sábado, 23 de maio de 2020

Análise de Mídia 23/05



CAPA – Manchete principal: *”Vídeo registra insultos, ameaças e a intervenção de Bolsonaro na PF”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Receita de recessão”*: A queda de quase 30% na arrecadação de impostos em abril, ante o mesmo mês de 2019, é um prenúncio do que ainda está por vir na economia —e também um lembrete importante de que a fragilidade das contas públicas exige critério nos gastos emergenciais para mitigar os impactos da pandemia. Segundo a Receita Federal, arrecadaram-se R$ 502 bilhões até abril, 7,9% abaixo do período correspondente do ano passado. Em relação à programação da autarquia, a diferença soma R$ 43 bilhões até agora, e a perda até dezembro pode chegar a R$ 134 bilhões. Embora a frustração da coleta, concentrada no mês passado, derive em parte de medidas do próprio governo, como o diferimento e a suspensão de alguns impostos, tudo sugere que o quadro demorará a melhorar. Com a falta de coordenação entre as várias esferas de governo, o país ainda registra crescimento acelerado de casos de Covid-19, o que pode atrasar a reabertura da economia. Pouco confiáveis a esta altura, projeções já apontam para retração superior a 5% do Produto Interno Bruto neste ano.
Enquanto isso, a combinação de receitas cadentes e gastos em expansão alarga o buraco nas contas públicas. O governo já revisou a previsão oficial de déficit primário (o saldo antes das despesas com juros) de R$ 161 bilhões para R$ 540 bilhões, mas técnicos estimam mais de R$ 700 bilhões. Em poucos meses, portanto, estará sendo revertida a maior parte da economia esperada com a reforma da Previdência nos próximos dez anos, na casa dos R$ 850 bilhões. O legado fiscal da pandemia será um salto na dívida pública, que deve passar de 75% para cerca de 95% do PIB. Por ora o país tem ao menos a vantagem dos juros baixos, mas isso decorre da gigantesca ociosidade —que, espera-se, será revertida mais adiante. Há cenários mais otimistas, decerto. Da mesma forma que o PIB caiu de forma abrupta, uma recuperação rápida não se mostra impossível, ainda mais com o auxílio orçamentário a famílias e empresas. Nessa hipótese, se a retração não se prolongar em demasia, poderá haver alta considerável do PIB no próximo ano. Para que isso aconteça, no entanto, o país não pode perder de vista que precisa reforçar as condições para que a taxa de juros permaneça baixa, inclusive as de prazos mais longos, que vêm subindo nas últimas semanas. Caberá às lideranças políticas dar sinais inequívocos de que não permitirão endividamento público descontrolado e, no limite, aceleração das expectativas de inflação. Será necessário um retorno à agenda de reformas em pouco tempo —e em dosagem mais ambiciosa.
PAINEL - *”Explicação de Bolsonaro sobre sistema particular de informações aumenta suspeita de vazamento de caso Queiroz”*: A declaração de Jair Bolsonaro nesta sexta (22) à Jovem Pan para tentar justificar o que seria seu sistema particular de informações foi considerada um tiro no pé por advogados criminalistas e ministros de cortes superiores. Ele afirmou que policiais são as fontes dos dados que recebe justamente no momento em que autoridades investigam a denúncia de Paulo Marinho de que a família do presidente soube antecipadamente de uma operação da Polícia Federal por um vazamento. A avaliação é a de que a fala do presidente aumenta a suspeita em cima do caso. A fala de Bolsonaro na reunião ministerial trouxe à tona de novo a desconfiança sobre um sistema de informação paralelo no governo. Para investigadores, o principal ponto que confirma que Bolsonaro fazia referência à PF do Rio é o fato de ele ter mencionado "amigos" no contexto, o que não é de responsabilidade da segurança oferecida pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional). O Painel perguntou se a pasta cuida de algum amigo do presidente, mas não houve resposta. Em agosto de 2019, Bolsonaro se irritou com uma investigação no Rio em que apareceu um homônimo de Hélio Negão, que é seu aliado. O presidente e Sergio Moro sustentavam que havia uma fraude, mas o Ministério Público disse que não viu problema no inquérito.
PAINEL - *”Políticos avaliam que divulgação de vídeo é positiva para Bolsonaro”*: Nos bastidores do meio político, a avaliação é que Jair Bolsonaro mais ganhou do que perdeu com a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. O material foi trazido à tona após acusações feitas por Sergio Moro. O ex-ministro apontou o encontro como prova do seu relato, de interferência do presidente na Polícia Federal. A íntegra, no entanto, mostra um Bolsonaro que xinga os contumazes adversários, como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), e fala do desespero das pessoas sem renda durante o isolamento. Para líderes do centrão, o vídeo não comprova as acusações de Moro e que, portanto, terá pouca repercussão no Congresso. Alguns deles falam que o presidente deveria guardar parte das declarações que deu no episódio para um programa eleitoral. A ex-aliada, que já chegou a defender a renúncia de Bolsonaro, Janaína Paschoal (PSL-SP), debochou no Twitter. "Eu não sei se eu estou vendo a fita que vinha sendo anunciada. Realmente não sei. A fita que eu estou vendo reelege o presidente.​"
PAINEL - *”Após denúncias, comunicação de Bolsonaro apaga postagem sobre eficácia da cloroquina para coronavírus”*: A Secretaria de Comunicação do governo Jair Bolsonaro apagou um tuíte publicado na quinta-feira (21) em que dizia que a "hidroxicloroquina é o tratamento mais eficaz contra o coronavírus atualmente disponível". Estudos científicos diversos têm mostrado que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina não tem eficácia no tratamento do coronavírus e, mais que isso, pode estar relacionado a um aumento no risco de morte por problemas cardíacos, como arritmia. Mesmo assim, o governo Bolsonaro publicou novo protocolo para uso de cloroquina, ampliando sua possibilidade de aplicação também para pacientes com sintomas leves. "O Brasil ganhou mais uma esperança no tratamento do coronavírus. O Ministério da Saúde adotou um novo protocolo para receita da cloroquina/hidroxicloroquina. O medicamento, que já é adotado em diversas partes do mundo, é considerado o mais promissor no combate à Covid-19", dizia a mensagem apagada pelo Ministério da Saúde. No Twitter, centenas de usuários relataram ter denunciado a publicação como "incitação ao suicídio", na tentativa de que a plataforma excluísse o conteúdo. No entanto, antes que o Twitter tomasse qualquer decisão, a Secom presidencial apagou a mensagem.
PAINEL - *”Delegado que iniciou Lava Jato deixa chefia da área de corrupção da PF”*
PAINEL - *”Huck diz que nomeação de criminalista para o Ministério da Saúde mostra que Brasil está descoordenado”*: O apresentador de TV e presidenciável Luciano Huck publicou uma mensagem nas redes sociais em que elenca razões para mostrar que o Brasil está sem controle no governo Jair Bolsonaro. Entre elas, ele aponta a nomeação de um advogado criminalista para o Ministério da Saúde.
“Fatos...Ministros técnicos e competentes fritados em meio à pandemia. Ministérios aparelhados. Cloroquina no tratamento da doença sem amparo da ciência. Um advogado criminalista como assessor especial da Saúde. O Brasil está descoordenado.” @LucianoHuck
Como mostrou o Painel, tornou-se um mistério na pasta a nomeação do criminalista Zoser Hardman de Araújo. Em sua trajetória, o advogado defendeu milicianos do Rio, como Cristiano Girão, Wallace Pires (Robocop) e Ricardo Gildes (Dentuço). Além disso, também representou o ex-tenente da PM Daniel Benitez, condenado a 36 anos de prisão por ter sido um dos mentores do assassinato da juíza Patricia Acioli. O Painel procurou o ministro interino, general Eduardo Pazuello, a assessoria do Ministério da Saúde, Teich e o advogado, mas ninguém respondeu quem foi o responsável pela indicação.
*”Vídeo de Bolsonaro acirra ânimos com STF e reforça versão de ingerência na PF”* - Divulgado nesta sexta-feira (22), o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril mostrou grande preocupação de Jair Bolsonaro em ser destituído, tendo o presidente da República revelado, ainda, contar com um sistema de informação particular, alheio aos órgãos oficiais, reforçando as indicações de interferência política na Polícia Federal. O encontro, recheado de palavrões, ameaças de prisão, morte, rupturas institucionais, xingamentos e ataques a governadores e integrantes do Supremo Tribunal Federal, foi tornado público em quase sua integralidade pelo ministro do STF Celso de Mello. A gravação na reunião foi entregue pelo governo ao STF no inquérito que apura as acusações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), que deixou o governo acusando o chefe de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. No encontro, em que participaram Bolsonaro, ministros (incluindo Moro) e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, entre outros, o presidente da República diz que tem um sistema "particular" de informação que funciona bem, diferentemente dos órgãos oficiais, reforça bastante os indicativos de interferência na Polícia Federal para proteger familiares e amigos e usa reiteradas vezes a palavra "bosta" e congêneres para se referir a políticos como os governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ) —foram ao menos 37 palavrões, 27 deles proferidos pelo presidente.
Ações de combate à pandemia do coronavírus são tratadas de forma lateral no encontro. Bolsonaro também cobra de forma veemente lealdade de ministros, citando por diversas vezes as ameaças de que sofra impeachment, ameaça rupturas institucionais em relação a eventuais decisões de ministros do STF e defende que toda a população se arme para reagir a eventuais decisões de autoridades locais que ele considera serem ditatoriais. “Se reunindo de madrugada pra lá, pra cá. Sistemas de informações: o meu funciona. O meu, particular, funciona. Os ofi... que tem oficialmente, desinforma [sic]. Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, afirma Bolsonaro, não deixando claro qual sistema privado seria esse. Segundo interlocutores de Moro, a queixa de Bolsonaro era um ataque direto ao então titular da Justiça. O presidente teria requerido à equipe de Moro que levantasse dados de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia se reunido com outras autoridades numa madrugada para tramar um processo de impeachment. O então ministro disse a ele que o encontro não existiu. Diante disso, o presidente se irritou e disse que sua rede de informações privada era mais eficiente. Na sequência da reunião, Bolsonaro se queixa, em tom irritado, da falta de dados dos órgãos de inteligência e de uma suposta perseguição a irmãos. Daí, faz uma declaração central para o inquérito que apura se ele tentou, de fato, interferir indevidamente na Polícia Federal, especialmente na superintendência da corporação no Rio.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, bradou o presidente. Em depoimento, Moro afirmou que Bolsonaro se referia, naquele contexto, à mudança em alguns postos-chave da PF, ante sua preocupação com apurações em curso. O mandatário sustenta, contudo, que sua fala era a respeito da troca de equipes do Gabinete de Segurança Institucional, responsáveis por proteger seus familiares, versão que se enfraquece mais ainda com a divulgação do vídeo da reunião. Dois dias depois do encontro com os ministros no Palácio do Planalto, o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi demitido por Bolsonaro. O primeiro ato da nova gestão do órgão foi trocar o superintendente da corporação no Rio. Em outro trecho da reunião, Bolsonaro confirma o interesse em intervir na polícia, mas também em outros órgãos do Executivo. Ele cita “PF” (sigla de Polícia Federal) num contexto de insatisfação com a falta de informações de inteligência. E a relaciona entre os órgãos que seriam objeto de sua interferência. “A pessoa tem que entender. Se não quer entender, paciência, pô! E eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção.”
O conteúdo da reunião foi divulgado quase que na íntegra, apesar de a AGU (Advocacia-Geral da União) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) terem pedido a supressão da maioria dos trechos. Celso de Mello só manteve sob sigilo trechos em que há referência a outros países. Em relação aos políticos, Bolsonaro abusa de palavrões. "Que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade. O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo [Doria], esse estrume do Rio de Janeiro [Witzel], entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus [Arthur Virgílio] agora, abrindo covas coletivas. Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procura conhecer, que eu conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado!", diz o mandatário. A gravação vem à tona um dia depois de Bolsonaro se reunir em uma amistosa videoconferência com os governadores. Citando supostas atitudes arbitrárias de governadores e prefeitos, Bolsonaro defende armar toda a população. "Eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo!"
O tom ofensivo da reunião é replicado por ministros e auxiliares. Abraham Weintraub (Educação), por exemplo, diz que, se dependesse dela, colocaria "esses vagabundos todos na cadeia", em referência aos ministros do STF. Damares Alves (Família e Direitos Humanos) fala que sua pasta irá processar e pedir a prisão de governadores e prefeitos, que, segundo ela, estariam adotando ações arbitrárias no combate ao coronavírus. Os arroubos não se limitaram aos ministros. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que se um policial prendesse sua filha por descumprimento das regras de distanciamento social, poderia “matar ou morrer”. “Que porra é essa? O cara vai pro camburão com a filha. Se fosse eu, ia pegar minhas quinze armas e... ia dar uma... eu ia se... eu ia morrer. Porque se a minha filha fosse pro camburão, eu ia matar ou morrer.” Já Ricardo Salles (Meio Ambiente) propõe que o governo aproveite a crise sanitária para aprovar reformas infralegais, incluindo alterações ambientais. “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas.” As revelações desta sexta ficarão a cargo da análise do procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado ao cargo por Bolsonaro e autor, até agora, de manifestações favoráveis a interesses do Palácio do Planalto. A decisão de Celso de Mello tem 55 páginas e é a mais extensa proferida pelo ministro no inquérito. Ele decidiu liberar a divulgação do vídeo afirmando, entre outros pontos, que não há “espaço possível reservado ao mistério na vigência da Constituição”. Em nota, a defesa de Sergio Moro disse que a decisão é "avanço democrático" e vai "possibilitar às autoridades e à sociedade civil constatar a veracidade das afirmações do ex-ministro".
+++ A reportagem trabalha em um lugar jornalístico muito ruim. O texto diz que o vídeo “reforça o indício” de que Bolsonaro tenha tentado interferir na PF. Isso é muito vago para o jornalismo.
*”Bolsonaro reage a vídeo e diz que não há referência à interferência na PF”* - Em reação à divulgação de vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a revelação da gravação é "mais um tiro n'água" e que não há nela qualquer menção à interferência na Polícia Federal. "Cadê a parte do vídeo onde eu falo em [mudar] superintendência da Polícia Federal ou diretoria-geral que deve ser substituído? Não existe, eu falo da minha segurança pessoal", declarou Bolsonaro, em entrevista à rádio Jovem Pan no final da tarde desta sexta-feira (22). "[É] mais um tiro n'água, mais uma farsa desmontada, como tantas outras", declarou. O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu tornar pública a íntegra do vídeo da reunião ministerial citada pelo ex-ministro Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal como um indício de que o presidente Jair Bolsonaro desejava interferir na autonomia da P​olícia Federal. Bolsonaro também comentou a divulgação da gravação em suas redes sociais. Ele publicou um trecho do vídeo com a mensagem "mais uma farsa desmontada". "Nenhum indício de interferência na Polícia Federal", escreveu.
+++ Jair Bolsonaro tem características marcantes do “malufismo”. Ele afirma e reafirma a sua versão, seja ela um pouco ou muito mentirosa, distorça muito ou pouco os fatos, sempre com muita convicção. Convicção transparece verdade e faz com que seu público sinta-se bem em acreditar nele. Mesmo cercado, pressionado e diante do que os medias chamam de “tempestade perfeita”, Jair Bolsonaro mantém sua linha “terraplanista” e faz alterações pontuais que chegam a contrariar ou mudar o que ele achava antes, mas o presidente tem memória curta e seus seguidores também.
*”Em reunião, Bolsonaro chama Folha de 'bosta' e diz que demitirá quem for elogiado pelo jornal”*
*”Bolsonaro chama Doria de 'bosta' e Witzel de 'estrume' em gravação de reunião”* -
(...) Em rede social, Witzel disse que a "falta de respeito de Bolsonaro pelos Poderes atinge a honra de todos". "Sinto na pele seu desapreço pela independência dos Poderes. E espero que num futuro breve o povo brasileiro entenda que, do que ele me chama, é essencialmente como ele próprio se vê", afirmou. Doria disse que "o Brasil está atônito com o nível da reunião ministerial". "Palavrões, ofensas e ataques a governadores, prefeitos, parlamentares e ministros do Supremo, demonstram descaso com a democracia, desprezo pela nação e agressões à institucionalidade da Presidência da República", disse.
