terça-feira, 31 de março de 2020

Planalto opera para tirar foco de Mandetta


A imprensa foi tomada de surpresa, ontem, com mudanças no rito da entrevista coletiva diária do Ministério da Saúde a respeito do curso da pandemia no país. No meio da tarde, foi transferida para o Palácio do Planalto, passou a ser dirigida pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, e a contar com o alto-escalão da Esplanada — Onyx Lorenzoni (Cidadania), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), André Luiz de Almeida Mendonça (Advogado-Geral da União), além de Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. Oficialmente, a mudança se deu porque a crise é séria, multidisciplinar, e portanto envolve o trabalho de todos. Mas, nos bastidores, o argumento é outro. “Só tem um governo”, disse um ministro a Natuza Nery. “E, queiram ou não, é o governo Bolsonaro.” É uma tentativa de tirar os holofotes de Mandetta. “Não tem ‘governo do Ministério da Saúde’.” Mas a divisão permanece. “Mantenho as recomendações dos estados”, afirmou Mandetta. “A gente deve manter o máximo grau de distanciamento social.” (G1)
Em dado momento da coletiva, um repórter perguntou a Mandetta sobre sua possível demissão. Braga Netto intercedeu de presto. “Não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta”, afirmou sisudo. “Isso aí está fora de cogitação.” O responsável pela Saúde então pegou o microfone com sorriso no canto do rosto. “Em política quando a gente fala não existe as pessoas falam, ‘existe’.” Assista. Não foi o único momento de deboche. A última pergunta da coletiva foi sobre o passeio do presidente Jair Bolsonaro pelas cidades-satélites de Brasília. Imediatamente Braga Netto interrompeu e a locutora do Palácio anunciou o fim. Mandetta abriu um sorriso largo. (G1)
Não é só Mandetta que incomoda Bolsonaro. O ministro da Justiça, Sergio Moro, é outro visto com desconfiança, de acordo com o Painel. Em um tuíte, Moro recomendou que “prudência, no momento, é fundamental”. O presidente está dividindo os ministros entre quem o defende e quem não o defende. (Folha)
Então... Tampouco é só Bolsonaro quem está incomodado com Mandetta. O protagonismo do ministro da Saúde e as muitas cobranças feitas à pasta de Economia, segundo o Painel Econômico, estão perturbando Paulo Guedes. (Folha)
Aliás... Não ficou só no Twitter. Facebook e Instagram também apagaram posts do presidente. (Poder 360)



PT, PDT, PSB, PCdoB, PSOL, Rede e PCB ingressaram com notícia-crime junto ao STF, contra Bolsonaro. As legendas acusam o presidente de crime comum por ter colocado em risco a saúde da população ao descumprir, em seu passeio de domingo, as orientações das autoridades sanitárias. É uma tentativa de buscar caminho alternativo ao impeachment para afastamento temporário. (Estadão)



O senador Antonio Anastasia apresentou, ontem, um longo projeto de lei construído em conjunto por técnicos do Congresso e com pitacos do Supremo. O texto altera regras de despejo de inquilinos residenciais, suspende prazos de prescrição, restringe o direito de devolução de mercadorias, permite a empresas e condomínios que realizem assembleias virtuais e posterga a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados — fica para daqui a 18 meses. A maioria das mudanças tem prazo de validade: tudo volta a como era antes na virada do ano. O objetivo é dar segurança jurídica neste período adverso. O Poder Executivo foi alijado da elaboração. (Poder 360)



Em dado momento da entrevista com o chanceler Ernesto Araújo, que foi ao ar domingo, o jornalista Fernando Rodrigues lhe perguntou se considerava correto o posicionamento do escritor Olavo de Carvalho, que defende não haver pandemia em curso no planeta. Araújo respondeu que depende de como se define pandemia. Araújo é um dos mais próximos ministros do presidente. (Poder 360)



O americano Trump, o italiano Conte, o mexicano López Obrador e o russo Putin. Eles relutaram em apoiar isolamento social contra o coronavírus, mas mudaram de ideia. Bolsonaro e nicaraguense Ortega seguem sem apoiar o isolamento geral. (G1)



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