sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Análise de Mídia - 22/01/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: As manchetes destacadas nas capas dos jornais apontam para assuntos diferentes, mas todas têm em comum problemas pontos críticos do governo Bolsonaro. A exceção é o Valor Econômico. A Folha destaca que a crise sanitária amplia a base jurídica para o impeachment. O Globo aponta que a pressão por um novo auxílio emergencial gera um temor de crise fiscal. O Estadão informa sobre a envio das vacinas da Índia para o Brasil. Já o Valor aborda a possibilidade de o Fisco pedir falência de empresas em dificuldade.
Apesar da pressão que os veículos de imprensa tentam exercer sobre o governo, os espaços dentro dos jornais continuam direcionados às mesmas fontes, às mesmas forças políticas, fator que por si só já enfraquece a democracia brasileira.
A Folha informa que o governo federal se recusa a informar o estoque de medicamentos e de testes de covid-19 e que a recusa não tem embasamento jurídico e desrespeita a Lei de Acesso à Informação. O jornal publica reportagem sobre os fatores que embasariam juridicamente o impeachment e sugere que o presidente estaria Bolsonaro ao publica trecho de uma fala dele no qual diz que “se Deus quiser vai poder continuar seu mandato”, como se ele estivesse enfraquecido. No entanto, Bolsonaro não parece ser do tipo que cai calado. Muito pelo contrário. Portanto, a postura do presidente parece ser mais para a construção de uma narrativa que o defenda da crise de incompetência do seu governo.
A diplomacia brasileira está na mira da imprensa, assim como o ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo. A Folha e o Valor Econômico afirmam que o governo vai precisar mudar o tom sobre a China e sobre a participação da Huawei no leilão 5G. O Valor ainda aborda a saia justa com o novo governo dos EUA e como pode ser difícil para que Bolsonaro mantenha relações com Joe Biden. Além disso, os jornais mostram a preocupação de empresários e do mercado financeiro com a situação do Brasil. O Estadão publica algumas notícias sobre a insatisfação do empresariado e uma entrevista com o presidente do Confederação Nacional dos Transportes.
O jornal O Globo aborda a falta de ação do PGR que se recusa a investigar o governo e a desorganização da administração federal que provoca o caos no país. O jornal carioca também chama atenção para a situação das mães solo que deixaram de receber o auxílio emergencial.

 

CAPA – Manchete principal: *”Crise sanitária amplia base jurídica para impeachment”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Investigue-se”*: Não deixou de ser revelador o comunicado divulgado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmando que compete ao Congresso Nacional a responsabilização de integrantes da cúpula dos Três Poderes —leia-se o presidente Jair Bolsonaro— por eventuais ilícitos no combate à Covid-19. O tom defensivo do texto expõe um chefe do Ministério Público Federal acuado. “Segmentos políticos clamam por medidas criminais contra autoridades federais, estaduais e municipais”, diz o ofício, que não menciona o presidente e apenas cita discretamente o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Imediatamente, o documento de Aras provocou reações internas. Seis subprocuradores-gerais que compõem o Conselho Superior do MPF apontaram, com razão, que a “referida nota parece não considerar a atribuição para a persecução penal de crimes comuns e de responsabilidade da competência do Supremo Tribunal Federal”. Pela Constituição, compete ao Legislativo julgar crimes de responsabilidade, mas cabe à Procuradoria investigar crimes comuns de autoridades com foro no Supremo Tribunal Federal, entre elas o presidente e seus ministros. No caso do mandatário, a Carta exige que dois terços da Câmara dos Deputados admitam uma acusação —o que não impede, no entanto, que se instaurem investigações quando necessário.
Aras até tomou providências relativas à tragédia da falta de oxigênio em Manaus, mas apenas em relação às autoridades municipais e estaduais. Quanto ao governo federal, as medidas se restringiram às de caráter administrativo, entre elas pedir explicações ao inepto general ministro da Saúde. Do nebuloso comunicado oficial do duvidoso procurador, resta verdadeiro que cabe ao Congresso o exame de crimes de responsabilidade, definidos pela lei 1.079, de 1950, e puníveis com o impeachment —e, no caso de Bolsonaro, trata-se de tema hoje em debate. Levantamento da Folha encontrou ao menos 23 situações que poderiam suscitar questionamentos dessa ordem —a legislação descreve 65 possibilidades. Até agora, com efeito, 61 pedidos de impeachment do presidente foram apresentados à Câmara dos Deputados, dos quais 5 foram arquivados. Este jornal já defendeu que o Legislativo se debruçasse sobre as acusações de interferência indevida na Polícia Federal feitas ao mandatário pelo ex-ministro Sergio Moro, da Justiça. Agora, também a conduta de Bolsonaro diante da pandemia, que transcende o descaso e a incompetência, merece investigação minuciosa. Sem prejuízo das obrigações da Procuradoria-Geral, a um Congresso altivo cabe fazer sua parte.
+++ O Estadão já pediu e agora a Folha também defende que Jair Bolsonaro pode ser alvo de um processo de impeachment.

RUY CASTRO - *”Carta de Bolsonaro a Biden foi lida às gargalhadas”*: Lisboa, no verão de 1975, devia ser a cidade mais excitante do mundo para um jornalista. Era o auge da Revolução dos Cravos, que, no ano anterior, derrubara uma ditadura de 48 anos. O governo do premiê Vasco Gonçalves, na prática comunista, estava sendo pressionado pela extrema esquerda a radicalizar e, com isso, deu-se um festival de tomada de empresas, ocupação de fábricas e nacionalização dos bancos. Dizia-se que Portugal sairia da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), liderada pelos EUA, e se juntaria ao Pacto de Varsóvia, dominado pela URSS.
Morando e trabalhando lá, fui ao Pabe, botequim dos correspondentes estrangeiros, encontrar um bem informado repórter americano. "Os russos não têm interesse em Portugal", ele disse. "Imagine um país comunista na Europa, de porta para o Atlântico! Isso só lhes traria problemas com os EUA. O que eles querem é Angola". Referia-se à ainda colônia portuguesa, às vésperas da independência depois de longa guerra contra a metrópole recém-encerrada pelo governo Vasco. "Assim que Angola ficar formalmente livre, os russos irão em busca de seu petróleo e deixarão Portugal falando sozinho", completou. No dia 11 de novembro, Portugal e os grupos de guerrilha assinaram a independência de Angola, e o MPLA (Movimento pela Libertação de Angola, pró-URSS) tomou o poder. Duas semanas depois, no dia 25, um golpe liquidou a Revolução dos Cravos. O repórter sabia o que dizia. Claro, seu informante era a CIA. Se os americanos sabem até o que vai acontecer, imagine como não são seus arquivos. De Jair Bolsonaro, por exemplo, eles têm cada trumpismo, por mais ínfimo. De Ernesto Araújo, ministro do Exterior, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, cada ato público ou secreto, legal ou ilegal —e tudo em assuntos de seu interesse. Em Washington, a carta de Bolsonaro ao presidente Joe Biden foi lida às gargalhadas.

PAINEL - *”Ministério da Saúde alega sigilo e se recusa a informar estoque de medicamentos e testes de Covid-19”*: O Ministério da Saúde se recusa a passar informações sobre a quantidade de testes de Covid-19 e de qualquer medicação de seu estoque. Em resposta a pedido via Lei de Acesso, a pasta de Eduardo Pazuello afirma que as “informações referentes ao estoque de medicamentos sob guarda deste ministério se encontram em status de reservado”. Eles embasam o sigilo, em meio à pandemia, com um documento classificado em 2018, mas especialistas dizem que a justificativa é descabida. Marina Atoji, gerente de projetos da Transparência Brasil, diz que “colocar o estoque inteiro de medicamentos em grau reservado é contrariar totalmente o princípio de que o sigilo tem que ser exceção, que está bem claro na LAI (Lei de Acesso à Informação). Certamente teria que ser um sigilo restrito a alguns medicamentos e insumos —e, ainda assim, forçando bastante a barra”. Além disso, ela aponta que os testes para Covid-19 não se encaixam na classificação de 2018, dado que naquele ano eles nem existiam.
O ministério argumenta, na resposta ao pedido via Lei de Acesso, feito pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que essas informações podem “pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população” ou “oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária do país”. Atoji diz que isso não faz sentido e pergunta de que forma isso se daria. "O máximo de sigilo que se poderia admitir seria sobre informações pessoais eventualmente associadas aos dados de estoques e de localização desses estoques. E a LAI determina que, quando um documento contém informações sigilosas e públicas ao mesmo tempo, o órgão deve fornecer as partes públicas e reter apenas as partes sigilosas —e o ministério tem toda a capacidade de fazê-lo, como mostra o próprio Termo de Classificação", completa Atoji, que também é coordenadora do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas. "Negar acesso a esse tipo de informação já seria grave em qualquer contexto. Mas neste momento é uma violação gravíssima de dois direitos constitucionais em uma tacada só: o direito de acesso a informações e o direito à saúde", conclui. O documento diz que as informações devem ter acesso restrito até 2023. As razões para classificação foram ocultadas no documento enviado pelo Ministério da Saúde. O deputado Ivan Valente solicitei informações sobre o estoque atual de testes e insumos para a realização de testes para a Covid-19 em poder do ministério, com a descrição do produto, da empresa fornecedora, a data de validade, a localização, a data de aquisição e os valores despendidos.
Recebeu como resposta o documento sobre o sigilo e um link de acesso para site que supostamente mostraria os contratos de compra de insumos. O link enviado não funciona (HTTPS://WWW.GOV.BR/SAUDE/PT-BR/ACESSO-A-INFORMACAO/LICITACOES-ECONTRATOS). “Não há justificativa plausível para que esta informação seja classificada como reservada”, diz Gil Castello Branco, fundador da ONG Contas Abertas. “Quanto maior a transparência nesses estoques, maior será o controle social. Se houvesse transparência plena em relação ao oxigênio, por exemplo, possivelmente não teria ocorrido a tragédia de Manaus”. "É um absurdo. Trata-se de uma informação pública de relevante interesse da sociedade, sobretudo na situação de enfrentamento à pandemia. Não há justificativa plausível para que esta informação seja classificada como reservada", acrescenta Castello Branco. "Em um determinado momento em que o estoque da União era elevado, disseram que os estados não tinham solicitado. Como solicitar se a pasta não torna público o estoque existente? Ao que parece, o ministério da Saúde está colocando a sua incompetência como sigilosa", finaliza. Procurado pelo Painel, o Ministério da Saúde não deu resposta.
+++ É inacreditável a postura do Ministério da Saúde. Em função da conjuntura, na qual os jornais querem que Bolsonaro seja alvo de um impeachment, talvez, temporariamente, partidos de esquerda possam ganhar espaço nos jornais para apresentar questionamentos contra o governo.

PAINEL - *”Inquéritos com base na Lei de Segurança Nacional duplicam e batem novo recorde sob Bolsonaro”*: O número de investigações abertas com base na Lei de Segurança Nacional quase dobrou em 2020 em relação a 2019. No segundo ano do mandato de Bolsonaro, foram 51 inquéritos instaurados, batendo novo recorde, agora dos últimos seis anos (2015). Criada na ditadura militar, a polêmica legislação já foi invocada no passado para perseguir políticos e incriminar ocupações de sem-terra. Hoje tem sido usada contra críticos do presidente e militantes bolsonaristas que fizeram atos pedindo fechamento do Congresso e do STF. Em 2019, o número já tinha sido o maior dos últimos anos, 26 investigações abertas, como mostrou o Painel. Nos anos anteriores foram 19 (2018), 5 (2017), 7 (2016) e 13 (2015). Um dos 51 inquéritos de 2020 é o do advogado Marcelo Feller, como mostrou a coluna da Mônica Bergamo, por causa de uma declaração na CNN contra o presidente Jair Bolsonaro.

PAINEL - *”PSOL apresenta projeto para acabar com voto secreto na Câmara dos Deputados”*: Deputados do PSOL vão protocolar um projeto de resolução na Câmara definindo que os votos dos parlamentares para a escolha da presidência da Casa passem a ser abertos. O projeto altera artigo do regimento interno da Câmara e tem como objetivo, segundo seus autores, deixar a eleição mais transparente. A vice-líder do PSOL, Fernanda Melchionna (RS), protocolará nos próximos dias o texto, que também é assinado por Sâmia Bomfim (SP), David Miranda (RJ) e Vivi Reis (PA). Com a Câmara em recesso, os deputados estudam uma forma de protocolar o projeto o mais rápido possível nesse período. "O sigilo na votação não tem nenhuma base constitucional e nem atende ao interesse público, uma vez que reduz a transparência, a publicidade e contribui para a interferência externa indevida dos demais poderes sobre esse importante momento da vida do parlamento", afirma Fernanda Melchionna.

*”Comando do PSL, que apoia Baleia, vê debandada pró-Lira, e centrão já espera efeito manada”* - A adesão do PSL ao bloco de apoio a Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Câmara fez dirigentes da legenda intensificarem movimento para tentar reconquistar dissidentes. A cúpula do partido apoia Baleia Rossi (MDB-SP). Lira é o candidato à presidência da Casa apoiado por Jair Bolsonaro (sem partido). Baleia lidera um grupo de partidos, incluindo da oposição, que faz frente ao ocupante do Palácio do Planalto. Diante dos embates no PSL, a campanha de Lira torce para que a demonstração de força do líder do centrão nesta semana provoque mais defecções. São esperadas traições em siglas de centro a ponto de elas também aderirem formalmente a Lira. Aliados do deputado apoiado pelo governo Bolsonaro calculam traições em partidos como PSDB e DEM. As direções de ambas as legendas —que têm 33 e 29 deputados, respectivamente— anunciaram apoio a Baleia. A expectativa é de rachá-los ao meio para que deputados coletem a metade das assinaturas mais uma de cada legenda e forcem a migração para o bloco de Lira. Seria um movimento semelhante ao do PSL, sigla pela qual Bolsonaro se elegeu presidente em 2018 e que ainda abriga um de seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Nesta quinta-feira (21), a Mesa Diretora da Câmara deu aval para que o PSL ingresse no bloco de Lira. O candidato do PP conseguiu a assinatura de 36 deputados dos 53 que foram eleitos pela legenda. Na semana passada, Lira havia conseguido a assinatura de 32 congressistas, dos quais 17 foram suspensos. O deputado fez nova investida sobre a sigla para conseguir a metade mais um da bancada que está ativa e não sofreu sanções. A maioria dos apoios a Lira é de bolsonaristas. Os quatro últimos que aderiram ao bloco, porém, eram considerados pela direção do PSL como aliados da cúpula do partido, que se posiciona contra Bolsonaro. A adesão a Lira irritou dirigentes. "É uma questão intrapartidária. Foram pessoas beneficiadas pelo partido, receberam fundo, presidem diretórios estaduais", disse o deputado Júnior Bozella (SP), vice-presidente do PSL. "A gente tem tentado puxar o grupo do PSL para uma reflexão, porque a história vai cobrar a fatura. Eles estão fadados ao insucesso porque estão traindo a população brasileira", afirmou. Os deputados Charlles Evangelista (PSL-MG), Delegado Pablo (PSL-AM) e Nicoletti (PSL-RR) são presidentes de diretórios estaduais. Bozella defendeu que caso sigam com Lira percam os cargos de direção no partido.
O tamanho do bloco partidário é relevante porque define a ordem de prioridade de cada partido na escolha de cargos na Mesa Diretora e nas comissões. Os grupos têm até o dia 1º de fevereiro para serem definidos e podem mudar até lá. Até então, o bloco de Baleia somava 291 deputados. Sem o PSL, ele cai para 238, enquanto o de Lira sobe para 272. O voto para a presidência da Câmara é secreto. Logo, os blocos não refletem o placar da eleição. A pouco mais de uma semana do pleito, cada candidato investe nos locais em que precisa captar mais votos. O maior desafio para Baleia, segundo aliados, está no Rio de Janeiro e no Paraná.
Já Lira fez nesta semana uma ofensiva sobre São Paulo. O deputado do PP afirmou nesta quinta ter o apoio da maioria dos deputados paulistas, apesar de o governador João Doria (PSDB) apoiar seu adversário. "São Paulo está do nosso lado. Quem vota na eleição da Câmara são os deputados. Os governadores, eu respeito institucionalmente, cada um pode tomar a sua posição, mas a campanha é feita internamente", afirmou Lira. "Minha campanha é a proposta do nós, acabando com a centralização da pauta e a governabilidade do eu", disse, em crítica endereçada a Baleia. Lira está percorrendo o país em campanha e chegou à capital paulista na quarta-feira (20). Segundo aliados, um jantar de apoio reuniu 43 deputados federais de São Paulo e outros 31 de outros estados. Estavam presentes ainda os presidentes de seis partidos —PSD, PP, PL, Podemos, Avante e Republicanos. Já aliados de Baleia contestam o favoritismo alegado por Lira no estado. Segundo eles, a disputa ainda está em aberto, com 13 deputados paulistas indecisos. Nesta quinta pela manhã, Lira teria reunião com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). O encontro, no entanto, acabou cancelado por conflito de agendas. O deputado teve uma reunião com representantes do mercado financeiro e falou com Covas apenas por telefone. Segundo tucanos, o contato com o prefeito ocorre por questão institucional e de educação. Para aliados de Doria, Lira busca votos em São Paulo porque o estado tem a maior bancada do país, com mais de 70 deputados.
Lira falou à imprensa após palestra na Associação Comercial de São Paulo, onde esteve acompanhado por cerca de 20 deputados. Também estavam presentes o ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD e ex-secretário de Doria, e o secretário municipal da Casa Civil, Ricardo Tripoli (PSDB), representando Covas. Kassab já declarou seu apoio a Lira. A investida de Lira em São Paulo ocorre após gesto de Doria a favor de Baleia. Na sexta-feira (15), o governador ofereceu ao emedebista um almoço que reuniu cerca de 20 parlamentares e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio dos Bandeirantes. Após o almoço, Doria concedeu entrevista à imprensa para declarar seu apoio a Baleia.​

ENTREVISTA - *”Pacheco diz não ver ameaça à democracia e que erros de Bolsonaro na pandemia são 'escusáveis'”* - Candidato de Jair Bolsonaro na disputa para a presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), 44, reconhece que o Brasil vive um momento político turbulento, mas afirma que não há ameaça à democracia. “É natural que em um ambiente democrático, a depender da personalidade dos sujeitos envolvidos, haja divergências, que podem descambar para atritos”, afirmou em entrevista à Folha. “Isso existe na política do Brasil hoje, é inegável. Porém, nada que ameace as instituições democráticas.” Num momento em que o Ministério da Saúde é criticado pelo atraso na obtenção da vacina e por problemas na compra de insumos, Pacheco evitou criticar a condução do governo federal no combate à Covid-19, afirmando que os erros são “escusáveis”. O candidato é considerado o favorito na disputa, contando com o apoio de nove bancadas (incluindo a do PT) que, teoricamente, garantem maioria necessária para a eleição —desconsiderando possíveis traições. Além de contar com a “simpatia” de Bolsonaro, é o nome apadrinhado pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Em uma das discordâncias com o governo, defendeu que se fure o teto dos gastos, se necessário, para prorrogar o auxílio emergencial ou adotar alguma medida para atender a população vulnerabilizada.
- O presidente Jair Bolsonaro afirmou que tem “simpatia” pelo senhor. O senhor se considera o candidato do governo, assim como Arthur Lira (PP-AL) é na Câmara dos Deputados?
- Eu me considero um candidato dos senadores e das senadoras, de um partido político que é o Democratas e que hoje conta com a adesão de diversos outros partidos. De fato, recebi a manifestação de simpatia por parte do presidente da República, Jair Bolsonaro. Recebi bem essa manifestação e a interpreto como uma boa sinalização de que, na Presidência do Senado, nós teremos um diálogo franco, aberto, respeitoso entre os dois Poderes. Mas com uma premissa básica: a independência do Senado Federal.