*”'Nosso barco pode estar indo em direção a um iceberg, pro fundo', diz Bolsonaro em reunião”* - Em uma defesa inflamada de seu governo, Jair Bolsonaro (sem partido) cobrou lealdade de seus ministros na reunião do dia 22 de abril, afirmando que sua gestão pode estar indo na direção de um iceberg. Ao dizer que não sofrerá impeachment por "frescura" ou "babaquice", deixou claro que pode haver uma crise institucional caso seja alvo de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de forma isolada. "O nosso barco tá indo, mas não sabemos ainda [...] esse vírus, pra onde tá indo nosso barco. Pode tá indo em direção a um iceberg. A gente vai pro fundo. Então vamos se ligar, vamos se preocupar. Quem de direito, se manifesta, com altivez, com palavras polidas, tá? Mas coloca uma posição! Porque não pode tudo, tudo, veio pra minha retaguarda, tudo tá? E vocês têm que apanhar junto comigo, logicamente quando tiver motivo pra apanhar, ou motivo pra bater", afirmou o presidente aos ministros. Essas palavras foram ditas logo após ele se referir à suposta libertação de estupradores em decorrência da Covid-19, indicando que cobrava uma postura mais firme de Sergio Moro. Seu então ministro da Justiça deixaria o governo poucos dias depois, acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. Em vários momentos, Bolsonaro fala da ameaça de sofrer impeachment e, ao mesmo tempo, cobra ação efetiva de seus ministros em sua defesa. "Acordem para a política e se exponham, afinal de contas o governo é um só. E, se eu cair, cai todo mundo". Ele ainda insinua rupturas institucionais ao afirmar que pode não aceitar eventual decisão desfavorável vinda do STF. "E, espero que eles não decidam, ou ele, né? Monocraticamente, querer tomar certas medidas porque daí nós vamos ter um... uma crise política de verdade. E eu não vou meter o rabo no meio das pernas. Isso daí... zero, zero. Tá certo? Porque, se eu errar, se achar um dia ligação minha com empreiteiro, dinheiro na conta na Suíça, porrada sem problema nenhum. Vai pro impeachment, vai embora. Agora, com frescura, com babaquice, não!"
Uma das frescuras que cita é a cobrança judicial para que apresentasse seus exames sobre a Covid-19. Ele indica ter receio de sofrer sanções por ter usado nomes de outras pessoas. "Paralelamente a isso tem aí OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] da vida, enchendo o saco do Supremo, pra abrir o processo de impeachment porque eu não apresentei meu... meu exame de... de ... de... de vírus, essas frescurada toda." Ao se dirigir aos ministros de forma geral, ele ressalta a importância de "cuidar da política", sempre no intuito de não ser destituído por meio de um processo de impedimento. "É cuidar do seu ministério nessas questões que estamos tratando aqui, é tratar da questão política também. Tá certo? Então é... essa é a preocupação temos que ter, porque a luta pelo poder continua. A todo vapor", afirma, classificando como "terreno fértil" para isso "o desemprego, caos, miséria, desordem social e outras coisas mais". "Não é 'tá bom?', o ministério fatura, 'deu merda?', no colo do presidente. Não pode ser assim", elogiando o ex-senador Magno Malta (ES), que chegou a ser cotado para ser seu vice ou ministro. "Politicamente, ele nunca me deu uma alfinetada e sempre tá defendendo, com os problemas que ele tem."
Bolsonaro prosseguiu afirmando que não deixaria de visitar regiões do país mesmo com a orientação de distanciamento social. "Por exemplo, quando se fala em possível impeachment, ação no Supremo, baseado em filigranas, eu vou em qualquer lugar do território nacional e ponto final! O dia que for proibido de ir... pra qualquer lugar do Brasil, pelo Supremo, acabou o mandato." O presidente menciona ainda sua ida a atos antidemocráticos e ressalta que irá cumprir o artigo 142 da Constituição, cuja interpretação equivocada é sempre citada por defensores da ditadura miliar. "Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. Ponto final. O pessoal tava lá, eu fui lá. Dia do Exército. E falei algo que eu acho que num tem nada demais. Mas a repercussão é enorme. 'Ó, o Al-5.' Cadê o Al-5? O AI-5 não existe, não existe ato institucional no Brasil mais. É uma besteira. Artigo um quatro dois. É um pessoal que não sabe interpretar a Constituição. Agora em cima disso fazer uma onda?", questiona Bolsonaro. O artigo 142 estabelece, em seu caput: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".
Segundo Bolsonaro, havendo necessidade, qualquer um dos Poderes pode recorrer ao artigo. "Pedir as Forças Armadas que intervenham pra restabelecer a ordem no Brasil, naquele local, sem problema nenhum. Agora, todos, né? Tem que se preocupar com a questão política, e a quem de direito, tira a cabeça da toca, porra! Não é só ficar dentro da toca o tempo todo não! 'Tô bem, eu tô cuidando da minha imagem, a imagem tá aqui, eu sou bonitinho, e o resto que se exploda'", exalta-se Bolsonaro. Nesse ponto, ele diz não ter amor pela cadeira de presidente ("Zero, zero!") e afirma que não está preocupado com reeleição. "Eu tô me lixando com a reeleição. Eu quero mais que alguém seja eleito, se eu vier candidato, tá? Pra eu ter... eu quero ter paz no Brasil, mais nada. Porque, se for a esquerda, eu e uma porrada de vocês aqui tem que sair do Brasil, porque vão ser presos. E eu tenho certeza que vão me condenar por homofobia, oito anos por homofobia." Na reunião, o presidente defende ainda que a população brasileira seja armada para que resistam à imposição de uma nova ditadura no país. Segundo ele, "é fácil impor uma ditadura no Brasil". "Por isso que eu quero que o povo se arme. Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui. Que é fácil impor uma ditadura. Facílimo", disse. "Por que eu estou armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura. E não dá pra segurar mais. Não é? Não dá pra segurar mais", acrescentou.
O ministro Paulo Guedes (Economia) também fala sobre possível impeachment de Bolsonaro, dizendo que "não tem jeito de fazer impeachment se a gente tiver com as contas arrumadas". "Todo mundo tá achando que tão distraído, abraçaram a gente, enrolaram com a gente. Nós já botamos a granada no bolso do inimigo. Dois anos sem aumento de salário. Era a terceira torre que nós pedimos pra derrubar. Nós vamos derrubar agora, também. Isso vai nos dar tranquilidade de ir até o final. Não tem jeito de fazer um impeachment se a gente tiver com as contas arrumadas, tudo em dia. Acabou! Não tem jeito. Não tem jeito", afirmou Guedes na reunião. Por diversas vezes em sua fala, Guedes trata a classe política como adversária e critica os que estejam interessados em questões eleitorais. Em resposta, Bolsonaro diz estar fora do pleito municipal inicialmente previsto para outubro deste ano, mas que deve ser adiado devido à pandemia. Ao falar sobre arrumar as contas, Guedes diz que eram necessários três passos para destruir o que ele chama de "três torres dos inimigos": corte de gastos previdenciários, corte dos juros e congelamento dos salários do funcionalismo público. Incomodado, Guedes fala que os governadores estão "querendo fazer a festa" e que alguns ministros, sem citar nomes, querem aparecer interessados em questões eleitorais. A menção é uma indireta a seu ex-auxiliar, o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), com quem divergiu recentemente sobre investimentos públicos como forma de saída da crise. "São governadores querendo fazer a festa, são às vezes ministros querendo aparecer, tem de tudo", disse. "Se a gente quiser acabar igual a Dilma, a gente segue esse caminho", afirmou Guedes.
*”Em reunião, Bolsonaro diz ter sistema de informações 'particular' e reclama de órgãos oficiais”*
*”Bolsonaro diz receber de agentes de órgãos de segurança dados de sistema paralelo de informações”* - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (22) que o sistema de informações particular, alheio aos oficiais, citado por ele na reunião ministerial do dia 22 de abril se refere a dados que ele recebe de modo informal de integrantes de determinados órgãos de segurança, por exemplo. "É um colega de vocês da imprensa que com certeza eu tenho, é um sargento no Batalhão de Operações Especiais no Rio, um capitão do Exército em Nioaque [município de Mato Grosso do Sul[, é um capitão da Polícia Civil em Manaus, é um amigo que eu fiz em um determinado local", disse o presidente. A declaração foi dada após Bolsonaro ser questionado sobre o que seria a rede de informações citada na reunião. O presidente citou ainda "amigos policiais" do Rio como informantes de apurações contra a sua família. Em 2019, ele já havia dito ter recebido informações paralelas de eventual busca policial na casa de um de seus filhos. "O tempo todo vivendo sob tensão, possibilidade de busca e apreensão na casa de filho meu, onde provas seriam plantadas, levantei isso graças a Deus, tenho amigos policiais civis e policiais militares no Rio de Janeiro, que estava sendo armado para cima de mim", disse Bolsonaro nesta sexta.
A declaração foi dada ao citar a menção ao seu nome no depoimento de um porteiro do condomínio onde tem casa, no Rio, ouvido na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Inicialmente, o porteiro disse que um dos suspeitos de assassinar a vereadora havia ido à casa dele, mas depois ele informou que havia se confudido. Em frente ao Palácio da Alvorada, ao se referir ao sistema paralelo de informações, Bolsonaro voltou a criticar os órgãos oficiais. "Essa informação que eu tenho pessoal minha, que eu descubro muitas coisas, que lamentavelmente não descubro via inteligência oficial, que é a Polícia Federal, Marinha, Aeronáutica e Abin", disse. No encontro entre o presidente e ministros cujo vídeo foi divulgado nesta sexta-feira (22), Bolsonaro disse que os órgão oficiais, como a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), "desinformam". Ele reclamou de não receber dados de órgão de inteligência. “Se reunindo de madrugada pra lá, pra cá. Sistemas de informações: o meu funciona”, afirmou Bolsonaro. “O meu, particular, funciona. Os ofi... que tem oficialmente, desinforma . Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, continuou o presidente. A declaração consta da transcrição do vídeo do encontro, feita pela Polícia Federal e divulgada nesta sexta (22), após autorização do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello. Na entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro comentou a divulgação do material e repetiu que não tentou interferir na Polícia Federal, como acusou o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
"Nunca interferi na PF, mas, coincidência, só depois da saída do Sergio Moro que a PF começou a andar pra frente. Eu nunca interferi, sempre liberdade total", afirmou. Após fazer menção ao caso Marielle, Bolsonaro disse que falou para Moro que não queria ser chantageado. "Moro, eu não quero que me blinde, mas você tem a missão de não deixar eu ser chantageado. Nunca tive sucesso para nada, é obrigação dele me defender, não é me defender de corrupção, de dinheiro encontrado no exterior, é defender o presidente para que eu possa ter paz", continuou. O presidente também reclamou da divulgação da íntegra do vídeo da reunião ministerial nesta sexta. "A responsabilidade de tudo no vídeo que não tem a ver com inquérito é do senhor ministro do Supremo Celso de Mello", disse. "Nenhum ministro meu tem responsabilidade do que foi dito ali, porque foi uma reunião reservada", afirmou. Na ocasião, o ministro Abraham Weintraub (Educação) disse que os ministros do STF são vagabundos e que por ele colocava "todos na cadeia".
Em outro momento, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) disse que é hora da edição de medidas de desregulamentação e simplificação, uma vez que os veículos de imprensa estão, neste momento, concentrados no combate à pandemia de Covid-19. “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse. Em frente ao Alvorada, nesta sexta, o presidente defendeu seu ministro. "O Salles enfrenta um perrengue enorme. Dizem que ele está botando fogo na Amazônia. Estão tocando fogo no rabo de bons brasileiros." Na frente do Alvorada, Bolsonaro disse que o vídeo também mostra a "preocupação em armar o povo". "O melhor exército que pode existir para conseguir a liberdade é o povo armado. Eu não quero ditadura no Brasil, quero liberdade", disse. Na reunião, o presidente defende ainda que a população brasileira seja armada para que resistam à imposição de uma nova ditadura no país. Segundo ele, "é fácil impor uma ditadura no Brasil". "Por isso que eu quero que o povo se arme. Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui. Que é fácil impor uma ditadura. Facílimo", disse. "Por que eu estou armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura. E não dá pra segurar mais. Não é? Não dá pra segurar mais", acrescentou.
+++ A frase “nenhum ministro meu tem responsabilidade sobre o foi dito ali” é uma das mais significativas sobre o modus operandi do bolsonarismo e a postura do presidente. A responsabilidade só existe quando convém.
*”'Por mim colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF', diz Weintraub em vídeo”*
*”Vamos pedir a prisão de governadores e prefeitos, diz Damares em reunião gravada”*
*”Tom agressivo de ministros não surpreende, diz Maia mesmo sem ter visto vídeo”* - Sem ter visto o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não se mostrou surpreso com as notícias de declarações controversas de ministros. Segundo trechos divulgados, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que, se dependesse dele, colocaria "esses vagabundos todos na cadeia", começando no STF (Supremo Tribunal Federal). Maia, que participou de uma videoconferência na TV Record poucos minutos após a divulgação de partes do vídeo, foi questionado sobre o teor da gravação. O deputado disse não ter visto ainda os trechos e que só sabia que tinham sido divulgados. “Mas têm alguns ministros que não precisam de reunião reservada para ser agressivos e nem atacar as instituições”, afirmou. “Isso já se faz há algum tempo, principalmente o ministro da Educação [Weintraub] e o ministro da GSI [Gabinete de Segurança Institucional], general [Augusto] Heleno. São ministros que têm uma mania do enfrentamento, do ataque, até abusivo em alguns momentos em relação às instituições.” Maia defendeu ainda a divulgação dos vídeos, criticada por Bolsonaro e por alguns de seus ministros, entre eles, Heleno. “Acho que todo mundo quando sofre uma investigação, com mais transparência, geralmente faz críticas, reclama que há um excesso. Mas ninguém olha o passado”, ressaltou, lembrando o vazamento de uma conversa entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff em 2016. O sigilo da gravação foi derrubado pelo ex-juiz Sergio Moro, que foi ministro no governo de Jair Bolsonaro. “No passado, quando seus adversários foram investigados, que veio a público, por exemplo, no caso das conversas do presidente Lula com a presidente Dilma, eu não vi ninguém do nosso campo, me coloco nesse campo de oposição ao governo da presidente Dilma, criticando a decisão”, afirmou.
O deputado rebateu ainda a argumentação usada por apoiadores do governo de que se trataria de uma reunião privada e, por isso, não deveria ser divulgada. “O governo certamente informou a todos os ministros que era uma reunião gravada. E uma reunião gravada, mesmo reservada, sempre é uma reunião diferente de um bate-papo num bar ou num almoço num restaurante ou na sua casa”, afirmou. “São conversas diferentes, são estilos de conversas, são liturgias que muitas vezes precisam ser respeitadas.” Pelas redes sociais, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que a reunião é "lamentável exemplo em meio a maior crise de saúde da história do país e diante de milhares de vítimas". "O Brasil está atônito com o nível da reunião ministerial. Palavrões, ofensas e ataques a governadores, prefeitos, parlamentares e ministros do Supremo, demonstram descaso com a democracia, desprezo pela nação e agressões à institucionalidade da Presidência da República", afirmou Doria. No Congresso, a reação oscilou desde o fortalecimento dos pedidos de impeachment pela oposição até a defesa do vídeo como “verdade” para a República. Uma das principais aliadas de Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), escreveu em uma rede social que a gravação "mudará a República" Já o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), avalia que a declaração do presidente mostra que Bolsonaro queria intervir na Polícia Federal. "Ele (Bolsonaro) deixa claro que queria era intervir na Polícia Federal. Está claro que o presidente não tem condições de se manter presidente. É inaceitável", disse.​
Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a divulgação do vídeo reforça o pedido de impeachment que foi feito pelos partidos de oposição contra o presidente.“O caminho está aberto para a aceitação do nosso pedido de impeachment. Se era prova concreta que faltava, ouçam e vejam vocês mesmos." O senador Humberto Costa (PT-PE) diz que o vídeo é a confissão de um crime. “Bolsonaro confessa o crime. Tentou proteger a família das investigações da Polícia Federal”. Para o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), no trecho em que o presidente fala que quer armar o povo para que “cada um faça, exerça o teu papel", Bolsonaro manifesta a intenção de que quer formar uma milícia. “Bolsonaro deixou muito claro qual o seu objetivo ao destruir a legislação de controle de armas e munições: quer armar seus seguidores para formar milícias golpistas a serviço do seu governo. Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), as falas do vídeo mostram que Bolsonaro age com raiva em relação às classes mais pobres. “Esse vídeo da reunião ministerial mostra como é malignamente baixo o nível de sensibilidade social e ambiental deste governo. E não é pelos palavrões não! É pelos conceitos revanchistas e pela raiva espumosa que destilam em relação aos pobres e às instituições democráticas.”​
ANÁLISE - *”Vídeo explicita face agressiva e paranoica do governo Bolsonaro”*
DEMÉTRIO MAGNOLI - *”Pátria de Bolsonaro não é Brasil, EUA ou Israel, mas sua própria família”*
*”'Jamais eu entregaria um telefone meu', diz Bolsonaro após despacho de Celso de Mello”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta sexta-feira (22) que, mesmo se houver uma determinação para entregar seu aparelho celular, não pretende cumpri-la. Mais cedo, o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), encaminhou à PGR (Procuradoria-Geral da República) pedidos de partidos e parlamentares de oposição para que o telefone do presidente seja apreendido e periciado. Segundo o ministro, cabe à PGR a analisar as acusações que constam nas representações. O encaminhamento ao Ministério Público Federal é praxe em casos de casos do tipo. "Eu não sou diferente de ninguém. A lei me atinge, mas eu sou o presidente da República. Jamais eu entregaria um telefone meu", afirmou. "Só se fosse um rato para entregar o telefone." Bolsonaro também disse que uma decisão judicial nesse sentido seria "uma afronta". Embora seja comum pedir um parecer da PGR quando o STF recebe notícia-crime, o presidente disse que Celso de Mello poderia ter ignorado o pleito dos parlamentares. Ele disse ainda ter certeza de que o parecer do PGR, Augusto Aras, será contra a entrega do celular. O despacho do ministro do Supremo foi atacado pelo ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno. Ele disse que uma eventual apreensão do celular do presidente poderá ter "consequências imprevisíveis". Bolsonaro compartilhou a nota de Heleno, na qual o auxiliar considerou o pedido do decano do STF algo "inconcebível" e "inacreditável". Para o ministro do GSI, "seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder, na privacidade do presidente da República e na segurança institucional do país". "O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os Poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional", disse o general.​ A nota de Heleno foi imediatamente repudiada por líderes políticos e representantes da sociedade civil, que criticaram o teor autoritário do posicionamento.
