quinta-feira, 26 de março de 2020

Mídia 26/03

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas de Folha, O Globo e Valor Econômico destacam que os governadores decidiram ignorar o discurso de Jair Bolsonaro sobre o risco que o confinamento total representaria para a economia. Nessa cobertura, as reportagens mostram que os governadores se reuniram sem o presidente e que também estão dialogando com o presidente da Câmara. Somente o Valor Econômico apresentou as perspectivas dos governadores de estados do Nordeste. Em paralelo, todos os jornais mostram que há um embate sobre o isolamento dentro do próprio governo. De um lado, a equipe econômica – alinhada com uma parcela do empresariado – e do outro o ministro da Saúde que é contra o “isolamento vertical” defendido pelo presidente da República.
No entanto, os jornais apresentam uma variedade muito maior de opiniões a favor do chamado ‘lockdown’ do que de isolamentos parciais. Economistas e médicos declaram que o confinamento é necessário e que o Estado tem que colocar dinheiro nas mãos da população. Já alguns empresários querem o afrouxamento do confinamento que é tratado nas reportagens como algo perigoso, o que teria levado a Itália à situação atual.
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Bolsonaro é ignorado por governadores e se isola mais”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Presidente, retire-se”*: Diante da magnitude dos esforços necessários para mitigar os efeitos devastadores da epidemia do coronavírus sobre a saúde e a economia do Brasil, será preciso encontrar meios de anular, e logo, a capacidade de Jair Bolsonaro de estorvar a mobilização de guerra necessária para atravessar, com os menores danos possíveis, este episódio dramático da vida nacional. Nesta terça (24), em cadeia de rádio e TV, ele mostrou mais uma vez que não aprende nem se cala. Não aprende as lições da ciência e dos técnicos em saúde pública de todo o mundo e de seu próprio governo. Não se cala para evitar a propagação das estultices que povoam a sua mente apalermada. Tudo o que o Brasil não precisa neste momento é de um presidente que estimula a divisão e atrapalha a coordenação de diagnósticos e estratégias municipais, estaduais e federais contra a doença e o empobrecimento num país continental de 210 milhões de habitantes. O país tampouco pode perder tempo com brigas políticas entre o chefe de Estado e governadores, entre Executivo e o Congresso. Manter o máximo de pessoas em casa nesta primeira fase, ao mesmo tempo em que se expande a capacidade das emergências hospitalares, será crucial para diminuir as mortes evitáveis.
Investir desde já na ampliação da testagem rápida, da busca ativa de infectados e do estoque de drogas que venham a se mostrar eficazes reduzirá o ônus para a saúde e a economia numa segunda etapa, quando os confinamentos mais duros forem levantados. As ondas de contágio e fatalidades, que se concentram agora nas áreas metropolitanas de São Paulo e do Rio, começam a caminhar para outras regiões. É preciso planejamento e concatenação entre autoridades para lidar com esse espectro de picos epidêmicos em diferentes estágios ao longo do território brasileiro durante meses. Na economia, urge construir e estender linhas inéditas de socorro à renda e aos empregos dos mais vulneráveis. O déficit e a dívida deverão subir, mas seria ingênuo imaginar que essa expansão não teria limites, mesmo se o Brasil fosse país rico. Para articular, com respeito ao conhecimento sanitário e econômico, todos esses esforços extraordinários, Bolsonaro precisa delegar poderes a uma força-tarefa que reúna as equipes técnicas da Saúde e da área econômica e dialogue com Congresso e governadores. Que se forme um núcleo de governabilidade capaz de deixar em segundo plano as sandices do presidente, e que os políticos tenham a grandeza de suspender suas vaidades e projetos eleitorais por ora. Assim deveriam transcorrer as próximas semanas, que serão decisivas para uma ponderação dos efeitos das providências já tomadas na preservação de vidas e na subsistência das famílias.
PAINEL - *”No WhatsApp, presidente do BB diz que vida não tem 'valor infinito'”*: O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, fez comentários críticos ao isolamento social, na mesma linha que o presidente Jair Bolsonaro. Em mensagem em um grupo de WhatsApp, Novaes disse que vida não tem "valor infinito". "Muita bobagem é feita e dita, inclusive por economistas, por julgarem que a vida tem valor infinito. O vírus tem que ser balanceado com a atividade econômica", afirmou o executivo no aplicativo de mensagens. A discussão sobre a necessidade de isolamento ganhou mais força com o pronunciamento do presidente nesta terça (24), contradizendo recomendações do próprio Ministério da Saúde e na contramão da maioria dos países que estão na batalha contra o vírus. Perguntado sobre a afirmação que fez nas mensagens, Novaes disse que o lockdown [o confinamento, do termo em inglês] prolongado "causará depressão econômica com efeitos piores que os da epidemia". Afirmou também que "a questão não é apenas médica e mesmo alguns médicos concordam com a tese do presidente [Bolsonaro]", disse ao Painel. "Depressão econômica também mata muita gente, principalmente entre os mais pobres."
O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga pondera. Ele tem a opinião de que escolher isolar pessoas por razões de saúde leva à alguma perda econômica, mas que "esse trade off [abrir mão de um lado para ganhar do outro] é bem menor do que se imagina". O economista afirma que, por isso, existe "a forte recomendação de evitar o pico de atividade hospitalar matador".
O tempo de isolamento preocupa os integrantes da equipe econômica, que usa como exemplo a greve dos caminhoneiros --durou três semanas em 2018 e drenou 1,2 ponto percentual do PIB daquele ano, o equivalente à metade do crescimento previsto.
Os governadores que levantaram medidas de proteção colocam na conta de Luiz Herique Mandetta (Saúde) as restrições. Afirmam que o combinado era mandar as pessoas para casa por 15 dias e depois ir avaliando o desenvolvimento do contágio. Até esta terça, 156 nações haviam fechado as suas escolas, segundo levantamento da Unesco.
PAINEL - *”Mandetta mandou lavar a mão e Bolsonaro achou que tinha que 'lavar as mãos', diz advogado”*: Em crítica à maneira que Jair Bolsonaro tem tratado a crise do coronavírus no Brasil e, mais especificamente, ao pronunciamento de terça-feira (24), o advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, vê falta de comprometimento na postura do presidente. A dificuldade que o Bolsonaro tem com a língua portuguesa chegou a um patamar preocupante. O ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) orientou o presidente a lavar a mão, mas ele entendeu, diante da grave pandemia que nos acomete, que deveria 'lavar as mãos', colocando todo o país em uma situação ainda mais delicada", diz Carvalho, que também é sócio-fundador da ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) e membro do sindicato dos advogados de São Paulo. "Tristes dias", conclui.
PAINEL - *”Doria e Paulo Guedes se desentendem após tucano elogiar Mandetta”*: Na reunião dos governadores do Sudeste com Jair Bolsonaro, nesta quarta (25), teve troca de farpas também entre João Doria (PSDB-SP) e Paulo Guedes (Economia). O ministro cobrou o governador por, ao elogiar Mandetta, o chamar de republicano, e não lhe conceder o mesmo adjetivo. Segundo relatos, Guedes disse que já entendeu o recado de Doria. O tucano também utilizou o termo "republicano" para fazer referência ao ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura). No encontro, Guedes, assim como Bolsonaro, criticou o confinamento e disse que a economia tem que andar.
PAINEL - *”Exceção entre governadores, Roraima apoia Bolsonaro mas vai seguir com quarentena”*
*”Bolsonaro é ignorado por governadores, perde aliados e se isola mais”* - O presidente Jair Bolsonaro redobrou a aposta, nesta quarta (25), de minimizar a crise da pandemia do novo coronavírus e tentar abrandar a política de isolamento e distanciamento social adotada no país devido à doença. Com isso, ganhou a oposição aberta de antigos aliados —como do governador goiano, Ronaldo Caiado (DEM)— e críticas generalizadas no Congresso, além de ter seus pedidos ignorados pelos chefes de Executivo dos estados. Também se envolveu em um duelo verbal com o paulista João Doria (PSDB), seu maior antagonista no debate sobre a condução da emergência. Na terça (24) à noite, Bolsonaro havia feito um polêmico pronunciamento em rede nacional no qual voltou a chamar a Covid-19 de “gripezinha”. Também criticou medidas de isolamento social, como fechamento de escolas e de comércio, a principal recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para tentar conter a propagação do vírus. A fala de Bolsonaro foi repudiada por políticos e autoridades sanitárias, porque vão contra os principais exemplos disponíveis no combate à doença no mundo.
