trabalho da agência está sendo afetado por influências político-ideológicas.

Merval Pereira: “O presidente Bolsonaro perdeu o juízo, o pudor, provou ser um comandante deplorável ao comemorar a morte do voluntário nos testes para a vacina chinesa contra a COVID. Vibrar porque a vacina foi teoricamente inviabilizada é vibrar com menos uma arma contra o vírus. Mais uma vez fazemos comparação com Trump, que ficou furioso com o laboratório Pfizer por ter anunciado a eficácia de sua vacina dois dias após a vitória de Joe Biden. É o mesmo tipo de pessoa, que usa a vacina para fazer política. Não é à toa que Brasil e EUA sãos os dois países com maior número de mortes por COVID, pela forma relaxada com que seus presidentes trataram o combate ao vírus.” (Globo)

Ainda sem dados de três estados (SP, RJ e MG), o Brasil registrou ontem 204 mortes pela Covid-19 e 25.517 novos casos. Entre os doentes está o ministro do STF Alexandre Moraes.

Já os EUA, que têm 25% dos casos da doença no mundo, registraram ontem, pela primeira vez, mais de 200 mil novas infecções em um único dia.




O Itamaraty anunciou ontem que o Brasil apoia o chamado Clean Network (Rede Limpa), um plano dos EUA para segurança na Internet que, na prática, limita a participação de empresas chinesas no mercado 5G.




O ministro Kassio Nunes estreou ontem na 2ª Turma do STF. Como previsto, ele se alinhou com Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, críticos da Lava-Jato, e votou para manter decisão de Gilmar tirando do juiz federal Marcelo Bretas o caso de um promotor acusado de receber propinas de empresários de ônibus no Rio.




A pedido do candidato Celso Russomano (Republicanos), a Justiça Eleitoral de São Paulo proibiu a divulgação de uma pesquisa de intenção de votos feita pelo Datafolha em parceria com a TV Globo. O juiz eleitoral Marco Antonio Martin Vargas apontou pontos da pesquisa “em desacordo com a legislação”, mas, segundo Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha, a metodologia é a mesma usada há 35 anos nas eleições de São Paulo. O instituto vai recorrer ao TRE. (Folha)

E a direção nacional do PT pressiona o candidato Jilmar Tatto a recomendar o voto em Guilherme Boulos (PSOL) na eleição paulistana. (Globo)

E o Meio errou. A candidata do PSOL à prefeitura de Belo Horizonte se chama Áurea Carolina, não Ana Carolina, como publicado na edição de ontem.




Na coletiva à imprensa ontem, um jornalista perguntou ao presidente eleito americano Joe Biden como ele encara a recusa pelo presidente Donald Trump de reconhecer a derrota. “É um constrangimento, para ser franco”, ele respondeu. “Pelo que tenho conversado com líderes estrangeiros, eles têm esperanças de que as instituições democráticas americanas voltem a ser percebidas como fortes. De qualquer forma, tudo chegará ao fim em 20 de janeiro” — é a data em que presidentes dos EUA tomam posse. Mas os gestos de Trump, que demitiu via Twitter o secretário de Defesa Mark Esper e vem impondo a seus assessores testes de lealdade enquanto diz ter vencido o pleito, preocupam. O secretário de Estado, Mike Pompeo, passou no teste. Afirmou estar se preparando para o segundo mandato de Trump. (CNN)

Enquanto isso... O New York Times entrou em contato com os governos dos 50 estados para saber se alguém viu indício de fraude eleitoral. Ninguém. O governo do Texas, que é republicano, deu até um passo à frente e ofereceu US$ 1 milhão para quem comprovar fraude. Nada. (New York Times)




Meio em vídeo: Mesmo que ainda não admita, Donald Trump deixa a Casa Branca em 20 de janeiro. Mas o trumpismo continuará além de seu mandato. Esta semana no Conversas com o Meio, o professor da FGV-EAESP e um dos fundadores do Observatório da Extrema Direita Guilherme Casarões explica as origens desse movimento radical, sua influência sobre o bolsonarismo e como deve ser daqui para a frente. Assista.

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