sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Análise de Mídia 06/11

 


CAPA – Manchete principal: *”Covas vai a 28% e se isola em 1º; Russomano cai 4 pontos”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Baixa bolsonarista”*: Nova pesquisa Datafolha, realizada nestas terça e quarta-feira (3 e 4), mostra com maior clareza que vai fazendo água a estratégia de Celso Russomanno (Republicanos) de associar sua candidatura a prefeito de São Paulo ao apoio do presidente Jair Bolsonaro. No levantamento, o candidato despenca nas intenções de voto, vê sua rejeição aumentar de modo significativo e perde a liderança na corrida eleitoral para Bruno Covas (PSDB), que busca se manter no posto e saltou de 23% para 28% das preferências em duas semanas. Russomanno, que perdia terreno a cada pesquisa mas se mantinha em primeiro lugar, caiu de 20% para 16%. Encontra-se agora em posição de empate, dentro da margem de erro de 3 pontos percentuais para cima ou para baixo, com Guilherme Boulos (PSOL), estacionado em 14%, e com o ex-governador Márcio França (PSB), que passou de 10% para 13%. Enquanto Covas conquista uma boa posição rumo à participação num eventual segundo turno, mantém-se em aberto a definição de seu possível oponente —Russomanno, Boulos ou França.
O candidato do PT, Jilmar Tatto, que oscilou de 4% para 6%, não dá até aqui mostras de ter fôlego para participar da acirrada disputa pelo segundo lugar. A confirmar-se essa tendência, desenha-se um fiasco histórico do petismo, que desde a eleição de Luiza Erundina, em 1988, disputava a alternância de poder na capital. O derretimento de Russomanno faz-se acompanhar de marcante alta da parcela dos eleitores determinados a não votar nele em nenhuma hipótese, uma escalada que se observa a cada nova pesquisa. Depois de ter registrado 21% no final de setembro, sua rejeição pulou para 29% e 38% em sondagens do mês de outubro —e atinge agora 47%. Pode se repetir, assim, a trajetória frustrante dos dois pleitos municipais anteriores em que o postulante do Republicanos se apresentou. As dificuldades do bolsonarista paulistano não são fato isolado no cenário nacional. Também no Rio, a segunda maior cidade do país, o prefeito Marcelo Crivella, que conta com as simpatias presidenciais, se vê ameaçado de não disputar o segundo turno contra o atual favorito, Eduardo Paes (DEM), que oscilou de 28% para 31%. Com 15%, Crivella (Republicanos) está empatado com a Delegada Martha Rocha (PDT), que se manteve com 13% das intenções. A liderança provisória, porém expressiva, de Covas e Paes em São Paulo e no Rio —dois candidatos de legendas tradicionais da política— é má notícia para Bolsonaro. O presidente vê sua imagem pública desgastar-se apenas dois anos depois do triunfo avassalador de 2018, quando a associação com o seu nome bastava para favorecer postulantes em todo o país.

CLAUDIA COSTIN - *”Alfabetização e aprendizagem”*: Foram divulgados, nesta quarta-feira (4), os resultados da avaliação amostral de 2º ano em português e matemática realizada em 2019. Como corretamente se optou por uma série diferente da Avaliação de Alfabetização de 2016, que verificava como os alunos de 3º ano estavam em seu processo de letramento, os dados de agora não são comparáveis aos anteriores, mas nos trazem algumas reflexões. Uma delas é que, ao se verificar aprendizagens no 2º ano do ensino fundamental, estamos fazendo valer a Base Nacional Comum Curricular, que, por ter expectativas menos frágeis de desempenho dos alunos, decidiu que a alfabetização inicial deveria ocorrer a partir da educação infantil, de forma lúdica, para se consolidar até o final do 2° ano. A outra é a constatação de que o Ceará, que tem um bom desempenho na avaliação de 5º ano, contando com 79 das 100 melhores escolas em Ideb do país, mostra que as razões dessa performance estão associadas a uma alfabetização bem-sucedida. Não é para menos. Como se sabe, o estado se inspirou no bom exemplo de Sobral, uma cidade de nível socioeconômico baixo, mas que construiu um caminho educacional virtuoso, iniciando pela alfabetização, mas avançando para as séries seguintes. O estado, em regime de colaboração com seus municípios, criou o Programa de Alfabetização na Idade Certa, implantado em boa parte das cidades cearenses.
Mas o que chamou mais a atenção é como a alfabetização vem sendo abordada no Ceará. Há um ensino que trabalha na educação infantil com consciência fonêmica, associando, em jogos divertidos, letras aos sons e, ao ler muitas histórias para as crianças, trabalhando tanto a função social da leitura quanto a ampliação de vocabulário. Esse trabalho continua no 1º e 2º anos com um trabalho tanto de ensino do código letrado quanto de promoção da fluência leitora, com sólida formação dos professores para uma alfabetização eficaz. No anúncio dos resultados, foi interessante ver que a Undime, que congrega os secretários municipais de Educação, estabeleceu uma parceria com o MEC, incentivando os municípios a participar de uma iniciativa federal para formar professores alfabetizadores numa abordagem inspirada nas boas experiências que o Ceará desenvolveu. Mais de 4.000 cidades aderiram ao programa que, esperemos, deve mudar o cenário ainda precário de alfabetização no Brasil. Afinal, o pioneirismo do Ceará, baseado no que fazem países com bons sistemas educacionais, serviu para mostrar a muitos municípios que sua abordagem funciona mesmo em cidades com escolas de estruturas simples e grande percentual de alunos pobres.
*Claudia Costin - Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

PAINEL - *”Evento de Bolsonaro vira comício com vaias a Calheiros e apoio a líder do centrão”*: A mudança de rumo do governo e a empolgação com a velha política levaram Jair Bolsonaro para o meio de uma disputa regional, nesta quinta (5). Juntos no mesmo palanque em Alagoas estiveram o presidente, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Fábio Faria (Comunicações) e políticos da região, incluindo o outrora crítico Fernando Collor. O anúncio de obras de água à população virou um comício com vaias ao clã dos Calheiros (MDB) e a favor do grupo de Arthur Lira (PP). A pequena cidade de Piranhas (AL), com 25 mil habitantes, é disputada pela atual prefeita, Maristela (PP), apoiada por Lira, contra o candidato do governador Renan Filho (MDB-AL), Tiago Freitas (MDB). Bolsonaro colocou no palco uma criança, dando-lhe a palavra para que fizesse um pedido. Uma escola militar, disse o garoto, sob aplausos do público. Renan Filho foi um dos governadores que não aderiram ao programa federal para a implantação de escolas cívico-militares. Em fevereiro, o presidente criticou os políticos que rejeitaram sua proposta. Marinho, que vive conflito com Paulo Guedes (Economia), fez discurso para exaltar a importância de obras. Teve de interromper algumas vezes por causa de vaias para Renan Filho e aplausos para Lira. Falou até sobre combate a corrupção, na terra do centrão. Disse que o presidente, cujo filho foi denunciado sob acusação de rachadinha nesta semana, poderia bater no peito e dizer que não há casos de corrupção no governo. Collor, réu da Lava Jato, estava sentado ao lado do chefe do Executivo. Em maio, o ex-presidente e senador criticou Bolsonaro pelos acordos obscuros com centrão.

PAINEL - *”Pandemia e desemprego fizeram parlamentares mudarem de ideia sobre desoneração, diz deputado”*: A votação expressiva de 430 deputados e 61 senadores pela manutenção da desoneração da folha de pagamentos contrasta com a ampla aceitação dos parlamentares ao fim deste benefício em 2018. Naquele ano, o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) foi o responsável por negociar a permanência dos 17 setores (eram 56) até o fim de 2020 —ele diz que queria até 2021, mas foi vencido. E por que o Parlamento mudou de opinião agora? Silva, que foi relator do projeto, diz acreditar que tenha sido a pandemia e seus efeitos, como desemprego.

PAINEL - *”Mulher e irmã de braço direito de Eduardo Bolsonaro acusado de fake news têm cargos na Assembleia de SP”*: A mulher e a irmã de Paulo Chuchu, braço direito de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e candidato a vereador em São Bernardo do Campo, ocupam cargos na Assembleia Legislativa de São Paulo. Paulo Eduardo Lopes, o Chuchu, teve seus perfis e páginas bloqueados no Facebook após ter sido apontado como um dos principais nomes de esquema de disseminação de fake news pró-Bolsonaro e contra seus críticos. Policial civil, ele foi secretário parlamentar no gabinete de Eduardo Bolsonaro até junho. Como mostrou o Painel, Bolsonaro gravou vídeo em apoio à candidatura de Chuchu. A farmacêutica Joyce Lopes, mulher de Chuchu, foi nomeada em outubro para o cargo de assistente da deputada Valéria Bolsonaro (PSL), com salário de R$ 6.318. Juliana Lopes, a irmã, também é assistente e trabalha na liderança do PSL desde o final do ano passado, quando o deputado Gil Diniz (sem partido), posteriormente expulso do partido, ainda era líder da bancada. Ela tem vencimentos de R$ 8.138. Joyce disse ao Painel que já tinha histórico de trabalhos com política e por isso —e também por sua capacidade— foi escolhida pela deputada, que afirmou que a contratou por conhecê-la há muito tempo. Valéria Bolsonaro também disse que a formação em farmácia da assistente tem relação com as pautas de seu mandato, mas não especificou de que maneira.
Chuchu foi apontado em levantamento do Facebook como um dos principais administradores de conjunto de páginas que disseminavam notícias falsas para exaltar Bolsonaro e atacar deputados, ministros do STF e jornalistas. Paulo Chuchu registrou um site chamado Brazilian Post, que teve suas páginas no Facebook e Instagram removidas. Os sites promoviam a Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar, e atacavam rivais dos bolsonaristas e a mídia. Em agosto, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou recurso apresentado por ele para reaver suas contas na plataforma. Conforme revelado pelo Painel, dados da CPMI das Fake News mostrados pelo deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) à Polícia Federal ligariam Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pessoalmente ao esquema de ataques virtuais contra opositores da família. Em depoimento à Polícia Federal prestado em 29 de setembro, Frota levou diversos números de IPs de computadores de Brasília e do Rio que teriam sido identificados como participantes de ações de disseminação de fake news na internet. Segundo o parlamentar, os IPs estão ligados a um email oficial do filho do presidente. Segundo os dados levados à PF, alguns dos IPs foram identificados em computadores localizados em um imóvel no Rio de Janeiro na avenida Pasteur, no apartamento declarado por Eduardo à Justiça Eleitoral. Um outro IP foi relacionado a uma casa no Jardim Botânico, em Brasília, onde o deputado mora. O email identificado na utilização dos IPs, de acordo com Frota, é o bolsonaro.enb@gmail.com, o mesmo declarado por Eduardo no registro de sua candidatura em 2018

*”Russomanno recua mais e empata em 2º com Boulos e França; Covas vai a 28% e se isola em 1º, diz Datafolha”* - O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), se isolou na dianteira da corrida eleitoral na cidade, enquanto o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) agora empata na segunda colocação com Guilherme Boulos (PSOL) e com o ex-governador paulista Márcio França (PSB). Esses são os achados da nova pesquisa do Datafolha sobre a disputa na maior cidade do país. Ela foi feita em 3 e 4 de novembro, ouvindo 1.260 eleitores. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos. Em relação ao levantamento anterior do instituto, de 20 e 21 de outubro, Covas subiu de 23% para 28%. Já Russomanno perdeu quatro pontos, de 20% para 16%. Aqui, o que importa é tendência da curva: no início da campanha, em 21 e 22 de setembro, ele tinha 29%, indicando um derretimento análogo ao registrado pelo deputado nas eleições de 2012 e 2016, quando também saiu na frente na disputa. Com isso, o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na capital paulista agora empata estatisticamente no segundo lugar com Boulos, que manteve os 14% da rodada anterior, e França, que oscilou de 10% para 13%.
As notícias para o deputado são ainda piores quando é examinada a rejeição a seu nome. Ela começou no fim de setembro em 21%, subindo nos levantamentos seguintes para 29% (5 e 6 de outubro) e 38% (20 e 21 de outubro). Agora, atinge 47%. Já o prefeito tucano, que traz o desgaste de estar na cadeira para a disputa, viu o número de pessoas que dizem não votar nele de forma alguma oscilar de 31% para 25% no período. Rejeitam Boulos 22% e França, 14%. No período, já com o horário eleitoral em plena vigência, Russomanno aprofundou seus laços com Bolsonaro, a despeito de advertências em contrário de seu time de campanha. Como o próprio Datafolha mostrou anteriormente, padrinhos não são bem vistos em São Paulo. Isso vale, com sinal trocado, para Covas, que tem escondido o governador paulista, João Doria (PSDB), de sua campanha. O tucano no Palácio do Bandeirantes foi eleito prefeito em 2016 com Covas como seu vice, e legou o cargo ao disputar e vencer a eleição em 2018. Isso mostra um quadro turvo para quem esperava uma clara antecipação do embate entre Bolsonaro e Doria, previsto para 2022 na disputa presidencial, no pleito paulistano. O presidente se expôs e está se dando mal até aqui, mas sem uma disputa direta com o tucano.
As principais mudanças em termos de perfil de apoio ocorreram para Russomanno. Sua intenção de voto entre jovens de 16 a 24 anos despencou de 20% para 9% da pesquisa anterior para cá. Ele é rejeitado por 56% desse grupo, por 60% dos que têm curso superior e por 66% dos mais ricos. Covas segue com mais apoio entre quem tem mais de 60 anos (38%) e quem ganha mais de 10 salários mínimos (37%). Russomanno, ligado à Igreja Universal, pontua melhor no nicho evangélico (25%) e entre os mais pobres (24%) e menos instruídos (23%). Boulos tem um pico de apoio igual, de 29%, entre os mais jovens e os que fizeram faculdade. Mantém uma cunha no eleitorado petista, o qual abocanhou parcialmente para si: 15% dos simpatizantes do PT dizem votar nele, ante 23% que preferem o candidato da sigla, Jilmar Tatto. Já França tem uma base de apoio homogênea. Além de atacar a associação de Covas com Doria, ele tem centrado fogo também em Boulos como concorrente direto. Tatto segue na rota do pior desempenho de seu partido na capital paulista desde os anos 1980 —em 1988, Luiza Erundina (hoje vice na chapa de Boulos) foi a primeira prefeita petista da cidade, iniciando uma era de alternância de poder primeiro com o malufismo, depois com o PSDB. Ele tem 6%, oscilação de dois pontos ante os 4% da pesquisa anterior, já feita sob o horário eleitoral. Em 2016, na esteira da crise do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), o partido foi dizimado nas capitais. O prefeito paulistano, Fernando Haddad, não chegou nem ao segundo turno no pleito vencido por Doria na primeira rodada.
O movimento em relação à sigla nas capitais se repete neste ano, e o PT tem investido mais em cidades maiores no interior, onde recolhe melhores intenções de voto. Tatto encabeça o grande pelotão dos candidatos na lanterna. Ele é composto por Arthur do Val (o Mamãe Falei, do Patriota, 4%), Andrea Matarazzo (PSD, 3%), Joice Hasselmann (PSL, 3%), Levy Fidélix (PRTB, 1%), Orlando Silva (PC do B, 1%) e a dupla esquerdista Vera Lúcia (PSTU) e Antônio Carlos (PCO), que não pontuaram. Com a proximidade do pleito, daqui a 10 dias, ganha importância o conhecimento do eleitor do número de seu candidato. O Datafolha mostra que 45% sabem o número a digitar na urna, enquanto 44% não sabem. Erraram o número de seu candidato 6%, enquanto 5% dizem querer anular ou votar em branco, mas não sabem como. Tatto, com 71% de conhecimento, é o candidato melhor posicionado no quesito. Depois dele vêm Boulos (64%), Covas (47%) e França (46%). Russomanno fica bem para trás entre seus eleitores, com 21% de ciência de seu número. Os paulistanos também se dizem decididos sobre o voto, em sua maioria (57%). Aqui, entre os candidatos mais bem pontuados, a opção é mais firme entre quem vota em Boulos (72%). Entre quem apoia Covas, são 63%, entre eleitores de Russomano, 50%, e entre os de França, 45. Para 42%, pode haver mudança de intenção de voto. O prefeito Covas é o a mais lembrado como segunda opção, com 20% de citações. Depois vêm França (18%), Russomanno (13%) e Boulos (6%). Entre aqueles que votam em Covas e podem mudar, a maior fatia iria para França (32%). Dos eleitores do ex-governador, 30% poderiam mudar para Boulos, enquanto quem apoia o candidato do PSOL poderia migrar (25%) para Tatto. Já os eleitores de Russomanno mudariam para Covas (24%). A pesquisa foi contratada pela Folha e pela Rede Globo, e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo sob o número SP-06709/2020.

