MIDIALTERNATIVA FREE PRESS: Deu na Imprensa

Uma quinta-feira de noticiário quente. Jornais impressos destacam dois grandes assuntos: 1) a operação da PF envolvendo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, suspeito de envolvimento direto em crimes que vão de contrabando de madeira a corrupção; e 2) o depoimento do General Eduardo Pazuello na CPI da Covid, com muitas mentiras e o esforço de livrar a cara do presidente. Também é destaque nos onlines a aprovação pela Câmara do texto-base de MP que abre caminho para privatização da Eletrobras.

O outro grande tema é a entrevista exclusiva de Lula à revista francesa Paris Match anunciando que será candidato contra Bolsonaro em 2022. A corrida presidencial brasileira ganha ampla repercussão na imprensa europeia e agora pela manhã a mídia brasileira começou a repercutir. O depoimento do ex-ministro da Saúde repercute lá fora, mas o assunto do dia sobre o Brasil na imprensa estrangeira é a operação da PF contra o ministro Ricardo Salles. Leia mais em Brasil na Gringa.

Folha e Estadão dão na manchete principal a operação da PF contra o ministro do Meio Ambiente. Diz o primeiro: Salles é alvo de investigação da PF sobre madeira ilegal. E o tradicional e conservador jornal paulista: Salles vira alvo da PF em investigação sobre venda ilegal de madeira. A edição brasileira do El País destaca que EUA entregaram ao Brasil detalhes que levaram PF a Salles por suspeita de contrabando de madeira ilegal. O Globo: Pazuello protege Bolsonaro, nega fatos e se contradiz na CPI da Covid. Já o Valor destaca na capa: Expectativa de regulação faz criptomoeda desabar.

Pela primeira vez, o noticiário sobre a CPI tem um tom crítico em relação à condução dos depoimentos pelos senadores. Diz a Folha: CPI da Covid corre risco de se tornar 'Tribunal do Feicebuqui', sobre a estratégia do relator de abrir à participação de internautas a inquirição de depoentes. Na Folha, Bruno Boghossian diz que a estratégia do militar não adiantou muito. Mentiras de Pazuello na CPI são quase uma admissão de culpa. Em outra coluna, Thiago Amparo chama o general de "burocrata do morticínio".

Embora jornais como a Folha tenham informado que o General Pazuello tentou blindar Bolsonaro na CPI, reagiu a Renan e mentiu ao menos quatro vezes, a mídia destaca que Renan não conseguiu pegar o ex-ministro, que de fato conseguiu blindar o presidente e puxou para si a responsabilidade sobre a condução das negociações da compra das vacinas da Pfizer e da crise em Manaus.

Pazuello dispensou farda, mas demonstrou fidelidade militar a Bolsonaro. Planalto comemora proteção de Pazuello a Bolsonaro, e comando de CPI destaca contradições. Outra boa nova para o governo é que AGU e ministros aliados de Bolsonaro no TCU conseguiram adiar ontem o processo que pede multa a Pazuello.

BRASIL NA GRINGA

A revista francesa Paris Match traz Lula em entrevista exclusiva anunciando: "Serei candidato contra Bolsonaro". "Para se declarar candidato às eleições presidenciais, Lula escolhe o Paris Match. Dezenove meses de prisão e uma longa batalha judicial não terão levado a melhor sobre seu compromisso e sua combatividade. Enquanto no Brasil a pandemia já matou mais de 400 mil pessoas e o valor do real caiu 40% em 2020, Lula quer tirar seu país do impasse", diz a publicação. "Se estou melhor colocado para ganhar as eleições presidenciais e tenho uma boa saúde, sim, não duvido [que se recandidatará]. Acho que fui um bom presidente. Fiz laços fortes com a Europa, América do Sul, África, Estados Unidos, China, Rússia. Durante o meu mandato, o Brasil converteu-se num ator mundial de envergadura".

Sobre as relações entre Brasil e França: "Ouça (ri), acho que a relação entre os nossos dois países sempre foi extraordinária, excepcional! Acho que tem que continuar assim, apesar das diferenças ocasionais. O Brasil não deve procurar entrar em conflito com nenhum país. Nossa última guerra foi contra o Paraguai há 150 anos! Posso ter divergências com o presidente dos Estados Unidos, mas não devo perder de vista que devo manter relações diplomáticas com ele para garantir a democracia, a política de desenvolvimento, as relações comerciais, a ciência e a tecnologia".

O portal e emissora Europe 1 também dá amplo destaque: Brasil: Lula se apresenta como "soldado que não descansará até que Bolsonaro seja derrotado". "Em entrevista exclusiva a Paris Match, o ex-presidente do Brasil diz que está pensando seriamente em se candidatar a um novo mandato em 2022", destaca. "Liberado de seus problemas jurídicos, Lula se apresentará sem hesitar se estiver em melhor posição para isso: vencer o atual líder de extrema direita".

