O governo brasileiro fechou as fronteiras com Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Peru e Suriname. A entrada no Brasil por vias terrestres fica restrita por quinze dias, mas há exceções. Brasileiros, residentes e estrangeiros em missão de organismos internacionais podem vir. Outra portaria suspendeu por um mês a entrada de estrangeiros vindos de uma lista de países que incluem os membros da União Europeia, Islândia, Noruega, Suíça, Reino Unido, Austrália, Japão, Malásia e Coreia do Sul. E, apesar de já não ter mais casos de contaminação comunitária, também com a China foi cortado o fluxo. A decisão é interpretada por alguns como uma resposta do Planalto à queixa do embaixador chinês, Yang Wanming. (Estadão)
Ontem, o deputado Eduardo Bolsonaro voltou a atacar os chineses via Twitter. “Jamais ofendi o povo chinês”, ele escreveu. “A comparação entre o ocorrido em Chernobyl e o alastramento do coronavírus não é novidade pois ambos os casos ocorreram em países cuja liberdade de expressão e imprensa são limitados pelo governo.” E, novamente, a Embaixada respondeu, subindo o tom. “São absurdas e perconceituosas as suas palavras, além de ser irresponsáveis. Não vale a pena refutá-las. Aconselhamos que busque informações científicas e confiáveis nas fontes sérias como a OMS, úteis para ampliar a sua visão.” (Twitter)
O Itamaraty soltou nota oficial afirmando que o embaixador foi desrespeitoso com o presidente Jair Bolsonaro. Porém, nos bastidores, circula a informação de que o presidente ficou irritado com o filho. Segundo Lauro Jardim, ele cogita ligar para o presidente Xi Jinping para pôr fim à crise. (Globo)
Pois é... Bolsonaro não se conforma com o novo coronavírus. Em sua tradicional live de quintas-feiras, afirmou que quer saber “até que ponto o vírus influenciou” nas mortes. A teoria do presidente é que as pessoas também têm outras doenças e que há exagero em estabelecer só uma causa. Ele se queixou também dos governadores. “Mas eu deixo claro que o remédio quando é em excesso pode não fazer bem ao paciente. Uns fecharam supermercados, outros querendo fechar aeroportos. Outros querendo colocar barreiras nas divisas aí entre os Estados, fechando academias. A economia tem que funcionar. Caso contrário, as pessoas não vão ficar aí se alimentar do nada.” (Poder 360)
Enquanto isso... Na Argentina, o presidente Alberto Fernandez determinou quarentena em todo o país até o dia 31. Todos devem permanecer em casa e os negócios não essenciais devem fechar. (Clarín)
Bolsonaro está sob pressão. Parlamentares ligados ao setor ruralista, que formam parte de sua base, passaram o dia em plena irritação com a crise artificialmente provocada com a China. O país é o maior comprador brasileiro. O vice-presidente Hamilton Mourão, em geral discreto, também se manifestou. “O Eduardo Bolsonaro é um deputado. Se o sobrenome dele fosse Eduardo Bananinha não era problema nenhum. Só por causa do sobrenome. Ele não representa o governo.” Eduardo Bananinha virou o principal assunto no Twitter. (Folha)
De sua parte, o escritor e guru familiar Olavo de Carvalho partiu para atacar os militares. “Desde o início do seu mandato, aconselhei ao presidente que desarmasse os seus inimigos ANTES de tentar resolver qualquer ‘problema nacional’. Ele fez exatamente o oposto. Deu ouvidos a generais isentistas, dando tempo a que os inimigos se fortalecessem enquanto ele se desgastava em lacrações teatrais.” (Facebook)
Vera Magalhães: “O incidente sinobrasileiro foi mais uma crise desnecessária, provocada por obra e graça da família Bolsonaro, em meio à pandemia do novo coronavírus. Enquanto isso, na vida real, existe uma clara queda de braço entre o governo federal e os governos dos Estados quanto ao tom e a dureza das medidas para enfrentar o surto. Enquanto Bolsonaro, mesmo depois das primeiras mortes e da crescente oposição a seu governo vista nos panelaços e nas redes sociais, insiste que não se pode ‘parar a economia’, os governadores adotam dia a dia medidas mais restritivas à circulação das pessoas e ao comércio. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu uma coletiva bastante diferente das que vinha concedendo até aqui. Depois de fazer várias referências políticas a um enciumado Bolsonaro, fez uma entrevista em que pareceu afrouxar as recomendações de distanciamento social e isolamento, restringindo-as a quem tem sintomas e convive com pessoas de mais de 60 anos. A reação das redes sociais foi imediata, e assessores do ministro foram vagos quanto ao significado das novas orientações. Ele causou perplexidade ao recomendar que universidades e escolas retomassem atividades, na contramão das deliberações das redes privadas de ensino em todo o país e de administrações estaduas e municipais. Se a determinação de Mandetta parece mais flexível, é de se perguntar por que, então o governo federal fechou as fronteiras com todos os países, menos o Uruguai.” (BR Político)
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