segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Os órfãos invisíveis da covid-19

 

EL PAÍS


"Hoje a gente vive uma vida triste, com uma ou outra coisa que deixa a gente alegre." No último dia 18, o depoimento de Giovanna da Silva, de 20 anos, emocionou a senadores e um intérprete de língua de sinais durante uma sessão da CPI da Pandemia que ouviu parentes de vítimas da covid-19. A jovem perdeu o pai e a mãe em um intervalo de apenas duas semanas, em julho deste ano. Desde então, assumiu a guarda da irmã de 11 anos e teve que desistir do sonho de cursar Medicina. É um exemplo de um efeito colateral da pandemia ainda difícil de mensurar, devido a lacunas nas estatísticas oficiais do Brasil: os órfãos do coronavírus, que além da dor, agora encaram o desamparo, mudam seus planos e até recorrem a doações, como relata Elida Oliveira. No mundo, uma estimativa do Imperial College aponta que 5 milhões de pessoas perderam seus pais durante a crise sanitária.

Os jovens também foram afetados em outra frente durante a pandemia: os estudos. A perda de familiares e o agravamento da crise econômica fizeram com que 5,5 milhões de pessoas em idade escolar no país deixassem de acompanhar as aulas durante a crise sanitária, segundo o Unicef. Eles precisaram arrumar empregos, cuidar de atividades domésticas ou enfrentar os obstáculos tecnológicos do ensino remoto. Em Fortaleza, um projeto mobiliza os próprios estudantes a tentarem mudar essa realidade. Eles saem em busca dos colegas desistentes para convencê-los a continuar os estudos. Vale de tudo: mensagens, cartas e até visitas. A repórter Beatriz Jucá acompanhou um dia dessa busca ativa. “A gente fica triste quando vê que não está conseguindo. Mas é tão feliz quando conseguimos trazer mais um", conta Samuel, de 19 anos, um dos participantes.

Nas Américas, além da pandemia, uma outra crise parece sair do controle: a criminalidade e o poder das gangues, vinculadas sobretudo ao narcotráfico. No Haiti, grupos violentos já assumem o vazio do Estado, substituindo autoridades em uma nação que vive em constante decomposição, como descreve de Porto Príncipe o repórter Jacobo García. A captura de um grupo de missionários norte-americanos é o mais recente reflexo do problema. Já no Equador, que declarou estado de exceção, o Exército foi mobilizado para ajudar a polícia a conter os episódios de violência nas ruas e nos presídios. Na sexta, o velocista Alex Quiñónez, um dos melhores atletas de pista do mundo, morreu assassinado a tiros em Guayaquil. Ele tinha 32 anos. No sábado, sete presos apareceram enforcados na mesma cadeia em que ocorreu um massacre que, há menos de um mês, matou 118 pessoas, conta Sara España.

O cabelo grisalho de Andie MacDowell revolucionou o tapete vermelho de Cannes neste ano. Uma decisão trivial —"é a minha visão estética, também não gosto como fica o cabelo tingido em um homem de 60", justifica— da atriz de Feitiço do tempo e estrela de campanhas da L'Óreal Paris durante décadas esquentou o debate sobre os padrões de beleza de mulheres e a aceitação, desigual entre gêneros, do envelhecimento. "Nossa sociedade é criada para glorificar as mulheres jovens. E acho que o mundo está preparado para permitir que as mulheres se sintam bonitas em qualquer idade", diz ela, aos 63 anos, em entrevista a Ana Fernández Abad.


Invisíveis, órfãos da covid-19 encaram a pandemia da dor e do desamparo
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Imperial College aponta que 5 milhões de pessoas perderam seus pais em todo o mundo na crise sanitária, número que no Brasil é incerto devido a lacunas nos dados oficiais. CPI deve propor pensão a crianças e jovens

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