Na manhã desta quarta, ele voltou a criticar governadores pela restrição de movimentação de pessoas e defendeu que haja isolamento apenas para aqueles do chamado grupo de risco, como idosos e portadores de comorbidades. “Vou conversar com ele [Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde] e tomar a decisão. Cara, você tem que isolar quem você pode. Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar”, afirmou Bolsonaro. Os apelos do presidente acentuaram uma mudança de tom no discurso de Mandetta, mas não foram atendidos pelos chefes de Executivo dos estados, que se reuniram à tarde por videoconferência organizada por Doria e decidiram manter a política de medidas restritivas. Além disso, divulgaram carta pedindo que Bolsonaro assuma suas responsabilidades de liderança na crise do coronavírus e sugeriram medidas para mitigar impactos econômicos imediatos da pandemia. O tucano Doria, um dos principais presidenciáveis especulados para 2022, esteve no centro da crise. Pela manhã, participou com outros governadores do Sudeste de videoconferência com Bolsonaro e ministros. Nela, Doria criticou o discurso do presidente e apresentou demandas comuns dos governadores.
Bolsonaro retrucou agressivamente, acusando o tucano de ser “leviano” e de ter sido eleito em 2018 de carona em sua popularidade, só para depois buscar protagonismo para tentar ser presidente da República em 2022. “Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser presidente do Brasil. Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar o governo federal”, disse o presidente ao tucano. “Se você não atrapalhar, o Brasil vai decolar e conseguir sair da crise. Saia do palanque”, afirmou Bolsonaro. A altercação ocorreu depois de uma consideração de Doria no encontro: “Peço que o senhor tenha serenidade, calma e equilíbrio. Mais do que nunca, o senhor precisa comandar o país”. A intervenção do tucano foi calculadamente pausada, sem alteração no tom de voz, dentro da tática de diferenciação entre ele e o presidente na condução da crise. Já Bolsonaro respondeu aos berros. “Não aceito em hipótese nenhuma essas palavras levianas, como se vossa excelência fosse o responsável por tudo o que acontece de bom no Brasil”, disse Bolsonaro, ladeado pelos ministros Mandetta e Paulo Guedes (Economia). “[Doria] acusa, levianamente, esse presidente que trabalha 24 horas por dia. Não aceitamos essa demagogia barata. Vossa excelência não é exemplo para ninguém. Senhor governador João Doria, faça sua parte”, finalizou, questionando se o tucano tinha permissão para agir como “porta-voz dos governadores”.
No final da manhã, o governador paulista postou no Twitter sua versão dos fatos. Disse que apresentou suas propostas na exposição inicial. “Recebi como resposta um ataque descontrolado do presidente. Ao invés de discutir medidas para salvar vidas, preferiu falar sobre política e eleições. Lamentável e preocupante”, escreveu. Ainda no ambiente das redes sociais, o filho presidencial Carlos, vereador no Rio e gestor da estratégia digital do pai, disse que Doria “se coloca de vítima diante do óbvio”. Voltou a chamá-lo de “isentão” e “Macron brasileiro”, em referência ao presidente francês, Emmanuel Macron. Antes, o tucano insistiu que não deve haver confisco de respiradores mecânicos para casos graves da Covid-19. “Não é hora aqui de termos questões burocráticas impedindo a aceleração da importação de equipamentos e insumos necessários à saúde pública. Peço ao ministro da Saúde, aí a seu lado, que compreenda que São Paulo é o epicentro da crise. Não confiscar respiradores. Se essa decisão for mantida, informo que tomaremos as medidas necessárias no plano judicial”, afirmou Doria.
Isolado politicamente, Bolsonaro foi às redes sociais na noite desta quarta-feira e afirmou que "fazer politicagem num momento como esse é coisa de covarde". "É mais fácil fazer demagogia diante de uma população assustada do que falar a verdade. Isso custa popularidade. Não estou preocupado com isso!", escreveu Bolsonaro. "A demagogia acelera o caos." Mesmo nas fileiras governistas houve dissonâncias em relação ao que prega o presidente. O pronunciamento de Bolsonaro na terça teve reparos de seu próprio vice, o general Hamilton Mourão, que fez a defesa do isolamento social. “A posição do nosso governo por enquanto é uma só: isolamento e distanciamento social. Isso está sendo discutido e ontem o presidente buscou colocar e pode ser que ele tenha se expressado de uma forma, digamos assim, que não foi a melhor”, disse Mourão. Segundo ele, a intenção de Bolsonaro no pronunciamento era demonstrar a preocupação com a economia. “O que ele buscou colocar é a preocupação que todos nós temos com a segunda onda, como se chama nesta questão do coronavírus. Nós temos uma primeira onda, que é a saúde, e temos uma segunda onda, que é a questão econômica.” O debate de medidas sanitárias para tentar conter a crise e o risco de recessão tem dominado o debate público sobre o coronavírus, não só no Brasil. Segundo pesquisa do Datafolha publicada no domingo (22), 73% dos brasileiros apoiam medidas de quarentena contra a pandemia.
Nesta quarta, pelo nono dia seguido, Bolsonaro voltou a ser alvo de panelaços em grandes cidades do país —impulsionados pela conduta do presidente na crise do coronavírus. O discurso do presidente de minimizar a Covid-19 foi rebatido pelo diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que, em entrevista ao UOL, disse: “Em muitos países, as UTIs estão lotadas e essa é uma doença muito séria”. Na entrevista desta quarta, o presidente voltou a falar que as ações de governadores prejudicam a economia e podem criar um ambiente de caos no país, o que, segundo ele, pode gerar saques a supermercados e instabilidade democrática.
Ele citou a esquerda e deu os protestos do Chile como exemplo. “O que precisa ser feito? Botar esse povo para trabalhar, preservar os idosos, preservar aqueles que têm problema de saúde. Mais nada além disso. Caso contrário o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil”, disse. “Se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês [imprensa] tanto defendem”, afirmou. Ao ser questionado sobre o tema, o presidente disse que o risco de um rompimento democrático viria da esquerda. “Não é da minha parte não, fique tranquilo.” O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na sua fala aos governadores, disse que o governo parece “esticar a corda” em temas legislativos, como se quisesse forçar parte da sociedade a “ir à rua” Bolsonaro afirmou ainda que, se a economia colapsar, não haverá recursos para pagar servidores públicos. “O caos está aí, na nossa cara.” A crispação do dia foi acentuada pelo anúncio de Caiado e do governador Comandante Moisés (PSL-SC), aliado antes desconhecido eleito na onda bolsonarista, de rompimento com o Planalto. A crítica também veio de Maia, que sugeriu, em fala na reunião de governadores, que a pressão contra o isolamento social vem do mercado financeiro, que busca evitar mais perdas. Ele elencou críticas ao modo com que Bolsonaro lida com a crise. Na véspera, um portador do coronavírus, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também atacou o presidente.
Na fala pela manhã, Bolsonro havia dito que “alguns poucos governadores e prefeitos” estão cometendo “um crime”, “arrebentando com o Brasil e destruindo empregos”. Para Bolsonaro, Doria e o também governador Wilson Witzel (PSC-RJ) fazem “demagogia barata” para se colocarem como “salvadores da pátria” e “esconder problemas”. Ele disse que, depois, não adianta os líderes estaduais pedirem GLO (operações de Garantia da Lei e da Ordem, das Forças Armadas) ao governo federal para conter problemas em seus territórios. “Eu queria que ele [o coronavírus] não matasse ninguém, mas outros vírus mataram mais do que esse e não teve essa comoção toda”, disse. Bolsonaro disse ainda que seu apelo para que o país volte à normalidade está alinhado à estratégia do presidente dos EUA, Donald Trump, seu modelo ideológico. O americano defendeu recentemente o fim das medidas de isolamento em seu país até a Páscoa. Por último, o mandatário brasileiro foi questionado sobre as críticas que recebeu. “Fui criticado por quem? Por quem nunca fez nada pelo Brasil? Estou muito feliz com a crítica”, disparou.
+++ A reportagem expõe a briga de Bolsonaro com governadores, mas se restringe a mencionar chefes estaduais que pertençam a partidos de direita como João Doria, Ronaldo Caiado e o governador de Santa Catarina, além do presidente da Câmara Rodrigo Maia. Ou seja, ao estabelecer um antagonismo com relação ao presidente, a Folha o faz apenas com políticos liberais na economia. A reportagem mostra ainda como Jair Bolsonaro opera apenas pensando nas pessoas que são fiéis ao discurso medíocre e extremado.
