segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

“Destruição é a agenda do Tradicionalismo”, a ideologia por trás de Bolsonaro e Trump

 


O pesquisador da extrema direita e etnógrafo norte-americano Benjamin Teitelbaum passou 15 meses realizando entrevistas com os principais ideólogos conservadores atuais para escrever Guerra pela eternidade (War for eternity: inside Bannon’s far-right circle ―no título original, em inglês). O estudo concluiu que, diferentemente do que pregam os opositores dos Governos de Jair Bolsonaro e Donald Trump, os mandatários não são adeptos do fascismo, mas sim de outra doutrina menos conhecida, o Tradicionalismo (com ‘T’ maiúsculo, para diferenciá-lo do conservadorismo tradicional). Não que a alternativa seja melhor, o autor se apressa em esclarecer. Para a publicação do livro, Teitelbaum ouviu gente como o ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon, o guru do Bolsonarismo Olavo de Carvalho, e o conselheiro do presidente russo Vladimir Putin, Aleksandr Dugin. O resultado não agradou os ideólogos, mas abriu uma discussão no mundo acadêmico sobre essa doutrina menos conhecida, mas cujas ideias estão presentes em várias partes do planeta onde hoje a extrema direita governa."O único jeito de compreender essa ideologia é levá-la a sério e ouvir o que ela realmente diz, em vez de olhar apenas a fachada. O Tradicionalismo é anti-progressista num nível que raramente vemos. Muitas pessoas costumam chamar a si mesmas de conservadoras, mas quase todo mundo no campo conservador é basicamente progressista no mundo ocidental. O Tradicionalismo vai na direção diametralmente oposta. Eles não acreditam que é possível mudar ou melhorar a história, acham que é preciso desfazer todo o mal feito para as nossas sociedades, e isso não significa voltar apenas décadas para trás, mas séculos", afirma o pesquisador, em entrevista ao EL PAÍS.

E ainda nesta edição destacamos duas matérias sobre um tema debatido há meses, mas que caminha a passos lentos no Brasil: a volta às aulas presenciais. As repórteres Joana Oliveira e Heloísa Mendonça ouviram famílias sobrecarregadas pelos cuidados com os filhos pequenos enquanto temem o retorno do ensino presencial, além de educadores e profissionais da área da saúde para discutir os prós e os contras de reabrir as escolas no Brasil, fechadas desde março. “Minha vizinha cuida de umas 25 crianças na casa dela, mas tem horário certo para buscá-las, às 17h. Meu patrão queria que eu fizesse hora extra, expliquei que não podia por conta da minha bebê, e fui demitida”, relata a vendedora Ana*, mãe de uma menina de dois anos.

A maioria das famílias, entretanto, temem o retorno das aulas. "Eu relutei em aceitar até que todos os argumentos científicos me convenceram. Dá sim para pensar numa reabertura pensada. Organizada, estruturada, dá para abrir", avalia a pediatra Ana Escobar, que assina um manifesto de médicos em defesa da volta às aulas. Por outro lado, Cláudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, concorda que o retorno às aulas só pode acontecer quando as escolas sejam adaptadas para essa nova realidade, o que ainda não aconteceu.“Precisamos de um plano voltado para a saúde dos professores e alunos. Organizar os ambientes para outra realidade escolar. É outro fluxo de movimentação, adaptar toda a parte de alimentação, fazer testagem. Não dá para retornar nesse ambiente de hoje.”

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