quarta-feira, 24 de março de 2021

Bolsonaro mente enquanto Brasil passa dos 3 mil mortos por dia

No dia em que o Brasil ultrapassou 3 mil mortes diárias por Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro foi à TV e, mesmo mudando de tom, voltou a mentir sobre as ações do governo contra a doença. Bolsonaro disse que 2021 será o “ano da vacinação dos brasileiros”, sem mencionar que hoje o Ministério da Saúde reduziu pela sexta vez a previsão de entrega de imunizantes, com 12 milhões de doses a menos. Negou que fosse contra vacinas, embora tivesse criticado e ironizado a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan e a mais aplicada no país. Segundo o presidente, ele se “empenhou pessoalmente” na compra de vacinas da Pfizer, omitindo que o governo, no ano passado, ignorou uma oferta de 70 milhões de doses feita pelo laboratório. Veja 11 pontos discrepantes entre a fala de Bolsonaro e a realidade. (Folha)

O pronunciamento foi recebido com panelaços em pelo menos 13 capitais e dezenas de outras cidades no país. (G1)

Pois é... O jornalista Sam Pancher publicou um vídeo em que compara o discurso do presidente com suas falas passadas. (Twitter)

Daqui a pouco, às 8h, Bolsonaro se reúne com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e do STF, Luiz Fux, além de outras autoridades do Judiciário, do vice Hamilton Mourão, de todos os ministros (inclusive Pazuello) e seis governadores, todos próximos do Planalto. O presidente diz querer criar um espaço para “decisões conjuntas”, contra a pandemia. Fux participa da reunião, mas não vai se envolver em decisões, pois elas podem vir a ser julgadas no Supremo. (G1)

Nesta terça-feira, o Brasil registrou 3.158 mortos pela Covid-19 em um dia, mas o número mais macabro ficou para hoje. Com um total de 298.843 óbitos e uma média móvel em sete dias de 2.349 (25º recorde seguido), a marca dos 300 mil mortos será atingida ao longo do dia. O estado de São Paulo foi responsável por quase um terço das mortes de ontem: 1.021. (UOL)

Nenhuma outra enfermidade mata tantas pessoas em apenas um dia no país. Mesmo as doenças cardiovasculares, historicamente as mais mortíferas entre os brasileiros, só matam três mil pessoas em quatro dias. (Globo)

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pediu a suspensão por duas semanas de atividades não essenciais em todos os estados e municípios com UTIs lotadas. Entre os estados, somente Amazonas e Roraima não estão nessa situação. (G1)

Piora... Acre, Rondônia, Mato Grosso, Amapá, Ceará e Rio Grande do Norte correm o risco de ficar sem oxigênio nos próximos dias, segundo o Ministério Público Federal. O MPF organizou uma reunião com representantes do Ministério da Saúde e de fabricantes do gás para tentar contornar o problema. (UOL)

E, claro, o novo cronograma do Ministério da Saúde para a entrega de vacinas sofreu a sexta revisão para baixo. A Fiocruz informou que não terá como produzir 12 milhões de doses previstos para abril por dificuldades no início da fabricação e da necessidade de testes. (Folha)

Então... O chamado “kit covid” foi condenado por um documento assinado por 81 entidades médicas e científicas brasileiras. Elas querem o banimento, no tratamento de Covid-19, de drogas sem eficácia comprovada, como hidroxicloroquina e ivermectina. (Estadão)

Uma ausência notável na lista de entidades é a do Conselho Federal de Medicina. Desde o ano passado, o CFM liberou médicos para usarem esse tipo de tratamento, mesmo sem comprovação científica. (Intercept)

O ministro do STF Marco Aurélio não conheceu o habeas corpus pedido por Bolsonaro contra as medidas de restrição determinadas pelos governos da Bahia, do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal. Como a Advocacia-Geral da União não assinava a ação, Marco Aurélio considerou que ela não poderia sequer ser analisada. Confira a íntegra da decisão. (Poder360)

