segunda-feira, 16 de março de 2020

Mídia 16/03

DOS JORNAIS DE HOJE: A imprensa repreendeu Jair Bolsonaro por ter participado de um protestos e por ter entrado em contato com manifestantes em Brasília. O presidente vai fazer novos testes de contaminação pelo coronavírus. Onze pessoas da delegação brasileira que esteve nos EUA estão contaminadas. Os jornais destacaram que embora as manifestações tenham ocorrido, elas tiveram menos participação do que as anteriores. Todos os veículos publicaram críticas dos chefes de outros Poderes e também de parlamentares e médicos infectologistas à atitude de Jair Bolsonaro. Alguns jornais publicaram trechos da entrevista que o presidente concedeu à CNN Brasil em que desafiou Rodrigo Maia e David Alcolumbre e ainda disse que há um alarde desnecessário sobre a epidemia. Ele se alinhou À narrativa defendida por Edir Macedo.
Em entrevista à Folha, o ministro da Saúde afirmou que Bolsonaro não seguiu às orientações do próprio governo. Já o ministro da Economia que também concedeu entrevista ao jornal, mostrou que o Poder Executivo trabalha de forma descoordenada e que ele não entende exatamente o risco do coronavírus.
O jornal Estadão publica reportagem sobre a passagem de Eduardo Bolsonaro pelos EUA. O deputado teria mantido encontros para estreitas laços com a extrema-direita estadunidense. Já o jornal O Globo publicou uma espécie de balanço mal feito da Operação Lava Jato. A reportagem peca pela superficialidade extrema.
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Bolsonaro ignora vírus e vai a ato contra Congresso e STF”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Zelar as reservas”*: Num país onde as contas públicas se encontram em estado precário e a moeda carece de credibilidade, como é o caso do Brasil, há necessidade de manter um colchão de proteção na forma de reservas em dólares e outras divisas. O Banco Central aproveitou o salto dos preços das matérias-primas, entre 2004 e 2011, e a grande disposição do mundo em aportar capital nos mercados emergentes para acumular reservas cambiais em montante expressivo. Com US$ 358,5 bilhões em caixa na última quinta-feira (12) e um regime de câmbio flutuante, o país hoje não corre mais o risco de insolvência nas transações com o restante do mundo —que tantas crises gerou no passado. Mesmo assim, sendo o Brasil um país pequeno diante dos fluxos de capital internacional, é importante adotar uma postura responsável e conservadora, valorizando o seguro construído a duras penas. Cumpre anotar, afinal, que as reservas não constituem um tipo de poupança. Elas foram adquiridas por meio de endividamento público em moeda nacional, que gera obrigações na forma de juros. A questão mais complexa reside em quanto se deve manter no cofre e em que medida o BC pode dispor de seus dólares para enfrentar pressões contra a moeda brasileira —que podem dificultar a gestão da politica econômica e as expectativas de crescimento. Já há algum tempo o real sofre forte depreciação. Em parte trata-se de um rearranjo diante do novo cenário de juros baixos, que levam o país a atrair menos capital especulativo. Empresas também pagam dívidas em dólar e passam a se financiar mais na moeda nacional.
Nas últimas semanas, contudo, a pressão contra o real se intensificou com a crise internacional ocasionado pelo coronavírus. Com a cotação da divisa americana acima de R$ 4,70, o BC age para suavizar o movimento e evitar descontrole. Em intervenções nos últimos dias, a autoridade monetária ofertou volume estimado em cerca de US$ 7 bilhões no mercado à vista. No ano passado, foram US$ 36,9 bilhões. O BC está certo em atuar na crise, embora alguns economistas sugiram que as vendas devam seguir um programa anunciado, em vez de vendas pontuais. Acima de tudo, é imperativo obedecer ao princípio do câmbio flutuante —tentar administrar as cotações só alimentaria mais especulação. A médio prazo, cabe avaliar o montante ideal de reservas. Estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI) sugerem que o país tem espaço para reduzir as reservas em volume significativo (algo entre 20% e 30%) e ainda manter um patamar tido como seguro. As circunstâncias importam, contudo. Embora possa ser considerado natural que o BC se desfaça de parte dos dólares no momento em que o real está desvalorizado, reduzindo a dívida pública, qualquer decisão nesse sentido deve, no mínimo, aguardar a consolidação do longo e ainda claudicante processo de recuperação orçamentária.
PAINEL - *”Bolsonaro deu mais um passo para isolamento, avaliam políticos e empresários”*: A decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de apoiar as manifestações, contrariando órgãos de saúde pública, foi vista como passo importante em um caminho para o isolamento. Os protestos atacaram o Congresso e o STF. Alguns falaram em intervenção militar e chamaram o coronavírus de mentira, causas apoiadas por radicais. Um dos seus principais aliados entre governadores, o médico Ronaldo Caiado (DEM-GO), foi hostilizado em ato ao falar dos riscos da pandemia. Bolsonaro tuitou ao menos 40 vezes. Quase todos com imagens dos atos, nada sobre o aumento de 79 casos confirmados de coronavírus no Brasil —já são 200. O presidente só falou sobre a doença em entrevista à CNN, no fim da noite, e chamou as reações de histeria. Disse que medidas restritivas, orientadas também pelo Ministério da Saúde, podem aumentar a crise. Ao ir para as ruas, Bolsonaro não teve apoio público de seus ministros. Nas redes, nem os mais radicais endossaram as publicações. Empresários de todos os lados, até bolsonaristas, criticaram a atitude."É hora de buscar convergência, e não de atear mais gasolina na fogueira", diz José Roriz, vice-presidente da Fiesp.
A casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-SP), virou refúgio de parlamentares e ministros que não podem sair de Brasília por causa do vírus. Lá, as reuniões ganharam o apelido de "coronatédio".
“Fiquei espantado, perplexo. É um péssimo exemplo, ele contrariou uma norma médica no meio de uma pandemia” - De José Luiz Datena (MDB), apresentador de TV, sobre a participação do presidente Jair Bolsonaro nos atos de Brasília neste domingo (15)
PAINEL - *”Diário virtual do coronavírus de Fabio Wajngarten é criticado por mostrar rotina privilegiada”*
PAINEL - *”Governo se reúne com agências de turismo e companhias aéreas para tentar zerar taxas de remarcação”*
PAINEL - *”Silêncio de Paulo Guedes sobre morte de Bebianno é lamentado por amigos do ex-ministro”*: Entre as manifestações de solidariedade que chegaram à família e aos amigos de Gustavo Bebianno, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro que morreu no sábado (14), destacou-se o silêncio de uma pessoa: Paulo Guedes. O ministro da Economia ficou próximo de Bebianno durante a campanha eleitoral de 2018 "A característica dos Bolsonaro é a ingratidão. Não esperávamos nada deles, até preferimos o silêncio. A minha estranheza se dá pelo silêncio de Paulo Guedes e de outros ministros que ficaram ao lado dele no passado", afirma o empresário Paulo Marinho, amigo de Bebianno. Por outro lado, a mensagem do vice-presidente Hamilton Mourão foi recebida com carinho por Marinho e os familiares de Bebianno. "Foi uma grata surpresa e uma mostra de bom caráter", diz o empresário.
PAINEL - *”Péssimo exemplo contrariar norma médica em um surto, diz Datena sobre Bolsonaro nos atos”*
PAINEL - *”Eleição suplementar para senador do Mato Grosso pode ser adiada devido ao coronavírus”*
*”Bolsonaro ignora crise do coronavírus, estimula e participa de ato pró-governo e contra Congresso e STF”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ignorou orientações dadas por ele mesmo na semana passada, ao estimular e participar neste domingo (15) dos protestos pró-governo sem demonstrar preocupação com a crise do coronavírus. Bolsonaro incentivou os atos desde cedo em suas redes sociais —foram 38 postagens sobre o tema até as 18h30. Sem máscara, participou das manifestações em Brasília, tocando simpatizantes e manuseando o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais. Neste domingo, ocorreram manifestações em diferentes pontos do país com gritos de guerra e faixas em defesa do governo federal e com uma série de ataques ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada no final da manhã e, de carro, percorreu diferentes pontos de Brasília até entrar no Palácio do Planalto, de onde, do alto da rampa e sob os gritos de 'mito', acenou aos manifestantes. Desceu a rampa em seguida e passou a esticar o braço para tocar nos manifestantes, separados por uma grade. Bolsonaro permaneceu por cerca de uma hora interagindo com apoiadores.