ENTREVISTA - *”Pensei que fosse montagem, diz Caiado sobre pronunciamento de Bolsonaro”*: Horas depois de anunciar um rompimento com Jair Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, 70, (DEM), afirmou à Folha que o presidente da República perdeu as condições de liderar o enfrentamento à crise do coronavírus. Caiado, que é médico, disse ter pensado ser “uma montagem” o pronunciamento de Bolsonaro na TV na noite de terça-feira (24), em que o presidente voltou a minimizar o risco do vírus e atacou a restrição ao funcionamento de atividades econômicas. “Minha indignação é ele tratar de um assunto do qual ele não tem o menor conhecimento. Não se assessorou de ninguém para produzir um texto tão irresponsável”, declarou o governador. O político goiano, que impôs limitações ao comércio no estado para amenizar os efeitos do vírus, criticou o risco econômico como argumento para flexibilizar essas medidas. “Ele deve ter sido contaminado por algum empresário que só enxerga cifrão”, afirmou. “Está mais preocupado com CNPJ do que com CPF.”
- Como avalia o comportamento do presidente na crise?
- Minha indignação é ele tratar de um assunto do qual ele não tem o menor conhecimento. Não se assessorou de ninguém para produzir um texto tão irresponsável e que provocou uma insegurança nas orientações de como o cidadão deve se comportar. Ele deve ter sido contaminado por algum empresário que só enxerga cifrão. É uma situação que eu não vou admitir. Sou governador, tenho a prerrogativa de legislar sobre essa matéria. As decisões do presidente na área de saúde não interferem no estado de Goiás. Aqui, vamos continuar com o decreto que vale até dia 4 [de abril].
ANÁLISE - *”Bolsonaro perde duelo com Doria, e governadores encurralam presidente”*
*”Bolsonaro contrariou órgãos de saúde e distorceu cenário sobre coronavírus; veja discurso comentado”*
*”Após fala de Bolsonaro, Mandetta diz que fica e pede racionalidade em quarentena”* - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, endossou nesta quarta-feira (25) o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro e criticou medidas fortes de restrições de circulação por causa da pandemia de coronavírus. Mandetta falou em racionalidade e afirmou que as determinações sobre quarentena nos estados foram feitas de forma desorganizadas e precipitadas e ocorreram muito cedo. Ele defendeu melhores critérios conversados entre o Ministério da Saúde e governadores. "Temos que melhorar esse negócio de quarentena, foi precipitado, foi desarrumado", disse. Mandetta afirmou que as restrições de circulação podem comprometer, inclusive, o sistema de saúde. O ministro participou de entrevista coletiva realizada de forma remota, mas fez apenas uma fala inicial. Ele se retirou antes de atender as perguntas encaminhadas pelos jornalistas, e que foram respondidas por seus auxiliares. ​ Em sua fala, Mandetta disse que fica no cargo e só sai quando o presidente achar que ele não serve ou se ficar doente.
O ministro disse defender critérios de quarentena baseados em patamares de números de casos de cada estado. Assim, medidas poderiam ser tomadas de acordo com o avanço da doença. Ele também citou as preocupações econômicas, um dos principais argumentos de Bolsonaro. ​"Se não tivermos cuidado com atividade econômica, essa onda de dificuldade que a saúde vai trazer vai provocar uma onda de dificuldade ainda maior com crise econômica", diz. Em pronunciamento na noite desta terça-feira (24), Bolsonaro criticou o fechamento de escolas e do comércio, contrariou orientações dos órgãos de saúde e atacou governadores.​ O presidente afirmou que desde o início da crise o governo se preocupou em conter o "pânico e a histeria" e voltou a minimizar a gravidade da Covid-19 ao compará-la a uma "gripezinha" ou "resfriadinho". ​Bolsonaro disse que "grande parte dos meios de comunicação foram na contramão"e argumentou que a Itália, país com o maior número de casos, tem características distintas das do Brasil. O cenário no Brasil, disse o presidente, foi "potencializado pela mídia para que histeria se espalhasse". O pronunciamento causou grande repercussão negativa. Mandetta o elogiou: "Eu vejo a grande colaboração da fala do presidente, de chamar a atenção de que é preciso pensar na economia".
Assim como Bolsonaro, o ministro da Saúde também citou alternativas para quarentena, que poderia ser focada apenas em idosos e pessoas com sintomas. "Tem várias maneiras de fazer quarentena, a horizontal, a vertical, isso tudo tem um bando de gente estudando. Não vamos fazer nada que a gente não tenha confiança", disse. "Antes de adotar o fecha tudo, existe a possibilidade de trabalhar por bairro, existe a possibilidade de fazer redução em determinados aparelhos." Ele também falou da importância da fé. "Que as igrejas fiquem abertas, mas não se aglomerem." O titular da pasta da Saúde ainda fez questão de ressaltar que a pandemia atinge o Brasil de forma diferente em cada cidade ou região. Por isso, segundo ele, a necessidade de haver racionalidade nas restrições."O Brasil tem vários Brasis", disse. "A situação do Ceará é totalmente diferente da de Goiás". Para o ministro, há preocupação maior, por exemplo, com os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina por terem uma população idosa mais numerosa. O Ministério da Saúde registra 2.433 casos da doença e 57 de mortes nesta quarta-feira. A evolução no número casos, com relação ao dia anterior, tem caído desde segunda-feira, quando se iniciaram restrições mais fortes de circulação em vários estados do país, como São Paulo (onde está a maioria dos casos e mortes).
Nesta quarta, esse avanço foi de 11% no Brasil. No dia 22, por exemplo, o aumento no número de casos havia representado um salto de 37% na comparação com o dia anterior. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, diz que não é possível identificar impactos nessa evolução. "Não há menor possibilidade de ter algum resultado com algo implementado há alguns dias atrás", afirmou. Segundo Mandetta, o número de casos está dentro do esperado para esta época. De acordo com pesquisa Datafolha, o ministério que Mandetta coordena é mais bem avaliado que o presidente da República na crise do coronavírus. Dos 1.558 entrevistados entre 18 e 20 de março, 55% aprovam o trabalho da pasta da Saúde. Já Bolsonaro tem sua gestão da pandemia aprovada por 35%. No domingo (22), em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro afirmou que Mandetta havia exagerado e usado palavras inadequadas. Ele se referia à declaração de que, em abril, o sistema de saúde entrará em colapso. Nos bastidores, Bolsonaro cobrou do médico um discurso mais afinado ao do Palácio do Planalto no combate à pandemia do coronavírus, o que acabou ocorrendo nesta quarta. O presidente se irritou, de acordo com auxiliares próximos, com o fato de Mandetta não tê-lo defendido, em entrevistas à imprensa, por ter participado de manifestação a favor do governo em Brasília em meio à crise do coronavírus —a recomendação da pasta era para evitar aglomerações.
*”Bolsonaro se isola com direita após discurso, e centro e esquerda se unem de novo”* - Ao criticar o combate ao coronavírus no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) inflamou usuários de centro no Twitter, que atacaram o mandatário e, de forma inédita, passaram a ter volume de mensagens semelhante aos perfis de direita. A Folha analisou 950 mil tuítes feitos entre as 19h de terça (24), pouco antes do pronunciamento do presidente em cadeia nacional, e as 6h desta quarta (25). Foram consideradas mensagens que continham termos como “Bolsonaro”, “pronunciamento” e correlatos. É um levantamento feito desde maio do ano passado, sempre que há eventos relevantes politicamente. Em nenhum momento até esta semana o centro havia tido atividade semelhante aos perfis de direita. Entre terça e quarta, 59 mil usuários de direita postaram sobre o pronunciamento; no centro, foram 58 mil. Quando o STF (Supremo Tribunal Federal) voltou a barrar a prisão em segunda instância, em novembro passado, o que permitiu a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram apenas 15 mil centristas comentando a decisão, num período de coleta maior —um dia inteiro (nesta semana, foram 11 horas consideradas). Naquele momento de novembro, a presença da direita foi duas vezes maior que a do centro comentando a liberdade do petista.
Repetindo o que houve na semana passada, quando Bolsonaro concedeu entrevista coletiva sobre o vírus ao lado de ministros usando máscaras de proteção, as mensagens mais populares no centro foram em grande parte iguais às que mais circularam na esquerda —todas críticas ao mandatário. Dos dez tuítes mais populares no centro nesta semana, nove também estavam na lista da esquerda. A mensagem mais retuitada em ambos os espectros foi “agora, definitivamente e de uma vez por todas, o lugar do Bolsonaro é na CADEIA!”. Na direita, majoritariamente os tuítes que mais circularam foram de apoio ao presidente, como “aqueles que torcem para que o vírus vença o Brasil estão revoltados com a coragem do Presidente @jairbolsonaro de escancarar a verdade! Vamos sair do isolamento horizontal para o vertical, protegendo os mais vulneráveis e permitindo que pessoas voltem a trabalhar”. O tuíte se refere à ideia do presidente de que a política de isolamento deveria ser restrita às populações mais vulneráveis, não à toda a população, para que haja menos danos econômicos. É uma estratégia tida como ineficaz por especialistas e pelos governadores, que afirmam que o vírus continuaria a circular e atingiria os vulneráveis de qualquer forma. Apesar do apoio na maior parte dos tuítes mais populares, o quinto mais retuitado foi crítico ao presidente: “Um presidente que num momento de crise faz um pronunciamento oficial em cadeia nacional para falar sobre ele e não sobre o seu povo não merece a cadeira que pediu pra gente”.
