quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Dia de caos em Brasília

 No Senado, briga — a oposição rachou na CPI da Covid. No Planalto, apreensão à beira da quebra do teto de gastos. Em Brasília, o dia foi de caos, de indecisão. O Planalto parecia ter enfim dobrado a Equipe Econômica, forçando o grupo por uns ainda considerado liberal a aceitar o estouro no teto. Preparava uma festa para anunciar, no fim da tarde, o Auxílio Brasil no valor de R$ 400. Aí o mercado financeiro surtou. Inseguro, o governo cancelou o evento sem desistir do Auxílio que, se criado, não terá sido por crença na política social e sim para dar chance de reeleição ao presidente. Enquanto que a minutos dali, no Congresso Nacional, o conflito na CPI da Pandemia só aumentava. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou uma minuta do relatório que lerá hoje com todos os pontos que provocaram divergências. Por exemplo, principalmente: a acusação de que Bolsonaro é responsável por genocídio indígena e o indiciamento de 70 pessoas, sendo que a maioria sequer foi ouvida na comissão. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que escolheu Renan para a relatoria, está entre os mais críticos. Durante a noite os senadores combinaram tirar as acusações mais genéricas contra Bolsonaro, mas os conflitos não foram resolvidos. A quarta-feira será de tensão.




A estrutura do evento já estava montada e parte dos convidados chegava ao Palácio do Planalto quando o Ministério da Cidadania decidiu, de última hora, cancelar o lançamento do Auxílio Brasil, programa social substituto do Bolsa Família. A cerimônia estava marcada para as 17h de ontem, foi suspensa pouco antes. Na ocasião, o governo indicava a definição do valor do novo benefício para R$ 400 em 2022, acima dos R$ 300 previstos anteriormente. A notícia provocou ‘pânico’ no mercado financeiro e desconforto entre a ala política e a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Nos bastidores do governo, o clima é de derrota e insatisfação para a pasta de Guedes. A crítica dos técnicos é de que uma brecha aberta na regra que limita as despesas do governo pode “abrir a porteira” da irresponsabilidade fiscal e afetar a reeleição de Bolsonaro no ano que vem. (UOL Economia)

A notícia de que a equipe econômica cederia à ala política afetou o humor do mercado financeiro e levou a bolsa a chegar no menor nível desde março. A grande preocupação era de que o Auxílio Brasil levasse a um rompimento do teto de gastos, considerado a âncora fiscal do país. A instabilidade no mercado refletiu no Ibovespa, que fechou com queda forte, de 3,28% aos 110.672 pontos. O dólar comercial fechou na maior cotação desde abril, com alta de 1,33% e cotado a R$ 5,59. (InfoMoney)

Malu Gaspar: “A expressão de derrota do secretário da Fazenda, Bruno Funchal, era autoexplicativa. O principal auxiliar de Paulo Guedes no ministério da Economia nem tentou disfarçar a frustração com o anúncio, diante de dezenas de analistas de mercado e economistas que o viam falar no banco JPMorgan no final da tarde desta terça. A pergunta da economista-chefe do JP Morgan, Cassiana Fernandez, era inevitável: será que o anúncio do governo faria o ministério da Economia perder parte da equipe? A resposta de Funchal: ‘Estamos lutando pelo melhor. A gente tenta fazer o melhor, é só o que podemos fazer’.” (Globo)

Tereza Campello e Sandra Brandão. “A proposta enviada pelo governo Bolsonaro, além de frágil tecnicamente, é ainda ilegal. Estabelece um novo programa, sem definir o valor da linha de pobreza nem o valor dos benefícios, criando uma despesa continuada sem que se saiba o montante dela. (...) Um programa com 18 anos de existência, com custo fiscal baixo e impactos inquestionáveis está sendo extinto e, em seu lugar, propõe-se a incerteza. Há um crime em curso contra os pobres do Brasil, e o silêncio é ensurdecedor.” (Folha)




O dia tenso na CPI da Pandemia deu lugar a uma longa noite de costuras que culminou numa mudança importante no relatório de Renan Calheiros (MDB-AL) que será lido hoje: a retirada da acusação de genocídio contra o presidente Jair Bolsonaro. Esse era um dos 11 crimes atribuídos ao chefe do Executivo. Os senadores também pretendem trocar “homicídio” por “epidemia com resultado de morte”. Renan pede o indiciamento de outras 69 pessoas, incluindo os ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), os três filhos do presidente com mandato, parlamentares, funcionários públicos, pastores e empresários. Tudo ainda está em discussão. Dois dos filhos de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos (Republicanos) e o deputado Eduardo (PSL-SP) são acusados de comandar a divulgação de notícias falsas, e o primogênito, o senador Flávio (Patriota-RJ) é citado ainda por “advocacia administrativa”. Esse é outro ponto polêmico na minuta: a CPI ouviu apenas 28 das 70 pessoas indiciadas no documento, entre elas os filhos do presidente. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), acusada de incitação ao crime, disse que vai ao STF pelo direito de ser ouvida. (UOL)

A reação começou logo ao fim da sessão de ontem pelo próprio presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). “Bolsonaro cometeu crimes sérios na pandemia, mas genocídio não está entre eles”, diz o senador, que também não vê provas de advocacia administrativa contra o Zero Um. “A gente não tem por que, depois de seis meses de trabalho, chegar agora no final e colocar tudo a perder. Isso não passa pela cabeça de ninguém”, afirmou. (Globo)




Candidatos às prévias do PSDB, os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, abriram ontem a temporada de debates da (pré-)campanha eleitoral numa saia justa criada pelo terceiro candidato, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. Ele cobrou de Leite a declaração de apoio a Bolsonaro no segundo turno em 2018, com o gaúcho jogando a bola para Doria, que criou o termo BolsoDoria ainda a primeira rodada de votação. Os dois acabaram fazendo um mea culpa. Ao longo do debate, promovido pelos jornais Globo e Valor e mediado por Vera Magalhães, Doria e Leite louvaram as próprias gestões estaduais. O gaúcho defendeu o fim da reeleição, criada pelo PSDB, e o paulista prometeu acabar com as “emendas do relator” no Orçamento. Veterano do trio, Virgílio lembrou emocionado o combate a ditadura e enalteceu o legado do governo Fernando Henrique. (Globo)

Como em todo debate político, nem tudo é o que se diz. Confira o que é fake e o que é fato. (Globo)

Meio em vídeo. Existe espaço para este terceiro candidato? Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, descreve o jogo político e explica o porquê de não gostar da expressão terceira via. Confira o Conversas. (YouTube)




O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-GM), deve assinar na próxima semana a ficha de filiação ao PSD de Gilberto Kassab, que quer vê-lo candidato ao Planalto em 2022. Oficialmente o senador diz que a decisão não está tomada e que o primeiro a saber será ACM Neto, presidente do DEM – partido que, aliás, está em processo de fusão com o PSL. (Folha)

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