terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Vacinação começa e Bolsonaro tenta mudar o assunto

 


Após São Paulo fazer no domingo a primeira imunização contra a Covid-19, 15 outros estados começaram suas campanhas nesta segunda-feira, mesmo que de forma simbólica: AM, CE, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PE, PI, PR, RJ, RS, SC e TO. Precisaram, para isso, pressionar o ministério da Saúde. Sem o mesmo senso de urgência, o governo federal desejava fazer um início simultâneo apenas quando as vacinas já estivessem distribuídas em todo o país. No Rio, uma cerimônia aos pés do Cristo Redentor marcou o início da campanha, com a vacinação de uma idosa e uma técnica de enfermagem.

O Instituto Butantan pediu ontem à Anvisa a liberação de mais 4,8 milhões de doses da CoronaVac que estão sendo formuladas e envasadas na instituição. A autorização dada pela agência no domingo se referia a 6 milhões de doses importadas já prontas da China. (Folha)

Aliás... A produção local de vacinas é uma fonte de preocupação. O Butantan aguarda um novo carregamento de insumos que está parado aguardando autorização do governo chinês, com o qual o Planalto vem mantendo uma relação estressada. Na mesma situação está a Fundação Oswaldo Cruz, que pretende produzir 100 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca até o fim do semestre. O insumo também vem da Ásia e não tem previsão de chegada.

Se por um lado o dia foi de esperança com o começo da vacinação, por outro foi de problemas. Pela manhã, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, fez uma cerimônia com dez governadores no Departamento de Logística do ministério em Guarulhos, SP. Em seguida, aviões da FAB levariam as doses para os estados. Só que deu problema logístico. Horários de voos foram alterados. Em alguns casos, autoridades, como o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD) ficaram esperando nos aeroportos. Até a noite de ontem, Alagoas, Paraná e Rio Grande do Norte não tinham previsão de chegada da vacina. (Folha)

Em entrevista coletiva, Pazuello atribuiu os atrasos aos próprios governadores, que teriam pedido mudanças de logística. Segundo ele, foi necessário contratar novas aeronaves e traçar novos planos de voo durante o dia. Na mesma entrevista, o ministro culpou o fuso horário pelo impasse com a Índia na compra de dois milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca produzidas no país asiático, que está oito horas e meia a nossa frente. Não há previsão de quando o imunizante será liberado para o Brasil. (Globo)

Para completar o dia, Pazuello negou que o governo tenha recomendado tratamento precoce com remédios, dizendo que defende “atendimento precoce” contra a Covid-19. Cinco dias atrás, o próprio ministro atribuiu a crise em Manaus, entre outras causas, à falta de “tratamento precoce”, o que também é defendido por Jair Bolsonaro. No domingo, ao anunciarem a liberação das vacinas, diretores da Anvisa enfatizaram que não há tratamentos cientificamente comprovados contra Covid-19.

Painel: “Criticado por sucessivos erros na condução da pandemia nos últimos dias, Eduardo Pazuello tem sido visto como um para-choque de Jair Bolsonaro. Para auxiliares do presidente, o ministro foi para a linha de frente em um dos momentos de maior cobrança por ações do governo federal. O general deu três entrevistas coletivas em menos de 24 horas, enquanto Bolsonaro sumiu por um período das redes sociais e falou apenas algumas palavras com apoiadores. Como escudo, Pazuello mentiu, distorceu dados, fez promessas que se desmanchavam horas depois e evidenciou as falhas do governo. Apesar do desgaste reconhecido no próprio Planalto, uma troca estava descartada.” (Folha)

O Brasil chegou a 210 mil mortes por Covid-19 com os 460 óbitos registrados ontem. A média móvel dos últimos sete dias, 959, é 33% maior que a das duas semanas anteriores, o que indica alta. Onze estados estão com alta nas mortes: MG, RJ, SP, GO, AM, RO, RR, TO, AL, PE e SE.

No Amazonas, um carregamento com mais de 100 mil m3 de oxigênio vindo da Venezuela deve chegar na manhã de hoje. Os caminhões vindos do país vizinho saíram no sábado da cidade de Puerto Ordaz, a 1.500 quilômetros de Manaus. Atualmente, o Amazonas consome 76 mil m³ do gás, mas as empresas fornecedoras só conseguem produzir 28.200 m³/dia.