*”General Heleno fala em 'consequências imprevisíveis' se celular de Bolsonaro for apreendido”*
*”Justiça Eleitoral abre ação contra Skaf por suposta propina da Odebrecht”*
*”Flávio Bolsonaro fez acordo com indústria de sabão em meio a suspeita em negócios com imóveis e chocolates”* - Em meio às investigações sobre supostas práticas de lavagem de dinheiro e peculato em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) se tornou sócio de uma empresa que tinha como objetivo instalar uma indústria de sabão em pó no estado. No contrato social da Kryafs Participações, o senador não se apresenta como um mero sócio-investidor. O filho do presidente Jair Bolsonaro declara ser um representante comercial da fábrica baiana Espumil, serviço pelo qual estimou que receberia R$ 500 mil. A empresa seria uma parceira no empreendimento. O projeto, contudo, não foi a frente. O sócio-diretor da Espumil, João Paulo Dantas, afirma que foi pressionado a permitir a inclusão do senador no negócio e decidiu interromper as tratativas com a Kryafs logo após sua criação. Agora ele diz manter a intenção de montar uma fábrica no Rio de Janeiro com outros parceiros.
A empresa do senador e mais cinco sócios foi aberta em junho de 2019. Naquela data, a Justiça já havia quebrado o sigilo bancário e fiscal de Flávio e outras 102 pessoas físicas e jurídicas no âmbito da investigação do Ministério Público do Rio sobre a “rachadinha” no antigo gabinete do filho do presidente na Assembleia. A apuração da Promotoria apontou suspeita de lavagem de dinheiro do esquema por meio de investimentos privados feitos pelo senador: compra e venda de imóveis e uma loja de chocolates. A apuração do MP-RJ não tem a nova empreitada empresarial do senador como alvo, porque se limita ao período de 2007 a 2018. O novo projeto comercial de Flávio se propunha a instalar uma fábrica da Espumil no Rio de Janeiro. Ela tem sede em Feira de Santana (BA) e produz sabão em pó. O Código de Ética do Senado proíbe que seus membros sejam proprietários, diretores, controladores ou “patrocine a causa” de “empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público”. A empresa não possui contratos com o poder público. Tem, contudo, autos de infração expedidos contra ela pela Superintendência Regional do Trabalho na Bahia, órgão federal, em parte pendente a análise da defesa.
O advogado Bruno Fagali, especialista em direito público e compliance, afirma haver vedações que, na prática, inviabilizam a instalação de uma fábrica como a pretendida pelo senador. Ele diz que uma empresa tendo o senador como sócio não poderia obter financiamento de bancos públicos e incentivos fiscais. "Em meu entender, o mesmo se aplica às variadas formas de acordo possíveis entre uma empresa e órgãos ou pessoas jurídicas estatais. Assim, por exemplo, no caso de a empresa querer construir uma fábrica que de alguma forma afete negativamente seu entorno, como meio ambiente ou tráfego, não poderá ela celebrar um TAC ou qualquer outro tipo de acordo com autoridades estatais, para que possa, assim, obter autorização para construir e funcionar", disse o advogado. Dantas, da Espumil, afirma que o novo projeto da fábrica fluminense, sem a participação do senador, está sendo discutida com a Codin (Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro). O objetivo é ocupar terreno de um distrito industrial que tem incentivos fiscais. Fagali considera também "absolutamente conflitantes e inconciliáveis" as funções de senador e representante comercial de uma fábrica. “A rigor, pode-se dizer que muitos serviços abrangidos pela função de tal ‘representação comercial’ podem ser comparados com as atividades de lobby, seja ele realizado junto a autoridades/poderes estatais, seja em um contexto integralmente privado”, afirmou Fagali. “Ilustrando melhor, devemos nos perguntar: seria possível, legal e ou eticamente, um senador, por R$ 500 mil, buscar, diretamente ou indiretamente, por meio de uma empresa da qual é sócio, por exemplo, a obtenção de licenças para a construção e funcionamento de uma fábrica, ou ter como uma de suas missões a de viabilizar novos negócios com outras empresas?”, disse Fagali.
Outro sócio da empresa é Yan Fonseca, 22, filho do secretário municipal de Ordem Pública do Rio de Janeiro, Gutemberg Fonseca. Amigo de Flávio, ele ocupava a Secretaria Estadual de Governo quando a empresa foi montada. Enquanto metade dos sócios se comprometeu a investir R$ 500 mil cada em dinheiro na empresa (o que acabou não ocorrendo), Flávio e o empresário Fábio Mariz declararam que aportariam valor igual por meio de cessão de direitos da representação comercial com a Espumil, sem pagamento efetivo. Yan, por sua vez, pagaria R$ 300 mil com serviços de propaganda e marketing. O dono da Espumil, João Paulo Dantas, afirmou que o projeto da fábrica no Rio de Janeiro foi elaborado por Fábio Mariz, que já era seu representante comercial no estado antes da sociedade com Flávio. O executivo diz que o empresário fez pressão para incluir o senador no negócio, mas que não assinou qualquer contrato de representação comercial com o senador. “[Fábio] ficou me ligando, dizendo que o senador entrou como investidor. Ficou me pressionando para montar a indústria com todo mundo. Eu parei para pensar e disse: ‘Não’. Ainda mais que estava começando todos os dizeres sobre o Flávio. Caí fora. Falei para ele esquecer”, afirmou o sócio-diretor da Espumil.
“Houve uma pressão do Fábio para tentar colocar o Flávio numa situação comigo para montar a empresa. Não quero meu nome nem minha marca envolvida com político que tenha alguma coisa de errado ou que seja investigado, ou filho do presidente. Não sei se ele fez [algo de errado]. Mal conheço ele, só de cumprimentar. Mas não quero nada atrelado a ele”, declarou Dantas. Fábio disse que convidou o senador para o negócio por ser seu amigo e ter vislumbrado a oportunidade de um bom negócio. Ele disse que conheceu Flávio por terem filhos que estudam na mesma escola. O empresário disse que a fábrica, quando concretizada, teria vedação de firmar contratos com o poder público. Ele não soube explicar o papel que Flávio teria. “O que faz um representante comercial? Você tem um produto. Tem que vender. O desejo dele eu não posso dizer”, disse o empresário. Em nota, o senador disse que “o projeto de sociedade não se concretizou e ela será extinta”. Ele não respondeu aos questionamentos da reportagem, entre eles qual papel teria como representante comercial da Espumil e por qual motivo a fábrica baiana nega ter dado poderes a ele para representá-la.. O secretário Gutemberg Fonseca afirmou que o investimento na empresa foi feito por seu filho, sem sua participação. Ele declarou que impôs como única condição para anuir com a entrada de Yan no negócio a vedação expressa de contratos com o poder público caso a fábrica saísse do papel. Sócio de uma agência de marketing, Fonseca afirma que o filho trabalha com ele desde os 15 anos, motivo pelo qual teria experiência para fornecer os R$ 300 mil estimados em serviços de propaganda previsto no contrato social da Kryafs.
+++ Os medias continuam mantendo Flávio Bolsonaro no lugar de “suspeito por negócios ilícitos”. O público se divide entre a narrativa de Bolsonaro que se considera perseguido pela imprensa e a certeza de que o clã é corrupto e miliciano. Não parece haver meio termo.
*”'Casos pequenininhos de corrupção podem acontecer em qualquer governo', diz Olavo de Carvalho sobre caso Queiroz”*
*”Em meio a pandemia, Câmara do DF aprova plano de saúde vitalício a ex-deputados”*
*”Sem cargo, Moro recua em ranking digital, Bolsonaro retoma topo, e Huck avança ao falar de pandemia”* - Durou pouco a ascensão da popularidade digital de Sergio Moro puxada por sua saída do governo Jair Bolsonaro. O ex-ministro da Justiça, que chegou a ultrapassar o presidente no quesito, derreteu rapidamente e abriu caminho para o antigo chefe retomar a dianteira. Aferido pela consultoria de dados Quaest, o vaivém nas redes sociais mostra que o ex-juiz perdeu mais de 50% da influência alcançada em meio à demissão e às acusações contra Bolsonaro (sem partido), que continua como líder isolado desde o início do levantamento, em janeiro de 2019. O chamado IPD (Índice de Popularidade Digital), com pontuação que varia de 0 a 100, é medido pela empresa a partir de dados de Twitter, Facebook e Instagram, além de YouTube, Google e Wikipédia. Com as informações, a Quaest gera uma classificação diária. Como a Folha mostrou, Moro interrompeu uma tendência de baixa e disparou no ranking ao deixar o cargo, no dia 24 de abril. Bolsonaro, ao mesmo tempo, despencou. No dia 28, ainda sob o impacto de sua afirmação de que o presidente tentou interferir na Polícia Federal, o ex-ministro atingiu a nota 62,8, à frente dos 61,5 pontos do presidente. O cenário foi considerado significativo porque demonstrou um inédito enfraquecimento de Bolsonaro, que perdeu seguidores na época e se viu mais próximo de outros nomes do universo político cujo desempenho é analisado pelo IPD, como o ex-presidente Lula (PT) e o apresentador Luciano Huck (sem partido). Daí em diante, contudo, a trajetória se inverteu: Moro começou a perder relevância e Bolsonaro reconquistou espaço, abrindo larga vantagem. O cenário se manteve até a última terça-feira (19), segundo os dados mais recentes do IPD —nesse dia, o ex-juiz teve pontuação 26,8, e o presidente, 66,2.
O ex-magistrado é cobiçado por pelo menos quatro partidos políticos e poderá concorrer ao Planalto em 2022, mas não indicou ainda se entrará na disputa. Seu descolamento de Bolsonaro provocou um racha na base de apoiadores que eles tinham em comum. O pico em abril chamou a atenção por dois fatores: o ex-juiz de Lava Jato tinha até então uma presença discreta em seus perfis no Twitter e no Instagram, que são mantidos sem gestão profissional, conforme a Quaest. Além disso, ele não possui conta em plataformas como YouTube e Facebook. O IPD é calculado com base em seis aspectos, entre eles: mobilização (total de compartilhamentos de conteúdos), interesse (buscas por informação no Google e na Wikipédia), presença digital (número de redes sociais ativas) e fama (público total nas redes). As outras duas dimensões avaliadas são: engajamento (volume de reações e comentários ponderado pelo número de postagens) e valência (proporção de reações positivas e negativas). O indicador compara o desempenho do que é produzido pelos políticos e as respostas ao conteúdo. Segundo os organizadores do ranking, Moro registrou declínio, principalmente, no tópico interesse. "Houve uma frustração dos seguidores quanto aos fatos e provas que eles esperavam que Moro trouxesse à tona, corroborando sua fala anterior contra Bolsonaro", diz Felipe Nunes, CEO da Quaest. O analista, que também é professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que os posts do ex-ministro até trazem posicionamentos, "mas não entregam nada de novo, aí ele passa como se fosse irrelevante e tende a perder expressividade ao longo do tempo". E completa: "Moro saiu dos holofotes e terá dificuldade de se manter em evidência sem cargo, sem uma função pública". Bolsonaro, por outro lado, mantém um alcance incomparável com sua estratégia de polemizar e difundir fatos novos praticamente todos os dias, na visão de Nunes. "Esse protagonismo não é fruto apenas do fato de ele ser o principal ator político do nosso sistema, mas se deve à sua habilidade para engajar." A média do presidente no IPD é 77,7. Em uma análise mais ampla, contudo, ele tem enfrentado uma piora no critério valência. "O que ele produz tem tido ao longo do tempo cada vez mais reações negativas, acompanhando o que as pesquisas de opinião mostram sobre sua aprovação", observa o CEO.
A liderança de Bolsonaro no monitoramento só foi ameaçada em momentos pontuais. Assim como aconteceu com Moro, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta chegou a se aproximar da pontuação do antigo chefe ao sair da cadeira e romper com o Planalto, mas acabou murchando. O mesmo ocorreu com os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). "Bolsonaro, mesmo em meio ao agravamento da crise do coronavírus, continua imbatível na esfera digital. A grande capacidade dele é a de se manter em alta", comenta Nunes. Outro que esteve perto de ameaçar o líder foi Huck, que desbancou Bolsonaro em dezembro, mas depois caiu. De um mês para cá, no entanto, o possível presidenciável ganhou fôlego. O movimento coincide com o aumento de suas postagens sobre temas do noticiário, como a pandemia e o adiamento do Enem. Huck, lembra o coordenador do índice, já possui fama na internet, com contas ativas e abastecidas várias vezes ao dia, mas passou a experimentar um aumento de mobilização e engajamento de sua base. No início da crise do coronavírus, ele falou pouco sobre a doença e colheu resultados irregulares no ranking. Na terça (19), o comunicador teve pontuação 47,9, o que o posicionou no segundo lugar, atrás do atual presidente da República, mas à frente de Lula, que alcançou 30 pontos. A performance de Huck costuma também registrar picos aos sábados, quando vai ao ar seu programa na TV Globo.
*”Sem dinheiro e com bebês, 180 colombianos dormem no aeroporto de Guarulhos”*
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*”Trump manda reabrir igrejas nos EUA mesmo sem autoridade para aplicar medida”*
*”Avião com ao menos 99 passageiros cai em bairro residencial no Paquistão”*
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*”Movimento contra fake news chega ao Brasil e cobra 30 empresas por anúncios em site suspeito”* - Lançado há apenas quatro dias, o perfil no Twitter do Sleeping Giants Brasil, movimento que tenta desidratar economicamente sites que publicam conteúdos apontados como preconceituosos ou fake news, tem sido ativo. Até as 20h desta quinta-feira (21), a conta havia chamado a atenção de mais de 30 empresas com publicidade veiculada no Jornal Cidade Online, um portal que divulga uma série de artigos de opinião em defesa da política do uso da cloroquina para o tratamento contra a Covid-19. A meta do movimento é alertar empresas para o conteúdo dos veículos e pressionar a retirarem publicidade de páginas na internet que propagam desinformação ou ofensas. “Muitas empresas não sabem que isso acontece, é hora de informá-las”, diz o perfil. Nos últimos dias, a conta expôs marcas como Dell, Claro, Tim, Samsung, Americanas, Submarino, Mercado Livre, Philips, Magazine Luiza e Banco do Brasil. O Sleeping Giants também mencionou anúncios de veículos de comunicação e audiovisuais como Folha, Telecine e Canal History Brasil. Em resposta, algumas delas utilizaram seus perfis no Twitter para informar que não apoiam desinformação. Outras confirmaram a retirada dos anúncios no site após sofrerem apelo do público. José Tolentino, editor-chefe do Jornal Cidade Online, disse à reportagem que seu veículo sofre ataques sórdidos de um​ perfil anônimo e afirma que o portal é independente.
O Sleeping Giants foi criado nos Estados Unidos em 2016 com o intuito de chamar a atenção de empresas para o financiamento de sites de extrema direita. “Nossa maior conquista é que os anunciantes passaram a entender que os recursos deles é que sustentam esses sites racistas, extremistas, e que essa publicidade tem enorme impacto”, disse à Folha o americano Matt Rivitz, que fundou o movimento. Ele celebra o feito de convencer 4.300 anunciantes a suspender publicidade do Breitbart, site conservador que já foi liderado por Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca e ideólogo de direita. Com um número crescente de seguidores que chega a quase 150 mil, o Sleeping Giants ganhou mais notoriedade no Brasil ao ser elogiado pelo youtuber Felipe Neto e pelo apresentador Luciano Huck, que escreveu: “Belíssima iniciativa. Necessária. Vamos seguir. Vamos apoiar”. Os criadores da conta brasileira pedem para se manter anônimos e conversaram com a reportagem por mensagens diretas no Twitter. “Em pouco mais de dois dias, conseguimos retorno diretamente das empresas Telecine, Dell, Banco do Brasil, Zoom, Picpay. O movimento cresceu tanto que os seguidores, sozinhos, também acabaram conseguindo as respostas da History Channel, Domestika, Submarino e Loft”, disse o criador da filial brasileira. “Reiteramos que não estamos atacando ninguém e queremos apenas informar as empresas que elas estão, involuntariamente, financiando os tipos de sites que tanto prejudicam o seu trabalho.”
