segunda-feira, 8 de março de 2021

LULA: “Falta medirmos força com Bolsonaro nas urnas”

 


O ex-presidente Lula vive um momento de regozijo evidente, como se notou na conversa de hora e meia por vídeo com Jan Martínez Ahrens, diretor do EL PAÍS para América, e Carla Jiménez, diretora no Brasil. Depois de ser declarado morto politicamente por seus adversários pela enésima vez, aos 75 anos o petista está forte na memória do eleitorado. Uma pesquisa publicada pelo Estadão no final de semana mostrou que seu potencial de voto chega a 50%, contra 38% do presidente Jair Bolsonaro. Lula teria condições de voltar a disputar se o pleito fosse hoje. “Eu necessariamente não preciso ser candidato a presidente, porque eu já fui. Me contento em ir para a rua fazer campanha por um aliado”, disse Lula ao EL PAÍS na última sexta, 5 de março, na peculiar linguagem dos políticos que querem voltar ao jogo mas não admitem. O petista espera o julgamento no Supremo Tribunal Federal do processo de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o que poderia anular suas condenações e devolver-lhe os direitos políticos. O tigre político que habita nele está incomodado em não poder ir à rua protestar contra a gestão de Bolsonaro para a pandemia: “É quase um genocida”, afirma.

Ainda nesta edição, destacamos três reportagens que mostram o preocupante colapso do sistema de saúde do do Brasil, de Norte ao Sul —como numa trilha de dominós que caem um a um. No Amazonas, que viveu cenas de horror em janeiro com a falta de oxigênio nos hospitais, as variantes do novo coronavírus e o comportamento negacionista de autoridades e parte da população ameaça manter o Estado no pico da pandemia pelos próximos dois anos, alerta um grupo de pesquisadores e cientistas que previu a catastrófica segunda onda da covid-19 em Manaus quatro meses antes dela acontecer. "Todas as autoridades no Amazonas já foram avisadas, mas preferem a prática de uma necropolítica. A gente precisa de um lockdown federal”, afirmou o biólogo Lucas Ferrante à repórter Steffanie Schmidt.

No Rio Grande do Sul, as aglomerações das festas de fim de ano e do carnaval reverberam agora sobre os hospitais públicos e privados. No fim de semana, o Estado ultrapassou 100% da taxa de ocupação dos leitos de UTI. O horizonte preocupa e o Governo gaúcho adotou a bandeira preta, de risco altíssimo de contaminações, o que na prática restringe a circulação de pessoas e limita as atividades econômicas ao essencial. O temor dos profissionais da saúde, entretanto, é que não haja mais como ampliar a estrutura de socorro aos doentes. Faltam médicos, enfermeiros e outros especialistas disponíveis para contratação imediata. "Já estamos na nossa máxima contingência. Tem hospital transformando o centro obstétrico em leito covid, tem leitos cardíacos virando leito covid e assim vai...", narra a médica Beatriz Schaan, coordenadora do grupo de trabalho para o enfrentamento do coronavírus do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, à repórter Naira Hofmeister.

No Rio de Janeiro, o caos no transporte público impõe aglomerações aos passageiros da capital fluminense, enquanto a Administração municipal resiste em adotar medidas rígidas de distanciamento social. “Haverá restrição de atividades comerciais, mas não de transportes públicos lotados. É um lockdown seletivo e envergonhado”, classifica a médica especialista em Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lígia Bahia, em entrevista à Ana Paula Grabois. Após a semana mais letal da pandemia no Brasil, o país ultrapassou 265.000 mortes e 11 milhões de infectados neste domingo.

A pandemia também impôs um duro ciclo para as mulheres no mundo todo, cujo dia internacional de luta por mais direitos é celebrado nesta segunda-feira, 8 de março. Em todo o mundo, foram mãos de mulheres quem cuidaram da maioria dos pacientes de covid-19: elas representam 7 de cada 10 profissionais sanitários e cuidadores no planeta, segundo uma análise feita pela ONU no final de 2020. Ainda assim, foram as que mais perderam os empregos, as que mais empobreceram, as que mais observaram um recuo em frágeis avanços conquistados ao longo das últimas décadas. As Nações Unidas calculam que em 2021 haverá quase 435 milhões de mulheres pobres, 11% a mais do que se não tivesse acontecido a pandemia, revela a reportagem do EL PAÍS Semanal que destacamos nesta edição. “Estamos particularmente preocupados com as jovens, pelo número de adolescentes que ficaram grávidas durante o confinamento, as que não voltarão à escola, o aumento do tráfico de meninas”, adverte a diretora da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka.


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