O presidente Jair Bolsonaro sofreu a mais contundente manifestação contra o seu Governo desde o início da pandemia, no último sábado, 29 de maio. Milhares de pessoas foram às ruas nas capitais e em outras dezenas de cidades pelo país para cobrar agilidade na vacinação da população contra a covid-19, o aumento do auxílio emergencial (cujo valor hoje é a metade do pago no ano passado) e reivindicar o impeachment do mandatário, apontado pelos manifestantes como o responsável pelo Brasil acumular mais de 461.000 mortes causadas pelo coronavírus. Reportagem que abre esta edição —assinada por Felipe Betim, Marina Rossi e Naiara Galarraga Gortázar— mostra que a maioria dos manifestantes, em contraste com os atos bolsonaristas, usava máscaras de proteção e demonstrava preocupação com as medidas de segurança para conter o contágio. “Estou na rua porque não temos mais condições de seguir nesse estado, sem nenhum tipo de governo administrando efetivamente”, justificou a agente de saúde Talita Gomes dos Reis, de 36 anos. Entretanto, não foi possível evitar a aglomeração em alguns pontos, como em frente ao MASP, na avenida paulista. Houve registro de violência e repressão policial no Recife, onde ao menos dois homens foram alvejados com balas de borracha nos olhos. Das vozes mais ausentes, ainda que lembradas nas ruas, a principal foi a do ex-presidente Lula, que evitou se alinhar aos protestos. Silêncio também em parte da imprensa brasileira, cuja cobertura gerou críticas. "De que lado da história a imprensa estará? Não existem dois lados quando um lado é a barbárie", analisa a jornalista Cecília Olliveira. A expectativa agora é que o calor das ruas embale a pressão sobre o Governo feita pela CPI da Pandemia no Senado. Enquanto a oposição se articula para não deixar arrefecer a movimentação das ruas, o Planalto viverá outra semana decisiva e desconfortável, com a expectativa pela punição do general três estrelas e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Reportagem de Aiuri Rebello e Flávia Marreiro conta como Bolsonaro pressiona seu ministro da Defesa, o general da reserva Walter Braga Netto, para que Pazuello não seja punido pelo Exército por ter participado de um ato político com ele, o que é proibido pelo regimento das Forças Armadas. O Exército já vinha fazendo vista grossa a respeito de seu próprio arcabouço legal, já que aceitou que um general da ativa seguisse com esse status enquanto ocupava um cargo público. Mas o imbróglio agora faz parte de outra ordem. A avaliação é que o novo ministro da Defesa e o novo comandante do Exército, Paulo Sergio Nogueira, estão sendo testados pelo Planalto. E ainda nesta edição, a escritora canadense Margaret Atwood, autora de O conto de Aia e da trilogia MaddAddam, falou ao EL PAÍS sobre a atualidade distópica que a pandemia impôs à sociedade, em uma conversa descontraída por vídeochamada, de sua casa em Toronto. Questionada se sente-se uma visionária, respondeu com humor: “Oh, não, não acredito que esta pandemia tenha sido intencional. Mas nunca se sabe, a vida sempre nos dá surpresas.” E, para ler com calma, recomendamos uma reportagem do EL PAÍS SEMANAL sobre como a cidade de Nova York —a quintessência do contraste, quando não da contradição— se reinventou com a crise sanitária e, agora, com o avanço da vacinação da população. “As pessoas estão mais solidárias, o sofrimento nos tornou mais empáticos.” | ||||||||||||||
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