Zenite Gonzaga Mota, de 71 anos, começou a sentir os sintomas da infecção por covid-19 no início de fevereiro. Após uma semana tratando o quadro leve de casa, foi levada pela filha para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itacoatiara, no Amazonas, a 270 quilômetros da capital Manaus. Dias depois, acabaria virando cobaia de um estudo denunciado como ilegal e financiado por uma rede hospitalar privada para testar a proxalutamida, conta Diogo Magri. No início desta semana, o experimento que registrou o óbito de ao menos outros 200 pacientes, segundo dados da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), foi descrito pela UNESCO como o que poderia ser um dos “mais graves e sérios episódios de infração ética” e “violação dos direitos humanos” de pacientes na história da América Latina. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) quer decifrar os caminhos do coronavírus. Para isso, a entidade anunciou nesta quarta-feira a lista de 26 especialistas selecionados para formar o novo Grupo Científico Assessor sobre a Origem de Novos Patógenos (SAGO, na sigla em inglês), comitê responsável por tentar entender as origens da covid-19. A ideia da OMS é que o grupo, que pode acabar assumindo caráter permanente, se transforme em referência no estudo de doenças infecciosas emergentes. Mas há entraves no caminho: a China —que analisará 200.000 amostras de sangue de antes da pandemia— não deve permitir aos especialistas internacionais o livre acesso a toda a informação científica disponível, conta Oriol Güell. No Chile, a quarta-feira foi de crise em dobro. Primeiro, com um anúncio do presidente Sebastián Piñera, que determinou estado de exceção constitucional em partes das regiões de Araucanía e Biobío “para enfrentar com melhores instrumentos o terrorismo, o narcotráfico e o crime organizado que se enraizou nesses territórios”. A região, palco de um conflito territorial histórico envolvendo o povo originário mapuche, também se tornou um local de disputas violentas e roubos de madeira, relata Rocío Montes. No mesmo dia, Piñera enfrentava outra crise: por conta dos escândalos envolvendo o presidente revelados no Pandora Papers —que incluem a venda de uma mineradora a seu melhor amigo por meio de offshores em paraísos fiscais— todos os partidos da oposição apresentaram no Congresso um documento que pede o impeachment do mandatário. Tudo isso, a semanas das eleições, detalha Federico Rivas Molina. O mundo cobra mais ética e até os velhos Rolling Stones já entenderam o recado, a ponto de abrir mão de uma das músicas mais famosas. Não sem resistência. "Vocês não perceberam que essa música fala dos horrores da escravidão? Estão tentando enterrá-la", respondeu um contrariado Keith Richards ao repórter que perguntou por que eles não tocavam mais a música Brown Sugar, um dos principais hits da banda. Ela sai das listas por conta de suas referências a temas como escravidão, machismo, estupro, violência e uso de drogas. Mas o desapego à canção famosa não tem sido fácil, inclusive entre os membros da banca. Se alguns, como Richards, discordam do politicamente correto, outros, como Mick Jagger, defendem a decisão de tirar o som polêmico do repertório. | |||||
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