- O senhor se encontrou com Bolsonaro nas vésperas do Natal. Houve condições para o apoio?
- Não houve condição alguma. De fato lá nós falamos a respeito da sucessão no Senado. Naquele instante havia uma percepção do presidente de que não deveria interferir, como de fato entendo que não interferiu até aqui. [Houve] apenas uma manifestação de simpatia.

- O senhor reuniu em torno de seu nome um bloco de apoio bem heterogêneo, que vai do PT ao presidente Bolsonaro. Alguém vai se frustrar?
- Absolutamente. Obviamente que esses lados políticos, essas linhas ideológicas têm divergências, que às vezes até descambam para atritos. O que existe de real é que todos esses lados entendem que há uma pauta comum, de interesse do Brasil e que tem alguém que seja capaz de respeitar esses dois lados e que possa conduzir os caminhos de solução.

- Como o senhor avalia o momento atual no Brasil?
- Eu vejo um momento turbulento no Brasil e no mundo em razão da pandemia do coronavírus, que nos exigirá soluções novas para um problema que é novo, é inusitado, que foi muito severo com o Brasil, que é a pandemia do coronavírus. Isso afeta tudo. Estou propondo que a gente tenha uma atuação parlamentar imediata, assentada em bases da pacificação, de consenso, de trabalho, de muita energia para resolver os problemas, mas dentro de um trinômio de saúde pública, de desenvolvimento social e crescimento econômico do país.

- Há ameaça às instituições democráticas?
- É natural que em um ambiente democrático, a depender da personalidade dos sujeitos envolvidos, os protagonistas desse processo, haja divergências, que podem descambar para atritos, até com alguma rispidez. Isso existe na política do Brasil hoje, é inegável. Porém, nada que ameace as instituições democráticas do Brasil, que estão sólidas, que são permanentes, estão construídas. E a democracia é um princípio inarredável para o Congresso Nacional e para o povo brasileiro. Nós vamos sempre preservar a democracia e não creio que haja nesses atritos que estamos vivendo no Brasil qualquer tipo de ameaça às instituições democráticas.

- O senhor concorda com o presidente, para quem as Forças Armadas decidem se haverá democracia ou ditadura?
- Eu reconheço a grande importância das Forças Armadas para a República e para a democracia. Mas a democracia advém do povo brasileiro. É o povo o protagonista da democracia e os seus representantes legitimamente eleitos, inclusive o próprio presidente da República.

- Como o senhor vê a condução do governo no enfrentamento à pandemia?
- A pandemia foi tão severa e de tão difícil solução que fez com que todos os países do mundo errassem. Acho que houve erros em todos os países, em todos os estados, todos os prefeitos. É um chamado erro escusável, afinal das contas era algo novo, algo difícil. Para você ter uma ideia, só agora conseguimos ter uma vacina. Então houve erros e acertos dentro desse processo. Então é difícil dizer numa dinâmica de tudo o que aconteceu, se foi só errado ou se foi só acertado. Houve erros e acertos na condução desse processo.

- Há condições para a discussão de um pedido de impeachment?
- Impeachment é um instituto muito sério, grave, que abala as estruturas da República e que não pode ser banalizado. Para o impeachment, como para todos os processos, é preciso que haja justa causa e fundamento. Não posso avançar sobre uma hipótese que eu desconheço. É preciso se ter um fato concreto que indique a prática do crime de responsabilidade. Como é atribuição da Câmara dos Deputados, seria leviano da minha parte analisar pedidos que eu ainda desconheço.

- Mas em relação aos fatos que existem hoje, na política e na saúde?
- Confesso que não fiz um exame sob a ótica do crime de responsabilidade até aqui, porque nós estamos ocupados e preocupados com a solução da pandemia, das medidas tomadas pelo governo.

- O senhor é a favor da prorrogação do auxílio emergencial, mesmo que furando teto dos gastos?
- Auxílio emergencial foi uma medida necessária no ano de 2020, no âmbito da calamidade pública. Teve um significado grande para a população brasileira, mas ao mesmo tempo houve um grande ônus para as contas públicas. Para o ano de 2021, é evidente que precisamos ter responsabilidade fiscal, observância do teto de gastos públicos, mas não podemos nos esquecer da necessidade de socorrer as pessoas que são herdeiros dessa maldição que é a pandemia. Portanto, é preciso ter um colchão social. Se será com auxílio emergencial, com incremento do Bolsa Família, essa será uma discussão que será feita na primeira semana de fevereiro, com o Congresso será novamente protagonista disso, obviamente respeitando a posição do governo. Então é isso que vamos buscar: compatibilizar a rigidez fiscal com a necessidade de socorrer essas pessoas que estão vulnerabilizadas socialmente

- Mas o Ministério da Economia tem dificuldades para fechar essa equação.
- Essa é uma temática difícil, mas que precisa ser encontrada uma solução. Mas como há uma premissa de observância do teto de gastos, nós talvez tenhamos que invocar o Estado de Necessidade, que é um princípio do direito, para socorrer essas pessoas que eventualmente um pouco além do teto de gastos. Vamos buscar encontrar uma fórmula de compatibilizar a observância do teto dos gastos com a assistência de pessoas realmente necessitadas. E não descarto a possibilidade, dentro desse processo de consenso, junto com o Ministério da Economia, de uma forma que possa eventualmente extrapolar o teto de gastos. Embora não seja o ideal.

- O senhor pautaria o projeto de prisão em segunda instância e iniciativas anticorrupção?
- Essa pauta anticorrupção, é bom que se esclareça, eu fui favorável a algumas medidas e contrário a outras, como deputado e senador. Temos compromisso com o combate à corrupção, com a moralidade pública, com a ética na política, mas temos também a observância da Constituição Federal e dos seus princípios, de modo que cada processo que surgir nós submetemos ao colégio de líderes e sob o crivo do colégio de líderes pautá-los para o aprimoramento do combate à corrupção. Temos o reconhecimento que há um apelo social grande pela prisão em segunda instância. Isso está sendo discutido na Câmara, encontrando caminho para compatibilizar a efetividade da aplicação da lei penal, a prisão em segunda instância ou terceira, com a observância da Constituição, que é o princípio de que ninguém será considerado culpado senão após trânsito em julgado. Estamos aguardando a decisão da Câmara dos Deputados.

- Caso eleito, o senhor pensa em votar itens da pauta de costumes, que é cara ao presidente Bolsonaro, como a flexibilização do porte de armas?
- Eu não vou impor a minha vontade, minha percepção sobre o colegiado. Há um colégio de líderes que deliberará sobre a importância da pauta. Não serei um engavetador de projetos e deixá-los de submeter ao colégio de líderes. Essa pauta de costumes é importante, é legítima, é até necessária de ser discutida no Parlamento, para aprovar ou não. Mas a prioridade haverá de ser o enfrentamento da pandemia.

- Qual sua visão sobre o Conselho de Ética analisar o caso Flávio Bolsonaro?
- Conselho de Ética é um órgão do Senado Federal tão importante quanto são as comissões, quanto é a Mesa Diretora. Ficou prejudicado em 2020 por conta da pandemia e é um órgão que exige a presença física dos senadores. Seria muito difícil fazer remoto, até por questões da natureza dos temas ali tratados. O requisito para um processo no conselho de ética são fatos inerentes ao exercício do mandato correspondente àquela instituição. É uma premissa básica de legalismo mesmo, que, para mim, não é dirigido ao senador Flávio Bolsonaro. É dirigido aos 81 senadores, que são fatos inerentes ao exercício do mandato. Fatos outros que estejam fora do mandato parlamentar haverão de ser dirimidos numa seara própria, inclusive do Poder Judiciário.

*”Colapso em Manaus e derrapada na vacinação fortalecem base jurídica para impeachment de Bolsonaro”* - A morte de pacientes por falta de oxigênio em Manaus e os fracassos em série do planejamento federal para aquisição e distribuição de vacinas contra a Covid-19 deram mais solidez ao embasamento jurídico passível de ser usado para abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A análise das regras da Constituição e da Lei dos Crimes de Responsabilidade (1.079/50), os dois mecanismos jurídicos cabíveis, mostra a possibilidade de enquadramento de vários atos e omissões de Bolsonaro e do governo no enfrentamento da doença que já causou a morte de mais de 210 mil pessoas no país. A Folha compilou ao menos 23 situações em que Bolsonaro, em seus dois anos de governo até aqui, promoveu atitudes que podem ser enquadradas como crime de responsabilidade, e que vão da publicação de um vídeo pornográfico em suas redes sociais no Carnaval de 2019 aos reiterados apoios a manifestações de cunho antidemocrático. No caso da pandemia, dos oito especialistas ouvidos pela reportagem, sete apontam a garantia social da saúde da população como a principal regra violada pelo governo.
A Constituição lista em seu artigo 85 os atos do presidente que configuram crime de responsabilidade. Entre eles está os que atentam contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais —a saúde estando no último grupo. A Lei dos Crimes de Responsabilidade também define ser crime de responsabilidade violar "patentemente" os direitos sociais. Diferentemente de crimes comuns, esse tipo de infração recai em um grupo restrito de pessoas, como presidentes, prefeitos, ministros de Estado e ministros do Supremo Tribunal Federal, e é o que dá base jurídica a pedidos de impeachment. "Não resta a menor dúvida de que o presidente Bolsonaro atentou, em reiteradas oportunidades, contra o direito à saúde", afirma Elival Ramos, professor titular de direito constitucional da Faculdade de Direito da USP e ex-procurador-geral do estado de São Paulo. "Quando a gente olha uma atuação deliberada, reiterada, coordenada, uma ação 'pró-pandemia', temos claramente um crime de responsabilidade, uma vez que o governo está agindo completamente, e não eventualmente, fora do esquadro constitucional", reforça Eloísa Machado, professora de direito na FGV-SP. Ela afirma ainda que no caso de Manaus "há uma atuação intencional do governo federal que gerou como consequência imediata a morte de pessoas por asfixia". A ação se soma a medidas de boicote à vacinação, alinhamento a movimentos antivacina e recomendação de medicamentos que não têm comprovação científica.
Conforme a Folha revelou em diversas reportagens, o governo soube com antecedência e ignorou alertas da iminência do colapso de oxigênio em Manaus. Ao mesmo tempo, montou e financiou força-tarefa para pressionar a cidade e médicos do Amazonas a receitar medicamentos não respaldados pela comunidade científica, como a cloroquina e a ivermectina, no que chama de "tratamento precoce". O Ministério Público Federal no Amazonas instaurou inquérito civil para apurar possível improbidade administrativa. "Percebemos que essa campanha, que seria incentivada pelo Ministério da Saúde, teria acontecido no momento em que já se vislumbrava uma possível e grave falha de abastecimento de oxigênio", afirma o procurador da República José Gladston Viana Correia, um dos responsáveis pela investigação. "Houve uma comitiva do Ministério da Saúde até Manaus [chefiada pelo ministro Eduardo Pazuello]. Sabemos que os recursos públicos e humanos são escassos, então verificaremos quais foram as prioridades eleitas e por que se optou, naquele momento de falta de suprimento básico ao funcionamento das Unidades Básicas de Saúde, por se fazer uma campanha desse teor junto a médicos que já estavam naquela situação de pressão", acrescenta Correia.
Em outro exemplo, um aplicativo do Ministério da Saúde indicado a profissionais da área recomendava remédios sem eficácia contra a Covid. A partir do preenchimento de um formulário eletrônico com os sintomas do paciente, o TrateCOV sugeria a prescrição de hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina em qualquer idade, inclusive para bebês, e em situações diversas, não só para Covid-19. Além da comunidade científica nacional e internacional, a própria Anvisa, ao autorizar o uso emergencial das primeiras vacinas no país, ressaltou não haver alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a Covid. O ministério tirou o aplicativo do ar nesta quinta-feira (21). O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, além de listar o que considera crimes de responsabilidades em atos de Bolsonaro, afirma que, ao investir em desinformação e boicotar as iniciativas de combate à pandemia, o presidente violou o direito constitucional da população à saúde.
Dias também enquadra as ações do presidente como violações à probidade na administração, à dignidade, à honra e ao decoro do cargo, todas previstas como crime de responsabilidade na Constituição e na Lei dos Crimes de Responsabilidade. O ex-ministro é um dos mais de 300 signatários, dentre integrantes do meio jurídico, artístico e de outras áreas, que ingressaram na semana passada com representação na Procuradoria-Geral da República solicitando que seja oferecida denúncia contra Bolsonaro por crime comum, com base em vários artigos do Código Penal, como o da prevaricação e o de descumprimento de medida sanitária. O primeiro, previsto no artigo 319, é retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Já o descumprimento de medida sanitária está tipificado no artigo 268: é infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. Embora não seja um pedido de impeachment, essa representação também pode resultar no afastamento do presidente caso o procurador-geral da República, Augusto Aras, que foi indicado por Bolsonaro, decida denunciar o presidente e a acusação seja avalizada por ao menos dois terços da Câmara (342 de 513 deputados).
Especialistas apontam ainda outros trechos da Constituição e da Lei dos Crimes de Responsabilidade em que Bolsonaro pode ser enquadrado. Floriano de Azevedo Marques Neto, professor titular do Departamento de Direito do Estado da USP, cita o artigo 9º, item 3, da Lei dos Crimes de Responsabilidade. O texto estabelece como crime o presidente não agir para responsabilizar subordinados pela prática de atos contrários à Constituição. Segundo ele, o governo não agiu "para que o ministro da Saúde tomasse as medidas necessárias para prover a vacinação ou evitar a escalada da pandemia". Professora titular do Departamento de Teoria do Direito da UFRJ e avaliadora de programas de doutorado, mestrado e de pesquisa em direito penal no Instituto Max Planck, da Alemanha, Ana Lucia Sabadell diz vislumbrar vários crimes cometidos pelo presidente.
Também em relação à Lei dos Crimes de Responsabilidade ela entende que o presidente poderia ser responsabilizado com base no artigo 4º, incisos 1, 3, 4 e 5. Esses pontos definem como crime de responsabilidade atentados à existência da União, ao exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, à segurança interna do país e à probidade na administração. "Ele nega a ciência, nega as organizações internacionais que estão cuidando da pandemia no mundo, ele nega todas as medidas preventivas. E atua como? Indicando cloroquina, colocando pessoas incompetentes nos ministérios, que ele sabe que não têm a capacidade para mover a administração pública, fazendo afirmações de que existe tratamento precoce. Ele está também violando o dever de dignidade e decoro do cargo dele, é um problema gravíssimo", afirma. Diego Werneck, professor associado do Insper e doutor em direito pela Universidade Yale (EUA), defende que pensar em um conjunto de ações não deve ser confundido com ausência de indícios de cometimento de crimes. "Há uma soma de atos claros e inequívocos que o presidente praticou que não são suficientemente graves, sozinhos, para configurar um crime de responsabilidade, mas cuja soma configura", afirma. "Pelo conjunto das ações e manifestações do presidente Bolsonaro durante a pandemia, me parece claro que ele colocou, deliberadamente, a vida de brasileiros e brasileiras em risco." O professor de direito Oscar Vilhena Vieira, membro da Comissão Arns de Direitos Humanos e colunista da Folha, diz que ao fomentar aglomerações, criticar o uso de máscara, incentivar tratamentos ineficazes em detrimento das medidas recomendadas, "boicotar ou não envidar todos os esforços para um amplo programa de vacinação, [Bolsonaro] conspira contra o direito à vida e o direito à saúde".
Em entrevista à Folha, o ex-ministro do STF Ayres Britto também defendeu o impedimento do presidente, afirmando que a medida cabe a quem dá as costas à Constituição. Como mostrou a Folha na última terça-feira (19), quase 900 ex-alunos da Faculdade de Direito da USP divulgaram carta aberta pedindo o impeachment. Dos especialistas ouvidos pela reportagem, o único que diz não ver um evidente crime de responsabilidade até o momento é Rubens Beçak, professor associado do Departamento de Direito do Estado da USP. "Acho que existe até agora um cuidado para não passar o limite daquilo que entra na ilegalidade. O que não quer dizer que não possamos ter uma alteração desse caso, não só pelo ambiente político, mas pelo andar da carruagem. Existe um descumprir e uma orientação completamente equivocada e poderemos ter uma alteração desse quadro muito rapidamente", afirma. Apesar da legislação, é a vontade política que determina se um presidente deixa o cargo por impeachment ou por denúncia criminal apresentada pela PGR. Em ambos os casos, a palavra final cabe ao Congresso. Em nota divulgada na terça-feira, a Procuradoria-Geral da República afirmou que "eventuais ilícitos que importem em responsabilidade de agentes políticos da cúpula dos Poderes da República são da competência do Legislativo".
O comunicado, segundo a PGR, foi uma resposta a “segmentos políticos” que “clamam por medidas criminais contra autoridades federais, estaduais e municipais”. Em reação, seis subprocuradores-gerais da República que compõem o Conselho Superior do Ministério Público Federal afirmaram que investigar autoridades é atribuição de quem exerce as funções de procurador-geral da República. Os subprocuradores também classificaram como "clara afronta à Constituição" a recente declaração de Bolsonaro sobre as Forças Armadas decidirem se o país terá ou não democracia. No caso do impeachment, há 56 pedidos apresentados até esta terça-feira à Câmara e ainda não analisados (outros 5 foram arquivados), mas cabe ao presidente da Casa decidir monocraticamente se dá ou não andamento a eles. Rodrigo Maia (DEM-RJ), o atual, decidiu não dar sequência a nenhum, mas afirma que a discussão do impeachment de Bolsonaro será inevitável no futuro. Nenhum dos dois candidatos à sucessão de Maia manifesta, por ora, intenção de deflagrar o processo.
Caso isso ocorra, cabe à Câmara, por ao menos dois terços de seus ocupantes (342 de 513), autorizar a abertura do processo, que só é afastado com o aval do Senado. Cinco partidos da oposição (Rede, PSB, PT, PC do B e PDT) anunciaram na semana passada que vão ingressar com mais um pedido de impeachment de Bolsonaro, o 62º. Antes completamente refratários à destituição do presidente, integrantes do centrão já começaram a debater a possibilidade de isso ocorrer. O caldo político pró-impeachment também foi engrossado por membros da esquerda à direita, como o partido Novo e os movimentos Vem Pra Rua e MBL. Para Eloísa Machado, da FGV, os parlamentares de Brasília estão atrasados. "Em razão da relutância do Congresso em enfrentar essa questão é que a gente chega a 200 mil mortes no país e a um cenário grave ao ponto de se cogitar que bebês em UTIs fiquem sem oxigênio. É o limite do intolerável. A gente sabe que o impeachment está sujeito a condições políticas, mas a integridade da Constituição exige o afastamento de Jair Bolsonaro." A Folha enviou perguntas ao Palácio do Planalto, mas não obteve resposta. Em recente entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro minimizou a possibilidade de impeachment. "Só Deus me tira daqui. Não existe nada de concreto contra mim. Agora, me tirar da mão grande, não vão me tirar."

