quarta-feira, 1 de abril de 2020

Análise de Mídia 01/04

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas de Folha, O Globo e Estadão destacam o recuo e a mudança de tom do presidente Jair Bolsonaro com relação à epidemia. Os jornais apontam o que consideram ser os motivos para a nova postura. O isolamento político é apontado como a principal razão. O Valor Econômico, por sua vez, destaca em sua capa que a pandemia está impondo a investidores as maiores perdas já registadas na história. Os noticiários mostram, basicamente, como o país está desarrumado diante da falta de ação do governo e que, mesmo com a aprovação da assistência de R$ 600,00, ainda há problemas para que o dinheiro chegue à população. No momento, o poder Executivo não trabalha para resolver a questão junto ao Legislativo, ao contrário, o governo faz o que já vinha fazendo: alonga os problemas. Novas medidas vão sendo projetadas, quase nada parte do governo federal.
A Folha informa que o setor do Varejo passou a pressionar o governo em função do aumento dos juros cobrados pelos bancos. O jornal O Globo indica que os principais ministros do governo, inclusive os da ala militar se uniram para apoiar o ministro da Saúde. No Valor Econômico, as três primeiras manchetes do jornal mostram como o governo federal é atrasado com relação às medidas para combater a epidemia. Além disso, o jornal publica entrevista com Aloysio Mercadante e ainda ouve as opiniões de líderes de movimentos sociais de esquerda sobre o que vem fazendo o governo Bolsonaro. Momentaneamente, os pareceres dos economistas saíram do noticiário.
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Bolsonaro muda o tom, fala em pacto e desafio de geração”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”R$ 600 com urgência”*: Além de ambicioso, é no geral bem desenhado o programa emergencial de atendimento a famílias de baixa renda recém-aprovado pelo Congresso, cuja sanção já foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro. O principal desafio, contudo, reside em executar o plano a tempo. O texto acerta ao focalizar os beneficiários —maiores de 18 anos, sem emprego formal ativo (incluindo intermitentes parados), que exerçam atividade de microempreendedor individual, autônomo ou assalariado sem carteira assinada inscrito no cadastro que serve de base para os programas sociais. Ficam de fora os já atendidos pelas políticas assistenciais, com exceção do Bolsa Família, aqueles com renda familiar superior a três salários mínimos (ou meio salário mínimo per capita) e os que receberam rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018 (e, portanto, tiveram de preencher declaração de Imposto de Renda). Esta última condição é a única claramente questionável, uma vez que pode excluir pessoas que tenham perdido renda desde o ano retrasado. Parlamentares já se mobilizam para alterar esse trecho. Estima-se que, assim, mais de 30 milhões de brasileiros façam jus a pagamentos mensais de R$ 600 ao longo de três meses. Mães de família monoparentais receberão R$ 1.200; até duas pessoas por família podem se qualificar ao auxílio; clientes do Bolsa Família podem migrar para o novo benefício.
Trata-se, na prática, de mais que duplicar o alcance do Bolsa Família, que hoje atende a cerca de 13 milhões, além de elevar valores. Nos cálculos da Instituição Fiscal Independente, vinculada ao Senado Federal, os desembolsos chegarão à casa dos R$ 60 bilhões. A despesa mostra-se plenamente justificável diante da perspectiva de queda brutal da atividade econômica nas próximas semanas ou meses de combate ao coronavírus. Se há problemas formais para a liberação dos recursos, que sejam removidos. A grande dificuldade, porém, estará em fazer o dinheiro chegar a todos os necessitados. Conhecem-se hoje os beneficiários do Bolsa Família e um número semelhante de outros inscritos no cadastro oficial. São identificáveis também os microempreendedores individuais e os autônomos que contribuem para a Previdência. Muito mais complexo será encontrar os novos pobres e trabalhadores informais não cadastrados. Estes, até onde se sabe, terão de fazer autodeclarações em uma página oficial na internet ainda em desenvolvimento. A via é sem dúvida precária, mas não parece simples imaginar alternativas. O Executivo, que andou a reboque do Congresso nessa medida essencial, precisa agora mostrar capacidade de articulação. O Brasil felizmente dispõe de um aparato de proteção social espalhado por todo o seu território. Urge mobilizar todos os meios disponíveis.
PAINEL - *”Líder dos caminhoneiros diz que categoria deve parar se governadores não recuarem”*: Um dos líderes da paralisação de 2018, Wallace Landim, conhecido como Chorão, afirma que os caminhoneiros devem parar se os governadores não recuarem nas medidas restritivas contra o novo coronavírus. Ele não estimulou os atos do dia 15 de março, chamados contra o Congresso e o STF, dos quais participou o presidente Jair Bolsonaro. A falta de postos de gasolina e de restaurantes abertos na beira de estrada está entre as principais queixas da categoria. O principal alvo do setor é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). "Se não voltarem atrás e não sair liminar na Justiça, a categoria provavelmente vai parar. Vai paralisar naturalmente, por não ter como trabalhar, e parar em protesto", diz. Ele acusa o tucano de querer lucrar em eleições futuras. A associação entrou com ação na Justiça contra a quarentena. A flexibilização do isolamento social tem sido defendida por Bolsonaro. A relação com o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), por outro lado, é descrita como boa. Landim diz que conversam diariamente, quando passa um panorama dos ânimos da categoria ao ministro. "Temos uma linha muito direta com o ministro, levando demandas da categoria e dando sugestões. Neste momento, o governo tem dado o suporte de que a gente precisa. O problema está com os governadores.", diz Landim. O líder dos motoristas é protagonista em cerca de 850 grupos de WhatsApp, o aplicativo por meio do qual a categoria se agitou em 2018. A secretários estaduais, traumatizados com o fervilhar do setor, Freitas tem dito que monitora cerca de 14 mil caminhoneiros em grupos de WhatsApp. Em aceno à categoria, o presidente Bolsonaro citou os caminhoneiros duas vezes em seu pronunciamento desta terça-feira (31).
PAINEL - *”Alvo de críticas, início de pagamento de R$ 600 em 16 de abril é considerado ambicioso no governo”*: Criticado, o prazo fixado pelo governo, de 16 de abril, para liberar os R$ 600 a informais, está sendo considerado ambicioso no Ministério da Cidadania. É quando começam os pagamentos mensais do Bolsa Família, com o cadastro que já roda hoje com 13 milhões de famílias beneficiadas. A liberação da ajuda, ainda não sancionada por Bolsonaro, depende de burocracias. Técnicos debatem com municípios como funcionará a inscrição de nomes no cadastro de beneficiários. Está em construção uma plataforma para o envio de dados. A ideia proposta ao governo é manter a plataforma aberta para inclusões durante a pandemia.
PAINEL - *”Sem novos anúncios, Guedes volta a dar entrevista em Brasília”*: Agora em Brasília, o ministro Paulo Guedes (Economia) voltou para as entrevistas nesta terça (31), mas sem apresentar nenhuma nova ação da pasta. Governadores dizem que o governo está jogando. Reclama que as medidas restritivas prejudicam trabalhadores, mas tem poucas ações para ajudá-los.
PAINEL - *”Bolsonaro troca Ceilândia por Sobradinho em vídeo apagado por rede social”*
PAINEL - *”Celebração de golpe militar por Mourão foi lida como aceno a conservadores”*: Em meio à turbulência política, a manifestação do vice-presidente, Hamilton Mourão, foi lida por políticos como um aceno para conservadores de que ele também continua sendo parte da direita brasileira. Ele comemorou o dia 31 de março dizendo que os militares intervieram "para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população".
*”Em novo pronunciamento, Bolsonaro fala em pacto contra pandemia e volta a equiparar vidas e empregos”* - Em seu quarto pronunciamento sobre a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mudou o tom de seu discurso e pediu um pacto nacional para o enfrentamento à pandemia. Depois de criticar em sua última aparição em TV gestores locais pelas medidas de isolamento social, além de culpar a mídia por espalhar pânico na população, ele pregou nesta terça-feira (31) a junção de esforços. “Agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos: Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade”, declarou. Se em outras ocasiões comparou a doença a uma gripezinha e a um resfriadinho, Bolsonaro desta vez disse que o país enfrenta um grande inimigo. "Estamos diante do maior desafio da nossa geração. Minha preocupação sempre foi salvar vidas."
Isolado dentro e fora do governo, o presidente falou por sete minutos e 32 segundos, enquanto se ouviam panelaços em diversas cidades do país contra seu discurso.Ele voltou a usar declarações do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, para sustentar tese que equipara o salvamento de vidas ao de empregos. O presidente citou trechos de entrevista do chefe da entidade na véspera, na qual enfatizava que os governos devem ter preocupação com os mais pobres durante a pandemia. Ghebreyesus reiterou a importância do confinamento para a prevenção do coronavírus e disse que os países que adotarem quarentena como uma das formas de conter a disseminação do devem respeitar a dignidade e o bem-estar dos cidadãos. Bolsonaro tem defendido o isolamento apenas parcial da população, dos grupos com maior risco de contaminação, de forma que parte dos trabalhadores possam sair. Para especialistas e o próprio Ministério da Saúde, a estratégia é ineficaz. “Temos uma missão: salvar vidas sem deixar para trás os empregos. Por um lado, temos de ter cautela e precaução com todos, principalmente junto aos mais idosos e portadores de doenças preexistentes. Temos de combater o desemprego, que cresce rapidamente, em especial entre os mais pobres. Vamos cumprir essa missão, ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde das pessoas”, afirmou Bolsonaro nesta terça. No pronunciamento anterior, o presidente foi explícito na defesa do chamado isolamento vertical, restrito a idosos e pessoas com doenças preexistentes. Nesta terça, ateve-se a expor as razões segundo as quais vem batendo nessa tecla.
Alegou ser necessário “evitar ao máximo qualquer perda de vidas humanas", mas que, "ao mesmo tempo, deve-se evitar a “destruição de empregos, que já vem trazendo muito sofrimento para os trabalhadores brasileiros". Conforme mostrou a Folha, as novas declarações ocorrem após ministros do governo, como Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia), defenderem as medidas propostas pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que divergem das de Bolsonaro. “Não me valho destas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nas mais vulneráveis . Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio: o que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos com quem venho mantendo contato durante toda a minha vida pública?”, questionou. As falas se deram no mesmo dia em que o governo anunciou que o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil subiu para 201. O registro de 42 óbitos em apenas um dia é o maior até agora. O pronunciamento também coincidiu com o aniversário do golpe de 1964, que instaurou a ditadura militar no Brasil, apoiada por Bolsonaro, mas ele não o mencionou.​
O presidente dedicou boa parte do discurso a elencar as iniciativas de enfrentamento à Covid-19. Disse que a Saúde está providenciando leitos com respiradores e a compra de testes para o novo coronavírus. Destacou ainda que, em acordo com a indústria, o reajuste no preço de medicamentos será suspenso por 60 dias. Na área econômica, citou o benefício de R$ 600 a ser pago aos trabalhadores informais, a ampliação do número de beneficiários do Bolsa Família e a criação de linhas de crédito para as empresas. Bolsonaro reconheceu que ainda não há remédio para o coronavírus, "apesar de a hidroxicloroquina parecer bastante eficaz". Ele afirmou também que os laboratórios militares produzirão, em 12 dias, 1 milhão de comprimidos dessa substância, além de álcool em gel. ​O presidente justificou a ênfase que tem dado no aspecto econômico da Covid-19 alegando que precisa pensar "além dos próximos meses". "O efeito colateral de medidas de combate ao coronavírus não pode ser pior do que a própria doença. A minha obrigação como presidente vai para além dos próximos meses: preparar o Brasil para sua retomada, reorganizar nossa economia e mobilizar todos os nossos recursos e energia para tornar o Brasil ainda mais forte após a pandemia", argumentou. “O coronavírus veio e um dia vai embora. Infelizmente teremos perdas nesse caminho.”
*”Bolsonaro é alvo do 15º panelaço seguido, em meio a novo pronunciamento na TV”* - Pelo 15º dia seguido, o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de panelaços em capitais pelo país, desta vez durante seu pronunciamento em rede nacional de TV, na noite desta terça-feira (31). Os protestos em janelas de apartamentos aconteceram em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Panelaços já eram registrados no centro de São Paulo desde antes do pronunciamento. Quando a fala do presidente começou, houve protestos nos bairros de Aclimação, Bela Vista, Consolação, na região central, São Judas, na zona sul, Santana, na zona norte, Tatuapé, na zona leste, e Perdizes e Jardins, na zona oeste.​ Em Pinheiros, também na zona oeste da capital, houve sirenes, além dos gritos e do som de panelas. No Rio de Janeiro, houve panelaço no Leblon e em Ipanema, na zona sul. Nas Laranjeiras, também houve gritos esparsos de apoio a Bolsonaro. Também houve protestos em Ribeirão Preto (SP), Belo Horizonte, Salvador, Curitiba e Recife. Os panelaços foram mais fortes do que os dos últimos dias. Houve gritos de "fora", de "fascista" e de "genocida". Algumas pessoas respondia, de forma mais fraca, "mito". Os panelaços contra o presidente começaram no último dia 17 e coincidem com o início da fase mais aguda das medidas de quarentena pelo país contra o novo coronavírus. O presidente tem adotado um tom de minimizar os riscos da Covid-19, que já matou mais de 200 pessoas pelo país, e se referiu à doença como "gripezinha", "resfriadinho" e "neurose".
Ele defende a reabertura das atividades comerciais e escolas pelo país, posição sobre a qual tem entrado em conflito com governadores. Pesquisa do Datafolha, feita entre os dias 18 e 20, mostrou apoio majoritário às medidas de restrição pelo Brasil. Os protestos desse tipo se tornaram uma marca da queda da popularidade de Bolsonaro por ocorrerem em bairros de classe média e alta nos quais ele foi bem votado nas eleições de 2018. Em 2015, os panelaços tinham sido um símbolo da insatisfação com a então presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment no ano seguinte.