*”França vai melhor que rivais no segundo turno, mas todos perdem para Covas, diz Datafolha”*
ANÁLISE - *”Novas pesquisas do Datafolha refletem reações de campanhas e projetam novas variações”*
*”Kalil amplia vantagem em BH, atinge 65% e fica perto de vitória no 1º turno, diz Datafolha”*

*”Paes marca 31% e mantém vantagem no Rio; Crivella e Martha Rocha brigam pelo 2º lugar, diz Datafolha”* - O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) se mantém na liderança das intenções de voto para a Prefeitura do Rio de Janeiro a dez dias do primeiro turno, enquanto o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e a deputada estadual Martha Rocha (PDT) disputam o segundo lugar, de acordo com o Datafolha. O cenário é de estabilidade nos resultados gerais, comparado à pesquisa divulgada há duas semanas. Alguns indicadores, porém, mostram sinais de efeitos negativos na candidatura de Martha após ela se tornar alvo preferencial dos principais adversários. O candidato do DEM tem 31% da preferência dos eleitores da cidade que governou de 2009 a 2016, se mantendo estável em relação à pesquisa anterior, quando registrou 28% das intenções de voto. Crivella e Martha seguem empatados tecnicamente, com 15% e 13% das intenções de voto, respectivamente. O prefeito oscilou dois pontos percentuais positivamente em relação ao último levantamento, divulgado há duas semanas. A pedetista ficou estável. Em empate técnico com Martha está também a deputada federal Benedita da Silva (PT), com 8% no levantamento —ela, porém, não alcança o atual prefeito na margem de erro. A petista tinha 10% na pesquisa anterior. O Datafolha ouviu presencialmente 1.064 eleitores nos dias 3 e 4 de novembro. A pesquisa, em parceria com a TV Globo, tem margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Num terceiro grupo estão Luiz Lima (PSL), com 5%, Renata Souza (PSOL) e Bandeira de Mello (Rede), ambos com 3%. Aparecem com 1% das intenções de voto Clarissa Garotinho (PROS), Fred Luz (Novo), Cyro Garcia (PSTU) e Paulo Messina (MDB). Não alcançaram 1% os candidatos Henrique Simonard (PCO), Glória Heloíza (PSC) e Suêd Haidar (PMB). Declararam que pretendem votar em branco ou nulo 16%. Outros 3% se disseram indecisos. O levantamento foi feito após Crivella usar na televisão vídeo de apoio gravado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), principal aposta da equipe do prefeito nesta reta final. A pesquisa também reflete os efeitos dos ataques feitos pelas campanhas de Paes e Crivella à candidatura de Martha. Os dois buscaram vinculá-la ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB), por quem foi nomeada chefe de Polícia Civil, além de criticar resultados considerados ruins em sua gestão no órgão. Também associaram a imagem da delegada à do ex-ministro Ciro Gomes. Em relação à última pesquisa, as principais variações afetam negativamente a candidata do PDT. A rejeição à sua candidatura subiu de 7% para 11% —mantendo-se, contudo, em nível mais baixo que os principais concorrentes. Além disso, a deputada caiu sete pontos percentuais na simulação de um segundo turno contra Paes: foi de 45% das intenções de voto para 38%, enquanto o ex-prefeito variou de 41% para 44%. Nesse cenário, os dois estão empatados tecnicamente no limite da margem de erro. A pesquisa também mostra dificuldades para a candidata do PDT obter um eventual voto útil da esquerda para tentar levá-la ao segundo turno. Entre os eleitores de Benedita, Paes é o segundo voto preferencial (21%), enquanto Martha (12%) e Crivella (9%) estão em patamares semelhantes.​ Crivella segue como o candidato mais rejeitado. A maioria dos entrevistados (57%) afirma que não votaria no atual prefeito de jeito nenhum —percentual semelhante aos 58% registrados há duas semanas.
Em seguida, estão entre os mais rejeitados Paes (33%), Benedita (30%) e Clarissa Garotinho (29%) —também em patamares semelhantes aos da pesquisa anterior. Os demais apresentaram 13 pontos percentuais de rejeição ou menos. Na pesquisa espontânea, aquela em que o entrevistado manifesta sua intenção de voto sem que lhe sejam apresentadas as opções, 22% disseram que pretendem votar em Paes —há duas semanas eram 20%— e 11% em Crivella —contra 8% na pesquisa anterior. Martha aparece nesse levantamento com 8%, oscilando positivamente um ponto. Os demais candidatos aparecem, nesse tipo de levantamento, com cinco pontos percentuais ou menos. Quase um terço dos eleitores (29%) não manifestou espontaneamente sua intenção de voto. O Datafolha também simulou cenários de segundo turno. Na disputa entre Paes e Crivella, o ex-prefeito tem 53% das intenções de voto contra 25% do atual. Num cenário em que enfrenta Benedita, o ex-prefeito tem a preferência de 48% do eleitorado, contra 27% da petista. Crivella chegou a ter a candidatura ameaçada em razão da condenação que sofreu no TRE-RJ por conduta vedada a agentes públicos na campanha de 2018.
A Justiça entendeu que ele convocou funcionários da Comlurb (empresa pública de limpeza urbana) para ato de pré-campanha de seu filho Marcelo Hodge Crivella, candidato a deputado federal —ele não foi eleito. A Lei da Ficha Limpa impede a candidatura de pessoas condenadas por órgãos colegiados por conduta vedada. Crivella, porém, conseguiu uma liminar para suspender os efeitos da condenação na análise do seu registro de candidatura. O atual prefeito do Rio já escapou de cinco pedidos de impeachment na Câmara Municipal. A última votação ocorreu no dia 17 de setembro e terminou com o placar de 24 a 20 pela rejeição do processo. O início da campanha eleitoral na capital fluminense foi marcado por duas operações policiais contra os dois principais candidatos. Paes foi alvo de busca e apreensão em razão de uma acusação por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral pela prática de caixa dois na eleição de 2012 com dinheiro da Odebrecht. Crivella, por sua vez, é investigado sob suspeita de participação num esquema de cobrança de propina dentro da prefeitura.​

*”Marília Arraes reduz diferença para o líder João Campos no Recife, aponta Datafolha”* - A dez dias das eleições, o deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, permanece consolidado na liderança da corrida pela Prefeitura do Recife, aponta pesquisa Datafolha. Apoiado pelo prefeito Geraldo Julio (PSB), Campos manteve os 31% das intenções de voto registrados no levantamento anterior. Enquanto isso, a deputada federal Marília Arraes (PT) reduziu a diferença para o seu primo, chegando a 21%. Ela está tecnicamente empatada com o ex-ministro Mendonça Filho (DEM), que tem 16%. Ele, por sua vez, está tecnicamente empatado com a delegada Patrícia Domingos (Podemos), que marcou 14%. O Datafolha ouviu presencialmente 924 eleitores nos dias 3 e 4 de novembro. A pesquisa, feita em parceria com a TV Globo, tem margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos. No levantamento anterior, Marília tinha 18%, Delegada Patrícia aparecia com 16%, e Mendonça Filho marcava 15%. Declararam voto branco ou nulo 12% dos entrevistados, enquanto 3% não souberam responder. Coronel Feitosa (PSC) tem 2%, enquanto Carlos Andrade Lima (PSL) e Charbel (Novo) aparecem com 1% cada. Thiago Santos (UP), Marco Aurélio (PRTB), Cláudia Ribeiro (PSTU) e Victor Assis (PCO) não pontuaram.​ O Datafolha também mediu o índice de rejeição dos candidatos. Pela primeira vez, a delegada Patrícia Domingos aparece numericamente à frente neste ranking, com 35% dos entrevistados afirmando que não votariam nela de jeito nenhum. João Campos tem 34%, seguido por Mendonça Filho, com 32%, e Coronel Feitosa, com 30%. Marília Arraes é rejeitada por 26% dos entrevistados.
Na pesquisa espontânea, quando os nomes dos candidatos não são mostrados ao entrevistado, João Campos aparece com 19%, Marília Arraes tem 16%, Mendonça Filho, 11%, e Delegada Patrícia, 7%. Nesse cenário, 26% não souberam responder, e 12% disseram votar em branco ou nulo.​ A pesquisa aponta que, em um hipotético segundo turno entre Campos e Marília, o candidato do PSB tem 43% ante 35% da petista. Declararam voto em branco ou nulo 20%, e não souberam responder 2%. Campos tem 49% se enfrentasse Mendonça Filho, com 33%, em um eventual segundo turno. Nesse cenário, 17% afirmaram votar em branco ou nulo, e 2% não souberam responder. Em um eventual segundo turno entre Campos e Delegada Patrícia, ele tem 50% das intenções de voto, e ela, 31%. Nesse cenário, 17% afirmaram votar em branco ou nulo, e 1% não soube responder. Líder desde o primeiro levantamento do Datafolha, o filho do ex-governador Eduardo Campos (morto em 2014) é o alvo preferencial dos ataques desferidos pelos três principais adversários. Ele segue a estratégia adotada desde o início da campanha de não responder diretamente aos oponentes. Com a gestão mal avaliada em pesquisas e desgastado por recorrentes operações da Polícia Federal na prefeitura, Geraldo Julio continua sem aparecer de maneira intensa na propaganda do pessebista. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), também não é usado como cabo eleitoral. Campos foi chefe de gabinete de Câmara antes de ser eleito deputado federal, em 2018. A propaganda de Campos tem insistido na tese de que os adversários só sabem falar mal da cidade. Em uma das peças publicitárias, a campanha do candidato do PSB aposta no bairrismo recifense para tentar desconstruir os oponentes.
Um cão raivoso, que simboliza os adversários, aparece latindo. “Será que uma campanha precisa ser assim? Com cara feia e gosto ruim para tudo?”, questiona a propaganda. Principal adversária do pessebista no campo da esquerda, Marília Arraes tem usado, com ainda mais intensidade, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como possível puxador de votos na capital pernambucana. Na semana passada, ela esteve em São Paulo para gravar vídeos ao lado do petista. Nas peças publicitárias, Lula aparece em um estúdio conversando com a candidata sobre vários temas ligados ao Recife. Marília também tem usado com bastante frequência a imagem do avô Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco. Ele é bisavô de João Campos. "É Lula. É Arraes. É Marília Arraes", diz o slogan da candidata. Em um programa eleitoral sobre habitação popular, Marília se diz indignada porque, segundo sua avaliação, o grupo de João Campos só usa a imagem de Arraes para ganhar voto. "Mas na prática, quando chega na gestão, desonra totalmente a luta e a história de Arraes." No campo da direita, o principal embate ocorre entre Mendonça Filho, que foi ministro da Educação no governo Michel Temer (MDB), e a delegada Patrícia Domingos, que pela primeira vez se candidata a um cargo eletivo. Os dois disputam a mesma parcela do eleitorado e tentam se firmar como capazes de derrotar "a esquerda, que governa o Recife há 20 anos".
Nos últimos dias, após queda das pesquisas, Mendonça partiu para o ataque. Nas redes sociais, ironizou o fato de a delegada ser do Rio de Janeiro. Ele também tem usado com frequência postagens da delegada feitas em 2011 em que ela se refere à capital pernambucana como “Recífilis” e diz que nunca tinha visto tanta gente feia reunida. Patrícia Domingos tem batido na tecla de que representa a única candidatura com força suficiente para derrotar o PSB em um eventual segundo turno. Nesta semana, a campanha da delegada rebateu os ataques de Mendonça e disse que ele preserva a candidata do PT, Marília Arraes. “Mendonça dá a entender que desistiu da disputa e está satisfeito com a alternância entre PT e PSB, que já dura 20 anos na nossa cidade. Essa política envergonha o povo do Recife."

*”Entenda a diferença entre voto em branco e nulo e como se contam os votos válidos na eleição”*
*”Covas comete ato falho sobre apoio de Doria em sabatina Folha/UOL, defende vice e ataca Russomanno”*
*”Na sabatina Folha/UOL, Covas erra dado sobre vagas em creches de São Paulo”*

ANGELA ALONSO - *”Metamorfose pela metade”*

*”Bolsonaro diz que deve buscar no Congresso 'sistema eleitoral confiável' para 2022”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira (5) que pretende no ano que vem apoiar projetos no Congresso com o objetivo de ter um "sistema eleitoral confiável" em 2022 e defendeu o voto impresso. As declarações de Bolsonaro ocorreram em meio às eleições presidenciais nos EUA e a dez dias das eleições municipais brasileiras. Além do mais, o presidente deve concorrer à reeleição em 2022. "Temos sim, já está bastante avançado o estudo. A gente espera ano que vem entrar, mergulhar na Câmara e no Senado, para que a gente possa realmente ter um sistema eleitoral confiável em 22", declarou Bolsonaro, durante uma live transmitida nas redes sociais. Ele disse ainda que uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que prevê que o voto eletrônico seja impresso e depositado em outra urna pode ser apoiado pelo governo. "Tem uma PEC da [deputada] Bia Kicis (PSL-DF) que pode ser aproveitada nisso aí, voltando o voto impresso. Que é a maneira que você tem de auditar e contar os votos de verdade aqui". O mandatário fez referência ao que "acontece em outros países" e que quer "buscar um sistema que seja confiável por ocasião das eleições". Bolsonaro não mencionou a qual país se referia. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem feito acusações no Twitter de que seria vítima de uma fraude na apuração do pleito em seu país. As projeções das emissoras americanas mostram que o democrata Joe Biden é o favorito a conquistar a Casa Branca. Bolsonaro é admirador declarado de Trump e já falou publicamente que torce pela reeleição do americano. O modelo americano é estadualizado e há diferentes formas de votação, inclusive por cédula impressa. A proposta de Bia Kicis, por sua vez, insere um parágrafo no artigo 14 da Constituição brasileira para determinar que, na votação e apuração de eleições, plebiscitos e referendos, seja obrigatória a expedição de cédulas físicas, conferíveis pelo eleitor, “a serem depositadas em urnas indevassáveis, para fins de auditoria”.
O presidente Bolsonaro defendeu o voto impresso em outras ocasiões e já questionou —sem embasamento— a apuração do próprio pleito que o elegeu para liderar o país. Em março, ele disse que houve fraude eleitoral em 2018 e que ele foi eleito no primeiro turno. "Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito no primeiro turno mas, no meu entender, teve fraude", disse na ocasião. Ele nunca apresentou as provas que disse ter em suas mãos. Ele foi eleito em segundo turno, numa disputa com o petista Fernando Haddad. Na mesma live de quinta, Bolsonaro defendeu ainda a federalização de Fernando de Noronha. O arquipélago atualmente é parte do estado de Pernambuco, mas a administração do parque nacional na ilha está a cargo do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). "Agora, eu sugeri a gente federalizar Fernando de Noronha, porque parece que virou ali uma ilha de amigos do rei. O rei não sou eu", disse. Ele voltou a criticar a taxa de visitação na ilha e disse que quer fazer de Noronha um "polo turístico". "Vamos tentar, se for possível a gente federalizar Fernando de Noronha, acabar com essas questões. Fazer realmente um polo turístico, ouvi dizer que há um tempão não para navio lá, não pode parar navio lá", acrescentou. Poderia ser um local, arranjar recursos para o Brasil vindos de fora, para o turismo. [Para] dar uma condição de vida melhor para a população, não pode aquela ilha ter dono".

*”TSE libera show virtual, e Caetano fará evento de arrecadação para Manuela e Boulos”* - O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) permitiu nesta quinta-feira (5) que Caetano Veloso faça um show online pago que irá arrecadar fundos para as campanha de Manuela D’Ávila (PC do B), candidata à Prefeitura de Porto Alegre, e Guilherme Boulos (PSOL), candidato em São Paulo. Os ministros derrubaram a decisão do TRE-RS (Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul) de proibir a apresentação após ação do candidato Gustavo Paim (PP), atual vice-prefeito de Porto Alegre. O tribunal regional entendeu que o evento se caracterizaria como um showmício, prática banida pela minirreforma eleitoral de 2006. A proibição, derrubada nesta quinta pelo TSE, havia sido decidida após Caetano anunciar um único show para a arrecadação de duas campanhas: da candidata de Porto Alegre e de Guilherme Boulos (PSOL), que concorre à prefeitura de São Paulo. Apesar de a proibição ter sido direcionada à Manuela, a decisão do TRE-RS interferia indiretamente no show para Boulos. "Como a ideia era fazer em conjunto, no mínimo tinha uma insegurança jurídica muito grande. Como tinha uma ação questionando um evento conjunto, evidente que a campanha do Boulos estava esperando uma definição", afirma Francisco de Almeida Prado, advogado da campanha de Boulos. O show estava previsto para este sábado (7), mas foi marcado para o dia 12 de novembro, quinta-feira, em formato fechado e com ingresso de R$ 60. As doações serão divididas entre as campanhas de Manuela e Boulos.
Os ministros do TSE Luís Felipe Salomão, Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio, Luís Edson Fachin, Tarcísio Vieira de Carvalho e Sergio Banhos, porém, entenderam que o evento se enquadra em ato político de arrecadação, o que é permitido e, antes da pandemia, era comum em formato de jantares fechados pagos para arrecadação de recursos. Eles ressaltaram que eventual excesso deve ser julgado posteriormente, não cabendo vedação prévia ao show. O ministro Mauro Campbell divergiu e votou para manter a decisão do TRE-RS. O tribunal gaúcho havia proibido o evento, em um julgamento que acabou 4 a 3. No TSE, prevaleceu a posição do relator, Luís Felipe Salomão, que defendeu que não seria adequado afirmar, de antemão, que será um showmício. “Descabe à Justiça Eleitoral, no plano abstrato, concluir previamente que determinada conduta —a princípio consentânea com os dispositivos sobre a arrecadação de recursos de campanha– terá outra conotação que possa torná-la ilícita”, afirmou. O ministro ressaltou que posteriormente a Justiça pode verificar se o ato configurou alguma prática proibida pela legislação. “O deferimento do efeito suspensivo da decisão do TRE-RS, permitindo-se o evento, não impede que esta Justiça realize controle posterior, no exercício de sua competência jurisdicional, mediante provocação, com base no fato concreto, tomando as providências eventualmente cabíveis”, disse. O ministro Marco Aurélo citou música do próprio Caetano Veloso para acompanhar a maioria. “É proibido proibir. A atuação da Justiça Eleitoral não pode ser prévia, não pode a priori dizer as consequências eleitorais para proibir-se antemão certo ato.”
Barroso também seguiu o relator e argumentou que a candidata do PC do B não pagou para que Caetano faça a apresentação. Pelo contrário, o evento servirá para arrecadação de fundos. Ele destacou ainda que não há previsão de discurso da candidata no evento. "Não estamos diante de um evento de propaganda de candidatura nem de um showmício, o que temos é um show pago, com finalidade de arrecadar recursos, inclusive sem pronunciamento da própria candidata." O magistrado ponderou que o evento está de acordo com a lei. “É uma prática legítima, que não é propaganda, que não envolve pessoa jurídica fornecendo produtos, de modo que eu veria como uma interpretação indesejadamente expansiva de uma norma restritiva nós impedirmos a realização deste evento.” O ministro Tarcísio também defendeu que “eventuais excessos devem ser valorados posteriormente” e que não cabe atuação prévia da Justiça. “Mostra-se demasiadamente inquietante o juízo de valor prévio elocubrado, exercido pelo Judiciário, no sentido de impedir a realização do ato com um cariz preventivo impresso na decisão. Quero com isso afirmar que eventuais excessos devem ser valorados prospectivamente, e não de forma presumida”, disse. Campbell foi o único a entender que o ato configuraria showmício. O ato, show artístico para a promoção de candidatos, foi proibido em 2006. Uma das motivações na época foi que esses eventos davam vantagem às campanhas mais ricas, que contratavam artistas famosos e atraíam o público pelo entretenimento, não necessariamente pelas propostas dos partidos.

REINALDO AZEVEDO - *”A democracia e as mulheres estão sob o ataque de rifles e machos”*
*”Tribunal misto mantém processo de impeachment contra Witzel e decide retirá-lo de palácio do governo”*

*”Fogo no Pantanal afeta ambiente e pecuária, mas corrupção norteia eleição em Corumbá”* - O ano de 2020 foi especialmente duro para Corumbá, município de Mato Grosso do Sul que concentra quase metade do Pantanal. Primeiro, a Covid-19 paralisou o turismo e fechou a fronteira com a Bolívia. Em seguida, as queimadas devastaram a fauna e a flora, deixaram o ar enfumaçado por semanas e destruíram pastagens. Neste ano, a Cidade Branca, como é conhecida, foi o município do país que mais registrou queimadas. Houve 7.985 focos do início de 1º de janeiro até 28 de outubro, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Além do impacto ambiental, a pecuária do Pantanal foi duramente afetada. Muitos fazendeiros tiveram de retirar o gado para escapar do fogo. Houve grande perda de pastos e cercas. Corumbá tem 1,8 milhão de cabeças de gado —o equivalente a 16 bovinos para cada pessoa. Para o vendedor Diego Taborda, 2020 é um ano para esquecer. Desde março, a epidemia deixou vazia a loja de pesca onde trabalha, no centro de Corumbá. Dois dos quatro funcionários da loja foram demitidos. “O pior é a queimada. A Covid-19 afeta o ser humano, mas a gente tem como se defender. A natureza, não. O Pantanal se desgastou muito”, diz o jovem de 21 anos. Apesar da tragédia ambiental e da epidemia, o tema que predomina na campanha tem sido a corrupção. O principal motivo é o recente escândalo em torno do prefeito Marcelo Iunes (PSDB).
Candidato a permanecer no cargo, ele comanda a cidade desde o final de 2017, após a morte do também tucano Ruiter Cunha, por problemas cardíacos. Em 6 de outubro, a Polícia Federal realizou a Operação Offset, que investiga licitações da administração municipal. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, incluindo a prefeitura e a casa de Marcio Iunes, irmão de Marcelo. As diligências resultaram no confisco de R$ 44 mil em dinheiro. O prefeito nega as acusações. A operação contra Iunes tem sido citada principalmente pelo vereador e candidato a prefeito Gabriel Alves (PSD). Recentemente, a Justiça Eleitoral negou ao prefeito um pedido de direito de resposta no programa eleitoral do adversário. Mas Alves, que é médico, também tem um escândalo para chamar de seu. Em 13 de outubro, o site Campo Grande News revelou que ele sofreu uma censura pública do CRM (Conselho Regional de Medicina) por causa de um vídeo em que aparece ironizando um paciente inconsciente. Durante um procedimento cirúrgico para a retirada de um coco (a fruta) do reto, Alves e outro médico fazem piadas sobre o paciente. Um deles diz, entre risadas: “Você se lembra da sua infância, né?”.
Outro candidato competitivo é o ex-prefeito Paulo Roberto Duarte (MDB). O economista já foi filiado ao PT, quando comandou a Secretaria de Fazenda no governo de José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT. Daquela época, o ex-petista responde a uma ação civil pública no STF (Supremo Tribunal Federal) por irregularidades no direcionamento do ICMS pago pela Petrobras ao governo estadual. O processo tramita desde 2004 em segredo de Justiça. Para o professor de história corumbaense Ahmad Schabib Hany, 61, o tema da corrupção se limita a uma troca de acusações, sem plano de atuação. Ele afirma que ausência de temas ambientais e da área rural na campanha não são uma surpresa. Segundo ele, apesar de o município ter uma área grande —comparável ao estado da Paraíba—, historicamente os sucessivos prefeitos se preocupam apenas com o casco urbano. "Nenhum prefeito de Corumbá governou o município em pouco mais de cem anos de emancipação. Todos se limitaram a ser reles gestores do quadrilátero central do perímetro urbano”, afirma Hany. Indiretamente, o incêndio criou um dos principais temas da campanha, a internet precária. Por causa do fogo, que danifica os cabos de fibra óptica, os problemas de conexão se tornaram mais frequentes. Em outubro, a cidade chegou a ficar quase um dia sem internet banda larga. Apesar da importância da pecuária, os fazendeiros têm participação de baixo perfil na política. A presença mais destacada é a do presidente do Sindicato Rural, Luciano Leite, que, na prefeitura, ocupa o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável. Ao todo, são seis candidatos a prefeito. Além dos já citados, concorrem Anisio Guató (PSOL), Joseane Garcia (PRTB) e Elano Almeida (PSL).