Havia no local várias pessoas idosas, consideradas grupo de risco da nova doença e com taxa de mortalidade maior. Na semana passada, quando pediu que seus seguidores não comparecessem às manifestações por causa do coronavírus, Bolsonaro citou o risco de contágio em ambientes com muitas pessoas. Adversário político de Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou o estímulo e a participação do presidente nos atos. Para o tucano, Bolsonaro foi "inadequado no ato e impróprio na atitude". Ao se aproximar de manifestantes no Planalto, Bolsonaro também contrariou orientação da equipe médica da presidência. Ele havia sido aconselhado a evitar locais com aglomeração. Bolsonaro realizou o teste do coronavírus após saber que o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, foi contaminado pelo Covid-19. O resultado deu negativo para o presidente, mas a expectativa é que ele faça dois novos exames, seguindo parte do protocolo da Operação Regresso (que trouxe 34 brasileiros que estavam em Wuhan, na China). Esse é o período de incubação do vírus. Ao longo dos últimos dias, o Ministério da Saúde deu recomendações diferentes sobre aglomerações durante a crise sanitária. Em um primeiro momento, a pasta disse que era preciso evitar eventos em locais fechados, mas que não havia orientação semelhante para atos em espaço aberto.
Na sexta-feira (13), o ministério sugeriu que estados avaliassem junto com organizadores a possibilidade de adiar ou cancelar eventos de massa. No sábado (14), acrescentaram que essa recomendação só vale para áreas com transmissão local do vírus —o que não é o caso de Brasília. Há no Distrito Federal oito casos confirmados do Covid-19, além de 81 suspeitos. Para o Brasil, os números são 200 e 1.917, respectivamente. Neste domingo, quando Bolsonaro começou a cumprimentar seguidores do alto da rampa do Planalto, havia poucos apoiadores no local. Pessoas que estavam já deixando o ato na Esplanada dos Ministério, no entanto, se dirigiram ao palácio com a notícia da presença do mandatário. Além de palavras de ordem defendendo o governo Bolsonaro, os presentes atacaram o Congresso e o STF. Foi possível ouvir xingamentos contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pedidos de intervenção militar e o grito "foda-se" —numa referência a um áudio do ministro Augusto Heleno (Segurança Institucional), que acusou o Congresso de chantagear o Planalto. Mesmo sem transmissão local do coronavírus, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), tomou medidas de contenção, como a suspensão temporária de aulas e o fechamento de teatros e cinemas. Ele também proibiu eventos de qualquer natureza com público superior a 100 pessoas, desde que necessitem de licença do poder público.
Apesar da orientação do governo distrital, policiais militares que faziam a segurança do público em frente ao Planalto e um carro de bombeiros ligaram suas sirenes e manifestaram apoio a Bolsonaro enquanto ele cumprimentava seus simpatizantes. Entre as pessoas que estavam acompanhando Bolsonaro no Planalto, estava Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Questionada, a assessoria da agência disse que ele foi convidado por Bolsonaro "para uma conversa informal" no palácio. ​ Em vídeos gravado diante dos manifestantes, o presidente disse que a manifestação não era "contra Poder nenhum" e cobrou união entre os presidentes dos Poderes. "É o que digo: tem quatro pessoas no Brasil, chefe de Poderes, que, havendo entendimento, entre nós e o povo, não é entre nós, é entre nós e o povo, o Brasil deslancha. Quero ter o prazer de um dia estar com todos os chefes de Poderes juntos e o povo aplaudindo a gente", afirmou. Ele também criticou a imprensa durante a transmissão. "Não tem preço o que este povo está fazendo aqui no dia de hoje, apesar de eu ter sugerido —não posso mandar, a manifestação não é minha— o adiamento dado a este vírus, que, se eu falar que está superdimensionado, vai dar manchete neste lixo chamado Folha de S.Paulo, entre outros jornais que ficam esperando uma palavra errada, no entendimento deles, ser o suficiente para atacar o governo. Não estão atacando o governo, estão atacando o Brasil."
Na semana passada, o presidente chegou a pedir para que as manifestações fossem adiadas, mas apoiadores seguiram insistido em promover os protestos e iniciaram um movimento nas redes sociais: #DesculpeJairMasEuVou. Em live nas redes sociais e em pronunciamento nesta quinta (12), Bolsonaro pediu a seus apoiadores que não comparecessem às manifestações de rua. Segundo ele, "uma das ideias é adiar, suspender". "Daqui a um mês, dois meses, se faz. Foi dado um tremendo recado ao Parlamento", disse. Ele próprio, na manhã deste domingo, passou a incentivar as manifestações em suas redes sociais ao postar imagens de atos a favor do governo que ocorriam em diferentes pontos do país. Apesar de terem divulgado o adiamento das manifestações, os movimentos organizadores afirmavam não ter controle sobre as ruas e alegavam que fizeram sua parte. Desde o recuo, na noite de quinta (12), os grupos de direita estavam sendo atacados e chamados de covardes nas redes sociais.
Em São Paulo, o tom da manifestação na avenida Paulista foi de protesto contra o Congresso e o Judiciário. Cartazes pediam intervenção militar e AI-5. Do caminhão de som, o grito "intervenção" foi puxado. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente do STF, Dias Toffoli, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foram alvos. Houve gritos pedindo a prisão deles. Boa parte do público era de idosos, e uma minoria usava máscaras. O coronavírus foi chamado de "mentira" por líderes que discursaram no caminhão de som. Eles insinuavam que a doença foi usada como desculpa por Doria e pelas autoridades para cancelar a manifestação e questionaram por que o Carnaval não foi cancelado —no Carnaval a pandemia não estava declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Só havia um caminhão de som, do Movimento Direita Conservadora, o único a ir contra o cancelamento do ato. Os manifestantes ocuparam cerca de um quarteirão da Paulista. Em meio à crise do coronavírus, o ato foi menor do que os vistos no ano passado. Ao final, houve um tiro durante uma briga e uma pessoa ficou ferida.
Em Brasília, apoiadores do presidente se concentraram em frente ao Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios, e seguiram em carreata em direção à Praça dos Três Poderes. A maioria acompanhou um trio elétrico. “Estou vendo que tem mais gente de carro do que a pé. Quem puder deixar o carro em algum lugar e seguir com a gente a pé, a gente agradece”, pediu o locutor do evento, às 10h30. Muitos usavam máscaras, não raro customizadas em verde e amarelo. Os manifestantes ocuparam as seis faixas da Esplanada no sentido do Congresso. Carregavam faixas com dizeres contra congressistas e ministros do Supremo. “Contra os vírus do STF e do Congresso, álcool e fogo. Fodam-se!”, dizia uma das maiores faixas. “Celso de Mello, cale-se! Ninguém votou em você”, afirmava outra mensagem. Num caminhão de som menor, estacionado em frente ao Legislativo, o letreiro formava um “Fora, Maia”. Alguns cartazes faziam referência ao pedido do presidente Jair Bolsonaro, que, em pronunciamento, propôs aos apoiadores que não fossem às ruas. “Desculpe-nos, Jair, mas viemos”, resumia um cartaz. Os manifestantes reclamavam de supostas iniciativas para minar o poder do presidente. “Vamos dizer não ao parlamentarismo branco!”, disse uma mulher do alto do trio. Os organizadores também manifestaram ceticismo sobre os riscos da pandemia que tem mobilizado autoridades de saúde de vários países. “Esse coronavírus não vai pegar. Vamos nos alimentar bem!”, discursou uma mulher.