Mais cedo, numa cerimônia reservada e fora da agenda, Bolsonaro deu posse a Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, antes mesmo da nomeação ser publicada numa edição extra do Diário Oficial da União. No discurso, mostrou afinação com o presidente, ressaltando a necessidade de “unir esforços do enfrentamento da pandemia com a preservação da atividade econômica”. Ele é o quarto ocupante do cargo desde a chegada da pandemia ao Brasil, em março do ano passado. (G1)

E continua o mistério em relação ao destino do general Eduardo Pazuello. Bolsonaro pretendia colocá-lo à frente do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), mas não contava com a péssima repercussão no mercado nem com a reação de ministros. A aposta agora é na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), hoje ocupada pelo almirante Flávio Rocha. (Valor)

Igor Gielow: “Um ano depois de chamar a Covid-19 de gripezinha, um novo Jair Bolsonaro foi à TV na noite desta terça. Prócer da vacina, solidário com os brasileiros. E calcado em mentiras, recebidas desta forma com panelaços em todo o país. Se queria convencer alguém de sua conversão à priorização do combate à Covid-19, terá trabalho.” (Folha)




Numa sessão marcada por reviravoltas e trocas de farpas, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, por 3 votos a 2, que o ex-juiz Sérgio Moro agiu com parcialidade ao condenar o ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá. Com isso, todas as provas no caso foram anuladas, e a investigação volta à estaca zero. O ministro Nunes Marques, que havia pedido vistas, votou a favor de Moro, seguindo o relator Edson Fachin e a ministra Cármen Lúcia, que haviam votado em 2018, quando o julgamento começou. Porém, como havia anunciado, Cármen se manifestou novamente, mudando seu voto e acompanhando Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski para considerar que Moro foi parcial. (UOL)

Entenda as consequências da decisão da Segunda Turma do STF. (Globo)

O voto de Nunes Marques provocou reação no tribunal. O mais novo ministro, nomeado ano passado por Jair Bolsonaro, baseou quase todo seu voto na ilegalidade como prova das conversas hackeadas entre Moro e os procuradores da Lava-Jato, que classificou como “prática abjeta”. Após o voto, Gilmar Mendes, que tinha aberto a divergência contra Moro, rebateu, dizendo que seu voto não tinha se baseado nos vazamentos e que não era “hora de covardia”. Perguntou se alguém “compraria um carro usado de Moro” e afirmou que o argumento de Marques não era garantismo “nem aqui nem no Piauí”. Marques não gostou da referência a sua terra-natal, acusou Gilmar de “menosprezar um estado pequeno” e disse não ter medo dos votos dos colegas. (Folha)

O bate-boca, claro, se converteu em memes. A decretação da parcialidade de Moro também. (Poder360)

Segundo Bela Megale, o resultado, interpretado no STF como uma derrota política de Bolsonaro, pegou o Planalto de surpresa. Já Lula, que acompanhou o julgamento em casa, vibrou muito com o voto de Cármen Lúcia. (Globo)

Tão logo foi proclamado o resultado, políticos da oposição e da base governista foram ao Twitter comemorar e criticar, respectivamente. Para o líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS), o voto de Nunes marques mostrou que “Bolsonaro tem mais medo de Lula que de Moro”. Já o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) disse que ontem foi “mais um dia triste para o combate à corrupção”. Enquanto isso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez jogo duplo. Elogiou a coragem da Lava-Jato mas criticou o “estado policial” para o qual ela descambou. (Estadão)

Bruno Boghossian: “O STF não declarou apenas que Sergio Moro pisou fora das regras do processo legal. O julgamento que definiu a suspeição do ex-juiz na condução de um dos processos contra o ex-presidente Lula deixou às claras uma deformidade central da Lava Jato. O tribunal aplicou à operação a marca da motivação política.” (Folha)




Meio em vídeo. A história recente do Brasil interpretada a partir da análise retórica do discurso político. É o que o escritor e professor de literatura da Universidade Tulane, em Nova Orleans (EUA), Idelber Avelar propõe em seu mais novo livro Eles Em Nós (Record). No Conversas com o Meio desta semana, o professor deu uma palinha da obra, analisando o cenário de ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva no início do século, a implosão dos protestos de junho de 2013, o impeachment de Dilma Rousseff e a vitória da extrema direita com Jair Bolsonaro. Confira no YouTube.

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