*”'Não me ancoro em nenhuma candidatura presidencial', diz Paes durante sabatina Folha/UOL”*
*”Câmara confirma cassação de Manuel Marcos, condenado por uso indevido do fundo partidário”*
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*”Indicado de Bolsonaro é empossado no STF, e Fux elogia currículo e 'independência olímpica'”* - O primeiro indicado do presidente Jair Bolsonaro a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), Kassio Nunes Marques, 48, tomou posse na corte nesta quinta-feira (5). Ele assume a vaga deixada por Celso de Mello no órgão de cúpula do Poder Judiciário. Há grande expectativa em relação à posição que adotará o indicado do chefe do Executivo em diversos julgamentos. O rito da cerimônia de posse de novo ministro é sempre o mesmo e nunca há discurso do empossado. Apenas o presidente da corte, Luiz Fux, fez uma saudação ao novo colega. De maneira breve, desejou boas vindas ao novo integrante do STF e disse que ele cumpre todos os requisitos para ser ministro do Supremo. "Vossa excelência tem reputação ilibada, vossa excelência tem pelo seu currículo notório saber jurídico, vossa excelência tem conhecimento enciclopédico e, acima de tudo, independência olímpica”, disse. Elogiado por Fux, o currículo do novo ministro foi contestado depois de seu nome despontar como o favorito de Bolsonaro para o cargo. Um dos questionamentos surgiu devido à dissertação de mestrado e à tese de doutorado dele apresentarem trechos idênticos a artigo do advogado Saul Tourinho Leal.
Kassio Nunes Marques, porém, citou na sabatina no Senado Federal que o próprio advogado afirmou não haver plágio. Outro ponto levantado no processo de indicação foi o fato de constar em seu currículo acadêmico uma pós-graduação na Universidade de La Coruña. A instituição desmentiu a informação e ele atribuiu a controvérsia a um erro de tradução, uma vez que, na verdade, Nunes Marques fez um "postgrado", um curso de quatro dias na universidade espanhola. Ao final da cerimônia, questionado sobre qual será o desafio do magistrado, Fux respondeu: "O desafio é pertencer ao STF". Na solenidade, Kassio Nunes Marques apenas leu o termo de posse. Ele foi levado até a leitura pelo ministro mais antigo presente no plenário, Gilmar Mendes, e pelo mais novo, Alexandre de Moraes. A aposta é que ele se alinhará à ala do tribunal contrária à Lava Jato na análise de matérias criminais. Em pautas como descriminalização das drogas e do aborto, criticadas por Bolsonaro, o novo ministro deve seguir a linha defendida pelo presidente caso os julgamentos ocorram, o que ainda não tem data marcada. O novo ministro optou por ser chamado de Nunes Marques nas sessões da corte. Ele herdará de Celso um acervo de 1.668 processos, sendo 834 em tramitação no gabinete e outros 834 em curso na Secretaria Judiciária aguardando publicação. Em alguns deles, Celso já proferiu decisão.
A cerimônia contou com a presença física de Bolsonaro e dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do próprio Supremo, Luiz Fux. O procurador-geral da República, Augusto Aras, o chefe da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, e os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin também estavam no plenário. Antes de chegar so STF, Kassio Nunes Marques atuava como juiz do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) desde 2011. Ele foi nomeado ao cargo pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), graças à proximidade com caciques políticos do MDB e com Wellington Dias (PT), governador da terra natal do magistrado, o Piauí. A escolha de Bolsonaro pegou os mundos político e jurídico de surpresa. No começo do governo, a expectativa era que o primeiro indicado do chefe do Executivo à corte fosse Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato, operação que Bolsonaro exaltava durante as eleições. Moro, no entanto, pediu demissão do governo com graves acusações a Bolsonaro, afirmando que o presidente tinha a intenção de interferir na autonomia da Polícia Federal. Com a saída de Moro do páreo, ganharam força os nomes de seu sucessor no ministério, André Mendonça, e do então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira —que acabou indicado para o TCU (Tribunal de Contas da União).
Além de pegar aliados de surpresa, a escolha de Kassio Nunes Marques foi alvo de duras críticas da militância de Bolsonaro, que esperava a indicação de um defensor da Lava Jato. A indicação frustrou apoiadores do governo por se tratar de um magistrado de perfil garantista e com visões opostas às da operação, como na discussão sobre a prisão após condenação em segunda instância. Como a jurisprudência do Supremo de determinar o cumprimento de pena após o fim do processo foi decidida por 6 a 5, a eventual nomeação de alguém contrário a essa tese (caso do ex-ministro Sergio Moro) poderia reverter o entendimento do tribunal a respeito. A mesma divisão do tribunal é vista em outros temas importantes para o futuro da operação. A indicação de Kassio Nunes Marques foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado por 22 votos a 5 e por 57 votos a favor, 10 contra e uma abstenção no plenário da Casa. Parlamentares de esquerda, direita e do centrão aprovaram a escolha de Bolsonaro. Na sabatina na CCJ, ele foi exaltado por petistas e criticado por lavajatistas. Um dos padrinhos da indicação, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), investigado pela Lava Jato, rasgou elogios. O juiz retribuiu as palavras e afirmou ter ficado emocionado com o discurso do parlamentar, que rebateu as críticas feitas à escolha e exaltou o fato dele ser um magistrado de origem nordestina. Na sabatina, Kassio Nunes Marques fez acenos à militância bolsonarista ao se dizer um “defensor da vida” e contrário à descriminalização do aborto além das hipóteses aceitas atualmente. Ao mesmo tempo, ele fez questão de se classificar como um juiz garantista.
O juiz repetiu em diversos momentos que não há antagonismo entre essa corrente do direito e a Lava Jato. Ele ponderou que correções devem ser feitas quando há exageros, mas não citou exemplos. Também disse que não atuará para “estancar” a operação, mas ressaltou que como qualquer outro processo a tendência é que as investigações tenham um fim. “Normalmente vai até exaurir o objeto." Nunes Marques também deixou de responder inúmeras perguntas importantes sob o argumento de que pode se deparar com os temas caso seja aprovado para o STF. Pessoas próximas a ele o classificam como um magistrado levemente conservador que, nos últimos dois anos, ajustou seu discurso e se alinhou à visão de Bolsonaro em temas de comportamento. A modulação no discurso, segundo interlocutores, buscava pavimentar seu caminho ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas ele surpreendeu positivamente nas conversas e, então, seu nome passou a ser considerado para o Supremo. Nas articulações para a escolha de Kassio Nunes Marques, Bolsonaro priorizou a relação com o ministro Gilmar Mendes, que é relator da ação em que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) pede para ter o foro especial mantido, e com Dias Toffoli, que se aproximou do presidente quando comandou o Supremo. O movimento de Bolsonaro não prestigiou o atual chefe da corte, ministro Luiz Fux, que não foi consultado sobre o nome indicado e foi alijado das negociações.

*”Ministério Público pede que Flávio Bolsonaro perca mandato ao fim de processo da 'rachadinha'”*

*”Brasil importa soja dos EUA para repor exportação para China”* - Maior produtor mundial de soja, o Brasil terá que contar com importações dos Estados Unidos para enfrentar a entressafra após exportações em massa para a China no primeiro semestre. A necessidade de importações reflete a queda nos estoques internos provocada pelo grande volume de exportações e pelo aumento da demanda doméstica. Ocorre em um momento de preços elevados do grão, que está mais caro do que nos meses em que o país vendeu sua produção ao exterior. A estimativa da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) é que o volume importado pelo Brasil chegue a cerca de um milhão de toneladas em 2020, sete vezes superior ao verificado no ano anterior. As exportações devem ficar na casa de 82 milhões de toneladas, alta de 10%. Apenas em outubro, o Brasil importou 71 mil toneladas, contra 1,3 mil no mesmo período do ano anterior. Nos primeiros dez meses de 2020, já foram 600 mil toneladas, 379% a mais que em 2019, destacou a coluna Vaivém das Commodities, publicada pela Folha, que já alertava para o aumento das importações. Até setembro, as exportações vieram principalmente do Paraguai, que já é um tradicional fornecedor do Brasil, que compra soja do país vizinho também para reexportação. Mas nas últimas semanas, o departamento de agricultura dos Estados Unidos começou a registrar embarques para o Brasil.
Segundo a agência Reuters, o volume de soja americana importada deve atingir este ano o maior patamar desde 1997. A busca por suprimento nos Estados Unidos indica um desequilíbrio no mercado, apesar da safra recorde. Pelas estimativas da Abiove, o Brasil fechará o ano com estoques de cerca de 320 mil toneladas, um décimo do verificado no ano anterior. "A gente exportou tanta soja que faltou soja no mercado interno", afirma José Carlos Vannini Hausknecht, da consultoria MB Agro. Entre janeiro e julho, quando a maior parte da safra é comercializada, o Brasil exportou 69,7 milhões de toneladas, 36,4% a mais do o volume registrado no mesmo período do ano anterior. Principal cliente, a China comprou 50,5 milhões de toneladas no período, 32,2% a mais do que em 2019. Hausknecht diz que o apetite do país resulta de um temor de que a pandemia provocasse rupturas na cadeia de comércio de alimentos, o que a levou a buscar estoques tanto para consumo humano quanto para a criação animal. Com a retração das exportações argentinas em meio à crise econômica local e a safra americana só disponível no segundo semestre, o Brasil acabou se tornando o único grande fornecedor global naquele período.
O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, acrescenta que houve também aumento do consumo interno após o início da pandemia, com o brasileiro comendo mais em casa. "Além disso, teve o auxílio emergencial e as pessoas ficaram com mais dinheiro." As compras são feitas com cotações bem superiores às do período da comercialização da safra. Em outubro, a cotação do grão ultrapassou os US$ 1 mil (cerca de R$ 5,5 mil pela cotação atual) por bushel (unidade de medida equivalente a 27,2 quilos). No primeiro semestre, oscilava em torno dos US$ 850 (R$ 4,7 mil). Os elevados preços e a falta de óleo de soja no mercado levaram o governo a zerar as tarifas de importação da soja, em uma tentativa de reequilibrar a oferta no país. O cenário também tem impacto no mercado de combustíveis, com a escalada do preço do biodiesel que é misturado ao diesel de petróleo vendido nos postos. Para Hausknecht, a situação tende a se estabilizar com a colheita da próxima safra, no primeiro semestre de 2021. A safra americana, diz, está vindo melhor do que a anterior, o que deve ajudar a estabilizar o mercado global. "Acho que ano que vem vai ser mais normal, porque os Estados Unidos vão vender bastante soja e o mercado deve ficar mais tranquilo", diz.
O economista-chefe da Abiove, André Furlan Amaral, concorda: a entidade espera que próxima safra seja recorde e as importações caiam á metade. Ele avalia que, apesar da necessidade importações, o cenário de 2020 tem sido muito positivo para o setor, com safra recorde e boa demanda internacional. "O Brasil conseguiu aproveitar as melhores oportunidades tanto no mercado interno quando no mercado externo e agora, de maneira bastante madura, faz uso do fluxo de importações para complementar aquilo que for necessário", afirma. "A importação é maior que nos anos anteriores, mas é pequena se comparada ao tamanho do complexo soja no Brasil." Em nota, o Ministério da Agricultura reconheceu que importações dos Estados Unidos não são comuns, mas afirma quer "importar e exportar constituem operações triviais e dependem apenas dos sinais dos preços". "A forte demanda internacional em 2020 foi atraente para as exportações antecipadas no Brasil. Aliás, se recomenda como proteção de ganho do produtor a venda antecipada do produto", diz, acrescentando que a safra que está sendo plantada já está praticamente vendida, aproveitando as altas cotações internacionais.
+++ O ótimo desempenho do agronegócio em 2020 é um excelente exemplo para a população de que o “agro” não distribui riqueza. A produção mecanizada limita a cadeia de empregos derivada da produção agrícola e a riqueza produzida fica nas mãos de poucas pessoas. Enquanto isso, a fome e a pobreza se alastram pelo país.

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NELSON BARBOSA - *”Dilma acertou na desoneração da folha?”*: O Congresso Nacional derrubou o veto de Bolsonaro à prorrogação da desoneração da folha. Com isso, em 2021, empresas de vários setores continuarão a contribuir para o INSS com um percentual sobre seu faturamento, em vez de um percentual sobre sua folha salarial. A desoneração da folha (na verdade, uma mudança de base de arrecadação para o INSS) foi criada pelo governo Dilma, no fim de 2011, como uma “desvalorização fiscal” para compensar o impacto da apreciação cambial daquela época sobre a competitividade de alguns setores. A ideia era que, mudando a base de contribuição para a Previdência, da folha para o faturamento, o custo relativo do trabalho seria menor, estimulando formalização e aumento do emprego em setores intensivos em trabalho. A medida não era uma jaboticaba. O mesmo princípio de mudar base de arrecadação para Previdência Social já havia sido realizado parcialmente em alguns países europeus. Nossa mudança de base de arrecadação se tornou desoneração porque a alíquota inicialmente estabelecida sobre o faturamento não compensava a retirada da contribuição sobre a folha. O plano era corrigir isso gradualmente no futuro, à medida que os setores beneficiados aumentassem sua produção e emprego, podendo contribuir mais para a Previdência. Tudo mudou de figura a partir de 2012. Com a mudança do cenário internacional, a “marolinha de 2008” virou a “pororoca de 2012-16”. A longa queda dos preços das commodities exportadas pelo Brasil, ao lado do esgotamento da estratégia de “crescimento por distribuição” iniciada em 2006, mudou a trajetória de expansão da economia brasileira. O governo respondeu à mudança de cenário com reedição das medidas anticrise de 2008-09, como se o choque negativo fosse temporário. O choque não foi temporário. O choque durou até 2016, e a desoneração da folha entrou no balaio das políticas expansionistas de 2012-14, sendo ampliada para mais setores, nem todos sujeitos a perda de competitividade internacional. Houve desoneração do transporte urbano, para evitar grande aumento de tarifas. Houve desoneração para a mídia, para desestimular contratação de trabalhadores (sobretudo de alta remuneração) como pessoas jurídicas.
A desoneração da folha se tornou excessiva, com efeito duvidoso sobre emprego e produção, mas perda crescente de receita para a Previdência. A situação começou a ser corrigida em 2015, ainda no governo Dilma, com proposta de elevação da alíquota sobre o faturamento. O golpe de 2016 embaralhou as coisas, com o “dreadteam” de Temer propondo o fim puro e simples da desoneração da folha. Porém, como a medida de Dilma tinha méritos, não somente falhas, o governo Temer não atingiu seu objetivo e deixou o problema (mais um) para seu sucessor. Em um acordo político, Temer previu que a desoneração da folha acabaria em 2020. Agora o Congresso reconheceu mais uma vez que Temer estava errado. Que a desoneração de Dilma estava correta e deve continuar. Porém, como a prorrogação da desoneração da folha tem validade de um ano, voltaremos ao mesmo debate no segundo semestre do 2021, quando a maioria dos pré-candidatos presidenciais de 2022 prometerá prorrogar o benefício. Enquanto não chegamos lá, o ideal seria tornar permanente a mudança de base de arrecadação da Previdência, com elevação gradual da contribuição sobre o faturamento. Porém, diante da atual postura de nossa equipe de ideologia econômica, o mais provável é outra prorrogação da desoneração da folha em 2021, deixando o problema para quem ganhar a eleição de 2022.

*”Governo planeja recorrer ao STF contra derrubada de veto à desoneração”*

*”Entidades estimam economia de R$ 10 bi com manutenção da desoneração da folha”* - A derrubada do veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à prorrogação da desoneração da folha de pagamentos foi motivo de comemoração para empresários e entidades ligados aos 17 setores envolvidos. Segundo estimativa feita por associações dos setores, o veto do presidente teria um custo de R$ 10 bilhões para as empresas que deixariam de contar com o benefício tributário no momento em que a recuperação da economia, baqueada pela Covid-19, ainda não se consolidou. O setor têxtil, por exemplo, estima que as 1225 companhias contempladas com a desoneração teriam um custo total de R$ 270 milhões a mais por ano. “O número é significativo. Cerca de 80% das empresas do setor são beneficiárias do simples nacional e não usufruem da desoneração, mas das 20% restantes, cerca de 25% delas representam o total de 1225 companhias que são contempladas com o benefício”, afirmou Fernando Pimentel, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção). Ele diz que a derrubada do veto abre espaço para a manutenção e criação de novos postos de trabalho. “Temos 14,4% da população desempregada e esses números podem ir a 18%. A contratação de pessoas vai ser mais ou menos veloz de acordo com o custo da contratação.” No Brasil, cada pessoa contratada formalmente custa 20% de INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Para os setores contemplados pela Lei 12.546, em 2011, criada no governo Dilma Rousseff para desonerar a folha de pagamento, essa contribuiu passou a ser de 2,5% do faturamento bruto. Na época, o argumento para criação da lei foi reduzir o peso da folha para incrementar a geração de novos postos de trabalho. “Mas aconteceu o contrário. Um estudo do Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculado ao Ministério da Economia] mostrou que a desoneração foi usada lá atrás para recompor o lucro da empresas e não gerou mais postos de trabalho”, diz o advogado tributarista Guilherme Braidotti Filgueiras. Segundo o próprio Filguiras, o cenário atual é outro, e a desoneração no atual momento de crise tem justificativa. “Agora é para não haver novas demissões, pois se aumentar a tributação agora certamente as empresas vão demitir.” José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) diz que caso o veto fosse mantido, o custo do emprego aumentaria. O setor, as 1.580 empresas que utilizam o benefício contam com um alívio tributário de R$ 1,1 bilhão por ano. “Nosso setor saiu da crise, já está contratando, mas uma empresa vai pensar duas vezes antes de contratar caso o custo aumente. A gente entende que a desoneração não é 'não pagamento' de imposto. Eu continuo pagando, mas pago menos. Fica mais barato e justifica gerar mais emprego”, afirma Velloso.
A manutenção de empregos também é o argumento usado por Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) na defesa de mais prazo para a desoneração. “A vitória no Congresso foi pela manutenção do emprego, que é fundamental nesse momento. Estamos em plena recuperação dos postos que foram perdidos. Chegamos a demitir 60 mil pessoas, já recontratamos 19 mil. A manutenção da desoneração permite que a gente continue no processo de recuperação”, diz. Para ele, a indefinição da mudança tributária no fim deste ano também gerava uma indefinição com relação aos investimentos para o próximo ano. “Bem como a definição dos preços”, afirma. Além de evitar demissões, a derrubada do veto também ajuda a evitar a precarização do trabalho. “Quando eu estou pagando sobre a folha, posso não contratar alguém porque tenho 20% sobre cada funcionário. A partir do momento que é sobre a receita, não muda minha carga tributária”, afirma Fábio Silva, coordenador do MBA de Gestão Tributária da faculdade Fipecafi. Setores que não estão entre os 17 contemplados pela desoneração, no entanto, criticam a condução da discussão porque preferiram ver as reformas andando e transformando a estrutura fiscal de forma coletiva. Segundo presidentes de entidades ouvidos pela reportagem, com a condição de não terem seus nomes revelados, a desoneração, no fundo, representa aquele Brasil antigo que está distante do modelo liberal defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Um dos presidentes chegou a dizer que o problema é que esse benefício significa um subsídio que atende 17 setores, mas muitos outros não são atendidos. O que eles defendem é que as reformas dariam um resultado muito mais eficiente sobre o emprego.

