A semana começa quente, com o governo sob pressão depois do estrondoso sucesso das manifestações de sábado, quando milhares de pessoas tomaram as ruas contra o governo Jair Bolsonaro. Folha destaca em manchete que após atos, governo mira Lula, que joga por desgaste. Estadão informa que projeções econômicas animam novas ofertas de ações na Bolsa. O Globo noticia que Orçamento para pesquisa do CNPq é o menor em 20 anos. E Valor alerta em manchete de capa: Risco de blecaute cresce com piora da crise hídrica. Na política, aliados de Bolsonaro reagiram às manifestações de sábado contra o presidente de forma alinhada: inflaram o discurso de polarização e miraram ataques a Lula. O ex-presidente, segundo a última Datafolha, aparece com vantagem para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Lula não foi aos protestos de sábado e manteve silêncio, mas em diversas cidades houve declarações de apoio ao petista. Estadão relata que o esquema do orçamento secreto pode configurar crime de responsabilidade. Ao ouvir advogados, ex-ministros e ministros especialistas da área fiscal sobre modelo de compra de apoio no Congresso, parte deles fala em indícios de desrespeito às leis. A configuração pode levar ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro por infração às leis orçamentárias e à Constituição, que exige transparência, equidade e impessoalidade no manejo das verbas. A manchete do Valor é grave e mostra que o país está à beira de enfrentar novo apagão como há 20 anos. O agravamento da crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos, poderá fazer com que o Brasil tenha problemas de abastecimento de energia a partir do segundo semestre. Com a permanência de condições hidrológicas desfavoráveis, mesmo analistas que assumiam antes uma postura mais cautelosa em relação ao tema já começam a enxergar dificuldades no suprimento de energia nos horários de pico, o que poderia resultar em blecautes. A avaliação é que, dependendo da situação futura dos reservatórios, pode não haver geração suficiente para atender os momentos de forte demanda do sistema elétrico. De volta à política, depois do fiasco de domingo, quando O Globo e Estadão esconderam os atos de protestos movidos pela esquerda – só a Folha deu em manchete – o assunto continua repercutindo – principalmente na imprensa estrangeira, que deu ampla cobertura à primeira onda de protestos contra Bolsonaro, com destaque em jornais influentes como The Guardian, Le Monde, Libération e El País, além da cobertura de agências de notícias como Reuters. Leia mais em Brasil na Gringa. No Tijolaço, Fernando Brito escreve que o silêncio de parte da mídia sobre os protestos de sábado é o grito em agonia da terceira via. "As manifestações de rua (...) tiveram um papel importantíssimo: o de que a oposição pudesse, para além das pesquisas e das suas percepções, onde se sentir-se viva e forte. Os jornais, entretanto, na imensa maioria, fizeram coberturas e chamadas criminosamente minguadas, exceção à Folha. Estadão e Globo Folha reporta que dois homens perderam a visão de um olho após serem atingidos por tiros de bala de borracha disparados durante as manifestações contra Bolsonaro no Recife. O protesto na capital pernambucana foi encerrado com bombas de gás lacrimogênio, tiros de balas de borracha e correria nas ruas do centro. O governador Paulo Câmara (PSB) afastou os policiais envolvidos na operação e abriu uma investigação para apurar o caso. Sobre a CPI da Covid, o senador Otto Alencar surge no Globo apontando que a CPI já tem provas contra Bolsonaro, que 'apostou na imunidade de rebanho'. Médico, o integrante da CPI classifica de 'irresponsabilidade criminosa' a atitude do governo e diz acreditar que CPI terá consequências concretas. "Tudo indica que Bolsonaro jogou com essa possibilidade da imunidade de rebanho, que é uma coisa criminosa. Por isso, ele descartou a vacina no ano passado, ironizou a CoronaVac, criou dificuldades diplomáticas com a China e apostou em medicações que não foram comprovadas, que não tinham nenhum efeito", diz Otto. Celso Rocha de Barros escreve na Folha que o número de brasileiros que comprovadamente morreram por culpa de Bolsonaro durante a pandemia já se aproxima de 100 mil. "Esses 90 mil são só o começo da história. Bolsonaro combateu desde o início a Coronavac, que só existe no Brasil por iniciativa do Governo de São Paulo e é responsável pela esmagadora maioria das vacinas aplicadas no país até agora. Além disso, vacinação é só um dos pilares do combate à pandemia. Bolsonaro não investiu em nenhum dos outros: nem isolamento social nem testagem e rastreamento", observa. No Globo, reportagem indica que o PP resiste a dar abrigo a Bolsonaro. Ao contrário do que planejara, o presidente chega ao último dia de maio sem definir em qual partido ingressará para as eleições do ano que vem. Embora tenha dito no último dia 20, em visita ao Piauí, que estava de "namoro" com o PP, repete-se no partido a mesma resistência que a família presidencial vem