*”Veja 23 situações em que Bolsonaro pode ter cometido crime de responsabilidade”*

*”Se Deus quiser vou continuar meu mandato, afirma Bolsonaro”* - O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na quarta-feira (20), que "se Deus quiser" vai continuar seu mandato até 2022. "Lamento... se Deus quiser vou continuar meu mandato e em 22 o pessoal escolha. Tem muita gente boa para escolher. Eu espero que os bons se candidatem, não deixar vir os mesmos candidatos ", declarou Bolsonaro, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. A fala do presidente foi transmitida por um site bolsonarista e ocorre também em meio a uma ofensiva de campanhas de opositores a favor do impeachment de Bolsonaro, impulsionadas pelo colapso da saúde em Manaus e pela reação negativa em relação ao início da vacinação no país.
Os trechos divulgados pelo portal contêm cortes. Na interação com simpatizantes, Bolsonaro comentou a situação em Manaus, que viu no dia 14 de janeiro seu sistema de saúde colapsar por conta da falta de oxigênio causada pelo aumento da demanda de pacientes com Covid-19. O governo federal soube com seis dias de antecedência do risco de falta de insumo, fato que aumentou as críticas contra a atuação do Planalto na crise. "Tem governo federal, estaduais e municipais, é compartilhado. Nós aqui fazemos tudo o que é possível, quando é solicitado nós atendemos. Há uma diferença enorme entre o que aconteceu no passado e o que acontece hoje em dia", justificou-se Bolsonaro, na conversa com apoiadores. O presidente também responsabilizou o governo estadual e a Prefeitura de Manaus, liderados por Wilson Lima (PSC) e David Almeida (Avante), respectivamente. "Agora quem... o primeiro a tomar providências em problemas lá é o governador e o prefeito", disse. "É que é fato: todo mundo me culpa. Tudo sou eu. O presidente declarou ainda na manhã desta quinta que a cruz que carrega é pesada e que sempre existem aqueles que remam contra. “Sabia que [a missão] não seria fácil, que a cruz seria pesada, mas ele [Deus] não nos passa um peso maior do que aquele que possamos carregar”, disse durante evento de inauguração de requalificação de 67 km da BR-135, na Bahia.
Ao falar sobre a entrega de títulos de terra a 574 famílias que vivem em um assentamento da região, o presidente disse que fez mais em dois anos neste quesito do que 20 anos de governos anteriores. “Para nosso governo a propriedade privada é sagrada. No que depender de mim e da bancada de deputados, não permitiremos a venda de terras para estrangeiros. Esse país é nosso”, afirmou. Bolsonaro chegou por volta das 9h ao município de Barreiras. Como de costume, cumprimentou os apoiadores sem usar máscara, contrariando decreto do Governo da Bahia. De lá, o presidente seguiu para Coribe de helicóptero. Na terça (19), também já sob pressão, Bolsonaro disse a apoiadores que não é um "excelente presidente". "Não vou dizer que sou um excelente presidente, mas tem muita gente querendo voltar o que eram os anteriores, reparou? É impressionante, estão com saudades de uma [...]", disse. Além das críticas pela crise na saúde, Bolsonaro ainda sofreu uma derrota política no fim de semana, após ver fracassar a tentativa do governo federal de importar um lote de 2 milhões de vacinas da Oxford/AstraZeneca na Índia. Com isso, o pontapé da imunização no Brasil foi protagonizada por Doria, visto como adversário político pelo Palácio do Planalto e provável adversário em 2022. Além de Doria ter protagonizado o ato simbólico de vacinação da primeira brasileira, o Ministério da Saúde só tem no momento doses da Coronavac para distribuir aos estados.
+++ A Folha se engana e pode acabar enganando os seus leitores quando afirma que Jair Bolsonaro está pressionado. O presidente tem mais de 30% de apoio da população, tem base de apoio no Congresso, nas Forças Armadas e nas polícias militares. O jogo retórico de Jair Bolsonaro parece muito mais uma armadilha para vender ao seu público a ideia de que existe no país um complô contra ele. Para isso, novamente, Bolsonaro vai construindo uma narrativa de que não tem responsabilidade por qualquer problema no país.

*”Forças Armadas jamais aceitariam convite de autoridade de plantão contra liberdade, diz Bolsonaro”* - Em uma semana de declarações envolvendo militares e democracia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira (21) que as Forças Armadas jamais aceitariam o convite da autoridade de plantão contra a liberdade. "Graças a Deus, aqui no Brasil, temos Forças Armadas comprometidas com a democracia e com a liberdade. Então, um grande pilar da democracia são as nossas Forças Armadas, que jamais aceitariam o convite de uma autoridade de plantão, no caso, um presidente da República, de enviesar para um caminho diferente da liberdade", afirmou o presidente em sua live semanal. Na segunda-feira (18), um dia após ver seu principal adversário político, o governador João Doria (PSDB), vencer a queda de braço e iniciar a vacinação por São Paulo, Bolsonaro apelou a seu arsenal ideológico para levantar sua base popular mais fiel. Além de orar, reforçar diferenças entre homens e mulheres e criticar o socialismo, Bolsonaro enalteceu as Forças Armadas e disse que delas depende a democracia ou a ditatura em um país.
"Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo. Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam", disse Bolsonaro no jardim do Palácio da Alvorada, na segunda-feira. "No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor destes homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar. Imagine o Haddad no meu lugar. Como estariam as Forças Armadas com o Haddad em meu lugar?", indagou Bolsonaro no início da semana, referindo-se a seu adversário na eleição de 2018, Fernando Haddad (PT).​ Na quarta-feira (20), ele afirmou que os militares seguem o norte indicado pela população. Bolsonaro discursou para integrantes da FAB (Força Aérea Brasileira) na cerimônia alusiva ao 80º aniversário do Comando da Aeronáutica.
"O Brasil vem experimentando mudança ao longo dos últimos dois anos. Uma das mais importantes: temos um presidente da República que, juntamente com seu Estado Maior, ministros, acreditam em Deus, respeitam os seus militares, fato raro nas últimas três décadas em nosso país", disse Bolsonaro. "E também deve lealdade absoluta ao seu povo. Nós, militares das Forças Armadas, seguimos o norte indicado pela nossa população. Nós nos orgulhamos disso. Eu me orgulho das Forças Armadas e assim diz nosso povo em todos os momentos que é chamado a falar sobre ela", afirmou o presidente em seu discurso. Bolsonaro disse que a Força Aérea nasceu "combatendo o nazismo e o fascismo" durante a Segunda Guerra Mundial e que mostrou desde o início de que lado estava. "Estava do lado da democracia e da liberdade", afirmou. Na cerimônia, Bolsonaro disse ainda que as Forças Armadas são a "grande base" para cumprir sua missão. "Hoje nós temos um governo que pensa no seu Brasil como um todo. E a grande base nossa para cumprir essa missão são a nossa Marinha, o nosso Exército e a nossa Aeronáutica. Porque vocês, jovens militares que estão à nossa direita, são o caldo do que é o povo brasileiro." ​​
+++ A notícia faz com que a Folha de S. Paulo pareça ingênua. Jair Bolsonaro vem ao longo de todo o seu mandato construindo um discurso cheio de polêmicas que tem o objetivo de provocar divisões em qualquer que seja a questão. Dessa forma, ele sempre pode angariar algum apoio. Porém, o jornal deixa que ele fale sozinho esperando que os leitores achem sua postura ridícula. Enquanto isso, não espaço para a crítica. Ex-ministros da Defesa, ex-presidentes, líderes de partidos de oposição poderiam estar expondo aqui o contraditório. No entanto, a cobertura deste impresso fica tão superficial quanto qualquer telejornal que só apresenta notícias curtas.

REINALDO AZEVEDO - *”É preciso parar os golpistas. Se não agora, quando?”*
*”Justiça condena Eduardo Bolsonaro a indenizar repórter da Folha por danos morais”*
*”Novo inquérito por crítica a governo Bolsonaro visa calar os que apontam erros, diz presidente da OAB”*

SILVIO ALMEIDA - *”Sem o impeachment, o Brasil sufoca”*: A trágica e criminosa gestão governamental da pandemia fez crescer os apelos para que o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, analise ao menos um dos mais de 60 pedidos de impeachment apresentados contra o presidente da República. Diante da constatação de que o governo de Jair Bolsonaro é em si mesmo um risco à ordem social, à saúde pública e à economia do país, parece nascer em diversos setores da sociedade alguma convergência sobre a urgência de se interromper o mandato de um presidente que lidera, segundo Wanderley Guilherme dos Santos, um “governo de ocupação”, cuja prioridade é qualquer outra coisa, menos governar. Sob o pretexto de que um processo de impeachment nestas circunstâncias exigiria algum grau de convergência entre as chamadas forças democráticas, há quem afirme que é preciso zerar o jogo, esquecer as desavenças, especialmente as que se formaram em decorrência da deposição de Dilma Rousseff da Presidência da República.
Para os defensores desse “recomeço”, o dilema “impeachment ou golpe?” é uma discussão inútil, que em nada ajudaria no confronto com o necrogoverno de Bolsonaro. Por mais que se possa concordar genericamente com a afirmação de que certas discussões devem ser superadas quando queremos avançar politicamente, algumas questões nunca poderão avançar sem uma rigorosa análise histórica, especialmente no caso do Brasil, país em que o passado teima em não passar, como são os maiores exemplos a escravidão e a ditadura. Um impeachment agora se justifica plenamente pela necessidade de se impor limites a um presidente que não os observa, e não para dar vazão a um desejo de trocar a parte do governo que não agrada a certos setores da sociedade. Desse modo, são insuficientes para um processo de impeachment razões meramente políticas ou “impopularidade”. Para que haja impeachment é preciso que haja crime de responsabilidade, ou seja, que a conduta do governante seja compatível com o que está descrito na Constituição Federal e na lei 1.079/50.
Não estamos diante de uma discussão moral quando tratamos do impeachment, mas de uma discussão política e jurídica das mais relevantes. É preciso interromper um ciclo de morte e destruição. No caso do governo de plantão, estão presentes todas as condições exigidas para a abertura de um processo de impeachment, sem o apelo a invencionices e oportunismos. Trata-se de um presidente que abusa do poder, atenta contra a segurança do país, viola direitos fundamentais ao expor os cidadãos à morte pelo coronavírus, procede de modo incompatível com o decoro e a dignidade, estimula ataques contra a ordem democrática, hostiliza nações estrangeiras e tantas outras ações que se enquadrariam com facilidade, sem contorcionismos retóricos, no que a lei chama de crimes de responsabilidade. É importante dar nome às coisas a fim de que os contornos e a gravidade de um processo de impeachment sejam traçados. Todo processo de impeachment é traumático. Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. Crime de responsabilidade sem processo de impeachment é omissão com o povo brasileiro e claro descumprimento dos deveres funcionais. O Brasil precisa do impeachment para respirar.

*”Posição de Aras sobre Bolsonaro e reação de subprocuradores ampliam racha no Ministério Público”*

*”Lula foi diagnosticado com Covid-19 e fez quarentena em Cuba”* - O ex-presidente Lula foi diagnosticado com Covid-19 no dia 26 de dezembro em Cuba e precisou ficar 14 dias de quarentena no país. O escritor Fernando Morais, que foi com ele à ilha, chegou a ficar internado, mas já está curado. Eles desembarcaram na quarta (20) no Brasil. Lula viajou a Cuba para participar de um documentário sobre a América Latina dirigido pelo cineasta norte-americano Oliver Stone. O petista estava sem sintomas, mas a doença foi detectada pelos exames que ele fez seguindo os protocolos cubanos para viajantes estrangeiros que chegam ao país. Três dias antes de embarcar, Lula e a comitiva, de mais oito pessoas, fizeram exames de RT-PCR, em que a coleta é feita com cotonete pelo nariz. Um dia depois da chegada, todo o grupo repetiu o teste, que voltou a dar negativo. Cuba, no entanto, exige que o exame seja refeito depois de cinco dias, já que existe a possibilidade de o RT-PCR não detectar o vírus logo depois da infecção, devido ao período de incubação. Foi então que se descobriu que, dos nove viajantes, oito estavam contaminados: Lula, a noiva dele, Rosangela da Silva, a Janja, Fernando Morais, o fotógrafo Ricardo Stuckert e mais quatro assessores.
A conclusão da investigação epidemiológica foi de que eles contraíram o vírus durante o deslocamento da viagem, em aeroportos ou no avião. O petista voou em um jato alugado pela produção do documentário. Depois do diagnóstico, Lula fez uma tomografia que acusou que ele tinha lesões pulmonares compatíveis com Covid-19. Sem sintomas, ele foi encaminhado para uma casa com os outros que testaram positivo. Apenas Fernando Morais foi para o hospital. Os que apresentaram algum tipo de problema pulmonar, como Lula, tomaram corticóide e anticoagulantes. Os médicos cubanos receitaram também o imunomodulador Jusvinza a Lula. A droga age sobre substâncias inflamatórias da Covid-19. Seu efeito no combate às reações da doença já entrou no protocolo de estudo de Cuba, que foi seguida por outros países_e deve ser usado com acompanhamento médico rígido. As pessoas que acompanhavam Lula e que não tiveram lesão pulmonar ativa usaram Interferon cubano, na versão injetável ou nasal. O medicamento também está em protocolo de estudo. A evolução da doença foi acompanhada, no Brasil, pelo deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que conversava quase todos os dias com Lula e com os médicos que acompanhavam o grupo. Ex-ministro da saúde, ele é médico formado pela Universidade de Campinas (Unicamp) e especializado em infectologia pela USP.