*”Ano no Ministério da Justiça e Segurança é marcado por crise política e aumento da violência”*
*”SP retoma visitas ao sistema penitenciário neste final de semana após 8 meses”*
ENTREVISTA - *”Advogado do caso Ferrer diz que cenas foram tiradas de contexto e que sofre ameaças de morte”*
*”Caso Mariana Ferrer mobiliza mulheres na Europa”*

*”TJ de SP reclassifica caso de estupro de vulnerável como importunação sexual”* - O Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo reclassificou como importunação sexual a condenação em primeira instância de um homem por estupro de vulnerável de sua sobrinha de oito anos de idade, abrandando a pena.​ Segundo a decisão, o homem apertou o peito da criança e “esfregou acintosamente sua região genital no corpo dela”. A decisão dos desembargadores João Morengui, relator do caso, e de Amable Lopez Soto acata os depoimentos em que a criança acusa o tio de ter praticado atos libidinosos em duas ocasiões e reconhece que ocorreu um crime, mas afirma que o ato cometido não tinha gravidade suficiente para configurar estupro de vulnerável. Assim, a pena imposta de 18 anos e oito meses de prisão, inicialmente em regime fechado, transformou-se em um ano, quatro meses e dez dias de prisão em regime aberto e com substituição da privação de liberdade por prestação de serviços. Também participou do julgamento o desembargador Paulo Rossi, que votou contra a reclassificação. A ação está sob segredo de justiça. Segundo o relator na decisão, “ao aludir a outros atos libidinosos alternativamente à conjunção carnal, o legislador não visou qualquer conduta movida pela concupiscência, mas apenas aquelas equiparáveis ao sexo vaginal”, diz, referindo-se ao artigo 217A do Código Penal (CP). “E os atos praticados pelo apelante fazer a vítima se sentar em seu colo e movimentá-la para cima a fim de se esfregar nela e apertar os seus seios por óbvio, não possuem tal gravidade.” O desembargador afirmou também que o ato do réu fica entre “contravenção e o estupro, melhor se amoldando ao art. 215A do CP”, artigo que trata de importunação sexual, ou seja, a prática de ato libidinoso na presença de alguém sem que essa pessoa dê consentimento. A pena para esse tipo de conduta é de 1 a 5 anos de prisão. O crime de importunação sexual passou a ser definido em 2018. Um ano antes, ganhou atenção nacional o caso de um homem que ejaculou em uma mulher dentro de um ônibus, na avenida Paulista, em São Paulo. A decisão do TJ vai na contramão de entendimentos de cortes superiores, como o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do STF (Supremo Tribunal Federal). O entendimento do STJ se dá pela súmula 593, na qual o tribunal afirma que o estupro de vulnerável é configurado pela “conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”. Em outro caso recente, o STJ, por ação interposta pelo Ministério Público de Minas Gerais, afastou a possibilidade de reclassificação em um caso em que o acusado havia tocado a genitália da vítima sobre a roupa da mesma. A decisão do recurso do caso afirmou que o ato “não se revestiu de tamanha gravidade a ensejar uma condenação desproporcional à infração cometida”. O STF (Supremo Tribunal Federal) também já decidiu contra a redução de pena para atos libidinosos contra crianças. No caso em questão, um homem havia dado um beijo lascivo em uma criança de cinco anos de idade. Antes, o TJ-SP havia reclassificado o ato de estupro de vulnerável como contravenção penal de molestamento. O ministro do STF Alexandre de Moraes afirmou, defendendo a manutenção da condenação por estupro de vulnerável, que “não houve conjunção carnal, mas houve abuso de confiança para um ato sexual”.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que, em casos como esse, é necessário levar em conta que o crime envolve uma criança menor de 14 anos, o que necessariamente se enquadra em um caso de violência presumida e, assim, estupro de vulnerável. “Nessa faixa etária, não cabe essa reclassificação que ocorreu”, afirma Thais Nascimento Dantas, vice-presidente da comissão de defesa dos direitos da criança e do adolescente da OAB-SP. “Sempre que se trata de uma pessoa com menos de 14 anos se presume vulnerabilidade. Ela não tem condições de dar consentimento e há uma disparidade de poder muito grande, o que faz com que qualquer tentativa sexual contra ela corresponda a um estupro de vulnerável.” Renata Rivitti, promotora coordenadora do centro de apoio operacional da infância e juventude do MP-SP (Ministério Público do estado de São Paulo), diz que vê a decisão como contrassenso. “Temos todo um ordenamento jurídico para punir severamente crimes sexuais contra crianças e damos uma interpretação frouxa para a legislação rigorosa”, diz. “A interpretação que utiliza os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade para punir com menor rigor o atentado à dignidade sexual de uma criança não atende ao melhor interesse da criança.” Rivitti afirma que a decisão parece desconsiderar ou desconhecer a escalada de atos que geralmente envolvem a violência sexual. Segundo ela, é comum que ela comece com toques sexuais disfarçados de supostas brincadeiras até se chegar, eventualmente, em um conjunção carnal. Na decisão do TJ, o condenado disse ter justificado o ato dizendo: “O tio nunca fez isso, só se for de brincadeira”. Em resposta, a menina voltou a afirmar que não se tratava de uma brincadeira e demonstrou “gestualmente como o acusado havia apertado seus dois peitos”. A menina também afirma que não contou nada antes por medo de apanhar e diz que tem medo que o tio se vingue de sua mãe. A revelação do abuso só ocorreu quando a criança foi questionada se o tio era legal. Nesse momento, ela disse não gostar dele e relatou os atos praticados pelo parente.
Dantas critica também uma visão que ela classifica como falocêntrica da decisão, em que a violência sexual se daria somente com penetração. “Deixa de considerar que os impactos de uma violência sexual, seja ela com ou sem penetração, são gigantes, especialmente quando estamos falando de crianças e adolescentes." Gabriela Biazi, advogada da Rede Feminista de Juristas, fez uma busca no TJ-SP pela palavra-chave "importunação sexual". Dos 82 registros encontrados, 31 buscavam suavizar a pena de estupros ou tentativa de estupro, sendo 24 deles de estupro de vulnerável. Como a busca foi feita em um período pouco posterior (cerca de até 1 ano depois) à promulgação da lei, ela não necessariamente reflete o cenário atual. A advogada criminalista Ana Fernanda Ayres Dellosso afirma que o artigo que trata de importunação sexual só se configura quando não há violência e nem anuência da vítima. Esse tipo crime, contudo, não alterou o entendimento de que menores de 14 anos não são considerados totalmente capazes de discernir e consentir com atos libidinosos, sejam eles de maior gravidade, como conjunção carnal, ou não. “Por isso, em relação ao menor vulnerável, uma vez que a violência é presumida, não se poderia caracterizar o artigo 215A [importunação sexual] do Código Penal”, diz a advogada. Segundo os especialistas ouvidos pela Folha, é necessário melhorar a qualificação de operadores do direito quanto a especificidades do campo de crianças e adolescentes, e também quanto à violência sexual, um crime com elevada subnotificação.

*”Família tenta provar inocência de jovem condenado após ser reconhecido por foto de rede social”* - A cuidadora de idosos Elcy Leopoldina, 48, acordou cedo na segunda-feira (2), Dia de Finados, para retomar uma rotina iniciada há dois meses: tentar provar a inocência do filho, o produtor de eventos Angelo Gustavo Pereira Nobre, 28, e conseguir tirá-lo da prisão. O rapaz está preso desde setembro por suposta participação em um roubo ocorrido em 2014, após investigação da polícia que baseou o reconhecimento de Nobre em foto de Facebook. Ele não tem nenhuma condenação anterior ou passagem prévias pela polícia. Segundo testemunhas, na época do crime o produtor se recuperava de quatro intervenções cirúrgicas (pneumotórax) e mal conseguia andar. “Mas ele não praticou o crime porque estava recém-operado. Ele não praticou o crime porque não é bandido”, diz a advogada Clarissa Oliveira, que faz parte da nova banca de defesa. “Não existe qualquer prova, sequer indício nos autos que possa fundamentar a participar de Gustavo no assalto. Este caso é mais um erro de reconhecimento fotográfico, igual ao caso do violonista Luiz, do Danilo, e por aí vai”, diz.
Na segunda-feira (2), amigos e parentes do rapaz se reuniram na rua onde mora a família de Elcy, no bairro do Catete, no Rio, onde Nobre é bastante conhecido, e recolheram mais de 500 assinaturas em um abaixo-assinado pedindo sua liberdade. “A única prova? Reconhecimento por foto de Facebook. Mais um caso 'isolado'? Até quando?” dizia um dos cartazes na terceira manifestação. A quarta está prevista para ocorrer no dia em que a Justiça analisará um dos últimos recursos que ainda cabem ao rapaz, condenado a seis anos, dois meses e sete dias. Nobre foi condenado em segunda instância e, sem a apresentação de recursos aos tribunais de superiores, o caso foi transitado em julgado. Agora, a defesa apela para uma revisão criminal para tentar anular a sentença. “A defensoria havia dito que o caso havia sido arquivado, que era para ele aguardar em casa. Ele ficou despreocupado, até porque estava de consciência limpa. Foi na delegacia que descobriu que havia sido julgado e condenado. Foi muito triste, muito desesperador para ele e para mim”, diz Elcy Leopoldina. O crime pelo qual Nobre foi condenado ocorreu em 27 de agosto de 2014, por volta das 22h50, no bairro do Flamengo, no Rio. Seis criminosos em três motos cercaram um carro parado no semáforo, renderam a vítima e a levaram para uma rua próxima, onde a abandonaram. Antes de irem, um dos ladrões tirou sua correntinha do pescoço.
Naquela noite, segundo as testemunhas levadas à Justiça, Nobre participou de uma missa em homenagem à memória de um irmão de criação, morto após uma queda de uma escada. Mesmo estando debilitado por causa de cirurgias recentes, Nobre decidiu participar da missa por se tratar de seu melhor amigo. De acordo com a investigação, o veículo roubado foi localizado dois meses depois. Dentro dele, havia documentos de um suspeito chamado João Carlos da Silva Mateus. Ao analisar as fotografias, a vítima reconheceu um dos assaltantes. Dias depois, segundo depoimento prestado à Polícia Civil, a vítima voltou à delegacia. Afirmou que tinha feito uma investigação nas redes sociais de João Carlos e encontrou uma das fotos dele com Nobre. A foto não foi anexada na investigação. Na Justiça, a vítima reconheceu Nobre como coautor do roubo. Mesmo tendo residência fixa e sendo conhecido no bairro do Catete, não há registro de que a polícia tenha procurado Nobre para ouvi-lo na investigação ou de que foram feitas buscas de câmeras de segurança nos locais citados pela vítima para ajudar a elucidar o roubo do veículo. O inquérito foi concluído com 56 páginas, conforme relatório final das investigações assinado pelo delegado Marcelo Ambrósio, que indiciou Nobre e João Carlos. Segundo a defesa de Nobre, ele foi colocado sozinho sentado em uma cadeira para ser reconhecido, e não em meio a outras pessoas parecidas.
No depoimento à Justiça, porém, a vítima deu uma versão diferente do depoimento à polícia. Disse que foi um policial quem investigou as redes sociais de João Carlos e que ele só confirmou que Nobre era coautor. Disse também que Nobre havia curtido fotos de João Carlos em rede social. Testemunhas, porém, afirmam que os dois se conheciam só de vista. Cinco testemunhas prestaram depoimento à Justiça para atestar a inocência de Nobre e dizer que ele estava debilitado, sentindo muitas dores para fazer qualquer movimento. Já a vítima afirmou que o criminoso pulou da garupa da moto, correu até ele e arrancou sua correntinha do pescoço. O Ministério Público diz, nas alegações finais, que não encontrou nesses testemunhos nada que contrariasse a versão da vítima e que a defesa não “logrou ilidir a robusta prova produzida em desfavor dos réus”. “Como se pode observar de tudo que foi exposto acima, o quadro probatório é harmônico e robusto, não pairando qualquer dúvida acerca da autoria imputada aos réus.”
Sobre os problemas de saúde de Nobre, a promotora Fernanda Vale Pacheco de Medeiros disse que entre a alta hospitalar e roubo se passaram 34 dias e, assim, Nobre teria condições de cometer o crime. “Não há nos autos qualquer relato médico sobre a piora no estado de saúde do réu ou sobre qualquer limitação física por este sofrida. Pelo contrário, o que se observa da documentação é que a cirurgia foi bem-sucedida, sem intercorrências e o dreno foi retirado da alta hospitalar”, diz trecho da manifestação da promotora. Para a Promotoria, versão com a qual a Justiça concordou, mesmo que tivesse participado da cerimônia em homenagem ao amigo morto haveria tempo de ter cometido o crime. “Deixou margem para um subjetivismo. Subjetivismo esse que, sabemos, promotor e juiz não têm que ter, mas tiveram, de que ele poderia sim, pelo espaço/tempo e proximidade do local, poderia sim ter praticado o crime. Mas não poderia, porque estava com o padrasto”, disse a advogada. Procurado, o Ministério Público do Rio não comentou o assunto até a publicação deste texto. “É muito triste. É muito revoltando toda essa injustiça. Eu não desejo para não nenhuma o que estou passando. É mais revoltante pensar que aquele que cometeu o crime está solto e meu filho está pagando por um crime que não praticou”, afirma Elcy Leopoldina, mãe do produtor de eventos. “Não desejo a ninguém isso que estou passando."

*”Juristas propõem a Maia criminalizar divulgação ilegal de dados pessoais em investigações”*
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*”Funcionários administrativos da USP decidem entrar em greve sanitária”*
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OPINIÃO - *”Exemplo do Ceará aponta caminhos para alfabetização”*
TATI BERNARDI - *”Controle remoto”*
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*”'Caldo entornou', diz Mourão sobre aumento do desmatamento na Amazônia”* - “Chega um momento em que o caldo entorna. E o caldo entornou no nosso momento”, declarou o vice-presidente, Hamilton Mourão, ao negar responsabilidade do governo Bolsonaro sobre o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia. “Os problemas não aconteceram desde 1º de janeiro”, justificou o presidente do Conselho da Amazônia, em coletiva de imprensa realizada nesta quinta (5) em Manaus, no segundo dia de viagem de uma comitiva federal ao Amazonas. Programada para durar três dias, foi planejada com o intuito de mudar a imagem negativa do Brasil frente a governos estrangeiros, que cobram maior proteção à floresta e controle do desmatamento e das queimadas, que bateram recordes em 2020. A comitiva chegou ao Amazonas na última quarta-feira (4), trazendo, além do vice-presidente, que também é presidente do Conselho da Amazônia, os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Defesa, Fernando Azevedo. A ida do ministro da Saúde e das Relações Exteriores foi cancelada. Também embarcaram na viagem os chefes de missões diplomáticas de dez países: África do Sul, Peru, Espanha, Colômbia, Canadá, Suécia, Alemanha, Reino Unido, França e Portugal, além de representantes da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) e da União Europeia e jornalistas estrangeiros. O descontrole das queimadas e o avanço do desmatamento na Amazônia levou oito países a enviarem uma carta ao governo Bolsonaro, em setembro, ameaçando cortar importações de produtos brasileiros, caso o Brasil não adotasse medidas efetivas de combate à devastação da floresta. De acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de janeiro a 4 de novembro foram registrados 94.437 focos de queimada na Amazônia, 5% a mais do que os 89.176 focos identificados em todo o ano passado. Já os alertas de desmatamento cresceram 34,5% na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020, em comparação com o mesmo período dos anos anteriores, aponta o Inpe.
ROTA EXCLUI ÁREAS CRÍTICAS
Ainda na quarta-feira, a comitiva fez um sobrevoo na região da BR-163, no Pará, e na Região Metropolitana de Manaus (RMM). O trajeto escolhido pelo governo foi criticado por ambientalistas por não abranger as áreas onde o desmatamento e as queimadas são mais críticas, como a região de Apuí, no sul do Amazonas, que foi ignorada pelo cronograma. O Greenpeace chegou a divulgar um roteiro alternativo destinado aos representantes dos dez países, que passaria, além do sul do Amazonas, pelo Parna (Parque Nacional) e pela Flona (Floresta Nacional) Jamanxin, pela Esec (Estação Ecológica Terra do Meio e pela TI (Terra Indígena) Cachoeira Seca, no Pará, onde crescem o garimpo ilegal e o desmatamento. “Apesar do tempo nublado foi possível avistar áreas protegidas e outras atingidas pelo garimpo ilegal e incêndios”, disse Mourão, que justificou o traçado alegando que a Amazônia é “muito grande” e que seria “impossível” mostrar todas essas áreas em apenas três dias. Por isso, o governo escolheu sobrevoar áreas onde há “cicatrizes” na floresta, como são chamadas as áreas de desmatamento recente e também áreas preservadas e de programas federais, como os de assentamento, explicou o vice-presidente. No entanto, modelos de produção mais criticados na Amazônia, que são as grandes monoculturas e os grandes desmatamentos para a pecuária, não foram “visitados” no sobrevoo. Para o ministro Augusto Heleno, os relatos de ambientalistas e jornalistas sobre “incêndios gigantes” na Amazônia “não correspondem à verdade”. “Temos 85% de floresta preservada. Um incêndio gigantesco na Amazônia, a fumaça chegaria a Londres”, afirmou o ministro, que reconheceu que houve um atraso no combate às queimadas. “Houve um atraso, nossos recursos estavam limitados, estávamos em plena pandemia.”
PROGRAMAÇÃO
Em Manaus, a comitiva também visitou na quarta (4) instalações militares, como o Cigs (Centro Integrado de Guerra na Selva) e o Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia). Nesta quinta (5), a programação incluiu a visita ao PIC (Projeto Integrado de Colonização) Bela Vista, em Iranduba, região metropolitana de Manaus, um passeio pelo Encontro das Águas, visita ao laboratório de investigação de crimes ambientais da PF (Polícia Federal) no Amazonas e uma recepção no CMA (Centro Militar da Amazônia), onde ocorreu a coletiva de imprensa, iniciada com cerca de duas horas de atraso. No último dia da visita ao Amazonas, a comitiva liderada por Mourão seguirá para a região do Alto Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira, onde visitará a Casa de Apoio à Saúde Indígena, e na comunidade Maturacá, onde conhecerão o pelotão de fronteira do Exército.