​No Rio, milhares de manifestantes se reuniram na praia de Copacabana. Alguns dos manifestantes, em sua maioria vestindo camisetas verde ou amarelas, usavam máscaras simples brancas, e outros pintaram as suas com as cores da bandeira. Haviam também aqueles com uma máscara da Aliança pelo Brasil, com o número 38 e o símbolo do novo partido. Muitos usavam uma espécie de bandeirola triangular junto ao rosto feita de TNT em que se lia "canalha vírus congresso nacional". O item estava sendo vendido em banquinhas improvisadas por R$ 5. Também por R$ 5 eram vendidas canecas com cordões para o pescoço com os dizerem "eu sou patriota, eu sou Bolsonaro". Dos carros de som emanavam falas contra o Congresso e em defesa do ministro Sergio Moro (Justiça) e do presidente Bolsonaro. Gritos eram puxados com frases como "deixa o homem trabalhar" e "Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil". Faixas e cartazes traziam palavrões como "foda-se", pedidos pelo voto impresso e "Maia na cadeia". O governador Wilson Witzel, que havia publicado decreto na sexta proibindo aglomerações no estado do Rio de Janeiro, foi um dos alvos dos manifestantes. Diante de um dos carros de som, pessoas pisaram sobre uma bandeira da campanha à eleição de Witzel enquanto, ao microfone, gritava-se palavras como traidor, vagabundo e careca safado.
O protesto estava previsto desde o fim de janeiro, mas mudou de pauta e foi insuflado após o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, ter chamado o Congresso de chantagista na disputa entre Executivo e Legislativo pelo controle do orçamento deste ano. Na última quarta-feira (11), a Comissão Mista de Orçamento aprovou dois projetos de lei enviados pelo governo que repartem com o Congresso cerca de R$ 15 bilhões dos R$ 30,8 bilhões. Os dois textos, agora, vão a plenário do Congresso, e a discussão continua. Durante o Carnaval, Bolsonaro compartilhou em um grupo de aliados um vídeo que convocava a população a ir às ruas para defendê-lo. Na semana seguinte, em discurso, chamou a população a participar do ato, o que mais uma vez irritou as cúpulas do Congresso e do Supremo. Além de apoiar o presidente, os organizadores da manifestação sempre carregaram bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário e a favor das Forças Armadas. Nas redes sociais, usuários compartilharam convocações com mensagens autoritárias, pedindo, por exemplo, intervenção militar.
Em viagem aos Estados Unidos, no início da semana, o presidente chegou a dizer que os presidentes da Câmara e do Senado poderiam colocar "um ponto final" nas manifestações se abrissem mão do controle de parte do Orçamento. Nesta quinta, em declaração para esfriar os ânimos, Bolsonaro afirmou que "ninguém pode atacar o Parlamento, o Executivo e o Judiciário". "Tem pessoas que não estão de acordo com a crise e acha que tem que acontecer, tudo bem. Mas as instituições, em si, têm que ser preservadas". Ao longos das duas últimas semanas, na tentativa de retomar apoio nas redes sociais, o presidente tentou criar novas polêmicas. Ele criticou a Rede Globo por reportagem do Fantástico sobre presidiárias transsexuais e colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro.
*”Para Maia e Alcolumbre, Bolsonaro faz pouco caso de pandemia e é inconsequente”* - Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), condenaram a participação do presidente da República, Jair Bolsonaro, na manifestação a favor de seu governo e contra os demais Poderes, neste domingo (15), em Brasília. Para Maia, Bolsonaro fez pouco caso da pandemia de coronavírus, desrespeitando orientações do Ministério da Saúde de seu próprio governo e cometeu um atentado à saúde pública. Alcolumbre chamou de inconsequente o ato de estimular a aglomeração de pessoas nas ruas. "O mundo está passando por uma crise sem precedentes. O Banco Central americano e o da Nova Zelândia acabam de baixar os juros; na Alemanha e na Espanha, os governos decretam o fechamento das fronteiras. Há um esforço global para conter o vírus e a crise. Por aqui, o presidente da República ignora e desautoriza o seu ministro da Saúde e os técnicos do ministério, fazendo pouco caso da pandemia e encorajando as pessoas a sair às ruas", afirmou Maia em nota divulgada na noite deste domingo. "Isso é um atentado à saúde pública que contraria as orientações do seu próprio governo", continuou o presidente da Câmara. Rodrigo Maia, que em entrevista à Folha já havia cobrado medidas de impacto imediato ao ministro Paulo Guedes (Economia), voltou a criticar a reação do governo para conter o derretimento da economia.
Em nota, Davi Alcolumbre cobrou maturidade. "É hora de amadurecermos como Nação. Com a pandemia do coronavírus fechando as fronteiras dos países e assustando o mundo, é inconsequente estimular a aglomeração de pessoas nas ruas", afirmou o presidente do Senado. "A gravidade da pandemia exige de todos os brasileiros, e inclusive do presidente da República, responsabilidade! Todos nós devemos seguir à risca as orientações do Ministério da Saúde", continuou. Para o senador, "convidar para ato contra os Poderes é confrontar a democracia". "É tempo de trabalharmos iniciativas políticas que, de fato, promovam o reaquecimento da economia, criem ambiente competitivo para o setor privado e, sobretudo, gerem bem-estar, emprego e renda para os brasileiros.​"
*”Doria chama participação de Bolsonaro em ato de inadequada e imprópria”*
*”Ida de Bolsonaro a ato em meio a pandemia de coronavírus é irresponsável, dizem parlamentares”* - Parlamentares de diferentes partidos consideraram uma irresponsabilidade a ida do presidente Jair Bolsonaro à manifestação contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal) em Brasília, neste domingo (15), em meio à pandemia de coronavírus. "Ele está com suspeita [de ter contraído a Covid-19] e está pegando a mão das pessoas. É fora de qualquer limite de respeito à população que é vulnerável. Ele está fazendo uma coisa de alto risco e estimulando outras pessoas a fazer o mesmo. O exemplo que ele deu hoje é muito ruim. É total irresponsabilidade", afirmou o líder do PSD, senador Otto Alencar (BA), que também é médico. O presidente da CPMI das fake news, senador Angelo Coronel (PSD-BA), considerou a situação "um absurdo". "Ele tem que manter a liturgia do cargo, não participar de atos desta natureza", afirmou o senador, que também condenou o simbolismo político da manifestação. "Ele quer o confronto, quer colocar o Executivo contra o Legislativo e o Judiciário e botar o povo como escudo dele. É uma irresponsabilidade que não tem tamanho", afirmou. A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), disse que deixaria "a fotografia e a história falarem por si".
Para o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), a participação de Bolsonaro no ato em Brasília "deixa claro que ele não tem nenhuma responsabilidade com a agenda econômica do país". "Se tivesse, estaria procurando unir o povo em torno dela e não dividi-lo em torno de pautas antidemocráticas e secundárias." "Ele se entrincheira no seu gueto de radicais, que é cada vez menor, já que ninguém com o mínimo de bom senso pode continuar acreditando nisso como um caminho razoável para o desenvolvimento e o futuro do país", disse Ramos. Pelo aspecto da saúde pública, ele disse que o comportamento de Bolsonaro foi "uma irresponsabilidade completa que desmoraliza as preocupações do ministro da Saúde​".
