segunda-feira, 29 de março de 2021

Senado e Araújo em guerra aberta

 Com a cabeça a prêmio, o chanceler Ernesto Araújo pagou para ver e partiu para o ataque contra o Senado. No Twitter, o ministro afirmou que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) o visitou do Itamaraty e disse que ele seria “o rei do Senado” se fizesse um “gesto em relação do 5G”. O gesto, segundo Araújo, seria adotar uma posição favorável à China, país com o qual o chanceler acumula atritos. (Poder360)

Lauro Jardim: “Kátia Abreu disse aos senadores que Araújo mentiu ao sugerir que ela o pressionou a fazer um ‘gesto em relação ao 5G’. A senadora quer que a Casa tome uma ‘medida séria’ contra o chanceler. A senadora disse ainda que há uma ação orquestrada nas redes bolsonaristas para espalhar que Arthur Lira e os senadores foram comprados pela chinesa Huawei. ‘Vagabundo’, ‘psicopata’ e ‘mentiroso’ foram alguns dos adjetivos dirigidos ontem ao chanceler.” (Globo)

Pois é... O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), respondeu duro. “A tentativa do ministro de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes”, afirmou. “Essa constante desagregação é um grande desserviço ao País.” (Twitter)

Leonardo Sakamoto: “Em mais uma pressão pela substituição do chanceler Ernesto Araújo, a oposição ao governo apresentou, nesta sexta, um projeto de resolução do Senado para sustar todas as sabatinas com chefes de missões diplomáticas. Senadores são responsáveis por aprovar a nomeação de embaixadores feitas pelo presidente da República. Com a proposta, elas ficariam suspensas enquanto o atual ministro das Relações Exteriores estiver no cargo.” (UOL)

Gerson Camarotti e Guilherme Mazui: “Interlocutores de Jair Bolsonaro avaliam que Ernesto Araújo tenta se vitimizar e encontrar uma saída honrosa perante a ala ideológica da base do governo ao tentar associar a pressão por sua demissão a um lobby em relação ao 5G. Aliados do governo viram no gesto um movimento desesperado do chanceler.” (G1)

E o Meio errou. Na edição de sexta-feira, o chanceler Ernesto Araújo foi erroneamente chamado de Eduardo Araújo.




O azedume nas relações entre o Centrão e Jair Bolsonaro não é um fenômeno político em sua origem, é econômico. O movimento foi resultado de nove encontros que os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tiveram com grandes empresários, representantes de bancos e do mercado financeiro. O objetivo imediato do setor econômico é derrubar dois ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). Para os empresários, é necessário “controlar o presidente” e reverter a imagem “nefasta” do Brasil no exterior. (Estadão)

Entre os agentes do mercado que não disfarçam a insatisfação com Bolsonaro está Luis Stuhlberger, gestor do festejado Fundo Verde e um dos signatários da carta de economistas pedindo mudanças na condução do país. Decepcionado, ele diz que votou no presidente em 2018, mas que ele “não vai ter mais” seu voto. (Estadão)

Já Bolsonaro tenta ganhar tempo e não ceder às pressões do Centrão e do meio empresarial e financeiro. Além da pressão sobre Salles e Araújo, os parlamentares reclamam do distanciamento do governo, até mesmo de ministros oriundos de partidos da base. (Folha)

Mas não são só os empresários que estão descontentes. Militares da reserva, com anuência dos da ativa, articulam apoio a um nome de “terceira via” para 2022. Por um lado, consideram o retorno do PT ao Planalto um “retrocesso inaceitável”. Por outro, consideram que Bolsonaro não honrou o próprio discurso e que “o Brasil está sem rumo”. (Globo)

Vinícius Torres Freire: “Agora é a vez de o centrão tentar tutelar Bolsonaro, um plano que vinha sendo articulado desde o início de março. De modo improvisado ou acidental, o movimento da ‘carta’ de economistas, financistas e empresários e a manobra do centrão confluíram. Por afinidades eletivas, como diria um velho sociólogo, criou-se uma reação maior a Bolsonaro. A tutela pouco limita seu poder de destruição e seu projeto de tirania; sem oposição não se cria alternativa de poder. Oposição quer dizer: líderes, confrontos, articulações sociais, ideias.” (Folha)




Reconquistar a confiança do PIB não é problema exclusivo de Jair Bolsonaro. Seu provável adversário em 2022, o ex-presidente Lula enfrenta o mesmo drama e mandou um recado em seu discurso há duas semanas: “Não tenham medo de mim”. Em 2002, o recado veio junto com a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometia com uma política econômica austera. Só que hoje os autores daquele texto acreditam que não seja possível repetir o resultado, dadas as mudanças no cenário político e econômico em duas décadas. (Folha)




O policial militar Weslei Soares foi morto a tiros por colegas no início da noite de ontem, em frente ao Farol da Barra, em Salvador. Weslei chegou ao lugar após ser perseguido, carregava um fuzil automático com o qual fez dezenas de disparos para o ar na região turística, e trazia o rosto pintado de verde para camuflagem. Houve tentativas de negociação, mas o rapaz alternava entre picos de lucidez e de loucura — segundo a PM baiana teve um surto psicótico. Foi morto pelo Bope quando voltou a arma para os outros soldados e fez que ia atirar. Durante a tarde, Weslei chegou a lançar ao mar os produtos vendidos por ambulantes e mais de uma bicicleta de trabalhadores. (Correio da Bahia)

Um vídeo amador mostra que Weslei só foi atingido após atirar contra os policiais. As imagens podem chocar. (G1)

Então... Durante a madrugada, as redes bolsonaristas começaram a incitar. As deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli afirmam que o surto ocorreu porque Weslei não queria controlar o fluxo de pessoas pelas medidas de isolamento social. Mas ignoram que ele agiu contra trabalhadores. (Twitter)

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