MÔNICA BERGAMO - *”Doria e auxiliares não esconderam preferência por Joe Biden na eleição dos EUA”*
MÔNICA BERGAMO - *”Eleição de Biden pouco mudaria relação dos EUA com o Brasil, diz Temer”*

MÔNICA BERGAMO - *”Eduardo Bolsonaro retuita Rodrigo Constantino em rara divergência com a Jovem Pan”*: O deputado Eduardo Bolsonaro retuitou postagem de Rodrigo Constantino pouco depois que ele foi demitido da rádio Jovem Pan por dizer que castigaria a filha caso ela dissesse que foi abusada depois de beber e ficar “com dois caras” em uma festa. “Hoje entendo melhor Trump, Bolsonaro e Olavo [de Carvalho, guru da família do presidente da República]. Tento ser razoável, mas às vezes tem que mandar essa patota praquele lugar mesmo”, escreveu Constantino. A iniciativa de Eduardo indica rara divergência com a Jovem Pan, sempre elogiada por Jair Bolsonaro. O Grupo Record, também considerado alinhado aos bolsonaristas, desligou Constantino de seus quadros.

MÔNICA BERGAMO - *”Empate entre Boulos e França no 2º turno pode antecipar apoio de petistas ao psolista”*: O empate técnico entre Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Márcio França (PSB-SP) na disputa pelo segundo turno da eleição municipal, indicado pelo Datafolha, pode antecipar o movimento de apoio de petistas ao psolista. França tem recebido críticas do PT e teria dificuldade de ter o apoio de dirigentes do partido até mesmo num segundo turno contra Bruno Covas (PSDB-SP). Uma das razões é que ele dialoga com a legenda —mas, publicamente, faz questão de marcar distância.

MÔNICA BERGAMO - *”Fábio Pannunzio faz debate com candidatos a prefeito de SP no domingo (8)”*
MÔNICA BERGAMO - *”Justiça de SP suspende lei que autoriza abate de animais nocivos ao meio ambiente”*
MÔNICA BERGAMO - *”Ministério da Justiça obtém bloqueio de R$ 130 milhões em criptoativos em provedora nos EUA”*
MÔNICA BERGAMO - *”Memorial realizará Mostra Latino-Americana de Curtas em dezembro”*

*”Em ataque à democracia, Trump mente ao citar fraudes na eleição americana”* - Donald Trump subiu ao púlpito da Casa Branca abatido na noite desta quinta-feira (5). No dia em que viu o adversário Joe Biden se aproximar ainda mais da vitória e sofreu derrotas importantes em sua cruzada judicial para tentar contestar o resultado das eleições, o presidente fez um discurso de 15 minutos em que soou como quem acredita que pode perder. Ao contrário do que costuma fazer em pronunciamentos públicos, o republicano leu a maior parte de sua fala, não respondeu a perguntas dos jornalistas e chamou o adversário de Mr. Biden, sem se referir a ele com o apelido de "Joe Sonolento", como é seu hábito em praticamente todas as menções que faz ao democrata. Com a voz baixa, quase falhando em alguns momentos, Trump não apresentou novidades: disse que o rival está tentando roubar as eleições com os votos por correio, que considera ilegais. Sem mostrar provas, repetiu que está sendo trapaceado. "Se você contar os votos legais, ganho facilmente. Se você contar os ilegais, eles vão tentar roubar a eleição da gente." Trump fez inúmeros ataques ao sistema de votação por correio, que ele diz favorecer apenas os democratas. "É um sistema que torna as pessoas corruptas mesmo que não seja da natureza delas", disse. "Nosso objetivo é defender a integridade da eleição. Não vamos permitir que a corrupção roube uma eleição tão importante." Também houve ataques ao sistema de voto presencial: disse que a identidade dos eleitores não foi checada de forma adequada, e que houve pouco controle sobre quem podia ou não votar. O presidente buscou associar os democratas aos poderosos, e o Partido Republicano aos americanos comuns. O discurso incluiu, ainda, ataques às cidades onde a apuração não anda favorável a ele, como Filadélfia e Detroit. Durante o dia, Trump fez o que tinha prometido: ampliou a ofensiva e colocou em marcha uma enxurrada de ações judiciais em vários estados decisivos, em uma afronta à democracia e ao sistema eleitoral dos EUA.
Antes mesmo de haver resultado final, na madrugada de quarta (4), ele já havia se declarado vencedor da eleição e disse que iria à Suprema Corte para interromper a contagem de votos. Seu temor era que cédulas enviadas por correio, de maioria democrata, virassem o jogo em estados-chave, como de fato aconteceu. Isso porque, em algumas regiões, os votos por correspondência entram na contagem depois dos presenciais e podem mudar o cenário vislumbrado inicialmente na apuração. Na tarde desta quinta, Trump disse que acionaria a Justiça para contestar os resultados nos estados-chave em que Biden havia conquistado a maioria dos votos. O democrata tinha atingido 253 dos 270 votos necessários no Colégio Eleitoral para vencer —Trump tinha 214, e a disputa seguia acirrada. "Todos os recentes estados reivindicados por Biden serão legalmente contestados por nós por fraude eleitoral e fraude eleitoral estadual", escreveu o presidente no Twitter, sem especificar a que regiões se referia. A rede social marcou a mensagem como conteúdo com informações incorretas e enganosas, assim como outras postagens do presidente, que pediam "parem a contagem" e "parem a fraude" —Trump diz que os democratas querem roubar a eleição com os votos por correio, que classifica como ilegais. O voto postal é uma prática comum nos EUA, que se intensificou com a pandemia, e com registros de irregularidade baixíssimos. A estratégia republicana é preparar terreno para a alegação de que a Presidência de Biden, se confirmada, não é legítima. Menos de 72 horas depois do início da apuração, nesta quinta, Trump já havia entrado com ações judiciais sobre a votação na Geórgia, em Michigan e na Pensilvânia, e pedido para recontar os votos em Wisconsin, onde Biden já foi considerado vencedor. Na Geórgia e em Michigan, as ações foram negadas por juízes locais, enquanto na Pensilvânia Trump conseguiu uma vitória parcial. No Wisconsin, com 98% das urnas apuradas, o democrata lidera com menos de 1 ponto percentual, mas especialistas afirmam que uma nova contagem não mudará os números. A equipe do presidente também tentou impedir a contagem de votos em Michigan, mas a juíza do Tribunal de Apelações do estado, Cynthia Stephens, derrubou a ação, dizendo que não havia "base no mérito" do pedido. Diante das investidas do presidente, Biden fez um discurso rápido em Wilmington, cidade onde mora em Delaware, e disse que "a democracia às vezes é confusa". "Precisa de paciência, uma paciência que é recompensada."
Como tem feito desde o início da apuração, o democrata pediu calma aos apoiadores e defendeu que cada voto seja contado. "O voto é sagrado, é como as pessoas dessa nação expressam sua vontade, e é a vontade dos eleitores, e de ninguém mais, que escolhe o presidente dos Estados Unidos." Com a apuração quase concluída em Michigan, Biden tem mais de 2 pontos de vantagem, e a imprensa americana já projetou sua vitória. No início da contagem, porém, Trump liderava na região, que venceu por margem apertada em 2016 e que foi fundamental para levá-lo à Casa Branca. Neste ano, depois que entraram na conta as cédulas por correio de áreas próximas às grandes cidades, mais progressistas, Biden virou. Além de Michigan, a Pensilvânia também foi foco de preocupação de Trump como outra região fundamental para sua reeleição e na qual Biden vinha diminuindo a diferença com o avanço da apuração. Na terça (3), a campanha de Trump acusou autoridades eleitorais de um dos condados do estado de contagem antecipada de cédulas enviadas por correio —o que seria ilegal— e de dar aos eleitores que enviaram cédulas incorretas a chance de votarem novamente. Em uma outra ação, a campanha do republicano pediu a um juiz que interrompesse a contagem dos votos. Ainda na Pensilvânia, Trump pediu a revisão de uma decisão da mais alta corte do estado —a determinação permite a contagem das cédulas postadas até o dia da eleição, desde que cheguem até sexta (6). Três juízes disseram que há uma "forte probabilidade" de que essa decisão tenha violado a Constituição dos EUA, enquanto funcionários eleitorais afirmaram que vão separar as cédulas postadas que foram recebidas após 3 de novembro. A campanha republicana apresentou uma moção para intervir no caso.
Entre todas as investidas, Trump teve ao menos uma vitória na Pensilvânia nesta quinta: um tribunal de apelação estadual concedeu aos observadores eleitorais republicanos melhor acesso às áreas de contagem de voto na Filadélfia, região com tendência democrata. Além de Michigan, Pensilvânia, Wisconsin e Geórgia, outros estados considerados decisivos que estavam em jogo até a noite de quinta são Arizona e Carolina do Norte. No Arizona, a secretária de Estado Katie Hobbs afirmou à CNN que a campanha de Trump não teria um "caminho legal" caso queira processar a administração por causa da contagem dos votos. A lei do estado exige que uma recontagem seja acionada se a margem que separa dois candidatos for menor ou igual a 0,1 ponto percentual, e Biden atualmente tem uma vantagem de mais de 2 pontos. Já na Carolina do Norte, onde Trump lidera com mais de um ponto de vantagem, especialistas afirmam que não esperam investidas judiciais por parte do republicano. "Acho que o presidente está entrando com ações judiciais onde ele acha que está realmente encrencado", disse à emissora David McLennan, professor de Ciência Política do Meredith College em Raleigh. Especialistas têm afirmado há meses que o voto por correio tem índices baixíssimos de irregularidade. Mesmo antes da pandemia da Covid-19, aliás, americanos já votavam a distância. Segundo especialistas, a ameaça de Trump de recorrer à Suprema Corte para contestar o resultado da eleição precisaria cumprir um longo caminho. Primeiro, é preciso passar pelas autoridades eleitorais de cada estado e depois pelas cortes locais. A Suprema Corte é o último estágio e só pode intervir se determinar que as autoridades locais violaram uma lei federal, algo de que por ora não há indícios.

TODA MÍDIA - *”Com as pesquisas na forca, Nate Silver reage: ‘fuck you’”*
*”Entenda a indefinição nos estados que ainda contam os votos para presidente dos EUA”*
*”AFP volta atrás e diz que disputa no Arizona segue indefinida”*
*”Coronavírus supera economia e se torna fator crucial para decidir voto nos EUA”*

*”Mentiras de Trump e campanhas de fake news inflamam manifestantes e geram temor de violência”*
TATIANA PRAZERES - *”Diplomacia da vacina”*
*”Protestos se multiplicam nos EUA enquanto corrida presidencial segue indefinida”*

CAPA – Manchete principal: *”Sem prova, Trump tenta desacreditar apuração; Biden pede calma ao país”*

*”Uma vaga aberta no 2º turno – Rio e SP chegam à última semana com cenário indefinido”*
*”João Campos mantém liderança no Recife, aponta Datafolha”*
*”Investimentos em queda em cenário de decadência”*
*”Hackers tiram do ar sistema do STJ e do governo”*

*”Para Bolsonaro, ‘Collor luta pelo interesse do Brasil’”*
*”Ex-assessora de Flávio encontrou Wassef antes de depor”*

*”Preço do gás avança – Indústria deve arcar com reajustes fortes até o fim deste ano”* - O “choque de energia barata” prometido pelo governo Jair Bolsonaro ainda não chegou ao mercado de gás natural. Levantamento feito pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace) aponta para aumentos em pelo menos 15 estados neste fim de ano, o que anulará boa parte das quedas registradas a partir de março, quando a pandemia do coronavírus começou a avançar no país. A indústria paulista que usa o combustível deve arcar com um reajuste de 8,11%. Em Minas Gerais, o aumento pode ser de 23,56%. Os reajustes devem gerar um aumento de custos para empresas, que poderá repassar isso para o preço final de seus produtos, onerando, na ponta, o consumidor. A valorização do dólar e do preço do barril de petróleo no mercado internacional no último trimestre são os principais fatores por trás dos reajustes esperados. Na quarta-feira, a Petrobras anunciou aumento médio de 33% no preço da molécula de gás, o que afeta em parte o valor final do gás canalizado e do GNV, para carros. Na maior parte das distribuidoras, reajustes são revistos a cada três meses. No Rio, o aumento previsto para ocorrer em novembro foi suspenso por uma decisão do governo do estado. Segundo a Naturgy, a alta ocorreria unicamente devido ao aumento do preço do gás vendido pela Petrobras para a distribuidora. Na Bahia, a concessionária reajustou os preços em 28,09% no início do mês, reflexo do aumento do preço da molécula de gás. A empresa diz que não há ajuste de margem da distribuidora. Adrianno Lorenzon, gerente de Gás Natural da Abrace, diz esperar contas mais altas em razão do anúncio feito pela Petrobras. Além da indústria, consumidores residenciais e o comércio também deverão arcar com reajustes, mas em menor proporção. O problema pode se estender para o próximo ano.
— Os avanços que estamos vendo agora já eram esperados por conta do dólar e petróleo. Em dezembro, a Petrobras e as distribuidoras começam a renegociar seus contratos para 2021 com base nas condições de mercado. Por isso, há uma expectativa de aumento no preços — diz Lorenzon.
Inadimplência em alta
Para a Abegás, a associação das empresas de gás canalizado, o reajuste anunciado pela estatal vai anular boa parte da queda acumulada no ano. Ainda assim, o diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, diz que o preço médio do gás em 2020 ficará 14% mais baixo do que o registrado no ano passado.
— Esse reajuste anulou a redução dos últimos seis meses. Hoje temos um cenário imprevisível, com a influência do dólar e as eleições nos EUA. Isso tira a expectativa de melhora — disse Mendonça, destacando que 453 cidades no país contam com gás canalizado.
Algumas distribuidoras já estão pleiteando aumentos para 2021. A concessionária de Santa Catarina, por exemplo, quer um reajuste de 22% a partir de janeiro. Neste ano, a SC Gás reduziu as tarifas em 8,34%. Em São Paulo, a Arsesp, agência reguladora do estado, disse que, em razão do reajuste de preço aplicado pela Petrobras, avalia como será feito o repasse a fim de minimizar o impacto para os usuários. A alta nos preços do gás ocorre no momento em que as próprias distribuidoras vêm sofrendo com o aumento do calote. A Naturgy, que teve reajuste suspenso, diz que a inadimplência está em 30%. “A não autorização do repasse trimestral do custo de compra do gás poderá gerar um déficit de caixa de R$ 200 milhões na CEG e CEG Rio, que já estão impactadas por cerca de 30% de inadimplência em razão da pandemia”, disse a empresa em comunicado. A mesma preocupação está no radar da Comgas, que atua em São Paulo. Em seu relatório financeiro, a companhia disse que sua geração de caixa operacional, medida pelo Ebitda (lucro registrado antes do pagamento de impostos e amortizações) sofreu queda de 17% no trimestre, para R$ 481 milhões. Parte disso reflete o avanço da inadimplência. A empresa não informa qual foi a taxa efetiva de aumento nos calotes, mas decidiu abrir uma campanha promocional para que seus clientes regularizarem suas contas. A ação garante até 50% de desconto para quem tem débitos abertos há mais de um ano.
Queda só no longo prazo
Segundo especialistas , o plano do governo para baratear o gás não terá efeito imediato. A redução deve levar de quatro a cinco anos até o consumidor começar a sentir o efeito no dia a dia. O projeto de lei (PL) que altera a regulação do setor de gás, aprovado pela Câmara em setembro, precisa ainda passar pelo Senado. Por isso, ponderam os especialistas, o caminho até a redução dos preços é longo, pois o setor ainda é controlado pela Petrobras em diversos segmentos. Para eles, é preciso atrair mais produtores de petróleo e gás, permitindo que as distribuidoras tenham mais opções para comprar o combustível. Hoje, muitas distribuidoras têm a Petrobras como acionista, o que também dificulta a possibilidade de buscar novos fornecedores. Além disso, os especialistas ressaltam a necessidade de atrair investidores para construir dutos e estimular a indústria a usar gás natural.
— O país vive hoje um problema que é anterior à pandemia. Se a tarifa não cair, como serão atraídos novos investimentos. Os mercados internacionais já estão se recuperando, e esse aumento agora no país vai dificultar nossa reação — disse Adrianno Lorenzon.
Segundo Marcelo Mendonça, da Abegás, o PL do gás vai permitir a entrada de novas empresas no setor, o que ampliará a concorrência.
— Sem as novas regras que vão permitir a maior concorrência, o mercado vai ficar no mesmo patamar — alertou Mendonça

*”Nas refinarias, gás de botijão já subiu 16,6% este ano”*
*”Amapá fica 2 dias às escuras após incêndio em subestação”*
*”Bolsonaro anuncia redução de imposto de importação de brinquedos”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Tensão cresce e Biden pede calma: ‘Democracia é confusa’”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O resgate da democracia”*: Em discurso de estadista, o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que “ninguém vai nos tirar nossa democracia, nem agora nem nunca”. Foi um pronunciamento destinado a relembrar que a disputa eleitoral, numa democracia, não é uma guerra em que o adversário deve ser aniquilado, mas o momento em que o povo é soberano para escolher seu governante. Para que esse processo seja legítimo, enfatizou Joe Biden, “todo voto tem de ser contado”. Parece uma obviedade, mas não é: quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tudo faz para interromper a contagem que indica sua derrota e denuncia, sem qualquer prova, uma suposta fraude nos votos já contados, é preciso lembrar do que é feita a democracia, conceito que é estranho a Trump e, infelizmente, a muita gente nos Estados Unidos – como mostra a expressiva votação que o atual presidente obteve. Por isso, fez muito bem o candidato Joe Biden ao enfatizar que, se confirmada sua eleição, ganhará “como democrata”, em referência a seu partido, mas governará “como presidente”. E declarou: “Temos que nos ouvir uns aos outros, respeitar e cuidar uns dos outros, nos unir como nação. Sei que não será fácil. Sei como são profundas as diferenças, mas sei que, para progredirmos, precisamos parar de tratar os oponentes como inimigos”.
Trata-se de uma mensagem poderosa, uma brisa de bom senso em meio à tormenta autoritária que tomou os Estados Unidos desde a eleição de Donald Trump, há quatro anos. Nada disso significa, contudo, que o horizonte político norte-americano se desanuviará no curto prazo, pois as condições que possibilitaram a ascensão do populismo destrutivo de Donald Trump se mantêm. Há uma imensa massa de norte-americanos que se consideram esquecidos pelo establishment político e econômico. São cidadãos ressentidos, predispostos a crer que são vítimas do “sistema” representado por Washington e Wall Street e que se sentem desrespeitados por minorias que desafiam seus valores conservadores para ganhar espaço político e impor sua agenda. Esses eleitores foram seduzidos por Donald Trump e seu discurso insolente em relação às instituições democráticas, que ele trata abertamente como adversárias. Seu slogan, “América primeiro”, não faz referência à América de todos os norte-americanos, mas à América imaginada por reacionários desconfortáveis com a democracia. Nesse lugar imaginário, em que se vive sob constante ameaça de “inimigos” inventados por teorias da conspiração disseminadas pelas redes sociais, só podem viver os que aceitam seus valores truculentos – aos demais resta viver como exilados dentro de seu próprio país.
Nenhuma nação democrática resiste a um ambiente intoxicado de rancor como esse. Nenhum governo construído sobre bases tão desagregadoras será visto como legítimo pelo conjunto dos cidadãos. É por esse motivo que um político experiente como Joe Biden, mesmo sem ter assegurada sua eleição, percebeu que era necessário apresentar-se a seus compatriotas como um líder capaz de “ouvir” o que os eleitores de seu adversário têm a dizer. É disso que depende a saúde da democracia norte-americana, que um dia já foi exemplo para o mundo, mas agora, sob Trump, se tornou fonte de vergonha e decepção – menos, é claro, para os que consideram o histrião que hoje está na Casa Branca como o “salvador do Ocidente”, como o classificou o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Enquanto Biden pregava união e respeito pela decisão soberana dos eleitores, o presidente Trump tuitava: “Parem a contagem!”. Ou seja, o presidente de todos os norte-americanos defendeu que os votos de milhares de seus compatriotas não fossem considerados, alegando fraudes generalizadas. Nada que surpreenda, pois Trump há tempos avisou que colocaria em dúvida o resultado da eleição se não lhe fosse favorável, pela simples razão de que não aceita a derrota. Felizmente, a democracia, ultimamente tão vilipendiada, tem seus mecanismos de defesa, e isso ficou muito claro nos Estados Unidos. A Trump, bem como a seus aduladores mundo afora, resta espernear.

