segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Análise de Mídia 09/11

 



 

CAPA – Manchete principal: *”Biden cria plano contra a Covid no início da transição”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”O recado da dívida”*: Enquanto o presidente Jair Bolsonaro passeia despreocupado pelo país, uma crise econômica se avizinha. O problema que se agrava a cada dia é o descontrole das contas públicas, que poderá levar a mais inflação e a uma recaída na recessão caso não haja avanços na agenda de reformas, hoje interrompida pela hesitação presidencial. Nas projeções do Tesouro, as ações para mitigar os impactos sociais da pandemia levarão o déficit primário (sem contar despesas com juros) para cerca de 12% do Produto Interno Bruto neste ano. O Brasil foi um dos países que mais gastou no mundo durante a crise. A dívida pública bruta, que já era a mais alta entre os principais emergentes, saltará 20 pontos percentuais, para 96% do PIB. Tal situação dramática tem consequências palpáveis. Os gastos adicionais precisam ser financiados pela emissão de papéis federais no mercado financeiro. Sem um cenário claro de estabilização da dívida, é natural que investidores —os brasileiros que têm aplicações financeiras— fiquem inseguros e alterem seu comportamento.
Nos últimos meses vem ocorrendo um notável processo de encurtamento de prazos dos títulos e de aumento da parcela indexada à taxa Selic, do Banco Central —que já representa 36% do estoque, contra 22% em dezembro do ano passado. Vender papéis com juros fixos e prazos mais longos também está ficando mais caro. Embora a taxa básica esteja em 2% ao ano, o custo médio dos títulos lançados em setembro foi de 4,64% anuais. Cerca de um quarto da dívida mobiliária federal de R$ 4,5 trilhões vencerá nos próximos 12 meses. Desde o início do governo Bolsonaro, o prazo médio das novas emissões caiu de 5 anos para 2,1 anos. Essa combinação de prazos curtos e indexação ao juro de curto prazo expõe o Tesouro a riscos. A rolagem fica mais incerta; se o Banco Central tiver de elevar a Selic para combater a inflação, uma parcela grande do endividamento será imediatamente impactada. No limite, a ameaça é de insolvência, o que se traduz em rejeição aos títulos públicos. Quanto mais perto se chega desse cenário extremo, maior a tendência de desvalorização do real e alta da inflação. Está nas mãos do governo debelar a crise de confiança. A curto prazo, o mais essencial é assegurar a manutenção do teto de gastos, com a aprovação de uma emenda constitucional que permita a redução de despesas obrigatórias. Qualquer novo programa de renda, por mais meritório que se mostre, também precisa caber no teto, o que implica cortar em outras rubricas no Orçamento de 2021. São escolhas difíceis, que demandam liderança presidencial. Bolsonaro precisa tomar decisões.

PAINEL - *”Esquerdas vetam Moro em frente ampla contra Bolsonaro para 2022”*: Ainda que Luciano Huck dê sinais de que deseja construir uma ampla frente contra Jair Bolsonaro em 2022, a inclusão de Sergio Moro no grupo acaba com qualquer possibilidade de união, avaliam representantes da esquerda e da centro-esquerda. A explicação é que o ex-juiz é bolsonarista na essência, não é dissidente de fato do governo, porque saiu quando não tinha mais poder, e é inimigo pessoal de Lula e de outros personagens importantes para o bloco. O encontro entre os dois foi revelado pela Folha neste domingo (8). A avaliação é a de que ambos tentam pegar carona na onda da conciliação feita por Joe Biden contra Donald Trump, nos EUA. Mas as condições no Brasil são distintas. “É a junção da Lata Velha com a Lava Jato e o Paulo Guedes. O Brasil é bem maior”, afirma a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR). Para políticos próximos a Huck, o diálogo em direção à direita é a única chance de vencer o presidente em sua tentativa de reeleição. “Não é todo mundo que votou no Bolsonaro que é antidemocrático e fascista”, afirma Roberto Freire, presidente do Cidadania, para quem ainda não está claro quem e qual partido lideraria essa frente.

PAINEL - *”Oposição faz exigências para dar apoio a candidato a presidente da Câmara”*: Líder da minoria, o deputado José Guimarães (PT-CE) diz que a oposição combinou quatro pontos nas discussões da eleição para a presidência da Câmara. Atuará unida e fará aliança com um candidato que não seja governista. A oposição diz ter cerca de 140 votos e pode definir a disputa entre os grupos de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). Guimarães afirma que a oposição oferecerá apoio a quem garantir uma participação ativa na Mesa Diretora, que comanda a Casa, e quem defender que a pauta de votações da Câmara seja independente do governo.

PAINEL - *”Verba federal anunciada por Doria para Butantan não sai e deve ser reduzida”*: Os R$ 80 milhões anunciados por João Doria (PSDB), em setembro, como parte de um acordo com o Ministério da Saúde para equipar o Butantan com ajuda federal nunca foram liberados. Agora, a pasta de Eduardo Pazuello faz ajustes no projeto e avalia reduzir o repasse para a compra de máquinas e melhorias nas instalações da fábrica da vacina contra a Covid-19, a coronavac, para R$ 30 milhões. O restante dependeria de nova análise.

PAINEL - *”Apesar da redução de atividades na Câmara, 66 deputados gastam mais com gasolina em 2020”*: Mesmo com a redução das atividades parlamentares em Brasília em razão da pandemia, 66 deputados gastaram mais dinheiro com gasolina neste ano do que entre janeiro e outubro de 2019. Desde março, as sessões da Casa têm ocorrido por meio virtual. No geral, os membros da Câmara reduziram em 38% as despesas com combustível. Carlos Jordy (PSL-RJ), que foi vice-líder do governo, aumentou as despesas em 76%. Ele diz que evitou avião durante a pandemia e fez o percurso Rio-Brasília-Rio de 15 em 15 dias de carro, economizando passagens aéreas. Daniel Silveira (PSL-RJ) e Alê Silva (PSL-MG), que gastaram mais 24% e 22%, dizem ter usado a cota em seus estados. “Eu aproveitei para viajar e conheci praticamente todas as regiões de Minas Gerais”, diz Alê Silva. Quem mais gastou foi Cláudio Cajado (PP-BA), que usou R$ 54.481 em gasolina neste ano. “Quem me acompanha nas redes sabe que sempre estou visitando alguma cidade que represento”, disse em email ao Painel. “É importante agora os parlamentares criarem novos hábitos com o dinheiro público para os próximos anos, já que é possível gastar menos com o mandato. O setor privado aprendeu a se reorganizar, por que o público também não aprende?”, diz o diretor-executivo do Ranking dos Políticos, Renato Dias.

PAINEL - *”Russomanno tem três pedidos de direito de resposta Orlando Silva negados pela Justiça”*
PAINEL - *”Candidatos usam sites de paquera para atrair eleitores”*

*”Articulação Moro-Huck para 2022 inclui Doria e vê Ciro à frente de Lula”* - A articulação do chamado centro político para enfrentar tanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quanto a esquerda em 2022 aproximou três nomes obrigatórios em conversas sobre o tema: João Doria, Luciano Huck e Sergio Moro. A trinca combinou que irá jogar junto na montagem de uma frente oposicionista para a eleição presidencial. Na primeira quinzena de setembro, o governador tucano de São Paulo recebeu em sua casa o ex-ministro da Justiça e sua mulher, Rosângela. Num jantar, conversaram sobre a conjuntura política e a necessidade da união de nomes para fazer frente principalmente a Bolsonaro. O diagnóstico compartilhado pelos dois é o mesmo: o Brasil vive uma entropia política e 2022 pode viver uma repetição do embate entre a direita populista representada pelo presidente e algum nome do campo à esquerda. Hoje, o político deste campo mais citado em conversas não é o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de resto ainda inelegível, mas sim Ciro Gomes (PDT). Moro teve a mesma conversa com Huck em outubro, conforme a Folha revelou.
Doria havia falado sobre o tema com o apresentador da TV Globo em um jantar em Davos, na Suíça, durante a edição de janeiro passado do Fórum Econômico Mundial. No evento, feito em um hotel e à margem da programação oficial do Fórum, cerca de cem convidados eram divididos em mesas sob orientação de um anfitrião por grupo. Doria era um deles, e convidou Huck e o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM). O tucano discorreu sobre o que via como um desastre anunciado do governo Bolsonaro, e isso antes da pandemia do novo coronavírus que viria a abater Mandetta. No mesmo salão, em outra mesa, estava o ministro da Economia, Paulo Guedes. Aliados de Doria acreditam que a frente é inevitável, dada a resiliência de Bolsonaro em pesquisas de opinião pública e o que consideram risco de organização mínima na esquerda. Quando os encontros ocorreram, o pleito presidencial americano ainda estava em banho-maria, mas a vitória do democrata Joe Biden sobre o republicano Donald Trump agora é vista como um símbolo, apesar das diferenças óbvias entre os países. Biden só chegou forte na eleição da semana passada porque uniu as diversas facções de seu partido. A narrativa não é tão cristalina, em se tratando de Brasil. Doria, que saiu de uma carreira empresarial para duas vitórias seguidas (prefeito em 2016 e governador dois anos depois) em São Paulo, é visto com uma calculada desconfiança por parceiros do centro. Em entrevista à revista Veja, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que seu partido prefere Huck como candidato. Mas acha que o apresentador tem uns seis meses para enfim se decidir. A ala histórica do PSDB, encarnada no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda se encanta com a possibilidade de o global ser candidato.
Para aliados do governador paulista, Maia apenas está elevando seu cacife na negociação, como já fez no passado ao se insinuar candidato a presidente em 2018, só para apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). A posição de Moro, que saiu do governo Bolsonaro atirando contra o ex-chefe, é central nesse equilíbrio. Ele é odiado por forças orgânicas da política brasileira, como os partidos do centrão (Republicanos, PP e afins), dado sua agenda antipolítica moldada como juiz ícone da Operação Lava Jato. Isso dificultaria tremendamente uma empreitada presidencial. Pessoas que conhecem Moro, muito popular, dizem que ele está cauteloso com toda a articulação. Interlocutores de Doria acreditam que o ex-juiz não integraria nenhuma chapa, mas seria nome forte de um eventual novo governo na área em que as três figuras concordam, a da justiça e da segurança pública. O tucano, por sua vez, está em plena articulação. Ele costurou pessoalmente o apoio de partidos do centrão, do MDB e do DEM à candidatura à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB) na capital paulista. O arranjo envolve a disputa pela sucessão de Maia em fevereiro, que pode ou não envolver o próprio, e a entrega do governo paulista ao DEM em 2022 na figura do vice de Doria, Rodrigo Garcia, que disputaria a reeleição se Doria for candidato a presidente. O MDB é uma das alternativas para a Câmara, na pessoa de seu presidente, Baleia Rossi, e já abocanhou o cargo de vice de Covas.
O caso de Huck, por sua vez, é mais complexo. Ele havia se retraído no começo do ano, e passou em branco como figura pública na pandemia. Aliados seus acreditavam que ele tinha desistido, assim como em 2018. De dois meses para cá, as coisas mudaram. Uma articulação empresarial em torno de seu nome ganhou corpo, envolvendo nomes como Abílio Diniz e Pedro Parente, que são aliados no comando da gigante de proteína animal BRF.
Parente é figurinha carimbada do PSDB, e tem uma longa parceria com Andrea Calabi, o padrasto de Huck. Ex-chefe da Casa Civil de FHC, Parente é muito próximo da TV Globo, empregadora do apresentador, e ocupou a chefia da retransmissora do grupo no Sul, a RBS. Desde o ano passado, o empresário é sócio da EB Capital, gestora da família Sirotsky, dona da RBS. Huck é garoto-propaganda da BRF, empresa da qual Parente é o presidente do Conselho de Administração, e recebeu um cachê estimado no mercado em R$ 30 milhões em 2019. Assim, chamou a atenção a série de entrevistas da esposa do apresentador, a também global Angélica, na qual basicamente ela o liberava para ser candidato. Em 2018, o fator familiar foi central para demover Huck: além do bombardeio pessoal que sofreria, ambos os apresentadores teriam de renunciar a seus postos milionários na Globo. Segundo a Folha ouviu de executivos ligados à emissora, isso agora está superado. Se antes a Globo não gostaria de ter um candidato associado à sua imagem, a animosidade com o governo Bolsonaro praticamente obriga o oposto: o presidente promete complicar o máximo possível a renovação da concessão pública da TV em 2022, ainda antes da eleição. Com tudo isso, o jogo Doria-Huck-Moro está apenas começando. Todos concordam no básico: denunciar o que consideram autoritarismo do governo Bolsonaro, defender uma agenda econômica liberal e enfatizar o combate à pobreza e à corrupção. Se tantos egos e projetos cabem no mesmo escaninho, é algo ainda incerto. Por ora, todos concordam que não se deve falar num nome para encabeçar a tal frente, e ninguém falará sobre o assunto publicamente.

*”Na reta final, Russomanno, Boulos e França calibram estratégias em SP”*
*”Mercado imobiliário patrocina Covas às vésperas de SP rever regras do setor”*

*”Apagão em Macapá embaralha corrida eleitoral, e oposição mira irmão de Alcolumbre”* - O apagão que atinge há quatro dias Macapá e fez a prefeitura decretar estado de calamidade embaralhou a disputa eleitoral na capital do Amapá e fez com que os candidatos de oposição mirassem a artilharia contra o candidato Josiel Alcolumbre (DEM), irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Josiel disputa a Prefeitura de Macapá com uma ampla frente de partidos e tem apoio do governador Waldez Góes (PDT) e do atual prefeito, Clécio Luís (sem partido). A falta de energia começou na última terça-feira (3), quando um incêndio atingiu uma sub-estação na capital. Desde então, a população tem enfrentado desabastecimento em mercados, filas em postos de combustível e unidades de saúde fechadas. Nas casas, além de não ter energia, também falta água. O cenário deu munição aos candidatos oposicionistas, que criticam o governo do estado e a prefeitura por negligência e lentidão nas ações para mitigar os efeitos do apagão. Prefeito e governador, por outro lado, buscam se mostrar diligentes. A própria realização da eleição no dia 15 de novembro é colocada em xeque. Os três principais candidatos da oposição defenderam publicamente que o pleito seja adiado. A decisão de um possível adiamento, contudo, caberá ao Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.
O ex-senador e candidato à prefeito João Capiberibe (PSB) compara a situação de Macapá ao cenário de “Ensaio Sobre a Cegueira”, livro do escritor português José Saramago que retrata uma epidemia de cegueira branca que deixa uma cidade em meio ao caos. “Governo e prefeitura se movem muito lentamente para acudir a população. A maioria das pessoas está nas portas das casas por causa do calor e não consegue dormir à noite. É uma angústia e um nível de ansiedade muito grande”, afirma Capiberibe. Ele ainda reclama da ausência de informação das autoridades a respeito das ações para reverter o quadro da falta de energia e das ações de apoio à população: “Eles não agem, não ouvem ninguém e não vêm à público dar satisfação." Além do apagão, Macapá enfrenta ainda um novo pico de casos de Covid-19. A falta de energia fez com que algumas unidades de saúde fossem fechadas por falta de gerador, o que tem sido alvo de críticas. A candidata à prefeitura Patrícia Ferraz (Podemos) publicou um vídeo no qual percorre a cidade à noite e mostra unidades de saúde fechadas, incluindo um centro para atendimento de pacientes com coronavírus. “Nossa cidade está vivendo o caos. [...] Cadê o plano de urgência e emergência para resolver este problema? Isso não pode mais continuar. A gente precisa mudar essa realidade”, diz. Também candidato a prefeito, o deputado estadual Dr. Furlan (Cidadania) protocolou um pedido de suspensão da cobrança das tarifas de energia no mês de novembro e o solicitou o pagamento de indenizações para as famílias atingidas pelo apagão. “É muito sofrimento, muita dor para a população. A gente não vê as nossas autoridades tomando as devidas providências, buscando assistência para esse povo que está sofrendo”, afirmou, em um vídeo publicado em redes sociais.
A Folha tentou contato com Josiel Alcolumbre, mas sua assessoria não deu retorno sobre o pedido de entrevista. Empresário e suplente do irmão no Senado, Josiel entrou na campanha em Macapá com uma forte estrutura e uma aliança que inclui o apoio de governador, prefeito, dois senadores, 7 dos 8 deputados federais, 20 dos 24 deputados estaduais e 19 dos 24 vereadores da capital. Ao longo da campanha, Josiel assumiu a condição de favorito na disputa. A última pesquisa Ibope, divulgada em 28 de outubro, mostrou o candidato do DEM com 31% das intenções de voto. Capiberibe tinha 15%, Dr. Furlan, 11%, e Patrícia Ferraz, 11%. Na avaliação dos opositores, o apagão tem potencial para mexer no tabuleiro eleitoral, já que é uma situação que afeta diretamente a grande maioria dos cerca de 500 mil macapaenses. A falta de energia também deixou a campanha em suspenso. Desde o fim de outubro, a prefeitura já havia proibido a realização de atos nas ruas por causa do avanço da pandemia. O apagão fez com que as principais campanhas interrompessem a produção dos programas eleitorais de TV e rádio. Isso porque, além das dificuldades de produção das propagandas, a maior parte das rádios e redes de televisão locais está fora do ar. Capiberibe relata dificuldades até mesmo para manter a campanha nas redes sociais. Ele afirma que apenas em poucos locais da cidade é possível obter conexão para acessar a internet. Na TV, diz ele, a sua campanha vem repetindo os programas já gravados.

*”Com ajuda de Doria e Covas, vereador expande 'Miltonlândia' pela zona sul de SP”*

*”Em ano eleitoral, Governo da Bahia dobra verba para fundação de candidato aliado em Salvador”* - O governador da Bahia, Rui Costa (PT), dobrou em 2020 o volume de recursos repassados para o Instituto de Defesa dos Direitos Humanos Doutor Jesus, entidade gerida pelo deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante). O deputado, que faz parte da base aliada do governador, disputa a Prefeitura de Salvador com o apoio do PSD dos senadores Angelo Coronel e Otto Alencar. Em 18 de abril deste ano, a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia firmou um termo de colaboração com a entidade, com inexigibilidade de licitação, que prevê repasses para a entidade de R$ 19 milhões em 2020 e outros R$ 19 milhões em 2021. O volume de repasses é duas vezes maior que o registrado anos anteriores: em 2019, a entidade recebeu R$ 9,8 milhões do governo baiano e, em 2018, o repasse foi de R$ 9,3 milhões. Desde o início da gestão Rui Costa, em 2015, foram R$ 53 milhões repassados pelo governo baiano para a entidade. Comandada há quase três décadas pelo Pastor Sargento Isidório, a Fundação Doutor Jesus é uma comunidade terapêutica que atua no acolhimento de dependentes químicos e tem sede em Candeias, cidade da Região Metropolitana de Salvador. Em nota, a secretaria justificou o aumento dos repasses alegando que houve um incremento no número de pessoas acolhidas. Em anos anteriores, o acordo previa o atendimento de 565 pessoas, número ampliado para 1.000 pessoas no contrato assinado este ano.
O incremento das vagas, informo a secretaria, foi motivado pelo aumento da demanda “de novos usuários que procuram atendimento, atingindo uma média, ininterrupta, de 25 pessoas por dia, inclusive nos finais de semana”. "São pessoas com visíveis e urgentes necessidades clínicas, nutricionais e psíquicas, por serem, em sua maioria, oriundas de comunidades extremamente carentes, em situação de risco e vulnerabilidade social, com vínculos familiares fragilizados ou interrompidos”, informou a secretaria. Do total de R$ 19 milhões previstos para este ano, o governo da Bahia já repassou R$ 10,1 milhões para entidades, dos quais R$ 8,8 milhões estão classificados na rubrica orçamentária “Apoio a Ações de Combate à Pandemia da Covid-19”. Questionada sobre o repasse de recursos do combate à pandemia para uma entidade que atua no acolhimento a dependentes químicos, a secretaria informou que a Doutor Jesus atende ao um público de extrema vulnerabilidade e que necessita de apoio para a mitigar, entre outros riscos, o da Covid-19. “A realidade apresentada pela pandemia e pela altíssima taxa de contágio do vírus impactou nas atividades desenvolvidas pela entidade, que diante do aumento do número de pessoas acolhidas diariamente, adotou medidas severas de prevenção à disseminação do vírus no interior da instituição”, informou. Ainda segundo a secretaria, por causa da pandemia, a Doutor Jesus precisou construir novas estruturas para triagem e quarentena dos acolhidos, novos alojamentos e banheiros. Também foi ampliado o número de número de profissionais que atendem na entidade.
O deputado federal foi procurado pela Folha, mas não quis se pronunciar sobre o aumento dos repasses do governo baiano. O Pastor Sargento Isidório é um dos quatro candidatos de partidos da base aliada do governador a disputar a Prefeitura de Salvador. Além dele, concorrem à eleição com o apoio de Rui Costa as candidatas Major Denice (PT) e Olívia Santana (PC do B), além do candidato Bacelar (Podemos). A candidatura de Isidório é considerada estratégica na base governista por causa da alta popularidade na periferia de Salvador, o que lhe rendeu quase 170 mil votos na capital na eleição para a Câmara dos Deputados em 2018. Com perfil histriônico e folclórico, Isidório último cumpriu quatro mandatos de deputado estadual e no ano passado foi o deputado federal mais votado da Bahia, com 323 mil votos. Este ano, disputa a prefeitura de Salvador pela segunda vez consecutiva. Em 2016, teve 8% dos votos. Ele ganhou notoriedade em 2001, quando foi um dos líderes da greve da Polícia Militar durante o governo César Borges (1999-2022). Foi filiado ao PT, PSB, PSC, PROS, PDT e desde 2018 está no Avante. Desde que deixou o PT, passou a ter uma atuação parlamentar mais voltada paras as pautas de costumes, criticando a relações homoafetivas e propondo inclusive um projeto de lei para “criação do dia do orgulho hétero”. Em 2013, Isidório chegou a ser alvo de um processo disciplinar do PSB, partido ao qual era filiado. Deixou a legenda afirmando ser alvo e uma “patrulha de pensamento”.
No ano passado, foi processado por Daniela Mercury após chamar a cantora, ativista da causa LGBTI+, de “escrava de satanás”. A ação judicial terminou em acordo e o deputado teve que doar parte de seu salário em favor de uma entidade de assistência a homossexuais. Por ter sucesso entre o eleitorado conservador, a avaliação entre governistas era que Isidório teria capacidade de entrar no eleitorado mais à direita que tende a votar em Bruno Reis (DEM), candidato apoiado pelo prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), ajudando a forçar um segundo turno. Em setembro, o governador Rui Costa, assim como os senadores Angelo Coronel, Otto Alencar e Jaques Wagner (PT), participaram da convenção que sacramentou o nome de Isidório para a disputa pela prefeitura. Na ocasião, o senador petista elogiou o candidato do Avante. “Ele [Isidório] tem as posições dele. Seguramente algumas, coisas ele pensa diferente de mim, mas é por isso que eu digo que eu prefiro ficar com a essência dele. Na essência, ele tem compromisso de fazer pelos mais pobres, tem compromisso de trabalhar por uma Salvador cada vez mais humana”, disse. Na eleição deste ano, o deputado veio para a disputa com uma candidatura mais estruturada, tendo como companheira de chapa a empresária Eleusa Coronel (PSD), mulher do senador Angelo Coronel. No horário eleitoral, deixou de lado o perfil folclórico e abriu mais espaço para a candidata a vice. A estratégia, contudo, não tem surtido efeito. Segundo pesquisa Ibope, Isidório tinha 10% das intenções de voto em 05 de outubro, mas caiu para 5% na pesquisa divulgada no último dia 30.​