Além de inflamar o centro, o discurso do Bolsonaro fez a esquerda disparar no número de pessoas comentando o evento. Nesta semana, houve mais que o dobro de perfis de esquerda no debate, em relação aos de direita. Na época da soltura de Lula, em novembro, eles tiveram praticamente o mesmo montante. A classificação dos usuários entre centro, direita e esquerda é feita pelo GPS Ideológico, ferramenta da Folha que categorizou 1,7 milhão de perfis no Twitter, com interesse em política. Os usuários são distribuídos numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, de acordo com quem eles seguem na rede social.
O QUE DISSE BOLSONARO
Em seu terceiro pronunciamento em rádio e televisão sobre a crise do coronavírus, o presidente atacou governadores e disse que eles precisam "abandonar o conceito de terra arrasada", com a proibição de transporte, o fechamento do comércio e o que chamou de confinamento em massa. Nesta quarta-feira, Bolsonaro seguiu no mesmo tom e voltou a criticar medidas adotadas por estados e municípios para reduzir circulação de pessoas. "O povo tem que parar de deixar tudo nas costas do poder público. Aqui não é uma ditadura, é uma democracia", disse o presidente a jornalistas na saída do Palácio da Alvorada. "Os responsáveis pela minha mãe de 92 são seus meia-dúzia [de] filhos."
Reportagem da Folha mostrou que a estratégia do pronunciamento de terça-feira foi definida pelo chamado “gabinete do ódio”, núcleo formado por aliados do presidente que defendem confrontos para mobilizar a base bolsonarista. A avaliação deles é a de que, diante do clima de animosidade, era hora de orientar a militância digital apontando inimigos, no caso os veículos de imprensa e os governos estaduais, mobilizando os eleitores fiéis a responderem às críticas contra a gestão federal. Além disso, ao criticar o desaquecimento da atividade econômica, o presidente, segundo deputados aliados, tentou criar uma vacina: a de que um eventual aumento do desemprego no futuro não é responsabilidade sua, mas dos governos estaduais que adotaram medidas de contenção.
*”Radicalização de Bolsonaro foi sugerida por núcleo ideológico para municiar militância digital”* - A radicalização do discurso adotada pelo presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV nesta terça-feira (24) foi uma sugestão do grupo ideológico do Palácio do Planalto, formado pelo chamado "gabinete do ódio". A estratégia, segundo assessores presidenciais, é a de tentar polarizar o debate no esforço de municiar o eleitorado bolsonarista a voltar a sair em defesa do governo. Entre as pessoas com quem Bolsonaro se reuniu nesta terça antes de gravar o pronunciamento está o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um de seus filhos e o principal defensor de que o presidente mantenha um discurso mais ideológico e anti-imprensa. Carlos tem forte influência no gabinete do ódio. O encontro não estava previsto inicialmente, mas foi inserido na agenda ao fim do dia. Além de Carlos, participaram do encontro os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Onyx Lorenzoni (Cidadania), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Walter Braga Netto (Casa Civil). O senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ) e o ex-jogador de futebol Paulo César Tinga também estavam presentes.
Após a publicação desta reportagem, o ex-jogador divulgou nota negando participação em reunião sobre o discurso. Ele disse ter discutido apenas amenidades com Bolsonaro, sem cunho político. Nos últimos dias, segundo relatos feitos à Folha, o núcleo digital da Presidência da República constatou uma desmobilização de perfis de direita nas redes sociais, que passaram a defender menos o presidente de ataques da esquerda. A avaliação é a de que, diante do clima de animosidade, era hora de orientar a militância digital apontando inimigos, no caso os veículos de imprensa e os governos estaduais, mobilizando os eleitores fiéis a responderem às críticas contra a gestão federal. Além disso, ao criticar o desaquecimento da atividade econômica, o presidente, segundo deputados aliados, tentou criar uma vacina: a de que um eventual aumento do desemprego no futuro não é responsabilidade sua, mas dos governos estaduais que adotaram medidas de contenção. A estratégia adotada pelo presidente, no entanto, não é consenso no governo. O texto foi feito sem a participação de seus ministros.
Antes da gravação do discurso, de acordo com auxiliares palacianos, alguns integrantes do núcleo militar, cientes de que ele pretendia radicalizar o tom, tentaram dissuadir Bolsonaro. Para eles, aumentar o clima de conflagração pode ter o resultado oposto ao pretendido: o de fortalecer o discurso dos governos estaduais e o de levar eleitores do presidente a abrirem mão do apoio.​ Desde o início da semana, a cúpula militar vinha tentando moderar o discurso do presidente. Foram eles, por exemplo, que convenceram Bolsonaro a promover videoconferências com governadores em busca de um consenso nacional. O presidente deixou para esta quarta-feira (25) o último encontro, com os governadores da região Sudeste, com as presenças de João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro). Ele conversou na segunda (23) com os gestores de estados de Norte e Nordeste e, nesta terça (24), com governos do Sul e Centro-Oeste.
Nas palavras de um auxiliar presidencial, ao criticá-los de maneira indireta no pronunciamento, Bolsonaro se antecipou a eventuais críticas que possa sofrer de ambos na reunião por conferência. Em seu terceiro pronunciamento sobre a crise de saúde, o presidente criticou o fechamento de escolas e comércio para combater a epidemia, atacou governadores e culpou a imprensa pelo que considera clima de histeria instalado no país. Ele afirmou que desde o início da crise o governo se preocupou em conter o "pânico e a histeria" e voltou a minimizar a gravidade da Covid-19 ao compará-la a uma "gripezinha" ou "resfriadinho". A reação ao discurso foi de perplexidade entre deputados e senadores. O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que "o país precisa de uma liderança séria", responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população". A senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO) classificou o pronunciamento de "atrocidade". "Hoje na sessão on-line do Senado o sen. Flavio Bolsonaro convidou a todos p/ assistirem o pronunciamento do pai. Francamente senador. Não é possível que um jovem como vc pode concordar c/ essa atrocidade. Eu ainda tive esperanças no seu convite. Decepção total", escreveu a senadora em rede social.
ANÁLISE - *”Fricção entre Bolsonaro e governadores expõe paradoxo de gestão da crise do coronavírus”*
*”Heleno descumpre orientação do Ministério da Saúde e volta a despachar no Palácio do Planalto”*
*”'Acha que estou escondendo alguma coisa?', diz Bolsonaro sobre exame de coronavírus”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quarta-feira (25) que a lei garante o sigilo dos exames diagnósticos do Covid-19. A declaração foi dada após o presidente ter sido questionado sobre o fato de o HFA (Hospital das Forças Armadas) ter omitido dois nomes que testaram positivo para o novo coronavírus, numa lista encaminhada ao governo do Distrito Federal. Equipes do HFA fizeram a coleta das duas análises clínicas realizadas por Bolsonaro, que segundo ele deram negativo para o vírus. "Você acha que eu estou escondendo alguma coisa? Tá na lei que esses laudos são segredo. Quer que eu te mende a lei, eu mando", reagiu Bolsonaro, ao ser perguntado sobre o tema no Palácio da Alvorada. Na terça (24), a Folha mostrou que o HFA apresentou ao governo do DF uma lista com infectados identificados pelo hospital, mas sem as identidades de duas pessoas. Por ora, a instituição comunicou às autoridades sanitárias distritais 17 casos de pessoas infectadas com o vírus causador da Covid-19, os quais estão sendo monitorados. Segundo o Governo do DF, 15 desses pacientes foram identificados, e Bolsonaro não está entre eles. Porém, segundo o governo local, as identidades de outros dois são mantidas em sigilo. Os dados sobre os doentes foram entregues depois de a Justiça Federal determinar a apresentação da lista para que, com isso, o Distrito Federal pudesse acompanhar a evolução da pandemia no seu âmbito e traçar políticas públicas.​ Questionado pela Folha, o Governo do Distrito Federal confirmou que há “alguns” integrantes do governo entre os 15 identificados, mas informou que, seguindo o protocolo da Secretaria de Saúde, a lista não será divulgada.