COLUNA DO ESTADÃO - *”PT busca compensar fracasso na capital”*: Resignado diante do iminente fracasso de Jilmar Tatto na eleição para a Prefeitura, o PT se agarra nas boas chances do partido na Grande São Paulo, especialmente nas populosas Guarulhos, Diadema e Osasco. Se vencerem em pelo menos duas dessas cidades, os petistas acham que o saldo no maior colégio eleitoral do País ficará no azul em relação a 2016. Na capital, porém, com a “derrota eleitoral” praticamente contabilizada, a missão a partir de agora será a de fugir da “derrota política”, ou seja, evitar que Tatto tenha votação de candidato nanico.
» Xi... O grande temor dos petistas: parte significativa dos eleitores dispostos a votar em Tatto pode migrar para Boulos ou França em busca de um voto útil ainda no primeiro turno.
» Importante. Dos três candidatos tecnicamente empatados em segundo lugar na mais recente pesquisa Datafolha (veja nesta página), Márcio França (PSB) é o único em trajetória ascendente no histórico dos recentes levantamentos.
» Bate no peito. Em Osasco, Emídio de Souza, amigo de Lula, faz uma campanha considerada “ultrapetista”: não esconde o partido, muito menos o ex-presidente.
A conferir. Lula deu a entender em conversa com aliados: deve apoiar em eventuais segundos turnos candidatos de esquerda que não sejam do PT, principalmente se eles enfrentarem “bolsonaristas” ou outros nomes do campo da direita.
» Fake... Ivan Valente (PSOL) despertou a fúria dos pedetistas. O deputado teria postado uma declaração antiga de Ciro Gomes (feita em 2018) em favor de Guilherme Boulos. O PDT está com França em São Paulo.
» ...news? O Estadão localizou a postagem de Valente e a enviou ao deputado. Porém, ele não havia se pronunciado até o fechamento desta edição. Antes, negou ter espalhado notícia falsa.

*”Por 2º turno, Russomano e Boulos acirram debate”* - A briga por um lugar no segundo turno das eleições municipais de São Paulo intensificou os embates entre Celso Russomanno (Republicanos) e Guilherme Boulos (PSOL) nos últimos dias. Na Justiça Eleitoral, os dois candidatos protagonizam uma guerra de pedidos de direito de resposta que ganhou impulso na semana passada, quando pesquisas passaram a identificar a queda na intenção de votos do candidato do Republicanos. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo já contabiliza ao menos 17 ações que envolvem os dois candidatos e seus partidos. Ontem, pesquisa Datafolha mostrou que Russomanno perdeu quatro pontos, chegando a 16%. Como a margem de erro é de três pontos porcentuais, o candidato, que tinha apoio de 20% dos eleitores em 22 de outubro, está tecnicamente empatado com Boulos, que soma 14%, e Márcio França (PSB), que tem 13%. O prefeito Bruno Covas (PSDB) lidera com 28%. O Ibope registrou movimento semelhante há sete dias. Entre 15 e 30 de outubro, Russomanno foi de 25% para 20% das intenções de voto, enquanto Boulos oscilou de 10% a 13% e França subiu de 7% a 11%. A margem de erro também é de três pontos. Russomanno é o maior alvo de Boulos na Justiça, e também o candidato que protocolou o maior número de processos contra o candidato do PSOL. O combate direto entre Russomanno e Boulos fez ressurgir no horário eleitoral a figura de Cleide Bezerra da Cruz, ex-caixa de supermercado que afirma ter sido humilhada pelo candidato do Republicanos em um programa de TV sobre direito do consumidor exibido em 2005. Na filmagem, ela diz que não pode passar um papel higiênico fora do pacote, e Russomanno afirma que ela pode ser presa por isso. Em 2016, a história da caixa de supermercado foi resgatada por adversários do deputado. No último dia 24, Boulos publicou nas redes sociais uma foto de Cleide e fez referência ao episódio de 15 anos atrás. “Que seu caso seja exemplo contra todas as formas de humilhação e agressão às mulheres”, escreveu.
Na propaganda eleitoral que foi ao ar na TV semana passada, Russomanno nega que tenha humilhado a caixa e ataca seu adversário. “Boulos, enganar para ganhar votos é tão grave quanto invadir residências.” A ligação entre o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e a “invasão” de imóveis gerou um pedido de direito de resposta, aceito pela Justiça, e que foi ao ar anteontem à noite. Nele, o candidato do PSOL volta a citar o caso da caixa. Em outro texto relacionado a “invasão”, Russomanno promete uma “receita de Boulos de problemas”. “Pegue uma invasão de residência, junte com a cobrança de aluguel dos ocupantes de um prédio invadido, acrescente o uso de uma moça de supermercado para atacar um adversário”, diz a peça. Em outros processos no TRE, a campanha do Republicanos acusa o adversário de propaganda enganosa, impulsionamento irregular de publicações na internet e divulgação de notícias falsas. Além de citar o caso da caixa de supermercado, Boulos tem atacado a relação de Russomanno com o presidente Jair Bolsonaro e decisões judiciais relacionadas à falência de um bar do qual o deputado foi sócio em Brasília. Num vídeo disponível nas redes sociais do candidato do PSOL, um cantor de rap diz que Russomanno “puxa saco de miliciano” e “mete a do Crivella pra cima de nós, cheio de esquema tipo Queiróz”. Essa peça rendeu uma decisão judicial favorável a Russomanno na Justiça. Anteontem, Boulos entrou com a primeira representação por crime eleitoral contra o concorrente – ele alega que foi alvo de calúnia e difamação.
Foco. Segundo o coordenador da campanha de Boulos, Josué Rocha, o foco principal na reta final da campanha continua sendo romper a barreira de desconhecimento que separa o candidato do grande eleitorado na periferia. O embate com Russomanno e França, no entanto, também terá espaço. Nos próximos dias, Boulos vai tentar ligar França com a imagem do PSDB. O adversário foi vice-governador do tucano Geraldo Alckmin entre 2015 e abril de 2018, quando assumiu o governo do Estado. Embora estejam tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de votos, Boulos e França não se enfrentam em nenhum processo judicial. e do Bruno (Covas), porque todos eles têm na chapa um deputado”, argumentou França. Ele usou a linha de raciocínio para uma crítica à vice do candidato Guilherme Boulos (PSOL), com quem está tecnicamente empatado mas pesquisas de intenção de voto. “Suponha que eu more em Tatuí (no interior paulista) e votei na (deputada federal Luiza) Erundina. Se ela renunciar para ser vice-prefeita, o meu voto foi desperdiçado”, disse França. “Renunciar a mandato é uma coisa que é ‘torta’ para a população”, acrescentou.

*”França diz que só ele e Covas não renunciariam”*

*”Aliados cobram candidatura de Maia”* - Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), já se mobilizam para construir sua candidatura à reeleição. O assunto foi tratado em jantar na casa de Maia, na noite de terça-feira, após diagnósticos preocupantes sobre crise política e econômica, avanço do Centrão na Esplanada e impacto da disputa pela Casa Branca no governo de Jair Bolsonaro. O grupo de Maia trabalha com um cenário no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) lavará as mãos e decidirá tratar a disputa para o comando da Câmara e do Senado, marcada para fevereiro de 2021, como assunto a ser resolvido pelo próprio Congresso. Sem um nome competitivo até agora para se opor ao deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), candidato à presidência da Câmara com a chancela de Bolsonaro, aliados avaliam que o próprio Maia deve enfrentar o líder do Centrão. O argumento usado na reunião de terça foi o de que não se pode entregar a Câmara para o Centrão. Em um passado não muito distante, esse bloco de partidos foi carimbado por Bolsonaro como “velha política”, mas hoje o apoia e tem cada vez mais ampliado sua fatia de poder com a ocupação de cargos. Um dos participantes do encontro disse ao Estadão que, numa gestão “sem rumo” como a de Bolsonaro, conquistar a Câmara é o mesmo que ganhar o controle do governo. As circunstâncias, afirmou, exigirão a candidatura de Maia. O presidente da Câmara tem afirmado que não é candidato a novo mandato. “A Constituição não permite”, desconversou ele ontem, mais uma vez, quando questionado pelo Estadão. “Não é hora de tratar desse assunto”. Nessa toada, Maia pediu mais responsabilidade ao acusar a própria base do governo de obstruir votações importantes. Por causa dessa tensão entre os grupos de Maia e de Lira, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) ainda não foi instalada.
Estiveram presentes no jantar na casa de Maia dois deputados aliados com interesse em concorrer à cadeira ocupada por ele: Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, e Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), adversário de Lira. Lá estava, ainda, Elmar Nascimento (DEM-BA), nome defendido pelo grupo de Maia para comandar a CMO. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) também marcou presença, assim como os ministros do Supremo Gilmar Mendes e do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas. A certa altura da conversa houve ali comentários sobre o maior isolamento do Brasil no cenário internacional, em caso de vitória de Joe Biden no duelo com Donald Trump para a presidência dos EUA, e a necessidade de reorientação na política externa e na agenda do meio ambiente. Vizinho de Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não participou do encontro, mas tem feito articulações ao lado dele. Alcolumbre é candidato declarado a novo mandato e partiu dele a iniciativa de acionar o Supremo para dar um veredicto sobre o imbróglio, já que a Constituição proíbe a recondução da cúpula do Congresso na mesma legislatura. Na prática, Maia ainda está fazendo contas na tentativa de agregar a esquerda e “desgarrados” do Centrão para esse projeto. Se lançar mesmo a candidatura, o PT e o PSDB também vão apoiá-lo para o quarto mandato consecutivo à frente da Câmara.

*”Em posse no STF, Fux ressalta ‘saber jurídico’ de Marques”*

*”Deputadas propõem Lei Mari Ferrer para proteger vítimas de abuso sexual”* - A repercussão causada pelo caso de violência sexual envolvendo uma influenciadora digital de Santa Catarina motivou um grupo de deputadas a propor a criação da Lei Mariana Ferrer, que prevê punição para o que chamam de “violência institucional” sofrida por vítimas de estupro. Ao menos dois projetos foram apresentados na Câmara. Em um deles, há a previsão de detenção por até um ano do agente público que não zelar pela integridade física e psicológica da vítima. As propostas foram protocoladas anteontem, após a divulgação de vídeo de audiência judicial em que a influenciadora digital Mariana Ferrer, de 23 anos, é humilhada pelo defensor do homem que ela acusa de estuprá-la – o empresário André Camargo Aranha. Nas imagens da sessão, divulgadas pelo site The Intercept Brasil, o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho diz a ela: “Jamais teria uma filha do teu nível e também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher que nem você”. A íntegra do vídeo mostra que o defensor foi ríspido com a jovem em outras ocasiões além das já divulgadas. Gastão a chama de “mentirosa” e diz que vai prosseguir sua fala “antes que comece a choradeira”.
Na sessão, o advogado exibiu fotos sensuais feitas pela jovem antes do episódio, sem qualquer relação com o suposto crime, e a chama de “mentirosa”. Apesar das intimidações e de apelos de Mariana para que fosse respeitada, o juiz não intercede. “Excelentíssimo, estou implorando por respeito, nem acusados são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, disse ela. Aranha foi inocentado pelo magistrado, que entendeu não haver provas suficientes para comprovar o crime. Assinado por 26 deputados, um dos projetos determina que nos julgamentos sobre crimes contra a dignidade sexual, caberá ao juiz garantir a integridade da vítima, sob pena ser responsabilizado. A proposta tem como autora a deputada Lídice da Mata (PSB-BA). “Casos como o de Mariana Ferrer certamente podem fazer com que outras vítimas se sintam desestimuladas a denunciar seus agressores por receio de não encontrarem o apoio necessário das autoridades que deveriam protegê-las”, justifica a parlamentar. “A posição de paralisia do juiz e do promotor é o atitude inaceitável da defesa. A Justiça deve ser um local de acolhimento da vítima, buscando a punição correta e justa para cada crime cometido”, diz texto do projeto, que altera a Lei de Abuso da Autoridade. Também na esteira do caso, o deputado Guiga Peixoto (PSLSP) apresentou duas propostas. Uma para estabelecer a imprescritibilidade, ou seja, que não tenham prazo de validade para serem punidos, dos crimes de estupro de vulnerável no Código Penal e outra para elevar a pena para estupradores.
Anulação. Já a senadora Rose de Freitas (Podemos-ES) prepara representação ao Ministério Público para tentar anular a sentença do juiz Rudson Marcos. Ele é alvo de procedimento disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “Estamos preparando uma peça bem fundamentada e devemos protocolar até amanhã”, disse a senadora. Juristas, porém, disseram ao Estadão que a conduta do advogado deve ser investigada administrativamente, mas dificilmente levará à anulação de sentença. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santa Catarina notificou Gastão para apurar possíveis desvios éticos. A OAB-SC enviou ofício ao presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, requerendo a edição de normativa que determine a gravação integral de todos os atos processuais. A ideia é tornar regra nacional a gravação de áudio e vídeo das audiências, como já ocorre em Santa Catarina. O objetivo, diz a entidade, é garantir a proteção dos direitos de todas as partes envolvidas no caso de eventuais incidentes.

*”Especialistas veem iniciativa com ressalvas”* - Especialistas apontaram ressalvas quanto à necessidade de novas previsões legislativas e à eficácia que teriam tais medidas. Eles ponderaram que já existem hoje previsões capazes de punir transgressões no curso de audiências judiciais. Isso cabe principalmente às áreas de correição de órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As três entidades iniciaram procedimentos no caso do julgamento do empresário André de Camargo Aranha.
A advogada e idealizadora da iniciativa contra o assédio sexual Me Too Brasil, Marina Ganzarolli, disse “discordar frontalmente” do caminho sugerido pelas parlamentares. “A ineficácia da resposta do Estado e do Judiciário à violência sexual não está no desenho legislativo. Nossa legislação é excelente na proteção dos direitos humanos das mulheres e meninas. A Lei Maria da Penha é um exemplo disso, assim como as alterações recentemente promovidas, com a nova previsão do crime de importunação sexual.” Para ela, o controle externo sobre a atuação dos advogados, promotores e juízes precisa ser aperfeiçoado, “garantindo a sensibilização de gênero”. “Quem está exercendo de fato esse controle? Não é por ausência de súmula ou provimento. Os órgãos estão punindo? É necessária a aplicação dos procedimentos disciplinares”, acrescentou Marina. A opinião é compartilhada pelo advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP e ex-presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “A forma de coibir episódios horrorosos como o que aconteceu é pela legislação que já temos, pelos mecanismos já existentes, especialmente os correcionais, com a devida apuração ética.” O jurista afirmou ser desnecessária qualquer iniciativa legislativa pra regrar isso. “É uma iniciativa midiática que vem num momento em que os holofotes estão nesse tema.”

*”Bolsonaristas se mobilizam para ter aliado na Fiocruz”* - Deputados bolsonaristas se mobilizam para que o analista de gestão da Fiocruz Florio Polonini tenha votos suficientes para integrar a lista tríplice que será encaminhada ao Palácio do Planalto para a escolha do novo presidente da instituição de pesquisa. Os parlamentares acusam a entidade de aparelhamento político. Pedem uma Fiocruz “neutra”, comandada com o apoio de aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro. Será ele que nomeará o novo presidente da fundação. Os servidores da Fiocruz votam virtualmente entre os dias 17 e 19 de novembro e devem escolher três nomes. São quatro os candidatos. Além da atual presidente, Nísia Trindade, concorrem a uma vaga na lista tríplice o vice-presidente, Mario Moreira, e o coordenador de Vigilância em Saúde, Rivaldo Venâncio. Polonini registrou o seu nome no último momento, e agora é o quarto concorrente. “A Fiocruz sempre foi respeitada por sua produção científica, mas nos últimos 30 anos se desviou de seu propósito original em virtude de grupos de extrema esquerda e viés revolucionário”, afirmou o deputado federal Márcio Labre (PSL-RJ), em vídeo de apoio a Polonini. O parlamentar é ex-funcionário da Fiocruz. A gravação foi divulgada no mesmo dia em que a Fiocruz anunciou a produção de 210 milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford , ainda em fase de testes, contra a covid-19 no ano que vem. “Estamos oferecendo um nome alternativo.” Polonini também tem o apoio do deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ).
Disputa. A eleição acontece em um momento crucial da história da instituição centenária, em meio a uma pandemia sem precedentes e às vésperas do início da produção em massa da vacina contra o novo coronavírus. A socióloga Nísia Trindade diz que a disputa é democrática, e a candidatura de Polonini é legítima. Mas ressalta o caráter de Estado da fundação. “A eleição da Fiocruz não pode ser colocada em termos de posicionamento político, ideológico, governo versus oposição. A Fiocruz é uma instituição de estado, é ruim colocar um clima de polarização que não existe dentro da instituição. Não é que haja uma uniformidade de pensamento, claro que não, mas não existe polarização”, afirmou a presidente, que foi a primeira a comandar a instituição de pesquisa. Nísia destacou que tem contato permanente com parlamentares de todos os partidos. Também lembrou que, durante a pandemia, houve esforço nacional da Fiocruz com o Ministério da Saúde para produzir testes de diagnóstico moleculares para atender aos mais vulneráveis. “Nada disso aconteceria se houvesse uma ideologia, um partido político”, disse. “Não é dessa forma que trabalhamos. E temos uma grande responsabilidade para o próximo período, não é qualquer instituição que pode estar à frente da produção de uma vacina neste momento.” Polonini, por sua vez, garantiu ser apartidário. Disse que seu principal objetivo é valorizar os servidores. “Estão tentando me vincular a um partido político, mas sou apartidário”, afirmou ele. “Meu questionamento quanto aos demais candidatos se dá porque eles representam um só projeto. Hoje, temos dois projetos, o meu, criado com os servidores, e o da atual presidente, representado pela chapa tríplice.”
História. A Fiocruz tem unidades em dez Estados brasileiros e também em Maputo, Moçambique. A história da Fiocruz tem início em 25 de maio de 1900, com a criação do Instituto Soroterápico Federal, situado na Fazenda de Manguinhos, zona norte carioca. O órgão foi responsável, sob comando do bacteriologista Oswaldo Cruz, pela reforma sanitária que erradicou a epidemia de peste bubônica e também a febre amarela na cidade do Rio de Janeiro.

