segunda-feira, 23 de março de 2020

Bolsonaro entra em conflito com governadores


O presidente Jair Bolsonaro passou o fim de semana em conflito aberto com os governadores. “É um lunático”, afirmou a respeito do paulista João Doria. No sábado, Doria havia criticado o presidente por relativizar a gravidade do novo coronavírus. “Ele está aproveitando desse momento para crescer politicamente”, retrucou Bolsonaro, em entrevista à CNN Brasil. No domingo, falando à Record, voltou ao tema. “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão”, falou ao programa Domingo Espetacular. Bolsonaro demostrou irritação com o repórter Eduardo Ribeiro. Quando perguntado sobre os panelaços, ele levantou o tom. “Não estou preocupado com minha popularidade”, se queixou. “Ninguém acredita em pesquisa no Brasil. Este panelaço foi incentivado pela TV Globo, endossado pela revista Veja.” (Folha)
Assista à entrevista de Bolsonaro para a Record.
O presidente não falou sobre pesquisas à toa. O Datafolha ouviu brasileiros entre 18 e 20 de março — e por telefone, para evitar contato com o público. A gestão da pandemia pelo governo federal é aprovada por 35%. O trabalho dos governadores, que têm sido mais rigorosos, é aprovado por 54%. Até o ministério da Saúde é mais bem avaliado do que o presidente. 55% aprovam o trabalho de Luiz Henrique Mandetta. (Folha)
O Ibope também tem pesquisa nova, concentrada em São Paulo, capital. Sua administração é considerada ruim ou péssima por 48% dos paulistanos. 25% a veem como ótima ou boa. Na cidade de São Paulo, Bolsonaro venceu a eleição presidencial. (Estadão)
Não são apenas os brasileiros. Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, considera Bolsonaro o líder mundial mais ineficaz na resposta ao novo coronavírus. Ele, que é um dos mais respeitados consultores do mundo. (Estadão)
Eduardo Giannetti: “Podemos ter uma situação de privação material gravíssima para milhões de brasileiros e podemos caminhar para algum tipo de onda de descontentamento que gere conflagração. Tenho acompanhado as sucessivas ondas de descontentamento que tem se visto no Brasil desde 2013. A próxima onda já está começando a se erguer, aparentemente, vai ser contra o Bolsonaro. Assim como uma onda o elegeu, muito baseado no sentimento antipetista, essa mesma dinâmica, que é muito violenta de um tempo para cá no Brasil, pode desaguar em uma situação de contestação popular ampla da legitimidade desse status quo. O ideal, para Bolsonaro e seu grupo político, é, de novo, uma polarização com o Lula e o petismo. Para o país, seria realmente um desastre. Acho que temos de unir as forças do campo democrático progressista como elas se uniram contra a ditadura militar. Hoje, temos um inimigo que é igual ou pior que o regime militar. Se não conseguirmos nos unir em uma oposição democrático-progressista, com um projeto que seja aceito por todos, vamos polarizar de novo, e a chance de eles continuarem aumenta muito.” (Folha)



O BNDES anunciou um pacote de medidas que inclui a injeção de R$ 55 bilhões na economia. O valor será destinado para reforçar o caixa de 150 mil empresas — entre elas, micro, pequenas e médias empresas. O banco também suspendeu em até seis meses os pagamentos das parcelas de financiamentos diretos e indiretos para empresas no valor de R$ 30 bilhões. (Estadão)
Mas… O pacote real é menor do que anunciado: pelo menos R$ 20 bilhões destinados ao FGTS já tinham sido apresentados semana passada e não têm qualquer efeito prático, aponta Miriam Leitão. (Globo)
A política americana será bem mais agressiva — quando sair. O pacote total para a economia pode chegar a US$ 2 trilhões de dólares. Um dos planos, proposto pelo senador republicano Marco Rubio, considerado conservador fiscal, é de uma linha de crédito de US$ 300 bilhões para pequenas e médias empresas. O empréstimo será perdoado para aquelas que não demitirem funcionários. (Miami Herald)
As propostas incluem, ainda, a suspensão do pagamento de hipotecas por um ano para aqueles que perderam empregos. Quem se formou pagando com empréstimos o curso universitário também poderá a ter um ano sem contagem de juros ou mesmo os pagamentos de parcelas suspensos. (NPR)
De qualquer forma, o pacote americano ainda não saiu. Ontem à noite, domingo, os democratas derrubaram a primeira versão em voto no plenário. A oposição quer mais dinheiro para os trabalhadores e maiores controles sobre as empresas que receberão estímulos. Os parlamentares voltam a se reunir hoje. (CNN)
Pois é... “O que temos até agora de estímulos é uma gota no oceano.” A frase, sobre o pacote proposto pelo governo brasileiro, é de Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos. Ele considera ser necessário um plano Marshall. Em seus cálculos, 40 milhões de brasileiros podem perder seus empregos devido à pandemia. (Estadão)
Porém... Paulo Guedes tem repetido que vai manter o teto de gastos. Na visão do ministro, de acordo com Lauro Jardim, se furar o teto, os juros voltam a subir e não haverá dinheiro para gastar com os mais vulneráveis. (Globo)

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