ANÁLISE - *”Bolsonaro ponderado que recuou na TV pode ter chegado tarde à crise”*
*”Bolsonaro se refere a aniversário do golpe de 64 como 'dia da liberdade'”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se referiu ao aniversário do golpe militar de 1964, nesta terça-feira (31), como "o dia da liberdade". Ao sair do Palácio da Alvorada, o presidente parou para conversar com apoiadores. Questionado por um simpatizante sobre o 31 de março, o presidente respondeu: "Hoje é o dia da liberdade". Capitão reformado do exército, Bolsonaro é um defensor da ditadura militar que vigorou no Brasil de 1964 e 1985. O golpe inaugurou uma ditadura que durou 21 anos, período em que o país teve cinco presidentes militares. Em seu momento de maior repressão política, o regime fechou o Congresso Nacional e as assembleias estaduais. Relatório final da Comissão Nacional da Verdade, apresentado em 2014, afirmou que 423 pessoas foram mortas ou desapareceram no período que vai de 1964 a 1985. Segundo a comissão, os crimes foram resultado de uma política de Estado, com diretrizes definidas pelos presidentes militares e seus ministros. Bolsonaro não foi a única autoridade a defender o regime de exceção nesta terça-feira. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, publicou uma homenagem em sua conta no Twitter. "Há 56 anos, as forças armadas intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população. Com a eleição [indireta] do general Castello Branco [o primeiro presidente da ditadura], iniciaram-se as reformas que desenvolveram o Brasil", escreveu o vice-presidente. Além das manifestações do presidente e de seu vice, o Ministério da Defesa publicou, na noite de segunda (30), uma nota alusiva à data. O texto chama a tomada de poder pelos militares de "marco para a democracia brasileira". O informe, conhecido como ordem do dia, também diz que, à época, "a sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças daquele momento, se aliaram e reagiram".
O ministério se refere às supostas ameaças como "ingredientes utópicos" que "embalavam sonhos com promessas de igualdades fáceis e liberdades mágicas". "O movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira. Muito mais pelo que evitou", conclui o documento. Em nota, o Instituto Vladimir Herzog repudiou o posicionamento do governo. "Tal conduta não pode passar desapercebida e, por isso, nos somaremos a outras entidades para denunciar mais esta afronta à democracia a instâncias nacionais e internacionais, na expectativa de que medidas cabíveis sejam tomadas", diz a nota sobre os posicionamento do vice-presidente e do Ministério da Defesa. O instituto, que leva o nome de um jornalista torturado e assassinado durante a Ditadura Militar, afirmou que ainda hoje "convivemos com o legado autoritário dos anos de chumbo". "Marco para a democracia e desenvolvimento para o Brasil será o dia em que o Poder Judiciário —atento ao fato de que a República Federativa do Brasil se constitui em um Estado Democrático de Direito e tem como fundamento a dignidade da pessoa humana— processar e, se demonstrada a responsabilidade, punir os muitos torturadores já identificados do período", afirma a nota.
*”AGU rebate passeio e afirma que Bolsonaro tem direito de ir e vir”* - A AGU (Advocacia-Geral da União) disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não estimulou a população a descumprir o isolamento social ao passear pelas ruas de Brasília no domingo (29), quando defendeu a volta ao trabalho. O posicionamento foi feito nesta terça-feira (31) em resposta ao pedido do Ministério Público Federal à Justiça Federal de Duque de Caxias (RJ). Os procuradores querem uma multa de R$ 100 mil por entender que o presidente estimulou as pessoas a retornarem ao trabalho no domingo. A defesa do presidente alegou direito de ir e vir para justificar a atitude de Bolsonaro, que rompeu o isolamento social e passeou por bairros de Brasília, além de Taguatinga e Ceilândia, no Distrito Federal. "Sobre a caminhada do presidente da República, esta não configurou descumprimento da decisão liminar proferida por este juízo federal. Eventual entendimento no sentido contrário, representaria limitação ao direito de ir e vir do chefe do Poder Executivo em contrariedade com a Constituição Federal", diz o documento. A petição, assinada pelos advogados da União Carlos Eduardo Possidente Gomes e João Paulo Lawall Valle, diz que as recomendações do Ministério da Saúde sobre isolamento social estão mantidas e que o governo segue em alinhamento com a pasta e com "as evidências técnicas-científicas existentes". A orientação da pasta foi contestada por Bolsonaro no domingo na porta do Palácio da Alvorada logo após o passeio pelo Distrito Federal. "Alguns querem que eu me cale. 'Ah, siga os protocolos’, quantas vezes o médico não segue o protocolo? Por que que ele não segue? Porque têm que tomar decisão naquele momento", disse o presidente. O posicionamento da AGU ignora as defesas públicas que Bolsonaro tem feito contra as medidas restritivas.
Na sexta-feira (27), o juiz Márcio Santoro Rocha suspendeu um decreto de Bolsonaro que definia como serviços essenciais casas lotéricas e templos religiosos. Na decisão, Rocha argumentou que a medida estimulava a aglomeração e a circulação de pessoas, ampliando os riscos de propagação da Covid-19. O juiz ordenou então que a União se abstivesse de editar novos decretos que tratem de atividades e serviços essenciais sob pena de multa de R$ 100 mil. Na segunda-feira (30), após o passeio de Bolsonaro, a Procuradoria pediu a aplicação da multa alegando que a ação colocou em risco a população. O MPF também disse que a fala do presidente que cogitou a criação de um decreto para permitir que todos os profissionais voltem ao trabalho sinalizou a intenção de descumprir a decisão judicial que o proibia de editar novos permissões. Os procuradores do Rio, então, pediram que a União fosse imediatamente multada em R$ 100 mil e que a Justiça ampliasse para R$ 500 mil o valor de eventuais multas futuras caso o governo volte a violar a decisão judicial. Sobre a multa, a AGU alegou que o pedido de multa é inócuo porque "não houve descumprimento da decisão judicial" e que uma eventual punição retiraria "vultosa quantia de dinheiro do erário federal que pode ser aplicado no combate à pandemia."
*”Isolado, Bolsonaro chora e busca apoio entre militares contra crise”* - Isolado politicamente, o presidente Jair Bolsonaro tem dado demonstrações de fragilidade emocional na condução da crise do coronavírus e buscado refúgio no setor militar para tentar retomar o controle do governo. Em pelo menos uma ocasião recente, ele chorou ante interlocutores no Palácio do Planalto que não faziam parte de seu círculo mais íntimo. Reclamou que sofre críticas incessantes e aponta adversários externos, com especial predileção pelos governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ). Bolsonaro e os chefes estaduais têm medido forças, com o presidente defendendo medidas de isolamento parcial para grupos vulneráveis à Covid-19, enquanto os outros adotam as recomendações de quarentena da OMS. O presidente está sem suporte interno unânime. Ministros do governo, a começar por Luiz Henrique Mandetta (Saúde), mas também o popular Sergio Moro (Justiça), defendem o isolamento social. Paulo Guedes (Economia) falou que preferia ficar em casa “como cidadão”. Com isso, Bolsonaro se voltou para o seu meio de origem, o militar, cuja ala no governo havia sido reforçada no começo do ano após ter sido escanteada pelo chamado núcleo ideológico centrado nos filhos do presidente. Devolveu protagonismo ao chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, numa tentativa de unificar o discurso sobre a crise. O fez sob olhares desconfiados, dado que usualmente a palavra final é dele e dos filhos. O resultado, de todo modo, foi desastroso do ponto de vista público. Em entrevista coletiva na segunda (30), Braga Netto comportou-se como um tutor de Mandetta e ainda especulou sua demissão. Líderes no Congresso, a começar pelas cúpulas das duas Casas, ficaram horrorizados com a cena —reação que conta com alguma solidariedade partidária, já que Mandetta foi deputado do DEM de Rodrigo Maia (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado).
Em trocas de ligações e mensagens durante a manhã desta terça (31), políticos se mostravam intrigados com o simbolismo da ação de Braga Netto. Isso porque, também na véspera, havia chamado a atenção uma postagem no Twitter do ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas. Nela, o homem a quem Bolsonaro uma vez disse dever a eleição em 2018 defendeu sua “postura de coragem” na crise, justamente quando o presidente estava sob uma saraivada de críticas por ter ido ao comércio popular do entorno de Brasília no domingo. Ainda na segunda, o Ministério da Defesa divulgou ordem do dia acerca dos 56 anos do golpe de 1964, chamando o movimento militar de “marco para a democracia”. O ministro da pasta, general Fernando Azevedo, é considerado um moderado negociador. Hoje, é o ponto de ligação entre a ativa sob seu comando, a ala militar na qual tem em Braga Netto um ex-subordinado e o Judiciário, no qual atuou ao lado do presidente do Supremo, Dias Toffoli. Na manhã deste 31 de março, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, também enalteceu o golpe no Twitter, ainda que deixando uma hashtag dizendo que ele pertencia “à história”. O vice já havia se diferenciado do presidente ao defender o isolamento social. Líderes partidários se perguntaram se havia alguma conexão entre os eventos envolvendo os fardados.
O que é possível dizer a esta altura é que há preocupação com o risco de instabilidade social devido aos impactos econômicos da pandemia, além daquilo que já era identificado como o perigo de os militares serem usados na disputa entre o presidente e os estados. Associado a tudo isso, existe o temor de que a beligerância de Bolsonaro leve a crise a outro patamar, já que ele não conta mais nem com apoio no Congresso, nem com a boa vontade do Supremo desde que apoiou ato pedindo o fechamento das instituições. Isso o diferencia, por exemplo, do premiê húngaro, Viktor Orbán, que ganhou poderes ditatoriais em meio à emergência sanitária. Os militares têm sua imagem associada à do presidente e à sua ascensão ao poder. Como ele é considerado incontrolável, orientado pelo núcleo familiar, restaria uma contenção de danos para a própria classe. Um general muito próximo de Villas Bôas ressalta outro aspecto. Apesar de muito respeitado e influente, o ex-comandante não representa mais a ativa e tem papel simbólico na ala militar empregada pelo governo. Quando falou, o atual comandante do Exército, Edson Leal Pujol, asseverou a gravidade do problema, no momento em que Bolsonaro só chamava a Covid-19 de "gripezinha". Logo, sua fala pode apenas ser mais um registro de lealdade em momento difícil, cuja erosão da estabilidade emocional é tema de conversas no meio militar, além de externar a preocupação conhecida com radicalização nas ruas.
Em relação a 1964, militares ouvidos foram unânimes em destacar mais a parte benigna da ordem do dia, que insiste na submissão constitucional das Forças. Já alguns políticos viram um recado acerca da prontidão dos militares caso a situação desande. Um presidente de partido centrista brincou nervosamente que nem seria preciso um golpe, de resto uma virtual impossibilidade, bastaria ver Bolsonaro afastado para os militares de fato voltarem ao poder. Para um político com trânsito intenso entre os fardados, é preciso olhar para a história. Está no DNA militar brasileiro a ideia de tutela sobre o poder civil, vide a sucessão de intervenções e golpes. A erosão da credibilidade dos Poderes após a redemocratização, período no qual os militares ficaram quase sob mordaça pública, culminou com a eleição de um capitão reformado do Exército. A liberação de energias seria inevitável, sustenta o político, porque ao longo dos anos o oficialato sempre viu sua versão para 1964 sub-representada após deixarem o poder em 1985. Quando Azevedo assumiu, ele combinou com os comandantes que tudo o que dissesse respeito à ativa para público externo seria de sua responsabilidade, cabendo aos outros controlar as demandas internas. Assinar a nota, subscrita pelas três Forças, é um modo de fazer isso e ainda prestar contas ao generalato. O risco maior, crê esse político, é a volta da ideia de tutela, e qual seria o papel de Bolsonaro no arranjo.
*”Ex-ministro vira contraponto de Mandetta e referência de bolsonaristas na pandemia”* - Se o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), endossa as medidas de isolamento social recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) contra o coronavírus e se opõe ao chefe, Jair Bolsonaro (sem partido), a rede de parlamentares e influenciadores que serve de base ao presidente encontrou outra opinião para se ancorar, a do ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Pelo Twitter e em grupos de WhatsApp, se espalham vídeos e áudios do ex-ministro, que esteve à frente da pasta da Cidadania até fevereiro. Mesmo demitido, ele manteve influência sobre o presidente na atual crise. Terra, que é médico como Mandetta, diz que apenas idosos e grupos de risco devem ser isolados —o restante da população deveria voltar a trabalhar imediatamente. É a opinião externada por Bolsonaro e contrariada não só pela OMS e por especialistas em pandemia, mas pela maioria dos líderes mundiais, inclusive o presidente americano, Donald Trump. Itália e Reino Unido, antes favoráveis a esse isolamento menos restrito, voltaram atrás diante do avanço dos casos da doença. Terra tem apresentado como credenciais o fato de ter sido secretário de Saúde do Rio Grande do Sul durante a pandemia do H1N1, em 2009. Diz que o coronavírus vai matar no máximo 2.000 pessoas no Brasil, estimativa menor que a de muitos analistas.