*”Número de candidatas negras ao cargo de vereadora dobra em São Paulo”* - O número de mulheres negras candidatas ao cargo de vereadora em São Paulo quase dobrou neste ano. No atual pleito, que ocorrerá no próximo dia 15, 250 candidatas negras, da esquerda à direita, disputam uma vaga na Câmara Municipal. Em 2016, foram 132. Enfrentando várias dificuldades, elas buscam superar a falta histórica de representatividade: só duas mulheres negras foram eleitas até hoje na Câmara. Teodosina Rosário Ribeiro, em 1968, e Claudete Alves da Silva Souza, em 2003. “A nossa presença é totalmente inviabilizada e isso tem uma lógica [de perpetuação do racismo estrutural]. É como se o nosso corpo só existisse para trabalho reprodutivo, para trabalho braçal”, diz a advogada Tamires Sampaio, 26 anos, que está em sua primeira candidatura pelo PT. A corretora de imóveis Solange Pedro (PSL), candidata à Câmara pela segunda vez, diz que para o negro os obstáculos são maiores na eleição. “Eu acho que as coisas, para nós são muito mais difíceis”, diz. Para ela, é importante que as mulheres negras estejam representadas na política. “Elas vão defender ainda mais nossos direitos como mulher, como negra. Somos capazes de criar projetos e tantas outras coisas”, afirma. A candidata a vereadora pelo PCdoB Adriana Vasconcellos, 47, acredita que o número baixo de candidaturas e, menor ainda, de mulheres negras que já ocuparam o cargo de vereadoras, é “extremamente sintomático, pois denota o racismo estrutural. A mulher negra ainda é vista como objeto”. Professora de geografia, ela diz que o racismo estrutural também está presente nos partidos de esquerda. “O debate racial é colocado em pauta, mas minimizado, em detrimento da pauta de luta de classes. As mulheres pretas avançam, mas dentro das estruturas partidárias ainda não são valorizadas”, afirma. A campanha de 2020 é a primeira em que existe a obrigatoriedade de divisão proporcional dos recursos partidários entre candidatos brancos e negros. As verbas terão de ser divididas considerando o universo de homens negros entre os candidatos do partido e o de mulheres negras entre as candidaturas femininas. Para Tamires, as legendas partidárias têm de dar espaço às mulheres negras. “É fundamental que os partidos, como um todo, deem visibilidade ao trabalho das mulheres negras, que estão nos movimentos sociais, que já são lideranças. É papel dos partidos potencializar esses trabalhos”, diz a candidata, moradora de Guaianases (zona leste).
Vida privada
Para as candidatas, a situação social da mulher negra acaba sendo um empecilho. Além de ser o grupo que recebe os menores salários, as mulheres negras também precisam cuidar dos filhos e não conseguem pagar para alguém para olhar as crianças durante a campanha eleitoral. “É o contexto da mulher e, principalmente da mulher negra. Como você vai deixar seu filho [para fazer campanha]. As mulheres negras vão [para a política] quando já se aposentaram ou quando os filhos estão grandes. Ou aquelas muito jovens que conseguem apoio dos pais”, diz a professora Jaqueline, candidata da Rede. Isabel Marcelino, do PSDB, concorda. “Falta oportunidade. Hoje, para ser candidata é preciso ter investimento financeiro. Por mais que a mulher queira, tenha trabalho, uma história, se ela não tiver dinheiro sua campanha não tem a menor chance de alavancar”, diz a candidata tucana. O próprio período de campanha já é um problema, diante da impossibilidade de muitas mulheres negras em deixar seus empregos por alguns meses para se dedicar ao pleito. “A dificuldade é não ter recurso. A gente vive em uma sociedade mais simples, de baixa renda, isso é um dificultador. É muito difícil, chega a ser desanimador”, afirma Jaqueline.
Reflexo no país
São Paulo é um reflexo do que ocorre no restante do país, na avaliação de Tauá Pires, historiadora e coordenadora de juventude, gênero e raça da Oxfam Brasil. “A gente tem uma baixa representatividade. A gente não tem nem 3% de mulheres negras no parlamento, enquanto as mulheres negras são 27% da sociedade.” Segundo ela, é importante que os representantes realmente expressem a complexidade do tecido social. “Existem avanços, mas temos uma longa estrada para que as pessoas ocupem os lugares de poder. Quando [mulheres negras] estão nesses espaços, conseguem pensar políticas para este grupo”, diz Tauá. Juliana Gonçalves, jornalista e componente da Marcha das Mulheres Negras de SP, afirma que existem algumas questões características da política praticada em São Paulo, mas concorda que a situação tem dimensão mais ampla. “Esse fenômeno de pouca representatividade de mulheres negras na política não é só restrito aqui. Por isso que é importante avaliar enquanto fenômeno que é causado por questões de raça e gênero que foram enfrentadas ainda, muito superficialmente, pelo Estado.” Ela pontua que o racismo pode fazer com que muitas pessoas olhem uma mulher negra e não se sintam representadas.
Espaço
A gari Ana Lucia Lazarim, 39 anos, participa da campanha eleitoral pela segunda vez. Candidata a vereadora pelo DEM, a moradora do bairro City Jaraguá, na zona norte de São Paulo, afirma que “muitos não dão oportunidade para mulheres negras e precisamos brigar pelo nosso espaço”. Ela concorda com as outras candidatas de que o apoio para negras que decidem disputar uma eleição ainda é bem pequeno. Para Jussara Basso, 45, candidata pelo PSOL, existem outras dificuldades para participação das negras. “Não temos familiares em cargos de poder, não temos a condição de financiar campanhas milionárias como aqueles que há anos estão no poder têm”, diz. “Além disso, ainda somos mães, responsáveis por nossas famílias e historicamente sempre precisamos provar a nossa capacidade”, diz a moradora do Jardim Maria Sampaio, na zona sul.
Barreira
A estudante de pedagogia Isabel Marcelino, 35, candidata pelo PSDB, afirma que as dificuldades não irão terminar caso algumas consigam se eleger. “Haverá uma barreira sim, pois as ideias e projetos das candidatas negras estão em torno de igualdade racial, igualdade [de gênero] e feminicídio”. Segundo a moradora da Brasilândia (zona norte), “a bancada masculina e a bancada ‘branca’ dificilmente irão abraçar os projetos da vereadora negra sem que isso lhes beneficie de alguma maneira”. Tamires Sampaio, do PT, destaca, no entanto, que as pessoas negras não falam apenas sobre racismo. A petista diz que participou de uma série de diálogos sobre outros problemas da cidade. “E eu já ouvi algumas pessoas dizendo que a campanha [ de uma mulher negra] não deveria pensar temas amplos, que eu deveria me dedicar só as questões identitárias”, diz.

*”Em nome de propósito, mulheres ricas e bem-sucedidas decidem encarar campanhas eleitorais”* - A perspectiva de trocar a pressão e o salário de um escritório bem-sucedido pela rotina de um plenário, com momentos pouco gloriosos envolvendo a troca de nome de ruas ou a criação de feriados, pode parecer insólita demais à maioria. Mas, para algumas mulheres, o plano é não só real, como também a concretização de um sonho. Com patrimônios de muitos dígitos, e carreiras sólidas no mundo corporativo e jurídico, candidatas aos cargos de vereador e prefeito em 2020 alegam razões como propósito e a vontade de ajudar os outros para justificar abrir mão da atuação na esfera privada e se lançar à vida na política. “Morei fora por muito tempo. Prometi a mim mesma que voltaria e usaria tudo o que aprendi em termos socioeconômicos e de desenvolvimento aqui no Brasil”, diz a farmacêutica e executiva Amanda Neves, 42, que concorre pela primeira vez a vereadora pelo Cidadania em Campinas, no interior paulista. Depois de dez anos trabalhando em países como França, Canadá, Dinamarca e China com a construção de indústrias farmacêuticas e com tecnologia em geral, e também depois de abrir sua própria startup, Amanda afirma que sua intenção é colaborar com a sociedade. “Eu poderia muito bem me manter no setor privado, mas acho que a forma mais rápida de contribuir com o progresso é se várias pessoas tentarem fazer isso na vida pública”, diz.
Em 2015, Amanda se inscreveu no RenovaBR, escola de formação política, que teve alunos como a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP). “A reação foi de surpresa total. Minha vizinha de porta falou que não sabia que eu praticava política, que era politizada”, relembra a engenheira, advogada e headhunter Patricia Thais Duchnicky, 43, que tenta uma vaga de vereadora em São Caetano do Sul pelo PSDB. “Colocar um adesivo meu no carro de um amigo é um desafio, porque nem todos veem a política com bons olhos", conta Patricia. "Uma das minhas ideias é trazer uma escola de politização para a população”, segue ela, que mora sozinha em um apartamento de 80 metros quadrados em um bairro de classe média alta. “Me considero privilegiada.” “O salário de vereador em São Caetano é de R$ 10 mil, e obviamente eu tinha remuneração maior”, diz. Ela acredita que às vezes seu padrão de vida pode atrapalhar. “Tanto que em alguns posts evito falar da minha formação, porque alguns não têm o ensino básico e isso pode me afastar de determinado público.” Amanda Neves, que declarou patrimônio de cerca de R$ 2 milhões, pensa diferente. “O eleitor nem vê os bens declarados. Se visse, aliás, ia perceber a quantidade de informações erradas que tem lá. Candidatos com casas em bairros nobres declarando valor de R$ 30 mil”, afirma. Para ela, o eleitor analisa apenas “a aparência e a credibilidade”. “É possível que uma camada da população me olhe e fale que tenho cara de rica e que não entendo nada”, diz Cris Monteiro, 59, candidata a vereadora em São Paulo pelo Novo. “Quem investigar mais minha vida vai ver que sou rica, mas sou honesta, trabalhadora, e conquistei a duras penas o lugar que estou.” Filha de uma empregada doméstica e de um sargento que virou taxista, Cris cresceu na periferia do Rio de Janeiro. Diagnosticada com alopecia ainda na infância, era mantida em casa com frequência pelos pais, com medo de como os amigos a tratariam. Acabou focando os estudos. Formada em ciências contábeis, foi para São Paulo na década de 1980, onde fez carreira como diretora de bancos como o JP Morgan. Declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um patrimônio de R$ 17,8 milhões. “Eu já podia estar feliz com o que tinha. Ainda podia estar no mercado financeiro, ninguém me mandou embora.”
Em 2018, o RenovaBR teve 133 alunos, dos quais 11% eram mulheres. Já as turmas de 2019 e 2020 somam 1.820 alunos, com 35% de mulheres. Ao todo, 1.032 alunos concorrem nestas eleições municipais, com presença 30% feminina. “Isso reflete o crescimento de mulheres que rompem barreiras sociais, familiares e de gênero para ocupar cargos eletivos. São mulheres que querem se sentir realmente representadas na política”, analisa Irina Bullara, diretora da entidade. Empresária do ramo do café em Franca, no interior paulista, Flávia Lancha, 61, cresceu no meio da política, mas sempre sonhou em ser médica. A filha do ex-prefeito da cidade José Lancha Filho (PTB) se formou em ciências, letras e administração rural. Concorreu em 2016 à prefeitura, terminando o pleito com cerca de 28 mil votos. Seu desempenho nas urnas a levou a se tornar secretária de Desenvolvimento Econômico, entre 2017 e 2018. Agora, tenta pela segunda vez um cargo eletivo, pelo PSD. “Acho que vai ser uma rotina muito mais pesada que a de empresária. Primeiro pela própria cobrança, porque, quando você está na iniciativa privada, as decisões são suas. E, quando você está na vida pública, você é cobrado por uma população inteira”, compara Flávia. “As demandas são muito grandes. Você nunca vai conseguir atingir todas, e vai ter muita gente descontente. Além disso tudo, você perde muito a privacidade. Deixa de ter a vida particular, é exposta o tempo todo a julgamentos, críticas, sugestões. A gente tem que ter um propósito muito grande.” Especialista em direito tributário, mestre pela Universidade de Baltimore e com MBA em gestão, Cristina Rando, 45, trabalhou na MSC USA por anos até fundar sua própria empresa. Ela também imagina um dia a dia mais intenso caso seja eleita vereadora do Rio de Janeiro pelo Novo. “No mundo corporativo, no período em que estive mais dedicada nos Estados Unidos, eu ainda conseguia desfrutar dos meus fins de semana. E acredito que na política vou ter um trabalho bem árduo e que ele vá entrar também nos sábados e domingos”, imagina. Filiada ao partido desde 2015, ela conta que o “estalo” veio três anos depois. “Quando acabou o processo eleitoral, eu já estava pensando nisso. Só que é um processo complexo. Chequei em casa e perguntei se teria apoio”, conta. Cristina vive em união estável há 14 anos com a mulher. “Ela morria de medo, disse que eu era maluca, ainda mais no Rio, com tanta violência. Em 2019, participei de uma pré-campanha e pensei que eu tinha que fazer isso também. Foi irresistível. Eu ia ficar muito mal de não fazer. Cheguei em casa e ela disse que tudo bem eu ir.”
Concorrendo a vereadora em São Paulo pelo PTB, a advogada pós-graduada em direito médico e hospitalar Gabrielle Brandão, 40, conta que recebeu do deputado estadual Campos Machado, dirigente do partido no estado, o convite para sua candidatura em plena pandemia do novo coronavírus. “Como já sou muito ativa em rede social, direcionei meus perfis para a campanha”, explica. "Comecei a ser procurada pelas pessoas. Amigos da faculdade, do hospital, todos vinham falar que iam votar em mim”, diz. Por conta disso, Gabrielle diz acreditar na vitória. “Não vou ficar frustrada se não acontecer, porque isso é mais uma realização pessoal muito mais ligada a poder ajudar do que de fato ter isso como uma melhora na minha qualidade de vida. Mas vou tentar de novo. Antes eu dizia que não. Mas agora estou começando a gostar disso", afirma.

*”Com desgaste na relação, governo Bolsonaro demite 1 militar de alta patente por mês”* - O governo Jair Bolsonaro tem uma demissão por mês, em média, de um militar de alta patente colocado em algum posto estratégico da administração federal. A curta permanência desses generais, brigadeiros e almirante nas funções civis evidencia o tamanho do desgaste da relação entre Bolsonaro e a caserna, em menos de dois anos de gestão. Levantamento da Folha identificou 16 generais do Exército, 4 brigadeiros da Aeronáutica e 1 almirante da Marinha exonerados de cargos civis no governo, já a partir do quarto mês da gestão de Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército. A maioria desses militares está na reserva, participou da gestão em razão da proximidade ao ideário bolsonarista e acabou demitida. O caso mais recente é o do general três estrelas Otávio do Rêgo Barros, demitido do cargo de porta-voz do presidente em 6 de outubro. A função já havia sido extinta 40 dias antes. Em junho de 2019, quando ainda cumpria o ritual de um porta-voz da Presidência, Rêgo Barros foi excluído de uma promoção pelo Alto Comando do Exército. Ele deixou de ganhar a quarta estrela em razão do cargo exercido no Palácio do Planalto. O ex-porta-voz de Bolsonaro não saiu calado do governo. Em artigo publicado no jornal Correio Braziliense, ele fez críticas indiretas ao presidente e à gestão. O sentimento é compartilhado especialmente por generais da reserva que permanecem no governo. Rêgo Barros se soma a outros militares que se tornaram vozes críticas a Bolsonaro depois de passarem por cargos civis. O mais falante deles é o general Santos Cruz, demitido há mais de um ano do cargo de ministro da Secretaria de Governo da Presidência. Generais ouvidos pela Folha —do Alto Comando do Exército, da linha de frente de órgãos do governo ou do grupo de demitidos— discordam do tratamento dispensado a militares como Rêgo Barros. Além disso, eles rejeitam o aumento da pressão de partidos políticos por cargos —leia-se centrão— e dizem tolerar afastamentos somente em casos de incompetência, o que não vem sendo o caso, afirmam.
Um caso ilustra, ao mesmo tempo, o desgaste da relação com o presidente e o incômodo com a percepção de politização das Forças Armadas. O episódio envolve o ministro Eduardo Pazuello (Saúde), um general três estrelas que permanece na ativa mesmo ocupando o cargo no governo há mais de cinco meses, com o aval do comandante do Exército, Edson Pujol. Generais que integram o Alto Comando do Exército consideram inaceitável uma eventual volta de Pazuello à força e ao comando de tropas. Isso foi discutido entre eles depois de o ministro ser desautorizado pelo presidente quanto à compra da vacina Coronavac, um imunizante para o novo coronavírus desenvolvido por um laboratório chinês e pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo. À frente do Ministério da Saúde, Pazuello tem atendido insistentemente a pedidos de Bolsonaro na pandemia. A desautorização sobre a vacina levantou dúvidas sobre a permanência do general no cargo, mas ele prossegue. Em encontro com o presidente, o ministro minimizou o ocorrido. Segundo ele, na relação com o chefe do Executivo, "um manda e o outro obedece". Para integrantes da cúpula do Exército, é impossível um retorno de Pazuello à força, diante de um cargo tão político exercido por ele. A posição contrasta com o que o general costumava repetir, que atenderia a uma convocação do presidente e, cumprida a missão, voltaria às funções militares.
Na semana passada, quando o então candidato democrata Joe Biden consolidava seu favoritismo na disputa pela presidência nos EUA, o núcleo militar do governo se irritou com a postura do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho 03 de Bolsonaro, como mostrou a Folha. Eduardo fez postagens pró-Donald Trump nas redes, inclusive corroborando o falso discurso de fraude nas eleições. Foi mais um episódio de atrito entre os militares e os personagens mais ideológicos que giram em torno do presidente. Entre os que seguem em cargos civis no governo e que não estão nas funções de auxiliares diretos de Bolsonaro, a alta debandada de fardados provoca um temor de demissões repentinas. Esses militares apontam que Rêgo Barros, por exemplo, fazia um bom trabalho no cargo de porta-voz do presidente e não deveria ter sido escanteado como foi. O entendimento entre integrantes do Alto Comando do Exército é de que Bolsonaro fala e expõe demais as contendas do governo, como no caso da Coronavac. Isso acaba prejudicando a atuação dos militares, segundo esse entendimento. A postura do ex-porta-voz, porém, não é uma unanimidade no Exército. A decisão de sair atirando, ainda que por meio de um texto com referências indiretas, foi mal recebida entre integrantes do Alto Comando. Apesar do alto índice de demissões, os militares seguem com um espaço sem precedentes na administração federal, em comparação com os últimos cinco anos, como mostrou um levantamento do TCU (Tribunal de Contas da União) concluído em julho. O número de militares da ativa e da reserva ocupando cargos civis chegava a 6.157, mais do que o dobro do registrado em 2016.
Um detalhamento dos dados feito por auditores do TCU, obtido pela Folha, mostra que 54 cargos do alto escalão do governo são ou foram ocupados em algum momento por generais, coronéis, capitães, brigadeiros e almirantes. Isso inclui os auxiliares que despacham dentro do Palácio do Planalto, e que estão entre os principais conselheiros do presidente: general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), general Braga Netto (Casa Civil), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Especiais da Presidência. Os outros militares estão distribuídos por ministérios; estatais como Itaipu Binacional e Eletrosul; autarquias como o Dnit; bancos públicos, a exemplo da Caixa; e conselhos de administração de estatais, Petrobras entre elas.

