quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Acabou a Era Trump

 


A última vez em que um presidente americano se recusou a passar o cargo a seu sucessor, o ano era 1865. Vice de Abraham Lincoln, que terminou assassinado, Andrew Johnson só não foi posto para fora no meio do mandato por um único voto que faltou no julgamento do primeiro impeachment da história. E não passou o cargo ao general vitorioso da Guerra Civil, Ulysses Grant. Tendo incitado as tensões raciais americanas o quanto pôde, exatamente como Johnson em seu tempo, Donald Trump deixará de ser presidente dos EUA hoje, ao meio-dia em Washington, 14h no Brasil. Pediu para o bota-fora uma cerimônia militar — raro num país que celebra o comando civil —, que ocorrerá nos instantes anteriores à posse de Joe Biden. (CNN)

O populista aproveitou as últimas horas no cargo para distribuir o perdão presidencial para inúmeros aliados envolvidos em esquemas de corrupção. Ao todo, 143 nomes estão na lista dos que deixaram de dever à Justiça — inclui lobistas que influenciaram seu governo em nome de grupos estrangeiros, ex-deputados que receberam propinas, além do ideólogo de sua campanha, Stephen Bannon, acusado de levantar fundos para causas da direita pela internet e usar o dinheiro para benefício próprio. (New York Times)

Pois é... Enquanto isso, no Senado, o líder republicano Mitch McConnell discursou acusando Trump pela primeira vez, abertamente, de ser responsável pela tomada do Capitólio por vândalos. McConnell, assim como o líder do partido na Câmara, Kevin McCarthy, não vão à cerimônia de despedida do presidente. Preferiram assistir junto a Joe Biden a uma missa católica, que antecede à posse. (Axios)

E assim os EUA voltam a ter um governo normal.




O combate ao coronavírus no Brasil enfrenta um entrave sério, a falta de insumos para a produção de novas vacinas. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) adiou para março a entrega das primeiras doses da vacina de Oxford/AstraZeneca produzidas no país. Mesmo que receba os insumos previstos para chegar no próximo dia 23, a instituição precisará de testes e controle de qualidade que demandarão mais tempo. (Estadão)

Já o Instituto Butantan, responsável pela CoronaVac, espera receber na próxima semana um carregamento de insumos que estava retido na China, segundo o blog da jornalista Júlia Dualibi. O lote consiste em 5,4 mil litros do princípio ativo, o suficiente para fazer mais 5,5 milhões de doses da CoronaVac. Ontem, Dimas Covas, diretor do instituto cobrou dignidade do presidente Jair Bolsonaro na defesa da vacina e na negociação com a China. (G1)

Com os riscos no abastecimento de vacinas e a falta de um cronograma claro, especialistas estimam que a imunização completa da população só aconteça no primeiro trimestre de 2022.

Diante das tensões criadas com a China pelo chanceler Ernesto Araújo, o governo estaria buscando um novo interlocutor com o país asiático. Segundo o blog de Andréia Sadi, o vice-presidente Hamilton Mourão se ofereceu. (G1)

E a Índia finalmente autorizou a exportação de vacinas produzidas no país... mas não para nós. O Ministério das Relações Exteriores indiano divulgou uma lista com oito países vizinhos ou aliados que vão receber imunizantes, três dos quais ainda dependem de autorizações regulatórias.

Impacientes com as falhas do governo federal, governadores voltaram a negociar diretamente com laboratórios estrangeiros. (Folha)

Depois de Manaus, a tragédia da falta de oxigênio para pacientes de Covid-19 chega ao interior do Amazonas. Em quatro dias, pelo menos 27 pessoas morreram nos municípios de Coari, Manacapuru, Itacoatiara e Iranduba, nos quais o estoque do gás ficou zerado. A prefeitura de Coari afirma que pelo menos sete vítimas sofreram asfixia. O avião que deveria levar cilindros de oxigênio para a cidade passou direto para outro município. (Folha)

O Ministério público do Amazonas investiga o que levou ao caos no abastecimento.