*”Bolsonaro desafia Maia e Alcolumbre e vê histeria no combate ao coronavírus”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o interesse do Congresso em controlar cerca de R$ 15 bilhões do Orçamento 2020 e mandou os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a irem às ruas. Em entrevista à CNN Brasil neste domingo (15), Bolsonaro também chamou de "extremismo" e "histeria" medidas adotadas diante da pandemia do coronavírus, que no Brasil já havia infectado 200 pessoas até o início da noite. A entrevista de Bolsonaro foi dada após as manifestações dos dois parlamentares. "​Eu gostaria que eles saíssem às ruas como eu. A resposta é esta. Nós, políticos, temos responsabilidade e devemos ser quase que escravos da vontade popular. Saiam às ruas, esses dois parlamentares. Respeito os dois, não tenho nenhum problema com eles. Estão fazendo as suas críticas, estou tranquilo no tocante a isso. Espero que eles não queiram partir para algo belicoso depois destas minhas palavras aqui", afirmou Bolsonaro. "Agora, prezado Davi Alcolumbre, prezado Rodrigo Maia, querem sair às ruas? Saim às ruas e vejam como vocês são recebidos", prosseguiu o presidente da República. Bolsonaro disse que os atos de domingo não foram uma iniciativa dele, mas um movimento espontâneo da população "cansada de desmandos, cansada de ver certas coisas que não fazem bem para a coisa pública, por exemplo, a partilha de R$ 15 bilhões, onde, o Orçamento, todos sabem, quem tem que executar é o presidente da República". Ele fez referência à metade dos R$ 30 bilhões sob controle do relator do Orçamento 2020, deputado Domingos Neto (PSD-CE). O governo fez um acordo com o Congresso e Bolsonaro encaminhou três projetos que regulamentam o Orçamento impositivo e dividem estes recursos entre Executivo e Legislativo, deixando cerca de R$ 15 bilhões para cada um.
Bolsonaro repetiu o que já havia dito duas vezes durante uma live que fez no início da tarde, no momento em que foi até manifestantes que se aglomeraram para vê-lo no Palácio do Planalto. Disse que não é preciso que se faça acordo entre ele, Maia e Alcolumbre, mas entre eles e o povo. "Os acordos não têm que ser entre nós, em gabinetes com ar refrigerado. Tem que ser entre nós e o povo. Eu quero a aproximação do Rodrigo Maia, quero a aproximação do Davi Alcolumbre. Respeito os dois parlamentares. O que está faltando para nós, como já disse em mais de uma oportunidade, se nós chegarmos a um bom entendimento e partirmos para uma pauta de interesse da população, todos nós seremos muito bem tratados, reconhecidos e até idolatrados nas ruas. É isso o que eu quero. Não quero eu aparecer, e eles não. Muito pelo contrário", afirmou. Bolsonaro disse ainda que está disposto a encontrar Maia e Alcolumbre nesta segunda-feira (16), no Palácio da Alvorada —residência oficial da Presidência da República— ou no Congresso. "Vamos conversar e vamos deixar de lado qualquer picuinha que porventura exista. O Brasil está acima de nós três", disse Bolsonaro. Apesar de integrantes do governo próximos a Bolsonaro estarem infectados pelo novo coronavírus, o presidente voltou a minimizar os efeitos do covid-19. “Muitos pegarão isso independente dos cuidados que tomem. Isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Devemos respeitar, tomar as medidas sanitárias cabíveis, mas não podemos entrar numa neurose, como se fosse o fim do mundo”, disse.”, disse.
Ele ainda insinuou haver interesses econômicos e políticos nas medidas para tentar conter a transmissão do vírus. Há cerca de dez anos, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarava pandemia de gripe H1N1, conhecida como gripe suína. “Em 2009, 2010, teve crise semelhante, mas, aqui no Brasil, era o PT que estava no poder e, nos Estados Unidos, eram os Democratas, e a reação não foi nem sequer perto do que está acontecendo no mundo todo”, declarou Bolsonaro.
Para enfrentar a pandemia, governadores têm decretado o fechamento provisório de lugares com alta aglomeração de pessoas, como salas de cinema e teatro e a suspensão de atividades escolares. Para o presidente, a proibição de jogos de futebol é partir para o extremismo. Bolsonaro defende que essas medidas sejam analisadas do ponto de vista de impacto na atividade econômica. Por isso, o governo vai criar um gabinete de crise para avaliar os impactos das ações de contenção do vírus na economia. Além disso, ele sugeriu que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) permita que ao menos uma parte dos ingresses seja vendida, liberando parcialmente, assim, o acesso aos jogos. “Porque não vai, no meu entender, conter a expansão desta forma muito rígida. Devemos tomar providências porque pode, sim, transformar em uma questão bastante grave a questão do vírus no Brasil, mas sem histeria”, opinou o presidente. Para ele, medidas como o fechamento de estádios vão aumentar o desemprego. "O desemprego leva pessoas que já não se alimentam muito bem a se alimentar pior ainda, aí vão ficar mais sensíveis, uma vez sendo infectadas, você levar até a óbito."
+++ A menção que Jair Bolsonaro faz ao Partidos dos Trabalhadores e ao Partido Democrata dos EUA é algo surreal. O presidente se alinhou ao que disseram pastores evangélicos neopentecostais como Silas Malafaia e Edir Macedo que são ligados à ultradireita estadunidense.
ENTREVISTA – *”Orientação para aglomeração é 'não' a todos, diz ministro da Saúde sobre Bolsonaro”*: A orientação do Ministério da Saúde de evitar aglomerações como forma de reduzir a transmissão do novo coronavírus vale para todo mundo, inclusive para o presidente Jair Bolsonaro, afirmou à Folha neste domingo (15) o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “É ilegal? Não. Mas a orientação é não. E continua sendo não para todo mundo.” Bolsonaro (sem partido) ignorou orientações dadas por ele mesmo na semana passada, ao estimular e participar neste domingo (15) dos protestos pró-governo sem demonstrar preocupação com a crise do coronavírus. Segundo Mandetta, as pessoas precisam tomar medidas agora para tentar diminuir os impactos da doença causada pelo novo coronavírus. “As pessoas olham e falam: 'Ah, mas o metrô está funcionando'. Se todo mundo continuar fazendo tudo, vai chegar uma hora em que o metrô vai ter que parar de funcionar”, afirma. ​ “Todo mundo tem que fazer sua parte. Quem não está em transmissão sustentada hoje, daqui a uma semana pode estar, daqui a duas vai estar.”
- O que o sr. achou da participação do presidente no protesto hoje?
- Ele cumprimentou todo mundo e fez tudo o que o Ministério da Saúde diz para não fazer. O sr. falou com ele? Não é ele, é o Brasil como um todo. O Ministério da Saúde está na fase primeiro de orientar. Depois a gente recomenda, principalmente quando são ações relacionadas aos estados. E depois determina. O Distrito Federal hoje não tem transmissão sustentada. A recomendação [sobre cancelar eventos] foi para São Paulo e Rio de Janeiro, que tinham. Mas todo mundo tem que fazer sua parte. Quem não está em transmissão sustentada hoje, daqui a uma semana pode estar, daqui a duas vai estar. Quanto mais rápido tiver transmissão, maior vai ser a necessidade de determinação de paralisação. Então eu vejo isso geral, tanto as pessoas que resolveram fazer… É ilegal? Não. Mas a orientação é não. E continua sendo não para todo mundo.
- Mas o presidente descumpriu essa orientação.
- Uma orientação. É igual quando eu coloco no cigarro —o Ministério da Saúde faz o quê? Ele adverte: causa câncer. Mas eu não determino a proibição. Como quando o médico fala pra você: "Tem que fazer caminhada, não pode comer gordura". Você tem as recomendações. Mas não é todo mundo que segue ao mesmo tempo. No momento é bom todo mundo começar a se organizar. Igrejas, por exemplo. Já está na hora de pastores se reunirem e falarem: olha, a maioria das pessoas que vem no culto é idoso [grupo de risco].
- Hoje tinha muito idoso nesse protesto também. Pois é. Não acho certo, não, mas pelo menos é ao ar livre. Imagina aqueles lugares fechados socados de gente, permanecendo uma hora, tem culto de duas horas. Também é complicado. Essas pessoas olham e falam assim: "Ah, mas o metrô está funcionando". Se todo mundo continuar fazendo tudo, vai chegar uma hora em que o metrô vai ter que parar de funcionar. A depressão econômica pode ser muito maior de acordo com o perfil de como a gente vai agir coletivamente. É uma somatória de ações individuais. Não tem nada que proíba. Mas está na hora de todo mundo entrar no mesmo diapasão. Vai continuar esse pessoal fazendo cruzeiro? Faz o que agora [que há casos de suspeita de coronavírus em um cruzeiro], testa 600 pessoas em Recife?