*”Barroso cita pandemia e derruba sanções a quem não votou na eleição; decisão vai ao plenário do TSE”*
HUMANOS DA FOLHA - *”João Bittar foi o editor que ajudou a levar fotógrafos da Folha para o mundo digital”*

*”Em reversão de postura de Trump, Biden decreta quarentena a quem chegar aos EUA”*
*”Palavras serão muito importantes na relação Bolsonaro-Biden, diz embaixador americano”*
*”Variantes fazem Europa criar zona vermelho-escura e restringir viagens”*
*”Infecção por Covid-19 aumenta em todas as faixas etárias na Inglaterra”*

*”Biden retira tapete, bandeiras e quadros usados por Trump no Salão Oval”*
ANÁLISE - *”Show online da posse de Biden tenta unir Bruce Springsteen a George W. Bush”*
TODA MÍDIA - *”'Adoração' da imprensa por Joe Biden já causa aversão”*
TATIANA PRAZERES - *”Está dada a largada da competição em tecnologias verdes”*

ENTREVISTA - *”Somos porta-vozes do Brasil na União Europeia, diz novo embaixador de Portugal”*
*”Maior ataque suicida em Bagdá em três anos mata ao menos 32 pessoas”*

*”Governo vai baixar tom contra Huawei no 5G para agilizar importação de insumos de vacina da China”* - O governo Jair Bolsonaro irá adotar um tom mais amigável em relação à participação da chinesa Huawei na tecnologia 5G. A intenção é agilizar a importação da China de insumos para vacinas contra a Covid-19. Os imunizantes serão produzidos no Brasil pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em acordo com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca. Nos dois casos, os insumos sairão da China, com quem o governo Bolsonaro mantém uma relação conflituosa. A entrega dos produtos está atrasada e tem afetado o cronograma de produção das vacinas no país. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil. Porém, o país asiático é atacado pela ala ideológica do governo em alinhamento com o ex-presidente dos EUA Donald Trump. Joe Biden assumiu nesta quarta (20) a Casa Branca. A Huawei se tornou um dos alvos na gestão Bolsonaro. A gigante chinesa tem pleiteado ser fornecedora de equipamentos para as futuras redes de tecnologia 5G no Brasil.
Assessores no Palácio do Planalto afirmam que, por enquanto, o governo vai baixar o tom dos ataques, embora haja desconforto no embate travado via redes sociais entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o embaixador Yang Wanming. Durante essa trégua, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) deverá decidir as regras do leilão do 5G. O certame será o maior da história pelo volume de licenças e está previsto para o fim de junho. Ao mesmo tempo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, concluirá uma visita a todos os fornecedores globais de equipamentos. Definição das regras e viagem do ministro devem ocorrer em duas semanas. Embora somente as operadoras participem do leilão, elas terão de contratar a compra de equipamentos para montar as redes 5G. A Huawei é hoje a líder em contratos com os países que lançaram o novo serviço. A viagem oficial do ministro deverá passar pela Finlândia (sede da Nokia), Suécia (Ericsson), Coreia do Sul (Samsung) e China (Huawei e ZTE). Faria deverá conversar com todos os presidentes globais dessas empresas antes de decidir se haverá motivos para algum tipo de restrição à Huawei.
O ministro também quer saber, ainda segundo assessores, se haverá condições de fornecimento de equipamentos pelos concorrentes caso a Huawei saia do jogo. Até o momento, não há qualquer evidência de que os equipamentos da gigante chinesa firam as regras de segurança cibernética definidas pela legislação brasileira. As operadoras já disseram ao ministro que a Huawei está há mais de duas décadas no país. Hoje, a participação da chinesa nas redes é de 45% em uma das teles. Executivos disseram ainda que a Huawei fornece equipamentos para a Receita Federal, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Eles destacam que nunca houve um único caso de roubo de dados ou ataque cibernético. Embora pareça que as teles defendam a Huawei, no fundo as operadoras querem proteger o legado das redes já instaladas. As empresas não querem ser forçadas a terem de trocar equipamentos ou serem obrigadas a adquirir aparelhos 5G mais caros e menos potentes. Para elas, a solução da Huawei é muito mais vantajosa. Mesmo assim, na missão ao exterior, a equipe das Comunicações pretende se certificar de que não há riscos de segurança no aparato oferecido pela companhia chinesa. De qualquer forma, Bolsonaro já tem em mãos um rascunho da minuta de um decreto que baixará normas com as condições para empresas que atuam com telecomunicações e a guarda de dados sigilosos. Nenhuma operadora poderá contratar serviços ou equipamentos de fornecedores que não respeitem as regras de proteção de dados.
Haverá outras exigências às empresas fornecedoras como ter ações negociadas na B3 (a Bolsa brasileira) ou em Bolsa de relevância internacional (como Nova York) e veto a qualquer tipo de filiação político-partidária pelos acionistas controladores. Caso sejam implementadas por Bolsonaro, essas regras serão impostas para as novas redes 5G (stand-alone) e não para as redes atuais (3G e 4G). A restrição também não valerá para o serviço 5G que for prestado por meio do aproveitamento das redes atuais (com equipamentos de 5G nelas instalados). Na avaliação de integrantes do governo, essa medida não deverá ser suficiente para barrar a Huawei, que virou alvo da disputa comercial entre EUA e China. Embora Biden tenha mantido a disputa com a China como lema de campanha, a expectativa é que o lobby dos EUA mude de forma junto aos demais países que se preparam para o lançamento do 5G.
A equipe de Trump exigia que a gigante chinesa fosse banida do 5G sob pena de que projetos em conjunto com o Brasil fossem desfeitos por questões de segurança. Sem apresentar nem sequer evidências, o embaixador dos EUA no Brasil, Toddy Chapman, chegou a tentar marcar reunião com as operadoras para atacar os chineses —o que foi considerado pelas empresas uma afronta à soberania nacional. A reunião nunca ocorreu. Faria quer resolver essa questão o mais rápido possível e afirma a interlocutores que a solução será técnica. No entanto, reforça que caberá ao presidente Bolsonaro dar a palavra final. O edital com as regras do leilão deverá ser votado pelo conselho da Anatel até meados de fevereiro. A área técnica da agência deverá então calcular o preço dos lances dos blocos a serem vendidos e esse material será enviado para a análise do TCU (Tribunal de Contas da União), que tem prazo de até 150 dias para o julgamento. Em conversas com os ministros do TCU, Faria conseguiu com que um grupo de trabalho do tribunal acelere essa análise para algo em torno de 50 dias, única forma de permitir que o leilão ocorra ainda no primeiro semestre. Três ministros do TCU (Bruno Dantas, Vital do Rêgo e Walton Alencar) deverão integrar a comitiva do Ministério das Comunicações na visita à sede das fabricantes de equipamentos 5G.

*”Dólar sobe e vai a R$ 5,36; Bolsa cai e zera ganhos no ano”*
PAINEL S.A. - *”Fiscais de renda de SP ameaçam greve enquanto governo tenta ajustar contas”*
PAINEL S.A. - *”Venda de livros pela internet cresce 44% em 2020”*
PAINEL S.A. - *”Fabricante entrega seringas requisitadas pelo Governo Federal para combate à Covid-19”*
PAINEL S.A. - *”Itaú e Fiocruz doam usinas de produção de oxigênio para Manaus”*

*”Um país mais arrumado não retiraria todo o auxílio de uma vez, diz Arminio Fraga”* - Para Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, o auxílio emergencial, que acabou ao fim de 2020, deveria ter um fim mais paulatino. “Um país mais arrumado não retiraria todo o auxílio de uma vez. É meio como uma cortisona na medicina. Você deu uma dose enorme, e talvez até exagerada. No entanto, agora, a falta de espaço fiscal e de credibilidade cria um constrangimento para que se reintroduza o estado de calamidade em 2021”, disse ele em evento da Fitch nesta quinta-feira (21)​. Fraga diz ver o quadro político favorável a mais auxílios e uma reação oposta do mercado. "A minha expectativa é que o governo seja reativo. Se os problemas se mostrarem mais graves, pode ser que se aprove algum coisa na ponta da faca, no medo", disse. O economista diz acreditar em uma vitória contra o vírus em 2021, mas avalia que os demais desafios que o país enfrenta irão persistir em 2022. “Ficou muito claro desde o início da pandemia que a saída econômica dependeria da saída sanitária, que parece estar prejudicada pela logística e pela falta de entusiasmo." No campo econômico, ele critica a falta de reformas. "Mesmo as expectativas modestas de aprovação de uma PEC [proposta de emenda à Constituição] emergencial, alguma coisa que ancorasse o lado fiscal, não aconteceram.” Dentre as reformas para equilibrar as contas públicas, ele vê chances para a aprovação da tributária, com uma união de PIS e Cofins. “Vejo pouco espaço de uma reforma administrativa, do Estado, ela não tem apoio nenhum do topo. É uma pena, seria um passo crucial”, afirmou.
Com o elevado risco fiscal, Fraga vê os investimentos no Brasil pressionados. "O setor público está bastante inchado e não sobra espaço no Orçamento de 2021 para investir e isso tem um impacto enorme na capacidade do país crescer. Menos que 1% do PIB [Produto Interno Bruto] é muito pouco." O Orçamento de 2020 previa 0,3% do PIB (R$ 22,4 bilhões) para investimentos, menos da metade do gasto realizado em 2019. Em valores corrigidos pela inflação, é a menor verba desde 2004, quando foram investidos R$ 20,8 bilhões. Fraga aponta que a maior parte dos investimentos no país teriam que vir do setor privado, como costuma ser a regra. Este número, porém, também é baixo, segundo o economista. Em 2019, a taxa de investimento no país foi de 15,4% do PIB, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). "A [saída da] Ford foi um extra pra quem não tinha percebido que o país está parado." Segundo Fraga, porém, o contexto mundial é favorável ao Brasil no momento, com o preço de matérias primas em alta. "Vejo com bons olhos a derrota do [ex-presidente dos EUA Donald] Trump. Ele estava levando os Estados Unidos para um lugar complicado. A conjuntura internacional para o Brasil hoje é muito boa, mas não estamos condições de aproveitar."
+++ A notícia é mais um exemplo de que apenas alguns setores da sociedade têm espaço para expressar críticas nos jornais.

*”Problemas na vacinação e alta de casos exigem novas políticas de auxílio, dizem economistas”*

*”Estrangeiro está cético com rumos do Brasil, diz estrategista do Deutsche Bank”* - O investidor estrangeiro continua "muito reticente" com o Brasil e não há no curto prazo perspectiva de retorno consistente de fluxos externos, a despeito do ambiente global de farta liquidez, disse Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, destacando o peso das eleições no Congresso para as já fragilizadas perspectivas fiscais. "Basta olhar o posicionamento de estrangeiros no mercado de títulos, que está em menos da metade do pico. O posicionamento em bolsa está em níveis mais baixos, perto de mínimas históricas, as entradas são táticas, não são estruturais", afirmou.
Segundo ele, o "denominador comum" para isso é a discussão sobre que rumo o Brasil quer tomar. "O estrangeiro esperava mais e se frustrou muitas vezes. Ele está no modo 'show me the money', ele quer ser convencido. E nesse sentido a agenda do clima é importante. Meio ambiente é negócio. Espero que o Brasil passe a ver o meio ambiente como negócio, e não como ideologia." Para Giacomelli, o mercado conta com que até o fim de março a PEC emergencial e a reforma administrativa estejam em devida tramitação nas casas legislativas. A primeira propõe a criação de "gatilhos" que seriam acionados sempre que a regra de ouro fosse descumprida, enquanto a segunda tem como objetivo reduzir o custo da máquina pública. "O Brasil está numa encruzilhada, está decidindo o caminho que vai tomar. Tem condições de tomar o caminho correto, mas a realidade é que já está tarde, estão fazendo isso na prorrogação", disse o estrategista, referindo-se à intenção do governo de pautar reformas no Congresso e de articular com os parlamentares.
Giacomelli destaca que, se o Orçamento aprovado pelo Congresso para 2021 não for crível ou ameaçar o teto de gastos haverá pressão maior sobre juros e câmbio. "O cenário-base do Banco Central não se verificaria. O tempo de ação é o tempo de expiração do teto de gastos", afirmou. Para o estrategista, no ritmo atual de atenção à pauta fiscal, o Brasil caminha, de novo, para manter o "voo de galinha" que tem marcado o país nos últimos 40 anos. "Mais importante do que ter data é ter rumo, um caminho de credibilidade, não tem 'quick fix' aqui, não tem reparo rápido. É um processo de anos... E, por ora, temos pouca ou nenhuma notícia sobre o rumo das pautas positivas, da agenda de reformas, do governo."
O estrategista disse que o mercado até tem paciência de esperar a definição política, mas se incomoda com a ausência de definições sobre políticas econômicas. "Há um vácuo na política de reformas e na indicação de rumo que tornam a moeda do Brasil um termômetro da economia", afirmou, lembrando que o real está, em seus cálculos, entre as três moedas com maior excesso de desvalorização. E o real permanecerá fadado a uma "montanha-russa" ao longo deste ano, segundo o estrategista. Ele diz que já era prevista maior pressão cambial com a aproximação das eleições para o Congresso, mas se projeta algum alívio nos meses seguintes, considerando o encaminhamento das reformas. "Você supera a tensão no segundo trimestre, mas depois elas ressurgem no fim do ano com as discussões sobre o Orçamento e o teto de gastos. No fim, o dólar deve fechar o ano em 4,80 reais." A projeção oficial para a Selic é de 3% ao término de 2021, ante os atuais 2%, mas Giacomelli disse que o BC sinalizou no comunicado do Copom da véspera que a taxa pode ir a 3,5% até dezembro. "Prevemos crescimento da economia de 3,2% e não vejo motivos para se pensar que poderá ficar acima disso", finalizou.

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*”Apesar de sinal verde para vacinas da Índia, Bolsonaro faz cobranças a Ernesto e já avalia saída honrosa”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exige mudança de atitude do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) na relação com a China. A ideia é resolver o impasse na importação de insumos da vacina contra a Covid-19. Ernesto tenta agora retomar o diálogo com o país asiático. Bolsonaro soube em reunião na quarta-feira (20) que o chanceler estava sem conversar com a embaixada da China desde o ano passado. As conversações foram suspensas em março de 2020, quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou duras críticas, nas redes sociais, ao embaixador chinês no país, Yang Wanming. O diplomata respondeu ao filho do presidente, que havia comparado a pandemia ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos.
Amigo de Eduardo, Ernesto considerou grave o comportamento do embaixador chinês. A avaliação no governo era a que Wanming deveria seguir o protocolo e procurar o Itamaraty em vez de responder de forma agressiva. Mesmo assim, na reunião de quarta, Bolsonaro reclamou da postura refratária do chanceler em relação à China. Segundo assessores, apesar da posição ideológica, o presidente considerou que o Ministério das Relações Exteriores não poderia ter rompido o diálogo com o fornecedor dos insumos para a fabricação das vacinas contra a Covid-19. Os imunizantes serão produzidos no Brasil pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em acordo com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca. Nos dois casos, os insumos sairão da China. A entrega dos produtos está atrasada e tem afetado o cronograma de produção das vacinas no Brasil. De acordo com assessores palacianos, o presidente entrou em contato com o chanceler e exigiu que ele mesmo atuasse para reconstruir a ponte com Pequim. Apesar da pressão, Bolsonaro lhe deu uma segunda chance no cargo.
O próprio presidente emitiu em público sinais opostos às queixas em privado. Nesta quinta-feira (21), Bolsonaro convidou Ernesto para a live semanal na tentativa de atenuar quaisquer rusgas com o chanceler. "Quem demite ministro sou eu. Ninguém me procurou, nem ousaria me procurar no tocante a isso", disse Bolsonaro na live. Ernesto disse que "tem gente que quer ver uma crise, criar invenções onde não existe". Mais cedo, Bolsonaro já havia enviado uma mensagem pública de apoio ao chanceler após a Índia anunciar que liberara a exportação ao Brasil de 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca. O presidente aproveitou o anúncio e postou nas redes sociais elogios a Ernesto. A iniciativa foi entendida no Palácio do Planalto como um voto de confiança ao chanceler em relação à China. Segundo aliados do governo, o presidente sinalizou que não pretende trocar neste momento o ministro. Porém, ele não garantiu que Ernesto deva permanecer no cargo por muito tempo. Nesse cenário, auxiliares do presidente receberam sinal verde para discutir nomes de substitutos. Nesta quinta, por exemplo, voltou a ser defendido por ministros palacianos o nome do ex-presidente Michel Temer para o Itamaraty. No ano passado, o ex-presidente chegou a ser sondado para o posto pelo secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha. No entanto, ele havia demonstrado resistência em aceitar um eventual convite.​
Outro nome que tem a simpatia da equipe ministerial é o do embaixador do Brasil na Índia, André Corrêa Lago. Ele ajudou na negociação da liberação do transporte das vacinas de Oxford/AstraZenca. Por ora, além do apreço pessoal de Bolsonaro por Ernesto, pesa para o adiamento da saída do chanceler o fato de o presidente não ter encontrado uma espécie de saída honrosa. Bolsonaro não quer passar a impressão de uma demissão. Por isso, preferiu esperar um pouco mais. O desgaste de Ernesto, no entanto, é público. A falta de habilidade diplomática lhe rendeu o apelido na equipe do presidente de "meninão". Com as trapalhadas diplomáticas, Bolsonaro montou um gabinete de crise, coordenado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. O ministro tem, desde a semana passada, capitaneado iniciativas de aproximação com a China e com a Índia. Para isso, ele tem despachado de um gabinete no segundo andar do Palácio do Planalto. Faria também foi escalado pelo presidente para estruturar um plano de mídia com o Ministério da Saúde, em um esforço para diminuir o desgaste de imagem do ministro Eduardo Pazuello e mostrar que a Presidência da República tem atuado na crise sanitária.
Em pararelo, os ministros Tereza Cristina (Agricultura) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) têm dialogado com investidores e empresários chineses em uma tentativa de aproximação com o Brasil. Para tentar reduzir a pressão nas relações, o governo Bolsonaro também decidiu dar uma trégua contra os ataques à fabricante de equipamentos de telefonia 5G Huawei. O ministro das Comunicações deverá comandar uma missão aos fornecedores envolvidos nesse mercado e pretende visitar a sede da gigante chinesa, hoje líder global no 5G e que está presente em praticamente todas as redes das operadoras no país. Um dos principais interlocutores da China no país, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, não foi escalado para fazer parte da força-tarefa pró-China. Mourão comanda a Comissão Sino-Brasileira de Cooperação. Essa situação desagradou a uma ala dos militares ligada ao governo. A avaliação, até mesmo de ministros que não têm simpatia pelo vice-presidente, é a de que Bolsonaro deveria deixar problemas pessoais de lado neste momento e escalar o general da reserva. A China é ainda o maior parceiro comercial do Brasil. Porém, o país asiático é atacado pela ala ideológica do governo em alinhamento com o ex-presidente dos EUA Donald Trump. Joe Biden assumiu nesta quarta (20) a Casa Branca.

*”Em reunião com chanceler da Índia em novembro, Ernesto criticou globalismo, mas não tocou no assunto da vacina”*

*”China também precisa da gente, diz Bolsonaro em meio a impasse sobre insumos de vacinas”* - Com dificuldades de trazer insumos para a fabricação de vacinas contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou problemas diplomáticos com a China, disse que o país asiático também tem interesses no Brasil e que não existe amor em relações internacionais. "O pessoal fala 'ah, o Brasil precisa da China' A China também precisa da gente. Ou tu acha que a China está comprando soja para jogar fora?", indagou Bolsonaro em sua live semanal, na noite desta quinta-feira (21). "A relação entre países, qualquer país do mundo, tem interesse. Não existe amor, pessoal. Não tem amor. Qualquer país do mundo. Acho coisa rara acontecer. Tem interesse. Interesse qual que é? Um comprar, o outro vender. Fazer negócio. E a China, logicamente, tem interesse no Brasil", afirmou. As declarações foram dadas ao lado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que negou haver qualquer crise com a China.
"Tem gente que quer ver uma crise, quer criar invenções onde não existe", disse o chanceler, que admitiu que não é ele o interlocutor do Brasil com o país asiático. "Nosso embaixador em Pequim, na verdade, tem conversado porque é lá que precisa operar para conseguir os insumos da vacina dentro da burocracia chinesa, que é uma coisa normal", disse Araújo. "Aqui foi o Pazuello", emendou Bolsonaro, referindo-se ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. A relação de Ernesto Araújo está desgastada com a embaixada da China em Brasília devido aos posicionamentos adotados pelo chanceler. A retórica anti-China, porém, vai além do ministro, já que foi adotada pelo filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e pelo próprio mandatário.​ Mesmo assim, Jair Bolsonaro negou crise diplomática com a China e afirmou que a dificuldade em trazer o insumo para a produção da Coronavac no Instituto Butantan, em São Paulo, se deve à burocracia.
Ele também afirmou não haver problemas com a Índia, de onde o Brasil vinha tentando trazer 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca há uma semana. O governo indiano liberou a carga somente nesta quinta-feira. "Um excelente relacionamento. E nada mudou. Nada mudou. O [William] Bonner vem mentir no Jornal Nacional com aquela cara de pastel dele, aquela cara de último a saber das coisas, dizendo que eu minei esse relacionamento", disse Bolsonaro sobre a Índia. "A questão da China é a mesma coisa. Vamos pegar em números? Os números não mentem. Os números da nossa balança comercial com a China, o que nós vendemos, em especial o agronegócio, de 2019 foram maior que os de 2018. 2020 foi maior que 2019. Não tem nenhum estremecimento com a Índia", afirmou Bolsonaro que, neste momento referia-se à China, não à Índia. "Não tem problema nenhum", disse o mandatário. "O problema, como o próprio embaixador disse, é burocrático. Não é nada de político, como alguns falaram, como Bonner falou que nós minamos o relacionamento. Parem de mentir, pessoal. Tomem vergonha na cara. Vocês atrapalham o Brasil com este tipo de notícia. Atrapalham o Brasil. Eu tenho vergonha de vocês, fazer um jornalismo desta maneira", afirmou Bolsonaro. A possibilidade de demissão de Araújo foi abordada a partir de uma pergunta de que o governo chinês supostamente estaria pedindo a cabeça do chanceler brasileiro.
+++ Se o jornal não apresentar uma linha do tempo relembrando todos ou os principais erros diplomáticos que o Brasil cometeu, Jair Bolsonaro sempre poderá facilmente recriar a realidade de acordo com sua vontade.