*”Figueiredo emerge com poucos equívocos em biografia do último presidente da ditadura”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Contraste com democracia dos EUA voltando ao normal faz situação brasileira parecer ainda mais triste”*

*”'Rachadinha' aumentou patrimônio de Flávio Bolsonaro em R$ 1 milhão, diz Promotoria”* - O patrimônio ilícito acumulado pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) entre 2010 e 2014 por meio da "rachadinha" somou quase R$ 1 milhão, afirma o Ministério Público do Rio de Janeiro. O valor consta na denúncia apresentada na última semana ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio contra o filho do presidente Jair Bolsonaro e se refere à diferença entre as despesas da família do senador e a renda declarada pelo casal no período. O MP-RJ identificou que o casal não teria como explicar gastos que somam R$ 977,6 mil no intervalo de cinco anos. Boa parte deles foi feito por meio de pagamento em dinheiro vivo ou a partir das contas do casal após serem abastecidas por depósitos em espécie. A defesa do senador nega as acusações afirma que a denúncia contém “erros matemáticos”.​ A acusação não reúne todas as suspeitas que recaem sobre o senador. A movimentação financeira da loja de chocolate de Flávio ainda segue sob investigação. A Promotoria suspeita que ele tenha lavado até R$ 1,6 milhão por meio do estabelecimento. Flávio, ex-deputado estadual, é acusado de desviar R$ 6,1 milhões dos cofres públicos, valor referente à soma de seus 12 ex-assessores na Assembleia Legislativa do Rio que, de acordo com a Promotoria, não trabalhavam. Desse total, R$ 2,08 milhões foram repassados para as contas do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, apontado como operador financeiro do esquema. Outros R$ 2,15 milhões foram sacados pelos ex-assessores-fantasmas. Os investigadores afirmam que esse dinheiro também foi disponibilizado para a suposta organização criminosa, embora não indiquem evidências da entrega. Flávio, Queiroz e outras 15 pessoas foram denunciadas sob a acusação de peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita. O senador é acusado de liderar uma organização criminosa para recolher parte do salário de seus ex-funcionários em benefício próprio. De acordo com a Promotoria, o dinheiro recolhido por Queiroz junto aos assessores era usado para quitar despesas pessoais do senador. O procurador Ricardo Martins, que assina a denúncia, dividiu em três partes o período sob investigação, de 2007 a 2018. Entre 2007 e 2009, o MP-RJ afirma não ter identificado enriquecimento ilícito do senador. Contudo, aponta que as operações imobiliárias realizadas por Flávio nesse período tiveram como principal cobertura empréstimos feitos por antigos assessores do pai e de seu irmão, Carlos Bolsonaro. Esses empréstimos, informados no Imposto de Renda à Receita Federal, não aparecem na conta bancária do senador. Eles somam R$ 285 mil e foram feitos em dinheiro vivo, segundo Flávio afirmou em depoimento aos promotores. O registro dos empréstimos, porém, deu cobertura para a compra de 12 salas comerciais na Barra da Tijuca.
O MP-RJ ainda investiga como os imóveis foram pagos. Martins solicitou ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça para que as construtoras dos imóveis informem o nome dos titulares dos cheques usados para quitar algumas das parcelas do financiamento. A suspeita é que elas foram pagas por um terceiro, já que na quebra de sigilo bancário do casal não constam débitos referentes a essas despesas. É entre 2010 e 2014 que recaem as principais provas do Ministério Público fluminense. Foi nesse intervalo que o casal adquiriu os dois apartamentos em Copacabana pagando “por fora”, segundo as investigações, R$ 638 mil. Os investigadores identificaram também que a conta de Flávio recebeu depósitos fracionados que somavam R$ 52 mil em datas próximas aos pagamentos de parcelas de uma cobertura em Laranjeiras, na zona sul do Rio. Como foram feitos 38 depósitos fracionados de até R$ 2.000, o extrato não identifica os responsáveis pelos repasses. “A tentativa de ocultar a origem dos depósitos omitindo a identificação do portador dos recursos decorre evidentemente do caráter ilícito dos valores integrados de forma sorrateira ao patrimônio do casal”, escreveu Martins. É uma prática semelhante à adotada por Queiroz quando depositou R$ 25 mil na conta de Fernanda Bolsonaro, esposa do senador, dias antes do pagamento do sinal do mesmo imóvel. Neste caso, porém, o PM aposentado teve que se identificar em razão do volume repassado —a Promotoria afirma que possivelmente Queiroz ainda não estava habituado com os sistemas de controle financeiros.
O MP-RJ listou R$ 1,6 milhão de uso de dinheiro em espécie nas transações de Flávio, seja por meio de pagamento de boletos ou depósitos nas contas ligadas ao senador. O valor também inclui pagamentos de impostos cujos débitos não aparecem no extrato do filho do presidente e de sua mulher. Para o MP-RJ, é possível concluir que esses tributos, que somam R$ 99,5 mil, foram pagos em dinheiro vivo. Martins destaca na denúncia que, até 2014, Flávio e Fernanda eram funcionários públicos, não tendo qualquer renda fora aquela depositada em suas contas pela Assembleia e pela Aeronáutica —onde a dentista trabalhava. Os R$ 139 mil sacados pelo casal entre 2011 e 2014 não fariam frente às despesas quitadas em espécie no período. A partir de 2015, Flávio se tornou sócio da loja de chocolates. O MP-RJ destaca na denúncia não haver qualquer registro de retirada de dinheiro em espécie em favor de Flávio, embora tenha deixado a análise para a continuidade das investigações. Neste período, Martins não aponta eventual enriquecimento ilícito. Mas descreve a continuidade de pagamento em espécie que teria como objetivo lavar o dinheiro obtido com a “rachadinha”. Entram nessa conta as despesas de escola e plano de saúde da família, bem como novos depósitos fracionados nas contas de Flávio próximos às datas de quitação de parcela do imóvel da Barra. O MP-RJ pediu para que o senador seja condenado a pagar multa de R$ 6 milhões e a perder o apartamento que tem na Barra da Tijuca.
DENÚNCIA TEM ERROS MATEMÁTICOS, DIZ DEFESA
Flávio Bolsonaro afirmou em suas redes sociais que o Ministério Público do Rio “comete série de erros bizarros” na denúncia. Em nota, a defesa disse que a denúncia já era esperada, mas não se sustenta. "Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o senador Bolsonaro se mostra inviável, porque desprovida de qualquer indício de prova. Não passa de uma crônica macabra e mal engendrada", declararam os advogados. "Acreditamos que sequer será recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprio, a ser protocolizado tão logo a defesa seja notificada para tanto", completa a nota. A defesa de Queiroz afirmou que não teve acesso à denúncia. “Inaugura-se a instância judicial, momento em que será possível exercer o contraditório defensivo, com a impugnação das provas acusatórias e produção de contraprovas que demonstrarão a improcedência das acusações e, logo, a sua inocência”, afirmou o advogado Paulo Emílio Catta Preta.

ENTREVISTA DA 2ª - *”Sistema parece democrático, mas cria obstáculos para negros, diz cientista política”*

*”Biden começa transição com foco na Covid e em revisão de atos de Trump”* - Joe Biden só vai assumir o comando dos Estados Unidos em 20 de janeiro, mas já estabeleceu que sua prioridade assim que chegar à Casa Branca será desfazer uma série de medidas tomada pelo antecessor, Donald Trump. Áreas como política externa, mudança climática e, principalmente, o combate à pandemia de coronavírus devem concentrar a atenção do novo presidente no início do mandato. O democrata passou a maior parte deste domingo (8), primeiro dia após a confirmação da vitória nas eleições, em sua casa em Wilmington, no estado de Delaware, e saiu apenas para ir à missa —ele é católico— e para visitar o túmulo dos filhos. Para esta segunda-feira (9), no entanto, Biden já avisou que fará o primeiro grande anúncio de seu governo, nomeando uma força-tarefa para combater a Covid-19 nos EUA. O médico Vivek Murthy, que trabalhou na gestão de Barack Obama, deve ser um dos líderes do grupo e responsável por defender publicamente o uso da máscaras e outras medidas de distanciamento social.
O objetivo do democrata, assim, é estabelecer desde o início da transição um contraste com Trump. O republicano minimizou a gravidade da pandemia diversas vezes e entrou em confronto com médicos e cientistas sobre quais as melhores formas de tratamento e prevenção. Segundo a imprensa americana, Biden quer mostrar à população do país e ao mundo que vai trabalhar com seriedade e que sua gestão será muito diferente da do republicano. Assessores já analisam, inclusive, quais medidas criadas por Trump poderão ser desfeitas logo após o novo presidente tomar posse. A ideia é que Biden use ordens executivas —uma prerrogativa do cargo, semelhante à medida provisória no Brasil— para cancelar decisões do antecessor. O democrata deve usar o mecanismo para recriar regulações ambientais eliminadas por Trump e para estimular a produção de suprimentos que podem ser usados no combate ao coronavírus. No site de transição de governo, lançado neste domingo (8), Biden aponta que, além da Covid-19, a recuperação da economia, a luta contra o racismo sistêmico e a preservação do meio ambiente são temas que devem receber mais atenção no início da nova gestão. Os jornais The New York Times e The Wall Street Journal afirmam, por exemplo, que o democrata pode anunciar logo em seu primeiro dia o retorno dos EUA ao Acordo de Paris —tratado sobre a mudança climática que foi negociado por Obama e do qual o país saiu por decisão de Trump.
Ele também deve anunciar que os Estados Unidos desistiram de deixar a Organização Mundial da Saúde e cancelar a proibição de vistos para moradores de sete países de maioria muçulmana. O democrata pretende ainda estabelecer rapidamente uma proteção legal que impeça a deportação dos chamados “dreamers” —
nome dado aos imigrantes sem documentação que chegaram ainda crianças ao país. Biden também deve entrar imediatamente nas negociações que já ocorrem no Congresso para a provação de um planod e estímulo ecnômico em meio a pandemia, informa o jornal The Washington Post. Tradicionalmente, os presidentes americanos recorrem ao uso de ordens executivas para estabelecer prioridades do governo, implementando com rapidez medidas sem a necessidade de negociar com o Congresso —que tem poder para derrubar esse tipo de medida. Biden, porém, deve precisar ainda mais do mecanismo porque, provavelmente, os democratas não terão maioria no Senado. O último presidente a começar seu primeiro mandato sem controle das duas Casas do Legislativo foi George H. W. Bush, em 1988. Diferentemente do que acontece no Brasil, onde o presidente tem o poder de escolher seus ministros livremente, nos EUA a indicação para o gabinete precisa ser aprovada pelos senadores. Caso a Casa fique mesmo nas mãos dos republicanos —o que só vai ser definido em janeiro, quando a Geórgia realizar um segundo turno para decidir quem serão seus dois representantes—, Biden deve optar pela indicação de nomes com perfil mais moderado, deixando de lado a ala mais progressista dos democratas. Perdem força, assim, apostas como a da senadora Elizabeth Warren, que chegou a ser especulada como secretária do Tesouro (equivalente ao ministro da Economia no Brasil).
Até pela necessidade de fazer essa costura política, o democrata deve demorar para definir quem serão os titulares dos principais cargos, como os de secretário de Estado e de Defesa, por exemplo. O senador Chris Coons, a ex-embaixadora na ONU Susan Rice e Tony Blinken, principal assessor de Biden para política externa, são os favoritos para comandar a diplomacia do país. Já no Pentágono, a principal candidata é Michele Flournoy, que também trabalhou na gestão Obama. Caso confirmada, ela seria a primeira mulher no cargo, o que ajudaria
Biden a cumprir a promessa de formar a equipe mais diversa da história americana. Nessa mesma linha, Pete Buttigieg,ex-prefeito de South Bend, uma pequena cidade do estado de Indiana, é outro cotado para um cargo no gabinete. Ele, que concorreu com Biden à nomeação para ser o nome dos democratas na eleição presidencial, seria o primeiro secretário da história abertamente homossexual. Todas essas nomeações, entretanto, só devem começar a ser feitas no final de novembro, diz o Wall Street Journal. Antes disso, a prioridade do novo presidente deve ser a definição da equipe que vai trabalhar diretamente com ele na Casa Branca. A expectativa é a de que ele anuncie em breve, por exemplo, o chefe de gabinete —cargo que tem funções semelhantes ao de ministro da Casa Civil no Brasil. O principal favorito para
a função é Ron Klain, que foi chefe de gabinete de Biden entre 2009 e 2011, quando o democrata era o o vice-presidente de
Obama.

TODA MÍDIA - *”Biden faz sua agenda para o Dia 1, mas republicanos resistem”*
MATHIAS ALENCASTRO - *”Brasil é gol fácil da diplomacia Biden”*
*”Campanha de Trump prepara novas ações, sem muita convicção”*

*”Ernesto cobra informações de órgãos do Itamaraty para traçar cenários com Biden”* - Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) silencia sobre a vitória de Joe Biden nas eleições americanas, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu informações neste fim de semana a diferentes áreas do Itamaraty para avaliar os impactos de uma administração do democrata na política externa brasileira. Segundo relatos feitos à Folha, diplomatas passaram a ser instruídos neste domingo (8) a enviar relatórios ao gabinete de Ernesto detalhando como um governo Biden influenciaria seus respectivos campos de trabalho. Diferentes áreas foram instadas a fazer essas projeções, considerando que Biden tomará posse no dia 20 de janeiro do próximo ano. O Itamaraty é dividido em estruturas que abarcam as diversas regiões do globo. Há ainda secretarias responsáveis por organismos multilaterais e por negociações comerciais. No funcionamento do Ministério das Relações Exteriores, as áreas técnicas produzem relatórios que municiam o ministro e seus principais auxiliares na tomada de decisões importantes. É normal que diplomatas preparem esses informes após eleições em países estratégicos. Mas as atuais eleições americanas ganharam fortes contornos políticos para o governo Bolsonaro. Diplomatas ouvidos pela Folha sob condição de anonimato consideraram a requisição de informações tardia mais um sinal de que a gestão de Ernesto evitou traçar cenários que considerassem a possibilidade de Biden ser eleito —o democrata passou a maior parte da campanha como o favorito nas pesquisas de opinião. O presidente Bolsonaro é admirador de Donald Trump —que foi derrotado em 3 de novembro— e disse em diversas ocasiões que torcia pelo republicano. A identificação de Bolsonaro com Trump é considerada exagerada por diplomatas e especialistas, que alertam para dificuldades no relacionamento entre os dois países agora que Biden venceu o pleito. Biden foi projetado vencedor no sábado (7) pelas imprensa americana, mas o republicano ainda não reconheceu o resultado. Sem provas, ele alega que as eleições foram fraudadas e tenta judicializar o processo.
O cenário é delicado para Bolsonaro, que ao contrário de outros líderes, ainda não parabenizou o democrata pela vitória. O silêncio do líder brasileiro tem sido interpretado como um sinal de que ele ainda não pretende abandonar o trumpismo, o que frustra militares e assessores que torcem por uma política externa menos ideologizada e mais pragmática. Os chefes de governo dos principais países do mundo já felicitaram Biden, inclusive aliados próximos de Trump. É o caso dos primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson, e de Israel, Binyamin Netanyahu. Internamente, a justificativa para o silêncio de Bolsonaro é que ele pretende esperar até o discurso de Trump reconhecendo a derrota —o que não ocorreu até o momento— ou a oficialização do resultado. O problema é que os Estados Unidos não têm uma autoridade eleitoral nacional, e a proclamação oficial do vencedor demora semanas. No sábado (7), Bolsonaro fez uma live em seu perfil no Facebook, na qual comentou a crise de energia no Amapá e fez propaganda para candidatos que apoia nas eleições municipais. Ele ignorou a vitória de Biden, projetada no começo da tarde pela imprensa americana, horas antes de fazer a transmissão na plataforma. “Vocês estão vendo as questões no mundo, como está a política no mundo. Cada um tem a sua opinião, vocês têm que discutir, tem que ver que na América do Sul vários países estão sendo pintados mais uma vez de vermelho”, limitou-se a dizer o presidente.

*”Binyamin Netanyahu, premiê de Israel, parabeniza Biden e Kamala”*
*”Premiê da Hungria, expoente do populismo na Europa, parabeniza Biden pela vitória”*
THIAGO AMPARO - *”Futuro progressista pós-Trump”*
*”Imigrantes, pais de Kamala Harris foram forjados no movimento por direitos civis”*

*”Republicanas puxam recorde de mulheres no Congresso dos EUA*”
*”Disputa pelo Senado na Geórgia terá 2º turno e pode definir controle da Casa”*
*”Europa oscila entre alívio com Biden e necessidade de se emancipar dos EUA”*

*”Visto como decorativo, ministro da Educação privilegia viagens e agendas com Bolsonaro”* - Prestes a completar quatro meses no cargo, o ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, tem privilegiado viagens, agendas com o presidente Jair Bolsonaro sem relação com a área e, até agora, pouco se envolveu nos temas da pasta. A distância e o desconhecimento do trabalho e os desafios do MEC (Ministério da Educação) têm causado preocupação nos bastidores do governo. Para interlocutores, saíram os ministros ideológicos, entrou o decorativo. Ribeiro não tem experiência em políticas públicas. Ele foi nomeado para agradar a ala evangélica que apoia o governo e cessar as crises criadas pelos ex-ministros de perfil ideológico Abraham Weintraub e Ricardo Vélez Rodriguez. A avaliação de integrantes nos corredores do MEC e de outras áreas do governo é que Ribeiro não assumiu liderança nos rumos da política educacional e, mais grave, não entendeu o que é ser ministro. Também no Congresso é essa a impressão. A postura se reflete na agenda oficial. Desde que assumiu o cargo, em meados de julho, Ribeiro abriu mão das atividades no MEC para participar de 14 cerimônias com Bolsonaro sem qualquer relação com a educação. O ministro já acumula 24 dias em viagem: a cada 10 dias no cargo, em 2 ele esteve fora, às vezes por motivos alheio à pasta. Na véspera do feriado de Finados, ele foi parar em Fernando de Noronha (PE) com uma comitiva liderada pelos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). A viagem foi para anúncios da área ambiental e de turismo, mas Ribeiro aparece em fotos e vídeos da programação.
Para justificar a presença de Ribeiro, a programação incluiu visita a uma escola no dia 29 de outubro. Funcionários da unidade disseram à Folha que ele ficou 40 minutos no local e o encontro só foi agendado na véspera (28), quando o ministro já estava no Recife para encontros na Fundação Joaquim Nabuco, mantida pelo MEC. Questionada, a pasta não explicou o motivo da viagem a Noronha e os custos de passagens e estadia. O ministro permaneceu em Pernambuco até terça-feira (3). Ribeiro tem adequado sua rotina para estar com Bolsonaro —o presidente era esperado em Noronha mas desmarcou em cima da hora. O ministro já participou, por exemplo, de eventos militares, sobre habitação e de homenagem a um músico. Para estar com Bolsonaro em uma cerimônia sobre aviação, em 7 de outubro, o ministro da Educação preferiu faltar a um anúncio no MEC. Foi o primeiro aporte federal relacionado à Covid-19 para as escolas e a divulgação de um protocolo para volta às aulas. O governo federal tem sido cobrado a dar apoio às redes de ensino durante a pandemia. Ribeiro fez quatro viagens com Bolsonaro. Em só uma delas, em 14 de agosto, havia relação com a área: a inauguração de uma escola cívico-militar no Rio de Janeiro. Depois disso, ele seguiu no mesmo dia com o presidente a eventos das Forças Armadas. Ainda posou ao lado de Bolsonaro diante do símbolo do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). Funcionários do MEC e congressistas apontam que essa proximidade sugerida pela agenda não tem se revertido aos interesses da Educação. O MEC tem baixa execução orçamentária, perdeu R$ 1,4 bilhão de recursos neste ano e a previsão de orçamento para 2021 é também de redução.
Para Luiz Garcia, presidente da Undime (que representa os secretários municipais de Educação), o novo ministro chegou com uma nova disposição de maior diálogo, minado sob Weintraub. Mas falta entender suas diretrizes. "Houve disposição para se ouvir mais, só que ainda estamos na fase em que as escutas não se transformaram em ações", diz. "O que ainda não nos foi apresentado é uma política norteadora, um eixo." Ribeiro não tem participado, por exemplo, da discussão sobre a lei de regulamentação do Fundeb —principal fundo de financiamento da educação básica. A discussão com o Congresso é tocada apenas por técnicos. O Fundeb precisa ser regulamentado neste ano para que as novas regras de distribuição de recursos sejam operacionalizadas. A deputada Luísa Canziani (PTB-PR) exalta a disposição do ministro para o diálogo, mas diz que ele está em fase de adaptação ao cargo. "Ele ainda está se ambientando no ministério, está averiguando quais serão as prioridades e o que quer deixar de legado." Na quarta-feira (4), na divulgação dos resultados da avaliação de alfabetização e ciências, Ribeiro disse que ainda hoje tem descoberto "novas complexidades da pasta". Ele foi embora logo após um breve discurso, sem acompanhar a apresentação dos dados. Isso aconteceu em outros três eventos públicos do MEC, sendo um deles o de divulgação do Ideb, o indicador de qualidade da educação básica. O ministro não se dispôs a falar com a imprensa nesses dias. Em entrevistas que concedeu, disse que está no MEC para cumprir a agenda conservadora de Bolsonaro na educação e causou polêmica ao relacionar a homossexualidade a "famílias desajustadas". A fala lhe causou desgaste até entre os políticos de direita. A PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu que o STF (Supremo Tribunal Federal) investigue o ministro por crime de preconceito e ele pediu desculpas.
A origem religiosa do ministro tem se refletido em sua agenda. Além de nove reuniões com congressistas da bancada religiosa, Ribeiro teve outros 13 encontros com religiosos, reunindo-se com pastores, padres e bispos. Uma de suas viagens ocorreu após convite do reverendo Osni Ferreira, de Londrina (PR). O ministro foi sem assessores à cidade, onde passou três dias e ministrou culto na Igreja Presbiteriana, liderada por Osni. Com relação à educação, visitou um centro universitário particular e, no domingo, conheceu obras no Instituto Federal do Paraná. Esse último compromisso nem sequer fora agendado pelo MEC, mas por congressistas. Entre hospedagens e passagens, compradas com urgência na mesma semana, o MEC gastou R$ 4.049,81 só com essa agenda do ministro. O MEC não respondeu os questionamentos da Folha sobre o envolvimento de Ribeiro com a pasta e detalhes de sua agenda e viagens.