FERNANDO SCHÜLER - *”É falsa dicotomia imaginar contradição entre 'salvar vidas' e 'proteger a economia'”*
*”Entenda os limites de Bolsonaro para controlar ações de estados e municípios”*
*”NY convoca exército de voluntários para lidar com riscos mentais da pandemia”*
*”Hospitais nos EUA adiam até transplantes para abrir espaço a pacientes de coronavírus”*
*”Em 24 horas, 405 mil se voluntariam para ajudar governo britânico a combater pandemia”*
*”Ao combater restrições, Bolsonaro se isola até entre aliados, como EUA e Israel”* - Ao minimizar os riscos do coronavírus e se insurgir contra medidas de isolamento social, o presidente Jair Bolsonaro fica falando sozinho mesmo dentro de sua família política global, a da direita populista. Os líderes mais próximos a Bolsonaro adotaram ações em linha com as recomendações de infectologistas e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que restringem severamente a livre circulação e a atividade econômica. Alguns aproveitaram para tentar ganhar pontos políticos e fazer avançar suas agendas antiliberais. Um exemplo disso vem de Israel, onde o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu decretou algumas das medidas mais duras em todo o mundo contra a doença. Elas incluem a proibição de que moradores se distanciem mais de 100 metros de suas casas, exigência para que patrões tomem a temperatura de seus funcionários constantemente e limite de um passageiro apenas por táxi. Apenas o comércio de bens essenciais está liberado. O premiê declarou que não será possível evitar o completo fechamento do país se não houver rápido declínio do número de infectados, atualmente em 2.400, com cinco mortes. Netanyahu luta pela sobrevivência política, pois fracassou em três tentativas de formar um governo após eleições no último ano. Com o risco de perder o poder para o centrista Benny Gantz, usou a doença para propor um governo de união nacional e assim "salvarem dezenas de milhares de vidas". Gantz, por ora, não mordeu a isca.
Anfitrião de Bolsonaro numa recente visita, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi determinou nesta terça (24) o maior confinamento do planeta, para 1,3 bilhão de pessoas. Houve fechamento de comércio e de escolas, proibição de chegada de voos comerciais e bloqueio de fronteiras. "A única maneira de nos salvarmos do coronavírus é não deixarmos nossas casas. Aconteça o que acontecer, ficaremos em casa", afirmou Modi, que lidera uma sigla nacionalista hindu. Há um temor, porém, que o premiê use as medidas para reprimir seus críticos. Na terça, por exemplo, a polícia usou bombas de gás para impedir a realização de um protesto pacífico contra o governo. A explicação oficial foi que o ato não poderia ocorrer por razões sanitárias. Além disso, há relatos de ataques recentes pelo país contra estrangeiros e jornalistas —ambos são alvos comuns em discursos de Modi.
Nos EUA, o presidente Donald Trump também adotou medidas de restrição, mas passou a dar declarações de que o país precisa ser reaberto para os negócios e chegou a dar uma data hipotética para isso: o domingo de Páscoa, dia 12 de abril. "Seria um cronograma bonito", disse ele. As medidas nos EUA incluem restrições a reuniões com mais de dez pessoas, bem como viagens e idas a bares, restaurantes e praças de alimentação. O presidente americano mudou o tom sobre as restrições em razão do impacto econômico do isolamento, que podem comprometer sua campanha à reeleição. Sua defesa de flexibilização das regras tem servido de modelo para Bolsonaro.
Outro aliado próximo do presidente brasileiro, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, fechou fronteiras para viagens particulares, além de escolas e lojas no período entre 15h e 6h. À frente de um regime com instintos autoritários, Orbán tentou obter do Parlamento a aprovação de um decreto de estado de emergência por tempo limitado, durante o qual seu governo teria poderes extraordinários. A ideia foi rechaçada pelos parlamentares, no entanto. O húngaro também aumentou a retórica anti-imigração, uma marca de seu governo. Mirou sobretudo iranianos que entraram no país. "Nossa experiência é que estrangeiros primordialmente trouxeram a doença, que está se espalhando entre eles", afirmou, em 13 de março. Casos de contaminação por húngaros, no entanto, enfraqueceram esse argumento. Ainda na Europa, o premiê polonês, Mateusz Morawiecki, também populista, vetou proibição de reuniões com mais de duas pessoas, com exceção de encontros familiares. A população toda foi confinada, com exceção de atividades essenciais. Quem desobedecer as regras de isolamento pode receber multa equivalente a até R$ 35.775. Na República Tcheca, também houve fechamento de escolas, universidades, hotéis, piscinas públicas, cassinos, praças de alimentação e do comércio em geral, com exceção de pet shops, mercados, lojas de eletrônicos e farmácias. O premiê Andrej Babis decretou estado de emergência e obrigou o uso de máscaras para qualquer pessoas que saia na rua. "O mundo inteiro está lidando com uma pandemia gigantesca. Todos nós estamos apenas aprendendo como reagir", disse.
Na América do Sul, onde os aliados de Bolsonaro são escassos, dois líderes próximos a ele também adotaram medidas que o brasileiro critica. O paraguaio Mario Abdo Benítez fechou aeroportos e fronteiras e suspendeu eventos públicos e aulas nas escolas. Já a boliviana Jeanine Añez, que ocupa interinamente a Presidência desde a saída do cargo de Evo Morales e conta com apoio do Itamaraty, proibiu a circulação de veículos públicos e privados, com exceção de transporte de suprimentos. A população tem de ficar em casa, com apenas uma pessoa por família autorizada a sair para comprar comida e remédio. Além disso, a eleição presidencial que estava marcada para 3 de maio foi adiada.
*”Suécia contraria tendência global com método menos restritivo contra coronavírus”* - A Suécia se tornou uma exceção na reação à pandemia de coronavírus, mantendo escolas abertas e adotando menos restrições, enquanto embarca em um "enorme experimento", segundo um especialista em saúde do país escandinavo. Desde que o Reino Unido entrou em quarentena, na noite de segunda-feira (23), a Suécia é o maior país europeu com menos limites sobre aonde as pessoas podem ir e o que podem fazer. As escolas para crianças até 16 anos estão funcionando, muitas pessoas continuam indo trabalhar, e trens e ônibus lotados foram relatados nesta semana na capital, Estocolmo. Por outro lado, as autoridades do país proibiram reuniões públicas com mais de 500 pessoas, fecharam universidades e aconselharam os trabalhadores a ficar em casa, caso seja possível. Na terça (24), ordenaram que restaurantes e bares só sirvam pessoas nas mesas, e não no balcão.
A mídia sueca trouxe muitas reportagens sobre milhares de pessoas reunidas nas estações de esqui, que até sábado (21) mantinham sua vida noturna em funcionamento. O vírus já se propagou com facilidade em resorts de montanha na Áustria e na Itália. Johan Carlson, chefe do departamento de saúde da Suécia, defendeu na semana passada essa abordagem, dizendo que o país "não pode tomar medidas draconianas que têm um impacto limitado na epidemia, mas derrubam as funções da sociedade". Mas admitiu que o número de pessoas que morrem anualmente na Suécia, 90 mil, "aumentará significativamente" se o sistema de saúde do país ficar sobrecarregado. Houve pouco mais de 2.500 casos de Covid-19 relatados na Suécia, e 44 mortes até a tarde desta quarta (25). Na Itália, o país mais afetado da Europa, foram 6.820 mortes. "O futuro ainda parece administrável", disse Anders Tegnell, epidemiologista do governo sueco que se tornou uma das faces públicas da epidemia.
Ele afirma que as escolas precisam ficar abertas para oferecer cuidados aos filhos de trabalhadores da saúde, comentando que os jovens parecem ter índices de infecção muito mais baixos. Mas um número importante de especialistas em saúde do país discordam. Tegnell enfrentou uma avalanche de críticas depois que detalhes da tática adotada contra o vírus vazaram na TV sueca no fim de semana. Joacim Rocklov, epidemiologista da Universidade de Umea, disse que as autoridades estão assumindo enormes riscos com a saúde pública quando ainda se conhece pouco sobre o coronavírus. "Não vejo por que a Suécia deve ser tão diferente dos outros países. É um enorme experimento", disse ele ao Financial Times. "Não temos ideia —pode dar certo. Mas também pode ir loucamente na direção errada." As autoridades suecas disseram não seguir explicitamente uma estratégia de "imunidade de rebanho", quando um grande segmento da população contrai o vírus para que a sociedade produza imunidade. O principal assessor científico do Reino Unido sugeriu na semana passada que o país havia adotado essa abordagem, antes que o governo recuasse. A Suécia, ao contrário, busca desacelerar a disseminação da infecção e garantir que seu sistema de saúde não fique superlotado. O ex-primeiro-ministro Carl Bildt diz que a situação nas ruas de Estocolmo mudou "drasticamente" nas últimas semanas, apesar da falta de restrições legais, com muito menos pessoas saindo de casa. Mas Rocklov disse que ainda não se sabe por quanto tempo a imunidade à Covid-19 vai durar. "Há um grande risco de que a Suécia tenha de entrar em quarentena quando o sistema de saúde entrar em crise." A abordagem descontraída do país contrasta com seus vizinhos nórdicos. Dinamarca, Noruega e Finlândia fecharam escolas, trancaram as fronteiras e impuseram outras restrições. O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, de centro-esquerda, pediu que cada um faça sua parte para conter a disseminação do vírus, deixando de visitar parentes idosos e trabalhando em casa, por exemplo.