encontrando em outras siglas com as quais conversou nos últimos meses. BRASIL NA GRINGA No português Diário de Notícias, o correspondente João Almeida Moreira escreve que Lula pode liderar uma geringonça à brasileira, como é chamada a aliança portuguesa que levou a esquerda ao poder. "Nos estados do Paraná e do Rio de Janeiro, o centro e a esquerda aproximam-se baseados no modelo português. No plano nacional, declaração de voto de Fernando Henrique Cardoso no seu velho rival contra Bolsonaro alimenta a tese", escreve. Leia a íntegra ao final deste briefing. Despacho da Reuters sobre os protestos promovidos no sábado em cidades brasileiras ganhou ampla repercussão global, com mais de 40 mil sites e jornais em todo o mundo replicando a notícia. Brasileiros realizam protestos em todo o país contra a resposta do presidente Bolsonaro à Covid – diz o título. "Os brasileiros fizeram protestos contra a forma como o Presidente Jair Bolsonaro lidou com a pandemia Covid-19 em pelo menos 16 cidades do país no sábado, carregando cartazes como 'Fora Bolsonaro' e 'Impeachment Já'", reporta a agência. O espanhol El País destaca que a esquerda do Brasil sai às ruas contra o Bolsonaro pela primeira vez na pandemia. "Os protestos, impulsionados pela gestão desastrosa da pandemia e a volta de Lula, reúnem milhares de pessoas convocadas por movimentos sociais em mais de cem cidades", relata o diário. O diário El Mundo disse na manchete que Brasil sai às ruas contra a política "genocida" de Jair Bolsonaro. "A esquerda supera a relutância em se aglomerar e vai às ruas pela primeira vez de forma massiva durante a pandemia", aponta o correspondente Joan Royo Gual. O português Público também dá amplo destaque às manifestações. Oposição a Bolsonaro mostra a sua força nas ruas brasileiras. "Cidades em todo o país foram palco de enormes protestos que exigem o afastamento do Presidente, responsabilizando-o pela crise sanitária. Lula ficou em casa e em silêncio", escreve o correspondente João Ruela Ribeiro. O argentino Clarín informa que milhares de pessoas voltaram às ruas do Brasil rejeitando Jair Bolsonaro. "Há passeatas em várias cidades, principalmente contra o manejo da pandemia do coronavírus", reporta. "Movimentos sociais, centrais sindicais e partidos políticos de esquerda também pediram a recuperação de uma ajuda emergencial de 600 reais (94 euros) e uma campanha massiva de vacinação". O inglês The Guardian também dá amplo destaque aos protestos ocorridos no sábado, informando que dezenas de milhares de brasileiros marcham para exigir o impeachment de Bolsonaro. "Protestos em mais de 200 cidades e vilas no Brasil provocados pelo tratamento do presidente da pandemia de Covid", relata. O francês Le Monde também destacou os atos em vários cidades brasileiras, reportando que as novas manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro é porque ele "é mais perigoso que o vírus". "Dezenas de milhares de pessoas marcharam novamente, no sábado, 29 de maio, em várias cidades do país para protestar contra o chefe de Estado da extrema direita e sua contestada gestão da pandemia, que deixou quase 460.000 mortos", informa. O Libération também destaca os atos no sábado e aponta que foram uma demonstração de força de uma esquerda em busca de estratégia. "Dezenas de milhares de brasileiros manifestaram-se no sábado contra o presidente Jair Bolsonaro, que continua muito popular um ano e meio antes da eleição presidencial, apesar das investigações por suas falhas na luta contra a Covid-19", ressalta. A correspondente Chantal Rayes escreve: "Intoxicada por essa demonstração de força, como pelo inesperado retorno ao jogo político de Lula (cujas condenações foram derrubadas no início de março), a esquerda surfa no enfraquecimento do Bolsonaro, enquanto uma comissão parlamentar de inquérito examina as falhas de seu governo diante da epidemia: boicote a medidas de restrição de viagens, defesa de tratamentos medicamentosos com eficácia não comprovada, relutância em adquirir a vacina". O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung destacou que dezenas de milhares protestam contra o Bolsonaro. "A multidão se manifestou contra o chefe de estado extremista de direita Jair Bolsonaro em várias cidades do Brasil. Os protestos estavam relacionados principalmente à forma como Bolsonaro lidou com a pandemia corona", destaca. Em artigo no argentino Página 12, o jornalista Emir Sader exalta as manifestações de sábado nas cidades brasileiras. Viva o povo brasileiro! "Dizem que nem existe, que é inútil, que não deve falar nem se manifestar. Mas de repente, ele não aguenta mais, não aguenta mais, ele sai na rua, para protestar, para gritar, para dizer a sua palavra. De repente, ele mostra que está ali, combativo, acreditando que o Brasil tem dó, tem futuro. De repente, mostra todos os seus rostos, de jovens, de mulheres, de negros, de velhos. Sai com suas vozes, com suas cores, com seus gritos. É o povo brasileiro, que tem uma história, um passado, um presente e