*”Desigualdade educacional aumenta em 58% dos municípios brasileiros”* - A desigualdade educacional aprofundou em 57,5% dos municípios brasileiros entre 2015 e 2019. Nessas cidades, a diferença de desempenho dos estudantes entre escolas com maior e menor rendimento aumentou mais do que o esperado para o período. Os dados são de um levantamento feito pelo Todos pela Educação, que comparou os resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) entre a média dos grupos de 10% das escolas com maior e com menor desempenho em cada município. O estudo analisou os dados das escolas das redes municipais nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 6º ano). As prefeituras são responsáveis pela matrícula de 70% dos 15 milhões de estudantes nessa etapa da educação. Na maior parte das cidades em que a desigualdade aumentou, o que se verificou foi que as escolas que já tinham Ideb mais baixo em 2015 não conseguiram avançar ou atingir a meta estabelecida para 2019, enquanto, as unidades com maior índice conseguiram melhorar ainda mais seus resultados. O Ideb é o principal termômetro da educação brasileira e é calculado a cada dois anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do Ministério da Educação. O indicador é calculado com as notas dos alunos nas provas de matemática e língua portuguesa e as taxas de aprovação escolar.
O aumento da desigualdade foi verificado antes mesmo da pandemia, que, com a suspensão das aulas presenciais em todo o país, aprofundou ainda mais as dificuldades dos estudantes e escancarou a diferença de recursos entre eles. Por isso, os responsáveis pelo estudo alertam para a necessidade urgente de políticas para reduzir essas disparidades. “Os indicadores pré-pandemia já eram bastante preocupantes e mostram que a desigualdade já tinha crescido. A tendência é de que, com a suspensão das aulas, ela aumente. É importante que os próximos prefeitos tenham consciência de que as escolas dos seus municípios são diferentes e tenham políticas pensando nisso”, diz Gabriel Côrrea, líder de políticas educacionais do Todos pela Educação. Para ele, o importante é reconhecer e identificar as diferentes realidades dentro dos municípios, uma vez que dados gerais podem esconder os problemas nas escolas. No Ideb 2019, por exemplo, 79% dos municípios brasileiros tiveram melhora no indicador, mas em 58% deles houve aumento na desigualdade entre as unidades escolares. Nas 26 capitais do país, ainda que 20 delas tenham melhorado o desempenho, apenas 15 conseguiram reduzir a desigualdade entre os grupos de escolas com os menores e maiores Ideb. Rio Branco, no Acre, que obteve a segunda maior média entre as capitais, é a que tem maior diferença entre seus colégios. “Quando os dados são divulgados, muitos gestores públicos destacam e comemoram seu desempenho. No entanto, muitas vezes, esse avanço é ao custo de aumentar a desigualdade entre os estudantes”, diz Caio Sato, coordenador do núcleo de inteligência do Todos pela Educação. Apesar de haver forte relação entre a desigualdade educacional e a econômica, o estudo destaca que são os estados menos ricos que têm conseguido reduzir as disparidades. O Ceará, por exemplo, é o estado com maior proporção de municípios (56,8%) que conseguiram diminuir as diferenças entre as escolas com maiores e menores notas. Estado mais rico do país, São Paulo só teve essa redução em 36,6% de suas cidades.
Para eles, o alerta é que, mesmo os municípios com melhora na média, precisam olhar para as desigualdades dentro de sua rede de ensino. Em São Paulo, por exemplo, a rede municipal atingiu nota 6 para os anos iniciais do fundamental. No entanto, no grupo de 10% das escolas com menor nota, a média do indicador foi de 5,3, ainda que a desigualdade tenha diminuído desde 2015. “Avançar na média não é suficiente, é preciso avançar atendendo a todos os alunos. E o próximo ano coloca um cenário mais desafiador ainda, porque são essas crianças que já estavam pra trás que mais devem ter sofrido os impactos da pandemia”, diz Côrrea. Apesar dessas disparidades de ensino nas escolas municipais, nenhum candidato a prefeito de São Paulo apresenta em suas propostas de governo ações voltadas para reduzir as desigualdades de aprendizagem. Dois deles, Celso Russomano (Republicanos) e Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota), ainda propõem uma política de bonificação para professores de escolas com maior desempenho. “Políticas que premiam melhores resultados tendem a aumentar as desigualdades, porque se premia quem já estava na frente. Elas não ajudam quem está com mais dificuldade. O que ajuda é suporte para a gestão escolar, apoio pedagógico para o professor”, diz Côrrea. O estudo também destaca que o fato de as desigualdades educacionais já serem tão presentes nos anos iniciais da educação básica mostra a necessidade de ações intersetoriais para apoiar os alunos. “A escola não resolve tudo sozinha. É preciso políticas articuladas com saúde, assistência social para essas crianças e suas famílias.”

*”Amapá tem protestos de moradores e rodízio de energia de seis horas”*
*”Justiça dá três dias para empresa solucionar falta de energia no Amapá”*
*”Motorista atropela ciclista na zona oeste de SP e foge sem prestar socorro”*
*”Maioria é contra uso parcial de ruas para mesas de restaurantes e bares em SP, aponta Datafolha”*
*”Mais de dez cidades têm atos pedindo justiça para Mariana Ferrer”*

MÔNICA BERGAMO - *”Desembolsos do Ministério da Saúde com a pandemia de Covid-19 praticamente pararam”*: Os desembolsos do Ministério da Saúde com a epidemia da Covid-19 praticamente pararam. Desde meados de setembro, o nível de gastos permanece igual. Com a explosão da crise, a pasta foi autorizada a gastar R$ 43,7 bilhões em ações de combate ao novo coronavírus. Até setembro, tinha empenhado cerca de R$ 37 bilhões. De lá para cá, os valores seguem iguais. “Parece até que a pandemia acabou”, diz o economista Francisco Funcia, da comissão de orçamento e financiamento do CNS (Conselho Nacional de Saúde), que fiscaliza a execução orçamentária. O maior risco, segundo ele, é que os R$ 6 bilhões restantes não sejam gastos. “Eles não podem ser transferidos para o orçamento de 2021”, diz. “Se não forem empenhados, serão perdidos.” Mesmo compras ou despesas que sejam planejadas ainda neste ano não poderão ser pagas com os R$ 6 bilhões. É que o decreto de calamidade pública da Covid-19, que abriu o crédito para os gastos extraordinários, só vale até 31 de dezembro deste ano.

MÔNICA BERGAMO - *”Cerca de 400 lideranças pedem ao STF que anule sentenças dadas a Lula”*: Cerca de 400 lideranças políticas de entidades, associações e universidades de países da América Latina, África e Europa assinam um manifesto pedindo ao STF (Supremo Tribunal Federal) a anulação das sentenças dadas ao ex-presidente Lula. O documento afirma que a conduta do ex-juiz Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público deixam claro a “existência de conluio”, e que o petista teve negado o seu direito a um julgamento imparcial. O manifesto será encaminhado ao ministro da corte Gilmar Mendes na terça (10), como iniciativa que marca um ano desde a soltura de Lula após 580 dias encarcerado na sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba.

MÔNICA BERGAMO - *”Cerca de 360 internos da Fundação Casa votarão nas eleições para prefeito”*
MÔNICA BERGAMO - *”Embaixada dos EUA não tem registro de cidadãos no Brasil que votaram nas eleições americanas”*
MÔNICA BERGAMO - *”Plataforma de vídeos Spcine Play vai aplicar teste sobre protagonismo feminino em filmes”*

*”Plano de Biden vê China como ameaça e fala em subsídio para produção local”* - Em texto postado em seu site da campanha e que detalha partes de seu plano de governo na área externa, o democrata Joe Biden cita quase 30 vezes a China e afirma que vai garantir um futuro feito em toda a América e por todos os trabalhadores americanos. Ele propõe seis linhas de ação para recuperar a manufatura e a inovação americanas, com propostas que incluem concessões de subsídios, exigência de conteúdo nacional e transferências de fábricas para os EUA. A proposta é vista por analistas como uma tentativa de rivalizar com o discurso do presidente Donald Trump, mas sem grandes efeitos práticos e de difícil implementação —mas está no texto. Em relação à China, é esperada uma relação mais estável e diplomática com o concorrente asiático, mas sem deixar de lado a disputa que já se desenhava em governos anteriores e deve se acirrar nos próximos anos, em especial, na área de alta tecnologia. Após a posse, o mais importante será acompanhar como essas e outras políticas na área econômica irão contribuir —ou não— para uma recuperação mais rápida da economia mundial e para uma desvalorização do dólar frente a moedas de países emergentes. O governo brasileiro pode se beneficiar de uma eventual distensão na guerra comercial, caso abandone a postura ideológica e busque se equilibrar entre as duas potências, dizem especialistas. Também vai precisar rever o discurso na área ambiental, cuja política é tratada por Biden em outra parte do plano de governo e claramente se choca com a postura atual do governo Bolsonaro. As seis linhas de ação detalhadas no documento da campanha que a gestão Biden se propõe a incentivar são: 1) “buy american” (compre produtos americanos), 2) faça na América, 3) inove na América, 4) invista em toda a América, 5) levante-se pela América (estratégia para competir em empregos e produtos) e 6) “suply America” (traga de volta cadeias de suprimento críticas).
O plano diz que Biden vai tornar mais rígidas as regras sobre conteúdo americano nos produtos “Made in USA”. Hoje, basta ter 51% de conteúdo para se beneficiar isenção na aquisição de componentes importados. O democrata também afirma que “chega de inventar aqui e fazer lá”. Para ele, se as empresas se beneficiam de pesquisas financiadas pelo contribuinte, esses produtos devem ser feitos nos EUA ou a empresa deve reembolsar o governo por seu apoio. Ainda na parte de inovação, Biden afirma que a China poderá superar ainda em 2020 os EUA em gastos com pesquisa & desenvolvimento. “O governo da China está investindo ativamente em pesquisa e comercialização nesses tipos de áreas importantes de tecnologia, em um esforço para superar a primazia tecnológica americana e dominar as indústrias futuras.” Os chineses, aliás, são praticamente a única nação citada no documento, que também propõe espaço para economias que possam se aliar aos EUA nessa disputa, mas sem citar o nome desses países. “[Biden irá] trabalhar com aliados para reduzir a dependência deles de concorrentes como a China, enquanto moderniza as regras de comércio internacional para proteger as cadeias de abastecimento dos EUA e de aliados”, diz o documento. Livio Ribeiro, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirma que o discurso protecionista pode ter ajudado o democrata a conquistar votos nos grandes estados industriais, mas vê muitas limitações para colocar essas medidas em prática. “Não é à toa que existem cadeias globais de valor e que a gente tem um processo de desenho de produtos nos EUA e produção fora. É porque isso é mais barato e mais lucrativo”, afirma Ribeiro.
Para ele, aplicação prática dessas propostas é um pouco mais complicada, porque elas fazem com que o consumidor americano pague mais caro por produtos que, potencialmente, podem ter qualidade pior. Vitória Saddi, professora do Insper, tem a mesma avaliação: “Eu não vejo isso [acontecer], e seria falar que os democratas estão na Idade da Pedra. Vejo uma manutenção ou até uma melhora desse protecionismo americano”, diz. Saddi diz esperar uma melhora na relação do Brasil com a China, em virtude da mudança de postura do governo americano com o democrata, que passaria do confronto direto para uma negociação.​ Ribeiro, do Ibre, diz que a contraposição entre China e EUA é uma questão quem comanda a Casa Branca, mas avalia que a haverá uma mudança de tom na disputa. Brasil deveria ter uma posição de alinhamento pontual e não automático a qualquer uma das partes. “Sob Biden, o alinhamento ideológico entre governos tende a mudar e isso deveria levar a um reposicionamento da postura do Brasil, entre elas, essa contraposição à China. Manter graus de liberdade em geral é bom, ter a opção de escolha em cada tema. Isso é relevante para o Brasil, que está na esfera de influência cultural americana, mas tem a China como principal parceiro comercial e grande investidor. Alinhamentos cegos são perigosos.”

PAINEL S.A. - *”Crise acumula grandes fusões e aquisições no Cade”*

PAINEL S.A. - *”Brasil é visto como ponto de retomada por multinacionais”*: A rodada de divulgações dos resultados do terceiro trimestre das multinacionais com atuação no Brasil tem retratado o país como ponto de retomada. A seguradora espanhola Mapfre destacou a participação brasileira na alta do lucro no período. No resultado da Uber, o Brasil apresentou recuperação de 87% das corridas em outubro ante igual período do ano passado. O desempenho foi impulsionado tanto pelos deslocamentos diários como nos finais de semana. A retomada das viagens nos aeroportos ainda fica para trás. No ramo dos restaurantes, a Bloomin’ Brands, da rede Outback, disse que a queda nas vendas no Brasil foi amenizada pelo recuo das medidas de restrição de circulação nos estabelecimentos. A fabricante americana de fertilizantes CF Industries falou da questão ambiental brasileira durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre. Segundo a empresa, Bolsonaro tem sido agressivo em abrir novas áreas de produção agrícola. “Isso tem sido polêmico globalmente, mas há muita terra disponível, pastagens que poderiam ser abertas sem muita dificuldade no Mato Grosso do Sul, em Goiás e na Bahia. A oportunidade no Brasil está aí”, disse Bert Frost, vice-presidente de vendas da empresa.

PAINEL S.A. - *”Dona da Sadia cria comitê de sustentabilidade”*
PAINEL S.A. - *”Demanda por teste de Covid em farmácia atinge novo pico e supera 1 milhão de exames”*
PAINEL S.A. - *”Empresa de vale de alimentação registra queda na preferência por carne e sushi”*
PAINEL S.A. - *”Preço de casas no Reino Unido bate recorde em outubro”*
PAINEL S.A. - *”Brasil acumula mais de 163 milhões de chips 4G, diz empresa”*

ANÁLISE - *”Fim dos tempos sombrios anima mercados financeiros”*
*”Vale do Silício não espera relacionamento amistoso com Biden”*
RONALDO LEMOS - *”Ataque ao STJ é sinal de alerta”*
*”Fundador da BeeJobs montou negócio após sofrer racismo”*

*”Guedes prepara ações para desconcentrar setor bancário”* - A equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) trabalha na elaboração de medidas para enfraquecer o que ele chama de “cartel da Febraban”, a Federação Brasileira de Bancos. Segundo relatos feitos à Folha por auxiliares do ministro, ele deseja avançar com a pauta de ações que promovam desconcentração bancária e desregulamentação do setor. A rixa com a entidade que representa grandes bancos veio a público no fim de outubro, quando Guedes chamou a Febraban de “casa de lobby” e acusou a federação de financiar “ministro gastador” para furar a regra do teto, que limita o crescimento das despesas públicas à variação da inflação. O objetivo da equipe econômica é reduzir o domínio dos grandes bancos no mercado, abrindo espaço para mais participantes, com estímulo às fintechs —empresas mais enxutas que usam tecnologia para prestar serviços financeiros. As ações na área podem ser adotadas pelo BC (Banco Central) e o CMN (Conselho Mone-tário Nacional), órgão no qual Guedes tem dois dos três votos. O CMN, órgão superior do sistema financeiro nacional responsável por formular a política da moeda e do crédito, é presidido por Guedes e tem mais dois integrantes: o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, subordinado a Guedes, e o presidente do BC, Roberto Campos Neto. De acordo com pessoas próximas ao ministro, ele não quer a implementação de um plano que seja contra bancos ou direcionado a um grupo específico, e sim medidas que estimulem a competição no setor. Segundo relatos, a ordem é que as mudanças, tratadas como sigilosas, sejam feitas de maneira lenta e gradual. Procurado, o Ministério da Economia afirmou que não vai comentar. A Febraban, por sua vez, disse que o setor bancário sempre colaborou com a agenda de competitividade e é favorável a medidas que estimulem a entrada de novos participantes, preservando-se a isonomia de regras. “Um certo nível de concentração é algo comum no setor bancário do mundo todo e está ligado ao fato de ser intensivo em capital e exigir investimentos em montante elevado e, muitas vezes, com retorno de longo prazo”, disse a entidade. Fundada em 1967, a Febraban é a principal entidade representativa de bancos no país e tem 119 associados. Seus conselhos e diretorias têm nomes dos maiores bancos em atuação no país, como Itaú, Bradesco, Santander, J.P. Morgan, Safra, BTG, Banco do Brasil e Caixa.
Nos últimos meses, Guedes vem criticando a Febraban em reuniões com auxiliares. Fontes da pasta afirmam que o principal ressentimento do ministro é com o fato de a entidade ser declaradamente contra a criação de um novo imposto sobre transações aos moldes da extinta CPMF. A proposta é defendida pelo ministro para viabilizar um corte de encargos trabalhistas. Na avaliação de Guedes, a federação é contraditória ao fazer as críticas porque os bancos dizem não aceitar o novo imposto, mas cobram taxas sobre movimentações feitas por clientes. No fim de outubro, o ministro levou a briga a público. Em audiência no Congresso transmitida pela internet, enquanto comentava a possibilidade de criação do novo tributo, Guedes disse que a Febraban atua para enfraquecer seu trabalho no governo. “A Febraban é uma casa de lobby, muito honrada, muito justo o lobby, mas tem que estar escrito na testa ‘lobby bancário’, que é para todo mundo entender do que se trata. Inclusive, financiando estudos que não têm nada a ver com a atividade de defesa das transações bancárias. Financiando ministro gastador para ver se fura o teto, para ver se derruba o outro lado”, disse. Ao contrário da afirmação, o estudo mencionado por Guedes segue a linha liberal e busca alternativas para que a iniciativa privada amplie sua atuação em ações do governo. O levantamento, parcialmente bancado pela Febraban, é uma parceria assinada com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, comandado por Rogério Marinho. Guedes afirma que o colega teria interesse em ampliar gastos públicos e estourar o teto. Os dois ministros protagonizam cenas de desavenças mútuas há meses.
Essa não é a primeira vez que Guedes faz críticas aos bancos publicamente. Em maio deste ano, em live do Itaú, o ministro disse que “200 milhões de trouxas” são explorados por seis bancos e defendeu a desconcentração do setor. “Em vez de termos 200 milhões de trouxas sendo explorados por seis bancos, seis empreiteiras, seis empresas de cabotagem, seis distribuidoras de combustíveis; em vez de sermos isso, vai ser o contrário. Teremos centenas, milhares de empresas”, afirmou na ocasião. A desconcentração do segmento, porém, não começou por iniciativa de Guedes. O tema entrou na pauta de prioridades do BC na gestão de Ilan Goldfajn (2016-2018). Em 2019, último dado divulgado pela autarquia, as cinco maiores instituições financeiras representavam quase 70% do mercado de crédito, incluindo o segmento não bancário (financeiras, fintechs e cooperativas, por exemplo). Em 2016, o grupo tinha 74,3% da carteira total. Os maiores bancos do país são Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica, Itaú e Santander. Quando se considera só segmento bancário, os cinco concentram 80,7% do mercado de crédito —a fatia chegou a ser de 83,4% em 2016. O grupo também acumula a maior parte dos depósitos de clientes (conta-corrente), com 77,6% de todo o sistema financeiro, e 82,3% na comparação somente entre bancos. Com Campos Neto na presidência do BC, medidas pró-competição e de inovação tecnológica saíram do papel. Exemplos são o Pix, sistema de pagamentos instantâneos, e o open banking, ou sistema financeiro aberto, que permitirão a entrada de mais empresas no segmento e reduzirão a vantagem dos maiores.
O open banking, plataforma pela qual clientes podem compartilhar informações e encontrar serviços financeiros mais baratos, por exemplo, gerou resistência entre os bancos maiores, que queriam ter mais poderes do que os menores no novo modelo. O professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) Rafael Schiozer pontua que o setor financeiro no Brasil é concentrado em qualquer comparação, seja com países emergentes ou desenvolvidos. “Aqui as fusões [de instituições] são feitas entre as maiores, o que só piora. Acredito que se fossem realizadas entre as menores, elas se tornariam mais competitivas”, pondera. Para Schiozer, a crítica de Guedes é exagerada. “A Febraban é a entidade que defende os interesses dos bancos. A palavra lobby é muito forte, mas me espantaria se não fizesse. Talvez o BC ceda mais do que deveria, mas hoje em dia sofre muito menos influência. Também não é uma saída ser inflexível ao diálogo”, diz