Eles resolveram criar o perfil após lerem sobre o Sleeping Giants em uma reportagem do El País, publicada em português esta semana. Os brasileiros entraram em contato com Rivitz para obter autorização para usar o nome. O movimento tem como prática capturar a tela do anúncio da empresa e marcá-la no Twitter cobrando uma explicação. “Oii @TIMBrasil, tudo bem? Realmente a internet é muito importante em tempos de pandemia, mas não acho legal encontrar seu banner em um site reconhecido por propagar Fake News e atacar constantemente a democracia. Pls considere bloquear!”, é um exemplo de citação. A Dell, por exemplo, ganhou popularidade ao ser mencionada na terça-feira (19) e logo ter respondido que garantiu a exclusão da publicidade. “Assim que recebemos essa informação, solicitamos a retirada dos anúncios automáticos. Repudiamos qualquer disseminação de notícias falsas”, afirmou em sua conta no Twitter. Depois disso, a empresa virou um dos assuntos mais comentados no microblog, com uma campanha polarizada de #NãoCompreDell e #CompreDell. Em nota à reportagem, a companhia reforçou que não tem qualquer orientação ideológica e/ou partidária e que preza pela pluralidade de ideias, pela diversidade e pela liberdade de imprensa.
Publicidade programática
Todas as empresas anunciaram no site por meio da chamada publicidade programática, via Google. Nessa modalidade, a companhia não compra espaço digital em um site específico que tenha escolhido. É uma ferramenta de publicidade do Google que direciona os anúncios a partir de filtros pré-definidos pelas empresas. As marcas, no entanto, têm a possibilidade de acompanhar o direcionamento, revisar e excluir os anúncios. Por essa distribuição, o Google ganha uma porcentagem do valor direcionado ao site. A divisão não é fixa e depende da negociação em cada caso. A Folha conversou com seis grandes empresas que receberam as notificações seguidas de enxurradas de mensagens de consumidores nos últimos dias. Elas retiraram os anúncios do site Jornal Cidade Online e afirmaram que, apesar do controle posterior que os times de marketing têm sobre a publicidade programática, nem sempre conseguem avaliar todas as impressões. O Google tem um filtro que barra automaticamente sites que divulgam conteúdo relacionado a violência, incitação ao ódio, drogas e temas adultos de cunho sexual. Já os conteúdos políticos entram na lista de temas mais sensíveis para as empresas de tecnologia que trabalham com publicidade. A regra é não atuar como regulador.
O fundador do Sleeping Giants é crítico à empresa. “O Google faz o mínimo possível para punir e evitar que anúncios financiem sites com visões extremistas, eles não querem nunca assumir o papel de moderar conteúdo", diz Rivitz. Em nota, a companhia afirma que oferecer aos usuários informações confiáveis é parte de sua missão. “Temos políticas contra conteúdo enganoso em nossas plataformas e trabalhamos para destacar conteúdo de fontes confiáveis. Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas”, disse o Google. A companhia ressalta que suas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos. As empresas que foram citadas publicamente pelo Sleeping Giants no Brasil afirmaram à reportagem que precisaram tomar decisões rápidas sob o risco de manchar a reputação de suas marcas. Também destacaram que tiveram dificuldade para avaliar se o site em questão é ou não um disseminador de notícias falsas ou apenas apoia um determinado espectro político mais à direita. Duas empresas relataram que, ao retirar o conteúdo do Jornal Cidade Online, receberam mensagens ofensivas por email com acusações de que estavam apoiando a censura. Os autores dessas mensagens chamaram o Sleeping Giants de "organização criminosa". A conta está funcionando como um autenticador de que a empresa tem protocolos de boas práticas ao não investir no site.
Nesta quinta, o perfil elegeu a FastShop como a primeira empresa do dia a apoiar o movimento. "A @fastshop respondeu diretamente nossos seguidores e se comprometeu a retirar a propaganda do site”. Após ser notificada, a empresa disse que não possui vínculo com nenhum portal jornalístico e que iria rever a distribuição de seus anúncios. “Estamos analisando os anúncios com nosso nome e removendo das plataformas que anunciam de forma automática através de sites de busca. Repudiamos qualquer disseminação de notícias falsas. Agradecemos por nos avisar.” O Mercado Livre tomou decisão parecida. Em nota, afirmou que mantém, junto a empresas de mídia parceiras, filtros para bloqueio automático de sites que propagam conteúdo impróprio. “No que se refere à veiculação de notícias falsas, às quais repudiamos veementemente, os bloqueios podem também ocorrer de maneira reativa a partir de denúncias, analisadas caso a caso. A partir de hoje, excluímos o site em questão que está sendo acusado publicamente de propagar inverdades”, disse. A Folha retirou o anúncio. "Por um erro de procedimento, anúncios da Coleção Folha foram direcionados ao site de fake News Jornal da Cidade Online", informou, pelo Twitter. "Após alerta, nossa equipe de marketing suspendeu a veiculação de campanhas em site de terceiros e está revisando os domínios bloqueados. Obrigado", escreveu.​
'Máfia comunista'
O Jornal Cidade Online veiculou artigos de opinião sobre o caso e uma nota chamando o movimento de “pura canalhice” e de estar promovendo a censura. Diz que as empresas que cederam ao pedido de retirada de anúncio “compactuaram com os pedidos da máfia comunista”. Nesta quinta-feira, Fabio Wanjgarten, secretário de Comunicação da Presidência, saiu em defesa do jornal e criticou o Sleeping Giants. “Os jornais independentes são muito importantes e devem ser valorizados no exercício da liberdade de expressão. O @slpng_giants_pt precisa urgentemente deixar o viés ideológico de lado na hora de fazer suas supostas denúncias. Dormiram no ponto e acabaram mostrando a quem servem”, escreveu o secretário em seu Twitter. O criador do perfil brasileiro rebate as críticas. “O site que ele está defendendo apenas propaga o discurso de ódio e fake news. Aquilo ali não é jornalismo independente”, diz.
Wajngarten, por sua vez, já publicou em suas redes sociais pedidos para que empresas deixem de publicar em jornais como a Folha. Um texto publicado pelo Jornal Cidade Online na tarde desta quinta-feira (20) diz que a ação foi criada por “um bando de militantes esquerdistas” que querem difamar o portal e boicotar os patrocínios “através de acusações falsas e criminosas”. “A conta intitulada ‘Sleeping Giants Brasil’ fez publicações caluniosas, pedindo para empresas como Dell, Telecine, History Channel, Banco do Brasil, Submarino, DomestikaPT, entre outras, interromperem a veiculação de suas marcas nas propagandas do Jornal da Cidade Online. Pura canalhice!”, afirma a publicação. Após reclamação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, porém, o Banco do Brasil decidiu voltar atrás e restabelecer a publicidade no portal. No ano passado, o site Aos Fatos mostrou em reportagem que o Jornal Cidade Online publicava textos com assinaturas de repórteres que utilizavam identidades falsas. Após a acusação, dois jornalistas tiveram as imagens de perfis deletadas. A foto de uma colunista era de Thalita Rebouças, escritora de livros infantil que nunca foi vinculada ao jornal. Nos últimos anos, o jornal já foi alvo de ações de parlamentares, do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do Sindicato de Professores do Rio Grande do Sul. No início deste mês, a 44ª Vara Cível do Rio de Janeiro determinou em primeira instância que o site e seu responsável, José Tolentino, a indenizar Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, em R$ 150 mil pela publicação de reportagens consideradas ofensivas. Na ocasião, a juíza classificou a conduta do site é como “irresponsável". Sem provas, Santa Cruz foi acusado de fraudes na administração da OAB e chamado de escroque. "Esse site é uma temeridade, só propaga fake news. Ele é processado e condenado em muitas outras ações por conta de mentiras que vêm propagando. A do Felipe Santa Cruz é tão grave que o Judiciário determinou a retirada da matéria do ar e que a sentença seja publicada na íntegra e nas redes sociais", diz Ricardo Brajterman, advogado da ação, do escritório Cândido de Oliveira. O portal é filho de um semanário homônimo de Campo Grande, que, de acordo com o site, não existe mais na versão impressa. A sede da empresa que detém os direitos do site fica em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.
Outro lado
José Tolentino, editor-chefe do Jornal Cidade Online, disse à Folha que seu veículo sofre "ataques sórdidos" de um​ perfil anônimo. Segundo ele, seu portal não é de direita. "Somos apenas um jornal que fala a verdade. Estão nos rotulando como site de direita e bolsonarista. Somos totalmente independentes. Não recebemos nenhum centavo de governo e órgão público. Recebemos um único dinheiro de três dias de uma publicidade institucional que vinha do TCU de MS [Tribunal de Contas do Mato Grosso do Sul]", afirmou. Sobre a pessoa que escreveu a coluna utilizando a foto de outra, Tolentino disse que o jornal responde por isso e que, diante das dezenas de colunistas, não conseguiu averiguar que se tratava de uma foto falsa. "Não conheço praticamente nenhum dos colunista pessoalmente. Eles entram em contato e querem escrever." Tolentino reforça que não conhece membros do governo e que nunca foi a Brasília desde a posse de Bolsonaro. Segundo ele, o site tem cerca de 1 milhão de visitantes por dia. Depois da ofensiva no Twitter, ele diz que apoiadores da publicação estão enviando dinheiro para contornar a debandada de anunciantes. A reportagem ligou para Fabio Wanjgarten, secretário de Comunicação da Presidência, para que comentasse a defesa que fez do Jornal Cidade Online. Ele pediu que fosse acionada a assessoria de comunicação da pasta. Procurada, a Secretaria de Comunicação do governo não se manifestou. Segundo o Painel, o Banco do Brasil informou que restabeleceu a verba na quarta (20) após a área técnica considerar excessivo o veto ao site por produção de conteúdo falso. O presidente do banco, Rubem Novaes, defendeu o desbloqueio.
+++ O trabalho da sleeping giants é fundamental para os tempos atuais.
*”Grupo conservador lança movimento contra avanço do Sleeping Giants no Brasil”* - Um grupo conservador reage à chegada, ao Brasil, do Sleeping Giants, movimento que nasceu nos EUA para alertar empresas que seus anúncios digitais financiam sites com conteúdos apontados como fake news ou extremistas. Como um contra-ataque, foi lançado há dois dias no Twitter o perfil Gigantes Não Dormem, num trocadilho ao nome do movimento internacional, que significa numa tradução livre gigantes adormecidos. O Sleeping Giants vem ganhando força há uma semana quando passou a pressionar dezenas de empresas a retirarem anúncios digitais (que são distribuídos de forma automática pelo Google) do site Jornal Cidade Online, um portal de Mato Grosso do Sul identificado por ativistas como como propagador de notícias falsas e de discurso de ódio. Mais de 35 empresas já se comprometeram a excluir a publicidade do site, o que gerou reação desta nova conta, que se intitula de direita e conservadora. O veículo de MS que foi alvo da debandada de anúncios também é conhecido por divulgar notícias positivas ao governo federal. Agora, o autointitulado opositor convoca que essas empresas voltem atrás. Apesar de o perfil no Twitter ter 18 mil seguidores, contra 215 mil do Sleeping Giants, o grupo conservador diz que é maioria, referindo-se ao total de apoiadores da direita, como eles se definem, e que "mídias de esquerda têm acessos baixos e receitas menores ainda".
O perfil usa a tática de pressionar empresas a reporem anúncios no site de Mato Grosso do Sul. Depois, deve optar por lógica semelhante à do opositor, mirando um site por vez; seu foco, entretanto, será nos portais que julga propagar fake news e que estariam ligados à esquerda. O perfil já pressiona pela retirada de anúncios no site Brasil 247. Entre as empresas que concordaram com a notificação do novo movimento Gigantes Não Dormem estão a Centauro, cujo presidente apoiou a campanha de Jair Bolsonaro, e a UniBH. A primeira excluiu anúncios do “Blog do Esmael”, e a segunda, do Brasil 247. FastShop e a Petlover, por sua vez, responderam que irão revisar anúncios de plataformas automáticas. Em seu perfil no Twitter, o Gigantes Não Dormem diz que, num primeiro momento, contra-ataca para barrar o avanço do "censurador" do Sleeping Giants. Argumenta que as empresas estão caindo "inocentemente ou propositalmente" nos pedidos dos ativistas do “outro lado”, insinuando que escolhem apoiar movimentos de esquerda. A reportagem enviou uma mensagem ao perfil, que não quis falar com a Folha. "Não falamos com mídia que propaga fake news", afirmou. Em um dos tuítes, o autor diz que é empresário, dando a entender que é o administrador da página. O perfil também tem um canal de distribuição de mensagens no Telegram, com mais de 360 inscritos, onde cita ideólogo Olavo de Carvalho e diz que "a guerra é espiritual e nós estamos do lado certo".
Uma das empresas que ficaram no centro da nova polarização sobre o direcionamento de publicidade na internet foi a Dell. Ao atender ao Sleeping Giants e retirar anúncios do portal Jornal da Cidade Online, alvo da CPMI das Fake News, a companhia logo virou objeto de uma campanha de boicote chamada #NãoCompreDell no Twitter, apoiada pelo Gigantes Não Dormem. Num segundo momento, veio a #CompreDell. “O portal que vocês cortaram anúncios não dissemina ‘notícias falsas’. Retornem os anúncios ao portal ou então nós iremos boicotá-los”, disse o Gigantes Não Dormem à Dell. O grupo chama a atenção de todas as marcas que responderam aos pedidos do outro perfil. Questionou a PUC (Pontifícia Universidade Católica), que disse ao Sleeping Giants que revisaria a automatização de seus anúncios após ter tido conhecimento de anunciva no Jornal da Cidade Online. "Uma universidade católica se unindo à esquerda contra o conservadorismo?", diz uma mensagem. ​
Grandes empresas têm afirmado que não têm alinhamento político. Elas atribuem à forma automática de distribuição de anúncios que compram de serviços como o Google. As empresas amplamente citadas por esses perfis nesta semana, como Dell, Samsung, Americanas, Submarino, Mercado Livre, Magazine Luiza e FastShop anunciam em sites por meio de publicidade programática. Nessa modalidade, a companhia não compra espaço digital em um site específico que tenha escolhido. A ferramenta de publicidade do Google, o AdSense, direciona os anúncios a partir de filtros pré-definidos pelas empresas. As marcas, no entanto, têm a possibilidade de acompanhar o direcionamento, revisar e excluir os anúncios. Por essa distribuição, o Google ganha uma porcentagem do valor direcionado ao site. A divisão não é fixa e depende da negociação em cada caso. O Google tem um filtro que barra automaticamente sites que divulgam conteúdo relacionado a violência, incitação ao ódio, drogas e temas adultos de cunho sexual. Já os conteúdos políticos entram na lista de temas mais sensíveis para as empresas de tecnologia que trabalham com publicidade. A regra é não atuar como regulador. O Google afirma que tem políticas contra conteúdo enganoso em suas plataformas e que trabalha para destacar conteúdo de fontes confiáveis. "Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas”, disse a empresa em nota à Folha na quinta (21).
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ENTREVISTA - *”Propaganda em massa pela internet leva boas marcas ao pior da rede, diz fundador de Sleeping Giants”* - O publicitário Matt Rivitz conta que em determinado momento da carreira quis entender se empresas que anunciavam em sites de extrema-direita ou propagadores de notícias falsas também apoiavam esse tipo de ação ou mensagem. Em suas consultas informais, constatou que na maioria das vezes a resposta era negativa. As marcas não sabiam que estavam sendo atreladas a conteúdos racistas, homofóbicos ou de mentiras na internet. Em 2016, decidiu criar o Sleeping Giants, perfil no Twitter para alertar empresas que seus produtos aparecem em sites controversos. A iniciativa se espalhou por onze países e chegou de vez nesta semana ao Brasil. Em entrevista à Folha, Rivitz diz que gigantes de tecnologia, como Google e Facebook, monetizaram a internet e convenceram as marcas a anunciar em escala, passando inclusive pelo que há de pior na rede. "Infelizmente, vimos que a publicidade em tudo leva essas marcas a aparecerem ao lado de conteúdos que se chocam com seus valores", diz o publicitário, acrescentando que seu objetivo é "tirar o incentivo financeiro do racismo e da mentira online." Aos 47 anos, Rivitz conta que seu primeiro alvo foi o site da extrema-direita americana Breitbart News, que teve um prejuízo de oito milhões de euros em publicidade após a campanha do Sleeping Giants. O ex-diretor do site é Steve Bannon, ex-estrategista do presidente Donald Trump e visto como inspiração pela ala ideológica do governo Jair Bolsonaro. Questionado sobre a atuação em países como EUA e Brasil, onde os presidentes são conhecidos por espalhar notícias falsas, Rivitz diz que não escolhe lado político. "Nunca foi sobre direita e esquerda. É sobre certo ou errado. O ódio é ódio."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
- Por que um publicitário decidiu se envolver na luta contra notícias falsas e a extrema-direita?