Para ele, o isolamento social não reduz as mortes, e o achatamento da curva de contaminação é uma teoria que não existe na prática. “Medidas como suspensão de aulas e quarentena total são só de cunho político, não tem evidência científica”, tuitou. Em áudio que circulou por grupos bolsonaristas na semana passada, Terra diz que "não se orienta a população disseminando pânico". "O isolamento social não resolve nada. Já está disseminado o vírus. Todas as epidemias duram em torno de 13 semanas”, afirmou. O ex-ministro diz ainda que a quarentena irá destruir a economia, o que impactará a arrecadação e, consequentemente, o financiamento do SUS. “Muita gente vai poder morrer por falta de recurso público”, afirma. Foi suficiente para ser exaltado e compartilhado nas redes bolsonaristas, que criaram a hashtag #OsmarTerraTemRazão. Logo antes da pandemia, publicações de Terra no Twitter sobre assuntos diversos alcançaram até 4.500 curtidas, enquanto suas considerações sobre o vírus chegam a bater de 20 mil a 30 mil. No Facebook e no Instagram, o ex-ministro vive o pico de aumento dos seus seguidores em um ano —de 22 mil a 25 mil e de 9 mil a 15 mil, respectivamente. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi um dos que ampliaram a voz de Terra. “Recessão pode ser mais prejudicial do que o coronavírus em si”, escreveu. O ex-ministro também foi compartilhado por veículos bolsonaristas como o Terça Livre.
"Até agora foi a posição de um médico mais sensata que ouvi", disse o deputado estadual Frederico D'Avila (PSL-SP) sobre o áudio. Ao mesmo tempo, o ex-ministro passou a receber críticas nas redes e ganhou o apelido de “Osmar Terra Plana”. Foi também alvo da produção de fake news —teve um vídeo divulgado como se fosse uma fala do cardiologista Adib Jatene, morto em 2014. Ao ser escolhido como autoridade científica preferida do bolsonarismo, Terra passou a ser visto como potencial substituto de Mandetta, que se equilibra entre defender o isolamento e fazer concessões ao discurso de Bolsonaro enquanto é exposto à fritura pública pelo presidente. O ex-ministro, contudo, evita endossar esse confronto. Diz que suas opiniões não estão baseadas em interesse pela cadeira e que essa suposição serve para desqualificá-lo. Em debate no UOL nesta terça-feira (31), Terra fez elogios a Mandetta e afirmou que o ministro é qualificado, mas que discorda dele em relação à quarentena. Procurado pela Folha, Terra não quis se manifestar. O deputado federal bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS) diz que Terra tem apresentado argumentos técnicos no atual debate sobre o combate ao coronavírus. "Eu acho que se o Mandetta está lá no ministério, deixa ele continuar. Mas se por acaso amanhã ele sair, coisa que eu não estou defendendo, a opção número um para mim é o Terra. Ele se saiu muito bem do governo, foi muito leal", afirma Nunes. Mesmo entre apoiadores de Bolsonaro há ressalvas, no entanto. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), evita tomar um lado na discussão entre o isolamento proposto por Mandetta e o rechaço da quarentena, defendido por Terra. Segundo ele, é perigoso e prematuro tecer conclusões agora. “A imprensa quer dizer que um está contrapondo o outro, não é isso. Todos estão buscando o objetivo de preservar vidas e empregos. A questão é a forma de fazer isso”, afirma. A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), muito atuante nas redes sociais, diz que tem evitado compartilhar as falas de Terra. “Apesar de ser uma opinião importante, como está em dissonância com o que o Ministério da Saúde está falando, eu, como base governista, prefiro seguir as orientações do ministro Mandetta."
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*”Cinco documentários políticos para ver sem sair de casa no Dia da Mentira”* - Para ajudar a combater a desinformação e as fakes news, nesta quarta-feira (1º) —o Dia da Mentira—, o diretor do festival É Tudo Verdade, Amir Labaki, faz uma seleção de documentários políticos. Todos podem ser vistos de casa, cumprindo a quarentena necessária para barrar a disseminação do novo coronavírus. Labaki é o fundador do festival, que completa 25 anos em 2020. O evento estava marcado para começar na semana passada em São Paulo e nesta terça (31) no Rio, mas as exibições nos cinemas foram adiadas para setembro por causa da pandemia. Há uma versão digital da programação que pode ser vista em www.etudoverdade.com.br. A pedido da Folha, Labaki fez uma seleção de outras obras disponíveis na internet.
CINCO DOCUMENTÁRIOS POLÍTICOS, POR AMIR LABAKI
Jango (Idem. Brasil, 1984. Direção: Silvio Tendler)
Feito ainda durante o processo de abertura durante o último governo da ditadura militar iniciada em 1964, Sílvio Tendler reconstitui a vida e a trajetória política de João Goulart (1919-1976), o líder trabalhista apeado da Presidência da República pelo golpe de Estado. Articulados a partir da narração lida por José Wilker, materiais de arquivo até então desconhecidos e entrevistas exclusivas com protagonistas como Celso Furtado, Leonel Brizola e o general Antonio Carlos Muricy radiografam a ascensão do herdeiro político de Getúlio Vargas, sua conturbada chegada ao poder a partir da renúncia de Jânio Quadros e a radicalização social durante seu breve governo. Um dos clássicos incontornáveis do documentário brasileiro, uma razão extra para assisti-lo ou revê-lo é a dupla efeméride dos 70 anos de idade e de 50 anos de cinema de Tendler.
Disponível no canal Caliban, no YouTube
1930 – Tempo de Revolução (Idem. Brasil, 1990. Direção: Eduardo Escorel)
O primeiro filme da série dedicada por um dos principais realizadores nacionais à era Vargas. Especialistas como Antonio Candido, Boris Fausto, Edgar De Decca e Paulo Sérgio Pinheiro guiam-nos, alternando-se com a narração lida por Edwin Luisi, pelo colapso dos conchavos e restrições antidemocráticas da República Velha (1889-1930) e pela vitória do movimento militar liderado pelo político gaúcho Getúlio Vargas e por líderes do tenentismo que pôs fim ao antigo sistema. A estrutura formalmente didática, escorada por materiais de arquivo, se tornaria mais complexa com os novos capítulos, dedicados ao levante constitucionalista de 1932, à revolta comunista de 1935 e ao Estado Novo.
Disponível no YouTube
Assaltar os Céus (Asaltar los Cielos. Espanha, 1996. Direção: José Luis López-Linares e Javier Rioyo)
Um thriller documental sobre o assassinato do líder socialista Leon Trótski em abril de 1940, em seu exílio na Cidade do México, por um sicário espanhol enviado pelo ditador soviético Josef Stálin. Ramón Mercader era o nome do assassino, e seus passos são reconstituídos de maneira pioneira e minuciosa, da Europa à URSS e ao México, até seus últimos dias sob nova identidade em Cuba. Entre os entrevistados, sua filha adotiva, Laura Mercader, e a escritora mexicana Elena Poniatowska. O filme foi a maior inspiração para a narrativa romanceada do mesmo episódio pelo escritor cubano Leonardo Padura em “O Homem que Amava os Cachorros”, lançado em 2009 (Boitempo).
Disponível no canal Christiebook, no YouTube
Nosso Nixon (Our Nixon. EUA, 2013. Direção: Penny Lane)
Uma radiografia do período presidencial de Richard Nixon nos EUA (1969-1974), a partir principalmente de “home movies” rodados em super-8 por seus assessores durante os anos na Casa Branca e até então inéditos. Complementados por gravações orais, filmes e fotos de arquivo, devassam as idiossincrasias e abusos de poder do presidente que foi levado à renúncia pelo caso Watergate. Entre sorrisos e esgares, Nixon surge por inteiro: paranóico e autoritário, inescrupuloso e calculista, visionário e desastrado.
Disponível no Globoplay
Bobby Kennedy para Presidente (Bobby Kennedy for President. EUA, 2018. Direção: Dawn Porter)
No cinquentenário do assassinato do ex-senador democrata Robert Kennedy (1925-1968), Porter relembra uma das mais extraordinárias metamorfoses políticas da história dos EUA. Bobby surgiu na cena pública americana como um dos assistentes do nefasto senador republicano Joseph McCarthy (1908-1957), responsável por um demagógica caça às bruxas contra a pretensa infiltração comunista nos EUA da aurora da Guerra Fria no início dos anos 1950. Tornou-se a seguir o principal coordenador da campanha eleitoral que levaria em 1960 seu irmão John Fitzgerald Kennedy à Casa Branca, acompanhando-o no poder como secretário de Justiça. Após o trauma do assassinato do irmão em 1963, Bobby elegeu-se em 1965 ao Senado pelo Estado de Nova York como um dos mais inspiradores e eficazes defensores dos direitos humanos e da legislação de proteção social. Como grande líder progressista, tornara-se o favorito à candidatura do Partido Democrático às eleições presidenciais de 1968 quando foi também assassinado num hotel de Los Angeles, em junho daquele ano. O irresistível material de arquivo quase se eclipsa frente ao frescor dos depoimentos de seus contemporâneos, como o deputado John Lewis e o cantor, ator e ativista Harry Belafonte.
Disponível na Netflix
*”Trump evitar comentar posição de Bolsonaro, mas diz que considera proibir voos do Brasil aos EUA”*
*”Maia rebate Guedes sobre auxílio de R$ 600 e acusa governo de mentir em ação ao STF”* - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu as acusações do ministro Paulo Guedes (Economia) de que o auxílio de R$ 600 ainda precisaria de aval do Legislativo e acusou o governo de mentir na ação que impetrou junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). Em coletiva nesta terça (31), o ministro da Economia cobrou medidas da Câmara e afirmou que a efetivação dos pagamentos dependia da aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) pelo Legislativo. “Eu acho importante porque, se o ministro Paulo Guedes falou hoje, se ele estiver certo hoje, o governo mentiu na ação que impetrou no Supremo Tribunal Federal com o ministro Alexandre de Moraes”, afirmou Maia em sessão na Câmara. O deputado passou a ler a argumentação que o governo fez ao impetrar a ação junto ao STF e na qual pedia a flexibilização das regras fiscais para enfrentar a pandemia. Moraes atendeu a um pedido da AGU (Advocacia-Geral da União), que afirmava que as exigências estabelecidas pela LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e pela LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) poderia prejudicar, neste momento, a garantia do direito à saúde.
O ministro do STF, então, autorizou o Executivo a criar despesas para enfrentar a doença sem apontar a origem das receitas. O presidente da Câmara voltou a defender a PEC que segrega o Orçamento e afirmou que ela é importante para o “arcabouço legal melhor para o Poder Executivo”. “Mas o encaminhamento desse pleito ao ministro Alexandre de Moraes onde ele garantiu por liminar a suspensão, o afastamento desses artigos da LRF e da LDO garantem ao governo, pelas próprias palavras do governo, a possibilidade, a certeza da edição de uma medida provisória de crédito para pagar os R$ 600 aprovados na Câmara e no Senado e que aguardam, todos nós aguardamos, a sanção do presidente da República”, disse. Ele acusou Guedes também de transferir responsabilidades que seriam suas. “Apenas esse esclarecimento, sem nenhuma adjetivação, sem nenhuma crítica, apesar de que seriam merecidas em relação à fala mais uma vez do ministro da economia transferindo a terceiros responsabilidades dele quando nomeado ministro da Economia, superministro, com toda liberdade para nomear toda a sua equipe no ministério da economia.” Embora o projeto que cria o auxílio tenha sido aprovado pelo Congresso, restando apenas a sanção do presidente Jair Bolsonaro, Guedes afirmou que o início dos pagamentos à população ainda terá que esperar a aprovação pelo Legislativo de uma emenda constitucional do chamado “orçamento de guerra”. “Tem um problema técnico de liberação de fontes. E aí está se discutindo a velocidade com que se pode aprovar uma PEC para dar origem e fontes a essas despesas. Do ponto de vista técnico, está tudo pronto na Economia. Agora é um trâmite político e jurídico”, disse Guedes. O presidente da Câmara articula a aprovação do Orçamento de guerra. A ideia é separar o Orçamento fiscal do Orçamento da crise. Durante a vigência da calamidade pública, o texto permitirá que o governo não cumpra a regra de ouro, norma que impede endividamento para pagar despesas correntes.
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PAINEL S.A. - *”Aplicativo de videoconferência Zoom vira alvo de alerta nos EUA”*:  Novo sucesso entre trabalhadores a distância no mundo todo, o aplicativo de teleconferência Zoom virou alvo de escrutínio da procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James. Segundo o Financial Times, James comunicou o Zoom nesta semana sobre suas preocupações com erros cibernéticos e a capacidade da empresa de lidar com a explosão de tráfego, protegendo os dados de novos usuários. Operações comerciais da plataforma na China também começam a gerar cautela entre especialistas de segurança. Ao Financial Times, o aplicativo diz que leva seu trabalho a sério.
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PAINEL S.A. - *”Medida de Doria causa onda de demissão, segundo sindicato de serviço terceirizado”*: A decisão do governo Doria de suspender parte dos contratos de prestação de serviços terceirizados abre uma onda de demissões, segundo Vander Morales, presidente do Sindeprestem (sindicato do setor). A Prodesp, que administra o Poupatempo, um dos focos das demissões, diz que orientou as empresas a não demitir. Quando se queixam da medida de Doria, empresários do setor o comparam com Bruno Covas. A prefeitura manteve o pagamento da mão de obra durante a quarentena.
