sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Olho nisso!

 



Eu não sei se você está acompanhando o que está acontecendo em Santa Catarina, mas se não está, deveria.

Resumidamente: nós denunciamos o megaescândalo dos 200 respiradores-fantasma, aqueles que foram comprados de uma empresa carioca por R$ 33 milhões. Nossa denúncia virou um pesadelo para o governo de Santa Catarina e resultou em prisões, queda de secretários e uma CPI para investigar o caso. No fim das contas, a vice-governadora aproximou-se de Jair Bolsonaro e o governador, que já havia se afastado do presidente, pagou o pato sozinho. Ele foi afastado por outro motivo, mas o escândalo dos respiradores pesou. O que a Assembleia Legislativa fez? Salvou a vice Daniela Reinehr, que assumiu o governo na semana passada. 

Daniela Reinehr é filha de Altair Reinehr, professor de história(!) negacionista do holocausto, neonazista conhecido em todo o estado. Altair foi meu professor no ensino médio e posso falar com tranquilidade: trata-se de uma figura deplorável que em sala de aula costumava divulgar livros que negavam o holocausto, exaltavam o nazismo e suas práticas violentas. Sabe-se lá quantos alunos ele converteu, e que estão por aí hoje, silenciosos, professando em privado suas crenças de morte.

Na terça-feira da semana passada, Daniela deu sua primeira entrevista como governadora. Era preciso fazer o que ninguém faria: perguntar diretamente e sem meias-palavras a posição da governadora em relação ao nazismo. Mandamos o repórter Fábio Bispo para a coletiva. Surpreendentemente, ela preferiu tergiversar, rodar em torno de uma explicação sem sentido e não fazer o básico: repudiar com veemência os ideais nazistas. Está tudo documentado em vídeo aqui. 

Daniela Reinehr é um produto do nosso tempo. Vivemos um momento em que uma governadora é incapaz de dizer diretamente que repudia uma ideologia que tortura, mata e é responsável pelo holocausto. Foi tão escandaloso que toda a imprensa nacional repercutiu.

Jornais, revistas, sites e rádios cobraram uma posição firme da governadora. Na quinta-feira, ela emitiu uma nota repudiando de maneira direta o nazismo, mas nos acusando de ter tirado a pergunta de contexto. É mentira. Nós colocamos nas redes o vídeo na íntegra. A coletiva inteira também está no site do governo do estado. Que cada um veja e tire suas conclusões sobre a conduta dela.

No sábado, dia 31, Daniela se posicionou novamente, dessa vez em um artigo na Folha de S.Paulo. Nenhuma dessas duas necessárias respostas públicas viria sem a pergunta do Intercept.

Eu sugiro que você acompanhe de perto a meteórica carreira de mais essa entusiasta do bolsonarismo. Daqui, continuaremos de olho. O Intercept não pretende dar um dia de descanso para pessoas que concordam com esse tipo de ideologia ou silenciam diante do absurdo. Vamos continuar investigando, incomodando e fazendo perguntas que os tiram do sério. 


Um abraço,

Leandro Demori
Editor executivo

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