E a crise extrapolou o estado. Sete membros da mesma família, todos com sintomas de Covid-19, teriam morrido por falta de oxigênio na zona rural de Faro, município do Pará na divisa com o Amazonas. Seis cilindros do gás chegaram ao hospital local, mas foi tarde demais.

O Brasil voltou a ultrapassar mil mortes em um único dia. Foram registrados 1.183 óbitos, elevando o total a 211.511. Houve ainda 63.504 novos casos. E quem está internado em São Paulo com Covid-19 é o empresário Luciano Hang, um dos mais aguerridos partidários de Bolsonaro. A mulher e a mãe do dono da Havan também estão internadas.

Os Estados Unidos atingiram a marca de 400 mil mortos por Covid-19, segundo a universidade Johns Hopkins. É quase o dobro do segundo colocado, o Brasil. A mudança do outono para o inverno no Hemisfério Norte e as aglomerações em festas desde o Dia de Ação de Graças, em novembro, estão entre os agravantes da pandemia no país.

Outro país que vive o pior momento da pandemia é Portugal, que aumentou as já rígidas medidas de restrição. Na segunda foram registradas 167 mortes, o maior número em um só dia, e o sistema local de saúde está à beira do colapso.

Temendo o avanço de variantes mais fortes do Sars-Cov-2, a Alemanha estendeu até 14 de fevereiro seu lockdown.




Com a derrota do Planalto na guerra das vacinas, a crise do oxigênio no Amazonas e a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, a ideia de um processo de impeachment deixou de ser exclusividade da oposição. O pano de fundo é a eleição para a presidência da Câmara, marcada para o dia 1º de fevereiro. O Planalto joga suas fichas em Arthur Lira (PP-AL), visto como alguém que não deixaria um processo contra o presidente prosperar. Mas mesmo políticos do Centrão admitem que um agravamento na rejeição de Bolsonaro pode mudar esse cenário. (Folha)

E a Procuradoria Geral da República divulgou nota dizendo não cabe a ela, e sim ao Legislativo, "julgar eventuais ilícitos" cometidos por Bolsonaro na pandemia. Pela lei, a PGR realmente não tem poder de julgar nada. Mas cabe a ela, sim, investigar autoridades com foro privilegiado.




Candidato do Centrão e do Planalto à presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) anunciou ter a adesão de 36 dos 53 deputados do PSL, maior bancada na Casa, o que levaria o partido para seu bloco. Com isso, ele teria, formalmente, 249 deputados, contra 236 do bloco de Baleia Rossi (MDB-SP). Lembrando, claro, que o voto é secreto. (Globo)

Às voltas com a própria sucessão na presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) precisou parar ontem para negar qualquer relação com um clipe que circulou nas redes sociais exaltando em ritmo de funk seu trabalho na Casa. Assessores acham que o vídeo foi obra de alguma produtora tentado oferecer seus serviços.




José Murilo de Carvalho, historiador: “Como já indicou o comandante do Exército, general Pujol, quando condenou a politização das Forças Armadas, Bolsonaro não fala em nome delas. O presidente tem feito um jogo perigoso ao se dirigir a escalões inferiores da hierarquia militar e às polícias militares. É certamente tática de despistamento. A obsessão dele, como era a de Trump, é a reeleição. Ele vai inventar tudo que possa compensar as perdas. Ele fracassou redondamente na guerra da vacina e procura voltar à tona. Mas não se dará bem se quiser envolver as corporações militares desafiando sua hierarquia. Se tentar, terá o destino de seu líder norte-americano, sobretudo se os outros dois poderes da República se comportarem com maior responsabilidade. As pessoas estão cansadas da luta contra a pandemia, em que ele lutou do lado errado.” (Estadão)




Meio em vídeo: Liberdade de expressão em tempos de redes sociais é o tema do Conversas com o Meio desta semana. Se por um lado as transformações digitais das últimas duas décadas ampliaram o espaço de participação no debate público, por outro geraram bolhas ideológicas que interrompem o diálogo. Pedro Doria analisa as questões com o professor Fabrício Pontin, da Universidade La Salle, no Rio Grande do Sul, um especialista na filosofia da liberdade de expressão. Assista no YouTube.




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