*”Instituição planeja fabricar vacina nacional”*
*”Perspectiva de vitória de Biden faz Bolsa voltar aos 100 mil pontos; dólar cai 1,9%”*

*”Risco de 2ª onda da covid aumenta pressão por auxílio”* - A segunda onda da covid-19 já registrada em países da Europa e nos EUA fez subir a pressão em uma ala do governo e também no Congresso pela prorrogação das medidas de combate aos efeitos da pandemia, principalmente o auxílio emergencial – cujo pagamento, a princípio, será encerrado em dezembro. Mas de olho no risco fiscal, a equipe econômica começou a costurar uma solução legal para fechar a porta a uma eventual corrida de ministérios para autorizar gastos na reta final do ano, deixando pagamentos “pendurados” para 2021 por meio dos chamados “restos a pagar” (despesas transferidas de um ano para o outro). Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a intenção da equipe econômica é publicar uma portaria para delimitar quais restos a pagar da pandemia poderão ser pagos no ano que vem. Será um procedimento especial único para as despesas que foram feitas com base no chamado orçamento de guerra e que vão ficar para 2021, criando uma espécie de cinturão de segurança para a gestão fiscal no ano que vem.
Aprovado pelo Congresso, o orçamento de guerra tirou várias amarras de regras fiscais para permitir ao governo ampliar os gastos no combate aos efeitos da pandemia. A portaria está em análise na ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN) e deverá ser publicada até o próximo dia 15. Por essa regra, apenas os restos a pagar processados ficarão de pé de um ano para o outro. O carimbo de “processado” é dado quando o governo reconhece a dívida, ou seja, quando o bem ou serviço é entregue, ou há o reconhecimento de um direito ao recebimento daquele recurso. Com isso, gastos não processados (ou seja, houve apenas a promessa de despesa, sem avanço) não permanecerão para os próximos anos como restos a pagar. No caso do auxílio, só quem fizer jus ao benefício em dezembro de 2020 poderá receber qualquer eventual valor pendente em 2021. Com a decisão, a expectativa da equipe econômica é fechar qualquer brecha legal que possa permitir aos ministérios deixar uma fatura muito grande para 2021. Segundo apurou a reportagem, alguns órgãos consultaram informalmente a área econômica sobre a possibilidade de empenhar recursos destinados originalmente à crise para outras áreas que estão com orçamento muito apertado em 2021. A prorrogação do auxílio emergencial está sendo cobrada porque o governo demora em apontar uma solução para o fim do benefício. Uma das propostas defendidas é a concessão de mais dois auxílios por meio de medida provisória. Há quem defenda a inclusão dessa prorrogação na Medida Provisória 1.000, que estendeu o auxílio até o fim desteano com valor de R$ 300. A MP ainda não foi apreciada pelo Congresso.
Pressão. Essa pressão foi reforçada por pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) com o Instituto MDA, divulgada na semana passada, na qual 72% dos entrevistados defenderam a prorrogação do benefício por mais alguns meses a partir de janeiro de 2021. “É impressionante como o governo não conseguiu pautar ainda esse debate (a alternativa ao fim do auxílio)”, disse Pedro Fernando Nery, consultor do Senado. Para ele, há hoje um “abismo” que separa os dias 31 de dezembro e 1.º de janeiro de 2021, quando não haverá mais o auxílio. O economista destaca que está contratada alta da pobreza, do desemprego e da desigualdade. “Alguma coisa terá de ser feita. Não consigo pensar num assunto mais urgente.”
Para Manoel Pires, coordenador do Observatório Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), é muito provável que depois do verão uma segunda onda da covid possa atingir o Brasil. “Seria adequado para o governo manter uma estratégia pela qual uma eventual renovação do benefício seguisse a ideia de redução gradual”, recomendou. Segundo ele, isso pode envolver uma redução do valor do benefício nos próximos dois meses, dando tempo para avaliar quais são os reflexos de uma segunda onda lá fora e como poderia se planejar para atuar no Brasil. Já o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDBPE), disse que o Brasil tem uma onda longa da covid e que a preocupação deve ser maior no verão com os voos que partem da Europa para o Brasil. Ele garante que não há planos de renovação do Estado de calamidade e nem de auxílios. “Se tivermos um fato extraordinário, todas as cartas serão colocadas na mesa, mas hoje estamos caminhando para uma não renovação do Estado de calamidade e vamos tratar do Renda Brasil”, disse. O Renda Brasil ou Cidadã é o novo programa que o governo estuda em substituição ao Bolsa Família. Lideranças do Congresso Nacional também já cogitaram a possibilidade de remanejar eventuais “sobras” dos gastos contra covid para investimentos públicos. Em julho, a Casa Civil avaliou consultar o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a possibilidade de empenhar em 2020 gastos com obras e investimentos a serem executados apenas nos próximos anos. Revelada pelo Estadão/Broadcast, a consulta era um pedido do Ministério do Desenvolvimento Regional, e acabou sendo suspensa após ser interpretada pelo mercado como tentativa de drible ao teto de gastos, que limita o avanço das despesas à inflação.

*”No início de 2021 voltamos ao normal, diz titular do Tesouro”* - O secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, disse ontem que não há até o momento nenhum indicativo de segunda onda de covid-19 no Brasil e, por isso, não há razão para discutir agora prorrogação de políticas de combate aos efeitos da pandemia. “No início de 2021, voltamos ao normal, viramos a página”, afirmou. Nos últimos dias, diversos países na Europa anunciaram a retomada de medidas restritivas à população para tentar conter a segunda onda de contaminação por covid-19. O temor de que isso se repita no Brasil tem alimentado o debate sobre a prorrogação das medidas. “Se acontecer (uma segunda onda) em algum outro momento, o crédito extraordinário já é um instrumento que fica fora do teto (de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação) e pode ser usado”, disse. Funchal citou ainda a possibilidade, aventada pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, de incorporar no pacto federativo alguns instrumentos do orçamento de guerra que facilitaram a ampliação de gastos e suspenderam temporariamente amarras fiscais. Segundo o secretário, esses instrumentos valeriam para outras eventuais futuras situações de calamidade.
Orçamento de guerra. Como antecipou o Estadão/Broadcast no início de outubro, o governo quer incorporar dispositivos do orçamento de guerra no texto da Proposta Emenda Constitucional (PEC) para regulamentar regras fiscais em casos de calamidade. A medida pode dar segurança para elevar gastos para continuar combatendo a covid19, caso haja necessidade diante de uma eventual nova onda da pandemia. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), disse ao Estadão/Broadcast na época que a intenção é “estabilizar todas as medidas” que o governo poderá adotar se a doença voltar a recrudescer, como já vem ocorrendo em países da Europa. Funchal disse que o Brasil precisa se estruturar para pagar a dívida contratada pelo governo para bancar as medidas de combate à pandemia da covid-19. Na semana passada, o Tesouro divulgou a projeção de que a dívida bruta do governo geral (DBGG) encerre 2020 em 96,0% do PIB, bem acima dos 75,8% verificados no fim do ano passado. A dívida deve passar a marca dos 100% do PIB em 2025. Segundo Funchal, já existem novas estimativas aproximando o rombo previsto para este ano a R$ 900 bilhões. O secretário defendeu a aprovação de reformas estruturais para garantir o reequilíbrio fiscal e a redução da dívida pública nos próximos anos. Segundo ele, a percepção de que a situação fiscal no Brasil se deteriorou tem levado a uma inclinação na curva de juros de longo prazo, hoje na casa dos 8%.

*”Autonomia do BC pode ser alterada na Câmara”*

*”Gasto com educação eleva padrão de vida”* - Se o Brasil investir apenas 1% a mais, a cada ano, do seu Produto Interno Bruto (PIB) em educação básica, o padrão de vida médio da população poderá aumentar até 26% nos próximos 50 anos. Os dados são de um levantamento recente publicado por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A educação é um investimento de longo prazo, cujos efeitos sociais e econômicos se tornam um patrimônio daquela sociedade. Basta olhar para os exemplos da Suécia ou da Coreia do Sul, países que evoluíram apostando no ensino”, diz um dos coautores da pesquisa, Samuel Pessôa, pesquisador sênior associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. Os economistas observaram os efeitos dos recursos para a educação no País entre 1933 a 1985. “O investimento em capital humano por meio da oferta de educação primária não fazia parte da estratégia na época. Ao longo do século, por meio de sucessivos ciclos de democracia e autoritarismo, a negligência em relação à educação persistiu”, lembra o também coautor, Edmilson Varejão, diretor executivo da startup AI Consult. Em valores correntes, o PIB de 2019 foi de R$ 7,3 trilhões. Para este ano, o Banco Mundial espera queda de 5,4%. Segundo Pessôa, considerando-se o patamar atual do Brasil, o aumento progressivo dos investimentos com educação poderia igualar, em três décadas, o padrão de vida ao dos portugueses.
Exemplo local. “Isso é possível, com a universalização da educação básica. Exemplos como o do Ceará devem ser aplicados em todo o País. Dá para imaginar que, nos próximos anos, os cearenses vão ter um surto de desenvolvimento fruto da educação, que poderia estar ocorrendo em outros Estados.” Os economistas apontam, ainda, que investir na educação 2% do que o País produz por ano levaria a um aumento de quase 32% na produtividade. Para as empresas, a baixa qualificação média do brasileiro e o contingente de desempregados são motivos de preocupação. No ano passado, o índice de bem-estar brasileiro, medido pelo PIB per capita, era de R$ 34,5 mil. Ao se considerar a produtividade, o País também vai mal. Entre 1995 e 2018, esse indicador aumentou apenas 1%, também segundo a FGV. Uma estimativa da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que, para absorver o contingente de desempregados mais aqueles que devem entrar no mercado nos próximos anos, a economia teria de crescer cerca de 3,5% ao ano até o final da próxima década. “Dado o atual nível de produtividade e o desempenho econômico esperado para os próximos anos, o Brasil não deve conseguir absorver todos os desempregados durante as últimas crises”, diz o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes. A entidade projeta que a taxa de desemprego, de 14,4%, só deve cair com a reativação da economia combinada com o aumento da produtividade.
Vida melhor. Do ponto de vista do trabalhador, anos a mais de estudo melhoram a remuneração e as condições de trabalho. Dados da Pnad Contínua apontam que a diferença de rendimento médio com o trabalho entre quem não concluiu o ensino fundamental e aquele que terminou uma graduação chega a quase R$ 4 mil. Além disso, os trabalhadores menos instruídos foram os que mais perderam rendimentos por conta da pandemia do novo coronavírus: eles deixaram de receber de 25% a 18% entre maio e julho, segundo cálculos da consultoria IDados, a partir de dados da Pnad Covid, pesquisa que o IBGE tem feito durante os meses de pandemia. No caso do analista de produção Mauro Conceição, de 57 anos, ter sido o primeiro da família a terminar um curso universitário fez toda a diferença. Trabalhando enquanto concluía administração de empresas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), no início da década de 1990, ele viu seu padrão de vida mudar completamente. “Era uma rotina pesada, tinha de conciliar o trabalho com a faculdade, mas isso rendeu muito para a nossa família. Na época, ter o ensino médio já não era um diferencial nem impressionava os chefes. Eu tinha de me esforçar para estudar e trabalhar ao mesmo tempo ou me acostumar a ver só os colegas de trabalho conseguindo avançar na carreira”, lembra. Foi a formação que permitiu que os filhos de Conceição pudessem concluir os estudos antes de entrar no mercado de trabalho. Seu filho mais velho, Matheus, de 24 anos, pôde estudar Comunicação em uma universidade pública e agora tenta uma vaga de trainee em grandes empresas, como Magazine Luiza. “A história da minha família é exceção, ainda mais quando se pensa em uma família negra. O meu pai ter concluído uma faculdade, há 30 anos, já foi o suficiente para mudar a minha vida e a dos meus dois irmãos. Se a gente pensar nas pessoas que conseguem entrar em uma faculdade agora, muitas por causa das cotas, dá para imaginar quantas famílias podem ser transformadas”, diz Matheus.

*”Tensão aumenta em protestos e Biden pede calma: ‘democracia é confusa’”*

*”Trump fala de novo em fraude e redes de TV o ignoram”* - As emissoras de TV americanas ABC, CBS e NBC suspenderam ontem a transmissão do discurso do presidente Donald Trump após ele fazer uma série de alegações de fraudes eleitorais sem apresentar nenhuma evidência. Ele prometeu ontem entrar com ações em todos os Estados onde o democrata conseguir a maioria dos votos. Mas a quinta-feira foi de más notícias para os advogados de Trump. Em dois Estados onde o presidente protocolou medidas eleitorais, juízes negaram os pedidos do republicano. Em seu discurso, o presidente disse que se a apuração considerar apenas os “votos legais”, ele seria o vencedor. Acrescentou que caso se considerem os votos que chegaram depois, por correio, perderia, acusando os democratas de tentarem “roubar a eleição”. Durante meses antes da disputa Trump denunciou uma suposta fraude nas eleições deste ano, sem apresentar evidências de irregularidades.
A campanha de Trump pediu que Michigan e Pensilvânia paralisassem a apuração. Na Geórgia, os advogados do presidente querem acompanhar o processo de contagem e, no Wisconsin, onde Biden venceu por cerca de 20 mil votos, desejam a recontagem de votos. Juízes na Geórgia e no Michigan rejeitaram ontem a demanda republicana, enquanto uma decisão na Pensilvânia deu uma vitória parcial ao presidente. As contestações judiciais começam localmente, mas podem chegar à Suprema Corte, onde os republicanos acreditam ter maioria de votos. Dos nove magistrados do mais alto tribunal dos EUA, seis foram indicados por presidentes republicanos – sendo três por Trump. Os democratas acreditavam que só uma vitória por ampla margem poderia evitar a contestação nos tribunais, mas a disputa deste ano está mais competitiva do que as pesquisas projetaram e a campanha de Trump se mostra disposta a intensificar a batalha na Justiça, o último recurso do presidente. Durante todo o dia, o presidente ficou ativo no Twitter, onde duas vezes escreveu: “Parem a contagem”, em letras maiúsculas, e também “Parem a fraude”. “Todos os recentes Estados reivindicados por Biden serão legalmente contestados por nós por fraude eleitoral e fraude eleitoral estadual. Muitas provas – basta olhar a mídia. NÓS GANHAREMOS! América Primeiro!”, escreveu Trump.
A plataforma ocultou, novamente, três publicações do presidente por entender que a mensagem é “contestável” e poderia “ter informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou processo cívico”. O Facebook removeu publicações de aliados do presidente com a mensagem “Parem o roubo”. Os advogados de Trump tiveram uma pequena vitória na Pensilvânia, quando uma corte de apelação estadual autorizou que os observadores republicanos fiquem mais perto dos oficiais que fazem a contagem na Filadélfia. Antes, os fiscais indicados por Trump precisavam ficar a 6 metros dos trabalhadores da seção eleitoral, uma distância que foi reduzida para 2 metros. Um assessor de Trump classificou a decisão como uma “grande vitória legal”, em uma postagem que o Twitter classificou como enganosa. Bill Russo, porta-voz da campanha de Biden, disse que a decisão não é relevante. “Não nos importamos se os observadores estão a 5, 4 ou 2 metros de distância, desde que os oficiais eleitorais possam fazer o trabalho deles”, afirmou. Em entrevista ao New York Times, James Baker, o ex-secretário de Estado responsável pela batalha legal de George W. Bush nas eleições de 2000, na Flórida, disse que Trump não deveria pedir a paralisação da apuração. “Nunca dissemos ‘não contem os votos’. É uma decisão muito difícil de defender em uma democracia.”

*”Legislação eleitoral descentralizada ajuda investida republicana”*
*”Estados menos ‘badalados’ agora ganham destaque”*
*”Bolsonaro volta a falar em voto impresso”*
*”Para analistas, Biden é vantajoso ao Brasil”*

*”Possível mudança de rumo na América Latina”* - Joe Biden falou em março à publicação American Quarterly sobre qual seria o tratamento que seu governo adotaria em relação à América Latina.
1. Primeiro país da América Latina a ser visitado após a posse.
Como vice-presidente, tive a sorte de viajar por toda a América Latina e tenho grandes amigos nessa região, mas seria uma presunção anunciar uma visita sem consultar de antemão o anfitrião. No entanto, pretendo ter uma primeira reunião com o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, para a criação de uma estratégia conjunta nos campos da economia e da segurança, e começar a desempenhar os meus compromissos com a finalidade de anular a desumana política de Donald Trump em relação à imigração.
2. Mudança de regime na Venezuela.
Os Estados Unidos não devem se envolver em mudanças de regime. Nicolás Maduro é um ditador, pura e simplesmente, mas o objetivo principal na Venezuela deve ser pressionar para uma volta à democracia por meio de eleições livres e honestas, e ajudar o povo venezuelano a reconstruir seu país. A comunidade internacional também é responsável por ajudar os vizinhos da Venezuela, como a Colômbia, a tentar solucionar a grave crise humana criada pelos milhões de migrantes venezuelanos que fugiram do país. Como presidente, também concederia o Status Protegido Temporário aos venezuelanos nos Estados Unidos.
3. Ajuda a El Salvador, Guatemala e Honduras
Nossa assistência não é um prêmio, mas uma maneira de os Estados Unidos ajudarem os países do Triângulo Norte a conter a violência e a pobreza que impelem as famílias desesperadas rumo ao norte. A assistência a estes países é de nosso interesse nacional, mas eu pretendo exigir também que os governos assumam compromissos concretos no que diz respeito ao combate à corrupção, a investimentos em seus recursos, e a demonstrar a vontade política de empreender importantes reformas.
4. Livre-comércio com países latinoamericanos.
Todo novo acordo comercial precisará estar de acordo com minhas prioridades, que são a criação de empregos nos Estados Unidos, a proteção dos trabalhadores americanos e as preocupações ambientais que constituem uma parte fundamental da negociação. Nossos atuais acordos de livre-comércio na América Latina – e em todo o globo – devem ser implementados de maneira justa para criarem empregos e prosperidade para todos os interessados.
5. Combate à corrupção na América Latina
Na minha presidência, os Estados Unidos, incluindo nossos diplomatas e agência de segurança, voltarão a liderar a luta contra a corrupção, porque todo esforço para melhorar as condições na região devem começar pelo combate à corrupção sistêmica e aos abusos de poder. Infelizmente, o governo Trump anulou os esforços para combater a corrupção na América Latina. Eu apoiarei as iniciativas regionais e especificamente de cada país a fim de fortalecer o seu sistema judiciário e o Estado da lei, e usarei a proibição dos vistos e as nossas leis federais para prender indivíduos e organizações corruptas.
6. Influência da China na América Latina.
Atualmente, a ameaça fundamental à segurança nacional americana no Hemisfério Ocidental é a ausência de uma liderança americana. Rússia e China não se comparam aos nossos laços extraordinários e à história comum com o povo da América Latina e do Caribe. Eles devem estar cientes de que a incompetência de Trump e sua negligência em relação à América Latina e o Caribe acabarão no primeiro dia do meu governo.
7. Legalização da maconha em países latino-americanos.
Eu sou favorável a que a maconha e outras drogas sejam tratadas como uma questão de saúde pública. No entanto, não acredito que a legalização seja uma panaceia, tampouco que ela solucionaria a questão do fraco Estado da lei e das frágeis instituições legais que permitem que o narcotráfico e o de outras drogas prosperem em algumas partes da América Latina e do Caribe.
8. Floresta Amazônica.
Os incêndios que devastaram a Amazônia deram origem a uma ação global para deter a destruição e apoiar o reflorestamento antes que seja tarde demais. O presidente Jair Bolsonaro deve saber que, se o Brasil não agir como protetor responsável da Floresta Amazônica, meu governo solicitará o apoio mundial para garantir que o meio ambiente seja protegido.
9. Relações entre os EUA e Cuba. Os americanos – e particularmente os cubano-americanos – podem ser nossos melhores embaixadores da liberdade em Cuba. Portanto, como presidente, mudarei imediatamente as políticas falhas de Trump que tanto prejudicaram o povo cubano e nada fizeram para o avanço da democracia e dos direitos humanos.
10. Desculpas sobre apoio dos EUA a golpes em países como Brasil, Chile e Guatemala.
O governo Obama-Biden reconheceu que os Estados Unidos e a América Latina não devem esconder da nossa história este fato nem se sentirem constrangidos por isso – na realidade fizemos grandes progressos para sanar as feridas da Guerra Fria em países como El Salvador, Argentina e Cuba. O meu governo se comprometerá a ser o mais transparente da história, e tornará públicos documentos que datam de dezenas de anos atrás sobre a política americana na América Latina.