*”Senado encampa projeto de Toffoli que suspende aluguéis na crise do coronavírus”* - O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, preparou um projeto de lei encampado pelo Senado para suspender desde o pagamento de aluguéis até a devolução de mercadorias adquiridas pela internet durante a pandemia do coronavírus. O projeto foi apresentado pelo senador Antonio Anastasia (PSD-MG) nesta terça-feira (31), terá relatoria de Simone Tebet (MDB-MS) e existe consenso para que seja aprovado nas duas Casas até a próxima semana em regime de urgência. A ideia, segundo assessores de Toffoli, é organizar as relações privadas definidas em contratos que, na crise, precisam ser alteradas ou até interrompidas temporariamente sem que isso gere ações judiciais. Somente ficam fora os casos de empresas em recuperação judicial e os serviços regulados (como água e energia). Essa espécie de “pausa legal” foi definida de 20 de março (quando teve início o confinamento) até 20 de outubro, tempo previsto para que a crise tenha se dissipado. Após esse prazo, todas as regras suspensas voltam à vigência normalmente. Pelo projeto, inquilinos que tiverem redução de jornada ou redução salarial, poderão negociar com o proprietário do imóvel a suspensão total ou parcial do pagamento do aluguel até o final de outubro —prazo máximo da vigência dessa nova lei. O saldo devedor será parcelado em cinco vezes e cada parcela (equivalente a 20% da dívida) incorporada ao aluguel a partir de novembro até a quitação, em março de 2021. Nesse período, ações de despejo não poderão movidas. A desocupação de imóveis alugados só poderá ser feita se o proprietário precisar do local como moradia.
Os síndicos poderão proibir festas e reuniões, fechar áreas do condomínio e vetar até o uso de vagas por visitantes. Poderá, no entanto, ser destituído se não prestar contas. Arrendamentos agrários também terão seus prazos de renovação ou cancelamento flexibilizados nesse período. E a proibição para que estrangeiros façam esse tipo de negócio ficará suspensa. “O ministro Toffoli preparou esse projeto com uma equipe dos mais gabaritados professores e juristas do país. Encampamos porque entendemos ser uma forma de evitar a judicialização nesse momento em que as pessoas precisam ficar em isolamento”, disse Anastasia à Folha. “Também barra uma série de projetos mais específicos nessa linha que tramitam tanto no Senado quanto na Câmara.” Sem a colaboração de representantes do Executivo, “que não se interessaram” segundo colaboradores de Toffoli, essa iniciativa representa mais um sinal da união de forças entre Legislativo e Judiciário diante de um governo desgastado no combate ao conoravírus. Ao mesmo tempo em que pausa ações judiciais, o projeto flexibiliza o arcabouço jurídico de forma tão ampla que faz projetos de lei específicos (como os que tratam da relação entre correntista e banco) perderem o objeto. Para o Congresso, isso é bom porque libera a pauta para assuntos mais urgentes no combate ao vírus. O projeto também modifica a rotina das empresas. Reuniões e assembleias poderão ser feitas à distância por videoconferência e os votos de diretoria enviados por e-mail. No caso das companhias abertas, caberá à CVM (Comissão de Valores Imobiliários) regulamentar esses procedimentos. Também será permitido que empresas possam distribuir lucros e dividendos vencidos neste ano mesmo que isso não esteja previsto no estatuto da companhia. O texto suspende até regras do Código de Defesa do Consumidor. Compras feitas pela internet, por exemplo, só poderão ser devolvidas a partir do final de outubro devido às dificuldades de logísticas no país. Caminhões poderão trafegar pelas rodovias com excesso de carga, desde que isso não comprometa a segurança. Anteriormente, a infração era punida com multa. A flexibilização levou em conta as restrições de circulação impostas em muitos locais por meio decretos municipais ou até estaduais. Infrações concorrenciais, como o uso de logística da concorrência ou sinergias entre empresas, não serão punidas. Mesmo irregularidades passíveis de penalidades serão analisadas sob a óptica da pandemia.
A Lei de Proteção de Dados ganhou sobrevida de 18 meses para que o governo possa, depois de superada a crise, montar a agência que será responsável pela regulação desse segmento. Nos processos familiares de sucessão, partilha e inventário, os prazos serão congelados. O atraso no pagamento de pensão alimentícia resultará em prisão domiciliar. Para Toffoli, a inspiração desse projeto foi a Lei de Faillot que, em 1918, já no final da Primeira Guerra Mundial, foi apresentada pelo deputado que lhe deu nome e criou regras excepcionais abrindo caminho para o que se chamou de “teoria da imprevisão” no Direito francês. Na exposição de motivos, o senador Anastasia aponta que “tanto o Código Civil quanto o Código de Defesa do Consumidor possuem regras adequadas para resolver ou revisar contratos por imprevisão, no primeiro caso, e onerosidade excessiva, no segundo. É preciso agora conter os excessos em nome da ocorrência do caso fortuito e da força maior.” Para redigir o projeto, Toffoli contou com o apoio de diversos professores de Direito da USP, PUC-SP, da UFPR e da UFSC. Na coordenação técnica, o time contou com o ministro do STJ Antonio Carlos Ferreira e do Conselheiro Nacional do Ministério Público e professor da USP Otavio Luiz Rodrigues Jr. “O objetivo é garantir segurança jurídica em um tempo de incertezas. Concede proteção a locatários, evita prescrição, e prestigia soluções legislativas para problemas judiciais”, disse Rodrigues Jr.
*”Liminar garante abertura das Lojas Americanas no Rio e contraria decreto do estado”*
*”CNJ recomenda suspender falência de quem não cumprir plano de recuperação na crise do coronavírus”*
*”Estados antecipam medida para aliviar crise econômica do coronavírus”* - Na falta de uma orientação para que governo federal, estados e municípios atuem de forma complementar no combate ao coronavírus e seus efeitos econômicos, cada unidade da Federação tem agido por conta própria, muitas vezes com ações que se sobrepõem. Estudo elaborado pela pesquisadora da área de economia aplicada do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV) Vilma Pinto traz um mapa das ações adotadas nas 27 unidades da Federação até o dia 25. Todos os governadores decretaram estado de calamidade ou emergência e adotaram medidas de isolamento social e interrupção de comércio, serviços e eventos, apesar das divergências dentro do governo federal sobre esses temas. Também foram disponibilizados recursos para empresas por 16 estados e criados diversos auxílios para famílias e informais, em um momento em que o Ministério da Economia e o Banco Central tentam tirar do papel programas nesse mesmo sentido.
Auxilio Financeiro para Empresas
Pará - Abertura de Linha de Crédito para MEI e PME
Roraima - Prorrogação de pagamento de tributos para outubro de optantes do Simples
Tocantins - Linhas de Capital de Giro com carência e taxa reduzida (5% ao ano mais INPC)
Alagoas - Prorrogação do ICMS por 90 dias de optantes do Simples; Linha de crédito de R$ 15 milhões
Piauí - Linha de crédito para empresas que produzem insumos usados no combate à Covid-19
Rio Grande do Norte - Empreendedores com financiamentos na agência de fomento poderão solicitar na dívida
Goiás - R$ 500 milhões para capital de giro emergencial, pagamento de impostos, mão de obra, aluguéis e outros custos fixos
Mato Grosso - Crédito com carência de três meses e prazo de até 36 meses
Distrito Federal - Linha de R$ 1 bilhão a empresas. Banco de Brasília com carência para crédito imobiliário e demais operações parceladas de PJ
Espírito Santo - Linha de crédito emergencial para empresas de todos os portes que foram afetadas pela crise
Minas Gerais - BDMG (banco de desenvolvimento) reduz juros e amplia carência MPEs do turismo
São Paulo - Linha de R$ 225 milhões para MEIs e PMEs; Linha de Crédito de 275 milhões para empresas
Rio de Janeiro - R$ 320 milhões em linhas de crédito
Rio Grande do Sul - Ampliação dos fundos municipais para MPEs
Santa Catarina - Linha para o MEI de até R$ 150 mil. Ampliação do Programa Microcrédito Juro Zero para MEI com juros pagos pelo Estado. Capital de giro para PMEs em até R$ 200 mil. Postergação de contratos de financiamento PMEs. Prorrogação da parte estadual do Simples
Distribuição de Cesta básica?
Amapá - Distribuição emergencial de cestas básicas para 31 mil famílias que não recebem nenhum benefício social (Bolsa Família ou Renda para Viver Melhor), mas que estão na lista de espera do Cadastro Único (CadÚnico)
Pará - Substituição da distribuição das merendas nas escolas por entrega de cestas básicas, para liberar da jornada os servidores que trabalham na preparação dos alimentos
Tocantins - Até 200 mil cestas básicas para famílias atingidas pelas enchentes e/ou afetadas pela crise causada pelo novo Coronavírus. Aquisição e a entrega de cerca de 100 mil kits de alimentos aos estudantes da rede estadual de ensino
Maranhão - Distribuição de 200 mil cestas básicas a trabalhadores informais e famílias em vulnerabilidade social
Rio de Janeiro - Distribuição de cestas básicas para um milhão de famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único de Assistência Social, o Cad-Único
Paraná - Distribuição de alimentos da merenda escolar para 230 mil alunos
Santa Catarina - Repasse de um estoque de três mil litros de leite e de duas mil garrafas de água sanitária para destinação a famílias de baixa renda do Ministério da Saúde para o da Educação
Outro tipo de Auxilio p/ Empresas e Famílias?
Amazonas - Auxílio de R$ 200 para 50 mil famílias em vulnerabilidade
Pará - Redução do ICMS para itens de combate ao Covid-19
Alagoas - Suspensão de prazos processuais e cumprimento de obrigações tributárias e do pagamento dos parcelamentos de débitos fiscais
Bahia - Redução do ICMS para itens de combate ao Covid-19
Maranhão - Redução do ICMS para itens de combate ao Covid-19; Isenção de 850 mil maranhenses de pagamento de água por dois meses
Piauí - Envio de projeto de lei para reduzir ICMS de álcool em gel e máscaras
Sergipe - Auxílio de R$100 a pessoas de baixa renda
Goiás - Fundo de proteção e prevenção social voltada para as pessoas que tiveram que parar de trabalhar para evitar a disseminação da doença
Mato Grosso - Suspensão e Prorrogação do IPVA; Extensão do parcelamento para débitos tributários de 2019; Prazo do Refis prorrogado para julho com até 75% de desconto
Distrito Federal - Bolsa alimentação para alunos de creches e beneficiários do Bolsa Família. R$ 750 mil para agentes culturais. Banco de Brasília: carência para empréstimos PF
Minas Gerais - Medidas emergenciais em prol do setor cultural
São Paulo - Suspensão de protesto de dívidas por 90 dias
Rio de Janeiro - Suspensão da cobrança de dívidas. Prorrogação de empréstimos do Agrofundo. Meio salário-mínimo a empreendedores da economia popular solidária e da cultura com projetos registrados, respectivamente, no CADSOL e na Secretaria de Cultura
Santa Catarina - Isenção ou redução de base de cálculo do ICMS de álcool gel, hipoclorito de sódio, máscaras e luvas. Linha para pequenos empreeendores rurais
Prorrogação / Isenção de Pagamento de Serviços Públicos
Amapá - Pagamento pelo estado da tarifa social de água e das contas de energia de 21 famílias que consumem até 220 quilowatts mensais
Goiás - Interrupção do corte de energia e água por falta de pagamento
Mato Grosso do Sul - 12 mil famílias carentes são isentas do pagamento da conta de água por três meses; Proibido o corte de água em todas as unidades consumidoras da Sanesul
Distrito Federal - Redução de ICMS de produtos de combate ao Covid-19
Espírito Santo - Suspensão de cobrança de tarifa social da água
Minas Gerais - Consumidores de Cemig e Copasa poderão parcelar contas sem multas e juros e terão vencimento estendido
São Paulo - Suspensão de cobrança de tarifa social da água; Isenção de pagamento da conta de luz para população de baixa renda; Suspensão de ações de interrupção de fornecimento de gás de consumidores residenciais e pequenos comércios
Rio de Janeiro - Autorização para CEDAE prorrogar vencimento ou facultar o pagamento de faturas
Santa Catarina - Suspensão de cobrança de tarifa social da água por 60 dias. Prorrogação do prazo de pagamento de ICMS das empresas fechadas em função das medidas de restrição
Compra de Materiais de Combate à Covid-19
Amapá - R$ 14 milhões para Secretaria de Saúde. Parte já foi investida em equipamentos de proteção individual
Amazonas - Aquisição de 30 mil kits de testes rápidos para a doença
Pará - 720 leitos a mais sendo ofertados na rede pública de saúde
Roraima - Aquisição de respiradores e equipamentos de proteção individual
Tocantins - Aquisição de testes rápidos de Covid 19
Alagoas - Ampliação de 105 leitos; Destinação de R$ 200 milhões à Secretaria de Saúde; Compra de materiais para combate ao Covid- 19; Doação de 3 mil itens apreendidos para combate ao Covid-19
Ceará - Compra de 1700 Kits p/ Teste, ampliação de 200 enfermarias e 150 leitos
Maranhão - Ampliação de leitos
Paraíba - Ampliação de 300 leitos
Piauí - Compra de 10 mil Kits p/ Teste, ampliação de aproximadamente 100 leitos e outros
Rio Grande do Norte - Compra de 10 mil Kits de Teste, ampliação de leitos; Destinação de R$ 40,5 milhões ao Combate a Covid-19
Sergipe - Ampliação dos leitos
Mato Grosso - Ampliação de 200 leitos
Mato Grosso do Sul - Compra de 5.000 Kits de Teste, Ampliação de 227 leitos e R$ 680 mil em respiradores
Distrito Federal - Recursos para insumos e materiais. Contratação de leitos de UTI (R$ 21,6 milhões)
Minas Gerais - Compra de 1,4 milhão de máscaras, luvas e ampliação de 800 leitos
São Paulo - Compra de 20 mil Kits de Teste, ampliação de 1.000 leitos e 200 respiradores
Rio de Janeiro - Criação de 299 leitos. Compra de 1,5 milhão de máscaras cirúrgicas, 150 mil máscaras de proteção, 300 mil óculos de proteção e 600 mil aventais e outros equipamentos
Contratação de Pessoal na área de saúde
Ceará - Contratação e Formação de Profissionais
Maranhã - Abertura de Processo Seletivo para profissionais na área
Paraíba - Contratação em caráter excepcional de 2.453 profissionais de saúde
Piauí - Lançamento de Edital para contratação de pessoa na área da Saúde
Sergipe - Contratação por prazo determinado de pessoal para atendimento de necessidade temporária
Mato Grosso do Sul - Contratação emergencial de 60 profissionais da saúde
Distrito Federal - Nomeação de concursados (330 médicos e enfermeiros)
Paraná - Complexo Hospitalar do Trabalhador: contratação de 184 terceirizados (153 podem ser contratados num segundo momento), 362 servidores, 800 bolsistas e 30 estudantes de medicina
Outras ações comuns dos governadores têm sido a prorrogação do pagamento do principal imposto estaduais (ICMS) para empresas de menor porte e prolongamento ou isenção de pagamento de serviços de água e energia. “Isso está sendo feito de uma forma urgente. Está todo o mundo atirando para todos os lados. Os estados estão tentando tomar medidas para controlar essa pandemia e conseguir fazer esse isolamento da melhor forma possível. A gente está olhando muito para o governo federal, mas estados e municípios estão fazendo muitas coisas”, afirma a pesquisadora. Vilma diz que é importante analisar se o gasto está sendo bem direcionado e reavaliar algumas ações quando houver sobreposição na atuação federal e estadual, como no caso dos auxílios para informais. Segundo a pesquisadora, em alguns casos, pode ser mais efetivo utilizar recursos para ações como compra de materiais hospitalares para combate à Covid-19 e contratação de pessoal na área de saúde, algo que, aliás, está sendo feito por vários governadores, mas de forma diferente.
