sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O horror, o horror

 


“Orem pelo Amazonas.” O apelo desesperado de uma técnica de enfermagem dá a exata medida da tragédia humanitária que se abateu sobre o estado, em especial em Manaus. Sem oxigênio nos hospitais, profissionais de saúde tentam evitar que pacientes com Covid-19 morram asfixiados fazendo ventilação manual. Diante do caos, 750 doentes começaram a ser transferidos em aviões da FAB para hospitais em outros cinco estados (Goiás, Piauí, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte) e no Distrito Federal.

Para tentar reabastecer os hospitais da capital, a White Martins, responsável pelo fornecimento, conseguiu enviar alguns cilindros e prometeu trazer oxigênio da Venezuela, onde também atua. Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), por sua vez, desembarcaram ontem com oxigênio vindo de São Paulo. Mas a demanda é diária nos centros de saúde de Manaus e hoje supera os 28 mil metros cúbicos que a empresa é capaz de produzir na sua unidade local. O governo federal também pediu ajuda aos Estados Unidos para o envio de aviões com tanques do gás.

Cientistas identificaram que uma nova cepa mais contagiosa do Sars-Cov-2, o vírus que causa a Covid-19, surgiu no Amazonas, o que pode explicar, em parte, o aumento nos casos. A média móvel de mortes nos últimos sete dias subiu 183% em comparação às duas semanas anteriores — o aumento médio em todo o país foi de 41%. Pela primeira vez foram registrados mais de 3.800 casos em um único dia, e somente ontem 51 pessoas morreram no Amazonas. Em todo o Brasil houve ontem 1.151 óbitos, elevando o total a 207.160. É o terceiro dia consecutivo com mais de mil mortes.

Na tentativa de conter as aglomerações e o contágio, o governador Wilson Lima (PSC) decretou toque de recolher na capital amazonense, entre as 19h e às 6h, exceto para trabalhadores de serviços essenciais. Farmácias só poderão atender a entregas, e todo o transporte de passageiros, inclusive fluvial, está suspenso.

Mas é importante lembrar: em dezembro, Lima baixou um decreto apertando a quarentena no estado. Ele recuou após uma onda de protestos de comerciantes, preocupados com as vendas de Natal. Na época, a desistência do governo em implantar o lockdown foi celebrada e incentivada pelas principais estrelas bolsonaristas, incluindo jornalistas, celebridades e políticos que falavam em ‘liberdade’ e acusavam o lockdown de não funcionar.

Pois é... Como sói acontecer, na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro culpou o governo do estado e a prefeitura de Manaus pelo iminente colapso no sistema de saúde local. “O governo estadual e municipal (sic) deixou acabar o oxigênio”, afirmou. (Globo)

E enquanto Manaus enfrenta o horror, o Brasil espera uma vacina. A três dias da reunião prevista para dar aval à CoronaVac e à vacina de Oxford/AstraZeneca, a Anvisa notificou respectivamente o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para que enviem novos dados. O Ministério da Saúde prometeu entregar 8 milhões de doses de ambos os imunizantes a prefeitos para início da vacinação no dia 20.

E o governo vetou a ideia de empresários que gostariam de comprar vacinas para imunizarem seus funcionários. A informação foi dada pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Por conta da nova cepa identificada no Amazonas, o governo do Reino Unido proibiu todos os voos oriundos da América do Sul. Sobrou até para Portugal, por conta de seus “fortes laços de viagens com o Brasil”. O governo português classificou a medida como “absurda”.




O Enem vai acontecer mesmo no próximo domingo e no dia 24. O Tribunal Regional Federal da 3ª região negou o recurso da defensoria pública que pedia o adiamento do exame em função da Covid-19. Os desembargadores mantiveram o entendimento da primeira instância de que as medidas de segurança anunciadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) são seguras. O Inep, aliás, disse não garantir a reaplicação das provas onde forem adiadas por autoridades locais. A Justiça do Amazonas, por exemplo, suspendeu o Enem enquanto durar a situação de calamidade no estado. O governo federal está recorrendo da decisão.

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