Diz o texto: "A principal motivação de Lula é dar a volta por cima em um país devastado pela epidemia de Covid, que o atual presidente brasileiro, por ceticismo, deixou explodir. 'Quero assumir o papel de um soldado que não descansará um minuto enquanto o Bolsonaro não for derrotado', disse a jornalista Manon Quérouil".

O português Diário de Notícias repercute agora pela manhã que Lula afirmou que concorrerá à Presidência do Brasil se for favorito à vitória. "Segundo uma sondagem do Instituto Datafolha divulgada na semana passada, Lula teria ampla vantagem numa primeira volta do sufrágio presidencial (41%) e venceria a Presidência do Brasil na segunda volta", informa o jornal, a partir de despacho da agência Lusa.

O inglês Financial Times noticia que a polícia brasileira almeja ministro do Meio Ambiente em investigação de contrabando. "Ricardo Salles provavelmente prejudicará as tentativas de Bolsonaro de melhorar a imagem do país", reporta. "Antes de uma cúpula organizada pelo presidente dos EUA Joe Biden no mês passado, diplomatas brasileiros afirmaram que o governo Bolsonaro havia 'mudado de posição' e estava pronto para levar a sério o combate à destruição da maior floresta tropical do mundo, 70% localizada no Brasil", escreve o correspondente Bryan Harris.

O americano Wall Street Journal publica reportagem das correspondentes Luciana Magalhães e Samantha Pearson noticiando o que parece absurdo aos olhos do público – o Ministro brasileiro encarregado de proteger a Amazônia é investigado por exportação ilegal de madeira. Segundo o texto, Ricardo Salles está no centro dos esforços do Brasil para obter compensação pelo trabalho de seu país na redução do desmatamento. "O presidente Jair Bolsonaro pediu no mês passado aos EUA que pagassem ao Brasil US$ 1 bilhão para ajudar o país sul-americano a reduzir o desmatamento, dizendo que a maneira de salvar a floresta tropical é financiando atividades sustentáveis na região", ressalta a reportagem.

O britânico The Guardian traz reportagem de Tom Phillips desmoralizante para o governo, com foto do presidente e de Salles rindo. Polícia brasileira faz batida no Ministério do Meio Ambiente por causa da venda 'ilegal' de madeira – destaca a manchete de página. "Ativistas comemoram operação madrugada que também teve como alvo a casa do ministro Ricardo Salles", diz a reportagem. "O desmatamento na Amazônia atingiu seu ponto mais alto em 12 anos sob o governo de Bolsonaro. Uma área sete vezes maior que a Grande Londres foi destruída somente no ano passado", informa Phillips. "Salles, um dos aliados mais comprometidos de Bolsonaro, estaria respondendo a perguntas na sede da Polícia Federal em Brasília na manhã de quarta-feira".

O francês Le Monde também traz ampla reportagem: No Brasil, o ministro do Meio Ambiente é suspeito de tráfico ilegal de madeira. "Fera negra das ONGs, que o acusam de incentivar ativamente o desmatamento na Amazônia, Ricardo Salles teria, com funcionários de seu governo, favorecido uma vasta rede destinada à exportação", denuncia o correspondente Bruno Meyerfeld.

O inglês The Times também noticia: Ministro 'ligado a madeireiros ilegais da Amazônia'. O jornal diz que Salles é uma figura polêmica no Brasil. "Com a tarefa do governo de levantar fundos internacionais para proteger a Amazônia , ele é acusado por grupos ambientalistas de, em vez disso, desmantelar sistematicamente programas de proteção da floresta tropical e supervisionar um aumento em sua destruição desde que o presidente Bolsonaro assumiu o cargo em 2019. Ele foi caricaturado na mídia brasileira como uma raposa guardando o galinheiro", aponta. "A operação é de uma escala sem precedentes, nunca antes vista por um ministro do meio ambiente, aqui acusado de contribuir para a destruição da natureza".

O Washington Post coloca em destaque a abertura de investigação sobre crimes de corrupção no governo brasileiro. Polícia do Brasil investiga ministro do Meio Ambiente sobre exportação de madeira – aponta o jornal, replicando texto da AP. "Salles este ano começou a conversar com funcionários do governo do presidente dos EUA, Joe Biden, que pediu diretamente ao Brasil que coibisse o crescente desmatamento na Amazônia", lembra a reportagem. "Os investidores estrangeiros, principalmente baseados na Europa, já começaram a expressar maior preocupação".

Segundo a Reuters, o ministro do Meio Ambiente do Brasil virou alvo de investigação de contrabando de madeira. "A polícia brasileira vasculhou na quarta-feira propriedades ligadas ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles e outras autoridades, em uma investigação de alegações de que eles permitiam a exportação ilegal de madeira da região amazônica para os Estados Unidos e Europa", informa.