quer reconquistar o direito de ter um futuro". O britânico Financial Times traz entrevista com a empresária Luiza Trajano. Manter a justiça no centro das grandes empresas. "Luiza Trajano construiu um dos maiores grupos varejistas do Brasil e defendeu os direitos das mulheres e a igualdade racial", diz o enunciado. "O Brasil teve 400 anos de escravidão", explica Trajano. "A escravidão não deixou apenas um legado financeiro, mas também emocional. As pessoas não achavam que o país era delas... Foi um legado muito sério da escravidão e da péssima forma como aconteceu a abolição... as pessoas eram jogadas na rua sem comida, sem trabalho, sem casa, sem escola e sem dinheiro". INTERNACIONAL Um dos temas centrais na mídia estrangeira é a nova aliança no parlamento de Israel, que se move em direção a um acordo de coalizão que pode prejudicar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Naftali Bennett, um ultranacionalista, e Yair Lapid, um centrista, chegaram mais perto de formar um governo de coalizão frágil que derrubaria o primeiro-ministro de longa data, Benjamin Netanyahu", destaca o New York Times em manchete de capa. O americano Washington Post é mais direto: Inimigos devem expulsar o primeiro-ministro israelense. O outro tema importante é a espionagem contra Angela Merkel. Manchetes de domingo do Le Monde ao alemão Süddeutsche Zeitung apontam como "líderes da União Europeia como Angela Merkel foram espionados a partir da Dinamarca pela NSA". Relatórios de investigações obtidos pela TV estatal dinamarquesa DR mostram que um acordo com o serviço de espionagem do país manteve o acesso da agência americana aos cabos que passam pela Dinamarcacom telefonemas e mensagens, mesmo depois das denúncias de Edward Snowden em 2013. A manchete é explosiva: O Serviço de Inteligência de Defesa permitiu que os EUA espionassem Angela Merkel, os principais políticos franceses, noruegueses e suecos por meio de cabos de internet dinamarqueses. " |
AS MANCHETES DO DIA |
Folha: Após atos, governo mira Lula, que joga por desgaste Estadão: Projeções econômicas animam novas ofertas de ações na Bolsa O Globo: Orçamento para pesquisa do CNPq é o menor em 20 anos Valor: Risco de blecaute cresce com piora da crise hídrica El País (Brasil): Conrado Hubner : "Bolsonaro transformou agentes públicos em vassalos com disputa pelo STF" BBC Brasil: 5 possíveis consequências dos protestos contra Bolsonaro, segundo analistas UOL: Sargento levou cocaína 7 vezes em aviões da FAB antes de ser preso G1: Brasil registra queda de 11% nos assassinatos no 1º trimestre do ano R7: Receita paga hoje a restituição do 1º lote do IR 2021 Luis Nassif: Trabalho acadêmico acusa MPF de ter alimentado as redes virtuais da ultra-direita Tijolaço: Silêncio da mídia é o grito agônico da '3a. via' Brasil 247: Otto Alencar diz que CPI já tem provas dos crimes de Bolsonaro e garante que ele será responsabilizado DCM: "Hoje, Bolsonaro não seria reeleito", diz líder do Centrão Rede Brasil Atual: Sob liderança de Lira, Câmara encaminha pauta neoliberal de Bolsonaro Brasil de Fato: "Em alto e bom som": imprensa internacional destaca protestos no Brasil Ópera Mundi: Na ONU, Bachelet pede investigação 'independente' sobre mortes por violência na Colômbia Fórum: CPI tem provas de que Bolsonaro se reunia diariamente com "gabinete paralelo", diz Renan Poder 360: 62% da população tiveram emprego ou renda prejudicados na pandemia New York Times: Aliança improvável pode dar a Israel nova liderança Washington Post: Inimigos devem expulsar o primeiro-ministro israelense WSJ: Comprimido para câncer de pulmão da Amgen ganha aprovação Financial Times: Preocupações com criptomoedas pressionam os vigilantes dos EUA a assumir um papel mais ativo The Guardian: Isolamento combustível foi colocado em 70 escolas desde Grenfell The Times: Corrida da segunda dose para maiores de 50 anos para salvar o 21 de junho Le Monde: Como Bercy resolveu "custe o que custar" Libération: Alerta alto dos Alpes da Provence El País: Sánchez planeja reformar já a sedição para reforçar o indulto El Mundo: O PNV usa a debilidade de Sánchez para exigir outro "modelo territorial" Clarín: Só um de cada quatro acredita que as medidas mais duras baixarão os contágios Página 12: Grupo puro Granma: O sufocante cerco em torno de Cuba é uma forma de intervenção Diário de Notícias: "Os políticos portugueses temem um renascimento do interesse por Salazar" Público: Regresso de estrangeiros impulsiona venda de casas e recurso ao crédito The Moscow Times: Bielorrússia julgará cidadão russo detido em vôo desviado Frankfurter Allgemeine Zeitung: Disputa sobre as causas do sucesso dos partidos de direita no Leste Süddeutsche Zeitung: Campanha eleitoral. Sem sucesso sem a Alemanha Oriental Global Times: China relaxa a política de planejamento familiar para permitir que os casais tenham três filhos Diário do Povo: Xi preside reunião de liderança para lidar com o envelhecimento da população |
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