- Hoje o Ministério da Saúde tem recomendado que as pessoas evitem aglomerações. O presidente incentivou as pessoas a irem a essa manifestação. Não é um risco à saúde pública?
- É o que já te falei. Eu acho que a gente pode orientar. Vamos todos juntos nos organizar, diminuir aglomeração, etiqueta social, não respira assim, não tussa assado. Isso vale para a imprensa também, para todo mundo. Essa semana fizeram reuniões na Câmara. Falei: "Gente, isso aqui parece o chá da gripe". Tinha 300 pessoas de idade, todas fechadas naquela CCJ, tinha um senador que tinha viajado [para o exterior], outro com gripe.
- O sr. vai fazer o teste também?
- O sr. é próximo do senador Nelsinho [Trad, que testou positivo para o novo coronavírus]. Estou tomando o seguinte cuidado: já me considero uma pessoa em monitoramento. Estou me automonitorando, como se eu tivesse viajado num avião e tivesse gente contaminada. Estou evitando… Arrumei tudo para os meus pais e deixei aqui só minha mulher, que é médica. Estou me observando, se eu tiver sinal de febre, coriza, vou procurar fazer o exame e se confirmar vou ficar em isolamento. Mas até agora não tenho nenhum sinal.
- Teve contato com o senador?
- Sim. Mas, quando você tem contato, como num avião, você é monitorado, você não faz o teste. Fizeram o teste do presidente por excesso de zelo, porque é o presidente. Mas, se você estiver na poltrona 4 e o da 3 testar positivo, vamos entrar em contato, orientar e ficar te ligando, todo dia.
- O presidente não colocou em risco a saúde dele mesmo hoje indo [na manifestação]?
- O médico-assistente dele é quem pode te falar. Não sou médico dele. Mas todo mundo tem que tomar cuidado.
- Essa manifestação, por exemplo, as pessoas deveriam ter evitado ir?
- Acho que sim. Acho desnecessário.
- O presidente te perguntou sobre isso?
- Não. Não há necessidade de me perguntar. Eu mantenho as orientações do Ministério da Saúde. Ele fez uma coisa contra a lei? Não.
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*”Vídeo mostra Edir Macedo dizendo que coronavírus é inofensivo e que Satanás e mídia promovem medo”* - Um vídeo em que o bispo Edir Macedo aparece endossando um médico que desacredita os alertas sobre a gravidade da disseminação do coronavírus está sendo distribuído em grupos de WhatsApp neste domingo (15). Nele, Macedo diz que tudo não passa de uma estratégia de Satanás e da mídia para induzir as pessoas ao pânico. "Meu amigo e minha amiga, não se preocupe com o coronavírus. Porque essa é a tática, ou mais uma tática, de Satanás. Satanás trabalha com o medo, o pavor. Trabalha com a dúvida. E quando as pessoas ficam apavoradas, com medo, em dúvida, as pessoas ficam fracas, débeis e suscetíveis. Qualquer ventinho que tiver é uma pneumonia para elas", diz Macedo no vídeo que circula na rede social. Segundo ele, "por trás dessa campanha toda de coronavírus existe um interesse econômico. E onde há um interesse econômico, aí tem". Nas imagens, o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus recomenda o depoimento do patologista Ben Schmidt, que foi divulgado pelo médico em seu canal do YouTube e que já foi apagado depois de o doutor ser acusado de disseminar notícias falsas sobre a doença.
Macedo introduz o vídeo dizendo ter "excelente notícias" que "vêm de um médico, um cientista que tem a falar a respeito do coronavírus. Todo mundo esta assustado, todo mundo esta apavorado. Não há, segundo ele [médico], razão para isso. As pessoas estão apavoradas por algo que verdadeiramente não condiz com a realidade que a mídia, a mídia tem jogado no ar. O pavor que a mídia tem usado para levar as populações, as nações, apavoradas com respeito a esse vírus, coronavírus. Por trás de toda essa campanha do coronavírus existe um interesse econômico. E onde há interesse econômico, aí tem". Em seguida, começa a fala do médico. Contrariando dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde, Schmidt afirma que o vírus "está muito longe de ser letal" e que "não faz mal a ninguém". "A gente morre de tantas coisas, mas de coronavírus a gente não morre. Não morre porque Deus não quis", disse. "Fica aí o recado do doutor, que é um cientista e que tem fundamentos científicos para falar o que ele falou com certeza", diz Edir Macedo no vídeo, após o depoimento do médico. A coluna entrou em contato com a assessoria da Igreja Universal do Reino de Deus, que ainda não se manifestou.
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ENTREVISTA DA 2ª – *”Dados do BC mostram que contágio é mais rápido no Brasil, diz Paulo Guedes”*: O ministro da Economia, Paulo Guedes, conta que ganhou na terça-feira (11) uma missão política do presidente Jair Bolsonaro: ir ao Congresso para pacificar a relação entre governo e parlamentares. Horas antes, eles havia derrubado o veto do presidente à ampliação do BPC, benefício ao idoso carente, criando uma despesa adicional anual de R$ 20 bilhões à União. Era uma derrota fragorosa, fruto da disputa em torno do Orçamento impositivo. "Fui ao Congresso naquele dia numa missão eminentemente política. Não fui para apresentar nada sobre coronavírus", diz Guedes. Na reunião, o ministro foi surpreendido por uma informação: projeções do Banco Central mostravam que a velocidade de contágio no Brasil era mais veloz do que em outros países, inclusive China. "Foi alarmante", diz Guedes. O ministro, então, criou um grupo para monitorar o avanço do efeito do coronavírus sobre a economia e apresentar medidas. E insiste que o Congresso precisa fazer a sua parte. "O baque do coronavírus é temporário. A China já está se recuperando. Eu preciso estar preocupado com o reforço das nossas defesas durante e depois da crise", disse. Guedes falou à Folha na manhã deste domingo (15). À noite, após participar das manifestações, Bolsonaro deu entrevista ao canal CNN, chamando de "extremismo" e "histeria" medidas que estão sendo adotadas para conter a doença.
- O sr. foi criticado por parlamentares por ir ao Congresso sem um plano para proteger a economia contra efeitos do coronavírus. Há um plano de curto prazo?
- São duas questões aí. E duas respostas. Primeiro, eu fui ao Congresso naquele dia numa missão eminentemente política. Não fui para apresentar nada sobre coronavírus. Explico. No final do ano passado, iniciamos um acordo para o Orçamento impositivo e ele precisava ser esclarecido. O Orçamento impositivo é um entendimento republicano de como pode haver participação dos parlamentares sem indicações para ministérios e estatais. A ideia era manter o que o Congresso tinha recebido em 2019, que foi um valor recorde de R$ 16 bilhões em emendas. Mas veio um pedido maior, de R$ 30 bilhões. É demasiado —um terço do Orçamento livre. Aí começou um tiroteio com um mal-entendido. De um lado do mal-entendido, o general Augusto Heleno [ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional] gritou: 'chantagistas'. Foi legítima a manifestação. Não estamos no parlamentarismo. Ele defendeu o Executivo. Do outro lado do mal-entendido, o Congresso disse: então, gastem R$ 20 bilhões com o BPC, mandando um recado de insatisfação também para as suas lideranças. É legítimo também que o Congresso participe do Orçamento. Os congressistas foram eleitos, precisam levar obras às bases. Então, o importante é desfazer esse mal-entendido. Naquela terça, o presidente me chamou e me comunicou: 'Estou mandando, ao Congresso, o Mandetta e o Campos [Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, e Roberto Campos Neto, presidente do BC]. Eles me alertaram sobre a velocidade de contágio do coronavírus e sobre a gravidade da situação. Vão até lá falar disso. Mas estou mandando você para equacionar o mal-entendido do acordo sobre o Orçamento. O Congresso disse hoje que está contra esse acordo. Nos ajude nisso. Precisamos desarmar os ânimos'. Esse mal-entendido em torno da regulamentação do Orçamento impositivo chegou até as ruas. Se transformou, perante a opinião pública, num acordo político espúrio.
- Mas vocês não tinham conversado antes sobre a questão do coronavírus?