MARCIA DESSEN - *”Golpistas caçam investidores”*

CAPA – Manchete principal: *”Assassinatos de políticos ficam sem condenação no Estado do Rio”*

*”Sob a lei da impunidade – No Rio, 23 mortes desde 2018 sem nenhuma condenação”* - A impunidade é uma marca dos assassinatos de políticos no Rio. Desde 2018, 23 políticos foram mortos no estado, segundo levantamento do Grupo de Investigação Eleitoral (Giel) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Em 14 casos, os inquéritos não foram concluídos e a autoria dos crimes permanece indeterminada, embora a principal linha de investigação da polícia aponte para a participação de milícias em um terço das mortes. Até hoje, no entanto, ninguém foi condenado, é o que revela a segunda reportagem da série “A política silenciada”, que conta histórias de locais onde a democracia é ameaça pela violência. Um dos casos em que a investigação segue aberta é o do homicídio de Robson Giorno, pré-candidato a vereador em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, executado com três tiros numa emboscada em maio de 2019. Apesar de a polícia ter indícios de que o crime foi cometido pela milícia local, ninguém ainda responde pelo homicídio. Em três desses 23 casos, suspeitos já foram presos, mas as investigações ainda não acabaram. Um deles é a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. O inquérito já chegou aos executores — o sargento aposentado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz —, que devem ser julgados no ano que vem. No entanto, ainda não se sabe quem foi o mandante.
violência muda rotina
A guerra em territórios dominados pela milícia afetou, por exemplo, uma das tradições repetidas a cada campanha eleitoral em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Na tarde da última sexta-feira, a pouco mais de uma semana da votação, não havia cabos eleitorais balançando bandeiras na Estrada de Madureira, principal via do bairro Cabuçu. A cena é incomum. Tradicionalmente, na reta final do período eleitoral, a avenida fica apinhada de gente ligada a campanhas de postulantes a cargos de prefeitos e vereadores, distribuindo santinhos e pedindo votos para seus candidatos. Nessa eleição, porém, Cabuçu e outro bairro, Valverde, viraram campos minados. Duas milícias travam uma batalha pelo controle da região, que já marca a corrida eleitoral de 2020. Segundo a polícia, a disputa dos milicianos foi a causa do assassinato de um candidato a vereador, cotado para assumir uma vaga na Câmara Municipal.
Domingos Barbosa Cabral (PHS), o Domingão, foi executado a tiros num bar em Cabuçu por vários homens com toucas ninja na cabeça no início da noite do último dia 10 de outubro, um sábado. Ninguém ainda foi preso pelo crime, mas a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) já concluiu que o assassinato foi o ponto final de um acordo firmado entre paramilitares locais e a maior milícia do estado, oriunda da Zona Oeste da capital. O trato possibilitou a invasão e controle da região, até então dominada por traficantes, pelo grupo criminoso. O pacto entre as duas quadrilhas de paramilitares que culminou com o homicídio de Domingão foi firmado em junho de 2019 e criava, na prática, uma franquia da milícia da capital na Baixada. De um lado, o candidato e seu irmão, o sargento PM André Barbosa Cabral, apontado pelo Ministério Público como o chefe da milícia local, conseguiram o reforço das armas e homens que precisavam para expulsar os traficantes da região. Do outro, Wellington da Silva Braga, o Ecko, chefe da milícia da Zona Oeste e criminoso mais procurado do estado, expandiu seus tentáculos para Nova Iguaçu e passou a ter direito a um naco generoso do que a milícia local arrecadava com suas atividades criminosas — exploração de gás, “gatonet”, transporte alternativo e cobrança de “taxas de segurança”. Acusado pelo MP de “extorquir indivíduos que respondem a processos criminais com ameaças explícitas de morte e de prisão”, Cabral foi preso e, dentro da cadeia, rompeu com Ecko. Segundo a polícia, Domingão morreu em plena campanha como resultado dessa disputa. Na última sexta-feira, a polícia fez buscas em endereços de dez suspeitos de envolvimento no assassinato. A investigação está em andamento.
Escolha do tráfico
Da lista de 23 políticos assassinados no Rio desde 2018, seis das investigações já foram encerradas e os réus respondem aos processos, segundo levantamento do GLOBO. O mais recente inquérito encaminhado à Justiça foi o que investigou o assassinato do jornalista e pré-candidato a vereador em Araruama, na Região dos Lagos, Leonardo Soriano Pereira Pinheiro, o Léo Pinheiro, executado em meio deste ano. No último dia 24, o sargento Alan Marques de Oliveira foi preso pelo crime. De acordo com a polícia, Pinheiro foi morto porque sua pré-candidatura ameaçava a eleição da mulher do PM, já que ambos tinham os mesmos bairros como redutos. A cirurgiã-dentista Elisabete Faria Abreu, mulher de Oliveira, concorre pelo DEM a uma vaga na Câmara Municipal da cidade. A defesa do PM afirma que não há provas da participação dele no crime. A investigação também revela a infiltração da maior facção do tráfico do Rio, que nos últimos anos vem expandindo seus territórios pela Região dos Lagos, no pleito de Araruama. Uma testemunha revelou à polícia que a vítima recebeu ameaças de traficantes, que alegaram que “apenas um pré-candidato poderia atuar no bairro, e o candidato escolhido por eles seria o Alan Marques”. Ainda segundo a testemunha, com a proximidade das eleições, os traficantes ordenaram que a vítima fechasse uma espécie de centro social que mantinha no bairro de Bananeiras. O imóvel onde funcionava o projeto havia sido cedido pelos criminosos, que determinaram que o pré-candidato devolvesse as chaves e deixasse o local pouco antes de ser assassinado. Desde 2018, três políticos foram mortos em Araruama desde 2018. O município é o que mais registrou casos, junto com Nova Iguaçu e Seropédica.

*”Aliados sugerem a Bolsonaro moderação após vitória de Biden”* - A confirmação da vitória do democrata Joe Biden à presidência dos Estados Unidos ante o republicano Donald Trump faz o entorno do presidente Jair Bolsonaro analisar eventuais mudanças que podem acontecer na postura do chefe de estado brasileiro mirando a tentativa de reeleição em 2022. Enquanto a contagem dos votos de Biden avançava, interlocutores de Bolsonaro ponderavam no gabinete presidencial que o radicalismo adotado por Trump durante sua gestão pode tê-lo tirado da Casa Branca. Os aliados de Bolsonaro querem entender se o método de adotar posicionamentos radicais em várias pautas funciona apenas para a primeira eleição, se é suficiente para buscar um novo mandato ou se atrapalha a reeleição. A avaliação de governistas é de que medidas de aporte financeiro aplicado no Brasil, como o auxílio emergencial e as outras medidas econômicas de estímulo durante a pandemia de Covid-19, sozinhas não são suficientes para garantir o segundo mandato. Aliados do presidente lembram que Trump injetou R$ R$ 2 trilhões para aliviar os impactos da crise e perdeu.
Conselheiros do presidente orientam uma nova modelagem para readequar seu discurso. Bolsonaro já vem adotando uma postura mais moderada desde junho, quando decidiu encerrar a prática de dar declarações diárias no cercadinho da imprensa na porta do Palácio da Alvorada. Além disso, aproximou-se do Centrão, bloco informal na Câmara que reúne parlamentares de legendas de centro e centro-direita e é menos conhecido por suas bandeiras e mais pela característica de se aliar a governos diferentes, independentemente da ideologia. Além de optar por readequar ainda mais seu discurso, Bolsonaro também poderá rever cargos considerados estratégicos no governo em relação aos Estados Unidos. Alguns defendem que nomes mais ideológicos como os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, abram espaço para o governo compor com deputados e senadores e aumentar a base de apoio que tem no Congresso. Essa discussão, no entanto, não deve ser feita antes da posse de Joe Biden, em 20 de janeiro de 2021. Para governistas, apesar da clara preferência de Bolsonaro a Trump, o presidente deverá se adequar às novas políticas implementadas pelo novo governo americano. Para isso, porém, a orientação no momento é esperar a poeira baixar e analisar com cautela quais serão as políticas adotadas pelo chefe de Estado americano. Há uma preocupação no governo brasileiro de que empresas americanas que têm relações com o Brasil endureçam suas cláusulas em relação às políticas ambientais aqui implantadas. Na live desta quinta-feira, Bolsonaro já evitou tecer comentários sobre uma eventual derrota de Trump ou vitória de Biden. O presidente se limitou a dizer que espera que Câmara e Senado possam modificar o sistema eleitoral brasileiro, voltando a defender o voto impresso, como já fez várias vezes antes e depois de chegar ao cargo.

*”Presidente diz que começa hoje o seu ‘horário eleitoral’”*
*”Esvaziado, Onyx irrita Planalto com projeto eleitoral”*

ENTREVISTA: SÉRGIO MORO, ex-ministro da Justiça - *”Precisamos pôr fim ao ciclo de ódio”*
+++ O site do jornal não disponibilizada a íntegra da entrevista até o fechado deste material

*”Ano letivo ameaçado – Maioria dos alunos das favelas do país ficou sem estudar na pandemia”* - Mais da metade (55%) dos estudantes de favelas do Brasil estão sem estudar durante a pandemia. Parte (34%) não consegue participar por falta de acesso à internet, e outra parcela (21%) não está recebendo as atividades da escola ou faculdade na qual está matriculada. A informação é de uma pesquisa obtida com exclusividade pelo GLOBO e realizada pelo instituto DataFavela, uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa). O levantamento ouviu 3.585 alunos, universitários e pais de estudantes de comunidades de todo o país, entre 9 e 10 de setembro.
— A desigualdade de educação, que é uma das causas estruturais da desigualdade econômica, tende a se aprofundar. É um dado que me preocupa — afirma Renato Meirelles, presidente do Locomotiva.
Ainda segundo o estudo, os principais motivos que afastam alunos de favelas de atividades educacionais remotas são a falta de local adequado de estudo, que seja sem barulho e permita concentração; má conexão com a internet e ausência de dispositivos adequados; e a distância dos professores. “Alunos se queixam da falta dos espaços para debates, discussões e dúvidas — e reclamam que gastam muito mais tempo para ouvir os conteúdos ou respostas a dúvidas”, afirma o trabalho. Na casa de Suellen Pires, de 28 anos, ela precisou escolher comprar comida a ter crédito no celular. Trancista que faz bicos vendendo empadas e cocadas, a moradora da Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, não pôde trabalhar durante a pandemia. De renda, teve só o Bolsa Família (R$ 345 mensais), já que não conseguiu acessar o auxílio emergencial. Por isso, as irmãs Geovanna e Gabrielle do Nascimento, de 9 e 11 anos, ficaram de março a outubro sem estudar.
— A minha casa é muito úmida. Eu e uma das minhas filhas já tivemos tuberculose e, por isso, ficamos com problemas pulmonares. Então sou de risco e fiquei em casa durante a pandemia para me proteger e proteger minhas filhas — conta Suellen.
Aprendizagem prejudicada
Sem poder receber as crianças presencialmente, a escola das meninas, o Ciep Vila Kennedy, adotou o ensino remoto com o envio de um link para os pais dos alunos com os conteúdos da semana. Sem crédito no celular, Suellen não conseguia acessar o material. Em outubro, ela ganhou um chip do Alô Social, uma campanha da Cufa que arrecadou e distribuiu 500 mil chips de celular em quase 5 mil favelas assistidas pela organização em todo o Brasil. Eles foram entregues para mães, como Suellen, que poderiam rotear a conectividade para outros aparelhos. Mas na casa da moradora da Vila Kennedy não era possível rotear. Lá só tem um celular para todo mundo. Por isso, a chefe de família — que mora com mais uma filha e a irmã, desempregada — recebe o material, copia no caderno e se senta com as filhas pra estudar.
— A minha de 9 anos é muito esperta. Tenho medo de, por causa do ano perdido, ela ter dificuldade na volta. Já a mais velha tem dificuldades e está fazendo o 3º ano pela segunda vez. Ela só consegue estudar com minha ajuda — diz Suellen. — E a hora do estudo é hora séria, igual refeição. Elas têm que prestar atenção. Mas a gente não tem a paciência igual a professora, que até me ajuda muito pelo celular. Não é a mesma coisa que na escola.
Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, Catarina Santos afirma que, quando for possível o retorno às escolas com segurança, as redes vão precisar reorganizar os currículos para recuperar a aprendizagem dessas crianças que ficaram tanto tempo afastadas da escola e até aquelas que acompanharam as aulas remotas, mas não aprenderam o necessário.
— É preciso fazer uma avaliação diagnóstica para saber o que precisa ser recuperado. Com o diagnóstico de cada criança, tem que pensar uma ação necessária para cada escola. Pode ser, por exemplo, períodos de calendário letivo que não precisam estar vinculados a um ano, mas em etapas de desenvolvimento para que elas aprendam o que é essencial do ano que o aluno estava matriculado na pandemia antes de passar para o seguinte — explica a especialista. — O que não dá é para fazer de conta que nada aconteceu e não pensar um programa de recuperação especial.
Celso Athayde, presidente da Cufa, afirma que crianças nas favelas têm sempre maior risco de evasão. Pais presentes, diz ele, minimizam isso. No entanto, ele alerta, esse é um momento de dificuldades acumuladas — crise financeira, pandemia, desesperança, entre outras — que podem tirar o foco da família em relação aos estudos de seus filhos.
— Chega um ponto que a pandemia parece não ter fim, e essas pessoas começam a ver o mundo como algo que está acabando. E isso se reflete nos filhos. Tem extrato da sociedade que estuda para ser patrão. Na favela, é estudar para ser um bom empregado — diz.
A pesquisa do DataFavela ainda captou um sentimento de angústia que perpassa pelos moradores das comunidades durante a pandemia: 75% dos pais e mães de alunos sentem muito medo da possibilidade de seus filhos perderem o ano; 47% dos estudantes temem querer desistir da escola se não conseguirem acompanhar as aulas remotas; 71% dos pais se sentem muito inseguros em mandar as crianças de volta para a escola presencialmente; e 90% acreditam que as escolas não vão estar preparadas para um retorno seguro.
— Esse medo é uma tônica do território. A favela convive com o medo sempre — diz Athayde. — Na pandemia, o favelado tem a convicção de que não vai ter atendimento médico adequado para se tratar. Esse cara não tem plano de saúde para recorrer.
Já Meirelles afirma que o país precisa intensificar estratégias como a obrigatoriedade de matrícula dos filhos para a garantia de acesso a programas de renda, como o Bolsa Família, com o objetivo de garantir que as crianças e adolescentes não abandonem as salas de aulas do país.
Celular na mão
A pesquisa identificou ainda uma “centralidade quase exclusiva do celular como meio de acesso à internet entre crianças e adolescentes das classes populares”. Segundo o estudo, isso tem impactos na sua situação de exclusão. O estudo cita o levantamento TIC Kids Online Brasil, de 2019, que mostra que 1% das crianças e jovens de 9 a 17 das classes D e E só tem acesso à internet pelo computador; 73%, pelo celular; e 20% em ambos equipamentos. Já nas classes A e B, esses percentuais são invertidos: respectivamente, 1%, 25% e 74%. O estudo da Locomotiva e da Cufa lista problemas em depender apenas do celular. Segundo eles, nem todos os modelos de smartphone têm boa capacidade de processamento de dados e alguns desses territórios sofrem com sinal de internet de má qualidade.

*”’Não sairemos melhores da pandemia’, diz Frei Betto”*
+++ O site não disponibilizada a íntegra da entrevista até o fechamento deste material.

*”Legado sem controle – Parte dos equipamentos doados pela intervenção não foi usada e está mal guardada”*

*”Com Biden – Indústria vê chance de novos acordos”* - A vitória do democrata Joe Biden para a Casa Branca animou setores da indústria brasileira, que veem chance de o presidente eleito dos Estados Unidos reverter decisões tomadas por Donald Trump que restringiram o acesso de produtos brasileiros ao mercado americano. O setor de alumínio, que sofre com a imposição de tarifas por parte do governo americano, acredita que Biden dará maior previsibilidade ao comércio internacional. Em outubro deste ano, os EUA anunciaram a imposição de tarifas de US$ 1,96 bilhão em produtos de folha de alumínio importados de 18 países, entre eles o Brasil. O presidente-executivo da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), Milton Rego, avalia que, até março, quando termina a investigação do governo americano sobre se essas economias exportam os bens a preços inferiores aos valores de mercado para prejudicar o produto americano, não haverá mudança. Por outro lado, vê chance de aumento do consumo do produto por conta da agenda ambiental de Biden:
— Do ponto de vista do setor de alumínio, o positivo é que a agenda democrata é muito mais pró-economia verde e sustentabilidade. E todas essas coisas aumentam a demanda por alumínio. Isso mais cedo ou mais tarde vai ser precificado.
O aço também passa por restrições para ser exportado para os EUA. Neste caso, há cotas. O Brasil pode exportar 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado para o mercado americano por ano. Acordo fechado em 2018 determinou um limite de até 30% deste total por trimestre. Neste último trimestre, porém, Trump reduziu a cota de importação do aço brasileiro em 83%. O Instituto Aço Brasil, que reúne as siderúrgicas brasileiras, vai buscar junto ao novo governo americano o fim das cotas para o produto semiacabado, argumentando que essa é uma matéria-prima fundamental para a indústria americana.
— A expectativa é que a gente possa tentar manter contato com a nova administração para ver se retira o Brasil dessa restrição. Se não for possível o todo, que pelo menos tire o semiacabado — disse o presidente do Aço Brasil, Marco Polo Mello, citando que o Brasil é maior importador de carvão metalúrgico dos EUA, com US$ 1 bilhão por ano.
Para o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS), a vitória do democrata deve contribuir para a acomodação do dólar, o que pode ser positivo para o setor. Ele argumenta que os impactos dependerão da habilidade diplomática do Brasil com seu parceiro comercial histórico:
— Não teremos com a eleição do Biden um cenário que seja conhecido imediatamente, é um corpo multilateral com muitos interesses. Terão setores que serão beneficiados, outros serão prejudicados. O que se precisa agora é de uma diplomacia altamente qualificada e tratar dessa questão no grau de interesse. Países não têm amigos, países têm interesses. (É preciso) Parar de fazer discurso ideológico e tratar dos interesses nacionais.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que a vitória de Biden “permitirá a continuidade das negociações dos acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos”, já que, durante a presidência de Barack Obama, da qual Biden foi vice, agendas importantes avançaram, como acordos de “céus abertos”, previdenciário e de cooperação econômica e comercial. “Esperamos que essa agenda seja acelerada nos próximos anos”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, no texto.
Maior previsibilidade
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria BMJ Consultores Associados, observa que a principal caraterística da eleição do democrata é a previsibilidade:
— Ele vai ser um presidente muito mais previsível, ortodoxo e político. Isso traz mais estabilidade para o mundo. E a relação com o Brasil é muito estável, sendo muito difícil um grande aumento ou grande queda de comércio.