Washington Post reproduz despacho da Associated Press sobre o depoimento de Pazuello na CPI do Senado, tentando livrar a cara de Bolsonaro. Ex-ministro diz que líder do Brasil não interferiu na pandemia – diz o título da reportagem. Ele negou ter recebido ordens diretas do presidente durante seus 10 meses no cargo. "Analistas viram como uma tentativa de proteger o líder brasileiro de qualquer culpa sobre a resposta do governo à pandemia", diz a AP. "O momento mais tenso veio depois que o senador Eduardo Braga, considerado moderado, acusou Pazuello de 'dar informações erradas e enganosas' sobre a crise de oxigênio na cidade de Manaus em janeiro", reporta.

A Reuters também destaca que Pazuello protegeu Bolsonaro em inquérito sobre a Covid-19. "O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negou que o presidente de extrema direita do Brasil, Jair Bolsonaro, tenha rejeitado seus esforços para comprar a vacina contra a Covid-19 da chinesa Sinovac Biotech Ltd", informa.

O espanhol El País noticia o comparecimento do ex-ministro ao Congresso para depor diante de parlamentares que integram a CPI. Uma comissão de investigação sobre a pandemia aponta negligência múltipla do governo Bolsonaro – diz a manchete de página. "A comissão de inquérito tornou-se o mais valioso instrumento da oposição para acelerar o desgaste do presidente, coincidindo com a ressurreição política de Lula da Silva e uma vacinação que ainda não tem o ritmo necessário para deter o avanço do coronavírus em suas trilhas. Embora dezenas de petições de impeachment tenham sido apresentadas contra o presidente, nenhuma foi processada e ele já garantiu apoio parlamentar suficiente para neutralizá-las", escreve a correspondente Naiara Galarraga Gortázar. O jornal ainda destaca a previsão de 750.000 mortes por coronavírus que ameaçam o Brasil. "A terceira onda do covid-19 será mais grave devido ao atraso nas vacinas, à falta de isolamento e à gripe de inverno, segundo projeções da Universidade de Washington", reporta o correspondente Diogo Magri.

No argentino Página 12, Eric Nepomuceno resume o depoimento de Pazuello: um longo dia com muitas mentiras. "Ele é considerado o responsável direto pelas medidas que contribuíram para que o Brasil atingisse o grau de devastação em que se encontra, com pelo menos 440.000 mortes por covid 19", escreve o correspondente.

O Le Monde publica na edição desta quinta-feira, 20, o perfil do general Augusto Heleno em página inteira. "Para defender 'seu' presidente contra seus 'inimigos', Heleno não reluta em sair das sombras", escreve Bruno Meyerfeld. "'Droopy' então se transforma em um bulldog. Parlamentares recalcitrantes? 'Deixe eles irem se foder!', declarou em 2020. O ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva? 'Ele deveria ter levado prisão perpétua'. Emmanuel Macron, crítico da gestão da Amazônia? 'Em todos os lugares [os franceses] foram, eles deixaram um rastro de destruição, confusão, miséria. Eles não têm nenhum conselho para ninguém!'", resume.

INTERNACIONAL

New York Times destaca em manchete as pressões políticas sobre a Casa Branca para levar EUA e Europa a interromper o conflito entre Israel e Gaza. "O presidente Joe Biden enfrenta uma mudança para a esquerda em seu partido. Na Europa, a migração muçulmana, o medo do terrorismo e a política populista tornam a diplomacia mais urgente do que nunca", diz o jornal. O jornal relata ainda que o conflito em Gaza está causando uma 'crise de identidade' para alguns jovens judeus americanos. "Uma nova geração está enfrentando o conflito de longa data na região em um contexto muito diferente, com pressões muito diferentes, das gerações de seus pais e avós", destaca.

Washington Post destaca como assunto principal na capa que a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou projeto de lei para criar comissão de investigação do ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, mas chances no Senado são mínimas. Líderes republicanos estão tentando impedir a comissão independente, que provavelmente examinaria o papel do ex-presidente Donald Trump no tumulto e suas conversas com legisladores republicanos naquele dia. O projeto foi aprovado na Câmara por 252 a 175 votos na quarta-feira, com 35 republicanos apoiando a medida, mas suas chances no Senado diminuíram depois que o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, se pronunciou contra.

AS MANCHETES DO DIA

Folha: Salles é alvo de investigação da PF sobre madeira ilegal

Estadão: Salles vira alvo da PF em investigação sobre venda ilegal de madeira

O Globo: Pazuello protege Bolsonaro, nega fatos e se contradiz na CPI da Covid

Valor: Expectativa de regulação faz criptomoeda desabar

El País (Brasil): EUA entregaram ao Brasil detalhes que levaram PF a Salles por suspeita de contrabando de madeira ilegal

BBC Brasil: Pazuello inicia segundo 'round' de depoimento na CPI da Covid após dia de contradições

UOL: Câmara aprova venda da Eletrobras; texto ainda será votado no Senado

G1: Com mais de 20 senadores na fila de perguntas, CPI retoma hoje depoimento de Pazuello

R7: Segunda parcela do auxílio é depositada para 2,3 milhões de beneficiários nascidos em abril

Luis Nassif: Xadrez do caso Paraguai e as jogadas ambientais de Ricardo Salles

Tijolaço: Na TVT: o anão moral e cívico