“Alguns estão nomeando concursados, lançando editais ou fazendo contratos emergenciais. Outros estados também poderiam abrir para as pessoas se candidatarem como voluntárias, como no Rio. São ideias que podem complementar ações”, afirma. Sobre o valor total das despesas, ela diz que é muito cedo para buscar uma cifra e que qualquer estimativa seria um chute. “A melhor forma de contribuir não é gerar um número, mas apontar as direções. Mais importante é saber quais as medidas que estão sendo feitas, quais são úteis, qual a melhor forma de alocar recursos.” O levantamento também traz o número de leitos por 10 mil habitantes em cada estado, o que mostra que as necessidades de cada região podem ser diferentes, segundo ela. O mesmo se dá em relação à suplementação de renda em cada região, que pode demandar ações complementares de diferentes níveis de governo. “Se a gente olhar a renda domiciliar per capita, a gente vê que R$ 600 no Acre são muito mais significativos que R$ 600 em São Paulo. Os informais e microempreendedores que estão no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, para eles essa complementação de renda pode não ser tão eficaz quanto nas regiões Norte e Nordeste.”
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*”Varejo pressiona BC e Paulo Guedes a conterem elevação dos juros”* - Grandes varejistas e empresas de eletroeletrônicos foram ao Ministério da Economia e ao Banco Central reclamar da alta nas taxas de juros e da escassez de crédito nos grandes bancos após o agravamento dos danos econômicos causados pelo coronavírus no país. A Folha mostrou na semana passada relatos de empresas com dificuldades de acesso a empréstimos, que estavam mais caros. Mesmo clientes de menor porte que tentavam postergar duas prestações, como anunciado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), relataram dificuldades. A Febraban nega. Desde o início do surto da Covid-19, o BC liberou R$ 1,2 trilhão para o sistema financeiro, mas o dinheiro não chega a empresas e consumidores, reclamam as entidades.Embora evite comentar o assunto oficialmente, o Ministério da Economia reconhece haver uma rápida deterioração das condições de crédito.
Há preocupação, inclusive, em relação ao menor acesso a empréstimos ao longo das últimas semanas. Em carta enviada ao BC e à Economia, associações do varejo reclamaram de aumento de até 70% nos juros. A piora nas condições é vista nas principais linhas de crédito. "Entendemos que, num momento de crise, as medidas adotadas pelo BC devam caminhar juntas com as instituições financeiras", afirmam entidades de varejo em carta enviada a autarquia. A iniciativa foi liderada pela Abrasce (shopping centers), mas foi endossada por IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e ABF (Associação Brasileira de Franshising). "É preciso que o recurso disponibilizado ao pequeno empresário chegue sem burocracia e papelada. Nosso recado é para governo federal, não para o sistema financeiro", diz Glauco Humai, presidente da Abrasce, associação que representa 577 shoppings centers.
Varejistas reclamam também no aumento de pedidos de garantias e endossaram a proposta de que maquininhas de cartões sejam usadas para concessão de crédito. Outro setor que foi reclamar com o governo foi o de fabricantes de equipamentos eletroeletrônicos (a Eletros). A entidade afirma que o sistema bancário não tem proporcionado liquidez, o que tem inviabilizado suporte ao capital de giro das empresas. Procurado, o Ministério da Economia afirmou que o BC deve responder sobre o tema. Já o BC disse que está analisando todos os pleitos que tem recebido. A Febraban não se posicionou até a conclusão desta reportagem.
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MÔNICA BERGAMO - *”Brasil teve 38 milhões de publicações no Instagram com adesivo de quarentena”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Casos no país têm alta recorde e Bolsonaro, isolado, modera o tom”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Medidas de emergência exigem pressa”* - Medidas de urgência precisam ser formuladas e executadas com rapidez, por suposto. Se não, teriam outro nome. Esta lógica cartesiana está sendo contrariada pelo governo federal. Porque uma série de ações corretas tomadas pelo Planalto para começar a minimizar os danos causados na economia e na vida das pessoas, principalmente as mais pobres, pela pandemia deste coronavírus, tramita em Brasília no conhecido ritmo lento da máquina burocrática oficial. A surrada imagem de um tsunami é adequada para simbolizar o que aconteceu, acontece e ainda acontecerá. A paralisação de linhas de suprimento de componentes de uma série de indústrias abastecidas por fábricas chinesas disparou um choque. A queda de faturamento e a redução no volume de negócios foram agravados pela necessidade do isolamento social, como na China, para retardar a disseminação do vírus e permitir que os serviços de saúde dos países possam atender à demanda. A queda do consumo é vertical. O dinheiro deixa de circular e atinge instantaneamente uma preocupante parcela da população em um país no qual prestadores informais de serviços têm grande participação na força de trabalho. Somando-se quem não tem carteira assinada a um grande contingente de pessoas que trabalham por conta própria, chega-se a 46,8 milhões de pessoas. Por um critério mais restritivo, os informais seriam 38 milhões. Muita gente, de qualquer forma. De um dia para o outro, um número expressivo de trabalhadores passou a enfrentar dificuldades para se alimentar, e adquirir outros bens de primeira necessidade.
O governo propôs uma necessária transferência mensal de renda do Tesouro para esta parcela da população. Inicialmente, R$ 200 por três meses. Rodrigo Maia, na Câmara, propôs aumentar para R$ 500, e Bolsonaro sugeriu R$ 600. A ideia, apresentada na quarta-feira 18, passou pela Câmara e foi aprovada no Senado na segunda, 30. E ontem ainda faltava um decreto presidencial para que os recursos sejam liberados. Vencida esta etapa, será necessário definir como estas três transferências serão feitas, considerando-se que os beneficiários não têm conta em banco. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, prevê que apenas na terça ou quarta que vem essas respostas serão dadas. Caso sejam, terão passado três semanas desde o anúncio da criação da transferência. E ainda faltará a operacionalização do sistema. Em uma entrevista na sexta-feira da semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou a criação de uma linha de crédito de R$ 40 bilhões, dinheiro subsidiado pelo Tesouro e bancos privados, para pequenas e médias empresas. Que precisam pagar a folha de salários nos próximos dias. Por ser início de mês, as famílias também estarão pressionadas. Esta e outras ações são necessárias. Mas a dificuldade de o Estado executálas em velocidade precisa ser superada. Afinal, há uma emergência.
*”Recorde de vítimas, mudança de tom – Após 201 mortes, Bolsonaro afirma que covid-19 é ‘maior desafio de nossa geração’”* - No mesmo dia em que o número de infectados e mortos pelo novo coronavírus bateu recorde e o isolamento em relação a membros de sua própria equipe e a líderes globais tornou-se mais evidente, o presidente Jair Bolsonaro mudou o tom ao tratar da pandemia. Após 34 dias da chegada da doença ao país, o Ministério da Saúde informou que, em apenas 24 horas, haviam sido confirmados 1.138 novos casos de contaminação, que já atingiu 5.717 pessoas. O número de mortos também cresceu de forma acelerada, chegando a 42 em um dia —já são 201 vítimas fatais desde o primeiro falecimento pela Covid-19 no país, há exatos 15 dias. Se pela manhã, ao deixar o Palácio Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro distorceu o discurso do diretorgeral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, para insistir na tese de que trabalhadores informais deveriam voltar ao trabalho, à noite, em cadeia de rádio e televisão, a narrativa presidencial já era outra. Bolsonaro classificou o combate ao vírus como o “maior desafio da nossa geração”, destacou que não há ainda medicamentos com eficiência cientificamente comprovada, pregou a “colaboração” e “união” de todos —inclusive os governadores atacados por ele nas últimas semanas — e não defendeu, como vinha fazendo, o fim do isolamento social das pessoas que não atuam em serviços essenciais.
— Todos nós temos que evitar o máximo qualquer perda de vida humana — justificou.
A gravação do discurso ocorreu enquanto, no salão do Palácio do Planalto, os ministros Braga Netto (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça) se colocavam ao lado de Luiz Henrique Mandetta para mostrar alinhamento do governo e referendar a posição técnica do ministério da Saúde como a bússola para o enfrentamento da crise. Ainda assim, o quarto pronunciamento presidencial em um mês foi novamente marcado por um longo panelaço em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e outras capitais.
*”Brasil estaria pior sem isolamento, diz Mandetta”* - O Brasil registrou ontem o maior número de novos casos e de óbitos pelo coronavírus em apenas um dia, com 201 mortos e 5.717 infectados no total. A escalada, porém, poderia ter sido pior, segundo o ministro Luiz Henrique Mandetta, caso não tivesse havidouma “conscientização” da população, que adotou medidas de distanciamento social. O titular da Saúde manteve a recomendação de isolamento para os que podem fazê-lo, excetuando os profissionais dos setores essenciais.
— Uma coisa podemos afirmar categoricamente: o Brasil não entrou na espiral ascendente absoluta, na qual entrou Nova York, porque houve essa conscientização de todo mundo — afirmou Mandetta.
O secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Wanderson Oliveira, disse que São Paulo — um dos estados com medidas mais restritivas de locomoção —já registra redução na velocidade de transmissão, segundo análises preliminares. De acordo com ele, o ritmo de contágio caiu de seis para dois por pessoa, ou seja, cada infectado deixou de contaminar quatro pessoas, em média. Mandetta ressaltou que grau de benefício dessas medidas ainda é incerto porque é preciso considerar o tempo de incubação do vírus.
—A gente pára duas semanas para ver como isso vai replicar nas outras duas, porque o tempo de incubação são 14 dias. Muito caso que a gente está tendo hoje é reflexo de 14 dias atrás.
O ministro defendeu que todos os movimentos de abrandamento do distanciamento social sejam feitos com planejamento, e disse que o governo “não tomará medidas que sejam arriscadas para o nosso povo”. Ao ser questionado sobre a polêmica criada após Bolsonaro distorcer um posicionamento do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) para dar a entender que a entidade defendia medidas menos restritivas, Mandetta voltou a defender o isolamento de todos que não trabalham em serviços essenciais.
— Nós sempre dissemos que (distanciamento social) estanque, absoluto, o tempo todo, não é bom para a saúde, não é bom para ninguém. Vamos trabalhar com o máximo de planejamento. No momento, nós vamos fazer, sim, o máximo de distanciamento social, o máximo de permanência dentro das nossas residências, de “home working”.
MAIOR CONCENTRAÇÃO
Na mesma apresentação, o ministro criticou os hospitais Sancta Maggiore, da operadora PreventSenior, que concentram 79 dos 136 mortos de São Paulo —são, portanto, o principal local de óbitos por Covid-19 no país, superando todos os estados.
— Um empresário iniciou uma venda de plano de saúde só para pessoas acima de 60 anos. Ele pensou, “vou vender um plano de saúde mais barato, não vou mexer com pré-existência (de doentes)”. Não diluiu o risco da carteira, ficou com aqueles que são mais complexos —disse Mandetta. — A Agência Nacional de Saúde não deveria ter autorizado isso.
A Prevent Senior informou que as 79 mortes foram registradas em duas unidades, nos bairros do Paraíso e de Santa Cecília, onde estão concentrados os pacientes infectados pelo Sars-CoV-2. Também disse que está à disposição para mostrar às autoridades públicas todos os procedimentos adotados.“Os hospitais da rede seguem todos os protocolos e recomendações da OMS. Prova disso é que o índice de infecção de profissionais de saúde pelo coronavírus é o menor das redes pública e privada. Os pacientes de covid-19 internados nos dois hospitais da rede não foram contaminados no interior das unidades, conforme atestam os exames laboratoriais, colhidos fora dos estabelecimentos”, diz a nota do plano de saúde. Na última sexta-feira, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo pediu intervenção imediata de três hospitais da rede Sancta Maggiore (Pinheiros, Paraíso e Jardim Paulista). As unidades foram alvos da fiscalização da prefeitura, que sustenta que a equipe médica da Prevent não comunicou alguns casos de contaminação por Covid-19, o que contraria a legislação.
—Pedimos essa intervenção porque, desde a fiscalização feita lá semanas atrás, o problema se agravou. É preciso que equipes técnicas da prefeitura e do estado entrem na gestão da unidade para ajustar os fluxos de atendimento—disse o secretário Edson Aparecido.