*”Após dias de apagão, Amapá tem rodízio de energia”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Governo quer norma para controlar atuação de ONGs na Amazônia”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”É preciso vacinar nossas crianças”*: Oficialmente, terminou no dia 30 de outubro a Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite, mas muitos Estados, inclusive São Paulo, estenderam o prazo diante do baixo comparecimento dos pais aos postos de saúde. O objetivo do Ministério da Saúde era imunizar 11,2 milhões de crianças de 1 a 5 anos contra a pólio neste ano, mas, de acordo com balanço divulgado pela pasta, apenas 4,9 milhões de crianças foram vacinadas (44%). É desolador constatar que 6,3 milhões de crianças ainda estão sujeitas a contrair uma grave doença que há 30 anos havia sido erradicada no Brasil. O Amapá foi o Estado que registrou o maior porcentual de vacinação contra a pólio na campanha deste ano (76,4%), seguido por Pernambuco (64%) e Paraíba (61%). São números muito baixos – e perigosos – mesmo para os Estados que estão no topo do ranking. Com 17,3% de suas crianças vacinadas, Rondônia foi o Estado com o menor índice de cobertura do País. Em São Paulo, onde a campanha de vacinação foi estendida até o dia 13 de novembro, registraram-se apenas 39,6% de adesão, restando 1,3 milhão de crianças até 5 anos a serem vacinadas. Em setembro, o Estado revelou que os atuais índices de cobertura de vacinas obrigatórias no País são os menores dos últimos 20 anos, algo absolutamente incompreensível à luz da razão. O Brasil é reconhecidamente uma referência mundial em fabricação e distribuição de vacinas. Os imunizantes aqui produzidos pelo Instituto Butantan, em São Paulo, e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, são seguros e eficazes contra dezenas de doenças. Por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), são distribuídos gratuitamente cerca de 300 milhões de doses de vacinas todos os anos. Há cinco anos, 95% das crianças brasileiras estavam imunes à pólio. Em 2016, esse porcentual caiu para 84,4%. Em 2017, o número caiu novamente para 83,4%. A tendência é de queda. O mesmo ocorre em relação à vacinação contra outras doenças, como o sarampo, que voltou ao País em 2018.
O que explica essa procura por vacinas abaixo dos patamares recomendados pelas autoridades sanitárias? O fracasso, pode-se classificar assim, da Campanha Nacional de Vacinação de 2020 pode ser fruto do receio dos pais em sair de casa com seus filhos em meio à pandemia de covid19, evitando ambientes hospitalares. Mas, como os números atestam, há uma tendência que deve ser prontamente revertida para que o País não tenha de voltar a lidar com mazelas que ficaram no passado e lá deveriam permanecer. É inconcebível a Nação estar às voltas com surtos de poliomielite, sarampo, caxumba e rubéola no final da segunda década do século 21 – e é isso o que acontecerá se a sociedade rejeitar a cobertura vacinal. Às chamadas autoridades cabe realizar um acurado diagnóstico das razões que têm levado pais a deixarem de vacinar os seus filhos nos últimos anos e desenvolver estratégias para reverter essa tendência daninha. Deveria bastar o bom senso de pais e responsáveis, mas à falta dele se impõe uma ação estatal mais incisiva para esclarecer a população e facilitar o acesso aos imunizantes. As escolas também têm papel fundamental nesse processo, mais do que simplesmente alertando pais e alunos sobre a importância da vacinação, o que é óbvio, mas realizando suas próprias campanhas internas, como tradicionalmente sempre fizeram. Em São Paulo, é esperado que até o final da campanha, em meados de novembro, 95% dos 2,2 milhões de crianças do Estado sejam vacinadas contra a pólio. É perfeitamente possível que a meta seja atingida, mas isso exigirá uma tomada de consciência dos pais. Estrutura segura para a aplicação das vacinas existe. “É de extrema importância aumentar a cobertura vacinal contra poliomielite, além de atualizar a carteira de vacinação de nossas crianças, contribuindo para eliminarmos os riscos de circulação dessa e de outras doenças”, disse o secretário de Saúde paulista, Jean Gorinchteyn. Contra a insensatez de pais que não vacinam seus filhos por crendices não há vacina. Aos demais, um apelo ao bom senso: vacinas salvam vidas.

*”Polícia vê atuação do PCC em prefeituras de 3 Estados”* - A construção de uma rede de organizações sociais de prateleira é a forma encontrada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para ganhar contratos públicos e se infiltrar em administrações municipais de pelo menos três Estados. Empresas de prateleira são CNPJS formalmente constituídos, mas que não têm atividade. Em São Paulo, há indícios de que a facção atuava em busca de contratos em nove cidades. Investigações da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil paulista mostram a ação do grupo em São Paulo, Paraná e Minas. Os contratos públicos teriam, segundo os investigadores, uma dupla finalidade: a construção de empresas respeitáveis para a lavagem de dinheiro do tráfico e o desvio de recursos públicos para a organização criminosa. A rede de OSS mantida por grandes traficantes de drogas ligados ao PCC começou a ser desbaratada durante as investigações que levaram ao esquema que controlava a coleta de lixo e a saúde pública de Arujá, na Grande São Paulo. O centro do esquema teria sido criado, segundo a investigação, por Edson Rodrigues Peres, o Alemão, candidato a vereador em 2016 pelo PSDB em Barueri. Gravações ambientais obtidas pela polícia mostram que o acusado chegou a pôr na direção de um dos institutos usados pelo grupo um morador de rua – o uso de laranjas para dirigir as OSS seria uma das práticas da organização criminosa. De acordo com as investigações, o grupo atuaria “fora do crime de tráfico de drogas na cidade de Barueri, executando serviços públicos através de contrato de gestão, por intermédio de organização social criada por sua organização criminosa, expediente que utiliza ou utilizou também nas cidades de Arujá, Guarulhos, Santa Isabel e Suzano”. As investigações da Operação Soldi Sporchi (dinheiro sujo, em italiano) localizaram tentáculos da atuação do grupo em Guaíra, Itaquaquecetuba, Salesópolis, Biritiba-mirim e Caraguatatuba, no litoral norte do Estado. Cópias do material reunido pela polícia foram enviadas ao Ministério Público Estadual de cada uma das cidades.
Conversas. Nas conversas gravadas apreendidas pela polícia, Alemão contaria sobre sua relação com o megatraficante de drogas Anderson Lacerda Pereira, o Gordo, acusado de manter relações com o cartel mexicano Los Zetas e com mafiosos da “N’dragheta”, principal organização criminosa da Itália, para onde teria mandado toneladas de cocaína. A defesa de Gordo, que está foragido, nega os crimes. O advogado Rafael Munhoz Ramos, que defende Alemão, também alega inocência do político. Segundo ele, houve um engano. A polícia o teria confundido com outra pessoa, um bandido da facção que também tem o apelido de Alemão. Os documentos da Operação Soldi Sporchi, porém, afirmam: “Para adquirir organizações sociais, Anderson se vale de um indivíduo de vulgo Alemão. Trata-se de Edson Peres, que foi candidato a vereador em Barueri”. Gordo teria comprado do esquema o Instituto Inovação de Gestão Pública. “Mais tarde também teria sido vendido parte do Inst. IDGT, no que concerne às atividades da O.S. em Arujá”, escreveu o delegado Fernando José Goes Santiago, que conduz a investigação da Polícia Civil. Em outra conversa, Alemão participa de uma reunião de lavratura de ata para a criação da OS Instituto Referência de Gestão Pública, outra suposta organização de prateleira criada para trabalhar com prefeituras.
Federal. O esquema descoberto em São Paulo é semelhante ao investigado pela PF em um dos desdobramentos da ofensiva contra a lavagem de dinheiro do PCC. A apuração já levou a polícia a bloquear, só na Operação Rei do Crime, R$ 730 milhões em bens em nome de pessoas ligadas à facção. “Eles levam vida de empresário, frequentam clubes, dão festas, enfim, têm uma vida luxuosa”, disse o delegado Elvis Secco, coordenador-geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da PF. Secco afirmou que a primeira vez que se deparou com a facção infiltrada no poder público foi em uma investigação em Londrina, na Operação Ferrari, em 2013. “Eles tinham ligações com um coronel e com políticos locais.”

*”Em gravação, bando diz ter subornado ministro”* - O arquivo de áudio foi criado em 25 de agosto de 2018. Sua transcrição pela perícia ocupou 15 páginas de um relatório da Operação Soldi Sporchi. A conversa é uma das provas da polícia do uso de empresas de gaveta para que a organização criminosa se apoderasse de contratos com o setor público. No diálogo são mencionados diretores de hospitais e da empresa de limpeza urbana de Arujá, além de um secretário do município. Edson Rodrigues Peres, o Alemão, diz na página 6 do documento que o grupo do traficante Anderson Pereira Lacerda, o Gordo, pegou “empresas em dia”. Na conversa, o acusado relata que Anderson tem “mais de 200 quilos”. “Pra você ver o tamanho do cara; cara inteligente, o negócio dele é só enviar droga pra Europa”. Alemão prossegue descrevendo Anderson para seu interlocutor. “O cara fala: ‘Se vocês quiser me conhecer melhor é só entrar na Interpol’. Ele (Anderson) é caçado pela Interpol, cara.” É neste momento da conversa que Alemão relata a suposta corrupção de “ministro”, sem citar de qual tribunal. Quando seu interlocutor diz “você está brincando”, Alemão responde: “Só que ele tem um habeas corpus do ministro. Fala (que) gasta um milhão por ano com esse ministro ‘para ele me dar um habeas corpus pra eu ficar livre’”. Nesse trecho, a perícia detectou “risos”. “Valha-me Deus”, responde o interlocutor. Em troca de mensagens de um acusado e um advogado, a polícia achou indícios de pagamentos de US$ 50 mil e de US$ 30 mil para um magistrado que analisava casos de membros do grupo de Gordo, que está foragido e, de fato, está na lista vermelha da Interpol.

*”No Rio, candidatos apelam a ‘padrinhos’”* - Uma disputa pela segunda vaga no segundo turno marca os últimos dias da corrida pela Prefeitura do Rio. Enquanto o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e a deputada federal Benedita da Silva (PT) nacionalizam as campanhas e apelam aos respectivos “padrinhos” – o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, a deputada estadual Martha Rocha (PDT) concentra ataques em Crivella, com quem disputa eleitores, e faz acenos à esquerda. Segundo a mais recente pesquisa Ibope, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) lidera a corrida eleitoral no Rio, com 32% das intenções de voto. Em seguida aparecem Crivella e Martha Rocha, com 14%. Benedita tem 9%. Como a margem de erro da pesquisa é de três pontos porcentuais, os três estão tecnicamente empatados. Depois de uma campanha que não empolgou e de uma gestão marcada por suspeitas de corrupção, Crivella ganhou apoio explícito de Bolsonaro nesta reta final. O presidente gravou um vídeo que tem sido veiculado pelo candidato do Republicanos repetidamente no horário eleitoral gratuito. Para o estrategista da campanha do prefeito, Rodrigo Bethlem, muitos eleitores ainda não sabem quem é o candidato de Bolsonaro na cidade. O presidente teve dois terços dos votos válidos na capital fluminense no segundo turno de 2018. “Há um eleitorado conservador que precisa ser comunicado”, disse Bethlem. Segundo o Ibope, a rejeição a Crivella é de 55%. A aproximação com o presidente também ocorreu em meio a movimentos de Crivella para agradar bolsonaristas. Na semana passada, a prefeitura liberou praticamente todas as atividades na cidade que tinham sido suspensas por causa da pandemia do coronavírus. A medida incluiu praias, restaurantes self-service e pistas de dança. Bolsonaro questiona o isolamento social como forma de conter a disseminação do vírus.
Assim como Crivella, Benedita também aposta em um “padrinho”. Lula tem aparecido em gravações e em vídeos nas redes sociais pedindo votos para a candidata, que já foi sua ministra. Na sexta-feira e no sábado, Benedita também participou de eventos com o ex-presidenciável do PT Fernando Haddad. A ida do ex-prefeito ao Rio foi uma forma de suprir a ausência de Lula, que tem evitado viajar por causa da pandemia do novo coronavírus. Já a estratégia de Martha Rocha, que passou de 8% para 14% na pesquisa Ibope e registra a rejeição mais baixa entre os quatro primeiros colocados na disputa, mira Crivella. “Somos a candidatura que vai tirar Crivella do segundo turno. O pior prefeito da história do Rio merece uma resposta já dos cariocas”, escreveu a pedetista nas redes sociais na sexta-feira passada. Em outra mensagem de aceno a um possível voto da esquerda, Martha afirmou ser uma “candidata progressista”. “Eu entendo que a maior questão que a gente tem que enfrentar agora é a desigualdade social.” Além de Benedita, concorre neste campo político Renata Souza (PSOL), que tem 2% de intenções de voto, segundo o Ibope. Ao Estadão, Martha e Benedita defenderam uma aliança da esquerda caso uma delas avance na disputa municipal.
Líder. A campanha de Paes deve continuar a destacar sua gestão (2009-2016), quando o Rio sediou eventos internacionais, como a Olimpíada, e a comparar sua administração com a de Crivella. O principal bordão do ex-prefeito diz que “o Rio vai voltar a dar certo”. Em outra linha, Paes tenta minar o crescimento de Martha Rocha. A campanha do DEM tem veiculado vídeos que mostram dados negativos da gestão dela na Polícia Civil. Também associam a ex-delegada ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB), que comandava o Estado quando ela chefiou a corporação. Preso, Cabral já foi condenado a mais de 300 anos de prisão.

*”Huck intensifica conversas por 2022”* - Enquanto a eleição de 2022 não chega, o apresentador de TV Luciano Huck intensifica movimentos em busca de articulação para uma eventual candidatura à Presidência da República. O encontro mais recente ocorreu com o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, e foi visto com ressalvas por conselheiros e articuladores do projeto eleitoral de Huck. Para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCDOB), com quem o apresentador havia se reunido no início do ano, Huck “explode pontes” com a esquerda ao se aproximar do ex-ministro. O núcleo que acompanha os movimentos do apresentador vê Moro como um nome ainda muito ligado à direita. Embora tenha rompido com o presidente Jair Bolsonaro, sua passagem recente pelo governo federal poderia tirar o caráter centrista que os apoiadores de Huck gostariam de dar a uma eventual candidatura. O encontro entre os dois, que ocorreu no último dia 30 no apartamento de Moro, em Curitiba, foi revelado ontem pelo jornal Folha de S. Paulo. O Estadão confirmou que eles almoçaram juntos.
Presidente do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, que já abriu as portas do partido para Huck e tem atraído líderes de movimentos de renovação, disse ao Estadão que já sabia que Huck se encontraria com Moro. Ele defendeu o diálogo, apesar das diferenças políticas que tem com o ex-juiz, e afirmou que a prioridade para 2022 deve ser combater Bolsonaro. “(Uma eventual união de Huck com Moro) é problemática? Claro que sim, mas (o debate) tem que começar agora para dar tempo de as pessoas se convencerem de que é importante unir oposições democráticas contra o bolsonarismo. Veja o que os Estados Unidos fizeram. Não vejo convergência entre meu partido e o Moro, mas prefiro a direita lavajatista do que Bolsonaro. Se a pessoa quiser se integrar, não podemos excluí-la por causa das companhias com quem ela andava”, afirmou. Nem todos os políticos que têm tido contato com Huck pensam desse jeito. Também defensor de uma frente democrática para enfrentar o bolsonarismo em 2022, Flávio Dino disse que Huck “explode pontes” ao se aproximar de Moro. “Existe uma rejeição profunda a Moro na política e no mundo jurídico. É visto como extremista e mau caráter. Quem com ele se junta explode pontes e abre mão de ser um aglutinador”, disse. Ontem, antes de comentar o encontro entre Huck e Moro, Dino postou no Twitter uma crítica ao ex-ministro por ter gravado vídeo em defesa de Capitão Wagner (PROS), candidato a prefeito de Fortaleza, acusado pelo governador Camilo Santana (PT) de ter incentivado o motim de policiais em fevereiro. “Moro grava vídeo para um extremista líder de motim. Começou muito mal sua tentativa de se reinventar como referência do ‘centro’”, escreveu. Wagner nega ter incentivado o motim e diz ter atuado pelo fim da paralisação. O governador do Maranhão é um dos principais interlocutores de Huck na esquerda, já foi apontado como possível vice em uma chapa com o apresentador e defendeu publicamente a aproximação entre o global e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é aliado.
Renovação. O encontro entre Huck e Moro também repercutiu negativamente entre integrantes de movimentos de renovação política, como o Renovabr e o Agora!, apadrinhados por Huck. Esses grupos tentam manter um caráter apartidário, recebendo integrantes de diferentes espectros políticos, e acham que a identificação de Moro com a direita pode atrapalhar a divulgação desta bandeira. Em nota, o Renovabr, que tem Huck no Conselho Consultivo, disse que “questões políticas particulares” do apresentador “não dizem respeito ou afetam o trabalho” do grupo. Procurados, Moro e Huck não responderam até a conclusão desta edição. Em setembro, o Estadão mostrou que, durante a pandemia, Huck intensificou conversas com políticos mirando 2022. Em evento na Associação Comercial de São Paulo no dia 22 daquele mês, ele foi questionado se tinha “coragem” de ser candidato a presidente. “Estou aqui”, respondeu. A declaração destoou de comentários anteriores em que o apresentador evitava sinalizar de forma objetiva se pretende ser candidato. O apresentador tem conversado com várias correntes políticas, mas tem evitado ser assertivo sobre seu futuro político. Aliados de Huck temem que, uma vez que a pré-candidatura seja oficializada e ele se filie a uma sigla, o apresentador perca espaço na TV e entre grupos da sociedade que não querem se associar a um determinado grupo político.

*”Após ataque hacker, STJ teme vazamento em massa de dados”*

*”Biden detalha medidas e Trump sofre pressão interna para admitir derrota”*

*”Produtores temem perder mercado chinês para EUA”* - Representantes do agronegócio temem que uma gestão do democrata Joe Biden na Casa Branca afete a entrada da produção brasileira de grãos no mercado chinês. Políticos do setor, produtores e analistas afirmam que o governo Jair Bolsonaro precisa buscar moderação e pragmatismo diplomático com a China para assegurar a fatia de mercado, hoje o maior comprador do País. O cenário é complexo porque produtores dos Estados Unidos e do Brasil concorrem em produtos como soja, milho, algodão e carne. Eles disputam mercado como fornecedores para a China. Uma mudança de posição de Washington, já que Biden tende a adotar uma abordagem diplomática mais multilateral e menos agressiva, pode significar uma melhoria das relações entre as duas potências. No médio e longo prazos, a preocupação é que isso reduza a importação da soja brasileira pelos chineses e aumente as compras dos americanos. Algo similar ocorreu em 2020. Nos primeiros meses do ano, após acertados os termos de uma trégua na guerra comercial travada com tarifações desde 2018, a China ampliou a compra de soja dos produtores americanos. Autoridades dos dois países têm reiterado comprometimento com a primeira fase do entendimento. A despeito das rusgas geopolíticas com Donald Trump, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos registrou ao longo do ano seguidas vezes maiores aumentos nas vendas do grão à China. O governo americano trata as vendas como recorde. Elas devem cair por causa dos estoques em excesso, feitos ao longo do ano. Houve uma onda de compra porque a China passou a estocar soja por causa de incertezas na produção de alimentos relacionadas à pandemia da covid-19. Apesar disso, o Brasil também vem batendo recordes de venda do grão para a China em 2020. O ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo, diz que o País ainda “não sentiu a pegada” dessas cotas importadas dos EUA – e não do Brasil. Segundo ele, a pandemia do novo coronavírus aumentou a demanda por grãos como milho e farelo de soja, que vêm sendo cada vez mais usados na ração dos suínos, um tipo de carne bastante consumida na China. Blairo diz que a maior demanda coincidiu com a pressão de Trump, e o Brasil não tinha mais safra para fornecer. A produção de grãos não cria muito excedente no mundo. Não há estoques reguladores, e a produção costuma ser toda absorvida pelo mercado no mesmo ano.
Maggi diz que o comprador chinês pensa a longo prazo e busca estabilidade na segurança alimentar. Nesse sentido, entende que a saída de Trump pode libertar o governo Bolsonaro do alinhamento automático ideológico com o republicano. Ele espera, nesse sentido, que a diplomacia nacional com um governo Biden seja mais positiva ao produtor brasileiro. “Um país fornecedor como o Brasil com ‘liberdade’ da política internacional dá a ele tranquilidade de que não será barrado ou forçado a não entregar um produto. Acho que a grande mudança está por aí”, diz o ex-ministro. “Se não houver essas pressões, nós vamos vender e os americanos também, nós vamos fornecer aos chineses no primeiro semestre, o americano, no segundo semestre. Nós tínhamos uma posição muito devagar, talvez por receio de se posicionar diferente (dos EUA).” Para Maggi, o agronegócio pode ampliar espaço com a saída de Trump. Isso porque o republicano forçou a barra nas conversas para a trégua com a China para que os asiáticos ampliassem a compra de alimentos, carne e algodão. O empresário e produtor, ex-senador pelo Mato Grosso, diz que a relação Brasil – China ficou mais tímida porque Trump jogou duro para privilegiar os fazendeiros americanos, em detrimento dos brasileiros. “Bolsonaro é muito alinhado com Trump e quando o presidente é muito alinhado acaba não reclamando de certas coisas que deveria reclamar. Pelo menos politicamente deveria dizer ‘não ocupe o nosso espaço’. Se não tiver esse alinhamento quase automático, Bolsonaro terá mais liberdade de negociações e até ampliar com a China”, avalia Maggi. “Pode aliviar um pouco algumas críticas à China que vinham automáticas pelo alinhamento. Espero que a mudança traga para nós produtores e para o agro brasileiro um momento diferente nas negociações. A gente ficou escanteado. Espero que agora nosso presidente possa atuar de forma mais incisiva nessa questão e avançar um pouco mais.”