- Mandetta tinha nos alertado para a gravidade do impacto na saúde pública. E tínhamos muita convicção sobre a dinâmica de crescimento interno. O Brasil, no início do ano passado, foi atingido pela tragédia de Brumadinho e, depois, pelo colapso da Argentina, para onde vai mais da metade das exportações brasileiras de automóveis. A taxa de crescimento do Brasil, que era de 1,3% estável no governo de Michel Temer, colapsou para a metade, 0,7%. Mas, ao longo do ano, foi reacelerando. E fechou o ano em 1,7%, quase 2%. Nossa convicção era que a dinâmica interna já estava a nosso favor e garantiria um crescimento acima de 2% neste ano. Quando fui ao Congresso, na semana passada, só havia dez casos de coronavírus.
- No Ministério da Economia, ainda não tinham parado para olhar os possíveis efeitos do coronavírus?
- Não. As equipes estavam há três meses focadas nas reformas —na administrativa e na tributária— e assessorando os senadores no andamento da PEC do Pacto Federativo, que, inclusive, está indo muito bem. Um dia antes de eu ir ao Congresso, eu passei a manhã inteira analisando o Pacto Federativo com os senadores.
- Então, o sr. também foi lá ouvir Mandetta e Campos Neto?
- Eu já tinha ouvido do Mandetta que a taxa de contágio é alta, mas a letalidade é baixa. Ele falou sobre as medidas de prevenção, como lavar as mãos. Houve um ligeiro debate, levantado por Osmar Terra (ex-ministro da Cidadania). Ele falou que, como médico, por ter enfrentado a gripe suína, achava que era preferível não paralisar as atividades econômicas porque criaríamos uma defesa coletiva na interação. Se todo mundo ficar trancado em casa continua vulnerável. Quando acabou isso, o Roberto Campos falou sobre a iminência do choque. Foi essa quantificação, feita pelo Banco Central, que me assustou. O Banco Central tem modelos estatísticos calculando a velocidade de contágio.
- Contágio humano ou da economia?
- Humano. Acompanham a economia, mas assim que surgiu a preocupação com o coronavírus, o Mandetta pediu ajuda a quem pudesse dar. O BC tem modelos estatísticos, altamente matemáticos, que permitem modelar qualquer coisa. Modelaram a velocidade de contágio. Muita gente no governo achava que a coisa ia bater aqui em maio, e não deveríamos ser tomados pela neurose antes da hora, para não parar a economia antes da hora. Minha principal preocupação é garantir a dinâmica de crescimento. Nos preparar para a pancada de uma onda para sair com fôlego do outro lado.
- Mas quais dados do BC surpreenderam o sr.?
- A inclinação de contágio nos modelos do BC é mais rápida do que nos outros países. Estados Unidos e Brasil estariam com a taxa de contágio mais rápida do que ocorreu na própria China e na Itália. Foi alarmante.
- O sr. lembra dos números?
- Não me lembro exatamente. Mas era algo assim: na Itália era previsão de 60% de contágio e aqui, de 80%. Podemos atingir o pico em um mês. Mas tudo vai depender da prevenção.
- E o que o sr. fez a partir daí?
- A gente tinha 15 semanas, até o início da campanha eleitoral, para aprovar as reformas. Quando começou o bafo lá fora do coronavírus, minha mensagem foi reforçar a importância das reformas. O baque do coronavírus é temporário: o contágio sobe rapidamente, fica três meses e depois desaba. A China já está se recuperando. Eu preciso estar preocupado com o reforço das nossas defesas durante e depois da crise. Podemos transformar a crise em reformas. As reformas trarão as bases para gerar crescimento, emprego e renda após o surto, lá na frente. Apresentei 16 reformas —uma por semana. Minha primeira reação à crise do coronavírus foi estruturante: reforçar o sistema imunológico da economia.
- Mas ministro, um senador ficou doente, e esteve com outros senadores. Na atual situação, qual a garantia que o Congresso não vai parar com o coronavírus e só voltar quando começa o período eleitoral?
- Façamos o teletrabalho. Vão para casa, conversem com os assessores pelo telefone e preparem o voto.
- Mas como votar, ministro? Existe voto remoto?
- Não sei. Mas o que não pode é o Brasil parar por falta de respostas. Também podem votar em caráter de urgência.
- Ministro, a China, o gigante global, parou. Neste momento a Itália esta fechada. Como fazer para aprovar se não temos mais 15 semanas para votar?
- Temos três semanas, posso indicar as três medidas mais urgentes. Se aprovarem a Eletrobras temos R$ 16 bilhões. Fica agora no Orçamento e vendo no segundo semestre. Já dá para aprovar a PEC Emergencial, e a Emenda Mansueto, que ajuda os Estados. Aí temos entre R$ 12 bilhões e R$ 14 bilhões. Os estados podem precisar. Nós não sabemos o desdobramento dessa doença. Em Roraima entraram 100 mil venezuelanos. Como vão ficar? Rio de Janeiro é uma área vulnerável. São Paulo também.
- Por causa dessas cobranças, Maia criticou a falta de medidas de curto prazo e disse que o sr. está transferindo a responsabilidade de aliviar a crise para o Congresso...
- Entendo a crítica dele como um comentário: 'olha, Guedes deve ter algo, se não tiver será medíocre'. Mas eu não fui lá apresentar medidas de curto prazo para economia por causa do coronavírus. Olha a situação a que chegamos no Brasil: o presidente da Câmara está preocupado com a economia, e o ministro da Economia está preocupado com o entendimento político. Ele quer formular a política econômica, e eu quero resolver o problema político que ele está tendo com o presidente. Mas veja bem. Temos de agir nas duas frentes. Medidas estruturais e medidas de curto prazo. Estava cobrando do Congresso? Sim. Emenda Mansueto está lá há um ano. A privatização da Eletrobras também. Ela, além de não ter capacidade de investir, evita que a gente faça investimentos em outras áreas. Essas cobranças são democráticas e republicanas. Não estou reagindo ao Maia. Estou estendendo a mão a ele. E faço aqui o mea culpa. Reforma administrativa: nós demoramos. Reforma tributária: estou me explicando. Vocês derrubaram um pilar da minha reforma, o imposto sobre transações, a ponto de cair um secretário meu.
- Mas há um plano de curto prazo?
- Alertado pelos modelos estatísticos do Banco Central, e pela fala do Mandetta, de que as pessoas vão ter ficar no isolamento, tornou-se evidente que a economia brasileira vai ser afetada com mais gravidade. A função do ministro da Economia numa situação como essa é preventiva e reflexiva. Não é meu papel precipitar a retração da economia dizendo para pessoas ficarem em casa. Esse é o papel do Mandetta. Mas se ele falar que vai bloquear os voos, eu sei que as empresas aéreas vão ter problema, e é nisso que tenho de agir. Na reunião daquela mesmo terça, o senador Randolfo Rodrigues [Rede-AP] sugeriu que pegássemos o dinheiro da emenda do relator, o dinheiro da discórdia política, para destinar à saúde. Aprovei na hora.
- Ele usou esse termo?
- Não. Eu estou usando. Mas são lideranças políticas negociando. Isso é o importante. Já tínhamos um acordo que havia baixado de R$ 30 bilhões para R$ 10 bilhões a emenda do relator —e naquela reunião acordamos R$ 5 bilhões para a saúde. O deputado Alessandro Molon [PSB-RJ] disse, na sequência, que teremos apoio se formos nessa direção. Podemos utilizar os demais R$ 5 bilhões para emergências que ainda não sabemos. Pode ir para o setor de serviços. A situação de pequenas lojas, restaurantes, pode se tornar dramática.
- E como está sendo a elaboração das demais medidas?