*”Motivos do recuo – Recado de outros poderes e isolamento tiveram peso”* - A mudança de tom adotado pelo presidente Jair Bolsonaro em seu pronunciamento sobre a crise do coronavírus em cadeia nacional de rádio e TV na noite de ontem foi construída além dos gabinetes do Palácio do Planalto. Integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso fizeram chegar ao governo a avaliação de que era preciso mudar a forma como o presidente vinha apresentando suas convicções à população. O ministro da Secretaria de Governo, Jorge Oliveira, amigo há décadas do presidente, foi um dos principais emissários dos recados dos outros Poderes e atuou para ajustar o tom, bem diferente do que vinha sendo usado até ontem. Pela primeira vez, Bolsonaro não defendeu o fim do isolamento social. Pela manhã, ainda em defesa da “volta à normalidade” preconizada desde o início da crise, o presidente tinha chegado a distorcer uma fala do presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, para dizer que ele concordava com o retorno imediato das pessoas ao trabalho.
SEM SARCASMOS
Isolado tanto no cenário nacional quanto internacional, Bolsonaro foi alertado de que precisava reassumir a liderança no comando da crise e que, para isso, era necessário passar confiança, serenidade e firmeza à população. Nesse sentido, um gesto importante seria o de acenar à preocupação em salvar vidas. O presidente teria reconhecido a necessidade de modular seu discurso e a maneira de defender suas teses sobre o novo coronavírus. O presidente decidiu, então, fazer um rearranjo na forma, mas sem abandonar completamente sua narrativa. Saíram os sarcasmos e os recados indiretos — inflamados pelo núcleo comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Entrou o tom moderado e, em certo momento, até conciliador — quando, por exemplo, agradeceu à “colaboração e a necessária união de todos num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos: Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade”. O reconhecimento da gravidade da crise veio no início:
— O Brasil avançou muito nesses 15 meses, mas agora estamos diante do maior desafio da nossa geração.
Outra mudança foi em relação às vítimas: se antes Bolsonaro havia dito que era preciso ter “paciência” com as mortes e que “essa é a realidade”, agora afirmou que é preciso evitar “o máximo qualquer perda de vida humana”. Bolsonaro também foi mais cauteloso ao falar da hidroxicloroquina, substância que têm sido testada contra a Covid-19: apesar de dizer que ela parece “bastante eficaz ”, ressaltou que não tem “eficiência cientificada comprovada”. Bolsonaro citou novamente o discurso do diretor-geral da OMS, mas em um tom mais brando. De manhã, ele disse que Tedros havia defendido o retorno o trabalho. Entretanto, a OMS e o próprio diretor-geral vieram à público para reafirmara importância do isolamento social e cobrar políticas sociais de proteção econômica aos que não podem trabalhar neste período. No pronunciamento, o presidente voltou a citar trechos da fala de Tedros que defendem a atenção aos mais pobres, mas disse que não fazia isso para criticar medidas de prevenção.
— Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que da mesma forma precisamos pensar nas mais vulneráveis. Esta tem sido a minha preocupação desde o princípio.
O presidente também repetiu diversas vezes que é preciso combater tanto o vírus quanto o desemprego, e disse que orientou os ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Paulo Guedes (Economia) a tomar medidas nesse sentido.
—Temos uma missão: salvar vidas sem deixar para trás os empregos.
Este foi o quarto pronunciamento sobre o coronavírus realizado em um período de menos de um mês. No primeiro, em 6 de março, afirmou que não havia motivo para “pânico”. No dia 12, recomendou o adiamento de manifestações, mas acabou depois ele próprio participando. No terceiro, na semana passada, pediu a reabertura do comércio e das escolas e o fim do “confinamento em massa”.
BARROSO VETA CAMPANHA
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu que o governo federal contrate qualquer campanha contra medidas de isolamento durante a pandemia do coronavírus. Segundo o ministro, a campanha do governo federal “O Brasil não pode parar”, que chegou a circular nas redes sociais, desinforma e coloca em risco a população. “Em momento em que diversas entidades médicas se manifestam pela necessidade de distanciamento social, uma propaganda incita a população ao inverso. Trata-se de uma campanha ‘desinformativa’: se o Poder Público chama os cidadãos da “Pátria Amada” a voltar ao trabalho, a medida sinaliza que não há ameaça para a saúde da população e leva cada cidadão a tomar decisões firmadas em bases inverídicas acerca das suas reais condições de segurança e de saúde”, escreveu Barroso.
*”Panelaços contra presidente ocorrem em todas as regiões”*
*”Alinhados – Ministros apoiam Mandetta contra divergências”* - Uma mesa formada pelos principais ministros envolvidos no combate ao coronavírus explicitou uma união em torno da posição de Luiz Henrique Mandetta pela necessidades de manutenção de medidas de distanciamento social. Coordenador do gabinete de crise, o titular da Casa Civil, Braga Netto, fez questão de destacar que a posição do colega era também a dele e a de Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça), considerados os mais poderosos auxiliares de Bolsonaro desde o início do governo.
— Os ministros concordam plenamente com a posição do ministro Mandetta — disse Braga Netto, depois de o titular da Saúde responder sobre orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito da prevenção à epidemia.
A cena ilustrou um apoio a Mandetta, desgastado pelas posições que o presidente Jair Bolsonaro vinha adotando a favor do isolamento vertical, que tem restrições mais brandas do que as recomendadas até aqui pelo Ministério da Saúde. A unidade dos ministros ocorre num momento em que a ascensão do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, tem incomodado o alto escalão da Esplanada dos Ministérios. Alguns ministros chegaram à avaliação de que, hoje, se criou um governo paralelo para a condução da crise, dada a influência do vereador sobre o presidente. A decisão de Bolsonaro de instalar o filho em uma sala próxima a seu gabinete no Planalto, como antecipado pela colunista Bela Megale, deu força à avaliação de que a família tem tido mais influência sobre o presidente do que o próprio ministério. Na tarde de ontem, enquanto Guedes, Moro, Mandetta e Braga Netto davam coletiva à imprensa no Planalto, o presidente gravava o pronunciamento exibido à noite em cadeia nacional de rádio e TV, no qual adotou um tom mais moderado em relação ao enfrentamento da epidemia no país. Outro sinalização da divisão dentro do governo veio na elaboração do texto da proposta de emenda constitucional que vem sendo chamada de “Orçamento de guerra” no Congresso. A proposta previa antes que caberia a Mandetta comandar um comitê gestor dos recursos. Agora, o texto diz que isso fique concentrado nas mãos do presidente.
O ministro Braga Netto tem assumido a função de apaziguar o clima no governo. Embora a postura de Bolsonaro também esteja incomodando parte da ala militar, a avaliação é a de que, neste momento, é preciso agir para que se consiga, ao menos, passar à sociedade a imagem de que todos estão atuando em conjunto. Segundo o GLOBO apurou, Bolsonaro mostrou irritação com os recentes gestos de Guedes e Moro a favor do isolamento social defendido por Mandetta. O presidente se sente desautorizado pelos auxiliares, mas, hoje, não teria condições políticas de aventar qualquer demissão em sua equipe. A chegada de Carlos ao Planalto também reativou o clima de caça às bruxas. Assessores palacianos temem, inclusive, ser vistos pelo filho do presidente—o receio é de que virem alvo de ataques e acabem sendo alijados do governo. Assessores temem estar sendo vigiados ou até gravados pelo filho do presidente. Alguns já relatam que vão tomar cuidado com quem atendem em seus gabinetes, parada conspiração sobre vazamento de informações. A sala em que Carlos irá “despachar” — no terceiro andar, ao lado do gabinete presidencial —era ocupada pelo assessor especial de assuntos internacionais, Filipe Martins. Filipe sobe para o quarto andar. Segundo fontes, a sala do assessor foi esvaziada originalmente para atender à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no programa Pátria Voluntária, que também deve trabalhar de lá.
MILITARES DIVIDIDOS
Entre os militares, há divergências. Enquanto o vice-presidente Antônio Hamilton Mourão já se posicionou a favor do distanciamento social e o Ministério da Defesa e a Casa Civil têm atuado em parceria com a Saúde, as ideias até ontem expressadas pelo presidente pelo fim do isolamento eco entre generais da cúpula das Forças Armadas dão vazão à posição do presidente. No Alto Comando do Exército, há entre os generais quem defende o mesmo que Bolsonaro vinha defendendo: a possibilidade de relaxamento do isolamento social, mesmo com indicadores mostrando o êxito da prática tanto em cidades brasileiras quanto em outros países. Segundo esses generais, as medidas de saúde pública não podem suplantar os efeitos negativos na economia. Militares que integram a cúpula decisória do Exército se mostram a favor de uma mudança “gradual” no tipo de isolamento necessário para lidar com a pandemia.
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*”Fim da fila – Informal fora de programas sociais serão último a receber”* - A ajuda do governo para que trabalhadores sem carteira atravessem a crise do coronavírus chegará mais tarde aos que hoje não recebem nenhum tipo de assistência social. Informais que não estão no chamado Cadastro Único (CadÚnico) devem começar a receber o auxílio de R$ 600 somente após a segunda quinzena de abril. Embora seja considerado o grupo mais vulnerável, essa parcela da população terá dificuldade em pôr as mãos no dinheiro, por estar fora dos bancos de dados. Ontem, em entrevista ao Jornal Hoje, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, disse que o cronograma de pagamento do benefício começará no dia 16 de abril, data de pagamento das famílias que hoje recebem o Bolsa Família, que poderão optar pelo valor mais vantajoso. Mais tarde, ao Jornal Nacional, disse que o pagamento destes beneficiários poderia ser antecipado e que uma expectativa otimista seria o dia 10 de abril. Na sequência, o governo pagará os trabalhadores informais do CadÚnico, que agrega todos os beneficiários de programas sociais do país. Depois, será a vez de microempreendedores individuais (MEI) e trabalhadores autônomos, que contribuem para o INSS. Por fim, informais fora do CadÚnico serão beneficiados. Segundo fontes, informais fora do cadastro só vão receber o dinheiro depois que o Ministério da Cidadania validar a auto declaração de renda que o interessado terá que fazer. O auxílio emergencial aos informais foi aprovado segunda-feira pelo Congresso. Até ontem, o projeto aguardava sanção pelo presidente Jair Bolsonaro. A proposta foi apresentada pelo governo há duas semanas, inicialmente como um vale de R$ 200, e modificada no Legislativo. Desde o início da crise, o governo tem sido pressionado por demorar para implantar medidas para a população mais vulnerável. Ontem, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou agilidade.
— Se é um apoio emergencial, 16 de abril não parece tão emergencial para os brasileiros que estão precisando dos recursos —disse Maia.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, se queixou da pressão para que as medidas sejam liberadas rapidamente. Segundo Guedes, o governo enfrentava até ontem um problema para indicaras fontes de recursos necessárias para pagar o auxílio, que terá impacto de cerca de R$ 80 bilhões. Ele afirmou que será necessário aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para viabilizar o processo.
—Estamos com um problema técnico que chama-se “fontes”. E o presidente Rodrigo Maia pode nos ajudar muito, se ele encaminhar e aprovar em 24 horas uma PEC emergencial que regularize isso, o dinheiro pode sair rapidíssimo —disse o ministro.
Fontes da equipe econômica dizem, porém, que não é necessária PEC para liberar o pagamento. Guedes disse que o trâmite para liberar ore curso é burocrático eque nãoé “trivial” criar um novo programa assistencial do zero.
— Eu pediria que houvesse um pouco de compreensão. Por um lado, há essa urgência para que chegue logo. Não é trivial colocar dinheiro na mão de 38 milhões de pessoas, onde 70% não estão registrados —afirmou.
A medida pode ainda ser alvo de vetos, disse Bolsonaro. Guedes disse que o governo buscava retirar “jabutis”, propostas que não fazem parte do projeto original. A área técnica quer vetar o trecho que eleva o limite de renda familiar per capita para fins de concessão do BPC de um quarto do salário mínimo (R$ 261,25) para meio salário mínimo (R$ 522,50) a partir de 2021.
— Tem vetos que precisam ser analisados. Vou sancionar o mais rápido possível —afirmou o presidente.
‘TEMPO DEMAIS’
Diante da indefinição, o Senado adiou a votação do que ficou conhecido como “pacotão social”, que ampliaria o total de brasileiros com direito ao auxílio emergencial. O texto seria apreciado na sessão de ontem. Para Athayde Motta, membro da diretoria executiva da Associação Brasileira de ONGs (Abong), aguardar até o fim de abril é “tempo demais” para autônomos sem renda há duas semanas. Ele sugere que o governo busque dados com aplicativos de transporte, como Uber, entre outras fontes:
—É hora de analisar os dados que o governo já teme buscar outros bancos rápidos de acesso para garantira transferência de renda no menor prazo possível.
Para Rudi Rocha, diretor de pesquisas do Instituto de Estudos de Políticas de Saúde, há urgência em fazer o dinheiro chegar aos informais:
—As pessoas sairiam às ruas para tentar ter alguma renda. Poderemos ver uma escalada da crise sanitária.