*”China deve buscar diálogo com Biden, dizem parlamentares”*

*”Biden trará ‘marcha verde’ ao Brasil”* - A vitória do democrata Joe Biden para a Casa Branca abre caminho para a união dos Estados Unidos e da Europa numa “marcha verde” de pressão na direção do governo Jair Bolsonaro, o que vai exigir pragmatismo da diplomacia brasileira e do Ministério da Economia para impedir que os produtos brasileiros sejam atingidos por restrições comerciais. O Estadão ouviu especialistas na área internacional sobre o que pode acontecer na economia brasileira com a saída de Donald Trump e a chegada de Biden. “Se nós não fizermos nada, é possível que essa nova marcha verde vá se espalhando por todos os temas e assuntos”, diz o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sérgio Amaral, que já esteve duas vezes com Biden. Segundo ele, o futuro presidente americano é moderado e gosta do Brasil.
Presidente do conselho do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), José Pio Borges diz que Biden é o presidente dos sonhos de Wall Street e certamente não tem nenhuma simpatia pelo governo brasileiro, mas não vai agir de forma irracional e revanchista. Para ele, a disputa importante que envolve a relação Estados Unidos, Brasil e China é a decisão sobre a adoção da tecnologia 5G. Na União Europeia e no Reino Unido, já estão em curso consultas públicas para aplicar restrições a países que desmatam e tributar produtos com alto índice de emissão de carbono. A expectativa é que Biden se alinhe a essas políticas no futuro. “Isso pode se materializar em tarifas adicionais para as exportações brasileiras. O alvo serão os produtos brasileiros que auxiliam no desmatamento ou geram emissões de carbono”, diz Welber Barral, consultor internacional e ex-secretário de Comércio Exterior. No agronegócio, que pode ser atingido por medidas restritivas, a preocupação do momento é com o futuro do dólar. “Nós estamos muito mais preocupados com o que vai acontecer com o dólar. Isso, sim, a vitória de Biden modifica”, diz o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente da Agropecuária, uma das mais poderosas do Congresso.

*”Luis Arce toma posse na Bolívia com crítica a governo interino”*

*”Governo Bolsonaro planeja norma para controlar ação de ONGs na Amazônia”* - O governo Jair Bolsonaro planeja formas de estabelecer controle sobre as organizações não governamentais (ONGS) que atuam na Amazônia. Por meio de um marco regulatório, a proposta é ter o “controle” de 100% das entidades na região até 2022 e inclui limitar entidades que, na avaliação do Executivo, violam “interesses nacionais”. O plano consta de documentos, obtidos pelo Estadão, elaborados pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal. O colegiado é presidido pelo vice-presidente Hamilton Mourão. As discussões sobre bloquear ou limitar atividades de ONGS ocorrem no momento em que o Palácio do Planalto avalia se vai manter seu discurso ambiental com a vitória do democrata Joe Biden, nos Estados Unidos, e o País sofre desgaste no exterior por causa do desmatamento. Mourão promoveu viagem com diplomatas de dez países pela Amazônia na última semana.
O governo busca recuperar investimentos, como os do Fundo Amazônia, que foram perdidos após batalha do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com entidades de preservação. Os documentos obtidos pela reportagem foram encaminhados por Mourão a ministros. Não há detalhes sobre quais “interesses nacionais” devem ser seguidos para que uma ONG seja autorizada na região. Sem provas, Bolsonaro já acusou essas organizações de incendiar florestas e prejudicar a imagem do País. Um dos objetivos do conselho presidido por Mourão trata de “garantir a prevalência dos interesses nacionais sobre os individuais e os políticos”. Neste tópico, a meta é “obter o controle de 100% das ONGS, que atuam na Região Amazônica, até 2022, a fim de autorizar somente aquelas que atendam os interesses nacionais”. No seu plano, o governo prevê “ações setoriais”, como “criar marco regulatório para atuação das ONGS”. Não há uma proposta pronta de nova legislação. A missão de preparar a minuta está nas mãos dos ministérios da Justiça, do Meio Ambiente e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 237 mil ONGS e outras entidades sem fins lucrativos no Brasil em 2016. O Sudeste concentrava a maior parte (48,3%). O restante estava no Sul (22,2%), Nordeste (18,8%), Centro-oeste (6,8%) e Norte (3,9%). Os dados mostram que essas entidades apresentavam, principalmente, vocação religiosa (35,1%). Atuação específica em “meio ambiente e proteção animal” não alcançava 1% do total. Mapa feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir de base de dados mais ampla indica, porém, 782 mil organizações da sociedade civil no Brasil. Por esse estudo, elas estão mais presentes no Sudeste (41,3%), em seguida Nordeste (24,9%), Sul (18,6%), Centro-oeste (8%) e Norte (7,2%). A maior (47%) atua no “desenvolvimento e defesa de direitos”. No recorte do Ipea, o Greenpeace, por exemplo, opera nesta categoria.
Inconstitucional. A proposta do governo de controlar ONGS e barrar suas atividades em nome de “interesses nacionais” é inconstitucional, avaliam Aline Gonçalves da Silva e Eduardo Pannunzio, do Grupo de Pesquisa de Organizações da Sociedade Civil da FGV Direito SP. Os dois afirmam que já existem processos para criação e controle dessas organizações. Lembram, ainda, que a abertura de uma entidade deste tipo depende da elaboração de estatuto, registro em cartório, entre outras burocracias, mas não requer aval estatal. Além disso, só a Justiça pode suspender ou dissolver uma associação assim. O termo ONG não existe na legislação brasileira. As organizações conhecidas por este nome, porém, são entidades privadas, sem fins lucrativos, que têm objetivos sociais. Caso a associação ou fundação receba verba pública, o controle sobre as atividades é maior e envolve o Ministério Público. Os pesquisadores dizem ainda que o Executivo não pode delimitar o que é interesse nacional. “Para a Constituição, a proteção do ambiente é um interesse. Atribuição não só do governo, mas da sociedade. As organizações talvez tenham histórico melhor do que o governo na defesa desse interesse nacional”, disse Pannunzio. “Apresentar outra visão sobre desenvolvimento econômico da Amazônia não é uma proibição (para criar uma associação ou fundação). Ter opinião contrária à do governo não é ilícito”, emendou Aline. A ideia preocupa ambientalistas, mas não surpreende. A porta-voz de Políticas Públicas do Greenpeace, Luiza Lima, afirma que o governo expressa há tempos o desejo de limitar o trabalho das ONGS. “Lamentavelmente, estamos diante de indícios de que o governo Bolsonaro não compactua com preceitos básicos de democracia e participação social”, afirmou ela. “Não querem passar pelo crivo do povo e pretendem se impor sem diálogo com a sociedade”, disse Ariana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA).
Mourão e ministros se reuniram em sessão do Conselho da Amazônia na última terça-feira. Integrantes do grupo receberam naquela data o mesmo documento obtido pelo Estadão. À imprensa, o vice-presidente disse que o encontro serviu para delimitar o planejamento do colegiado, que tem “três grandes objetivos estratégicos gerais”: preservação, proteção e desenvolvimento sustentável. Cada tópico foi discutido em subcomissões e tem “objetivos operacionais”, com “metas” e “ações setoriais”. A tutela das ONGS está dentro da discussão sobre “proteção”. O próximo passo do grupo de Mourão é reunir técnicos de diversos ministérios para traçar o prazo de entrega de cada objetivo. Parte dos conselheiros só soube da proposta de tutela das ONGS após receber o documento, na terça. Duas autoridades que acompanham as reuniões dizem que militares e representantes da Agricultura divergem sobre a condução dos trabalhos no Conselho. O último grupo teme a paralisação dos debates por críticas a propostas, como a de controle das ONGS. O Estadão teve acesso à apresentação feita por um subordinado de Mourão na reunião do Conselho. No documento, a Amazônia é tratada como “espaço vital” para o mundo por possuir “recursos estratégicos”, cobiçados por países como Inglaterra, França, Estados Unidos e Alemanha. Procurados, os ministérios da Justiça, Relações Exteriores, Meio Ambiente, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Vice-presidência não se manifestaram.

*”Gestão tem relação amistosa com organizações evangélicas”* - Apesar de apontar as ONGS como culpadas até por incêndios na Amazônia e planejar tutelálas sob o argumento de defender os “interesses nacionais”, o governo mantém relação amistosa com algumas dessas organizações. Nos planos do Conselho Nacional da Amazônia Legal, inclusive, existe a ideia de “potencializar a bioeconomia” ao valorizar o “capital intelectual” de centros de pesquisa, universidades e ONGS. Entidades sem fins lucrativos receberam R$ 5,48 bilhões do governo em 2020, segundo dados do Portal da Transparência. A maior beneficiada é a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que levou R$ 709,9 milhões. A terceira colocada é uma ONG: a Missão Evangélica Caiuá, que presta atendimento médico a comunidades indígenas e recebeu R$ 163 milhões. O governo federal terceiriza esses serviços para a entidade desde gestões do PT.
Em 2019, o Estadão encontrou postos de atendimento em situação considerada “deplorável” por funcionários contratados pela ONG em Dourados (MS), onde fica a sede da organização. Havia portas arrombadas e tapumes no lugar de janelas, uma única viatura sem combustível para atender as aldeias, falta de remédios e de equipamentos para exames. Egresso da ONG americana Novas Tribos do Brasil (MNTB), acusada de proselitismo religioso e contato forçado com indígenas, o pastor e exmissionário evangélico Ricardo Lopes Dias não foi barrado do governo Bolsonaro. No começo do ano, Lopes Dias se tornou coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Fundação Nacional do Índio (Funai). A nomeação foi criticada e levada à Justiça, mas mantida pelo governo. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma das principais ONGS do setor, protestou. À época, a entidade disse que o País ficaria sujeito a “crimes de genocídio e etnocídio”, que seriam cometidos contra “nossos parentes isolados e de recente contato”, caso se concretizasse a nomeação de alguém ligado ao “proselitismo religioso para o setor da Funai”.

*”Sem luz, Amapá vira zona de guerra”*
*”Rodízio atende bairros nobres e periferia fica no escuro”*

*”Com governo à míngua, produtores se unem para reformar estradas e portos”* - O produtor Edoardo Del Missier espera com ansiedade a conclusão da pavimentação de uma estrada próxima à sua propriedade, em Luís Eduardo Magalhães, zona agrícola no oeste da Bahia. Integrante de uma associação rural que paga pela recuperação de vias públicas na região, ele conta que a chegada do asfalto vai valorizar a terra e reduzir os custos operacionais, especialmente com a manutenção de máquinas e veículos. “Devo ter uma redução de 10% a 15% no custo do frete, após o asfaltamento. Tínhamos sempre veículos atolados, tombamentos e problemas mecânicos. Para percorrer 25 km até a minha propriedade, a partir da BR-020, a gente costumava levar uma hora em dias chuvosos. Agora, vamos demorar a metade do tempo”, comemora. Com a arrecadação de Estados e municípios em baixa, por conta da pandemia do novo coronavírus, e o agronegócio sendo um dos poucos setores da economia que se saiu bem este ano, mesmo nos piores momentos da crise, grupos de produtores de diferentes cantos do País têm se reunido para administrar – eles próprios ou em associação com governos – obras de infraestrutura em suas regiões. Para facilitar o escoamento de grãos e reduzir os custos de produção, as associações de produtores se organizam para custear do asfaltamento e recuperação de estradas à revitalização de um porto fluvial na fronteira com a Bolívia, por meio de Parcerias Público-privadas (PPPS), concessões ou doações para prefeituras da região. São as chamadas “PPPS caipiras”. O apelido vem de um projeto que surgiu em Mato Grosso há quase duas décadas, em que o governo do Estado e os agricultores se uniam para a pavimentação e conservação de estradas da região. Após um hiato de dez anos, o projeto voltou no ano passado, com o lançamento de um programa de PPPS sociais.
Agricultor da região de Sorriso (MT), o gaúcho Sadi Bedelli conta que os produtores levam os projetos de recuperação das vias até o governo e arcam com 20% dos custos. O restante vem do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), que incide sobre a comercialização de commodities, como soja e milho. “As estradas continuam sendo públicas, mas trechos de maior movimento podem ser eventualmente pedagiados.” Segundo o Estado, são 22 mil quilômetros de estradas não pavimentadas, além de 2,4 mil pontes de madeira em rodovias estaduais. “O governo continua investindo em obras, mas economiza recursos que podem ser destinados a regiões e municípios que ainda sofrem com a falta de logística.” Na fronteira agrícola do Matopiba (acrônimo formado com as iniciais dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), os produtores de Luís Eduardo Magalhães recuperaram até outubro trechos de 17 estradas rurais, totalizando 914 quilômetros. A previsão é de investimentos de R$ 180 milhões em três anos, com as obras em parceria com o poder público. Caminhoneiros que trabalham na região também comemoram a melhoria das estradas vicinais. “Na época da chuva não tem jeito, mas aqui na região o próprio fazendeiro cuida da estrada, não espera pelo município”, afirma Erenito José Teixeira, motorista há 41 anos.
Alternativa. O tranco na economia causado pela covid-19 jogou luz sobre uma preocupação antiga dos produtores rurais: como resolver a necessidade de reduzir custos de transporte do agronegócio, em um contexto de orçamentos cada vez mais enxutos. Para Sandro Cabral, especialista do Insper em concessões e PPPS, as parcerias caipiras podem ser a saída. “Às vezes, algumas estradas não têm interesse comercial para serem privatizadas para uma grande operadora, mas é do interesse dos produtores que elas tenham o mínimo de condição de uso. No oeste da Bahia, por exemplo, está sendo feita a Ferrovia de Integração Oeste-leste (Fiol), mas é preciso ter boas estradas para a soja chegar lá.” De acordo com o pesquisador, as iniciativas de projetos de infraestrutura por parte dos produtores ainda é difícil de ser dimensionada, mas tende a aumentar por todo o País, na medida em que os recursos públicos disponíveis não acompanham a necessidade de escoar a produção agrícola. Ainda assim, alguns economistas também ponderam que iniciativas do gênero resolvem só problemas específicos e, por ora, não têm escala. Os produtores de Mato Grosso, por exemplo, inspiraram uma associação rural em Toledo, no oeste do Paraná, a fazer o mesmo. Lá, o município custeia 70% das obras nas estradas e eles doam os 30% restantes, conta o presidente do sindicato rural da cidade, Nelson Paludo. “Hoje, são os produtores de outras cidades do sul que nos procuram para ver o que fizemos.” O secretário de Agricultura do município, Lídio Michels, lembra que 380 km foram pavimentados nos últimos 15 anos e que a queda da arrecadação por conta da covid-19 fez a parceria ganhar importância. “O município até poderia fazer sozinho, mas conseguiria asfaltar muito menos.”

*”40% das empresas relatam atrasos em obras públicas”* - Quase 40% das empresas do setor de construção tinham grandes obras de infraestrutura, como pontes, viadutos e túneis, paradas no País em setembro. E a maioria há mais de um ano. O principal motivo apontado pelas empresas para a paralisação é a falta de recursos públicos para bancar o andamento dos projetos. A constatação foi feita de um recorte especial da Sondagem da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) com 700 companhias. Não há dado anterior para comparação. Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do IBRE/FGV e responsável pelo estudo, o mais grave desse quadro é que o motivo principal para a interrupção das obras foi a questão financeira. Isto é, o não repasse dos recursos, apontado por 52,3% das empresas. Além disso, ela destaca que, quando há interrupção, os recursos já aplicados são desperdiçados. A economista enfatiza a importância da retomada das obras neste momento, quando se buscam alavancas para estimular o crescimento do País. “Essas obras têm capacidade de mobilizar a atividade nos municípios onde estão e induzir o aumento do emprego.” A construção civil como um todo é hoje um dos poucos setores que estão se saindo relativamente bem na crise. “Mas o mercado imobiliário, por si só, não tem condições de sustentar o crescimento, se não houver a infraestrutura caminhando: a economia começa a crescer em ritmo maior e para nas estradas, isso é algo que já conhecemos.”
Investimento público. Dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção do IBGE mostram a redução dos investimentos públicos na infraestrutura. Entre 2014 e 2018, o valor aplicado caiu 44%, resultado do fim das obras ligadas à Copa e Olimpíada, impactos da Lava Jato e a deterioração da situação fiscal dos governos. Apesar da queda expressiva em valor, a fatia do governo nas obras de infraestrutura diminuiu de 52% para 50%, revelando que o poder público continua sendo importante como demandante. As contas nacionais e a sondagem da FGV apontaram uma tímida recuperação da construção em 2019, impulsionada por investimentos privados. Estimativas da consultoria Interb indicam que a fatia dos investimentos em infraestrutura no PIB continuou em queda e atingiu 1,67% em 2019. Isso significa, segundo Ana Maria, que o setor privado não tem conseguido substituir o público. Parcerias Público-privadas e concessões de obras de infraestrutura, como produtores tomando a dianteira para recapeamento de estradas e reforma de portos, têm sido frequentes para resolver a falta de infraestrutura. Na opinião da especialista, essas parcerias são uma possibilidade, diante das restrições orçamentárias. Mas ela frisa que, embora importante, sozinho o investimento privado não resolve a questão. “Precisamos estimular a atividade e não podemos prescindir do investimento público em infraestrutura como indutor do crescimento.”

 

CAPA – Manchete principal: *”Mulheres perdem mais emprego na pandemia”*

*”Brasil deve deixar em 2020 de ser uma das dez maiores economias do mundo”* - Com a desvalorização do real e a redução do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o tamanho da economia do país em dólares vai sofrer forte queda neste ano e sair do seleto grupo das dez maiores do planeta, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) compilados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Pelas projeções do Fundo, o PIB brasileiro deve recuar 28,3% neste ano em relação a 2019, quando convertido para a moeda americana: de US$ 1,8 trilhão para US$ 1,4 trilhão. O país deve perder, assim, três posições no ranking das maiores economias do mundo, de nona para a 12ª posição, ultrapassado por Canadá, Coreia do Sul e Rússia. Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, lembra que a pandemia vai afetar a economia do Brasil e de diversos países em moedas locais. No caso brasileiro, o FMI projeta retração do PIB em 5,8% em 2020, frente ao ano passado. “As medidas de distanciamento social provocaram ‘desligamento’ nas economias. Muitos países adotaram medidas de estímulo, como o auxílio emergencial no Brasil, evitando quedas maiores”, disse Balassiano. “Agora, os países estão em processo de reabertura, mas a recuperação plena depende do fim da pandemia.” Mas muito da mudança de posição do Brasil no ranking decorre da depreciação cambial, e não apenas da queda da atividade econômica, explica o pesquisador. Durante a pandemia, o real foi uma das moedas que mais se desvalorizaram no mundo. O dólar médio de 2020 está em R$ 5,28, 30% acima da média do ano passado.
Balassiano lembra, porém, que essa desvalorização da moeda não foi obra do acaso. Ela diz muito sobre a percepção de risco em relação ao país. “É importante frisar que a desvalorização do real ao longo do ano e o aumento do risco são reflexos dos problemas brasileiros, principalmente do lado fiscal. Bolsa, câmbio, juros futuros. Todas essas variáveis mostram as incertezas e o risco embutido no Brasil”, acrescentou o pesquisador do Ibre/FGV. Em tempos de real valorizado, o país chegou a ocupar a sétima posição no ranking mundial, atrás de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Foi assim em 2011, quando a moeda americana valia menos de R$ 2. Claudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV e ex-chefe de Contas Nacionais do Instituto Brsileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pondera que a oscilação do câmbio produz efeitos artificiais sobre o PIB. Ele lembra que o consumo das famílias e dos governos são feitos em moedas locais. Por isso, prefere suavizar os efeitos do câmbio para construir o ranking. Dessa forma, o estudo também construiu um ranking de países pelo critério de paridade do poder de compra (PPC). Esse método de cálculo busca medir quanto um país pode comprar em bens e serviços com sua moeda, facilitando comparações internacionais. Levando em conta a paridade do poder de compra, o Brasil ocupou no começo desta década a sétima posição no ranking de maiores economias do mundo, status que sustentou posição até 2016. No ano seguinte, em 2017, o país escorregou para a oitava posição e, em 2019, ocupava o décimo lugar entre as grandes economias do planeta.
Pelas projeções do FMI em PPC, o PIB brasileiro também ficará menor, mas vai escalar o ranking para a oitava posição neste ano. O critério de paridade de poder de compra é menos frequentemente usado. Por ele, a China já é a maior economia do mundo, com um PIB de US$ 23,4 trilhões em 2019, superando os Estados Unidos, com um PIB de US$ 21,4 trilhões.
“Mesmo com essa ‘melhora’, o PIB brasileiro também vai encolher em 2020”, argumenta Considera, autor do levantamento do ranking dos países ao lado de Marcel Balassiano.

