segunda-feira, 21 de junho de 2021

Meio milhão de mortos, centenas de milhares nas ruas

 Em março do ano passado, nem nos nossos piores pesadelos poderíamos imaginar algo assim, mas aconteceu. No sábado, o Brasil superou a marca de 500 mil mortos por Covid-19. Neste domingo, com 1.050 novos óbitos, chegamos ao total de 501.918. Meio milhão de pessoas com suas histórias e seus sonhos abreviados. E ainda não está próximo o fim. Segundo o médico Miguel Nicolelis, que previu a marca dos 500 mil neste semestre, a tendência é de que o Brasil ultrapasse os EUA no número de mortos devido ao ritmo lento da vacinação. A média móvel em sete dias, 2.063, é 24% maior que a dos 14 dias anteriores. (Globo)

O morticínio da Covid-19 é uma tragédia nacional, mas representa também 500 mil tragédias pessoais. Muitas famílias perderam seus arrimos, e sem eles viram sua renda cair a zero. “Não está fácil, tem sempre uma pendência, uma conta atrasada”, conta Júlia Rita Martins, que perdeu o marido e o filho, este vítima de outra doença. Mais importante do que o impacto econômico é a perda emocional de órfãos que precisam assimilar a tragédia. (Folha)

Dos 22 ministros que integram o governo federal, somente três manifestaram pesar pelas mortes e solidariedade às famílias: Marcelo Queiroga, da Saúde, Tereza Cristina, da Agricultura, e Gilson Machado, do Turismo. Os presidentes da Câmara, do Senado, do STF e do STJ também fizeram manifestações de pesar. Do presidente da República, nem uma palavra. (Poder360)

Não é normal a falta de reação do presidente da República — e não era assim. Acompanhe a reação dos antecessores de Bolsonaro perante tragédias nacionais. (Folha)

E agora? Veja o que preveem os especialistas para pandemia daqui para a frente. (G1)




O luto brasileiro não foi silencioso. No mesmo sábado em que passamos dos 500 mil mortos, centenas de milhares de pessoas, numa contagem conservadora, tomaram as ruas de 25 capitais, de Brasília e de outras 118 cidades brasileiras exigindo vacinas para todos e o impeachment de Jair Bolsonaro. Em São Paulo, nove quarteirões da Avenida Paulista foram tomados, enquanto, no Rio, a multidão ocupou toda a extensão da Avenida Presidente Vargas. (G1)

Confira fotos e vídeos das manifestações. (UOL)

Um fenômeno novo e importante nos protestos de sábado foi a presença de ex-eleitores de Bolsonaro. Os motivos que os levaram a votar no presidente foram diversos, mas, para a maioria, a gestão da pandemia motivou o arrependimento. Um deles, um empresário que preferiu não dar o nome para evitar “problemas na família”, disse que outros arrependidos teriam aderido se as manifestações não tivessem sido “convocadas pelo pessoal da esquerda”. (Folha)

E esse é o problema que os organizadores dos protestos encaram: como atrair o centro ou mesmo a direita não-bolsonarista. Para estes, há três empecilhos: o caráter eleitoral que veem nos protestos, a divergência em pautas econômicas e o fato de que muitos partidos desse campo têm integrantes que apoiam o governo, o que complica a adesão a um movimento por impeachment. (Folha)

Calado sobre as 500 mil mortes, Bolsonaro reagiu com ironia às manifestações, publicando no Twitter um vídeo de nove pessoas protestando contra ele sob a chuva em Paranaguá (PR). Não publicou, claro, imagem de qualquer uma das capitais. (Poder360)

Igor Gielow: “A rua dá sinais de que veio para ficar no panorama brasileiro com a renovada jornada de protestos contra Jair Bolsonaro. O fato de os atos terem coincidido com a macabra efeméride dos 500 mil mortos da Covid-19 no Brasil apenas ampliou o simbolismo deste sábado.” (Folha)




A médica Nise Yamaguchi decidiu processar o senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI da Pandemia, e o presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), por danos morais. Ela afirma que os senadores a humilharam e foram misóginos em seu depoimento. Alencar, em especial, lhe fez uma série de perguntas básicas sobre infectologia, que ela não soube responder, e a interrompeu continuamente. O presidente da Comissão, diz ela, foi cúmplice ao não contê-lo. Ela quer indenização de R$ 320 mil. (Folha)

Aziz negou que tenha havido misoginia e afirmou que a médica mentiu em seu depoimento. “Ela nos disse que foi a Brasília três vezes e a CPI detectou que ela foi 13 vezes, das quais oito ela pagou com dinheiro vivo. Ela tem muito mais a explicar do que eu. Eu estou tranquilo”, disse. (UOL)

Enquanto isso... A CPI já identificou 38 informações falsas ou distorcidas dadas durante depoimentos, a maioria pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. As contradições e mentiras de integrantes do governo, dizem membros da comissão, indicam uma estratégia para blindar Bolsonaro nos depoimentos. (Globo)




Aprovado a toque de caixa pela Câmara, o projeto que dificulta a punição de maus gestores públicos está agora no Senado. Uma curiosidade. Em cada quatro senadores, um responde a processo ou tem condenações por improbidade administrativa. Caso a lei retroaja, como defendem advogados, vai beneficiar esses parlamentares. (Estadão)




A primeira instância da Justiça Eleitoral peruana rejeitou o recurso da candidata derrotada Keiko Fujimori para invalidar cerca de 200 mil votos – quase cinco vezes a vantagem do vitorioso Pedro Castillo. A candidata conservadora insiste que houve fraude eleitoral, sem apresentar provas e já disse que vai recorrer ao equivalente peruano ao TSE. (Globo)

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