quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

“Meu hoje é o Brasil”. A saga dos venezuelanos cidadãos brasileiros


Num país que olha pouco para os vizinhos do continente, o brasileiro nunca parou para pensar o que aconteceu com os venezuelanos que entraram no Brasil a partir da pequena cidade de Pacaraima. As cenas dos imigrantes chegando à cidade fronteiriça em Roraima entram no noticiário cada vez que estoura uma crise, e a maioria do país esquece o assunto. Silenciosamente, os venezuelanos vão escrevendo um novo capítulo da história brasileira e encontrando seu lugar aqui fugindo do regime de Nicolás Maduro, que afundou o país no caos. Hoje, quase 263.000 venezuelanos vivem no Brasil, o dobro de dois anos atrás, compondo a que pode ser a maior comunidade de estrangeiros do país.

A Venezuela caiu na boca do povo brasileiro de modo superficial, como assunto de torcida de futebol, especialmente após a polarização que se cristalizou no país nos últimos anos. De um lado, os que argumentam que Maduro é vítima do bloqueio econômico dos Estados Unidos, que começou em 2015, sangrando a economia local. De outro, os que usam a Venezuela como exemplo do que pode acontecer no Brasil se a esquerda voltar ao poder. Diante de uma realidade muito mais complexa do que essa leitura maniqueísta estão os venezuelanos que se veem obrigados a fugir de seu país para sobreviver.

Há uma geração de brasileiros, cujos pais venezuelanos têm o coração dividido entre viver longe da sua terra para sempre ou voltar quando as coisas melhorarem. “Meu hoje é o Brasil”, diz Raúl Escalona, diretor de teatro, que foi executivo de canais de televisão na Venezuela, mas que migrou para o Brasil há dois anos. O sequestro relâmpago do seu filho, Carlos, por apoiadores do Governo foi a gota d'água para mudar de vida depois dos 70 anos. Hoje, vivendo em São Paulo, diz que a Venezuela é parte da geografia em sua vida, não mais que isso. Dorianny, mãe de 6 filhos, sendo o caçula, brasileiro, só quer seguir adiante. “Aqui meus filhos têm futuro”, diz esta venezuelana de 30 anos, que viveu dois anos em abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista. Deiri, por sua vez, só espera a queda de Maduro para voltar para lá.

 


“Meu hoje é o Brasil”. A saga dos venezuelanos cidadãos brasileiros
“Meu hoje é o Brasil”. A saga dos venezuelanos cidadãos brasileiros
Mais de 262.000 refugiados e migrantes da Venezuela vivem em 630 cidades brasileiras, o que aponta para ser a maior comunidade estrangeira no país. Dos filhos gerados aqui a assimilar uma cultura diferente, se confrontam até com a ideia de ficar no Brasil até os últimos dias de sua vida

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