Ele usou um pronunciamento nacional na televisão no domingo (22) para advertir que medidas mais restritivas poderão ser adotadas, admitindo que os próximos meses serão difíceis. "Há poucos momentos cruciais na vida quando você tem de fazer sacrifícios, não só pelo seu próprio bem, mas também para assumir a responsabilidade pelas pessoas ao seu redor, por seus semelhantes e por seu país. Esse momento é agora. O dia é hoje. E esse dever cabe a todo mundo", disse. A estratégia da Suécia também foi criticada por outro motivo, com alguns afirmando que o dano que poderá causar à economia é alto demais. Kerstin Hessius, uma importante gestora de fundos, é um dos que afirmam que o país pode estar trocando um desastre por outro ainda pior. Suas opiniões provocaram uma resposta de Leif Ostling, ex-CEO da fabricante de caminhões Scania, que a acusou de viver em uma "bolha financeira". Ele pediu que a Suécia não seja cínica e mantenha seu "ponto de vista humanista". Rocklov disse que é uma "discussão válida" se as medidas destinadas a salvar vidas podem causar ainda mais danos. Mas ele também afirmou que as autoridades suecas não estão dando informação suficiente para que as pessoas formem sua própria opinião. "Cada vez mais especialistas se sentem desconfortáveis com essa condução. Não está permitindo um debate aberto. Está mais tentando forçar as pessoas a ficarem quietas."
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*”Censura à imprensa e às redes sociais na China facilitou pandemia, defende Repórteres sem Fronteiras”*
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*”Não podemos deixar de cuidar das pessoas porque estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores, diz Maia”* - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atribuiu nesta quarta (25) a pressões do mercado financeiro os movimentos em defesa do fim de medidas menos rigorosas de enfrentamento à pandemia do coronavírus. "A gente não pode deixar de cuidar das pessoas porque as pessoas estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores", disse Maia em reunião do fórum de governadores, que reuniu gestores de 26 estados. O deputado pediu aos governadores que elenquem projetos prioritários para análise do Legislativo que tenham impacto econômico de curto prazo no combate à pandemia do coronavírus e sugeriu que os governadores não entrem no debate sobre romper as medidas de isolamento social nos estados. "Acho que a gente tem que sair desse enfrentamento sobre abrir ou não abrir, sair do isolamento ou não sair, porque isso nada mais é do que a pressão de milhares de pessoas que aplicaram seus recursos na Bolsa, acreditaram no sonho, na prosperidade da Bolsa a 150 mil pontos. Ela está a 70 mil por vários problemas. E a gente não pode deixar de cuidar das pessoas porque as pessoas estão perdendo dinheiro na Bolsa de Valores", disse. "Porque esta é a pressão que vem acontecendo, do meu ponto de vista, nos últimos quatro, cinco dias. Começou com aquele jornal Brazil Journal e aí foi ampliando, a gente foi vendo parte do mercado caminhando... mas eles são assim, né. Eles vivem de estatística. Todos nós, que fazemos política, vivemos das vidas. Então é isso que nós temos que saber equilibrar, a vida com os empregos", continuou o presidente da Câmara.
A reunião da qual participou Maia foi proposta na noite de terça (24) por governadores logo após o pronunciamento de Jair Bolsonaro em cadeia de rádio e televisão no qual o presidente defendeu o fim do isolamento social. Em seu discurso, Bolsonaro atacou governadores, a imprensa, e criticou medidas como o fechamento de escolas e comércios. Diversos estados têm adotado medidas que restringem a movimentação de pessoas pela tese, defendida por especialistas, de que as iniciativas podem conter a transmissão do vírus.​ Maia foi chamado ao encontro porque governadores avaliaram que precisavam estabelecer um canal direto com o Legislativo, onde projetos de seus interesses serão votados, em meio a um desgaste profundo na relação com o governo federal. Após participar da reunião com os chefes de Executivos estaduais, em coletiva na noite desta quarta (25), Maia reforçou seus argumentos sobre a pressão do mercado financeiro. “O que eu acho que está acontecendo é que está tendo uma pressão muito grande de investidores preocupados com as suas perdas que querem impor ao Brasil, aos brasileiros, uma realidade que não está acontecendo em nenhum país do mundo”, afirmou.
Para o deputado, colocar a vida de brasileiros em risco por causa da pressão desses investidores é um equívoco. “Acredito que a vida de cada um de nós, os empregos dos brasileiros, nada disso pode virar uma mera estatística na mão daqueles que têm interesse legítimos, mas têm interesses em investimentos de risco e especulação e que precisam entender que o risco é para você ganhar e é para você perder”, afirmou. Maia ressaltou ainda que o governo precisa oferecer à sociedade previsibilidade. Desta forma, seria possível avaliar, junto com governadores, se já é o momento adequado para sair do isolamento ou se é preciso manter a restrição.​ Na reunião, Maia ainda disse que o Executivo prometeu editar até no máximo esta quinta (26) a nova medida provisória que vai regulamentar a suspensão do contrato de trabalho tendo o seguro-desemprego como contrapartida aos trabalhadores durante o a pandemia do novo coronavírus. O deputado contou que avisou o governo que se o prazo não fosse cumprido, o próprio Congresso legislaria sobre a questão. "[O governo] Prometeu e eu disse a eles que se não acontecesse isso, o Congresso ia legislar porque a gente não podia deixar esse assunto ficar avançando sem uma solução. Fica parecendo que eles estão esticando a corda exatamente para que parte da sociedade acabe indo para a rua e fique num estado de maior pânico em relação aos próximos passos", disse.
Maia pediu aos governadores que separassem as medidas de curto prazo e médio prazo e enviassem a ele três propostas prioritárias. "Vocês sabem que o ambiente do Parlamento também com o governo não é dos melhores, então tudo o que nós pudermos em conjunto organizar no curto prazo facilita muito", afirmou o deputado. O presidente da Câmara disse que o Congresso tentaria votar nesta quarta (25) o projeto do governo de fazer um envio mensal a trabalhadores informais, mas que o valor a ser previsto será maior do que os R$ 200 propostos pelo governo. Deputados e senadores defendiam um repasse de no mínimo R$ 500 aos informais durante o estado de emergência decretado pelo governo diante da pandemia do coronavírus. O chamado plano Mansueto, que propõe o socorro financeiro da União em troca da adesão de estados a medidas de ajuste fiscal, foi elencado pelos governadores como uma prioridade para ser votada pelo Parlamento neste período. Segundo Maia, o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, responsável pelo projeto, ficou de mandar até esta quinta (26) a versão final da proposta para que a Câmara tente votá-la até a semana que vem.
PAINEL S.A. - *”Postura de Bolsonaro afasta empresários aliados”*: A postura recente de Bolsonaro diante da pandemia foi mal recebida até entre alguns empresários próximos ao presidente e que também estão ansiosos pelo fim da quarentena. A avaliação do líder de uma grande multinacional é que o empresariado topou se aliar a um político de perfil radical para tirar o PT, mas, com a economia evaporada, ele vai perdendo seu valor. A Lava Jato não está nas manchetes e o sonho da agenda liberal que seduziu as elites foi colocado de lado. Para um alto executivo, o isolamento vertical desejado pelo presidente, só para idosos e pessoas com doenças prévias, não salva o PIB nem poupa a população de adoecer. Pelas suas previsões, só vai criar problemas para as fábricas organizarem os funcionários em licença médica. Vácuo de poder foi uma expressão ouvida com frequência nas conversas entre grandes empresários nesta quarta-feira (25), quando questionados sobre como estão vendo a condução desta crise pelo governo.
Gabriel Kanner, presidente do grupo Brasil 200, afirma que Bolsonaro não conseguiu criar um clima de segurança para a população no pronunciamento de terça (24). Ele diz que a crise não pode ser menosprezada e que o país precisa de seriedade e responsabilidade dos líderes. “A gente precisa exigir do presidente uma postura de líder da nação. Ele não apresentou isso. Por mais que eu concorde com o direcionamento, de evitar um colapso econômico, a forma como ele se comunicou não passou segurança à população. Essa foi a maior falha do pronunciamento”, afirmou Kanner.