*”Primeira leva da vacina deve acabar até o dia 31 na maioria das capitais”*
*”Pazuello nega atraso em insumos da China e diz que país terá 'avalanche' de propostas de vacinas”*
*”Consórcio de veículos de imprensa passa a divulgar número de vacinados contra a Covid-19 no Brasil”*
TATI BERNARDI - *”Sem remédio”*

*”Promotorias investigam casos de 'fura fila' da vacina em seis estados”*
*”Prefeitura de SP diz que Hospital das Clínicas está tendo privilégio e que outros médicos estão revoltados com falta de vacina”*
ANÁLISE - *”Confusão com 'fura filas' reflete falta de cidadania e de planejamento federal”*
*”Após críticas, Ministério da Saúde retira do ar aplicativo que indicava remédios sem eficácia contra Covid”*

*”Empresário bolsonarista Luciano Hang recebe alta do hospital após superar a Covid-19”*
*”Paes descarta realizar Carnaval em julho no Rio de Janeiro”*

MÔNICA BERGAMO - *”HC de Campinas também tem denúncia de que vacina foi aplicada em pessoas que não são do grupo prioritário”*

MÔNICA BERGAMO - *”Datena e Boulos têm encontro reservado em São Paulo”*: O apresentador Luiz Datena e Guilherme Boulos (PSOL-SP) tiveram um encontro reservado nesta semana em São Paulo. Os dois se aproximaram durante a campanha de Boulos para a prefeitura de São Paulo, no ano passado, quando o apresentador telefonava para entrevistá-lo em seu programa na TV Bandeirantes. Além de críticas ao presidente Jair Bolsonaro e ao governador João Doria, os dois têm em comum o amor pelo Corinthians.

MÔNICA BERGAMO - *”Governo Bolsonaro já cadastra freezers para armazenar vacina da Pfizer”*
MÔNICA BERGAMO - *”Obras de Regina Parra e Nino Cais estarão em mostra no Paço das Artes”*
MÔNICA BERGAMO - *”Federação Paulista de Futebol lançará plataforma de streaming em fevereiro”*
MÔNICA BERGAMO - *”Prescrição de medicamentos para transtornos mentais aumentou 45% durante epidemia no Brasil, diz estudo”*

CAPA – Manchete principal: *”Pressão por novo auxílio gera temor de crise fiscal”*

*”Pressão por ação da PGR – MPF vê omissão de Augusto Aras e investiga governo”* - Na contramão do procurador-geral da República, Augusto Aras, integrantes do Ministério Público que atuam na primeira instância abriram ao menos duas investigações para apurar responsabilidades do governo federal na condução das ações de combate à pandemia do novo coronavírus. Eles também têm tentado exercer pressão por meio de recomendações e ofícios solicitando informações ao Ministério da Saúde. Há queixas de que a falta de uma coordenação da PGR tem feito com que as ações sejam dispersas. Aras vem sendo criticado por colegas em razão da sua suposta omissão em relação ao governo federal nas ações de combate à Covid-19. Nesta semana, a PGR divulgou uma nota dizendo que a responsabilidade por apurar “eventuais ilícitos” de agentes da cúpula dos Poderes da República seria de competência do Congresso. A nota veio três dias depois de a PGR ter pedido abertura de inquérito para investigar a suposta omissão do governo do Amazonas no colapso do sistema de saúde no estado, quando faltou oxigênio em hospitais. Na visão de procuradores, o pedido poupou o Ministério da Saúde. O GLOBO identificou pelo menos duas investigações sobre a atuação do governo federal na pandemia tramitando na primeira instância. Uma delas é de junho do ano passado e foi instaurada pela Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) para apurar a execução orçamentária das verbas federais destinadas ao enfrentamento à epidemia, após ter se apontado lentidão na utilização das verbas. A mais recente foi instaurada na semana passada pela Procuradoria da República no Amazonas (PR-AM), dias após o colapso do sistema de saúde no estado. O inquérito, que tramita na esfera cível (e não é o mesmo pedido pela PGR), apura as responsabilidades dos governos estadual e federal pela falta de oxigênio hospitalar que, segundo investigações, teria matado pelo menos 29 pessoas.
Conhecimento prévio
Documentos enviados pela Advocacia Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) apontam que o governo federal havia sido avisado sobre o “iminente colapso” do sistema de saúde do Amazonas em 4 de janeiro, dez dias antes da crise. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu que a pasta teve conhecimento do problema no dia 8. Um procurador da República que atua no monitoramento das ações do governo contra a Covid-19, e que pediu para não ter seu nome revelado, disse que a atuação do MPF está dispersa porque não teria havido coordenação da PGR. Segundo ele, o Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 (Giac), presidido por Aras, serviu apenas para que a PGR tentasse controlar as ações dos procuradores. No primeiro semestre do ano passado, o Giac foi alvo de críticas depois de determinar que todas as recomendações feitas pelo MPF ao Ministério da Saúde fossem encaminhadas à PGR. A medida foi vista, inclusive pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), como uma ofensa ao princípio da independência funcional.
A expedição de recomendações e ofícios solicitando ações e informações foram meios que os procuradores usaram pra pressionar o governo a tomar medidas. Em maio, o MPF recomendou que a pasta exigisse o registro eletrônico de todas as internações em hospitais públicos ou privados durante a pandemia, com objetivo de ter informações em tempo real sobre a ocupação de leitos. O Ministério da Saúde não acatou a sugestão imediatamente. O sistema só foi implementado em agosto após a questão ser levada a um núcleo de resolução de conflito da Justiça Federal. Na PGR e no Conselho Superior do MPF, que é o órgão máximo de deliberação na instituição, Aras também vem sofrendo críticas. Anteontem, seis dos dez integrantes do conselho rebateram a manifestação do procurador-geral de que cabe ao Congresso analisar os eventuais ilícitos do presidente. Um subprocurador-geral ouvido pelo GLOBO destacou que Aras pode ser eventualmente responsabilizado perante o Congresso Nacional. A maioria da classe avalia que Aras atua em sintonia com o presidente Jair Bolsonaro, sem a independência que deveria ter.
Em nota, a PGR destacou a criação do Giac, afirmando que “o trabalho possibilitou ações e respostas rápidas em questões como distribuição de respiradores pelo país, falta de remédios do kit intubação, orientação para fiscalização do uso de recursos públicos, medidas emergenciais para a economia, entre outros”. Diz ainda que foi criada uma “rede nacional de membros focalizadores nos estados” e abertos canais de “diálogo direto e cooperação” com o Ministério da Saúde, a Anvisa e os conselhos nacionais de secretários estaduais e municipais de Saúde. Ressaltou ainda a “autonomia e independência funcional” dos integrantes do MPF para tomarem as medidas judiciais que entenderam cabíveis na primeira instância.

*”Contra ‘fura-filas’, Manaus suspende vacinação”*
*”Lula teve Covid durante viagem a Cuba no fim do ano”*

*”Aliada de Bolsonaro, Wal do Açaí ganha cargo em Angra”*

*”Eduardo Bolsonaro é condenado a indenizar repórter por ofensa”*
*”Com apoio de mais duas siglas, Lira reúne maioria”*
ENTREVISTA: RODRIGO PACHEO, candidato à presidência do Senado – *”Houve uma de heroísmo nos personagens da Lava Jato”*

*”A parte que falta – Sem garantir IFA para vacinas da Covid-19, Brasil escancara dependência e despreparo”* - Há coronavírus de sobra de Norte a Sul do Brasil, um dos epicentros da pandemia, segundo país em número de mortos, terceiro em infectados e atrasado na vacinação. Mas faltam vírus nas fábricas nacionais de vacinas. Não há IFA, a sigla para ingrediente farmacológico ativo, para produzir as vacinas de Covid-19. E o IFA, nesse caso, nada mais é do que vírus. E não há IFA porque o Brasil depende de vírus e outros insumos importados, dos mais básicos aos mais sofisticados. Também precisa de transferência de tecnologia e carece de instalações adequadas para produzir vacinas virais em grande escala, dizem especialistas. Além disso, fracassou no planejamento de compras. A falta de vírus expôs a completa dependência do Brasil em insumos e tecnologias importados. Dependência que cientistas destacam ser uma ameaça não apenas à saúde pública, mas à segurança nacional, pois mostra uma extrema vulnerabilidade a insumos de outros países, em especial da China.
— O Brasil somou um problema crônico de falta de indústria com o problema agudo de falta de competência federal para planejar minimamente compras de insumos — afirma Maurício Lacerda Nogueira, professor de virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP).
Segundo representantes da área farmacêutica nacional, a situação é resultado da falta de investimento em tecnologia e inovação.
— Quando se conta também IFA de um modo geral, tanto para vacinas quanto para medicamentos, há 20 anos produzíamos 50% do IFA consumido aqui, e hoje só 5% — afirma Norberto Prestes, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos.
O Brasil tampouco já desenvolveu uma vacina para uso humano. E, apesar da pandemia, os 15 grupos que procuram desenvolver um imunizante contra o coronavírus receberam cerca de R$ 15 milhões do governo federal. Os EUA, por exemplo, colocaram US$ 1 bilhão apenas na vacina da Moderna. O país amarga dependência extrema não importa a tecnologia, observa o virologista Fernando Spilki. No caso da CoronaVac, o Butantan não tem condição de produzir o vírus inativado em grande escala. As doses entregues foram montadas no Brasil, mas o vírus veio da China.
Nação envasadora
Nas vacinas baseadas em adenovírus não replicante (AstraZeneca/Oxford, Jansen e Sputinik), assim como nas de mRNA (Pfizer/BioNTech e Moderna,) dependem de transferência de tecnologia.
— Somos envasadores de vacinas e de biotecnologia de forma geral. Tecnologia e insumos vêm de fora. A pandemia tornou dramático o que já era um problema — afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Fonseca, pesquisador do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No caso da CoronaVac, o IFA é o próprio coronavírus Sars-CoV-2 inativado, fabricado pela Sinovac. Ou seja, é corpo e alma da vacina. Já a vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford, cuja produção ficou a cargo de BioManguinhos/Fiocruz, tem como IFA um adenovírus símio geneticamente modificado para carregar a sequência genética da proteína S do coronavírus. Por enquanto, o país tem vacinado somente com a CoronaVac montada pelo Butantan com vírus vindos da China. Mas, se o estoque não for renovado, não haverá vacina porque o Butantan não tem um laboratório de nível de segurança 3 de escala industrial. Fonseca explica que o Butantan consegue apenas combinar os vírus importados com adjuvantes, igualmente importados. O Butantan só deixará de depender da importação de matéria-prima da Sinovac quando for concluída a construção da nova fábrica do instituto. A obra foi iniciada em novembro de 2020, com previsão de entrega em dez meses. Segundo Wilson Mello, presidente da InvesteSP, responsável pela captação de recursos da iniciativa privada para o projeto, o prazo é 30 de setembro. Mas a fábrica precisará de autorização da Anvisa para operar. Só aí virá a transferência de tecnologia, prevista no contrato com a Sinovac.
— Só teremos uma produção de vacinas 100% nacional no ano que vem e isso, se tivermos sorte — afirma Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Setor estratégico
Fonseca diz que já passou da hora de o Brasil ser um desenvolvedor e produtor de insumos, e não principalmente um envasador, refém de importações.
— Mesmo com o atraso de anos de falta de investimento em imunizantes, poderíamos estar em situação melhor se tivéssemos planejado importações para insumos que obviamente todo mundo sabia que teriam altíssima demanda global — frisa Fonseca.
BioManguinhos/Fiocruz tem instalações para produzir a vacina da AstraZeneca/Oxford, pois não é necessário um laboratório de nível 3, sendo o 2 suficiente. A dificuldade está na tecnologia necessária para multiplicar o adenovírus não replicante. Como indica seu nome, ele não se multiplica no organismo. Foi geneticamente atenuado para dar segurança à vacina. Sem se replicar, não pode infectar e causar doença. Porém, isso impõe um desafio à sua produção em escala industrial. Para fazer isso, explica Fonseca, é preciso cultivá-lo em culturas de células especiais, modificadas, que dão ao adenovírus as proteínas que ele não tem para se replicar. Mas Fiocruz depende da transferência de tecnologia da AstraZeneca. Fonseca observa que esse tipo de tecnologia é dominado pela ciência brasileira há anos. No entanto, cada imunizante tem suas especificidades, protegidas por sigilo industrial. O mesmo desafio se aplica à Sputnik. Spilki lembra que o Brasil depende de importação até para meio de cultura de células, que tem 79 ingredientes, todos beneficiados pela China.
— O Brasil poderia fazer, mas não houve investimento. E, no caso da pandemia, temos baixo poder de barganha, se comparados a países ricos, que também importam insumos, mas têm elevado poder de compra e diplomacia — observa Spilki.
Segundo Prestes, a concorrência com a China e a Índia hoje é muito difícil, mas o país precisa ter uma política de estado para o setor, que olhe para questões estratégicas.
— A gente tem que, no mínimo, desenvolver capacidade tecnológica para, num momento de aperto como este, conseguir comprar a tecnologia e implementar ela aqui mais rapidamente — afirma.

*”Vacinas de Oxford feitas na Índia devem chegar hoje ao Brasil”*
ENTREVISTA: GABRIELA GONÇALVES, defensora pública do Amazonas - *”Não sei mais o limite do pior com tamanha desordem”*
*”Amazonas prevê crise ainda mais grave em fevereiro”*

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*”Fim do auxílio deixa mães solo sem rede de proteção social na crise”* - Pouco antes de começar a pandemia, em fevereiro do ano passado, Giselle de Souza, de 27 anos, foi dispensada do emprego sem carteira em que trabalhava como vendedora três vezes na semana. Mãe de dois filhos, ela usava parte do salário para pagar uma babá, que ficava com as crianças enquanto ela trabalhava, de dia, e estudava à noite. Mas, desde que a renda cessou e a pandemia se instalou, a escola dos filhos fechou e o emprego sumiu.
— Sempre que tentava o Bolsa Família, faltava algum documento ou algo dava errado. O auxílio foi de grande ajuda. Por mais que as crianças tenham pai, elas só têm a mim para pôr comida dentro de casa. Não consigo emprego e preciso de alguém para ficar com eles para sair em busca de serviço. Fico pensando: quando as coisas vão melhorar? E não sei — lamenta a moradora de Duque de Caxias, que tem uma filha de 9 anos e um filho de 7.
Giselle está entre as mais de onze milhões de brasileiras com filhos que receberam o auxílio emergencial dobrado — que começou em R$ 1.200 e foi reduzido de setembro a dezembro para R$ 600, quando o benefício foi encerrado. As mães solo representam uma parcela expressiva dos 68 milhões que receberam o benefício: elas são as responsáveis pelo sustento da família, mas não têm emprego com carteira e vivem em situação de vulnerabilidade social. Além de sofrerem resistência maior para serem contratadas pelas empresas, elas lidam com o cenário de creches e escolas fechadas. Além disso, as vagas escassearam com o impacto da pandemia no setor de serviços.
— Essas mulheres já chegaram na pandemia em uma situação mais vulnerável, pois vivem em um tipo de domicílio mais suscetível à pobreza. Normalmente, as famílias com crianças têm mais dificuldade de gerar renda e costumam ter taxas de emprego e de informalidade maiores. Sem o apoio das escolas, a preocupação é maior — afirma o economista Pedro Fernando Nery.
Números do Ministério do Desenvolvimento Social reunidos por Nery, economista e consultor legislativo do Senado Federal, mostram que 6 milhões de mães solo estão incluídas no Bolsa Família, mas há outras 4,8 milhões de mulheres na mesma condição de chefe de família que só receberam o auxílio e podem acabar não sendo inscritas no programa ainda neste ano. Dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE mostram que os arranjos domiciliares formados por mães sozinhas com filhos de até 14 anos concentram a maior incidência de pobreza: 54,9% vivem com renda per capita mensal inferior a US$ 5,50. Nos domicílios em que as mulheres negras são as chefes de família, o percentual sobe para 62,4%.
— A pobreza e a extrema pobreza para o grupo das mães solo devem crescer muito nos primeiros meses. Acredito que a gente deve terminar 2021 em um patamar ainda mais alto do que o anterior à pandemia — avalia Nery.
Nas projeções de Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV, o percentual de brasileiros em pobreza extrema — com renda familiar per capita menor que R$ 155 por mês — deve chegar de 10% a 15% da população neste mês, sendo que, neste grupo, 25% vivem em domicílios chefiados por mães solo.
— É um início de ano extremamente desafiador, não apenas devido ao fim do auxílio emergencial, mas também devido à alta da inflação dos alimentos que impacta o poder de compra daqueles domicílios com filhos, principalmente pequenos — ressalta Duque.
Sobrecarga tripla
A professora Celina Ramalho, da Escola de Administração do Estado de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP), avalia que as mães solo foram triplamente sobrecarregadas. Além de serem responsáveis pela geração da renda familiar, fazem todo o trabalho doméstico e passam tempo integral com os filhos com as creches fechadas:
— As mães tiveram que dar conta dos filhos em casa e ficaram sem ter como deixar um menor de idade para sair à procura de trabalho ou manter o emprego — analisa Celina. — É essencial o papel do governo para corrigir esse agravante, mas para uma melhor condição temporária uma alternativa é o empreendedorismo.
O trabalho como boleira é o que tem mantido Suzany Justino, de 27 anos, e os dois filhos: Davi, de 7 anos, e Arthur, de 6 anos. Antes da pandemia, ela conciliava a confeitaria com os bicos como faxineira, mas sem a ida das crianças para a escola só foi possível continuar o serviço em casa. Mesmo assim, foi o benefício dobrado do auxílio que a permitiu passar pelo período mais crítico da pandemia sem perder a moradia:
— Veio como uma benção porque estava com alguns meses de aluguel atrasado e passando por dificuldades até de falta de alimento, porque não tinha nenhuma encomenda — diz ela, que teme novas dificuldades com o fim do auxílio. — Todas essas conquistas das contas em dia já foram perdidas. Eu ainda não consegui pagar o meu aluguel desse mês.
Enquanto a escola pública dos filhos segue sem previsão de aulas presenciais, ela precisa de malabarismo para equilibrar as contas e manter a alimentação da família:
— Fico em casa com eles torcendo pra que alguém me fale que quer um bolo pra eu ter R$ 100 ou R$ 80 para pagar a luz, o gás e juntar para pagar o aluguel. Fui procurar trabalho formal e deixei mais de 40 currículos, mas fui chamada só para uma entrevista e não fiquei com a vaga. Às vezes me vejo de mãos atadas.
A economista da UFF Hildete Pereira de Melo, estudiosa das questões de gênero e do trabalho doméstico, diz que 80% das mulheres que trabalham fora estão no setor de serviços, e boa parte de modo informal. A recuperação da economia só deve ocorrer com o controle da crise sanitária:
— As mulheres estão no comércio, no setor de saúde, na área da educação e nos serviços domésticos. Não sabemos como se dará a recuperação da economia, e o funcionamento das escolas têm relação direta com a possibilidade de trabalho das mães solo. É um cenário ameaçador.