- Sou redator de publicidade há 27 anos e sabia o quão cuidadosos os anunciantes são em relação às suas mensagens. Quando visitei o Breitbart News pela primeira vez, em 2016, foi estranho ver que grandes marcas internacionais estavam anunciando ao lado de artigos como "Levante-a alto e com orgulho: a bandeira confederada proclama uma herança gloriosa" e "Você prefere que seu filho tenha feminismo ou câncer?". Eu só queria descobrir se essas marcas apoiavam essas mensagens e, é claro, na maioria das vezes elas não apoiavam. Nunca foi sobre direita e esquerda. É sobre certo ou errado. O ódio é ódio.
- Por que escolheu divulgar os nomes das empresas que anunciam como modelo de ação?
- Era simplesmente uma questão de entrar em contato com as empresas. Eu tinha pouca experiência no Twitter, acho que fiz 12 tweets na minha vida e, na maioria das vezes, era reclamando de mau atendimento ao cliente ou do Baltimore Ravens, meu time de futebol americano favorito. Mas eu tinha ouvido falar que as empresas são muito atuantes em responder questionamentos no Twitter, por isso fazia mais sentido mostrar a elas uma captura de tela do anúncio ao lado do conteúdo, via Twitter, em vez de ligar ou enviar e-mail, quando definitivamente eu seria ignorado.
- Não preocupou o fato de que expor empresas poderia prejudicar possíveis financiamentos ao projeto?
- Não temos financiamento. Twittar e publicar é gratuito. Não há nada para que precisemos de financiamento e o financiamento atrapalharia a tomada de nossas decisões. Essa campanha abordou muitos problemas e a última coisa que queremos é que nossa mensagem seja influenciada por quem quer que a esteja financiando. Breitbart, Fox News, Facebook e Twitter são de bilionários. Não queremos que isso se torne uma batalha entre pessoas com muito dinheiro. Não é saudável para a sociedade. Fomos acusados ​​de ser financiado pelo [investidor húngaro-americano] George Soros, e é sempre bom poder dizer que não recebemos dinheiro de ninguém. Dito isso, vendemos camisetas e bonés para pagar por ações que temos feito nos últimos anos.
- Por que abriu uma versão no Brasil? Quem é o responsável pelo perfil brasileiro?
- Essas decisões não são nossas. Geralmente, se houver um problema em um país em particular e alguém estiver interessado em ter um capítulo sobre Sleeping Giants, enviaremos uma mensagem para ele e, se parecer certo, definiremos a marca, daremos alguns conselhos e pronto. Todos trabalhamos de forma completamente independente. De fato, nem sabemos o nome um do outro [nos EUA]. Então, não tenho ideia de quem são as pessoas que estão administrando o SG Brasil. Só sei que eles entendem a missão.
- Em quantos países o Sleeping Giants está trabalhando agora?
- Em 11, alguns mais ativos que outros. Eu diria que os maiores, além dos EUA, seriam França, Austrália, Canadá e, agora, Brasil. Leva uma quantidade enorme de tempo e risco, portanto, às vezes, pessoas decidem que não podem se dedicar tanto e, eventualmente, precisam parar de trabalhar nisso. Como não há remuneração, é preciso um compromisso real com a causa.
- Após campanha do Sleeping Giants, o governo brasileiro atuou para reverter uma decisão do Banco do Brasil de retirar seus anúncios de um site apontado como fonte de notícias falsas. É mais difícil atuar em países como o Brasil e os EUA, onde governantes são considerados propagadores de notícias falsas?
- É sobre o livre mercado, não sobre liberdade de expressão. Nos EUA, todos têm o direito de se expressar ou de escrever o que quiserem, mas isso não lhes dá direito ao dinheiro dos anunciantes, especialmente daqueles que nem sabem que estão patrocinando o conteúdo por meio de uma publicidade complexa. Definitivamente, seria preocupante aqui [nos EUA] se o governo forçar um anunciante a patrocinar um canal específico. Isso contraria a liberdade de expressão e o livre mercado ao mesmo tempo.
- Um dos objetivos da publicidade é ser visto pelo maior número de pessoas possível, mas sua campanha quer mostrar que só audiência não é mais suficiente. O que mudou?
- A internet mudou tudo. Antes, anunciantes sabiam onde e quando seus anúncios seriam exibidos. Mas empresas como Google e Facebook decidiram que poderiam monetizar toda a internet. Eles convenceram os anunciantes de que o melhor caminho a seguir era anunciar em tudo, até o pior da internet, em escala. Infelizmente, vimos que a publicidade em tudo leva essas marcas a aparecerem com conteúdos que se chocam com seus valores. Os consumidores, em parte por causa do Sleeping Giants, estão mais conscientes do que nunca sobre o que as empresas que eles usam estão apoiando e não querem ver as marcas que amam apoiarem conteúdo que difama grupos minoritários ou desinformam.
- Há algo errado com o processo de escolha de sites para colocar anúncios, deixando as empresas no escuro sobre onde suas marcas estão sendo expostas?
- Está tudo errado com isso. Mesmo as empresas que colocam anúncios não sabem onde seus clientes vão acabar. É contra o modelo de negócios das gigantes de tecnologia, como Google e Facebook, ser responsável por remover sites problemáticos. É uma bagunça, é uma fraude.
- Qual é a reação da maioria das empresas quando você mostra que elas estão em sites problemáticos?
- Pelo menos no Breitbart, tivemos a grande maioria dos anunciantes não apenas se retirando, mas também nos agradecendo por notificá-los.
A direita ultraconservadora americana diz que perdeu muito dinheiro em publicidade após sua iniciativa. Qual pode ser o efeito a longo prazo desse esforço?
- Isso é e sempre foi sobre tornar o ódio e a desinformação não lucrativos, e não sobre escolher lado político. Se pelo menos pudermos tirar o incentivo financeiro do racismo e da mentira online, eu me sentiria bem com o que realizamos.
*”Tem que vender essa porra logo, diz Guedes sobre Banco do Brasil”* - Em reunião ministerial, o ministro Paulo Guedes (Economia) defendeu que o governo privatize o Banco do Brasil, instituição que julgou estar pronta para ser vendida para a iniciativa privada. A defesa sofreu resistência por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defendeu que só se fale em venda da instituição após 2023, ou seja, depois das próximas eleições presidenciais. "É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDES e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo", afirmou Guedes em reunião ministerial do dia 22 de abril. A fala consta em vídeo gravado pelo Palácio do Planalto e tornado público nesta sexta-feira (22). O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu tornar pública a íntegra do vídeo da reunião ministerial citada pelo ex-ministro Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal como um indício de que o presidente Jair Bolsonaro desejava interferir na autonomia da P​olícia Federal. O assunto sobre a privatização do banco ocorreu ao fim da reunião. Bolsonaro questionou Rubem Novaes, presidente da instituição, se ele não teria nada para falar.
Guedes tomou a palavra e aproveitou para defender a privatização do BB. "O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: 'bota o juro baixo', ele: 'não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam'. Aí se falar assim: 'bota o juro alto', ele: 'não posso, porque senão o governo me aperta'. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização", defendeu o ministro. Ao longo da conversa, Novaes fala sobre a importância da instituição na agriculta, mas depois é estimulado pelo chefe da equipe econômica a defender a privatização do banco. ​ Guedes pede que o presidente do BB "confesse seu sonho" sobre o tema. Bolsonaro, reticente à agenda privatista, interrompe e diz: "Faz assim: só em 2023 cê confessa, agora não", diz, insinuando que esse assunto só seja tocado após as próximas eleições presidenciais, de 2022, nas quais o presidente tem pretensões de se recandidatar. "Em relação (risos) à privatização, eu acho que fica claro que com o BNDES cuidando do desenvolvimento e com a Caixa cuidando do financiamento da área social, o Banco do Brasil estaria pronto para um programa de privatização, né?", afirma Novaes. Bolsonaro então insiste que esse tema seja tratado apenas após as eleições de 2022. "Isso aí só se discute, só se fala isso em 2023, tá?", afirmou. Novaes se queixa de que hoje a instituição tem pagado muito caro por antigos privilégios, como prioridade em folhas de pagamento, mas diz que atualmente não se trata mais de privilégio.
*”Em reunião, ministro do Turismo vê resorts com cassino como saída econômica para o setor”*
*”Mercado reage positivamente ao vídeo de reunião ministerial”* - Nesta sexta-feira (22), os índices futuros da Bolsa brasileira e do dólar reagiram positivamente ao vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, na qual, segundo o ex-ministro Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou interferir no comando da Polícia Federal. Segundo analistas do mercado, investidores esperavam um conteúdo mais revelador, que envolvesse falas negativas sobre a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Um dos trechos divulgados em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, cita a China, teve partes omitidas. "A China, [trecho omitido], deveria financiar um Plano Marshall para ajudar todo mundo que foi atingido", diz Guedes sobre planos de recuperação econômica em resposta à crise do coronavírus, doença que teve origem no país asiático. "A China é aquele cara que você sabe que você tem que aguentar, porque para vocês terem uma ideia, para cada um dólar que o Brasil exporta pros Estados Unidos, exporta três pra China", diz o ministro em outro momento da reunião. De acordo com pessoas que assistiram à parte sigilosa, integrantes do governo fizeram duras críticas à China em partes que o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu não divulgar. “No geral, o vídeo mostra que o presidente foi condizente com o que fala ao público. A base apoiadora adorou e não teve uma nova bomba como muitos esperavam”, diz Henrique Esteter, analista da Guide. O Ibovespa futuro, contrato derivativo do Ibovespa que é negociado até 18h, inverteu a tendência de queda após a divulgação do vídeo, às 17h desta sexta, e fechou em alta de 1,35%. O dólar futuro, por sua vez, ampliou a queda para 0,33%, a R$ 5,53. Antes do vídeo, a Bolsa de Valores brasileira fechou em queda de 1%, a 82 mil pontos, com a apreensão de investidores sobre o vídeo e realização de ganhos após alta de 5,95% na semana.
Já a cotação do dólar encerrou a sexta no zero a zero, mas, na semana, acumulou queda de 4,55%, a R$ 5,5750, menor valor desde 4 de maio. Esse é o maior recuo semanal desde fevereiro de 2016, período marcado pelas expectativas de investidores quanto um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Na semana de 29 de fevereiro a 4 de março daquele ano, a moeda caiu 5,97%, a R$ 3,76. À época, também contribuiu a alta do petróleo e a queda de juros na China. Desta vez, a queda foi uma realização dos ganhos das semanas anteriores com os cenários externo e doméstico mais favoráveis. No dia 13 de maio, quarta passada, a moeda foi a R$ 5,9040, com os ecos da saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Em 2020, a moeda americana acumula alta de 38,9% ante o real, que tem o pior desempenho Nesta semana, a aversão a risco deu lugar ao otimismo com uma possível vacina contra o coronavírus a sinalização do Banco Central de que tem espaço amplo para a venda de reservas internacionais e poderá aumentar sua atuação no câmbio se considerar necessário. Outro fator para a melhora do mercado foi a reunião, na quinta (21) entre Bolsonaro e governadores e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na qual o presidente teve apoio em vetar o reajuste dos servidores públicos. Na reunião, Maia também defendeu um cenário de reformas pós-pandemia. Nesta sexta, o viés foi misto no exterior após a China desistir de sua meta d e crescimento anual pela primeira vez desde 1990. O governo chinês também propôs, nesta sexta, uma lei de segurança nacional em Hong Kong que daria mais controle à China no território. A medida foi criticada por Mike Pompeo, secretário de Estado dos Estados Unidos.
A Bolsa de Hong Kong derreteu 5,5% e o índice chinês CSI 300 caiu 2,3%. As principais Bolsas na Europa fecharam estáveis, à exceção de Londres, que caiu 0,3%. Em Nova York, Dow Jones fechou estável, S&P 500 subiu 0,24% e Nasdaq subiu 0,43%. Na Bolsa brasileira, as ações do Banco do Brasil, que chegaram a cair 4,6% durante o pregão, fecharam em queda de 2,56%, a R$ 28,51. No setor bancário, essa foi a maior queda da sessão.Segundo analistas, a queda da estatal foi uma realização de lucros após disparada de 7% das ações na véspera. Na semana, marcada pela recuperação da Bolsa, há valorização de 9%. Outro fator para a queda é a decisão do banco de restabelecer a publicidade em site acusado de produzir fake news após reclamação do filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). “O mercado não gosta de interferências políticas dentro de empresas. É difícil investir onde não se depende só das operações das empresas, mas também de ruídos políticos”, diz Esteter, da Guide. “Esse tipo de interferência pesa e há um impacto, mas, hoje, a queda é mais uma questão de mercado, com a realização de lucros da semana”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa. As units do Santander recuaram 2,26%. As ações ordinárias (com direito a voto) do Bradesco caíram 1,6%, enquanto as preferenciais (sem direito a voto) subiram 0,6%. O Itaú teve alta de 0,5%.
Na ponta da sessão ficou a Cogna, ex-Kroton, que caiu 8,51% após reportar prejuízo líquido R$ 39,12 milhões no primeiro trimestre, resultado da piora no desempenho operacional e maior alavancagem financeira. O cenário deflagrado pelo Covid-19 também influenciou na redução do volume de captação de alunos do ensino presencial e aumento de provisões. A concorrente Yduqs recuou 5,2%. As ações da Renner caíram 8,34%, após tombo de cerca de 94% no lucro líquido do primeiro trimestre sobre o resultado positivo de um ano antes. A varejista foi influenciada pelos impactos da epidemia de Covid-19 sobre sua divisão de serviços financeiros. No setor, Hering caiu 9%. Já a Usiminas perdeu 5% após balanço mostrar prejuízo líquido de R$ 424 milhões no primeiro trimestre, em meio a um resultado financeiro negativo afetado por perdas cambiais. Executivos afirmaram durante teleconferência que esperam para breve um equilíbrio entre oferta e demanda por aço no Brasil, algo que poderia permitir reajustes de preços da liga. A Petrobras também caiu, acompanhando o declínio dos preços do petróleo no mercado externo, onde o barril de Brent caiu 2,6% diante das crescentes tensões entre Estados Unidos e China e de dúvidas sobre o quão rápido a demanda por combustíveis no mundo se recuperará da pandemia de coronavírus. As ações preferenciais (mais negociadas) da estatal recuaram 2,7% e as ordinárias (com direiro a voto), 2%.
MARCOS MENDES - *”Auxílio emergencial”*
*”Suspensão de dívidas de estados pode deixar Brasil sem ajuda multilateral, diz Banco Mundial”*
*”Aéreas terão 100 novos voos e volta de destinos internacionais em junho”*
*”China deixa de ter meta para o PIB pela primeira vez desde 1990”*
*”Brasil registra 1.001 novas mortes por coronavírus e se torna o segundo com mais casos no mundo”*
*”América Latina é o epicentro da pandemia, e Brasil é o país mais preocupante, diz OMS”*
*”Estudo com 96 mil pessoas com Covid-19 aponta que cloroquina eleva risco de morte”*
*”Municípios emitem nota contrária à cloroquina”* - Nesta sexta (22), as prefeituras de Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis divulgaram uma nota técnica conjunta instruindo seus agentes da Atenção Primária à Saúde (APS) a não receitarem cloroquina e hidroxicloroquina, especialmente em associação com a azitromicina, a pacientes com coronavírus. "Ressaltamos o risco que a prescrição de medicamentos e exposição a seus efeitos colaterais pode trazer. Inclui-se a incidência de arritmias cardíacas", diz a nota. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) também ingressou com uma ação na Justiça federal do Rio para tentar obrigar o Ministério da Saúde a retirar de seu site a orientação divulgada nesta semana para que a cloroquina seja aplicada a pacientes com a Covid-19.
