Em maio, policiais civis do Rio de Janeiro entraram na favela do Jacarezinho e mataram 27 pessoas, na maior chacina do estado – um policial também morreu na operação. O governo fluminense insiste que todas as vítimas eram criminosos que morreram em conflito com a polícia, mas nós mostramos em vídeo que tinha algo errado nessa narrativa. As casas e vielas da favela pareciam cena de crime bárbaro. Nesta quinta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou dois policiais civis por homicídio doloso e fraude processual na operação. Os dois integram a Coordenadoria de Recursos Especiais, a Core, braço operacional da Polícia Civil, responsável pela ação no Jacarezinho. Esse é um assunto caro para nós. Logo após a chacina, nosso editor-executivo, Leandro Demori, assinou um texto nesta mesma newsletter de sábado revelando, com base em fontes, que há um setor da Polícia Civil conhecido como “facção da Core”. Além do Jacarezinho, o grupo está envolvido no caso João Pedro (menino de 14 anos, morto durante uma operação), na chacina do Salgueiro (oito mortos) e no caso do helicóptero da Maré (oito mortos). A Polícia Civil decidiu abrir inquérito contra Demori. Ainda bem que o Ministério Público decidiu focar no que realmente interessa: investigar quem puxou o gatilho e não quem digitou num teclado. Na época, recebemos uma forte onda de apoio. Muito obrigado a todos que se manifestaram contra esse absurdo. *** Hoje publicamos uma história curiosa – e tensa.
Fábio Souza Lima começou a trabalhar como cobrador de van aos 12 anos. Ele é negro, nascido no interior da Bahia, e foi criado numa favela do Rio de Janeiro. Duas décadas depois, vendeu sua startup à PagSeguro em um contrato milionário. Até aqui seria uma linda história de superação, daquelas que a grande imprensa adora – sobretudo nas editorias de economia e negócios, que sempre jogam confetes no universo startupeiro. Fábio tinha Steve Jobs pintado na parede do escritório. Mas o caldo entornou de um jeito que poucos veículos além do Intercept podem relevar. Fábio foi preso em janeiro deste ano, dividindo uma cela superlotada de São Paulo, após dois anos de conflitos judiciais com a fintech bilionária do UOL, ligado ao Grupo Folha. "Minha vida se transformou num inferno", contou Fábio à repórter Julia Dolce. A guerra entre Fábio e PagSeguro começou por desavenças contratuais que fizeram com que o empresário sonhador ficasse sem grana logo nos primeiros meses da relação com a fintech. Os milhões sumiram. A coisa escalou, e Fábio foi acusado de cometer coação no curso do processo, ou seja, "usar de violência ou grave ameaça com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio" contra uma testemunha de um processo aberto contra ele a partir de uma comunicação da PagSeguro. Foi aí que o empresário acabou em cana. |
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