*”Remédios têm reajuste suspenso por dois meses”*
*”Guedes diz que medidas contra coronavírus chegam a 2,6% do PIB”*
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Metade dos brasileiros já vive em cidades com coronavírus”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Ciência versus achismo”* - Uma sociedade bem informada, com acesso amplo a dados científicos e opiniões de especialistas reconhecidos, é capaz de entender a dimensão de crises como a da pandemia de covid-19 e, assim, colaborar ativa e prontamente para que seus efeitos sejam mitigados. Para isso, é preciso que a sociedade confie tanto na ciência e nas autoridades sanitárias como na imprensa. Quando joga todo o peso institucional e político de seu cargo em ataques sistemáticos à imprensa, à ciência e às autoridades sanitárias estaduais e mesmo as de seu próprio governo, o presidente Jair Bolsonaro confunde os cidadãos sobre o que fazer diante da pandemia e, assim, atrasa as medidas necessárias para contê-la e para evitar mortes. Como todo movimento autoritário, o bolsonarismo hostiliza a ciência, pois esta revela as imperfeições do mundo real, contradizendo os devaneios fabulosos de seu líder messiânico e demonstrando os limites de seu poder. Não à toa, Bolsonaro vive a repetir, inclusive em rede nacional, que a covid-19 é uma “gripezinha”, ignorando amplas evidências científicas em contrário. Com isso, o presidente estimula os cidadãos em geral a não acreditar nos cientistas, que estariam a serviço de gente interessada em minar seu governo. Bolsonaro quer fazer crer que a pandemia nada mais é que uma invenção de seus inimigos para destruir a economia e, assim, derrubá-lo. E tal versão ganha contornos quase criminosos quando Bolsonaro desdenha das mortes causadas pela pandemia, pois o que interessa, diz ele, é manter empregos – estes que seu governo, por sua lentidão e incompetência, não havia sido capaz de manter e criar nem mesmo antes do coronavírus. Para sustentar essa opinião, Bolsonaro, catedrático em fake news, tratou de espalhar que o próprio diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendeu num pronunciamento o retorno ao trabalho. Trata-se de distorção grosseira do que disse o diretor da OMS, o que mostra até onde vai a falta de escrúpulos do presidente.
É com esse ânimo que Bolsonaro redobra seus ataques à imprensa, cujo trabalho profissional é justamente o de expor para a sociedade a real dimensão do problema que o presidente e seus fanáticos devotos teimam em minimizar. A imprensa, já disse Bolsonaro, é a responsável pelo que ele chamou de “histeria” em torno da pandemia. Na mais recente investida, ontem, estimulou seus apoiadores a hostilizar os jornalistas que o questionavam sobre sua decisão de desrespeitar as orientações de seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, acerca dos cuidados para evitar a propagação do coronavírus. Diante da agressão, os jornalistas deixaram o local, momento em que Bolsonaro – repita-se, o presidente da República – gritou: “Vai embora? Vai abandonar o povo? A imprensa que não gosta do povo”. Felizmente, mais e mais vozes da sociedade têm se levantado contra esse assalto de Bolsonaro à inteligência. Governadores garantem que manterão as medidas de isolamento social, à revelia do presidente – o paulista João Doria informou que entrará na Justiça caso o presidente decrete a reabertura do comércio, como ameaçou fazer. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, defendeu o isolamento social, dizendo que “não dá para ser contra os fatos” e que não se combate a pandemia com “achismos”. O Senado, por sua vez, divulgou um manifesto, chancelado inclusive pelo líder do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE), em defesa do isolamento social. Mesmo alguns dos ministros mais importantes do governo deixam claro que o melhor para o País, hoje, é levar a sério a ciência e não o presidente. Além do ministro Mandetta, que continua a defender “grau máximo de isolamento” para conter a pandemia, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que, “como economista, gostaria que pudéssemos manter a produção, voltar o mais rápido possível”, mas, “como cidadão, seguindo o conhecimento do pessoal da Saúde, ao contrário, quero ficar em casa e fazer o isolamento”. E o ministro da Justiça, Sérgio Moro, compartilhou em suas redes sociais um “excelente artigo” – palavras dele –, segundo o qual “é hora de ouvir a ciência”.
*”Na TV, Bolsonaro muda o tom e fala em ‘união’”* - O presidente Jair Bolsonaro fez ontem novo pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV e disse que o efeito colateral do coronavírus não pode ser pior do que a própria doença. O discurso do presidente foi acompanhado por panelaços em todo o País. Uma semana após ter tratado a pandemia como uma “gripezinha”, Bolsonaro distorceu uma declaração do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, para questionar a quarentena e dizer que está certo na condução da crise.
Sob pressão dos ministros mais próximos, Bolsonaro baixou o tom e pôs a preocupação com a “vida” no mesmo patamar que o “emprego”. Pediu, ainda, união do Parlamento, Judiciário, governadores e prefeitos para enfrentar a pandemia.“Temos uma missão: salvar vidas sem deixar para trás os empregos. Por um lado, temos que ter cautela com todos, principalmente os mais velhos. Por outro, temos que combater o desemprego que cresce rapidamente. Vamos cumprir esta missão ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde das pessoas”, afirmou. “Infelizmente, teremos perdas neste caminho.” O pronunciamento foi considerado um alívio para integrantes do governo e aliados. Eles temiam que o chefe do Executivo ficasse cada vez mais isolado ao confrontar publicamente medidas do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Nos últimos dias, ministros atuaram para convencer o presidente de que era preciso baixar o tom e passar uma imagem de “serenidade” e “união” para a população. Um dos argumentos é que as proporções da covid-19 ainda são incalculáveis, assim como prejuízos políticos. Ao longo do dia, Bolsonaro já havia recorrido a declarações do diretor da OMS. Ao defender o retorno ao trabalho, argumentou que Tedros também tinha tomado essa direção, mas acabou desmentido horas depois. Acuado, Bolsonaro procurou afastar comentários de que está em confronto com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, a quem já chamou de “egoísta” por não defender o governo. À tarde, após reunião ministerial, e escalou Moro e o ministro da Economia, Paulo Guedes – que andava sumido – para uma coletiva no Palácio do Planalto.
Os dois apareceram ao lado do chefe da Casa Civil, Braga Netto, e de Mandetta. Durante a entrevista, Braga Netto passou várias vezes uma “cola” para os ministros. Nos bilhetes, havia informações sobre o que deveria ser dito. De acordo com relatos feitos ao Estado, o presidente aceitou as sugestões de auxiliares em pontos que geraram desentendimento no próprio governo, como o isolamento vertical. Bolsonaro, por fim, se convenceu que deveria fazer a mudança no seu discurso Apesar da estratégia construída pelo Planalto para unificar o discurso, Mandetta desmentiu Bolsonaro e negou que a OMS tenha defendido o retorno imediato das pessoas ao trabalho. “Nós vamos trabalhar com o máximo de planejamento. E, no momento, nós vamos fazer, sim, o máximo de distanciamento social para que a gente possa chegar ao momento de falar ‘estamos mais preparados e entendemos aonde vamos’”, disse Mandetta. “Precisamos lançar camadas de proteção, especialmente para os mais frágeis”, endossou Guedes. O Congresso aprovou o pagamento de R$ 600 mensais para que trabalhadores informais fiquem em casa no período de pico da doença. Bolsonaro avalia que, se as atividades não forem retomadas logo e a economia não reagir, seu governo terá acabado. Pela manhã, o presidente disse que o diretor-geral da OMS tinha dito que os empregados informais “têm que trabalhar” na crise. Ao contrário do que ele sugeriu, no entanto, Tedros não fez relação entre trabalho e medidas de isolamento. O presidente também omitiu trecho do discurso em que o diretor da OMS destacou a necessidade de governos de todo o mundo garantirem assistência aos mais vulneráveis.
Tedros. “Vocês viram o presidente da OMS ontem?”, perguntou Bolsonaro a jornalistas. “Em especial, com os informais, têm que trabalhar. O discurso de Tedros ao qual Bolsonaro se referiu destacava que cada país é diferente e pregava proteção econômica aos mais necessitados. Ele voltaria a citar Tedros no pronunciamento. Diante da polêmica, Tedros postou mensagem nas redes dizendo que em nenhum momento se posicionou contra o isolamento. “Pessoas sem fonte de renda regular merecem políticas sociais que garantam a dignidade e permitam que elas cumpram as medidas de saúde pública para a covid-19 recomendadas pela OMS”, escreveu.
*”Jornalistas abandonam entrevista após ataques”* - Jornalistas que fazem a cobertura diária do Palácio da Alvorada se retiraram de entrevista concedida pelo presidente Jair Bolsonaro ontem de manhã, após ele mandar repórteres ficarem quietos e estimular apoiadores a hostilizarem profissionais de imprensa que estavam no local. O presidente havia sido questionado sobre declarações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que tem defendido o isolamento social para evitar a propagação do coronavírus, o oposto do que prega Bolsonaro. “Não sei o que ele falou. Eu parto do princípio que eu tenho que ver, não só ler o que está escrito”, começou a responder o presidente.
Um apoiador o interrompeu e passou a hostilizar os jornalistas, com xingamentos. Instado a concluir a resposta, o presidente afirmou que quem responderia, a partir daquele momento, seria o apoiador, que se identificou como “professor opressor”, apelido utilizado pelo blogueiro Emerson Teixeira. “É ele que vai falar, não é vocês, não (sic)”, disse Bolsonaro, mandando os repórteres ficarem quietos. Os jornalistas, então, se retiraram. Ao notar a saída dos repórteres, o presidente disse: “Vai embora? Vai abandonar o povo? A imprensa que não gosta do povo.” Ataques de Bolsonaro à imprensa têm se tornado constantes nas entrevistas que ele concede em frente ao Palácio da Alvorada, onde, em geral, há um grupo de apoiadores. No início do ano, chegou a mandar um repórter “calar a boca” e a ofender jornalistas que fizeram reportagens que o incomodaram. Por determinação da segurança presidencial, os jornalistas precisam ficar em uma área cercada por grades, ao lado de onde se concentram os apoiadores. Depois de um período em que poucos apareceram por lá, eles voltaram a ir diariamente, estimulados pelo pronunciamento do presidente em que chamou de “gripezinha” a covid-19.
ENTREVISTA: JOÃO DORIA, governador de SP - *”Perder Mandetta seria um desastre para o Brasil”*
*”Toffoli barra bônus de ‘home office’ para juízes do Ceará”*
*”Dirigentes receberam R$ 144 mi de partidos”* - Frestas na lei, que dão a partidos políticos autonomia quase total para gerir o dinheiro que recebem de fundos públicos, possibilitaram que as agremiações repassassem R$ 144 milhões a pessoas físicas ao longo de 2018 – ano mais recente com a prestação de contas integralmente disponível. Desse valor, R$ 12,4 milhões (9%) foram pagos diretamente aos responsáveis administrativos dos diretórios nacionais ou estaduais das siglas. Em alguns partidos nanicos, a proporção de recursos públicos repassados a pessoas físicas foi muito maior: 57% no PMN, 47% no extinto PRP (que se fundiu ao Patriota); e 46% no extinto PHS (que se fundiu ao Podemos). Os números foram obtidos pelo Movimento Transparência Partidária, que cruzou dados das pessoas físicas pagas pelos partidos com a composição das direções partidárias – ambas as informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Diferentemente do poder público – que está sujeito a regras como teto salarial, vedação ao nepotismo ou à contratação de empresas de parentes, e prestação de contas – os partidos não possuem teto, têm autonomia para contratar parentes ou empresas próprias e estão sujeitos apenas a uma prestação de contas anual. As contas referentes a 2019 devem ser inseridas no sistema do TSE até 30 de junho.
A pessoa física que mais recebeu recursos de uma agremiação política foi Eduardo Machado, presidente do extinto PHS, hoje vice-presidente do Podemos: R$ 769.436 em 2018, antes do encerramento da sigla. Ao contrário de outros dirigentes partidários que foram contratados pela CLT e cujas transferências foram feitas sob a rubrica de “salário e ordenados”, os pagamentos a Machado foram assinalados como “adiantamentos diversos”. Outro ex-dirigente do PHS, Luiz Claudio França, também consta na lista das dez pessoas físicas que mais receberam dinheiro de legendas. Ele recebeu um total de R$ 355.516 em 2018, sob as rubricas de “salário e ordenados”, “reembolsos com transporte e refeições” e “outras despesas com pessoal”. Juntos, Machado e França concentraram 97% do que o partido pagou a seus dirigentes. Procurados por intermédio do Podemos, eles informaram que o estatuto do PHS previa remuneração de seus dirigentes. “O presidente recebia o salário mais alto e o secretário-geral recebia 90% desta remuneração, além de eventuais reembolsos de despesas. Tudo declarado e oficial, sem qualquer ilegalidade”, diz a nota.
Legislação. A lei eleitoral não proíbe que partidos políticos usem dinheiro do fundo para pagar seus dirigentes, assim como não estabelece limitação expressa do valor do pagamento, afirmou o advogado Fernando Neisser, coordenador adjunto da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político. “Não se aplicam as regras do teto do funcionalismo público, então, nada impede que um dirigente tenha um salário de R$ 50 mil, por exemplo.” Segundo Neisser, o que a lei exige é que haja comprovação de que os serviços contratados pelo dinheiro do fundo foram, de fato, prestados. Apesar de o formulário de prestação de contas não fornecer espaço para descrever em detalhes as despesas, a Justiça Eleitoral pode pedir esclarecimentos em caso de suspeitas. Os recursos do Fundo Partidário somente podem ser gastos em questões de interesse da legenda, enquanto o fundo eleitoral deve ser direcionado para custear as campanhas eleitorais, disse a advogada Marilda Silveira, especialista em direito eleitoral e professora da pósgraduação do IDP. Segundo ela, a legislação não regula minuciosamente limites à contratação de empregados ou dirigentes partidários. “Não há uma norma específica sobre conflito de interesses, como há na administração pública. O que a lei estabelece é um teto de gastos geral para contratação de pessoal. O que o TSE já decidiu sobre a questão foi que não há vedação a que o partido remunere seus dirigentes”, disse Marilda. Para Marcelo Issa, presidente do Transparência Partidária, há a necessidade de as siglas serem obrigadas a prestar contas partidárias com uma periodicidade maior que a anual, como é hoje. “O verdadeiro combate à corrupção existe na forma de prevenção. E só há prevenção quando há transparência”, afirmou Issa.