*”Militares já ocupam 21 cargos na Saúde, em postos de direção e até em áreas especializadas”*
*”Organizações evangélicas repudiam Bolsonaro e manifestam apoio à ciência”* - Uma carta assinada por 34 organizações e movimentos evangélicos pede afastamento de Jair Bolsonaro (sem partido) da presidência, defende o isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus, apoia a ciência e pede que igrejas fiquem com as portas fechadas. O presidente foi eleito com amplo apoio de fiéis e líderes do segmento religioso. Mas parte dos evangélicos afirma que Bolsonaro tem se comportado de forma antiética e "dado provas de que não está à altura do cargo". O documento entitulado “O governante sem discernimento aumenta as opressões - Um clamor de fé pelo Brasil” afirma que o governo federal "atenta contra a vida humana ao invés de praticar a justiça e compaixão pelos pobres”, se referindo a uma passagem bíblica. As organizações também declaram apoio às universidades e aos centros de pesquisa, aos pesquisadores e cientistas, e dizem repudiar os pronunciamentos de Bolsonaro contrários às recomendações de especialistas da saúde. "Reconhecemos a ciência como dom de Deus para cuidar da vida humana e toda a sua criação. A fé e a ciência são aliadas, caminham juntas e exaltam o poder divino", diz o texto. "Nossa gratidão e solidariedade para com os profissionais de saúde que têm experimentado grande desgaste físico e emocional." As entidades também manifestam solidariedade e luto pelos 20 mil mortos por Covid-19 no país e pedem que igrejas não promovam cultos públicos, com aglomeração, mas sim usem suas estruturas para ajudar no enfrentamento da pandemia. Na periferia da capital paulista, algumas igrejas evangélicas mantêm cultos presenciais, como a Plenitude do Trono de Deus, em Guaianases (zona leste), a igreja Paz e Vida, em Cidade Ademar (zona sul), além de várias unidades da Deus é Amor e a Adap (Assembléia de Deus Ministério Apostólico), em Poá, na Grande São Paulo. Também há igrejas que adotaram os cultos online e outras que fecharam o espaço para aglomerações, mas o deixam aberto para quem procura. As igrejas obtiveram em decreto presidencial, contestado na Justiça, o status de atividade essencial na pandemia, o que permite que continuem recebendo público. A carta cobra que prefeituras e governos estaduais garantam o isolamento social. "Não há nenhuma razoabilidade em se opor a crise na saúde à crise econômica. É falsa tal divisão. Não se pode minimizar uma situação de pandemia em favor de lucros", afirma o texto.
O grupo propõe ainda que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proceda o julgamento das Ações de Investigação Judicial que pedem a cassação da chapa de Bolsonaro e do seu vice, Hamilton Mourão, em razão da disseminação de fake news durante a campanha eleitoral. "Convidamos irmãs e irmãos a se juntar nesse clamor de fé e ação pelo Brasil", pede a carta. Entre os que assinam estão a Aliança de Batistas do Brasil, Cristãos Contra o Fascimo, Comunidade Cristã da Lapa, Congrega, Cristãos pela Justiça, Evangélicos pela Justiça, Evangélicos Trabalhistas (ligados ao PDT), Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Instituto Guarani, Liberta, Missão Aliança, Nossa Igreja Brasileira, Movimento Negro Evangélico e Núcleo de Evangélicas e Evangélicos do PT. Os evangélicos, no entanto, tendem a avaliar de forma mais positiva o presidente Bolsonaro e a relativizar a pandemia do coronavírus, de acordo com pesquisa Datafolha feita no início de abril. O índice de ótimo ou bom atribuído à condução da crise pelo presidente passa de 33% na população em geral para 41% quando considerados apenas os evangélicos. Os entrevistados desse ramo cristão também são menos favoráveis à hipótese de renúncia do presidente —o índice cai de 37% na população em geral para 30% nesse recorte. Enquanto na população em geral 37% consideram que a população deve sair para trabalhar, em vez de permanecer em isolamento, entre evangélicos esse número sobe para 44%.
Bolsonaro em seu governo costuma fazer gestos ao segmento religioso, como comparecer a eventos, e já falou em nomear para o Supremo Tribunal Federal um ministro "terrivelmente evangélico". O presidente se declara católico, mas sua mulher, Michelle, é evangélica. Nilza Valéria, integrante da coordenação nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, uma das signatárias da carta, ​critica o novo protocolo do Ministério da Justiça sobre o uso da cloroquina, divulgado nesta quarta-feira (20). "Não é o presidente que determina o medicamente que deve ser usado." Caio Marçal, membro da coordenação nacional da Rede Fale, que também assina a carta, afirma que existe um falso dilema de que a religião se oporia à ciência. "O saber é divino. Quando se trabalha contra a ciência, se desmerece a ação criativa dada por Deus aos seres humanos pra que possam desenvolver métodos de proteção das vidas." Para os dois, a religião assume papel fundamental em um momento de pandemia. "Com a fé, eu consigo ter consolo, esperança. E as igrejas sempre foram agências de socorro em momentos de tragédias sociais, doando cestas básicas, apoiando as famílias", diz Nilza. Caio lembra que as igrejas têm forte presença nas periferias. "Elas poderiam facilitar a inserção de famílias pobres no acesso às possibilidades de receber auxílio em meio a pandemia. Contudo, a desinformação e a disseminação de fake news, inclusive promovidas por Jair Bolsonaro, têm colocado a vida de nossos irmãos e irmãs em risco”, afirma.
*”Estado de São Paulo foi de plano para reabertura a possível lockdown em um mês”*
*”Povo indígena mais atingido pela Covid-19 vê negligência de hospital militar”*
*”MEC prorroga inscrições no Enem após baixa adesão de alunos da rede pública”*
*”Após reclamar de nota de pesar, Bolsonaro troca comando da Polícia Rodoviária”*
*”Ministro do Meio Ambiente defende aproveitar crise do coronavírus para 'passar a boiada'”* - O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu em reunião ministerial no final de abril que o governo federal aproveite a crise sanitária do novo coronavírus para aprovar reformas infralegais, incluindo alterações ambientais. As declarações do ministro foram registradas em vídeo do encontro gravado pelo Palácio do Planalto e cujo conteúdo foi disponibilizado nesta sexta-feira (22) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello. Em seu discurso, Salles ressalta que é hora da edição de medidas de desregulamentação e simplificação, uma vez que os veículos de imprensa estão, neste momento, concentrados no combate à pandemia de Covid-19. “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse. O ministro disse que também é uma oportunidade para fazer mudanças no Ministério da Agricultura e no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Segundo ele, é hora de unir esforços para “dar de baciada”. “O Meio Ambiente é o mais difícil de passar qualquer mudança infralegal em termos de instrução normativa e portaria, porque tudo que a gente faz é pau no Judiciário no dia seguinte”, afirmou. No encontro, Salles ressaltou ainda que as mudanças pretendidas não precisam ser editadas em formato de projeto de lei, evitando, assim, que passem pelo Poder Legislativo. “Não precisamos de Congresso, porque coisa que precisa de Congresso também, nesse fuzuê que está aí, nós não vamos conseguir aprovar. Agora, tem um monte de coisa que é só parecer e caneta”, afirmou.
O ministro ressaltou que é necessário deixar a AGU (Advocacia-Geral da União) de “stand by” caso as mudanças legais sejam contestadas juridicamente. “Nós temos que estar com a artilharia da AGU preparada pra cada linha que a gente avançar. Tem uma lista enorme, em todos os ministérios que têm papel regulatório, para simplificar”, afirmou. Após a divulgação do vídeo, Salles se pronunciou em rede social: "Sempre defendi desburocratizar e simplificar normas, em todas as áreas, com bom senso e tudo dentro da lei. O emaranhado de regras irracionais atrapalha investimentos, a geração de empregos e, portanto, o desenvolvimento sustentável no Brasil". Luiza Lima, porta-voz de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, disse que a fala "deixa claro aquilo que a sociedade vem denunciando desde o primeiro dia de mandato deste governo, o projeto de desmantelamento das condições de proteção ambiental do país, um ministro de Meio Ambiente usa até a morte das vítimas da pandemia para passar violentamente essa política de destruição". "A sociedade segue atenta, a Justiça Federal julgando seus atos, e os satélites que medem o aumento do desmatamento atestando o resultado de sua política. Bolsonaro ganhou as eleições, mas não ganhou um cheque em branco para acabar com a floresta e os povos indígenas, os ministros gostem ou não", afirmou em nota.
Na reunião, o presidente Jair Bolsonaro fez críticas ao Iphan e afirmou que ele vem atrapalhando a conclusão de obras no país. Ele citou como exemplo lojas da Havan, do empresário governista Luciano Hang​. De acordo com Bolsonaro, o órgão federal interrompe projetos de infraestrutura, por exemplo, por causa de "cocô petrificado de índio". "O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que que tem que fazer? Alguém do IPHAN que resolva o assunto, né?", disse. A WWF-Brasil, em nota, expressou indignação pelas falas do ministro, que evidenciariam, segundo a ONG, "estratégia de destruição do arcabouço legal de proteção ao meio ambiente no Brasil". A entidade afirma que não é surpresa que Salles venha trabalhando para "fragilizar as regras e as instituições" de defesa ambiental e que o ministro age contra os interesses nacionais. "Apesar disso, choca constatar sua intenção de aproveitar a maior tragédia econômica e sanitária em muitas gerações, uma pandemia que já resultou em dezenas de milhares de vidas perdidas, para, em suas palavras, 'passar a boiada'", diz, em nota a WWF-Brasil. O Observatório do Clima, organização que conta com a participação de dezenas de entidades ambientais, afirmou que Salles está "não apenas disposto a desmontar os regramentos da própria pasta, mas conclamando todo o governo a fazer o mesmo e pedindo proteção da AGU". "Esperamos que Ministério Público federal, STF e Congresso tomem medidas imediatas para o afastamento do ministro Ricardo Salles. Ao tramar dolosamente contra a própria pasta, demonstra agir com desvio de finalidade", diz o Observatório do Clima, em nota.​
+++ Um oportunista covarde sendo um oportunista covarde.
MÔNICA BERGAMO - *”TCU vai apurar interferência de Carlos Bolsonaro e Wajngarten em anúncio do BB”*: O subprocurador Lucas Furtado, que atua junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), apresentou representação pedindo que o órgão investigue e tome medidas contra a interferência indevida da família do presidente Jair Bolsonaro e do chefe da Secom, Fabio Wajngarten, na publicidade do Banco do Brasil (BB). O BB anunciou, na semana passada, que estava vetando anúncios no site Jornal da Cidade Online, já condenado pela publicação de fake news. Carlos Bolsonaro, filho do presidente, reclamou —a página é alinhada ao governo. Wajngarten disse, nas redes sociais, que estava “contornando” a situação. E os anúncios voltaram. Furtado pede que o TCU intervenha para que o banco “abstenha-se de retroceder” dos vetos de anúncios no Jornal da Cidade Online, “bem como em qualquer outro que seja notoriamente divulgador de fake news”. E sugere multa e até o afastamento de Wajngarten do cargo. O BB afirma que tanto a suspensão da veiculação do anúncio quanto a sua retomada foram decisões internas do banco, que não sofreram ingerência externa. E que, por isso, não contraria nenhuma norma do TCU. Wajngarten disse em seu Twitter que “os jornais independentes são muito importantes e devem ser valorizados no exercício da liberdade de expressão”. Afirmou ainda que as denúncias contra o Jornal da Cidade Online têm “viés ideológico”.
MÔNICA BERGAMO - *”Ministros do STF avaliam que vídeo de reunião não deve impulsionar investigações contra Bolsonaro”*: ​O vídeo da reunião de Jair Bolsonaro frustrou uma parte da oposição a ele, que esperava assistir a cenas piores do que as que foram mostradas na filmagem. Políticos e magistrados críticos do presidente acreditam que o vídeo pode até render frutos a Bolsonaro, do ponto de vista popular, apesar dos palavrões --em especial quando ele levanta bandeiras caras ao bolsonarismo, como a do armamento. Magistrados do STF (Supremo Tribunal Federal) também opinavam, num primeiro momento, que o vídeo não deve impulsionar as investigações contra Bolsonaro deflagradas com as acusações de Sergio Moro.​ O material, no entanto, pode chocar em alguns momentos e deverá ser amplamente usado pela oposição. Menos de uma hora após a divulgação do vídeo da reunião, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do presidente, já divulgava link do material com o título: “A reunião que mudará a República”.
MÔNICA BERGAMO - *”Chico Buarque e José Sócrates discutem suspeição de Moro em debate online”*
MÔNICA BERGAMO - *”Ação do PSOL pede transparência em informações sobre a Covid-19 em SP”*
MÔNICA BERGAMO - *”Mais de 150 entidades pedem convocação de reunião sobre Fundo Setorial do Audiovisual”*
MÔNICA BERGAMO - *”Prefeitura de SP já distribuiu cerca de 300 mil cestas básicas através de programa de doações”*
MÔNICA BERGAMO - *”Rafael Cardoso reposta mensagem de esposa sobre passar a quarentena em casal”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Em reunião, Bolsonaro e ministros atacam políticos e instituições”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Cenas de um governo tenso e sem rumo”*: Enquanto se aguardava, na tarde de ontem, a divulgação do vídeo da reunião de ministros de 22 de abril, pelo ministro do Supremo Celso de Mello, uma nota fora de tom de Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), explodiu os projetos de pontes que o governo havia lançado no dia anterior, na reunião do presidente com os governadores, num competente desserviço ao Planalto, e não serviu para proteger Bolsonaro das ameaças jurídicas que o cercam. Ou o general da reserva considera que as Forças Armadas se disporiam a quebrar a ordem institucional que perdura há 32 anos, investindo contra o Supremo, que cumpre ritos legais, respaldados na Constituição? Por exemplo, o seguido pelo mesmo Celso de Mello de, como é praxe, remeter pedidos de partidos e parlamentares de investigação de Bolsonaro ao procurador-geral da República. Entre eles, o acesso ao telefone celular do presidente, contra o que se insurgiu Heleno, de maneira descabida, com a ameaça de um conflito institucional, de “consequências imprevisíveis”. Serviu para atrair justificadas reações de repúdio e para confirmar que o calejado general da reserva passou a fazer parte do núcleo ideológico do bolsonarismo. Os trechos do vídeo da reunião ministerial liberados por Celso de Mello ajudariam a confirmar que Augusto Heleno não está sozinho no ministério. Celso de Mello decidiu não liberar a íntegra, o que facilitaria a compreensão do contexto em que o presidente ameaçou intervir na sua “segurança” no Rio, embora se referisse mesmo à “PF”, sigla que pronunciou quando reclamava da falta de informações. Este trecho, infelizmente, foi cortado no início da frase, mas o conteúdo do que restou do vídeo sustenta a acusação do ex-ministro Sergio Moro de que as citações a trocas na “segurança”, na sua chefia e até de ministro, se referiam a ele mesmo. Para confirmar o que disse, no dia seguinte à reunião, dia 23, Moro saiu do governo, e o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi exonerado “a pedido”, sem que ele e o ministro assinassem a demissão.
O espetáculo foi roubado pelo conjunto dos trechos liberados por Celso de Mello, em que há cenas fortes de um grupo de ministros sem qualquer rumo estratégico estabelecido por um presidente que é mais um agitador de comício do que coordenador de governo, que distribui seu tempo entre gritos, slogans e palavrões, como se estivesse aboletado naquela caminhonete sobre a qual desfilou na manifestação antidemocrática em frente ao QG do Exército, em Brasília, no mês passado. O resultado é um grupo de ministros tensos. A rigor, não há novidades — exceção à confirmação feita pelo presidente de que conta com um sistema de informações pessoal, portanto, na ilegalidade —, mas tem impacto a forma como Bolsonaro diz que deseja armar o povo, “porque povo armado não será escravizado”. Precisará mesmo desmontar toda a legislação desarmamentista, o que já faz. Bolsonaro dá a entender que tem devaneios sobre o povo armado. Uma inveja recalcada do chavismo de Maduro e do que aconteceu na Cuba de Fidel. Um delírio, mas perigoso.
O presidente deixa claro que deseja um ministério de fiéis bolsonaristas que o defendam — é possível decifrar recados para Moro nesses momentos. E trocará qualquer um, a qualquer momento, fazendo uma exceção a Paulo Guedes, da Economia, para desgosto de Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, aliado dos militares no Pró-Brasil, programa de figurino geiselista que atraiu a ira de Paulo Guedes. A altercação que teria havido entre os dois ministros não consta das cenas liberadas. Abraham Weintraub confessou-se um militante —de extrema direita, por suposto —e, por isso, deduz-se, não se dedica como deveria às funções de ministro da Educação, um cargo estratégico, que também não merece atenções de Bolsonaro. No que foi divulgado, nenhuma pergunta foi feita a Weintraub, por exemplo, sobre o Enem na pandemia. Como disciplinado militante, o ministro alvejou com palavrões quem ele acha que obstrui a marcha do país para a redenção. Os ministros do Supremo foram brindados com um ataque de baixo nível do ministro. Na bancada dos ministros ideológicos radicais, Ricardo Salles, do Meio Ambiente, discorreu sobre sua estratégia de aproveitar enquanto a imprensa está voltada para a Covid-19, a fim de alterar normas e instruções sobre o meio ambiente, sem a necessidade de ouvir o Congresso, no seu óbvio trabalho de desmontar a estrutura de fiscalização e punição de crimes ambientais. Falou para os colegas como se estivesse dando uma dica. E estava. Dessa bancada, Damares Alves, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, parecia que faria uma exposição objetiva, ao alinhar alguns números sobre crianças abandonadas e idosos em asilos, mas perdeu o prumo ao ameaçar governadores e prefeitos de “prisão”, por tomarem medidas em defesa do isolamento social, prerrogativa legal deles. A ministra se alinhou ao grupo dos que não têm qualquer preocupação com limites institucionais do cargo. Bolsonaro, o primeiro deles. O que se viu é preocupante, principalmente considerando o tamanho da crise em que o país naufraga.
