quinta-feira, 20 de maio de 2021

Salles investigado por ajudar madeireiras ilegais

 A Polícia Federal amanheceu, ontem, à porta da casa do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em São Paulo, assim como em seus escritórios em Brasília e no Pará. Revirou tudo. A Operação Akuanduba investiga a eliminação da necessidade de documentos que comprovem a origem legal de madeira exportada a partir da Amazônia. Foram, ao todo, 35 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Ele também determinou o afastamento imediato do presidente do Ibama, Eduardo Bim, e de outros nove servidores. Segundo a PF, funcionários do ministério e do Ibama operavam um “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”. O Coaf ainda identificou movimentações suspeitas de dinheiro com trilha que chega ao escritório de advocacia de Salles, que teve os sigilos quebrados. (Globo)

Ao saber da operação, conta o Painel, Salles foi de presto — e acompanhado de um assessor armado — à superintendência da PF em Brasília cobrar explicações sobre a ação. Ouviu que o caso estava sob a responsabilidade do ministro Moraes e corria em segredo de Justiça. (Folha)

Em seguida, o ministro foi ao Palácio do Planalto, onde se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro. Segundo Bela Megale, o ministro da Justiça, Anderson Torres, a quem a PF é subordinada, participou do encontro. (Globo)

Então... A investigação sequer é brasileira. Começou nos EUA, quando o FBI estranhou a chegada de um carregamento de toras. Através do serviço diplomático, questionou o Brasil por que a madeira não estava mais sendo documentada. (Veja)

Entenda como funciona o esquema do qual Salles é acusado. (Estadão)

Pois é... Toda a operação passou ao largo do procurador-geral da República, Augusto Aras. Por ordem do Supremo. Havia medo de que Aras passasse ao Planalto a informação — ele, porém, não gostou nem um pouco. Em nota, a PGR disse que a ação, “em princípio, pode violar o sistema constitucional acusatório.” (UOL)

Para integrantes do próprio governo, conta Gerson Camarotti, a situação de Salles ficou insustentável, inclusive por afetar o discurso anticorrupção que Bolsonaro vende a seus apoiadores. Outro grupo, porém, defende a permanência dele, alegando que a ação é uma retaliação do STF. (G1)

Salles, por sua vez, classificou a operação como “exagerada e desnecessária”. Mas houve quem tenha ficado feliz. O delegado da PF Alexandre Saraiva, afastado da superintendência do Amazonas após acusar o ministro de interferir para beneficiar madeireiros ilegais. No Twitter, Saraiva citou até a Bíblia: “Salmo 96:12: ‘Regozijem-se os campos e tudo o que neles há! Cantem de alegria todas as árvores da floresta’”. (Poder360)

Desde o início do governo o ministro acumula uma coleção de polêmicas. Confira. (CNN Brasil)




O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello tinha um habeas corpus do STF para ficar calado em seu depoimento ontem na CPI da Pandemia, mas não o usou. Em vez disso, mentiu. Muito e sempre para blindar Jair Bolsonaro. Disse que o presidente jamais interferiu nos assuntos do ministério, apesar de sido publicamente desautorizado por ele na tentativa de comprar a CoronaVac em 2020. Para Pazuello, as manifestações públicas de Bolsonaro eram “coisa de internet”. Alegou que a compra de vacinas da Pfizer demorou por pareceres contrários de órgãos como o TCU, apenas para ser desmentido em tempo real pelo tribunal, que enviou mensagem ao relator Renan Calheiros (MDB-AL) negando a informação. “O senhor já mentiu demais. Eu não tenho nem tempo para elencar todas elas”, reclamou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). (El País)

Diante da rotina de mentiras dos últimos depoimentos, Renan anunciou que pretende contratar uma agência de checagem para conferir em tempo real o que é dito à CPI. (Globo)

Checagem, tem. A Aos Fatos encontrou pelo menos nove mentiras ditas pelo ex-ministro. Além de outras imprecisões. (Aos Fatos)

O interrogatório de Pazuello foi interrompido no fim da tarde e será retomado hoje, com 23 senadores inscritos para fazer perguntas. Segundo o senador e médico Otto Alencar (PSD-BA) o ex-ministro teve uma síndrome vasovagal e precisou ser atendido, mas se recuperou. (UOL)

Pazuello depois negou ter passado mal, o que levou Alencar a ironizar: “Até em problema de doença ele nega. Ele negou tanto na CPI que agora decidiu mentir até sobre o seu estado de saúde”. (G1)

Mas no Planalto o depoimento de Pazuello foi comemorado, especialmente por contradizer as alegações de seus antecessores sobre a interferência de Bolsonaro na gestão da Saúde. (Folha)




A campanha eleitoral aproxima ex-adversários e afasta ex-aliados. Lula elogiou ontem a entrevista na qual Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que, num segundo turno entre o petista e Bolsonaro, votaria no primeiro. “Eu faria o mesmo se fosse contrário”, tuitou. Ele também respondeu a seu ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que o chamara de “o maior corruptor da história brasileira”. “Eu adoraria dizer que o Ciro é um amigo. Mas infelizmente ele não quer. Não farei jogo rasteiro”, rebateu Lula. O pedetista reagiu dizendo que o ex-presidente “não quer debater o país” e “reduz a política a uma briga de amigos”. (UOL)





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