PAINEL S.A. - *”Só 11% das micro e pequenas empresas têm capital de giro para atravessar um mês”*
PAINEL S.A. - *”CNT quer entrar com ação no STF para garantir transporte de cargas”*
PAINEL S.A. - *”Herdeiro do Giraffas perde cargo na rede após vídeo sobre desemprego no coronavírus”*: Carlos Guerra, presidente e fundador da rede Giraffas, publicou um vídeo nesta quarta-feira (25) informando que seu filho, Alexandre Guerra, deixa de ser acionista da rede após gravar um vídeo dizendo que funcionários deveriam ter mais medo de perder o emprego do que de contrair o coronavírus. Alexandre também perdeu seu cargo no conselho de administração da companhia. "Alexandre Guerra é meu filho e fez gravações de vídeo que nós não concordamos e pedimos que não fosse conectada ou vinculada ao Giraffas. Infelizmente, por motivos óbvios, isso aconteceu", diz o fundador na gravação. O herdeiro recebeu uma avalanche de críticas na internet após divulgar um vídeo falando sobre os impactos do coronavírus na economia e nos negócios. "Você que é funcionário, que talvez esteja em casa numa boa, numa tranquilidade, curtindo um pouco esse home office, esse descanso forçado, você já seu deu conta que, ao invés de estar com medo de pegar esse vírus, você deveria também estar com medo de perder o emprego?", foi a fala de Alexandre que causou polêmica na internet. À coluna Painel S.A., Alexandre disse que não estava falando em nome do Giraffas, e sim de uma rede de empreendedores da qual ele participa. Alexandre foi candidato do Partido Novo ao governo do Distrido Federal nas eleições de 2018.
Na gravação desta quarta, o pai afirma que o Giraffas não apoia este governo, nem qualquer outro. Também diz que não autoriza outro porta-voz da empresa, a não ser ele próprio, a dar declarações em nome da rede. Segundo o fundador, a empresa deu férias coletivas aos funcionários, e eles terão seus empregos garantidos quando retornarem ao trabalho. "Em relação à crise em si, nós estamos concordando e obedecendo as autoridades médicas responsáveis de ficarmos em casa, de obedecermos esse isolamento até que o nosso sistema e saúde seja capaz de determinar uma política diferente", afirma ele.
PAINEL S.A. - *”Ministério Público investiga denúncias de exposição ao vírus no trabalho”*
PAINEL S.A. - *”Em meio ao coronavírus, corretoras de bitcoin sentem alta na demanda”*
PAINEL S.A. - *”Venda de vitamina C dispara nas farmácias após o coronavírus”*
*”Bolsonaro e Maia politizam temor de empresários com risco econômico do vírus”*
*”Governo atende a quase todos pleitos da indústria em MP trabalhista e deixa centrais de fora”* - No pacote de medidas emergenciais para evitar demissões em massa, o governo atende quase todos os pedidos de empresários, cuja proposta foi apresentada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) dias antes da flexibilização de normas trabalhistas durante a crise causada pelo novo coronavírus. Outras ações que já foram apresentadas pela equipe econômica, mas ainda não efetivadas, como a redução de jornada e de salário em até 50%, também estão na lista da entidade patronal. De 13 medidas trabalhistas solicitadas pela confederação, ao menos 11 foram atendidas --total ou parcialmente. As outras duas estão em estudo. Somente no mês de março, representantes da CNI participaram de seis reuniões com membros do Ministério da Economia. A mais recente foi com o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, na quarta-feira (18). Naquele dia, foi lançado o pacote de propostas da entidade para atenuar os efeitos da crise. Centrais sindicais, porém, dizem que não foram chamadas para dialogar. Segundo o governo, a flexibilização das normas trabalhistas visa preservar os empregos e proteger a economia do país. "Nenhuma decisão foi tomada sem análises exaustivas das áreas técnicas e jurídicas", afirmou, em nota, o Ministério da Economia. A CNI disse que encaminhou as propostas a representantes do Executivo e do Legislativo. A entidade afirmou ainda que não participou das discussões para a elaboração da MP.
Para a confederação, as ações anunciadas estão em linha com as sugestões da indústria. "As medidas devem ter como norte a preservação das atividades produtivas, acompanhadas de medidas que contribuam com a preservação de empregos e de assistência financeira para os trabalhadores, de forma a mitigar os impactos sociais da crise causada pela pandemia", afirmou em nota. Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assinou uma MP (medida provisória) alterando regras da relação entre empregador e empregado. Por ser uma MP, as alterações na lei já passam a valer imediatamente, mas precisam do aval do Congresso em até 120 dias. O texto trata de teletrabalho, antecipação de férias individuais, concessão de férias coletivas, aproveitamento e a antecipação de feriados, compensações do banco de horas e a suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho. Todos esses tópicos constam da cartilha da CNI. A ideia, segundo empresários e técnicos do governo, é reduzir etapas de negociação para que medidas emergenciais possam ser adotadas pelos patrões no curto prazo --antes do agravamento da crise.
Centrais afirmam que o acordo individual (sem intermediação dos sindicatos) e decisões unilaterais das empresas enfraquecem o poder de negociação do trabalhador. A MP permite, por exemplo, que o empregador antecipe as férias do funcionário durante a crise do coronavírus, mesmo que o trabalhador não tenha completado o período mínimo para ter direito ao descanso. Em outro artigo, o governo quer que, por 180 dias, a fiscalização de auditores do trabalho seja apenas para orientação --sem multas, exceto em casos excepcionais, como situações de grave risco, acidente de trabalho fatal e condições análogas à escravidão. A entidade patronal pediu pela suspensão de aplicação de multas trabalhista relacionadas a medidas extraordinárias adotadas pela empresa no enfrentamento da crise. "Isso tudo num momento em que todos os esforços da área de segurança e saúde deveriam estar sendo empreendidos no combate ao coronavírus", afirma o Sinait (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho). O governo flexibilizou também as regras para compensação do banco de horas, com saldo positivo ou negativo para o trabalhador. No caso de horas devidas por causa do fechamento temporário da empresa, a jornada de trabalho poderá ter até duas horas adicionais. Para horas extra, a compensação poderá ser determinada pelo empregador, sem acordo com os funcionários.
A CNI queria que o banco de horas fosse fixado unilateralmente pela empresa, prevendo prazo de compensação de até dois anos. A compensação prevista na MP é de 18 meses. Esse item, portanto, foi atendido parcialmente. As novas regras do governo incluem --integralmente-- outros pleitos, como redução das exigências para implementar teletrabalho (não precisa estar em contrato prévio); suspensão de normas de segurança do trabalho, como treinamento; suspensão da exigência dos exames ocupacionais durante o período de crise; suspensão dos prazos para recursos de autos de infração trabalhista. Além disso, a MP deixa claro que a doença causada pelo novo coronavírus não se trata de doença do trabalho, exceto, segundo especialistas, nos casos de profissionais da saúde. O MPT (Ministério Público do Trabalho) afirmou ver "com preocupação a não participação das entidades sindicais na concepção de medidas e a permissão de que medidas gravosas sejam feitas sem a sua participação".
Outra medida provisória deve ser publicada pelo governo nesta semana para prever a redução de jornada e salário de forma proporcional em até 50%. Esse plano já foi anunciado pelo time do ministro Paulo Guedes. Hoje, a lei permite esse corte em até 25%. Representantes da indústria sugeriram a ampliação dessa margem para 50%. A CNI também sugeriu que o governo custeie salários de empregados afastados, em especial de micro e pequenas empresas. Essa medida está em estudo por Guedes. Assim como novas regras para o lay-off, que permite a suspensão do contrato de trabalho. O governo chegou a propor isso na MP editada no começo da semana, mas recuou por causa da repercussão ruim da medida. O Ministério da Economia afirmou que a ideia não era suspender o contrato sem que o trabalhador tenha uma contrapartida, como ajuda do governo e do patrão. Mas reconhece que a medida foi apresentada sem que todas as regras para o lay-off tivessem sido concluídas. Essa proposta também deverá voltar na nova medida provisória, mas deixando claro a garantia de que o trabalhador afastado terá uma renda no período de crise, que não poderá ser inferior ao salário mínimo (R$ 1.045).