*”O governo sem filtro – Vídeo confirma indício de interferência e revela ofensiva por armas e desmatamento”*
+++ A síntese que o jornal O Globo faz do que mostra a reunião é melhor do que a da Folha que apresenta os temas de forma muito fragmentada.
*”Os fatos que explicam – Seis episódios mostram que Bolsonaro queria troca na PF”*
*”’Eu quero todo mundo armado’, diz Bolsonaro”*
*”’Perde o ministérios quem for elogiado pelo Globo e pela Folha’”*
*”Salles sugere aproveitas a pandemia para ‘passar a boiada’”*
*”Celso de Mello aponta aparente ‘prática criminosa’ de Weintraub”* - Oministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), constatou “a ocorrência de aparente prática criminosa, que teria sido cometida pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub”, na reunião ministerial do dia 22 de abril. O registro foi feito na decisão que levantou o sigilo do encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros. Na ocasião, Weintraub chamou ministros do STF de vagabundos e defendeu mandá-los para a prisão. Em seu despacho, Celso de Mello mandou oficiar cada um dos demais ministros da Corte para que “possam, querendo, adotar as medidas que julgarem pertinentes”. Segundo o ministro do STF, trata-se de “gravíssima aleivosia’. Para ele, a declaração “põe em evidência, além do seu destacado grau de incivilidade e de inaceitável grosseria, que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria)”. No vídeo, o ministro da Educação dispara ataques contra a Corte e minorias.
— Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca — disse Weintraub.
Em outro trecho, o ministro da Educação diz odiar as expressões “povo indígena” e “povo cigano”.
— Esse país não é ... odeio o termo “povos indígenas”, odeio esse termo. Odeio. O “povo cigano”. Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré — afirmou Weintraub.
Em sua fala, o ministro defendeu o presidente e reclamou do fato de estar enfrentando processos no Comitê de Ética da Presidência da República.
— Eu estou com um monte de processo aqui no comitê de Ética da Presidência. Eu sou o único que levou processo aqui. Isso é um absurdo o que está acontecendo aqui no Brasil. A gente está conversando com quem a gente tinha que lutar —disse Weintraub.
TOFFOLI DEFENDE INQUÉRITO
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, afirmou que o inquérito aberto no ano passado para investigar ataques à Corte permitiu a descoberta de “ameaças reais”. A declaração foi dada ontem em uma transmissão ao vivo do Lide, grupo fundado pelo governador de São Paulo, João Doria, ao responder uma pergunta sobre a prisão de duas pessoas na quinta-feira acusadas de ameaçar juízes e promotores do Distrito Federal.
—Isso é uma ação criminosa, tanto que ontem (quintafeira) foram presas duas pessoas em Brasília, que apresentaram ameaças e com perspectivas inclusive de ações. Por isso foi aberto inquérito e houve a prisão delas — disse Toffoli sobre a investigação em curso no DF.
Em seguida, comentou o inquérito do próprio STF, que foi aberto por ele e entregue para a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O inquérito recebeu muitas críticas por, entre outras coisas, ter sido instaurado sem a participação do Ministério Público. Foi nesse processo que o ministro Moraes tomou decisão censurando conteúdo dos sites “O Antagonista” e “Crusoé”.
—Eu, logo no início do ano passado, fui muito criticado por ter aberto um inquérito de defesa da instituição Supremo Tribunal Federal. Hoje, muitos que criticavam há mais de um ano esse inquérito, eles reconhecem a importância da abertura desse inquérito. Só o feito de ter aberto o inquérito já fez reduzir ameaças inúmeras. Ali se descobriu, inclusive na deep web, ameaças reais, ameaças reais —disse Toffoli.
Ele não quis responder se concordava ou não com a divulgação do vídeo da reunião ministerial, divulgado à tarde por Celso de Mello. O encontro foi citado pelo pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como uma das provas da suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.
*”Bolsonaro vê ação para incriminar seus flhos”*
*”Oposição repudia gravação, e centrão fica em silêncio”* - A divulgação do conteúdo do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril mobilizou parlamentares do Congresso Nacional na noite de ontem. Partidos de oposição ao governo Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e no Senado assinaram juntos uma nota de repúdio às falas do presidente e dos ministros, reveladas nas imagens. Líderes de PT, PDT, PSB, PCdoB, PSOL e Rede afirmaram que a gravação revela “o baixo nível dos integrantes” do governo, além de representar um ataque à Constituição. Siglas do centrão, que têm se aproximado e negociado cargos com o governo, não se manifestaram sobre as declarações. Aliados de Bolsonaro comemoraram a repercussão. O principal pedido da oposição, registrado na nota de repúdio, é que o Congresso abra um processo de impeachment de Bolsonaro “o mais rápido o possível”. Líderes partidários afirmam que o Parlamento está “a postos para fazer cumprir o seu papel” nesse sentido. Para essas legendas, a reunião deslegitima o governo e “escancara o desprezo à democracia, à vida e às conquistas civilizatórias do povo brasileiro” e “indica a tentativa de formação de milícias em defesa de um projeto antinacional e antidemocrático”.
O PSDB, que não assinou a nota, classificou o encontro como “um dos momentos mais baixos e deprimentes da história recente brasileira” e criticou os palavrões e ameaças proferidas. “Em alguns momentos, parecia mais uma reunião de uma gangue armamentista”, completa a nota da sigla. O grupo silencioso do centrão (PP, PL, Republicanos e PSD) compõe uma bancada de 146 deputados na Câmara. Para que um processo de impeachment seja barrado na Casa, Bolsonaro precisaria conquistar 172 votos a seu favor. A ideia do Planalto é consolidar cerca de 200 votos para evitar o prosseguimento de qualquer denúncia por crime de responsabilidade. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), comentou sobre o vídeo antes mesmo de assistir às imagens. Ele disse que a postura de integrantes do governo não o surpreende.
— Há ministros que não precisam de uma reunião privada para serem agressivos e atacarem as instituições. Isso se faz há algum tempo, principalmente o ministro da Educação (Abraham Weintraub) e o ministro da GSI (Augusto Heleno). São dois que têm a mania do enfrentamento e do ataque até abusivo em algum momento em relação às instituições — disse Maia em entrevista ao canal Record News. Para o líder do partido Novo na Câmara, Paulo Ganime (RJ), o STF deve prosseguir com o inquérito sobre a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF), “mas se essa era a única prova de interferência indevida na PF, não há prova alguma”, afirmou o deputado nas redes sociais.
COMEMORAÇÃO
Parlamentares bolsonaristas comemoraram a divulgação do vídeo. Bia Kicis (PSL-DF) disseque Bolsonaro “esbraveja e xinga não pra desviar dinheiro, fechar contratos com empreiteiras, mas para proteger o povo dos ditadores e Já a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) anunciou nova manifestação a favor de Bolsonaro no domingo. Ela acrescentou que o vídeo é “sensacional” e que o presidente representa os brasileiros. No Senado, líderes partidários reclamaram sobre a falta de debate de ações para enfrentara pandemia do novo coronavírus durante a reunião. Líder do PDT na Casa, o senador Weverton (MA) publicou na internet que “não se vê uma mobilização sincera e preocupada em torno do tema que domina a vida de todos os brasileiros: o combate ao coronavírus”. As falas dos ministros Weintraube Ricardo Salles( Meio Ambiente) foram os principais alvos de indignação entre parlamentares, além das declarações de Bolsonaro. Weintraub afirmou durante a reunião que, por ele, “botava esses vagabundos todos na cadeia” e mencionou em seguida os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (RedeAP), afirmou que o ministro deveria ser preso. “Cadê a ordem de prisão contra Weintraub? Não tem conversa alguma”, escreveu no Twitter. Governadores de partidos de oposição também se manifestaram virtualmente. Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, disse que assistiu aos vídeos com “perplexidade, indignação e tristeza”. Já o governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que a reunião “revela um repertório inacreditável de crimes, quebras de decoro e infrações administrativas” e “uma imensa desmoralização e perda de legitimidade” do comando do país.
*”Políticas para pandemia foram ignoradas em reunião”*
*”Após divulgação de vídeo, Moro diz que ‘verdade foi exposta’”*
*”Após decisão de praxe, Heleno faz ‘alerta’”*
*”BB volta a anunciar em site acusado de fake news”*
*”Epicentro da epidemia – Brasil já é o segundo país com mais casos de Covid-19 no mundo”*
*”Os danos da cloroquina – Maior estudo sobre a droga indica mais risco de morte”*
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Heleno reage com ameaça a pedido de apreensão de celular de Bolsonaro”*
+++ A capa do Estadão expõe em letras grandes, com trechos em negrito e outros em vermelho, parte do que foi dito na reunião e que seria prova da tentativa de interferência de Bolsonaro na PF.
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Inconcebível e inacreditável”*: Oministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, divulgou ontem uma “nota à Nação brasileira” para dizer que é “inconcebível e, até certo ponto, inacreditável” o “pedido de apreensão do celular do presidente da República”. A nota do ministro é, em si mesma, para usar suas próprias palavras, inconcebível e inacreditável. O ministro Augusto Heleno fazia referência a solicitações de parlamentares e partidos de oposição em notícia-crime enviada ao Supremo Tribunal Federal, relativa a suspeitas de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na direção da Polícia Federal, conforme denúncia do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, igualmente citado na petição. Respeitando a praxe para casos como esse, o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello encaminhou o caso para a ProcuradoriaGeral da República, a quem cumpre opinar se cabe ou não investigar a denúncia. O ministro Celso de Mello enfatizou que é dever jurídico do Estado apurar essas suspeitas, “quaisquer que possam ser as pessoas alegadamente envolvidas, ainda que se trate de alguém investido de autoridade na hierarquia da República, independentemente do Poder (Legislativo, Executivo ou Judiciário) a que tal agente se ache vinculado”. É sintomático que o decano do Supremo tenha que relembrar tamanha platitude: numa República em que vigora o Estado Democrático de Direito ninguém está acima da lei, inclusive o presidente. Infelizmente, como mostrou a afrontosa nota do ministro Augusto Heleno, a advertência do ministro Celso de Mello é mais do que oportuna – é indispensável.
Para o ministro Augusto Heleno, “caso se efetivasse (a apreensão do celular do presidente), seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder na privacidade do presidente da República e na segurança institucional do País”. Ora, ainda que o pedido de apreensão do celular fosse aceito pela Procuradoria-Geral, o que ainda não aconteceu nem se sabe se acontecerá, não haveria nenhuma “afronta à autoridade máxima do Poder Executivo”, apenas o cumprimento do que mandam os diplomas legais em vigor no País que o sr. Bolsonaro governa – e que ele, aliás, prometeu solenemente respeitar quando tomou posse. Mas o ministro Augusto Heleno não se limitou a expressar sua indignação e enveredou pelo temerário caminho da ameaça de ruptura institucional: “O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os Poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Recorde-se, para todos os efeitos, que o cidadão Augusto Heleno é general reformado, sem comando, e, atualmente, funcionário público demissível ad nutum.
Assim, o ministro Augusto Heleno elevou à categoria de comunicação oficial do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República os libelos golpistas que circulam nas fétidas redes sociais bolsonaristas, que passaram o dia de ontem a demandar nada menos que o fechamento do Supremo Tribunal Federal – sob a hashtag “Heleno já tá na hora”. Nada disso é por acaso: a nota oficial de teor sedicioso e a campanha de ódio contra o Supremo se anteciparam à decisão do ministro Celso de Mello de autorizar a divulgação, na íntegra, da reunião ministerial que, segundo o ex-ministro Sérgio Moro, comprova a tentativa do presidente Bolsonaro de interferir na Polícia Federal, entre outras barbaridades deste desgoverno. Está claro que o ministro Augusto Heleno, assim como seu chefe, não só é completamente despreparado para o cargo que ocupa, como considera “democracia” o regime em que Bolsonaro manda e os demais obedecem. Mais do que isso: colabora decisivamente para que suas atitudes irresponsáveis, de natureza essencialmente pessoal, pois sua função não é falar em nome do governo, sejam confundidas com o pensamento das Forças Armadas. Assim, urge que os comandos militares desvinculem as Forças Armadas desses inconformados com a democracia que, para desgraça do País, chegaram à Presidência nas eleições de 2018. Se não o fizerem imediatamente, e de maneira clara, correm o risco de ver sua imagem, duramente reconstruída depois de 20 anos de ditadura, atrelada a um governo que flerta dia e noite com a ruptura.
*”Heleno reage com ameaça após ato de decano do STF”* - O Palácio do Planalto reagiu em tom de ameaça à decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de encaminhar para análise da Procuradoria-Geral da República pedido de apreensão dos celulares do presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Na tarde de ontem, o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), assinou uma nota afirmando que se o pedido “inconcebível e inacreditável” for aceito poderá ter “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. A “Nota à Nação Brasileira”, como o comunicado foi chamado por Heleno, foi autorizada pelo presidente e chancelada pelos ministros militares que despacham no Planalto. “Eu olhei e falei: ‘o senhor fique à vontade’”, relatou Bolsonaro numa entrevista na noite de ontem. “Agora, peraí: um ministro do STF querer o telefone funcional de um presidente da República que tem contato com líderes do mundo… tá de brincadeira, comigo?”, emendou. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, também endossou a nota antes da divulgação. “A simples ilação de o presidente da República ter de entregar o seu celular é uma afronta à segurança nacional”, afirmou ao Estadão.
Em reação ao Planalto, o gabinete do ministro Celso de Mello divulgou nota para observar que as críticas do governo foram precipitadas, pois ele limitou-se a encaminhar ao procurador-geral, Augusto Aras, pedido de apreensão dos aparelhos feito pelo PDT, PSB e PV no âmbito do inquérito que apura denúncias do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. “Vê-se, portanto, que o Ministro Celso de Mello nada deliberou a respeito nem sequer proferiu qualquer decisão”, informou. Na nota que gerou a mais recente crise entre os poderes, Heleno escreveu que o pedido de apreensão do celular do presidente é “inconcebível” e “inacreditável”. “Caso se efetivasse, seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro poder, na privacidade do Presidente e na segurança institucional do País”, ressaltou. “O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional.” A reação ao ministro do GSI dominou as redes de políticos e militantes. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a nota de Heleno prejudica a estabilidade do País. “Não pode ter ameaça ou agressão, porque isso fragiliza a relação com as instituições”, disse Maia. Por sua vez, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz ressaltou o “anacronismo” do general. “Saia de 64 e tente contribuir com 2020, se puder”, escreveu no Twitter. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que a fala de Heleno foi desrespeitosa e autoritária. Já o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), escreveu que nenhuma autoridade está imune a investigações ou acima da Lei.
‘Intromissões’. Militares de fora do Planalto ouvidos pelo Estadão se queixaram das “constantes intromissões” do Judiciário em decisões do Executivo. Eles avaliaram que há um “nítido” objetivo político de atingir o governo e o presidente. Ainda pela manhã, Carlos Bolsonaro já se manifestava no Twitter contra Celso de Mello. “Meu celular? (...) Que crime teria cometido para tamanha velocidade e abuso? Nenhum. A narrativa do sistema continua em pleno vapor!”, escreveu. Com o passar das horas, a temperatura política na Praça dos Três Poderes, que abriga de um lado o Planalto e do outro o Supremo, se elevou ainda mais. Celso de Mello divulgou, pouco antes das 17 horas, o áudio da reunião de Bolsonaro com ministros, no dia 22, em que o presidente teria deixado claro uma interferência na Polícia Federal. Nesse mesmo encontro, Bolsonaro propôs armar a população para evitar contra prefeitos e governadores que decidiram pelo isolamento no combate ao novo coronavírus e chegou a defender o uso das Forças contra outros poderes. Numa entrevista no começo da noite à Rádio Jovem Pan, Bolsonaro afirmou que não é “rato” para entregar seu aparelho à Justiça. “Tá na cara que eu jamais entregaria meu celular. A troco de quê?”, disse. Por fim, na portaria do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a criticar o ministro do Supremo. “O que parece que Celso de Mello quer é que fique cozinhando a entrega do meu telefone. Ninguém vai pegar meu telefone. Mais ainda, senhor Celso de Mello, está no Supremo o pedido para abrir o sigilo dos advogados do Adélio. O Brasil quer saber”, disse, referindose a Adélio Bispo, que o esfaqueou em 2018.
