terça-feira, 10 de agosto de 2021

Bolsonaro põe tanques na rua entre Congresso e Supremo

 No clima de ditaduras antigas, as Forças Armadas marcaram para hoje um desfile de tanques, lança-mísseis e outros veículos na Praça dos Três Poderes sob a desculpa de entregar ao presidente Jair Bolsonaro um convite simbólico para exercícios militares que serão feitos pelas três Armas. Os blindados começaram a chegar à capital no início da noite de ontem. Não há nenhuma data comemorativa em particular, mas também está marcada para hoje a votação na Câmara da PEC do voto impresso, uma das bandeiras de Bolsonaro e que enfrenta a oposição de 15 dos 24 partidos na Casa. (Estadão)

Classificando-se como ‘chefe supremo’ das Forças Armadas, Bolsonaro usou as redes sociais para convidar os presidentes de STF, STJ, TSE, TST, TCU e deputados e senadores para assistir com ele ao desfile. (Folha)

Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o presidente negou a intenção de intimidar o Parlamento. “Encaro isso como uma trágica coincidência”, afirmou. “É bem verdade que essa operação acontece desde 1988 aqui em Goiás, então não é alguma coisa que foi inventada. Mas também nunca houve um desfile na Esplanada dos Ministérios, na frente Palácio do Planalto. Quero acreditar que este movimento já estava programado. Só não é usual. Não sendo usual, em um país que está polarizado, isso dá cabimento para que se especule algum tipo de pressão.” (Antagonista)

Eliane Cantanhêde: “A ordem para a Marinha desviar seus tanques e lançadores de mísseis para um desfile no centro da capital da República, esta terça-feira, horas antes da votação do voto impresso, partiu do Palácio do Planalto e do Ministério da Defesa — e, ao contrário da versão oficial, foi dada na sexta-feira passada. Foi uma ordem política, com relação de causa e efeito com a iminência da derrota de Bolsonaro no plenário da Câmara.” (Estadão)

Malu Gaspar: “O desfile de blindados pela Esplanada dos Ministérios foi exatamente o que Bolsonaro pediu ao então comandante do Exército, Edson Pujol, em março passado, no auge da crise que levou à demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e dos três comandantes das Forças Armadas. Na época, Pujol se negou a atender Bolsonaro, assim como Azevedo e Silva.” (Globo)

Para o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann, conta o Painel, o desfile é teatro promovido por Bolsonaro que demonstra mais fraqueza do que força. Para ele, além de amplificar a derrota do voto impresso, terá uma repercussão internacional desastrosa. E parlamentares de oposição pretendem fazer um ato de repúdio em frente ao Congresso na hora do desfile. (Folha)

O PSOL e a Rede Sustentabilidade recorreram ao STF contra o desfile, mas o ministro Dias Toffoli negou o pedido, afirmando que caberia ao STJ decidir. (G1)

Nas redes sociais, a comparação com os arroubos armamentistas da Coreia do Norte e da Venezuela dominou, com memes fazendo os piores trocadilhos com os nomes do ditador Kim Jong-un e de Bolsonaro. (Poder360)

Mas a comparação maior não tem graça nenhuma, como lembra Lauro Jardim. Em 23 de abril de 1984, o general Newton Cruz, comandante militar do Planalto, desfilou por Brasília montado num cavalo branco à frente de tanques e tropas. Dois dias depois o Congresso votaria a emenda Dante de Oliveira, que buscava restabelecer eleições diretas para presidente no Brasil. Antes da votação, João Figueiredo, último dos ditadores do regime de 1964, colocou a capital em Estado de Emergência. A emenda teve a maioria dos votos, mas não o suficiente para ser aprovada. (Globo)

Meio em vídeo. As Forças Armadas vão fazer um desfile para intimidar o Congresso Nacional quando decide sobre o voto impresso. Sabe qual vai ser o resultado? Nenhum. O Centrão não quer voto impresso porque se elege com o sistema como ele é hoje. Tampouco quer ditadura, porque Congressos não têm poder em ditaduras. Mas, aos poucos, ao ceder em tudo ao presidente, até numa tentativa de ameaçar o Legislativo, as Forças Armadas vão se tornando um exército de república das bananas. Confira o Ponto de Partida no YouTube.




Já era fim da noite, todo mundo estava distraído com os tanques bolsonaristas, quando a comissão especial da Câmara que analisava a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma eleitoral aprovou o relatório de Renata Abreu (Podemos-SP) com dois grandes retrocessos conflitantes. De um lado, o chamado distritão, que acaba com o voto proporcional e elege para o Legislativo os parlamentares mais votados, independentemente dos partidos, desconsiderando a votação total dos partidos como ocorre hoje. De outro, trouxe de volta as coligações proporcionais, nas quais partidos inexpressivos ganham espaços graças aos votos das legendas maiores com as quais se coligam. Outro jabuti incluído na última hora foi o fim da obrigatoriedade de partidos nacionais. Um partido pode existir somente numa região ou estado. O projeto muda ainda a forma como são escolhidos presidente, governadores e prefeitos, com “voto preferencial”, mas não para o pleito de 2022. Na votação em Plenário, prevista para quinta-feira, os deputados podem rejeitar partes da PEC. (Poder360)




O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresentou ontem uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro é acusado de divulgar ilegalmente dados de uma investigação da Polícia Federal que corre em segredo de Justiça. O inquérito apura, a pedido do próprio TSE, um ataque hacker em 2018 que atingiu a área administrativa da Corte, sem acessar o sistema das eleições. O vazamento alimentou ao longo do fim semana a máquina de notícias falsas das redes bolsonaristas. (G1)

Então... A Advocacia-Geral da União (AGU) e a Secretaria-Geral da Presidência responderam à notificação feita pelo STF a pedido da Rede para que Bolsonaro apresentasse provas de suas alegações de fraudes nas eleições de 2014 e 2018. Sem provas a apresentar, os órgãos alegaram que a ação do partido busca cercear a “liberdade de expressão” do presidente. (Globo)




O relatório final da CPI da Pandemia deve enquadrar o presidente Jair Bolsonaro por crime de responsabilidade na condução do combate à Covid-19, disse ontem em entrevista ao Roda Viva o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL). (UOL)

E o Ministério da Saúde colocou sob sigilo ao público documentos relativos ao contrato para a compra da vacina indiana Covaxin. O material já estaria com a CPI, mas, diante dos pedidos via Lei de Acesso à Informação, a pasta bloqueou os documentos alegando que o processo estava em andamento, mesmo depois de o contrato ser cancelado no final de julho. (UOL)

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