- Na manhã seguinte daquela reunião, montamos um grupo de monitoramento que basicamente reúne integrantes do ministério. Cada um está numa frente. Estamos olhando o que podemos oferecer de isenções. Monitoramos os setores. Aviação, turismo e serviços são os mais frágeis. Os idosos podem precisar de reforço financeiro, para abastecer a casa, comprar remédios. Então, já estamos antecipando metade do 13º de pensionistas. Isso equivale a R$ 24 bilhões. Vamos observar o impacto e podemos liberar mais. O Tesouro já comprou dívida. O BC tem oferecido dólar para o mercado. Na sexta-feira (13), liberou R$ 135 bilhões de compulsório. Se as condições de liquidez forem se estreitando, vai soltando. É a economia que vai dizer quanto precisa. Naturalmente, isso vai ser para os bancos pegarem o redesconto e darem fôlego financeiro para o fluxo de caixa das empresas. A Caixa Econômica tem R$ 70 bilhões. Uma parte é para bancos médios; se tiverem problema com carteiras, vendem para a Caixa e pegam o dinheiro. Outra parte é destinada para manter o fluxo de caixa da construção civil, importante gerador de empregos. O terceiro é para médias empresas. O BNDES tem R$ 100 bilhões para devolver ao governo neste ano. Com esse recurso podemos abrir linhas para pequenas e médias empresas.
- O Banco do Brasil entraria como?
- Como é listado em Bolsa e tem acionista minoritário, a atitude é mais restrita. Já está procurando os clientes, antecipadamente, para avisar que podem negociar alternativas se tiverem problemas.
- O sr. prometeu mais medidas em 48 horas. Tem mais?
- Tem uma arma muito mais potente, mas não vou falar. Vamos trabalhar com diques de contenção. Se uma parede cair, reforçamos a seguinte. Se a outra ceder, vamos à próxima.
- Vão rever a meta de primário?
- Se for o caso, vamos, sim.
- Alguns economistas já sugerem flexibilizar o teto de gasto. Com o sr. vê isso?
- Essas pessoas não estão ajudando. Estão atrapalhando. Se eu fizer esse movimento agora, eu sinalizo alta de juros. Sinalizo que o Brasil vai abrir mão da disciplina fiscal. Eu prefiro primeiro abrir mão do dinheiro do relator. Prefiro abrir mão do dinheiro da Eletrobras. É uma questão de manter a serenidade na crise. Não podemos entrar em pânico. O que posso garantir é que não vai faltar dinheiro para combater a crise.
- A Bolsa está registrando quedas recordes. Ela entrou em pânico?
- O mercado financeiro no Brasil está caótico por uma confluência de fatores. Além do vento externo, pesa o desentendimento político interno, coroado pelo resultado da votação do BPC. Prejudica a confiança que alicerçamos o ano passado.
+++ Paulo Guedes mostra ter consciência de que a falta de organização política do governo custa caro ao Brasil, mas tenta dizer que a conduta do Poder Legislativo também é fundamental para a falta de equilíbrio da economia. Já a posição apresentada pelo ministro sobre o coronavírus mostra que o governo federal trabalha de forma desconectada, que o Ministério da Saúde trabalha sem estar sintonizados com o Ministério da Economia. Guedes acredita que o passar dos meses fará, automaticamente, com que a epidemia no Brasil chegue ao fim. Ele parece não compreender que é necessário um trabalho árduo para que esse resultado seja alcançado.
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*”Clima quente não é garantia de contenção do novo coronavírus”* - Os piores efeitos da pandemia causada pelo novo coronavírus, por enquanto, aconteceram durante o inverno relativamente rigoroso de países como a China e a Itália, mas isso não significa necessariamente que, num país tropical como o Brasil, o parasita terá mais dificuldade de se espalhar enquanto as temperaturas continuarem altas. A incerteza é grande, em parte, porque existem poucos estudos sobre a relação entre condições ambientais e a capacidade de sobrevivência e transmissão dos coronavírus. A maioria das pesquisas feitas até hoje envolve o vírus da Sars (síndrome respiratória aguda grave), um “primo de primeiro grau” do patógeno causador da atual pandemia que chegou a matar quase 800 pessoas de 2002 a 2003. Os dados sobre o vírus da Sars indicam que ele persiste por mais tempo no ambiente em temperaturas inferiores a 30 grau Celsius e quando há umidade relativa do ar média ou baixa –a não ser quando faz bastante frio, por volta de 5 graus Celsius, situação na qual umidades altas não o atrapalham.
A capacidade de resistência do vírus tem a ver com a estabilidade das moléculas orgânicas que o compõem em determinadas condições ambientais (de fato, o calor tende a afetar a estrutura dessas moléculas, mais ou menos como a clara do ovo endurece na frigideira). É difícil saber até que ponto esses dados podem ser “traduzidos” para o novo parasita, designado oficialmente pela sigla Sars-CoV-2, apesar do parentesco evolutivo próximo com o causador da Sars. “É possível que a gente acabe confundindo os fatores que ligam o inverno à maior transmissão”, diz Flávio Codeço, biólogo matemático da FGV, no Rio de Janeiro. “Num inverno como o do hemisfério Norte, o mero fato de a pessoa sair no ar frio e seco irrita as vias aéreas de tal maneira que a tendência a tossir e espirrar vai ser maior, e isso facilita o espalhamento do vírus, independentemente das condições nas quais ele subsiste no ambiente.” Temperaturas mais frias também têm efeitos sobre o comportamento das pessoas, fazendo com que elas passem mais tempo em ambientes fechados e apinhados, outra maneira de facilitar a transmissão.
Os dados são mais abundantes a respeito dos vírus influenza, causadores da gripe e transmitidos por via respiratória, tal como os diferentes coronavírus. Em países temperados do hemisfério Norte, a associação entre maior alcance do vírus e o tempo frio e seco do inverno se mantém, mas também há vários estudos feitos no Brasil e outras regiões tropicais sobre o tema, revelando um cenário bem mais complexo. Em Belém (PA), assim como no Senegal e em certas áreas da Índia, por exemplo, as epidemias de gripe têm correlação com as épocas mais chuvosas (o que talvez também tenha uma explicação comportamental: mais pessoas ficando em ambientes fechados por causa da chuva). Outros tipos de vírus respiratórios também circulam mais na época das chuvas em Salvador e Fortaleza, segundo outros estudos. Por fim, no Sudeste, embora a temporada mais forte do vírus da gripe seja o inverno, pode haver transmissão ao longo do ano todo. Em suma, tudo o que se sabe sobre patógenos desse tipo sugere que agir de forma complacente em relação ao coronavírus escudando-se no calor brasileiro não é uma boa ideia.
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MÔNICA BERGAMO - *”Presidente da OAB pede encontro com Lula para conversar sobre democracia brasileira”*: O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, já pediu um encontro com o ex-presidente Lula. Ele esteve na semana passada com Fernando Henrique Cardoso. Antes disso, já havia conversado com Michel Temer e se encontrado com José Sarney. A ideia é procurar os ex-presidentes e outras lideranças nacionais para conversar sobre a democracia brasileira. FHC vai inclusive falar na abertura da conferência que a OAB fará, em novembro, e que celebrará também 90 anos da entidade. São esperadas mais de 20 mil pessoas no evento.
MÔNICA BERGAMO - *”Mensalidade de planos de saúde pode ser afetada por coronavírus entre idosos”*
MÔNICA BERGAMO - *”Pirataria no Brasil gera prejuízo de R$ 4 bi por ano ao audiovisual, diz estudo”*
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MÔNICA BERGAMO - *”Bailarina Ingrid Silva fará palestra no TEDx Talk em março”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Não faça o que eu faço – Maus exemplos ameaçam combate ao coronavírus”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Bolsonaro dá exemplo duplo de irresponsabilidade”*: Talvez o maior modelo político, ideológico e comportamental de Jair Bolsonaro, Donald Trump não parecia levar muito a sério o coronavírus até que, na quarta-feira, anunciou o fechamento do país a voos que partem da Europa. Como é do feitio dos políticos radicais, tentou usar politicamente a medida: estabeleceu uma exceção para a Grã-Bretanha do aliado Boris Johnson, como se ingleses, escoceses etc. não tivessem o mesmo poder de disseminar o vírus. Na sexta, foi obrigado a decretar “emergência nacional” e tomar uma série de medidas importantes. O presidente brasileiro, nacional-populista de raiz, no figurino de Trump, deve ter tido vontade de chamar o patógeno da pandemia de “vírus estrangeiro”, imitando o presidente americano. Mas não há informação de que tenha criado empecilho a qualquer das decisões adequadas que vêm sendo tomadas pelo seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e por outras áreas do governo. Os erros de Bolsonaro, reforçados ontem, são de outra ordem, tão ou mais graves: demonstrações de irresponsabilidade política e pessoal. O presidente entrou em terreno institucionalmente perigoso, na última semana de fevereiro, ao fim do carnaval, quando ajudou a divulgar por sua conta de WhatsApp a convocação de manifestações contra o Congresso e o Supremo realizadas ontem em algumas cidades. De sentido golpista. Inconstitucionais, ilegais.