VINICIUS TORRES FREIRE - *”Surge a melhor ideia para salvar empresas da morte na epidemia”*
*”Manter a população isolada é consenso entre economistas”* - Tema de discórdia entre políticos e empresários, a necessidade de isolamento da população na atual fase de disseminação da Covid-19 no Brasil parece ser consensual entre economistas, que defendem uma ação mais rápida, coordenada e menos ruidosa do governo. “Precisamos ouvir os epidemiologistas e tentar segurar essa primeira onda de propagação enquanto ganhamos tempo”, diz Rudi Rocha, professor da FGV-EAESP e diretor do Ieps (Instituto para o Estudo de Políticas de Saúde). “O que temos de mais precioso, agora, é o tempo.” A alternativa ao confinamento total (ou “lockdown” em inglês) seria adotar a estratégia bem-sucedida da Coreia do Sul, que conseguiu conter, rapidamente, a propagação do vírus, testando massivamente sua população e isolando apenas infectados e grupos vulneráveis. Um exemplo em pequena escala das medidas implementadas no país asiático foi transposto ao Brasil pela Samsung, multinacional sul-coreana. Tão logo a epidemia deu sinais de ganhar fôlego aqui, a empresa de tecnologia adotou medidas como manter “enfermeiros transitando entre os andares para a verificação de temperatura e o esclarecimento de dúvidas”, segundo assessoria de comunicação da Samsung informou à Folha. Logo em seguida, a empresa deu um passo além e instalou uma câmera infravermelha térmica, que monitora a temperatura de todos os funcionários e visitantes que chegam às suas dependências. “Dessa forma, pessoas com febre de 37,5ºC ou superior são orientadas por uma enfermeira que está presente no local e encaminhadas ao ambulatório para atendimento”, disse a Samsung em nota à reportagem.
O problema, segundo Tony Volpon, economista-chefe do UBS e ex-diretor do Banco Central, é que o Brasil não tem a tecnologia para implementar esse tipo de ação, em massa, imediatamente. Resta, portanto, ao país seguir o “lockdown” no estilo chinês, que também se mostrou eficaz no controle da epidemia, apesar de seu custo mais adverso para a economia. “As duas estratégias têm pontos positivos e negativos. O ‘lockdown’ tem a vantagem de ter um efeito muito rápido e implementação mais fácil”, diz. “Seu lado negativo é o custo econômico enorme do isolamento social, que recai mais fortemente sobre a população vulnerável, como os informais que sobrevivem de transação em transação e ficam sem renda ao precisar pará-las”, diz. Segundo ele, para limitar esses impactos adversos, é preciso que o Brasil faça “uma parada súbita, mas temporária”. Octavio de Barros, presidente do centro de pesquisa República do Amanhã e ex-economista-chefe do Bradesco e do BBVA, concorda. “Para mim, não há dúvidas de que o confinamento é necessário. O que o Brasil precisa é focar o planejamento do tempo de saída do isolamento, o mais rápido possível.” Ele destaca que isso não significa ignorar os efeitos negativos da pandemia, que, segundo ele, farão a crise global de 2008 parecer “café com leite”, mas agir para diminuí-los.
Acostumados a fazer suas análises e traçar seus cenários com base em evidências, os economistas ressaltam que não cabe discutir com os especialistas da área de saúde. “Os médicos e os dados disponíveis mostram que a doença é séria, requer uma taxa alta de hospitalização e gera mortalidade elevada em certos grupos de risco”, diz Rocha. Ele ressalta que o conjunto de informações e evidências sobre o coronavírus ainda é pequeno, dada a novidade da doença, mas tem crescido rapidamente. O volume de trabalhos, de todas as áreas, que citavam a palavra coronavírus saltou de 7.620, em 2018, para 8.730, em 2019, e 15.100 em 2020, até agora, no Google Acadêmico. Em um recorte mais específico, a revista britânica The Economist mostrou que o número de pesquisas apenas do segmento de saúde mencionando o vírus aumentou de 755, em 2019, para 1.245 nos primeiros 80 dias deste ano, segundo a PubMed, ferramenta de busca da área biomédica. “A produção de conhecimento sobre o tema tem sido impressionante e, em breve, poderemos tomar ações mais bem embasadas”, diz Rocha. Enquanto isso, não ocorre, é natural que empresários e a sociedade como um todo estejam ansiosos, segundo Barros. “Afinal, essa epidemia vai alterar totalmente a ordem mundial”, diz o economista.O papel do governo neste momento, segundo Barros, Volpon e Rocha, deveria ser o de reduzir as incertezas e coordenar as ações que permitam ao país sair, rapidamente, da fase mais restrita da quarentena. “O que advogo é que o país comece como a China e termine, o mais rapidamente, possível como a Coreia do Sul”, afirma Volpon.
Para isso, os três economistas afirmam que é fundamental que o governo mostre à sociedade que está tomando as medidas necessárias para a volta gradual do país à normalidade e para a proteção de indivíduos e empresas mais vulneráveis. A demora no anúncio de ações específicas – como medidas efetivas para garantir renda aos informais e crédito aos pequenos empresários –, tem, no entanto, causado preocupação. “O debate deveria ser pragmático, mas está ficando cada vez mais politizado. Não vejo articulação entre as pastas de Saúde, Economia, governos estaduais e o federal”, diz Volpon. Rocha acrescenta que, para piorar, as contradições entre o que preconiza o Ministério da Saúde e o que tem dito o presidente Jair Bolsonaro aumentam as incertezas. “Um dos elementos cruciais para que a economia saia da crise que ocorrerá agora e entre em um ciclo virtuoso de recuperação é a coordenação de expectativas”. “Isso só acontecerá se as pessoas confiarem no governo e acreditarem, desde já, que o que estamos passando será transitório”, afirma o pesquisador. Mas, segundo ele, o país caminha na direção contrária a isso. “A coordenação de expectativas ainda não tinha acontecido de forma satisfatória com esse governo e, agora, isso tem se tornado mais crítico”.​
*”Brasil tem 7 milhões de informais no grupo de risco”*
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*”Bolsonaro vê atropelos em ações de Guedes no combate ao coronavírus”* - A pandemia de coronavírus gerou novo ruído entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro Paulo Guedes (Economia), o que aumentou seu desgaste junto ao Palácio do Planalto. Na semana passada, o presidente avaliou que o ministro se antecipou a ele na apresentação de medidas econômicas para enfrentar a doença. Isso incomodou Bolsonaro no momento em que ele tenta ganhar protagonismo no enfrentamento à crise de saúde. Nesta segunda-feira (23), uma MP (medida provisória) proposta pelo Ministério da Economia teve forte reação negativa na base bolsonarista. Foi necessário um recuo público. Para ministros palacianos, no episódio mais recente, Bolsonaro confiou em Guedes para fazer um aceno ao setor produtivo. A ideia era enviar, ​em seguida, uma nova MP prevendo a compensação do governo. A falta da contrapartida no texto inicial, no entanto, deixou a medida insegura e teve como resultado protestos no Poder Legislativo e críticas nas redes sociais.
No momento em que tem sofrido panelaços por sua postura diante da pandemia, Bolsonaro tem trocado acusações com adversários políticos e se indisposto com sua equipe ministerial. A perda de apoio, sobretudo nas redes sociais, alterou o humor do presidente, segundo auxiliares palacianos, e o levou a se irritar com decisões administrativas que até então não o incomodavam. Na segunda-feira (23), Bolsonaro até ensaiou um recuo no arrefecimento do discurso, mas, na noite desta terça-feira (24), voltou a atacar governos estaduais na tentativa de municiar a militância digital em sua defesa. Além de já ter discordado do ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), que se tornou o porta-voz no combate à doença, o presidente começou a demonstrar também incômodo com o "posto Ipiranga". Na semana passada, Bolsonaro reuniu nove ministros e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para discutir políticas de combate ao coronavírus. Logo após marcar a reunião, no início dela, no entanto, dois auxiliares presidenciais não estavam disponíveis: Mandetta e Guedes. O primeiro recebeu uma ligação da Presidência da República. Ele informou que estava em uma reunião no STF (Supremo Tribunal Federal) junto com a cúpula do Congresso Nacional. E, de acordo com relatos, foi cobrado por isso. O segundo era uma incógnita para o presidente. Já na reunião, Bolsonaro perguntou sobre o ministro da Economia. Ele foi informado que Guedes estava em uma entrevista à imprensa apresentando medidas econômicas contra o coronavírus. Naquele dia, Guedes anunciou um pacote que, com propostas que haviam sido divulgadas na semana anterior, significaria a injeção de R$ 147,3 bilhões na economia. Segundo relatos feitos à Folha, a ausência de Guedes causou mal-estar.
A reunião no Palácio do Planalto havia sido convocada justamente para discutir a necessidade de maior articulação no anúncio de iniciativas.

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