*”Meia-volta diplomática – Governo Bolsonaro ameniza tom com China para garantir insumos essenciais às vacinas”*
*”EUA deixam aliança antiaborto apoiada pelo Planalto”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Índia envia ao País 2 milhões de doses da vacina de Oxford”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Pedidos de impeachment”* - Em geral, grandes adversidades oferecem aos governantes a oportunidade de exercer uma liderança que, em tempos normais, dificilmente ocorreria. Não é preciso realizar feitos extraordinários. Muitas vezes um comportamento mediano é capaz de assegurar, numa grande crise, novo patamar de reconhecimento a muitos governantes. Jair Bolsonaro, no entanto, conseguiu o exato oposto. Em vez de representar uma oportunidade de aplainar resistências e consolidar uma natural liderança – afinal, vigora no País o regime presidencialista –, a pandemia do novo coronavírus significou, para Jair Bolsonaro, uma multiplicação do número de pedidos de impeachment. Desde 2019, 61 denúncias contra Jair Bolsonaro a respeito de crimes de responsabilidade foram protocoladas na Câmara dos Deputados. Desse total, 54 foram apresentadas depois de março de 2020, quando começou a pandemia no País. No futuro, historiadores vão querer estudar e entender como o presidente Jair Bolsonaro realizou esse feito. O fato é que ele conseguiu. No meio de uma pandemia, com inúmeras preocupações e desafios a serem enfrentados, cidadãos das mais diversas orientações políticas e ideológicas, bem como partidos e entidades, viram-se na obrigação de denunciar o presidente da República por crime de responsabilidade.
Em tese, o impeachment deveria ser a última coisa a se pensar numa pandemia. Com um vírus mortal circulando pela sociedade, a causar morte e sofrimento e a exigir sérias restrições da atividade social e econômica, não se deveria cogitar de afastar do cargo o presidente da República. Esse raciocínio foi, no entanto, inteiramente invalidado pela conduta de Jair Bolsonaro. Suas ações e omissões na pandemia impuseram à Nação uma nova preocupação, dentro de um quadro que já era bastante desafiador. Não se diga que essa reação foi apenas nos primeiros meses da pandemia, nos quais poderia haver alguma perplexidade do poder público perante um fenômeno completamente novo. Mesmo agora, com protocolos bem consolidados pela comunidade internacional e vacinas contra a covid-19 aprovadas, o presidente Jair Bolsonaro continua se mostrando completamente incapaz de lidar responsavelmente com a crise sanitária. A reiterada conduta de Jair Bolsonaro motivou, por exemplo, a apresentação por cinco partidos da oposição (PT, PDT, PSB, Rede e PCdoB) de uma nova denúncia coletiva, baseada, entre outros pontos, na morte por falta de oxigênio de pacientes no Amazonas e no Pará.
Esse excepcional conjunto de pedidos de impeachment durante a pandemia não pode ser ignorado. Entre outras coisas, manifesta que o sistema de controle amplo dos crimes de responsabilidade, previsto no Direito brasileiro, está funcionando. Segundo a Lei 1.079/1950, qualquer cidadão pode denunciar o presidente da República ou ministro de Estado por crime de responsabilidade perante a Câmara dos Deputados. Segundo o Estado apurou, dos 61 pedidos de impeachment apresentados desde janeiro de 2019, apenas 5 foram arquivados, por descumprimento de requisitos formais, como a falta de assinaturas. Existem, assim, 56 pedidos sobre a mesa do presidente da Câmara dos Deputados, a quem compete verificar o preenchimento dos requisitos legais e, se for o caso, submetê-los à apreciação de comissão especial, composta por representantes de todos os partidos. O caráter especial dos tempos atuais – apesar do início da vacinação, o País ainda está distante de vencer a pandemia – não deve significar a inviabilidade, por princípio, de qualquer pedido de impeachment. A maioria das denúncias contra o presidente da República por crime de responsabilidade ocorreu precisamente em função de sua conduta no enfrentamento da crise sanitária. Depois de quase um ano de pandemia, Jair Bolsonaro deu mostras mais que suficientes de que não vai mudar. O Direito e a Política dispõem de instrumentos para sanar essas situações. Que o presidente da Câmara não tenha receio de usá-los. O País não pode ficar refém de alguém que despreza não apenas a Constituição, mas a vida e a saúde de sua população.

*”Briga Bolsonaro X Doria afeta obras no Estado”* - A escalada da disputa política e da retórica de ataques entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria (PSDB) chegou ao ápice após o início da vacinação contra a covid-19 em São Paulo, no domingo passado. Autoridades do Estado atribuem à tensão política entre os dois dificuldades que têm afetado o andamento de obras no Estado que dependem de aval ou financiamento da União. Os entraves nas negociações de obras e programas paulistas não são inéditos, mas, na avaliação de integrantes do governo Doria, desentendimentos antes tidos como pontuais já são definidos como uma ação coordenada da gestão Bolsonaro. O objetivo, segundo eles, seria inviabilizar projetos desejados pela administração paulista que beneficiariam o Estado. Há atraso em pelo menos duas obras que dependem diretamente da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Infraestrutura, além de outros projetos atingidos. Segundo interlocutores do presidente, Bolsonaro teria proibido integrantes do governo de atender a qualquer demanda do governador, a quem classificou de “moleque” após ser chamado de “facínora” por Doria (mais informações nesta página).
São Paulo se queixa de um recuo da gestão Bolsonaro na construção do Piscinão Jaboticabal, obra tida como a solução para evitar as enchentes do Rio Tamanduateí e dos ribeirões dos Couros e dos Meninos, que ocorrem nas divisas da capital paulista com as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. A obra está orçada em R$ 300 milhões e seria financiada pela Caixa, segundo acordo que o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente paulista, Marcos Penido, disse ter firmado com o banco. Mas, depois de todas as tratativas, a linha de crédito ficou congelada e, quando liberada, atendeu a um volume de recursos menor, de R$ 100 milhões. “Teremos agora de buscar, dentro do Tesouro do Estado, os recursos para a construção”, disse Penido. Todos os pedidos de crédito solicitados ao banco são analisados “de maneira isenta e independente”, informou a Caixa por meio de nota. Sobre a redução do valor, a instituição alega que “vem priorizando” operações de crédito com valores menores, de modo a beneficiar mais Estados e municípios.
Ponte Santos-Guarujá. Outra obra atrasada é a Ponte SantosGuarujá. As atuais conversas técnicas sobre a construção de uma ponte ou um túnel conectando as duas cidades da Baixada Santista ocorrem desde 2012 e, em 2019, a Secretaria Estadual de Logística e Transportes definiu a ponte como a solução mais viável, dados os custos. A vantagem, alega o governo paulista, é que ela seria construída sem dinheiro público: a Ecovias, concessionária das Rodovias Anchieta e Imigrantes, deve fazer a obra em troca da renovação dos atuais contratos de concessão. O entrave é que a ponte precisa ocupar trecho do Porto de Santos e limita as possibilidades de expansão da zona portuária, de responsabilidade federal. Sem a autorização da gestão Bolsonaro, a obra não sai. Os técnicos do governo paulista afirmaram que já atenderam uma série de solicitações feitas por Brasília, como aumentar as vigas de sustentação da ponte para que o vão entre elas seja de 750 metros.
Também em nota, o Ministério da Infraestrutura disse que está “de acordo” com o pleito de uma ligação seca entre as margens e defende uma solução que atenda às demandas da sociedade e seja compatível com os estudos que indicam a evolução da movimentação do porto hoje e no futuro. O tema é avaliado no contexto da desestatização do Porto de Santos, cujos estudos tiveram início em setembro passado. Sobre a proposta do governo paulista para viabilizar a ponte, em vez do túnel, “o projeto ainda está sob análise do ministério e do BNDES”, diz a nota. O governo paulista se queixa ainda de que o projeto de duplicação da Rodovia Rio-Santos deixou de fora o trecho paulista. Assim como a ponte, essa obra seria tocada pela empresa que vencer a concessão da Nova Dutra: quem levar a concessão tem de duplicar a Rio-Santos como contrapartida. Só que o projeto prevê a duplicação até Paraty, no Rio. “Eles sequer nos procuraram”, disse o secretário estadual de Logística e Transportes, João Octaviano. Ele alegou que, se São Paulo fosse incluído, poderia haver melhorias no Porto de São Sebastião, que é atendido pela rodovia. Sem mencionar benfeitorias em São Paulo, o Ministério da Infraestrutura informou que todas as obras “são pautadas por critérios estritamente técnicos visando os interesses públicos”.

ENTREVISTA: RODRIGO PACHECO, candidato à presidência do Senado - *”’Teto de gastos não pode ficar intocado’, afirma Pacheco”*

*”Biden centraliza luta contra covid, obriga uso de máscaras e exame em viajantes”*
*”Embaixador no Brasil diz que presidente quer avanços ambientais”*
*”Convencidos de que são imunes, iraquianos abandonam proteções”*
*”Ataques suicidas do Estado Islâmico matam 32 em Bagdá”*

*”Após impasse, Índia libera envio de 2 milhões de doses de vacina de Oxford”*
*”Sem aval para uso, começa produção de vacina russa no Brasil”*
*”Estado de SP deve ter fase vermelha nos finais de semana”*

*”Fábrica da Coronavac no Brasil só deve ficar pronta em outubro”* - O galpão que abrigará a fábrica de vacinas contra a covid-19 do Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo, ainda é uma estrutura vazia, escura por dentro, com concreto cru em pilares e paredes e cheiro de cimento fresco. Conhecer o lugar desperta para a realidade que é preciso paciência e contenção da ansiedade até que São Paulo possa produzir vacinas contra a covid-19, livrando o país da necessidade de importação de insumos, uma vez que isso só deve ocorrer no fim do ano, segundo os engenheiros encarregados do projeto. Mesmo assim, é uma obra planejada para ser tocada em tempo recorde. Outras fábricas do Butantan ficaram prontas em um prazo mínimo de 18 meses. Para esta, o prazo é 10 meses, com obras civis já sendo executadas ao mesmo tempo em que o projeto final do empreendimento ainda está em desenvolvimento. Ali ficarão reatores, biorreatores e centrífugas cuja missão é “fabricar” exemplares do coronavírus em escala industrial. O maquinário cria condições para que células similares às nossas, chamadas células-zero, sejam cultivadas e se reproduzam. Exemplares do coronavírus são injetados nessas células, de forma que os vírus possa também se reproduzir. Os vírus criados na fábrica são então inativados, um processo em que perdem a capacidade de continuar a reprodução. Viram antígenos virais, substâncias que, no nosso corpo, desencadeiam a produção de anticorpos. Até há possibilidade de criar os antígenos da covid em laboratório, mas não em escala industrial. Esse é o material que, até aqui, é importado da China para a produção da vacina brasileira. O Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) chega aqui e é diluído e envasado para ser distribuído pelo País. Com a fábrica pronta, o IFA será nacional.
Projeto. “A fábrica foi originalmente projetada para fabricação de plasma” afirma o gerente de parcerias e novos negócios do Butantan, Tiago Rocca. Mas, diante da crise, foi adaptada e 0 galpão de 10 mil m³ que já existia recebeu reforma. “O que precisa é construir toda a parte de divisórias, criar um ambiente de entrada, vestiário, pisos, toda a parte de ar-condicionado e de utilidades.” A necessidade de uma fábrica específica para a covid-19 se deu por causa da forma como a vacina é produzida e dos requisitos de segurança. No caso da planta do Butantan que produz vacina da gripe, por exemplo, os vírus são cultivados em ovos, não em células. A planta foi feita de forma a ser flexível, para que no futuro possa abrigar “linhas de montagem” de outros antígenos. Por ser uma fábrica de vírus, há todo um tratamento de isolamento de ar e solo para garantir a biossegurança. Os materiais começarão a ser instalados à medida que as obras civis terminem. Segundo o gerente de Desenvolvimento Industrial do Butantan, Adriano Alves Ferreira, a fábrica terá três pisos. No mais alto, ficarão soluções necessárias à produção da matéria-prima, que serão tratadas e enviadas, por gravidade, ao andar térreo. É no térreo que ficará a produção. “No subsolo, temos toda a área de inativação viral, porque todo o efluente que vem dessas áreas (acima), necessita ser descontaminado antes”, afirma. A obra está orçada em R$ 130 milhões, com financiamento da iniciativa privada. A expectativa é que, em 30 de setembro, o processo de comissionamento, para obter a autorização de funcionamento, seja solicitado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

*”SP prevê ‘revolta’ de médicos por vacina”* - A Prefeitura de São Paulo espera “uma revolta” de profissionais da saúde diante da pouca quantidade de doses de vacina contra a covid-19 enviada ao município. O montante não é suficiente para vacinar nem metade das equipes da linha de frente contra o coronavírus. O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse que locais como o Hospital das Clínicas têm recebido um número de vacinas proporcionalmente maior do que as redes municipal e privada. O sindicato que representa os médicos critica o fato de não haver planos claros para a vacinação dos profissionais. A cidade tem cerca de 500 mil funcionários do setor na linha de frente, calcula a Prefeitura. São mais de 6 mil leitos de enfermaria e em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) nas redes pública e privada. Mas a cidade recebeu apenas 203 mil doses da Coronavac distribuídas pelo Instituto Butantan. As primeiras doses estão sendo aplicadas mesmo sem a Prefeitura ter recebido os frascos da segunda dose, caso contrário o público protegido seria ainda menor. “Todos estão revoltados”, afirmou Edson Aparecido, que está encarregado de distribuir essas 203 mil doses e tem ouvido reclamações. “Se o critério fosse populacional, deveríamos receber dois lotes de 380 mil nesta primeira etapa. Pode ter uma reação dos profissionais de saúde grande. É um fator de insegurança.” Ainda segundo o secretário, parte do descontentamento se deve a essa suposta divisão dentro da cidade: no Hospital das Clínicas, onde a campanha de imunização teve início e onde a gestão é de responsabilidade do governo João Doria (PSDB), toda a equipe estaria vacinada, incluindo, de acordo com Aparecido, “estudantes e médicos que estão em home office”. Diante do número baixo de vacinas, a Prefeitura adotou a estratégia de usar todo o imunizante disponível para vacinar o máximo de pessoas possível, sem guardar metade do material para a segunda dose. “Recebemos 203 mil (doses), vamos vacinar 203 mil pessoas. Daqui a 14, 15 dias, vamos receber mais 203 mil. E aí a gente dá a segunda dose”, disse o secretário.
Plano. Presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Victor Dourado afirmou que a preocupação vai além da vacinação da própria categoria. “Há outros profissionais de saúde que também precisam de atenção”, disse ele, citando pessoal de limpeza e de atendimento aos pacientes que chegam com sintomas da covid. Ele destacou que, mais do que a falta de imunizantes, não há clareza sobre o plano de vacinação e os critérios de escolha dos profissionais que vão ser imunizados primeiro. “Existe uma mesa de trabalho que está acompanhando a situação.” Em nota, o governo do Estado informou que a campanha de vacinação “tem como referência o número de pessoas imunizadas contra a gripe em 2020 indicado pelo Programa Nacional de Imunizações”. “Assim, o Ministério da Saúde utiliza este critério para envio aos Estados, e o mesmo ocorre em São Paulo para redistribuição às prefeituras.” Sobre a suposta preferência aos profissionais do HC, a nota diz que estão sendo vacinados profissionais que têm contato com pacientes contaminados e que o complexo “não aderiu” ao home office”.