Inspirado numa reação dura do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, contra o Congresso, registrada sem seu consentimento, o movimento, por absurdo, passou a ter o apoio do presidente da República, referendando assim um ataque às instituições. Diante das reações negativas à sua atitude, Bolsonaro ensaiou um dúbio recuo. E ontem tirou qualquer dúvida, se havia, sobre sua verdadeira posição em favor de um ato político intoxicado de ilegalidades. Tornou-se cúmplice. O presidente deixou de ficar muito perto da claque que o acompanha em frente ao Alvorada. Não deveria permitir sequer esta aglomeração, se obedecesse às instruções do próprio Ministério da Saúde. Mas ontem aproximou-se de manifestantes na calçada do Planalto e ainda tocou na mão de alguns. Com este gesto conseguiu ser duplamente irresponsável: deu mau exemplo à população, que vem sendo instruída a evitar esses contatos, e atacou a democracia. O tamanho da falta de sensatez de Bolsonaro, no plano pessoal, pode ser medido pelo fato de que, também no domingo, foi informada mais uma contaminação pelo coronavírus na comitiva que viajou com ele aos Estados Unidos. Seu primeiro teste foi negativo. Serão feitos outros. Por óbvio, deveria se precaver. Quanto ao aspecto político, deverá haver desdobramentos, coma finalidade de que o Planalto respeite os limites que a Carta estabelece ao Executivo.
*”Jogo dos sete erros – Aglomerações em praias e manifestações mostram descaso”*
*”Fórmula do Brasil contra vírus falhou na Europa”* - Após dois meses e meio de epidemia do novo coronavírus, só um grupo seleto de países está conseguiu reverter ou evitar o crescimento exponencial de casos. Quase todos os bons exemplos estão na Ásia, e implementaram estratégias que o Brasil não adotou ainda — principalmente a testagem maciça de casos e medidas draconianas de isolamento social. Casos de sucesso em evitar um aumento súbito no número de infectados são centros urbanos mais isolados, como Cingapura ou Hong Kong, mas mesmo países inteiros que chegaram a perder o controle da epidemia, como a Coreia do Sul e a própria China, já conseguiram reverter a tendência explosiva que vinha se desenhando na epidemia. O Brasil está num momento ainda relativamente precoce da epidemia, com 200 casos, mas já com transmissão comunitária do vírus. Segundo especialistas, ainda é possível tentar reverter a tendência mais nefasta de expansão, mas com medidas de isolamento ainda relativamente tímidas será difícil atingir resultados, afirmam. Exemplos mais preocupantes de o que pode acontecer estão na Itália e no Irã, onde a capacidade de acomodação de pacientes graves não deu conta da epidemia, mas a Espanha e a Alemanha também estão vendo uma tendência preocupante agora. Segundo Paolo Zanotto, virologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, já é possível identificar os fatores que resultaram na desaceleração da epidemia.
— Um é o distanciamento social, independentemente de se atingir isso de maneira impositiva ou advinda do entendimento das pessoas — diz o cientista. — A segunda coisa é a testagem maciça. Isso evita que a transmissão escape do controle. Quando você tem um paciente que testou positivo, e todos os contatos dele são avaliados por PCR (diagnóstico genético), aqueles que foram positivos imediatamente são identificados, e assim vai se fazendo com os contatos dos contatos.
REAÇÃO ASIÁTICA
Alguns cientistas ainda se questionam se o Brasil ou mesmo a Europa têm condições de implementar medidas como as asiáticas. A China, onde emergiu o patógeno, isolou em poucas semanas a província de Hubei, epicentro do surto, restringindo a circulação de mais de 40 milhões de pessoas. O governo recorreu a medidas mais radicais quando a Covid-19 se expandiu, como controlar o movimento da população através de um software instalado em smartphones, que mede a temperatura do indivíduo e determina se ele deve ficar em quarentena. A Coreia do Sul adotou uma campanha em massa de exames de diagnóstico — foram mais de 222 mil até 11 de março. Para isso, usou detetives médicos e colocou 29 mil pessoas em autoisolamento, monitoradas à distância. O governo também usou câmeras de vigilância para monitorar por onde passaram os contaminados. O Japão suspendeu aulas e aprovou um pacote de emergência de US$ 2,5 bilhões para minimizar o impacto do coronavírus na economia. Os especialistas decidem quem precisa fazer os exames, priorizando idosos, pessoas com pneumonia ou que tiveram em área de risco. Mais de 10 mil pessoas já passaram por testes. Autoridades brasileiras começaram a adotar mais medidas de isolamento social nesta semana, como os estados de São Paulo e Rio, que já planejaram suspensão de aulas na rede pública. O presidente Jair Bolsonaro, porém, não abriu mão de estimular manifestantes a comparecerem a protestos públicos e receber apoiadores na entrada do Palácio do Planalto em Brasília.
TESTES EM MASSA
A testagem em grande escala, recomendada pela missão da OMS (Organização Mundial da Saúde), que analisou o sucesso tardio da China, encontra um número menor de apoiadores no país. A entidade recomenda rastreamento “meticuloso” de contatos de todos os doentes diagnosticados para aplicação dos testes. Entretanto, o coordenador do centro de resposta ao coronavírus do Estado de São Paulo, o médico David Uip, é contra a testagem em massa de pessoas sem sintomas. A Sociedade Brasileira de Infectologia também enxerga o risco de esgotamento de insumos, porque os kits de diagnóstico PCR são um recurso finito e caro. Ricardo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde da Fiocruz, afirma que o Brasil precisa mesmo levar em conta a escassez de recursos em seu planejamento, mas defende critérios de testagem menos restritivos que os de hoje.
— A testagem em larga escala ajuda, indiscutivelmente, e acredito que deveríamos apostar nessa testagem, mas ela, por si só, não vai resolver o problema aqui —afirma Venâncio.
Para ele, problemas mais simples podem surpreender:
— Como recomendar uso de álcool gel para milhões de brasileiros que estão desempregados? —diz.
Independentemente de o Brasil querer (ou poder) seguir o modelo mais rigoroso que países asiáticos estão adotando para frear e monitorar a epidemia, a análise de dados está deixando preocupados os cientistas que olham exclusivamente para os números da epidemia no Brasil. É o caso do físico Sílvio Ferreira, que trabalha com simulações matemáticas na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e vem analisando os números da Covid-19 desde o início. Segundo ele, esperar a situação se agravar para agir pode ser fatal.
— Quando você toma medidas drásticas hoje, você começa a ver resultados só depois de duas a três semanas —diz o cientista.
Segundo ele, é preciso cautela em comparar países em estágios diferentes da epidemia, mas a curva de crescimento dos casos no Brasil se assemelha mais à da Espanha, onde a epidemia explodiu na última semana, do que com a do Japão, que teve a epidemia semeada há mais tempo, mas tem muito menos casos.
DADOS EM PERSPECTIVA
Zanotto, da USP, afirma que autoridades de saúde no Brasil precisam repensar suas convicções pessoais agora na hora de escolher qual modelo seguir. — O que eu acho ou deixo de achar agora não interessa. O que interessa são os dados —diz o cientista. — Precisamos ver os dados, analisar quais são as curvas de crescimento que conseguiram se achatar e descobrir o que eles fizeram nesses países.
*”Bolsonaro minimiza vírus e é alvo de críticas”*

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