E o ministro Pazuello admitiu que sabia desde o dia 8 da gravidade do problema com oxigênio em Manaus, uma semana antes de a crise explodir. (Folha)




Um dia depois de ver João Doria (PSDB) passar na frente e fazer a primeira vacinação, o presidente Jair Bolsonaro endureceu o discurso. Ao conversar com apoiadores do lado de fora do Planalto, sugeriu que “quem decide se o povo vai viver uma democracia ou uma ditadura são as suas Forças Armadas” e que os militares são “o último obstáculo para o socialismo”. (Poder 360)

Aliás... Bolsonaro não escondeu sua frustração. “Apesar da vacina”, comentou com apoiadores, para logo se corrigir. “Apesar, não. A Anvisa aprovou, não tem o que discutir mais.” (Globo)

Parlamentares e autoridades reagiram às declarações. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que Bolsonaro “flerta com o acirramento na relação com as instituições”. Já o senador José Serra (PSDB-SP) afirmou que a fala revela uma “visão autoritária em estado puro”. Sem mencionar Bolsonaro, o ministro do STF Edson Fachin comentou que o coronavírus e as “mentes autoritárias” são as pragas do Brasil. (Estadão)

O tom de confronto faz parte, segundo fontes, de uma estratégia para sair da defensiva diante das críticas à ação do governo na pandemia, dando novo gás ao gabinete de ódio e tentando mudar de assunto. Para não ser criticado por conta das vacinas. Além das declarações na porta do palácio, Bolsonaro criou um canal de divulgação de informações no Telegram e mirou em alvos como o jornalista William Bonner, o casal de apresentadores Luciano Huck e Angélica, e o youtuber Felipe Neto. A avaliação do presidente é de que ele está em desvantagem no “jogo da opinião pública” e “apanhando muito”.

Aparentemente, a percepção de Bolsonaro não está errada. Pesquisa do Instituto XP/Ipespe indicou que o percentual dos que acham seu governo ruim ou péssimo saltou de 35% em dezembro para 40%, o pior número desde julho do ano passado. Os que o consideram ótimo ou bom recuaram de 38% para 32%.

Míriam Leitão: “O comportamento do presidente durante esta pandemia não foi apenas execrável, foi criminoso. Ele deveria estar hoje respondendo a um processo de impeachment. Brasileiros morreram por causa da sua atitude e de suas decisões. Se o governador de São Paulo não tivesse dado a ordem firme ao Butantan de que importasse a vacina mesmo antes da aprovação da Anvisa e mesmo diante de todos os ataques do presidente, o Brasil não teria vivido o dia de ontem. Bolsonaro mais uma vez ameaçou o país com ditadura — ‘se as Forças Armadas quiserem’. Quer provocar uma nova polêmica e desviar a atenção do ponto central: ele deveria estar respondendo a um processo de impeachment.” (Globo)




Arthur Lira (PP-AP), candidato do Centrão e do governo à presidência da Câmara, venceu a primeira batalha. A Mesa Diretora da Casa decidiu que a eleição vai acontecer no próximo dia 1º e será presencial, como queria o candidato. Para evitar aglomeração, as cabines de votação serão espalhadas pelos salões Verde e Nobre da Câmara, e não no Plenário. A decisão é uma derrota para a o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que defendia adiar em um dia o pleito e fazer uma votação híbrida com parlamentares que pertencessem a grupos de risco de Covid-19 podendo votar por aplicativo. (G1)

Segundo o placar do Estadão, Lira tem hoje 188 votos declarados, contra 122 de Baleia Rossi (MDB-SP), candidato apoiado por Maia. Como a votação é secreta, o apoio formal de partidos nem sempre se reflete no resultado.




O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), licenciou-se do cargo por dez dias para tratamento de um câncer no aparelho digestivo. Segundo o Hospital Sírio Libanês, Covas foi submetido a uma sessão complementar de radioterapia e se ausentará da prefeitura para “repouso e cuidados pessoais”. O vice Ricardo Nunes (MDB) exercerá a função até a volta do titular.




Auxiliares do presidente eleito Joe Biden, que toma posse amanhã, anunciaram que ele vai vetar a autorização dada por Donald Trump para a retomada de voos provenientes do Brasil e de outros países com alto índice de Covid-19.

Por falar na posse, cerca de 15 mil homens da Guarda Nacional já estão em Washington para evitar distúrbios como os do dia 6, quando uma turba invadiu o Congresso americano.




Nenhum comentário:

Postar um comentário