*”Eletricidade volta ao Amapá, mas em esquema de rodízio”* - No sábado, a Justiça Federal deu prazo de três dias para que haja a “completa solução” da falta de luz, sob pena de multa de R$ 15 milhões

*”Disparada do IGP-M eleva custo da dívida pública”*

*”Pressões no curto prazo não indicam descontrole da inflação”* - O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, que subiu 0,86%, confirmou pressões mais disseminadas no curto prazo além do grupo de alimentos. Também há sinais de alerta com a alta de preços no atacado, que devem chegar aos consumidores nos próximos meses. Ainda que parte do mercado veja a inflação perto da meta de 3,75% em 2021, a ociosidade da economia deve manter controlada a trajetória dos preços desde que o risco fiscal seja contido. Após deflação em abril e maio e leituras fracas até agosto, o IPCA voltou a acelerar em setembro e outubro, refletindo choques simultâneos de demanda e oferta. Isso porque consumidores voltaram às compras com a reabertura de parte dos serviços e a ajuda do auxílio emergencial. O grupo alimentação no domicílio subiu 2,6% em outubro, um número alto, mas abaixo dos 2,9% do IPCA de setembro. Em 12 meses, a inflação de alimentos em casa foi de 15,4% para 18,4%. No setor produtivo, executivos de diferentes setores relatam com frequência a escassez de produtos devido aos gargalos introduzidos pela pandemia, observa a Guide Investimentos, para quem as pressões inflacionárias serão sentidas até o primeiro trimestre do ano que vem. Em 12 meses, o IPCA acelerou de 3,14% para 3,92% em outubro, perto da meta perseguida pelo Banco Central (BC) neste ano, de 4%.
Nesse contexto, a Guide destaca que os bens industriais aceleraram para 1,02% em outubro, de 0,59% em setembro, também em razão da desvalorização do real. No acumulado em 12 meses, a inflação de produtos industriais no IPCA subiu de 0,80% até agosto para 1,9% até outubro. Já os preços dos serviços também subiram, de 0,17% para 0,55%. O índice de difusão, que mostra o percentual de itens em alta, passou de 63,4% em setembro para 68,2% em outubro, acima da média histórica de 61,3%, segundo a MCM Consultores Associados. Em novembro, porém, já é esperada alguma descompressão do IPCA, com alta estimada em torno de 0,4% por algumas casas. Após o IPCA de outubro, o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, ajustou a projeção de inflação em 2020 de 3,1% para 3,2%, por causa da elevação de expectativas sobre os preços de despesas pessoais, artigos de residência e vestuário. Para 2021, a consultoria manteve projeção de alta de 3,6%. Apesar da visão recente mais altista para os preços, a LCA reconhece que o fim do auxílio emergencial, que diminui a massa de rendimentos, e a recuperação gradual do mercado de trabalho, sobretudo no setor de serviços, contribuirão para mitigar reajustes. Por isso, a inflação de 2021 ainda deverá ficar abaixo do centro da meta para o período, de 3,75%.
A inflação maior entre 2020 e 2021 é explicada por uma aceleração dos serviços, com relaxamento das restrições de circulação, e dos preços monitorados, diz a LCA. O grupo de alimentação e bebidas, uma das fontes recentes de pressão, deve só desacelerar o ritmo de alta, ainda sem observar queda. “Não esperamos devolução dos preços agropecuários no atacado em seu conjunto, mas sim moderação em 2021, já que poderemos ter pressões via o fenômeno climático La Niña e pela demanda firme global ligada à superação (ainda que gradual) da pandemia.” Também na sexta-feira, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que acelerou de 3,3% em setembro para 3,68% em outubro, com peso das matérias-primas brutas, o que sugere contágio para as cadeias de produção. Em 12 meses, o IGP-DI acumula alta de 22,12%, a maior nessa base de comparação desde os 24,14% de julho de 2003. As matérias-primas brutas subiram 64,08% nos 12 meses até outubro. “O atacado ainda está pressionado, então ainda vamos ter leituras fortes do varejo adiante até o fim do ano, com alimentos e, principalmente, bens industriais” diz Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco. A instituição prevê o IPCA em 3,3% em 2020, mas não descarta um avanço levemente mais forte a depender das duas próximas leituras. De todo modo, a aceleração da inflação no segundo semestre e com provável arrasto para 2021 não deve exigir ação do BC na taxa de juros. “Vejo ociosidade muito grande na economia, seja mensurada pelo hiato do produto ou pelo desemprego”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
A deterioração do quadro fiscal é, hoje, o que poderia tornar mais duradouras as pressões inflacionárias de curto prazo, diz Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs. “O não atendimento das preocupações com a sustentabilidade fiscal de médio prazo pode gerar pressões sobre a conta de capital, desancorar a moeda e as expectativas de inflação e, por meio desses canais, contribuir para deteriorar o que até agora tem sido um cenário de inflação bastante benigno.”

*”Para empreendedor social, trabalho na periferia ganhou força com pandemia”*
*”Número de mortes por covid-19 se aproxima de 162,4 mil no país”*
 - Problemas técnicos em sistema do Ministério da Saúde dificulta atualizações

*”Mulheres concentram perda de empregos formais na pandemia”* - Apesar de serem minoria no mercado de trabalho formal, as mulheres concentram quase dois terços (65,6%) da destruição líquida de vagas celetistas na pandemia, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Entre março e setembro, o saldo entre contratados e demitidos com carteira assinada foi negativo em 897,2 mil vagas, dos quais 588,5 mil eram de mulheres. Como nos dois primeiros meses do ano, quando ainda havia saldo positivo de vagas para ambos os sexos, a criação de postos para mulheres também foi menor, elas representam hoje 81% do resultado líquido negativo do Caged em 2020. O que mais preocupa, segundo especialistas, não é só que as mulheres estão saindo mais do mercado de trabalho, mas também demonstram maior dificuldade de retornar. Em junho, quando o saldo geral do Caged ainda era negativo, o estoque de empregos formais ocupados por elas estava 4,7% abaixo do nível de fevereiro (pré-covid), enquanto para homens era 3,7% inferior. A partir de julho, o mercado como um todo começou a reagir e, em três meses, foram criadas 697,3 mil vagas, mas 77% foram para homens. A recuperação deles, na verdade, começou um mês antes das mulheres, já em junho. Com isso, o estoque de emprego feminino em setembro avançou apenas 1,1% em relação a junho, enquanto a recuperação masculina foi de 2,4%. Em 12 meses, a queda do estoque de empregos é de 3,7% para as mulheres e 1,3% para os homens.
“A destruição de vagas formais foi, proporcionalmente, maior para elas. Além disso, elas parecem ficar para trás na recuperação parcial iniciada”, diz Marcos Hecksher, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Dos cerca de 38 milhões de trabalhadores celetistas no Brasil, o estoque feminino costuma girar em 15 milhões. Hecksher observa que, de fevereiro a setembro, o percentual de mulheres no total de empregos formais diminuiu continuamente, de 40,85% para 40,27%. Desde 2018, a participação era estável. As mulheres estão mais presentes em ocupações duramente afetadas pela crise e que fecharam muitas vagas, como em serviços. Mas Simone Wajnman, professora titular aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora de longa data do mercado de trabalho feminino, chama a atenção para como as mulheres foram mais demitidas inclusive em ocupações “tipicamente masculinas” (em que o percentual de homens é superior à sua representação no mercado total). É o caso, por exemplo, da indústria e de transportes e armazenagem. “As mulheres são agudamente afetadas porque ocupam predominantemente segmentos mais vulneráveis ao distanciamento social, como alojamento e alimentação, mas também porque atividades ‘tipicamente masculinas’ estão acabando com as poucas mulheres que estavam ali”, diz Simone. Além disso, ela afirma que a recontratação está privilegiando os homens. “Seja pela oferta, porque elas têm dificuldade de remanejar o esquema doméstico para voltar com força ao mercado, seja pelo lado da demanda, uma vez que negócios em que elas mais conseguem vagas vão precisar passar por reestruturações importantes.”
Especialistas ponderam que, por englobar apenas postos com carteira, o Caged não contabiliza ocupações com alto grau de informalidade e que também costumam ter mais mulheres, como serviços domésticos. Mas os dados do Caged são corroborados por pesquisas abrangentes do IBGE. Hecksher, em parceria com Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa e Joana Simões Costa, já tinha usado a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua para acompanhar indivíduos antes da crise e no início dela, notando a fragilidade do mercado de trabalho feminino. Ao atualizar o estudo, os pesquisadores perceberam que, das mulheres ocupadas nos três primeiros meses deste ano, 15,5% não estavam empregadas no segundo trimestre, sendo que esse percentual girava em torno de 11,2% na média de 2017 a 2019. Entre os homens, a “saída” da condição de ocupado também aumentou, porém menos, para 11,7% no segundo trimestre de 2020, ante uma média de 8,6%. “As mulheres foram as mais prejudicadas em termos de aumento das saídas, sobretudo as com crianças em casa. Já nas entradas, os homens perderam mais que as mulheres, mas as mulheres com crianças em casa também perderam mais do que as sem crianças”, diz Hecksher. O percentual de mulheres que convivem com crianças de até dez anos no lar e que não estavam empregadas no primeiro trimestre, mas conseguiram uma ocupação no trimestre seguinte, caiu para 4,5% neste ano, ante média de 13,5% entre 2017 e 2019. Bruno Ottoni, pesquisador da iDados, destaca a diferença de cenários para homens e mulheres na população economicamente ativa (PEA). Pelos dados da Pnad Contínua, o contingente de mulheres na PEA passou de 47,2 milhões no primeiro trimestre deste ano para 42,6 milhões no segundo, uma queda de 9,7%, enquanto, para eles, o recuo foi de 7,5%. Em relação ao mesmo período de 2019, a perda se aproxima de 11% para as mulheres, contra 8,1% entre os homens.
Para Ottoni, elementos particulares da crise da covid, como o fechamento das escolas, sugeriam que o choque desigual para os sexos poderia ser ainda maior. “Isso pode aparecer com mais clareza nos dados do terceiro trimestre, quando houve uma retomada das atividades, mas as mulheres ainda ficaram meio ‘travadas’, porque as escolas não retornaram.” A Pnad Covid, pesquisa semanal do IBGE, já indica isso. A taxa de desocupação entre as mulheres foi de 17% em setembro, contra 11,8% dos homens. “Na Pnad Covid, vemos as mulheres em maior percentual entre os trabalhadores temporariamente afastados e também os desalentados. Os dados mostram que a taxa de desemprego só não está mais alta para elas porque a queda na ocupação não se transferiu diretamente para desemprego”, diz Simone. O auxílio emergencial, pago em dobro para mães chefes de família, teve “impacto importantíssimo” nesse sentido, afirma a pesquisadora. Mas a retirada gradual e, depois, total também deve gerar um “choque negativo em dobro”, alerta Hecksher, do Ipea. “Isso deve impulsionar ainda mais a volta a procurar emprego, e é bem possível que boa parte delas não encontre.” A crise no trabalho feminino pode ganhar contornos também de um problema de médio e longo prazo. “Algumas famílias aprenderam a se virar sem o serviço doméstico e podem manter isso, para economizar ou por medo de contágio”, diz Simone. “Em alojamento e alimentação, muitos negócios não vão reabrir e, para os que voltarem, haverá muita competitividade.” A professora da UFMG se diz preocupada com o “efeito cicatriz”. “Quanto mais tempo afastada do mercado de trabalho, piores são as chances de retornar.”

*”Brasil deve ter ‘ressaca’ da massa de renda em 2021”* - Em 2021, está previsto o fim do auxílio emergencial, que teve impacto expressivo para sustentar o rendimento em 2020

*”Oposição busca manter propostas antigas em novo Minha Casa”* - Das 547 emendas apresentadas à medida provisória (MP) 996, que cria o programa Casa Verde e Amarela, 68% foram apresentadas pelo PT e pelo Psol com o objetivo de tentar manter a espinha dorsal do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), que sairá de cena. O prazo para votação da MP termina em 2 de fevereiro do próximo ano. Com as disputas políticas no Congresso, a matéria, que tramita em regime de urgência, está praticamente parada desde que o governo de Jair Bolsonaro encaminhou o texto, em 26 de agosto. Por enquanto, não foi designado nem sequer o relator. Mas há no governo quem acredite ser possível a aprovação ainda neste ano. Levantamento feito pelo Valor mostra que os ajustes pedidos por deputados e senadores vão desde a manutenção do nome dado pelo governo petista e uso de imposto sobre grandes fortunas para financiamento do programa habitacional até a possibilidade de renegociação da dívida com desconto de juros e multas e inclusão nos custos do empreendimento da instalação de abrigos de animais e hospitais veterinários públicos. Mas isso não é tudo. Uma análise prévia feita pelo governo mostra que o grosso das emendas se refere ao estabelecimento de metas de entrega de unidades e expansão das faixas de renda e subvenções que serão concedidas.
Também há pedidos com especificação de reserva de imóveis para a baixa renda e definição de público prioritário, como mulheres; mulheres que foram vítimas de violência; pessoas com deficiências; famílias que vivem em áreas de risco, insalubres ou que tenham sido desabrigadas; indígenas e quilombolas. Esses pontos ressuscitam critérios existentes na lei que criou o Minha Casa Minha Vida. O governo vai tentar derrubar essas emendas com o argumento de que esse tipo de detalhamento deve estar na regulamentação do novo programa idealizado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta liderada por Rogério Marinho. “Obviamente, a oposição está querendo trazer para dentro da MP tudo aquilo que estava previsto no MCMV e ficou de fora”, disse um técnico do governo ao Valor, acrescentando que muitos desses pontos serão atendidos na regulamentação. A ideia do governo, conforme o técnico, era colocar as linhas gerais do programa habitacional na lei e fazer a regulamentação com medidas infralegais, para impedir que mudanças futuras no programa necessitem de alteração de lei. Mesmo sem a aprovação da MP, nos próximos dias, o governo deve publicar um decreto com o detalhamento de alguns critérios do programa. Dentre as emendas que devem ter o apoio do governo está a que permite a realização de transferência de recursos para municípios com até 50 mil habitantes por meio de oferta pública. Esse tipo de repasse de recursos para pequenos municípios era permitido no Minha Casa Minha Vida, mas chegou a ser suspenso várias vezes devido a denúncias de irregularidades com o uso do dinheiro público.
“Como é notório, o modelo do FAR [Fundo de Arrendamento Residencial] não consegue viabilizar as obras nestes municípios, onde se concentra parcela significativa do déficit habitacional. O investimento nos pequenos municípios é fundamental para geração de emprego e renda nas regiões mais carentes, especialmente Nordeste e Norte”, explica o deputado Christino Áureo (PP-RJ) na justificativa. Além disso, várias emendas pedem a suspensão por 60 dias do pagamento das parcelas dos mutuários classificados como faixa 1 (de menor renda) devido à pandemia de covid-19. O benefício foi concedido para as outras faixas de renda do programa habitacional. O senador petista Jaques Wagner (BA) sugere ainda que sejam previstos, no mínimo, R$ 5 bilhões na Lei Orçamentária Anual de 2021 e 2022 para novas operações com famílias com renda de até R$ 1,8 mil (faixa 1). Com a restrição fiscal, o governo tem dito que os recursos para o próximo ano serão suficientes apenas para finalização de obra paralisadas, ou seja, não há previsão de novas contratações para essa faixa de renda. O entendimento dos técnicos do governo é que esse público não ficará desassistido, pois há por volta de 300 mil unidades da chamada faixa 1 para serem finalizadas e entregues. Na justificativa das emendas que pedem a manutenção do nome Minha Casa Minha Vida, os parlamentares disseram que Bolsonaro “escolheu, para sua campanha - e repete agora por meio dos nomes, símbolos e imagens nos programas federais - entre eles o Programa Casa Verde e Amarela, as cores verde e amarelo”.
“Trata-se de uma pessoa que tem usado as cores verde e amarelo, por meio da renomeação de programas federais, para consolidar uma tentativa de associação do símbolo, imagem e nome para angariar uma promoção pessoal, em afronta à Constituição Federal”, dizem as emendas. O Casa Verde e Amarela foi lançado no fim de agosto para atender famílias com renda de até R$ 7 mil e várias emendas pedem a ampliação para até R$ 9 mil, como estava vigorando antes. Com o substituto do Minha Casa Minha Vida, o governo quer atender 1,6 milhão de famílias de baixa renda com o financiamento habitacional até 2024, uma expansão de 350 mil unidades. O foco será principalmente nas regiões Norte e Nordeste - e várias emendas pedem que esse ponto seja explicitado já na legislação. O novo programa habitacional também prevê um eixo de regularização fundiária urbana, com o qual o governo quer chegar às famílias mais pobres. Famílias, por exemplo, com renda inferior a R$ 2 mil também poderão receber melhorias no imóvel, como a construção de banheiro ou telhado.

*”Crescimento de Tatto trava avanço de Boulos em SP”* - O crescimento do candidato do PT, Jilmar Tatto, na disputa pela Prefeitura de São Paulo tornou-se um obstáculo para a campanha de Guilherme Boulos e tem dificultado o avanço do candidato do Psol sobretudo na periferia, tradicional reduto petista. Boulos está empatado em segundo lugar na disputa com Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB) e aposta na migração de eleitores petistas para sua candidatura na reta final da campanha, com o chamado voto útil. A divisão da esquerda na disputa, com as candidaturas de Tatto e Boulos, porém, corre o risco de deixar o campo progressista fora do segundo turno da eleição paulistana pela primeira vez em quase três décadas. Boulos tinha 9% no fim de setembro e foi para 12% no início de outubro, segundo pesquisas do Datafolha. Depois do início da propaganda eleitoral, chegou a 14% na pesquisa realizada entre 20 e 21 de setembro e manteve-se com esse percentual na pesquisa mais recente, do fim da semana passada. Ao mesmo tempo, Tatto, até então pouco conhecido, passou a ser exibido na TV e no rádio como o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT e cresceu de 1% para 6% das intenções de voto desde o início de outubro. Na avaliação do especialista em marketing político Renato Dorgan, sócio proprietário do Instituto Travessia, o crescimento de Tatto tem impedido a candidatura do Psol de deslanchar. “O PT amarrou uma bola de ferro em Boulos”, afirma Dorgan. “Tatto só cresceu em intenção de voto nas classes mais baixas por conta do Lula. É Tatto quem estanca o crescimento de Boulos. O candidato do Psol está encapsulado na classe média”, diz o especialista. “Boulos conta hoje com o apoio da classe média progressista, de uma esquerda mais intelectualizada, com o perfil do voto que era do PT nos anos 80, 90”, avalia. “Não consegue deslanchar nas áreas mais pobres por conta do PT e do Lula”, reforça.
Responsável pela campanha de Celso Russomanno, Elsinho Mouco faz uma leitura semelhante. “Lula vai tirar Boulos do segundo turno”, diz, em referência ao candidato petista apoiado pelo ex-presidente. Na pesquisa mais recente do Datafolha, feita entre 03 e 04 de novembro, Russomanno tem 16%, Boulos, 14% e França, 13%. Os três estão empatados tecnicamente na pesquisa, que tem margem de erro de três pontos percentuais. O líder é o prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), com 28%. A estratificação dos dados do Datafolha e do Ibope por escolaridade e renda mostra a dificuldade de Boulos de pontuar entre os mais pobres, moradores de periferias, que têm tradicionalmente grande peso no eleitorado de esquerda na capital. Dados do Ibope, de 30 de outubro, por exemplo, ilustram a vantagem de Tatto. Se, no quadro geral, o candidato do Psol tem 13% de intenções de voto nessa pesquisa e o petista, 6%, quando se olha só para eleitores com renda de até um salário mínimo, Boulos tem 5% diante de 10% de Tatto. Por outro lado, Boulos atinge 22% entre quem ganha mais de cinco salários mínimos e 23% entre quem cursou Ensino Superior, enquanto Tatto pontua 3% em cada um desses grupos. A campanha de Boulos não pretende entrar em conflito com Tatto e conta com o voto útil de petistas na reta final da disputa para chegar ao segundo turno. Desde o lançamento da candidatura, Boulos busca reforçar os laços com a periferia, onde mora e onde fez seu primeiro evento de campanha. Assim como Tatto, o candidato do Psol fez uma agenda intensa de campanha nos bairros periféricos. “A campanha está focada na periferia”, afirma o coordenador de campanha do Psol na capital, Josué Rocha. “Fizemos caravanas em diversos bairros das quatro regiões da cidade para atingir este eleitorado.” Nesta semana, às vésperas do primeiro turno, a agenda de Boulos vai se dividir entre as ruas e debates.
“Estamos em segundo lugar na pesquisa espontânea e temos uma taxa de conhecimento relativamente baixa”, diz Rocha. “À medida que os eleitores têm acesso às nossas propostas, há grande probabilidade de que votem na nossa candidatura.” A esquerda ficou em primeiro ou segundo lugar em todas as eleições pela Prefeitura de São Paulo desde 1988. Naquela eleição, ainda não havia segundo turno e Luiza Erundina, atual vice na chapa de Boulos e então filiada ao PT, venceu Paulo Maluf (PP). Na disputa seguinte, em 1992, Eduardo Suplicy (PT) foi para o segundo turno contra Maluf e perdeu. Quatro anos depois, Erundina disputou no segundo turno contra Celso Pitta, mas foi derrotada. Em 2000, Marta Suplicy, então no PT, passou para a segunda rodada eleitoral contra Maluf e venceu. Ao tentar a reeleição em 2004, Marta competiu contra José Serra (PSDB) no segundo turno e perdeu. Na eleição seguinte, Marta foi novamente para o segundo turno contra o então prefeito Gilberto Kassab (PSD), mas novamente foi derrotada. Em 2012, Fernando Haddad (PT) venceu Serra na segunda rodada eleitoral. Em 2016, João Doria (PSDB) levou a disputa já no primeiro turno, mas Haddad ficou em segundo lugar na capital.
+++ A chamada da reportagem não necessariamente tem base. Boulos é um candidato não tão conhecido na periferia. O fato de Tatto ter alcançado a preferência deste eleitorado não significa que ele tira votos de Boulos. Talvez Boulos não tivesse essa parcela do eleitorado, talvez pudesse ir para outro candidato.

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