Parecia um prenúncio — quando chegava ao Palácio do Alvorada, na noite de segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro foi interpelado por um imigrante haitiano. O vídeo rapidamente se espalhou pelas redes e mostra um Bolsonaro inicialmente confuso. Acostumado a encontrar ali uma claque só com apoiadores, ficou surpreso com um crítico. “Você está entendendo”, disse o rapaz. “Estou falando brasileiro. Bolsonaro, acabou. Você não é presidente mais.” Quando amanheceu a terça-feira, a frase estava no topo dos trending topics, do Twitter. #BolsonaroAcabou. À noite, espontaneamente, pelo menos seis capitais registraram panelaços contra o presidente — São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Já havia protesto similar marcado para hoje, às 20h. (Poder 360)
Pois a reação do presidente foi concluir que seu ministro da Saúde está provocando histeria na população. Ele cobra de Luiz Henrique Mandetta que não tenha defendido em público sua decisão de participar das manifestações pró-governo, no domingo. Desde o ano passado, o perfil considerado excessivamente técnico de Mandetta incomodava ao núcleo ideológico. (Folha)
Se por um lado se queixa do que chama histeria, por outro atua. Ontem à noite, o presidente pediu ao Congresso Nacional que reconheça estado de calamidade pública. (G1)
Enquanto isso... Economistas de todas as linhas ideológicas cobram do governo ampliação do gasto público com foco no trabalhador informal — representam 41% dos ocupados. A crise será séria. (Globo)
Joel Pinheiro da Fonseca: “Alguma chave virou em mim na semana passada, dia 9 de março, quando Bolsonaro afirmou ter provas de que a eleição teria sido fraudada. Até então, eu era contra sequer pensar em impeachment. Afinal, o custo do impeachment para o país é muito alto. Mas ali, naquele momento, com a acusação grave e mentirosa à Justiça Eleitoral, algo deveria ter sido feito. Foi, para mim, a gota d’água. O copo transbordou. Desde então, as indignidades de Bolsonaro só aumentaram. Para piorar, há evidências de que Bolsonaro acredita que a Covid-19 seja um plano chinês para prejudicar o Ocidente. Teorias da conspiração e pseudociência estão no posto mais alto da República. Não é à toa que vozes públicas, outrora apoiadoras, estejam se arrependendo publicamente. É o caso de Francisco Razzo, filósofo conservador. E também de Janaina Paschoal, em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo. No caso, ela não só se diz arrependida como defende o impeachment, no que tem razão. É impossível derrubar um presidente ainda popular. A resistência seria grande demais. Além disso, o momento de crise pede toda a atenção do setor público. Não podemos nos dar ao luxo de paralisar a política por meses em meio à crise do coronavírus. Assim, por enquanto, o melhor é deixar o presidente esquecido, isolado, enquanto os adultos do Congresso e de alguns ministérios trabalham. Ao final da crise, no entanto, caso a popularidade de Bolsonaro tenha caído devido aos problemas econômicos e à sua incompetência, que o Congresso faça logo seu trabalho.” (Folha)
Christian Lynch, do Iesp-Uerj: “Bolsonaro vê as nuvens negras no horizonte (a falência administrativa de seu governo, a ineficácia da política econômica, o coronavírus etc). Mas não quer abdicar da política autoritária de antagonizar as instituições, reiterando a estratégia populista que o elegeu. Como o cruzamento desses cenários costuma resultar em renúncia ou deposição desde o tempo de dom Pedro I, ele adota táticas defensivas. Denuncia o suposto ‘parlamentarismo branco’; cerca-se de generais estrelados no palácio presidencial; e acena com o espantalho do autogolpe. Mas Maia e o Alcolumbre não querem impeachment agora. Querem Bolsonaro falando sozinho, perdendo credibilidade junto ao mercado, à sociedade civil e às forças armadas. Acreditam que, deixado a si mesmo, ele vai acabar enrolando o chicote em torno do próprio pescoço. O timing do impeachment só poderia ser o começo do ano que vem, depois das eleições municipais. Durante o recesso, eles mediriam o estrago da popularidade bolsonarista. Quando o presidente se der conta do cálculo dos adversários, vai tentar antecipar o impeachment para o quanto antes, enquanto ainda guardar popularidade. Um processo nessas condições lhe daria a oportunidade de jogar o único jogo no qual é mestre: o do tumulto e do caos. No centro das atenções, se colocaria como vítima para incitar a metade do país contra a outra, ameaçar fechar o Congresso a pretexto de contragolpe, e como sempre — o mais importante — jogar areia nos olhos de todos. Esta parece ser a situação do xadrez político HOJE. Pode-se argumentar que muita coisa vai acontecer no caminho. É certo. Mas é o juízo de probabilidade de que elas aconteçam que orienta os atores políticos. Então, essas coisas não só ‘acontecem’, como também ajudam a construir os caminhos.” (Facebook)
A bolsas fecharam em alta depois de medidas dos bancos centrais. O Ibovespa subiu 4,85% e o Dow Jones 5,2%. O banco central americano anunciou compra de dívida corporativa de curto prazo. O BC também realizou leilão com oferta de até US$ 2 bilhões. A expectativa ainda é que hoje seja anunciado o corte da taxa de juros. Esse otimismo, no entanto, não foi suficiente para as bolsas da Ásia. Elas abriram em alta, mas fecharam no vermelho. Os índices da Europa também abriram em queda de 2% a 3%. (G1)
Essa crise levou o Brasil a ser um dos países emergentes onde mais os investidores tiraram dinheiro: US$ 10 bilhões desde 21 de janeiro. A consequência direta tem sido a desvalorização acentuada da moeda. (Folha) |
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