 

CAPA – Manchete principal: *”Biden e Senado republicano são bom cenário para Brasil”*

*”PF apura ataque hacker ao STJ e TSE entra em alerta às vésperas da eleição”* - Polícia Federal investiga suspeita de que outros órgãos públicos estejam sob ataque cibernético

*”Consumo de bem industrial não recupera perda da pandemia”* - Problema está concentrado nas importações, que permanecem 17,7% abaixo do nível de fevereiro

*”País tem 609 mortes por covid; média mantém queda”* - A média móvel semanal de novos óbitos no Brasil foi de 392 por dia

*”Produtor rural terá “cédula verde” como opção de crédito”* - A Secretaria de Política Econômica (SPE) informou ontem que o Ministério da Economia prepara uma série de iniciativas nas áreas ambiental, rural e de crédito. Uma das ideias avançadas é a criação da Cédula do Produtor Rural (CPR) Verde. A CPR é um mecanismo de antecipação de recursos que é baseada na safra agrícola. A “CPR Verde” estaria atrelada à conservação de matas naturais nas propriedades rurais, ou seja, à manutenção de florestas em pé. Com esse instrumento, o investidor poderia comprar um título, que não tem incidência de Imposto de Renda, para financiar a preservação dessas áreas. A intenção, o Valor apurou, é deixar que as partes envolvidas possam definir os termos de cada operação, como prazo e taxa. Mas, para que o instrumento tenha viabilidade, uma das ideias é criar uma espécie de “conta-garantia”, que faria com que os recursos da antecipação só possam ser sacados pelo proprietário rural em parcelas, conforme a verificação de que a área está sendo preservada ao longo dos anos. O tema ambiental tem sido alvo de crescente atenção de investidores estrangeiros. O Brasil nos últimos tempos tem tido prejuízos reputacionais pela percepção de que não estaria preservando seus biomas como deveria. Esse tipo de mecanismo pode ser um caminho para se promover a preservação. Nesse sentido, o governo também já está em conversas para tentar estruturar um mercado na bolsa (B3) para negociação das cotas de reserva ambiental - instrumentos vinculados a áreas excedentes de preservação que podem ser vendidas para aqueles que estão com grau de conservação abaixo do exigido.
A nota informativa da SPE também apresenta outras proposições de melhorias regulatórias que estão avançadas para serem lançadas no “curto prazo”. Entre elas, está a criação do Fundo Imobiliário Rural. A ideia é usar esse mecanismo para dinamizar o mercado de terras rurais promovendo investimentos e regularização fundiária. Para tanto, o Valor apurou, uma das ideias é permitir que, em uma operação de venda de terra que receba como pagamentos cotas de um fundo desse tipo, o imposto de renda sobre ganho de capital só seja recolhido no resgate da cota. Em um fundo imobiliário normal, isso ocorre no momento da operação de venda do imóvel. A SPE também listou medidas em preparação na área de crédito. Estas já estavam sendo preparadas desde antes da pandemia de covid-19, mas devem ser retomadas. A intenção é fortalecer mecanismos de garantias e, assim, ampliar a oferta de crédito. Uma das iniciativas aprimora a alienação fiduciária, tentando facilitar um múltiplo uso de imóvel como garantia. Ainda nesse tópico, a equipe econômica quer rever as regras relativas a imóveis classificados como “bens de família”, permitindo a execução pelo menos parcial em caso de ativos de alto valor dados em garantia. Também está na agenda a criação de câmara de garantia. A medida não só organizaria melhor o uso desses ativos, mas também permitiria que as pessoas alienassem bens diretamente para a central. Esta avaliaria o imóvel e ofereceria uma “carta ou limite de crédito” para que a pessoa tome empréstimos em diferentes instituições financeiras. Isso, em tese potencializa o uso do bem como garantia e reduz o custo do crédito.
O governo pretende ainda ampliar o uso de Previdência Complementar como Garantia de Crédito e lançar o “Marco Legal da Securitização”, para viabilizar a ampliação das possibilidades de lastros (hoje mais limitados a ativos imobiliários e agrícolas - CRI e CRA) e padronizar algumas regras, como a possibilidade de troca de lastro. A agenda de medidas conta da nota técnica “Objetivos e Desafios para 2021, produzida pela SPE. No texto, contudo, não há muitos detalhes sobre as ações, que em grande medida estão no âmbito da Iniciativa Mercado de Capitais (IMK), liderada pela Economia. O documento da equipe de Adolfo Sachsida é uma radiografia da estratégia econômica do governo. Nele, a pasta faz mais uma enfática defesa do ajuste fiscal e de mudanças em marcos regulatórios (como lei de falências, gás e cabotagem) para elevar a produtividade da economia brasileira. “Existem dois grandes riscos para a economia brasileira: no curto prazo é fundamental consolidarmos o lado fiscal; e no longo prazo precisamos aumentar a produtividade total dos fatores. A falha em endereçar qualquer um desses riscos trará consequências negativas severas para nossa sociedade. As PECs de Emergência Fiscal, Pacto Federativo e Fundos e a reforma administrativa precisam caminhar no Congresso Nacional com o devido senso de urgência”, diz. O material tenta mostrar expectativa favorável para com o desempenho da economia neste trimestre e para o ano que vem. “Tal como indústria e comércio lideraram a retomada no terceiro trimestre, o setor de serviços será o carro-chefe da retomada no quarto trimestre de 2020. Além disso, elencamos fatores inerentes ao mercado de trabalho, ao mercado de crédito e à consolidação fiscal. Tais fatores sugerem a continuidade da retomada econômica em 2021”, aponta.
A SPE passa ainda uma mensagem otimista sobre o emprego. A visão é que o setor informal vai se recuperar à medida que a economia vai reabrindo. “Parece correto inferir que o desemprego irá se reduzir ao longo de 2021, principalmente em decorrência do aumento do emprego no setor informal da economia em virtude da redução das medidas de distanciamento social. Em 2021, a taxa de ocupação da mão de obra irá retornar aos patamares pré-crise e irá contribuir para uma retomada econômica mais robusta”, afirma a secretaria.

*”Guedes reitera necessidade de avanço da agenda fiscal”* - Com líderes do governo no Congresso, Guedes discute retomada da agenda de medidas econômicas assim que o primeiro turno for encerrado

*”Secretaria de Desestatização tem mudanças na equipe”* - Depois de uma troca de comando em agosto, quando Salim Mattar pediu demissão e Diogo Mac Cord entrou no lugar dele, agora é a vez de trocas imediatamente abaixo

*”SUS deve ser fonte de criação de vaga, sugere Afonso”* - Num momento em que a privatização do Sistema Único de Saúde (SUS) virou tema de debate nacional, uma proposta formulada pelo economista José Roberto Afonso, um dos mais experientes especialistas em contas públicas do país, vai na direção oposta: o serviço público de saúde deveria, no pós-pandemia, ser uma fonte de trabalho e acolher parte do grande contingente de desocupados que surgirá com a crise. Seria a geração de trabalho no formato “empreendedorismo social”, cujo uso tem se intensificado na Europa, como forma de lidar com um número crescente de desempregados. Pessoas são contratadas pelo governo, não necessariamente como funcionárias públicas, para atuar em projetos de interesse do Estado. Por exemplo, cozinheiros preparando refeições para serem distribuídas aos necessitados. Os trabalhadores já estavam ameaçados de perder seus empregos desde antes da crise. Tanto que o futuro do trabalho foi o tema central da reunião do Fórum Econômico Mundial de 2019. O coronavírus apenas acelerou esse processo. “É preciso lidar com a emergência olhando para a frente”, diz o economista. “Os empregos perdidos não vão voltar.” Por isso, os governos precisam encontrar formas de lidar com uma realidade diferente da que havia há 20 ou 30 anos.
No Brasil, formas de apoio como o seguro-desemprego precisam ser modificadas, avalia o economista. O mecanismo se destina a uma parcela cada vez menor de trabalhadores, os que têm carteira assinada. Mas aqui o número de trabalhadores por conta própria, formalizados como microempreendedores individuais (MEIs) e donos de microempresa de uma só pessoa tem crescido, enquanto o contingente de celetistas recua, como proporção de ocupados. Esses também deveriam ter algum apoio do governo, especialmente neste período de pandemia. A proposta de Afonso é transformar o seguro-desemprego no “seguro-destrabalho” e acolher MEIs e donos de negócios no sistema. “Carteira assinada é um sonho cada vez mais distante, e os governos não podem ter políticas só para isso.” Para isso, seria necessário utilizar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que já financiam o seguro-desemprego, e reforçar com recursos do Tesouro, por meio de emissão de dívida. “Destaca-se que o aporte no FAT financiado por dívida, consiste mera reposição dos recursos retirados do fundo ao longo dos anos, justamente para pagar dívida pública”, escreve o economista no livro “Governance 4.0 para Covid no Brasil - Propostas para Gestão Pública e para Políticas Sociais e Econômicas”, a ser lançado brevemente pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). “Não custa lembrar que, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, entre 1995 e agosto de 2019, o FAT teve perda líquida de R$ 289 bilhões, em valores atualizados e capitalizados pela Selic.”
Ele se refere ao fato que parte dos recursos originalmente destinados ao FAT acabou transferida ao Tesouro por meio da Desvinculação de Receitas da União (DRU). As propostas fazem parte do livro e das pesquisas de pós-doutorado de Afonso na Universidade de Lisboa. O capítulo escrito pelo economista trata de saúde e proteção social. “Na crise, o governo precisa contratar mais médicos e enfermeiros, não necessariamente como servidores públicos, mas como prestadores de serviço”, afirma o economista. Haveria trabalho em outras frentes, como na tecnologia. “O sistema de saúde brasileiro precisa tomar um choque de modernização.” O seguro-destrabalho, por sua vez, precisaria estar mais fortemente conectado com programas de treinamento do que o que ocorre hoje com o seguro-desemprego. “Seria quase como uma bolsa de estudos para a pessoa se qualificar”, explicou. Para isso, o Sistema S precisaria ter uma atuação mais ampla. Um programa massivo de capacitação de trabalhadores está no radar do governo. No Ministério da Economia, o diagnóstico é que os dois grandes problemas à frente são o desemprego e o aumento da pobreza. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem falado em palestras sobre uma “rampa de ascensão social” em que uma pessoa de baixa renda sairia do auxílio emergencial e progrediria em etapas até um emprego formal menos onerado. O problema é que esse desenho depende da criação do tributo sobre transações. No fim do mês passado, em reunião no Congresso Nacional, Guedes pediu a deputados e senadores que considerem morta essa ideia. “Agora estamos em campanha eleitoral e ninguém quer discutir esse troço”, reconheceu. É possível que a discussão desse tema polêmico seja retomada após as eleições municipais, quando a retomada da economia estiver no centro das atenções. Mas as resistências do meio político são grandes, a começar pela histórica oposição do presidente Jair Bolsonaro.

*”Juro baixo é “oportunidade” para reformas, diz Funchal”* - Elevação das despesas neste ano para fazer frente à crise tem efeitos positivos sobre a economia, mas traz aumento da dívida pública, afirma secretário do Tesouro

*”Balança de serviços caminha para menor déficit em 11 anos”* - Queda de viagens e câmbio depreciado contribuem para rombo menor, na casa de US$ 20 bilhões

*”Consenso de Estados sobre royalties ainda está distante”* - Com adiamento da votação no Supremo, Rio, Espírito Santo e São Paulo ganham fôlego para tentar convencer Estados não produtores

*”Bolsonaro sugere ‘federalizar’ Fernando de Noronha”* - O presidente Jair Bolsonaro sugeriu ontem, em live no Facebook, federalizar a ilha de Fernando de Noronha, que atualmente pertence ao Estado de Pernambuco. Ele não informou, no entanto, como e quando pretende fazer isso. Bolsonaro estava ao lado do secretário da Pesca, Jorge Seif, que na semana passada visitou a ilha em uma comitiva formada pelos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Milton Ribeiro (Educação), além do presidente da Embratur, Gilson Machado Neto. Na viagem, Salles assinou termo liberando a pesca da sardinha no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, o que gerou críticas do governo pernambucano e de ambientalistas. “Sugeri a gente federalizar Fernando de Noronha; virou ali uma ilha de amigos do rei. E o rei não sou eu”, disse o presidente, queixando-se de uma taxa de acesso cobrada para os visitantes do local. “É um absurdo você vai para uma praia em Fernando de Noronha e pagar R$ 100. [...] Isso tem que mudar, pô.” Segundo site do governo de Pernambuco, é cobrada uma “taxa de preservação” diária de R$ 75,93 para permanecer na ilha. “Vamos tentar se for possível a gente federalizar Fernando de Noronha. Fazer realmente um polo turístico. Ouvi falar que não pode parar navio lá”, disse o presidente. “Poderia ser um local de arranjar recursos de fora para o Brasil vindo do turismo.” Na live, Bolsonaro também pediu que os prefeitos “não inventem novos confinamentos” depois das eleições. Foi uma referência velada a um possível agravamento da pandemia da covid-19, que vem desacelerando nas últimas semanas no país.
A medida vem sendo adotada por diversos países europeus nos últimos dias, diante do aumento de novos casos da doença. O presidente abordou o tema ao citar dados de recuperação de emprego desde nos últimos meses. “Estamos positivos desde julho. Então, a economia está reagindo. A gente pede a Deus que volte à normalidade”, disse Bolsonaro. “Que não inventem a partir do ano que vem, depois das eleições, que não inventem novos confinamentos, novos lockdowns.” Bolsonaro, então, questionou Seif sobre a hipótese de um novo confinamento: “Se você fosse prefeito e fosse eleito, em janeiro você ia decretar lockdown?”. “Nada. Abertura total. Todo mundo trabalhando”, respondeu o secretário.

*”Ala ideológica tenta proteger Araújo e Salles na Esplanada dos Ministérios”* - Ernesto Araújo e Ricardo Salles: alinhamento com Trump e enfrentamento no Meio Ambiente pode derrubar ministros

*”Os elogios de Bolsonaro a Collor e Lira em Alagoas”* - Durante cerimônia de entrega de uma obra em Piranhas, Alagoas, o presidente Jair Bolsonaro elogiou o senador e ex-presidente Fernando Collor (Pros-AL) e o deputado Arthur Lira (PP-AL). Os dois são réus por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Lava-Jato. Acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa, Collor foi apresentado por Bolsonaro como um homem que “luta pelo interesse do Brasil”. O Ministério Público sustenta que o grupo de Collor recebeu mais de R$ 29 milhões em propina em razão de contratos de troca de bandeira de postos de combustível celebrados com a BR Distribuidora. Lira foi citado como alguém “sempre alerta a trabalhar pelo seu Estado”. Com covid-19, ele não participou do evento. No STF, é acusado de ter recebido R$ 106 mil em propina em troca de apoio político a um presidente Companhia Brasileira de Transportes Urbanos.

*”Russomanno cai e empata com Boulos e França”* - Pesquisas indicam mudança em São Paulo e estabilidade no Rio, Recife e BH
*”Apenas Covas parece assegurado no segundo turno em São Paulo”* - Candidato do Republicanos dobra aposta no apoio de Bolsonaro depois de derreter nas pesquisas de intenção de voto

*”Atacada, Martha Rocha recua na simulação contra Paes”* - Na campanha a prefeito do Rio, os ataques mútuos entre os principais concorrentes são indiscriminados, mas um alvo é preferencial: a deputada estadual Martha Rocha (PDT). Considerada uma ameaça pela flexibilidade e potencial de alcançar votos à direita e à esquerda, a parlamentar tem sido criticada pelo líder e ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), o atual Marcelo Crivella (Republicanos) e o franco-atirador Luiz Lima (PSL), que tem 5% das preferências, de acordo com o Datafolha divulgado ontem, mas dono do terceiro maior tempo de propaganda em rádio e TV. Na nova pesquisa do instituto, a corrida municipal está aparentemente estável, com Paes isolado à frente (31%), e Crivella e Martha duelando pela vaga no segundo turno. O empate técnico entre a pedetista e o prefeito permanece, mas agora com ela dois pontos percentuais atrás (15% a 13%). Observando-se os levantamentos anteriores do Datafolha, não se pode depreender, por esses números, que os ataques à Martha surtiram efeito. É na simulação do segundo turno, no entanto, que o estrago parece estar minando a imagem da candidata, que caiu sete pontos percentuais. Na última pesquisa, a primeira em que o instituto a incluiu em cenário como finalista, Marta Rocha surpreendeu ao aparecer à frente do até então favorito Eduardo Paes, que já havia identificado a parlamentar como a maior ameaça à sua volta ao cargo. Com rejeição que chega a 57%, Crivella é considerado um adversário dos sonhos para o ex-prefeito, que aposta em sua imagem de gestor e na comparação de mandatos. Já a deputada se apresenta como Delegada Martha Rocha, o que desperta na campanha de Paes os fantasmas da derrota para um adversário com cara de novidade, como o ex-juiz Wilson Witzel (PSC), na eleição a governador de 2018. O novo Datafolha, contudo, freou as expectativas de que poderia haver uma onda a favor de Martha Rocha, também temida por causa do apelo ao eleitorado feminino.
No cenário contra Paes, Martha registrou 38% das intenções de voto, enquanto Paes variou de 41% para 44%. O duelo entre eles estaria tecnicamente empatado, mas agora a favor do ex-prefeito e no limite da margem de erro, de três pontos percentuais para mais ou para menos. Nada disso vale, claro, se a deputa não furar a polarização. Uma das esperanças de Martha para ultrapassar Crivella é receber votos úteis da esquerda nesta reta final. Ao não atacar Benedita da Silva (PT), ela se preserva de se indispor com os simpatizantes da deputada federal. A pedetista também mira os votos progressistas da deputada estadual Renata Souza (Psol), que registrou 5%, ou os mais centristas, do ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello (Rede). Os três concorrentes juntos somam 16% de intenções de voto que podem dar o empurrão que falta para Martha superar Crivella. A parlamentar, no entanto, tem o desafio de sobreviver à artilharia dos adversários que perguntam como ela não sabia dos desvios do ex-governador Sérgio Cabral, preso há três anos por corrupção, ou classificam como fracos seus resultados na área de segurança à frente da Polícia Civil. Nos últimos dias, Martha passou a exibir o apoio do pré-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, do seu partido, na propaganda eleitoral.

*”TSE libera realização de shows para levantar fundos de campanha”* - Decisão favorece Manuela e Boulos que terão ‘lives’ de Caetano Veloso para arrecadar recursos

*”Kassio toma posse no STF em cerimônia virtual”* - É o primeiro ministro indicado por Bolsonaro para a Corte

*”Câmara cassa deputado por abuso de poder econômico na eleição”* - Léo de Brito, do PT do Acre, assume a vaga e aumenta bancada petista para 54 parlamentares, superando os 53 da do PSL

*”Briga política derruba linha de crédito”* - MP que cria mecanismo para liberar R$ 120 bilhões em empréstimos fica sem votação e caducará

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