+++ O Estadão faz uma seleção melhor do que os outros jornais sobre qual é o tema mais importante do dia.
*”Em vídeo, Bolsonaro pressiona Moro”*
*”Reunião com destempero verbal e pitos”*
*”Bolsonaro chama Doria de ‘bosta’ e Witzel de ‘estrume’”*
*”Em gravação, Bolsonaro defende armar população”*
*”Presidente afirma ter sistema particular de informações”*
*”Para Bolsonaro, China mantém espiões no Brasil”* - O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o serviço secreto chinês tem agentes infiltrados em ministérios brasileiros. A declaração foi feita presidente na reunião ministerial do dia 22 de abril. “É uma realidade. Não adianta esconder mais, tapar o sol com a peneira, né? Tem, não é… em vá… em alguns ministérios têm gente deles plantando aqui dentro, né? Então não queremos brigar com os chineses, zero briga com a China. Precisamos deles para vender? Sim. Eles precisam também de nós.” Bolsonaro disse ainda que no fim de semana anterior estava estudando como é que “o serviço chinês trabalha nos Estados Unidos”. “Qual a preocupação nossa aqui?” perguntou. O trecho seguinte da fala do presidente estava coberto por uma tarja preta no laudo da Polícia Federal divulgado pelo Supremo Tribunal Federal. Mas é claro o sentido da frase de que Bolsonaro se refere ao país asiático. “Tá todo mundo vendo o que tá acontecendo.” O presidente não deixa claro o que o leva a acreditar que o serviço secreto chinês infiltrou agentes no governo brasileiro bem como não diz quem seriam os espiões a serviço daquela nação. “Devemos nos aliar com quem tem umas afinidades conosco. Pra gente poder fazer valer a nossa vontade.” Além de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, é o primeiro a citar a China na reunião a ter sua fala coberta por tarja no laudo.
*”Decano vê possível crime de Weintraub”* - O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontou na decisão em que levanta sigilo da reunião ministerial do dia 22 de abril aparente “prática criminosa” cometida pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. No trecho destacado pelo decano, Weintraub afirma: “Por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”. Segundo o decano, a “gravíssima aleivosia” feita por Weintraub, “num discurso contumelioso e aparentemente ofensivo ao patrimônio moral” dos ministros, põe em evidência que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria). Mello ainda determinou que se oficie todos os ministros do STF sobre o fato, enviando a eles cópia de sua decisão, para que possam, “querendo, adotar as medidas que julgarem pertinentes”.
No último mês de abril, Weintraub postou uma publicação irônica contra a China, insinuando que o país asiático sairia “fortalecido” da crise causada pelo coronavírus. Não foi só: afirmou que a China segurou informações sobre a pandemia para vender respiradores e máscaras a preço de leilão. O ministro também fez piada com o sotaque dos chineses, comparando-o ao do personagem “Cebolinha”, criado por Maurício de Sousa. Weintraub chegou a usar uma imagem dos personagens da Turma da Mônica ambientada na Muralha da China e quase provocou uma crise diplomática. Em razão disso, o STF determinou a abertura de inquérito por racismo contra ele. Desgastado no governo, Weintraub ficou ainda mais enfraquecido com a divulgação do vídeo. Ao se definir como um ministro “do grupo mais ligado com a militância”, Weintraub admitiu que continuava “militando” e se queixou de “intrigas palacianas”, além da “agenda própria” de muitos colegas. Embora não tenha dito a palavra Centrão, ele não escondeu a contrariedade com as negociações políticas em andamento. “A gente tá conversando com quem a gente tinha que lutar. (...) Fico escutando esse monte de gente defendendo privilégio, teta (...) Negócio. Empréstimos. A gente veio aqui para acabar com tudo isso, não para manter essa estrutura”, insistiu o ministro da Educação. A cena provocou mal-estar e constrangimento no Planalto, embora Bolsonaro tenha concordado ali com o raciocínio do auxiliar. “O que o Weintraub tá falando – eu tô com 65 anos – (é que) a gente vai se aproximando de quem não deve. Eu já tenho que me policiar no tocante a isso daí. São pessoas aqui em Brasília, dos três Poderes, que não sabem o que é povo”, observou presidente na reunião.
Ataques. Integrante da ala ideológica do governo, que tem o escritor Olavo de Carvalho como guru, Weintraub é alvo do núcleo militar do Planalto. Nos últimos dias, os ataques a ele aumentaram nas redes sociais após sua resistência em adiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na quarta-feira, porém, o governo confirmou que o Enem será postergado em um ou dois meses – de novembro para dezembro ou janeiro de 2021 –, por causa da pandemia do novo coronavírus. A decisão, porém, expôs mais um capítulo da queda de braço dentro do governo. Bolsonaro teve de enquadrar Weintraub após ser informado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que seria derrotado no Congresso se insistisse em manter a data do Enem. O episódio serviu para irritar ainda mais o presidente. Bolsonaro tem se aborrecido com o ministro da Educação há algum tempo, mas vem adiando uma decisão mais assertiva sobre o destino do auxiliar. Um dos motivos é porque tem apreço pessoal por Weintraub e, principalmente, pelo irmão dele, Arthur, que é seu assessor na Presidência. O problema é que Weintraub tem comprado várias brigas dentro e fora do governo. O ministro foi contra, por exemplo, entregar a presidência e diretorias do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 29,4 bilhões neste ano, a partidos do Centrão. Bateu o pé enquanto pôde, obrigando Bolsonaro a lhe dar um ultimato: ou aceitava ou tinha de sair. Ele cedeu. Ainda durante a reunião, Weintraub diz que “odeia” o termo povos indígenas. “Ele tá querendo transformar a gente numa colônia. Esse país não é… odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O ‘povo cigano’. Só tem um povo nesse País. Quer, quer. Não quer, sai de ré. É povo brasileiro. Pode ser preto, pode ser branco, pode ser japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser brasileiro, pô! Acabar com esse negócio de povos e privilégios”, afirmou.
*”Salles recomenda aproveitar a pandemia e ‘ir passando a boiada’”*
*”Falas tensas e clima de confronto institucional”*
*”Carla Zambelli, a ‘faz-tudo’ de Bolsonaro”* - Eleita com 76.306 votos em 2018 na esteira do antipetismo e do bolsonarismo, a deputada federal Carla Zambelli (PSLSP) tem se tornado uma espécie de auxiliar informal do governo em momentos de crise e esteve no centro de dois eventos recentes e capitais para o Planalto: a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e da atriz Regina Duarte da Secretaria Especial da Cultura. Após a troca de mensagens com Moro, na qual a deputada procurou evitar a saída do exjuiz e sugeriu que ele teria uma vaga garantida no Supremo Tribunal Federal – diálogo incluído no inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal –, Carla Zambelli assumiu a missão de resolver a crise com Regina Duarte, de quem tornou-se amiga e conselheira.
Bolsonaro pediu à deputada que encontrasse uma saída honrosa para a atriz: “Veja o que pode fazer para deixar a Regina feliz. Ela deixou a Rede Globo e me sinto responsável”, disse o presidente, segundo ela. Carla então ficou de marcar um café da manhã de Regina com Bolsonaro para apaziguar os ânimos. Foi de Carla Zambelli a sugestão de oferecer à atriz o comando da Cinemateca. O protagonismo da deputada no caso virou foco de reclamação no entorno do presidente: após o episódio, recebeu mensagens que a aconselhavam a sair dos holofotes. Mas também houve outras de apoio, conta. Sobre o episódio com Moro, Carla disse que tomou a iniciativa de procurá-lo após falar com o chefe da Secretaria de Comunicação, Fabio Wajngarten, e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, mas alegou que não consultou Bolsonaro. “Se eu tivesse falado direto com o presidente, não teria pedido para o Moro ficar. Eu estava com os olhos vidrados no juiz da Lava Jato, mas Moro tinha uma agenda desarmamentista. O presidente não fazia questão de que ele ficasse”, disse Carla ao Estadão. Ainda segundo a deputada, a admiração pelo juiz da Lava Jato – que foi um dos padrinhos de seu casamento, em fevereiro – foi “substituída por decepção”.
Segundo a parlamentar, a aproximação dela com Bolsonaro se deu após o rompimento da também deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) com o governo. Segundo Carla Zambelli, Joice a “bloqueava” do contato com Bolsonaro e fazia intrigas. “Bolsonaro ficou quatro meses sem falar comigo na campanha por causa da Joice, que inventou mentiras de que eu usava drogas e teria feito um aborto.” As duas foram amigas e participaram juntas do movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). Foi Carla Zambelli quem abriu espaço para Joice no carro de som do grupo Nas Ruas, o que ajudou a projetar a jornalista nos grupos de direita. “Quem a trouxe para os movimentos de rua fui eu.” “O Bolsonaro nunca gostou da Carla Zambelli. Ele chegou a mandar a Carla descer de um trio elétrico. Ele dizia: ‘Tire essa mulher de perto de mim’. Eu não tive nada a ver com isso”, disse Joice ao Estadão. Procurada, a assessoria do Planalto não se manifestou. Carla Zambelli era gerente de projetos da KPMG em São Paulo quando tornou-se líder do movimento Nas Ruas. Em 2013, conta ela, sua irmã, Paula Zambelli, assinou um manifesto do Mackenzie contra Bolsonaro. O presidente, depois, chegou a questioná-la. À irmã, disse: “Use outro sobrenome ou vou para o embate com você”. Ela conta que o pedido foi acatado. “Minha irmã é de centro-esquerda.”
*”Pimentel é indiciado por peculato e desvio”* - O ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) e seu ex-secretário da Fazenda, José Afonso Bicalho Beltrão da Silva, foram indiciados por peculato e desvio pela Polícia Civil do Estado. Eles são acusados de não repassar descontos de crédito consignado na folha de pagamento de servidores públicos às instituições financeiras. Pimentel governou o Minas de 2015 a 2018. Segundo as investigações, o valor total não repassado foi de R$ 924 milhões, em operações envolvendo pelo menos 280 mil servidores. As denúncias sobre a retenção dos recursos começaram a surgir no final de 2017, por parte de sindicatos. Servidores tiveram os nomes enviados ao serviço de proteção ao crédito.
O governo Pimentel foi marcado por grave crise econômica. O delegado responsável pelo inquérito, Gabriel Ciriaco Fonseca, afirmou ter ficado constatado que o governador e o secretário imputaram a falta do repasse dos recursos à crise financeira. “Mas temos em decisões judiciais que essa questão envolvendo empréstimos consignados não se trata de verba pública, que pode ser afetada por crise financeira.” Segundo ele, do total não repassado, cerca de R$ 500 milhões só foram pagos pelo atual governo. Pimentel disse, em nota, que não conhece o inquérito e sequer foi ouvido. “E, o que é mais absurdo, estou sabendo disso pela imprensa. Infelizmente, essa prática se tornou corriqueira no País, o que certamente deve contribuir muito para o fenômeno definido pelos cientistas políticos como ‘criminalização da política’. Levou o Brasil à triste situação de hoje: elegeu-se um presidente que opera abertamente contra o Estado Democrático de Direito.’’ A reportagem não localizou Bicalho. A pena por peculato é de dois a 12 anos de prisão.
*”PSDB e DEM se unem na Câmara”* - A aliança do Centrão com o presidente Jair Bolsonaro criou um novo desenho político na Câmara dos Deputados. Sem se assumir como base aliada do governo e distantes da oposição, partidos como DEM e PSDB se uniram para defender uma agenda em comum e também discutem um nome de consenso para a sucessão do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Casa. Chamado internamente de “núcleo independente”, o grupo informal tem, ainda, a participação do MDB e do Cidadania e da parte do PSL, legenda que abrigou Bolsonaro, mas que atualmente está rompida com o presidente. No total, esses partidos reúnem 102 deputados, embora existam entre eles representantes governistas. “Esse grupo independente acabou se formando de uma maneira muito natural”, disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP). “Dos dez grandes partidos, o PT é oposição, o PSL está dividido e quatro foram para o governo”, afirmou o tucano. As legendas citadas por Sampaio que estão na base do governo Bolsonaro são o Republicanos, o Progressistas (antigo PP), o PL (antigo PR) e o PSD, que, juntos, reúnem 146 parlamentares. “Passamos a conversar mais agora por conta de que existe o bloco da oposição, o do Centrão e um bloco que tem independência das suas posições”, declarou Sampaio. Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas no ano passado, Bolsonaro passou a distribuir cargos no Executivo aos partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso, ressuscitando a velha prática do “toma lá, dá cá”. Até agora, Progressistas, Republicanos e PL já foram contemplados com cargos. O DEM, embora tenha se unido a este novo bloco, mantém os pés no Centrão e também tem indicados em cargos no governo, como na Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
A ideia deste novo núcleo é se apresentar como o “fiel da balança” nas votações da Câmara, como um “meio-termo” entre Carlos Sampaio (SP) governo e oposição. Na prática, esta ala sabe que o Palácio do Planalto precisará do seu apoio, por exemplo, para aprovar qualquer Proposta de Emenda à Constituição (PEC). “São partidos que têm uma identidade mais sólida, que costumam pensar e votar da mesma forma e, portanto, seguem alinhados para se posicionar na votação de projetos atuais e estratégias pensando no futuro”, disse o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB). A ala não governista do PSL também dá apoio ao bloco. “O PSL é um partido absolutamente independente e assim se manterá. É importante a união de outras siglas em torno desse bloco independente, a criação de um núcleo forte que não se dobra às constantes tentativas de interferência do presidente da República no Parlamento”, afirmou a líder do PSL, deputada Joice Hasselmann (SP). O PSL elegeu 52 deputados, mas pelo menos 19 parlamentares são da ala chamada “bolsonarista”, de apoio irrestrito ao presidente da República. Joice é ex-aliada de Bolsonaro.
Disputa. A formação do núcleo é estratégica também para a sucessão de Maia no comando da Câmara dos Deputados. A eleição da Casa está marcada para fevereiro do ano que vem e o Centrão já vem trabalhando com possíveis candidatos. O bloco cogita para a vaga de Maia o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), e o deputado e pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus Marcos Pereira (Republicanos-SP) – os dois parlamentares podem ter o apoio de Bolsonaro na disputa. Vice-presidente da Câmara, Pereira comanda o Republicanos, partido que recentemente abrigou o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, ambos do Rio. No novo grupo informal, por sua vez, um nome que vem ganhando força é o do presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), mas ainda não há definição sobre uma candidatura. Apesar de o MDB ter parlamentares na base do governo Bolsonaro, Baleia é próximo do presidente da Câmara.
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*”Imperial College fala em transmição sem controle”* - O Imperial College, instituição britânica com foco em ciência, engenharia e medicina, divulgou estimativas preocupantes em relação ao coronavírus no Brasil. A taxa de contágio (Rt), que indica para quantas pessoas em média cada infectado transmite a covid-19, foi calculada em 1,3. Qualquer número acima de 1 indica que a transmissão está fora de controle. Além disso, o centro de epidemiologia da universidade, referência no acompanhamento de doenças transmissíveis, calcula que 6.980 mortes ocorram nesta semana, variando de 5.850 a 8.070. O número estimado é o maior entre os 54 países com transmissão de coronavírus ativa (ao menos cem mortes registradas desde o começo da pandemia e pelo menos dez mortes nas últimas duas semanas).
Em pesquisa apoiada pela Fapesp, a equipe do Imperial College ainda analisou os cinco Estados do Brasil com o maior número de mortes. A estimativa é a de que os níveis de infecção populacional variam de 3,3% em São Paulo a 10,6% no Amazonas. Swapnil Mishra, da Escola de Saúde Pública, disse que a análise “mostra claramente que medidas governamentais brasileiras afetaram a redução” da transmissão. “No entanto, ao mesmo tempo, vemos que a epidemia ainda não está sob controle no Brasil e está se espalhando. Esperamos que, com mais medidas em vigor, o Brasil possa conter a disseminação da pandemia.” Um estudo anterior do Imperial College sobre o País, publicado no dia 8, estimou à época que o chamado número de reprodução já estava acima de 1 em 16 Estados analisados, o que significava que cada pessoa infectada estava transmitindo a doença para mais de uma, o que fazia com que o número de casos novos fosse sempre maior. Os autores alertaram que era preciso tomar medidas mais dramáticas. O lockdown (bloqueio total) começou a ser recomendado na época por vários pesquisadores, enquanto o governo federal desejava afrouxar mais as medidas de isolamento social. “O número de casos está dobrando, em média, a cada 12 dias. Em dois meses, nesse ritmo, vai crescer 30 vezes”, disse nesta semana ao Estadão o matemático Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que trabalha com modelagens da expansão da doença. O pesquisador também destacou a possibilidade de superar os Estados Unidos em casos diários. “Não temos política coesa do governo federal com Estados e municípios, cada um faz uma coisa diferente. A situação pode sair do controle completamente.”
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