*”Empresários pressionam por vacinas, oferecem ajuda e criticam governo”* - Com dois manifestos publicados em menos de uma semana, o setor empresarial começa a mostrar a cara neste momento de demora da vacinação e agravamento da pandemia da covid-19 no País. Eles cobram do presidente Bolsonaro pressa na imunização, criticam a politização por causa das eleições de 2022, se colocam à disposição para ajudar e pedem ação do governo e do Congresso com medidas para a retomada econômica. O Estadão ouviu empresários e presidentes das principais confederações do Brasil e num ponto eles são unânimes: é urgente a imunização em massa, com todos os tipos necessários de vacinas, para tranquilizar a população e acelerar a retomada econômica. Além de críticas à atuação do governo federal e de seus ministros, sobretudo o chanceler Ernesto Araújo, governadores e parlamentares não escapam da pressão.
No primeiro manifesto, assinado por 14 entidades, o movimento Coalizão Indústria pede “reformas já” e afirma que a segunda onda da pandemia é mais forte do que se imaginava e ocorre em desafiador cenário social, fiscal e de saúde. No segundo texto, “Prioridades aos Brasileiros”, empresários alertam que os poderes devem fazer política de Estado, e não de governo. “Entendemos que nada irá acontecer nesse País enquanto a população não estiver vacinada. Até porque muita gente não compreendeu a gravidade: há aglomeração em todo canto e desprezo à máscara”, diz o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros. A entidade ofereceu instalações e equipes do Sesc e Senac para ajudar e evitar filas na vacinação. Tadros defende ainda a prorrogação do auxílio emergencial por 90 dias.
Já o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nesse, pede que as autoridades deem orientações a serem repassadas aos funcionários. “Quem deve fazer isso é o Ministério da Saúde. Uma cartilha orientadora.” Do movimento Coalizão da Indústria, o empresário José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast) e vice-presidente da Fiesp, diz que a organização em relação à pandemia está ruim e cheia de imprevistos. “Do lado da saúde, não está passando segurança. Do lado da economia, as coisas não andam.” As empresas esperam clareza do governo para evitar que seus recursos não acabem sendo mal utilizados, afirma Pedro Passos, cofundador da gigante dos cosméticos Natura. “Sem a liderança e o chamamento do governo, fica o temor de que essa ajuda seja de pouca valia. O governo tem de dizer o que o empresário deve fazer: é para emprestar caminhão para carregar vacina, treinar gente, contratar consultoria, planejar logística?”, questiona Passos.

*”Empresas veem ‘improviso’ do governo”* - Um executivo presente à reunião entre empresas e membros de três ministérios sobre a vacinação contra a covid-19, na semana passada, disse ter saído “aliviado” do encontro. Na ocasião, o governo garantiu ter o controle da situação, tanto no estoque de vacinas quanto para a entrega dos imunizantes. Após o barulho político e as dificuldades do governo em garantir vacinas, porém, a impressão mudou. Empresários entrevistados pelo ‘Estadão’ dizem estar dispostos a ajudar a agilizar a vacinação, mas se irritaram com os “improvisos” e cobram clareza da situação para poderem ajudar. Segundo Pedro Passos, cofundador da gigante dos cosméticos Natura, o “empresariado como um todo está atônito porque a desinformação que vem do governo central é muito grande”. “A sensação é que há muito improviso. E isso assusta. Temos de vacinar 200 milhões de pessoas. E, como só devemos ter vacina em quantidade em dois meses, se tudo der certo, teremos de imunizar 1 milhão de pessoas por dia para terminar a vacinação em 2021. É um desafio gigante”, afirma. Segundo empresários da indústria e do comércio ouvidos pela reportagem, depois da reunião com o governo na semana passada, ficou claro que o governo tenta vender a ideia de que a situação da vacina está sob controle quando essa não é a realidade. Por isso, a credibilidade do que o Planalto diz está abalada.
No encontro promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), representantes de três ministérios – o ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto; o ministro das Comunicações, Fábio Faria; e o secretário-geral do Ministério da Saúde, Élcio Franco – chegaram a dizer que o País teria 500 milhões de doses contratadas. Além disso, dispensaram a oferta do setor privado para adquirir vacinas. Um dia após a reunião, o governo fracassou em importar 2 milhões de doses da Índia, apesar de ter mobilizado um avião da Azul para esse fim. A previsão é que as doses da vacina da parceria entre Oxford e Astra Zeneca comecem a chegar hoje. Após os anúncios e recuos ao longo dos últimos sete dias – que incluíram também novas polêmicas entre poderes e risco de desabastecimento da Coronavac –, parte do setor produtivo quer “ver para crer”. “O que adianta colocar minha estrutura à disposição se não há vacina para distribuir?”, diz o presidente de uma empresa com 40 mil funcionários e atuação em todo o Brasil. “Com a quantidade de vacinas que temos, o governo consegue dar conta de distribuir sozinho.”
Diante das idas e vindas, e da insistência do governo em propagar o tratamento precoce para a covid-19 – receita comprovadamente ineficaz, segundo cientistas –, há companhias que prefiram tomar suas próprias medidas sem se associar à administração central. “Estamos tomando algumas ações na ‘moita’. Infelizmente, hoje no Brasil é assim”, disse o executivo de uma grande indústria. A disposição das empresas em se mobilizar sem intermediação oficial ficou clara ontem, com o anúncio de que 15 grandes empresas – entre elas Weg, Renner, Magazine Luiza, Mercado Livre, Ambev e Nestlé – se uniram para doar R$ 1,6 milhão ao programa Unidos Contra a Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para a criação de uma usina de produção de oxigênio a ser destinado aos hospitais do Estado do Amazonas. O porta-voz da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) para a covid-19, Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, reforçou, porém, que os governos lideram a agenda de saúde pública no mundo todo. “A posição da CNI é que a vacina é uma prioridade absoluta para dar segurança aos indivíduos e para o resgate da normalidade social, econômica e produtiva”, afirma. “Tem de ser a prioridade zero do governo federal.”

ENTREVISTA: VANDER COSTA, presidente da Confederação Nacional dos Transportes - *”Se tem vacina lá fora, e não no Brasil, é falha do governo”*: O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Vander Costa, disse que o setor se dispôs a ajudar na logística da distribuição das vacinas gratuitamente e que agora não é hora de “vaidades”. Na visão dele, o governo Bolsonaro errou ao não se antecipar nas negociações diplomáticas que poderiam ter garantido a imunização em massa no País. “Não adianta ficar brigando agora. Não vão fazer campanha em cemitério, né?”
• Como o seu setor, ligado à logística, pode ajudar na vacinação?
- Estamos prontos para colaborar na distribuição das vacinas. Basta o governo solicitar o apoio. As empresas já se colocaram à disposição para fazer o transporte gratuito. A logística está pronta, é só a questão de termos vacina e o transporte será feito com qualidade.

• Pode ser feito de forma gratuita?
- Se necessário for, até de forma gratuita. Porque, se for trabalhar para o governo, tem de fazer licitação e demora muito tempo. As empresas que já estão contratadas podem cobrar os contratos do SUS; quando não for isso, as empresas estão dispostas a transportar de forma gratuita. Com o povo vacinado, vai voltar a ter comércio, turismo, a ter deslocamento de pessoas. Isso faz com que as empresas tanto rodoviárias de passageiros e áreas voltem a arrecadar. Fazer transporte de vacina de graça é uma boa ação, mas ação que vai dar retorno para a sociedade brasileira como um todo.

• Mesmo na distribuição desse lote inicial de vacina, que não foi uma quantidade grande, foram identificados atrasos?
- Houve alguns atrasos de hora por vaidade política. Alguém que queria aparecer na foto para tirar retrato, em vez de deixar a logística abastecer os postos de saúde. Houve falhas, sim, podemos melhorar e o que a CNT está propondo para as empresas é afastar todo o viés político, a vaidade pessoal, para dar agilidade. Não vejo a necessidade de adesivar (o meio de transporte) para entregar a vacina. Isso atrasa.

• A questão é o que está por trás?
- Sim, a vaidade. Isso tem de ser afastado. O mais importante é salvar vidas. Daqui a um ano, publica o que foi feito. Não adianta ficar brigando agora. Não vão fazer campanha em cemitério, né? Estamos prontos para poder transportar.

• Como o sr. vê o atraso e as negociações complicadas?
- Se o mundo inteiro está vacinando e o Brasil não tem vacina, é falha do nosso governo. A pior coisa do meu ponto de vista é não reconhecer quando se falha. Quando você erra, e reconhece o erro, toma atitude para corrigir. Mas, quando não quer ver o erro, vai continuar fazendo errado. Querer fazer a mesma coisa do mesmo jeito e esperar resultado diferente é coisa de louco. Deu errado, tem de mudar de atitude.

• O sr. está se referindo ao presidente Jair Bolsonaro ou também a governadores e prefeitos?
- Todo mundo tem de voltar atrás. Mas, nesse momento, falta ação do governo federal, seja do próprio Bolsonaro e ministros. Quando eu falo do governo Bolsonaro, envolve Ministério das Relações Exteriores, da Saúde, porque tem vacina no mundo. Faltam relações políticas para trazer para o Brasil. Quem faz relações internacionais não são os prefeitos lá de... Quem faz é o governo federal. Enquanto o nosso ministro Ernesto Araújo fala que não tem problema político, ele está equivocado.

• Está faltando mobilização do setor empresarial?
- O setor empresarial está fazendo o que pode, que é pressionar os órgãos públicos para ter vacina.

• Muitos empresários têm medo de falar contra o governo.
- Eu não estou falando contra o governo. Eu estou tentando alertar o governo. É ele que tem de agir.

*”Com pandemia, dobram denúncias contra empresas”* - A pandemia de covid-19 praticamente fez dobrar no ano passado a quantidade de denúncias de negligência de empregadores nos cuidados com a saúde dos funcionários, de acordo com dados do Ministério Público do Trabalho (MPT). Apesar do crescimento de autuações e processos, o órgão ainda aponta muita resistência em alguns setores por medidas que evitem a propagação do novo coronavírus dentro das empresas. O MPT recebeu 36.771 denúncias relacionadas à covid- 19 apenas no ano passado. Desse total, 9.976 resultaram em novos inquéritos e boa parte das demais foi incorporada a processos já abertos contra as mesmas empresas por outras razões. Esses inquéritos levaram a 420 ações civis públicas. Como resultado, 362 Termos de Ajuste de Conduta (TACs) foram firmados com o órgão, que emitiu ainda mais de 13,5 mil recomendações para a correção de problemas nas firmas.
“A quantidade de denúncias surpreendeu a todos os procuradores. Aumentou muito em relação a 2019, quase dobrou o volume, considerando que continuam chegando demandas que envolvem questões sem relação com a pandemia”, destaca a coordenadora nacional da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho do MPT, Márcia Kamei López Aliaga. Ela lembra a obrigatoriedade de as empresas afastarem os trabalhadores com casos confirmados ou suspeitos de covid-19 para quebrar a cadeia de transmissão dentro do ambiente de trabalho. Segundo a procuradora, a identificação de doenças no trabalho já eram pontos frágeis dos programas de saúde implementados pelas empresas antes mesmo da pandemia do novo coronavírus. “O Brasil tem um problema crônico em lidar com questões de saúde e segurança do trabalhador. A pandemia intensificou esse problema e o colocou em evidência. Os setores mais afetados pela covid-19 – serviços de saúde e frigoríficos – já eram setores que tinham muitos acidentes de trabalho antes mesmo da pandemia”, diz Márcia. “São ambientes de trabalho que já eram mal geridos em termos de saúde e segurança, com números significativos de casos de doenças e acidentes relacionados a esses riscos.”
Testes positivos. A coordenadora cita relatórios de órgãos de vigilância municipais que atestam que, mesmo pessoas com testes positivos, continuaram trabalhando normalmente após apresentarem apenas sintomas leves da doença. Nesses casos, até mesmo o prejuízo do empregador costuma ser maior, porque os trabalhadores que não foram afastados prematuramente espalharam o vírus para muitos outros funcionários, acarretando mais ausências nas linhas de produção. “Notamos muita dificuldade para promover esse diálogo social. As tentativas de conciliação do MPT cresceram significativamente, mais de 500 procedimentos de mediação em 2020, mas não conseguimos chegar a um nível de entendimento que tivesse repercussão positiva nos números de contágio. Haverá outras pandemias e, por isso, pedimos reflexão às empresas”, afirma ela.

 

CAPA – Manchete principal: *”Fisco já pode pedir falência de empresa em dificuldade”*

CLAUDIA SAFATLE: *”Um país à deriva”* - Há fortes indicações de que a recuperação em V foi curta, durou dois trimestres (terceiro e quarto trimestres de 2020) e perdeu fôlego. Um voo de galinha já bem conhecido dos brasileiros, animado pelo vigoroso programa de auxílio emergencial que beneficiou mais de 70 milhões de pessoas e que se encerrou em dezembro. Segundo os prognósticos da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, o cenário desenhado para este novo ano é ruim para o primeiro semestre, quando a atividade ainda estará em contração, mas melhora no segundo, de maneira que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) encerraria o exercício em 3,5% - percentual insuficiente para repor a recessão estimada de 4,5% no ano passado. Como o carregamento estatístico responde por cerca de 2,5%, o efetivo crescimento este ano, segundo as previsões do Ibre, deverá ser de apenas 1%. Tudo vai depender, porém, do sucesso (ou fracasso?) da vacinação contra a covid-19. Quanto mais incerta e demorada for, maior será a perda de PIB (Produto Interno Bruto). Os dados acima foram calculados com base em um processo de vacinação que envolveria grande parte da população no primeiro semestre. A partir do meio do ano, a situação seria de normalidade. As informações de atraso na obtenção do insumo necessário para a preparação das vacinas coloca mais dúvidas sobre o que poderá acontecer com o nível de atividade.
Há, ainda, uma grande heterogeneidade na performance dos diversos setores da economia, sobretudo o de serviços. Os serviços prestados às famílias e os serviços públicos, com o peso de educação e saúde - que respondem por quase um quarto do PIB -, com a pandemia estão contraindo muito em relação a 2019. No último trimestre de 2020, houve uma queda da atividade de 2,8%, segundo as previsões da economista, sobre igual período do ano anterior, com indústria crescendo, mas serviços caindo. Estes estão 25% menores do que eram antes da propagação da covid-19. “Falta perspectiva de superação da pandemia. Eu esperava uma normalização no segundo semestre, com vacinação em massa, mas agora não sei”, disse ela. Com o repique da pandemia e a possibilidade de voltarem algumas restrições ao funcionamento das cidades, o mercado de trabalho, que já está péssimo, pode piorar. Empresas que aderiram aos programas de manutenção do emprego podem, agora, optar por demitir caso não vejam perspectivas de recomposição e expansão da demanda.
A confiança de consumidores e empresários está em queda. “Já esperávamos um crescimento muito baixo no início do ano, com o fim do auxílio emergencial e com o mercado de trabalho fraco”, contou ela. A intensificação da doença deixa a economia sujeita a um novo perigo, de o “V” se transformar em um “W”, com o temível duplo mergulho da atividade. “A vacina é o melhor investimento para a atividade econômica”, ressaltou Silvia. Pena que o presidente Jair Bolsonaro parece ter imensa dificuldade de compreender essa simples correlação. A triste constatação, diante do bate-cabeças que está o governo, é de que o país não se preparou para um prolongamento da pandemia. Gastou o que tinha e não há mais, no Orçamento, recursos para prover renda para os trabalhadores informais e para os desvalidos; e destratou a China, que é o principal fornecedor do insumo da vacina, o Ingrediente Farmacológico Ativo (IFA). Silvia acredita que o mercado até compraria um aumento do gasto social se o governo entregar alguma reforma que reduza a despesa obrigatória. Para fazer isso, porém, seria preciso que o país tivesse uma liderança forte, um programa tecnicamente bem feito de renda mínima e um programa de governo apoiado pelas forças políticas do Congresso Nacional. “Ficar à deriva e com ausência total de liderança em um momento em que o país está em situação frágil é muito difícil. É trágico!”, lamentou. Um dos sinais de que estamos fazendo escolhas erradas é que os preços das commodities sobem, mas a taxa de câmbio não se valoriza. Isso traz o perigo de desancoragem da inflação e de elevação da taxa de juros.
É curioso que estejamos em situação difícil em um momento em que as condições externas são boas: há enorme liquidez disponível no mundo, as taxas de juros são negativas e os preços das commodities agrícolas e minerais que o Brasil exporta aumentam. Mas, como se fosse uma sina, aqui faz-se de tudo para dar errado.

*”Desinformação ameaça campanha de vacinação entre povos indígenas”* - Na aldeia guarani Te'yikue, em Caarapó, circula a informação que os índios que forem vacinados contra covid-19 virarão vampiros. Mensagens de whatsapp dizem que quem tomar vacina morre em seis meses e que os índios são cobaias, por isso são grupo prioritário na campanha de combate à pandemia. Repetem o que ouvem de religiosos - de que se trata da “marca da besta” e o que está na seringa é um “chip líquido”. O que se ouve entre guarani kaiowa e guarani nhandeva no Mato Grosso do Sul também sobe os rios da Amazônia e são mentiras que se alastram nas aldeias do Xingu. A forte onda de fake news causa medo e provoca resistência à vacinação em povos indígenas em todo o Brasil. Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), referência nacional do movimento indígena, 46.355 índios de 161 povos foram confirmados com covid-19 desde o início da pandemia. Morreram 928, entre eles lideranças como o cacique Aritana, do Alto Xingu. O número real é muito maior, porque não contabiliza os que morreram nas aldeias, sem notificação oficial.
Sofrem particularmente os índios não aldeados. São os que vivem nas cidades, na beira das estradas e em territórios não homologados pela União. Nestes casos, não são atendidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), braço do SUS criado em 2010 para dar atenção básica aos índios. Segundo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Pelotas, a prevalência do coronavírus entre índios urbanos é cinco vezes maior da encontrada entre não índios. Para proteger as etnias e ocupar o vácuo de informação do governo, associações indígenas e indigenistas preparam o contra-ataque ao movimento antivacina que, denunciam, parte de políticos e pastores evangélicos. “O discurso bolsonarista está forte entre os ticuna, no Amazonas, e parte dos caiapó”, diz uma fonte. Ocorre entre os tenharim do Amazonas, avança pelos macuxi em Roraima e é conversa corrente entre guajajara no Maranhão. Pode limitar a vacinação dos 305 povos indígenas do Brasil diante do temor de que se trate de uma campanha de extermínio promovida pelos não índios. “Não podemos negar que a vacina renova a esperança dos povos indígenas de ter uma medida preventiva eficaz. Mas precisamos de um trabalho intenso para combater a desinformação”, disse ao Valor Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da Apib.
A entidade deflagra hoje uma campanha de comunicação com vídeos de lideranças tomando a vacina ou estimulando a atitude, a “Vacina, Parente!”. O esforço tem outras frentes. Pretende fazer pressão para que o governo federal vacine todos os índios, e não apenas os aldeados acima de 18 anos, como está no plano. “A intenção é construir narrativas que enfrentem o racismo institucional que divide indígenas que vivem nas cidades do que vivem nos territórios indígenas”, diz o texto da iniciativa. A outra frente será entrar com ação no Supremo Tribunal Federal para que todos os índios possam ser vacinados prioritariamente. “A desinformação é o grande nó que enfrentamos atualmente”, diz o guarani kaiowa Eliel Benites, professor da Universidade Federal da Grande Dourados e morador da aldeia guarani Te'yikue. Na reserva vivem cinco mil indígenas em área de 3.594 hectares. Ele explica que os guarani acreditam que as doenças surgem de feitiços, de espíritos maus, e que as fake news reforçam a crença. “Isso chega na aldeia e é interpretado como verdade”, diz. Para piorar o quadro, os guarani são alvo de preconceito na região. Mensagens agressivas questionam porque “índios que não têm serventia”, são os primeiros a ser vacinados.
“Não vimos nenhum tipo de campanha de informação aos índios”, diz a antropóloga Tatiane Klein, do Centro de Estudos Ameríndios da USP, pesquisadora dos guarani no Mato Grosso do Sul. Tatiane e Eliel estão à frente da iniciativa de divulgar, em língua guarani, uma campanha por Whatsapp sobre os benefícios da vacina. Em nota ao Valor, o Ministério da Saúde, via Sesai, disse que desde 2020 “vem sendo realizado trabalho de conscientização nas aldeias”. A vacinação entre os indígenas aldeados começou na terça-feira, dia 19. A estimativa do Ministério é vacinar 410 mil indígenas (aldeados e maiores de 18 anos) e 20 mil profissionais de saúde que atuam nas comunidades. As campanhas de vacinação indígena costumam acompanhar as iniciativas nacionais. Há 47 anos povos indígenas são vacinados contra varíola, sarampo, gripe e recentemente H1N1. “A discussão da vacina é muito tardia no Brasil e a política do Ministério é pouco transparente. Não há diálogo”, diz a médica sanitarista Ana Lúcia Pontes, coordenadora do GT de saúde indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Ela lembra que só em Manaus estima-se que existam 30 mil índios que não serão priorizados pelo plano do governo.
“Muitos parentes não querem tomar a vacina”, diz Aurélio Tenharim, liderança do Amazonas. “Parente” é a expressão usada entre eles para denominar indígenas de todas as etnias e se diferenciar dos não-índios. “Os parentes dizem: ‘Se o presidente diz que não vai tomar a vacina porque diz que não precisa, porque eu vou tomar?”, conta. Militante da saúde indígena há 22 anos, assessor do gabinete do coordenador do distrito que acompanha a execução das campanhas, Aurélio diz que teve covid há pouco e faz questão de ser o primeiro a ser vacinado na região. “Para mostrar aos parentes que é seguro tomar a vacina”. A vacinação começa hoje no polo Humaitá onde está Aurélio. São 26 aldeias sendo 12 tenharim, onde moram 836 pessoas. Vivem no Amazonas às margens da Transamazônica, que corta a terra indígena ao meio. “É fácil para não-indígena ter acesso à aldeia”, diz. Não houve mortes por covid mas agora há índios muito doentes. A logística é complexa para atender os ianomami espalhados em nove milhões de hectares no Amazonas e Roraima. Rômulo Pinheiro, coordenador do Distrito Yanomami, diz ter 12.600 doses para os ianomami em Roraima e seis mil para os que vivem no Amazonas. Em três meses espera ter vacinado todos com mais de 18 anos.

*”Documento de vacina foi enviado, dizem russos; Anvisa nega”* - Documentação é necessária para a autorização de pesquisa no Brasil

*”Brasil estará na frente da fila de insumo, indica Pequim”* - Temor é que feriado nacional chinês dificulte solução de burocracias

*”Vacina indiana chega hoje”* - Imunizante chega após idas e vindas nas tratativas diplomáticas entre Brasil e Índia

*”Fatura diplomática chinesa será cobrada mais tarde”* - O pires na mão com o qual o governo brasileiro se apresenta ao presidente da China, Xi Jiping, neste momento dramático da vacinação contra a covid-19 embute uma fatura diplomática para o país. Não será cobrada agora, mas recairá sobre o Brasil no mesmo momento em que o país precisa reconstruir pontes com os Estados Unidos depois de ter sido um dos últimos países a reconhecer a vitória do novo presidente Joe Biden. As dificuldades do Brasil em obter insumos para a produção local de suas vacinas se devem mais à inépcia do governo brasileiro em coordenar e priorizar esforços do que a uma retaliação do governo chinês às hostilidades acumuladas durante a era Jair Bolsonaro. É consenso entre negociadores que acompanham o tema, no entanto, que a má relação bilateral, guiada pela ideologização da política externa no governo Bolsonaro, não leva os chineses a ter boa vontade em destravar a operação. Foi o que ficou claro na entrevista concedida pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chnying. Ao responder a uma pergunta do correspondente do jornal “O Globo”, em Pequim sobre o atraso no envio dos insumos, o porta-voz disse que seria melhor o jornalista perguntar para a empresa envolvida na exportação. Só então fez o discurso de praxe sobre a cooperação chinesa com as políticas de vacinação no mundo inteiro e no Brasil.
É bem verdade que se trata de contratos com empresas privadas chinesas, mas embaixadas, no mundo inteiro, têm entre suas atribuições acompanhar e desenrolar entraves burocráticos das trocas comerciais entre seus países e as praças em que estão instaladas. Entre o Brasil e a China, tudo já fluiu muito mais facilmente. Basta atestar, por exemplo, que o chanceler Ernesto Araújo não fala com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, o que fere o âmago da diplomacia, que é o de estabelecer relações entre países e interesses distintos. Os chineses, por exemplo, determinaram que são necessários dois testes para quem quiser ingressar no país, o PCR, que detecta a presença do vírus, e a sorologia, que atesta a existência de anticorpos. Se o voo tiver escala, como é o caso daqueles egressos do Brasil, é preciso repetir ambos os testes. Esta exigência da retestagem na escala, no entanto, acabou por caducar para alguns países. Não foi o caso dos ingressantes brasileiros, a quem continuam sendo exigidos os quatro exames. Some-se esse estremecimento à letargia do governo brasileiro na encomenda das vacinas e seus insumos e está feito o estrago. Na caravana que desembarcou em Pequim em novembro para inspecionar as instalações da Sinovac, por exemplo, havia técnicos da Anvisa, mas nenhum encarregado de discutir contratos de compra. Todos os países que negociaram vacinas e insumos com a China o fizeram em meados do ano passado. A medida provisória que permite a compra de vacinas antes do aval da Anvisa só foi publicada pelo governo na primeira semana de janeiro.
O intrincado leilão do 5G no Brasil leva a Huawei ao topo de qualquer fatura a ser cobrada da diplomacia brasileira pelos tropeços na questão da vacina. A participação da Huawei como fornecedora da tecnologia 5G no Brasil, no entanto, já esteve mais difícil de ser desenrolada. Não apenas em função da contratação, pela Huawei, do ex-presidente Michel Temer como advogado, como pela posse dos democratas na Casa Branca. A indústria do Vale do Silício, historicamente mais próxima dos democratas, e grande interessada no fim dos contenciosos com a empresa chinesa, foi uma das principais apoiadoras da carreira política da vice Kamala Harris, na Califórnia. Apesar disso, as relações com a China são, tradicionalmente, um dos temas que menos dividem democratas e republicanos. Então não se deve descartar que, na eventualidade de se agudizarem contenciosos em que o Brasil seja instado a tomar um lado ou outro, se verá numa saia justa que, definitivamente, poderia ter sido evitada. O grau de amadorismo que atualmente domina a política externa brasileira não alimenta otimismo. A carta dirigida por Bolsonaro a Biden, saudando sua posse, é um mapa das dificuldades que os americanos podem criar para obter facilidades do Brasil. Lista todas as demandas brasileiras, como o assento na OCDE, sem pontuar trunfos nacionais na relação bilateral, como a liderança regional. A crise das vacinas e a posse de Biden só reforçaram o cenário de dificuldades que se avolumam para a política externa brasileira. Tanto a China quanto os Estados Unidos hoje estão em muito mais condições de impor sua pauta e sua agenda ao Brasil do que já estiveram até a posse de Jair Bolsonaro.

*”Baixa oferta de seringas amplia dificuldade global”* - Mesmo com ampliação da capacidade de produção, mundo não tem como suprir as necessidades impostas pela pandemia

*”EUA pedem ao Brasil ‘comunicação de respeito’”* - O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, destacou ontem a “importância das palavras” e uma “comunicação de respeito” para o sucesso das relações bilaterais sob a administração de Joe Biden na Casa Branca. Em conversa com jornalistas, Chapman disse que é “bastante evidente para todo mundo” a ênfase do novo governo americano em questões ambientais e no combate às mudanças climáticas, bem como o desejo de fortalecer o multilateralismo, com a volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris e à Organização Mundial da Saúde (OMS). “Agora é o momento de estabelecer novos canais de comunicação entre o presidente Biden e o presidente brasileiro. A função da diplomacia é que essas conversas ocorram”, afirmou o embaixador. Um dos diplomatas estrangeiros com mais acesso ao Palácio do Planalto e ao Itamaraty, Chapman usou termos que contrariam a narrativa adotada até agora pelo pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo chanceler Ernesto Araújo. Bolsonaro alimentou o discurso de fraude nas eleições americanas. Araújo chamou os manifestantes em Washington no dia 6 de janeiro, em protesto que culminou com a invasão do Capitólio, de “cidadãos de bem” e escreveu em suas redes sociais que “duvidar da idoneidade de um processo eleitoral não significa rejeitar a democracia”.
Chapman, até agora um interlocutor preferencial de Bolsonaro e de Araújo na comunidade diplomática de Brasília, foi por um caminho oposto e expressou “rechaço completo” à invasão. Ele, que voltou de férias na segunda-feira, disse que estava em Washington no dia de manifestações violentas e criticou a proliferação de notícias com conteúdo manipulado. “Ontem [em referência à posse de Biden] foi um novo começo. O começo de uma administração legalmente eleita, apoiada pela maioria dos eleitores em nosso sistema. [Uma eleição] decidida com clareza e democraticamente, certificada pelo Congresso e revisada pelos órgãos da Justiça”, afirmou o embaixador dos Estados Unidos. “É um fato que precisamos enfatizar sempre. Temos que enfatizar a importância de notícias corretas, de que as informações falsas não sejam espalhadas. Fake news não são boas para ninguém”, acrescentou ele. No dia 7, um dia após os acontecimentos violentos em Washington, Bolsonaro insinuou na tese da fraude: “O pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições americanas agora. Basicamente qual foi o problema, a causa dessa crise toda? Falta de confiança no voto. Então, lá, o pessoal votou e potencializaram uns votos pelos correios por causa da pandemia. E houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram, foi uma festa”.
Ontem, o recado de Chapman foi numa direção bem diferente. “A nossa democracia funcionou, as instituições são sólidas, essa é a mensagem central”, disse o americano. Ele considerou “bastante construtiva” a carta enviada por Bolsonaro a Biden, indicando áreas de convergência. “Há sempre temas que vão continuar: temas econômicos, de saúde, educação, militares e de segurança.” “Sempre haverá mudanças de um tipo ou de outro, mas a relação Brasil-Estados Unidos já tem tanta consistência que as nossas instituições trabalham em conjunto: o Departamento do Tesouro com o Ministério da Economia, o Departamento de Energia com o Ministério de Minas e Energia, o Fed com o Banco Central”, afirmou. Mesmo reiterando a questão ambiental como prioridade de Biden, o embaixador disse que não tinha “informação adicional” neste momento, lembrando tratar-se do segundo dia da nova administração. Ele contou ter conhecido o presidente democrata quando servia como diplomata em Cabul, no Afeganistão, e depois voltou a vê-lo duas vezes ao atuar como ministro-conselheiro em Brasília. Biden esteve no Brasil em 2014 e em 2015. “Com muita confiança, posso dizer que ele conhece melhor o Brasil do que qualquer outro presidente no primeiro dia de sua administração”, concluiu Chapman.

*”Em live, Bolsonaro proíbe resposta de Araújo sobre Biden”* - O presidente Jair Bolsonaro proibiu ontem o chanceler Ernesto Araújo de responder a uma pergunta sobre a mudança de postura dos Estados Unidos sobre o aborto na Organização Mundial da Saúde (OMS). E, referindo-se a possíveis atritos com os americanos na área ambiental, ele afirmou que também há incêndios florestais na Califórnia. A pergunta a Araújo foi feita por um jornalista da Jovem Pan na live semanal do presidente nas redes sociais. O jornalista se referiu à revogação pelo americano Joe Biden de uma lei que corta doações a entidades que defendam a legalização do aborto. O presidente, entretanto, antecipou-se ao auxiliar. “Acho que não é o caso de entrar na política interna de outros países. Fala alguma coisa, mas sem interferir.” Apesar da ordem para que Araújo não comentasse “a política interna de outros países”, Bolsonaro criticou abertamente a Argentina, que em dezembro aprovou via Congresso a legalização do aborto no país. Araújo, que assim como Bolsonaro insinuou ter havido fraude das eleições americanas, disse então que “tem tudo para ser uma boa relação com os EUA”, agora presididos por Joe Biden.
“Temos interesses na segurança, na promoção da democracia aqui na América do Sul, econômico, trabalhar juntos no meio ambiente. Por que não?”, afirmou. “Assinamos um memorando de cooperação ambiental em novembro, esperamos manter.” Para o chanceler, “o Brasil tem que ser visto por aquilo que nós somos, e não pelas distorções que saem infelizmente em grande parte da mídia”. Criticado mundialmente pela alta dos incêndios florestais e do desmatamento na Amazônia em seu governo, Bolsonaro, então, disse: “Fogo pega no mundo todo, inclusive na Califórnia”. Na campanha eleitoral, Biden ameaçou retaliar o Brasil caso os índices de desmatamento na Amazônia não melhorassem. Bolsonaro respondeu insinuando a possibilidade de entrar em guerra com os EUA: “Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”. Na transmissão ontem, o presidente disse também que as Forças Armadas jamais aceitariam “o convite de uma autoridade de plantão” para “enviesar para um caminho diferente da liberdade”. Ele fez a afirmação quando se referia à situação da Venezuela, que classificou como uma ditadura. “Um grande pilar da nossa democracia são as nossas Forças Armadas”, disse Bolsonaro. “As Forças Armadas jamais aceitariam o convite de uma autoridade de plantão, no caso um presidente da República, de enviesar para um caminho diferente da liberdade.”
A fala de Bolsonaro ocorre depois de seguidos pronunciamentos dele que foram interpretados como uma ameaça ou um convite velado a que os militares aderissem ao golpismo. Na segunda-feira, ele disse que “quem decide se o povo vai viver em uma democracia ou ditadura são as suas Força Armadas”. Bolsonaro disse também que pretende fazer a reforma tributária neste ano. “Vamos fazer a reforma tributária no corrente ano. Não podemos ter majoração da carga tributária. [Se for para isso,] deixa como está", disse. “O objetivo é simplificar os impostos. As empresas gastam muito tempo, muito dinheiro com isso.”

*”‘Maioria dos países apostou em muitas vacinas’, diz Scheinkman”* - Governo brasileiro errou ao ficar dependente de um fornecedor, diz economista

*”País tem duplo desafio externo”* - Relações com novo governo dos EUA e normalização do diálogo com a China são os desafios externos urgentes de Bolsonaro

*”Covid mata 1.335 em um dia; total passa dos 214 mil”* - Média de mortes no Amazonas sobe de 12 para mais de 100 em apenas um mês

*”Auxílio chegou a 56 milhões em dezembro”* - Última parcela do benefício foi recebida por 1,5 milhão de pessoas a menos do que a de novembro

*”Equipe econômica prepara “bloqueio” para restringir gasto”* - Ideia é evitar corte linear como nos anos anteriores

*”Sem ajuda, varejo teria caído 9%, diz MB”* - Para consultoria, auxílio emergencial evitou perda de cerca de 7,4 pontos percentuais no setor em 2020

*”Atividade subiu 1,1% em novembro, diz FGV”* - Mesmo com aumento na margem, o indicador não dá sinais concretos de retomada sustentável na economia nos meses posteriores, diz economista

*”Adesão ao ‘novo’ MCMV começa em fevereiro”* - Governo quer regularização fundiária de mais de 100 mil imóveis até o fim do ano

*”Politização global da vacina é uma ameaça”* - Há sinais crescentes de uso político, tanto interno como externo, das vacinas. Isso pode atrasar o processo de imunização e a recuperação da economia.

*”Baleia termina campanha pela Câmara visitando apenas 12 Estados”* - Começo tardio explica poucas viagens

*”Lira busca mercado financeiro em SP”* - Candidato apoiado por Bolsonaro para a Presidência da Câmara reúne-se com pesos pesados do Itaú, Bradesco, Santander, representantes da Febraban e da XP

*”Pacheco quer novo auxílio emergencial”* - Favorito à presidência do Senado disse que preende procurar a equipe econômica em fevereiro

*”Greenfield é encerrada com balanço negativo”* - Somente 84 das 189 ações previstas pela força tarefa foram executadas

*”Depois de 30 dias em Cuba, Lula revela ter contraído Covid-19”* - Ex-presidente estava no país caribenho para gravar um depoimento para Oliver Stone e passar o fim de ano

*”Com prorrogação das concessões, indústria ferroviária sai da crise”* - Fabricantes de locomotivas, vagões e equipamentos retomam crescimento

*”Mubadala compra controle da Rota das Bandeiras”* - Fundo soberano de Abu Dhabi adquiriu a participação da gestora de recursos Farallon na concessionária de rodovias por cerca de R$ 2 bilhões

*”Bancos devem ter maior queda no lucro em 20 anos”* - Perspectiva para este ano é de recuperação, com retomada da atividade e possível alta da Selic

*”Posição cambial do BC é a menor em cinco anos”* - Indicador desconta das reservas o estoque de swaps

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