*”Governo exalta golpe de 1964; ‘Dia da liberdade’, diz presidente”*
*”Temendo uma nova onda de Covid-19, países da Ásia retomam restrições”*
*”Casa Branca prevê mínimo de 100 mil mortos nos EUA”*
*”Para populistas, vírus é chance de acumular ainda mais poder”*
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*”Metade da população brasileira vive em cidades que já registraram Covid-19”*
*”Reajuste dos remédios é adiado por 60 dias”*
*”Empresas de médio porte recorrem ao governo para manter salários em dia”* - Empresas de médio porte, com faturamento acima de R$ 10 milhões anuais, reclamam de falta de apoio do governo federal para amenizar os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Na semana passada, elas ficaram de fora do pacote anunciado para ajudar pequenas e médias companhias (com receita entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano) no pagamento da folha de salários por dois meses. Alguns empresários falam em risco para honrar os compromissos salariais já em abril e se queixam da falta de crédito no mercado. O presidente da Fiesp e do Ciesp, Paulo Skaf, levou a reclamação ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Em sua avaliação, além do pacote ter de incluir todas as empresas, sem trava de faturamento, são necessárias ferramentas para garantir o capital de giro das companhias. Segundo ele, é preciso ter outras linhas com garantia do Banco Central para que os bancos emprestem. Skaf disse que o governo aumentou a liquidez no mercado, reduzindo o compulsório dos bancos, por exemplo, mas ainda assim as empresas estão com dificuldades de acessar os recursos. “O dinheiro tem de chegar nas mãos das empresas.” Alguns executivos confirmam a falta de liquidez no mercado. O presidente da Enjoy Hotéis e Resorts, Alexandre Zubaran, que tem hotéis e restaurantes em Olímpia (SP), afirma que nos últimos dias tentou antecipar recebíveis de cartão de crédito, mas teve a negativa da operadora. “No mundo real, não há liquidez nem oferta de crédito”, afirmou ele.
Para as empresas com faturamento acima de R$ 10 milhões, diz Zubaran, o trabalho tem sido lento, descoordenado e cheio de sinais contraditórios. “Já estamos na terceira semana, vai virar o mês e não sei o que fazer com a folha de pagamento”, disse ele, citando o vaivém das medidas e divergências entre representantes dos Estados, municípios e governo federal. O presidente do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat) e do Beach Park, Murilo Paschoal, disse que também esteve em Brasília conversando com integrantes do governo para explicar a situação do setor, cuja cadeia emprega 4 milhões de pessoas. “Precisamos de medidas que ajudem a pagar o salário dos funcionários, já que o faturamento das empresas zerou.”
Seguro-desemprego. Uma das sugestões é o governo usar o seguro desemprego para pagar os funcionários, pois, se os empregadores demitirem, já teria de fazer o desembolso de qualquer forma. “A maioria das empresas do setor tem caixa para pouco tempo.” André Ricardo Telles, presidente da Ecosan, que desenvolve e produz equipamentos e sistemas para tratamento de água e efluentes, também disse temer pela falta de recursos. “Em uma única semana, vários fornecedores cancelaram contratos”, disse Telles. “E grandes empresas que tinham pagamentos agendados já não estão pagando; não sei se estão preservando dinheiro ou, pelo fato de estarem trabalhando em home office, há dificuldades técnicas para o pagamento.” O executivo afirmou que tem tentado falar com clientes, e que nenhum deu explicação sobre quando os pagamentos serão realizados. Telles afirmou ter caixa para pagar os funcionários, “que são prioridade no momento”, mas, por não receber de seus clientes, vai ter de selecionar quais fornecedores poderá pagar. Segundo ele, se tivesse acesso ao pacote do governo, não precisaria se preocupar com o pagamento dos funcionários “e poderia priorizar outras coisas”.
Calçados. O presidente da Associação Brasileiras da Indústria de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, também reclama da falta de caixa das médias empresas. Segundo ele, muitas companhias do setor, que emprega 270 mil funcionários diretos, correriam o risco de não ter tempo hábil para conseguir pagar os salários de março integralmente. “O grande receio que temos é de ocorrer uma convulsão social, caso as empresas não consigam pagar os salários nos próximos dois meses”, afirmou Ferreira, para quem o pacote de ajuda para pagamento salarial não deveria ter teto. Segundo ele, 38% das empresas do setor são de micro ou pequeno porte. O gerente de política industrial da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), João Emílio Gonçalves, também defendeu que o plano do governo deveria ter cobertura maior para atingir empresas com faturamento superior. Ele ressalta que, sem ajuda imediata, várias empresas não conseguirão sequer pagar os salários de março.
A linha aberta pelo BNDES para financiar capital de giro de empresas com faturamento de até R$ 300 milhões ao ano engloba parte das empresas. Porém, disse Gonçalves, as taxas de juros no mercado podem atingir mais que o dobro da cobrada pelo programa recém-aprovado (de 3,75% ao ano), dependendo do spread cobrado pelos agentes financeiros. Além disso, disse ele, é preciso regulamentar o sistema nacional de garantias para que as empresas consigam ter acesso às linhas de financiamento. “Do contrário, não adianta ter recursos em boas condições se a empresa é barrada na análise de riscos.” “As empresas precisam de uma linha para capital de giro em condições competitivas com o momento atual, pois, com redução geral da demanda, a situação de várias delas é preocupante”, disse Gonçalves. “Também é preciso uma medida para postergar o pagamento de impostos por 90 dias, assim como foi feito com as empresas do Simples.” Procurado, o Ministério da Economia disse que o grupo de monitoramento da crise econômica relacionada à covid-19 analisa “diversas alternativas para reduzir os impactos da pandemia para o setor produtivo e para o setor público, com o objetivo de preservar especialmente a população mais vulnerável”. Mas disse que não comenta medidas em análise.
*”Empresa fora do Simples pagará 30% do salário”*
*”Maia pode liberar dinheiro, diz Guedes”* - Cobrado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a liberar rapidamente o pagamento do auxílio de R$ 600 aos trabalhadores informais, o ministro da Economia, Paulo Guedes, devolveu a responsabilidade para o Congresso e disse que precisa de aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para livrar o governo de amarras que travam a implementação do benefício. “Se Maia aprovar em 24 horas uma PEC de emergência, o dinheiro sai em 24 horas”, disparou Guedes em coletiva no Planalto. A medida citada pelo ministro é a chamada PEC do “orçamento de guerra”, que vai dispensar o governo de seguir algumas regras fiscais nos gastos extraordinários devido à pandemia do novo coronavírus. Maia disse ontem que a PEC pode ser votada hoje na Câmara, mas ressaltou que depende de um acordo com o governo sobre um último ponto. O Congresso tenta garantir no texto a previsão de que o Legislativo poderá sustar qualquer decisão do comitê de gestão da crise que será criado para coordenar os trabalhos, mas o Executivo é contra.
Enquanto essa PEC não for aprovada, Guedes disse que já foi alertado pelos secretários do Tesouro, Mansueto Almeida, e do Orçamento Federal, George Soares, de que não há fonte de recursos para bancar as despesas, um pré-requisito formal para o gasto. É preciso indicar de onde virão as receitas para bancar o benefício aos informais, que devem custar entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões. O benefício foi aprovado pelo Congresso e até agora não foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. Além da sanção, é necessário editar um decreto e uma medida provisória, com vigência imediata, para abrir o crédito extraordinário que na prática autoriza a despesa. O governo tem usado dinheiro que guardou em anos anteriores (que formam o chamado “colchão de liquidez”) para bancar os gastos da crise. O problema agora, segundo apurou o Estadão/Broadcast, é que o Tesouro praticamente já esgotou as fontes de recursos livres, que podem ser destinados a qualquer área. Restam os recursos vinculados, que só devem ser usados para bancar gastos conforme o previsto na lei que “carimbou” o dinheiro. A PEC em negociação com o Congresso flexibiliza uma série de exigências fiscais, inclusive permitindo que essa “sobra” no caixa possa ser utilizada para outras ações distintas da vinculação original.
“Estamos com um problema técnico, e o presidente Maia pode nos ajudar muito”, disse Guedes, lançando em seguida uma espécie de desafio ao presidente da Câmara. “Se Maia aprovar em 24 horas uma PEC de emergência, o dinheiro sai em 24 horas”, disparou. Em seguida, no entanto, o ministro ressaltou que talvez a liberação não ocorresse exatamente em 24 horas porque depende da implementação e de cronograma já existente para alguns benefícios, como o Bolsa Família. “Há toda uma logística, o dinheiro não cai do céu”, afirmou Guedes. Ele disse que o governo está consciente de que qualquer atraso é “calamitoso”. O ministro insinuou ainda que há “exploração política” nas críticas à demora do governo na liberação dos pagamentos e lembrou que o programa voltado aos trabalhadores informais é totalmente novo. Ele advertiu que, numa situação tão grave, o País “não está com muita paciência para jogo político” e reconheceu que é preciso dar uma resposta rápida. Ele fez ainda um “mea-culpa” e disse que, com muitas frentes de ação, às vezes pode ser difícil articular.
 
CAPA – Manchete principal: *”Pandemia impõe perdas históricas a investidores”*
*”Para chanceler, OMS não deve ser vista como ‘entidade sacrossanta’”*
*”Mandetta diz que vírus está chegando às favelas”*
*”Moro diz que não há por que temer saques”*
*”Governo adia alta nos medicamentos”*
*”Com maior demanda, luz amarela acendeu no SUS, diz analista”*
*”Investimento público em 2019 não repôs depreciação”*
*”Crise faz indicador de incerteza disparar”*
*”Emprego já deve sentir crise em março”*
*”Baixa demanda por transporte mostra que população não deixou isolamento”*
*”Bolsonaro modera o tom na TV, mas distorce fala de diretor da OMS”*
Análise - *”Discurso dá guinada contra isolamento”*
*”Demora em sancionar auxílio gera tensão entre governo e Congresso”*
*”Doria diz que Bolsonaro precisa ter ‘humildade’”*
*”’É New Deal agora e Plano Marshall na saída’, diz Mercadante”* - A pandemia do coronavírus tem levado a convergências políticas até poucos meses inimagináveis num país polarizado como o Brasil. Pelo menos duas ações aprovadas até agora no Congresso - o seguro de R$ 600 para os trabalhadores informais e a distribuição de alimentos da merenda escolar a quase 39 milhões de crianças e adolescentes da rede pública de ensino - são fruto de um amplo debate entre partidos de esquerda e centro, preocupados com a falta de comando nacional. Muitas dessas propostas de políticas públicas brotaram da Fundação Perseu Abramo (FPA), a instituição criada pelo PT em 1996 para pesquisa e formação política. Agora comandada por Aloizio Mercadante, ex-ministro da Casa Civil e da Educação no governo Dilma Rousseff, a fundação vai se dedicar integralmente à formulação de políticas públicas e saídas para a crise. Após um longo período de reclusão assim que foi concluído o processo de impeachment de Dilma Rousseff, e alvo de muitas críticas sobre a condução política num governo que desmoronou sem apoio do Congresso, Mercadante adota hoje um tom moderado e sereno, e ressalta a necessidade de manter o diálogo em curso com “liberais e conservadores” para enfrentar a covid-19. Mas não deixa de demonstrar total perplexidade com o presidente Jair Bolsonaro. “Uma coisa que aprendi na vida pública é que quando você cai num buraco, a primeira coisa que tem que fazer é largar a pá e parar de cavar. A sensação que eu tenho, do Bolsonaro, é que ele largou a pá e pegou uma retroescavadeira”, disse ao Valor.
O Brasil, segundo ele, tem uma situação de fragilidade ímpar porque enfrenta agora quatro crises que se retroalimentam: a de saúde pública, a econômica, a financeira (que virá a seguir) e a política, com a instabilidade constante provocada por Bolsonaro, “um presidente com comportamento insano”, para quem ele até faz uma rima: “o terraplanista sanitário cada vez mais solitário”. Ele diz não saber como as instituições vão equacionar o fator Bolsonaro. “A precariedade deste governo está ficando absolutamente transparente. E não é só a oposição e a esquerda que reconhecem isso. Há setores liberais indignados com essas atitudes do presidente.” Mercadante evita falar sobre articulações políticas em curso e sobre um eventual impeachment de Bolsonaro. Mas deixa claro que há algo novo no ar. “Estamos abertos a dialogar com quem tiver interesse, na academia e fundações partidárias, para buscar respostas. No fundo, é o seguinte: precisamos de uma frente ampla para enfrentar essa crise e sustentar a democracia no Brasil. E precisamos de uma frente de esquerda para mobilizar e defender os setores populares, os direitos, e pensar eleitoralmente o futuro. São níveis de articulação que precisam se complementar.” O foco da FPA, que Mercadante comandará por quatro anos é discutir saídas emergenciais para a crise e, depois, propor alternativas de recuperação econômica. Economista, autor de ideias controversas, como a decisão histórica do PT de se opor ao Plano Real em 1994, ele assegura que há dois caminhos para mitigar os efeitos da catástrofe mundial provocada pelo coronavírus: “É New Deal agora e, na saída saída [quando se iniciar o processo de recuperação econômica], Plano Marshall”.
“Estamos estudando 24 horas por dia, fazendo videoconferências, e oferecendo alternativas ao país. Não é simplesmente ficar fazendo discurso e disputa política. A disputa política sempre vai existir, mas neste momento o que está em jogo é a vida e sobrevivência das pessoas, de empresas e de instituições.” O PT oferece auxílio de seu corpo técnico inclusive para debater saídas com o atual governo, diz Mercadante, citando como exemplo o pagamento emergencial do seguro de R$ 600 para a população mais necessitada. Prestes a completar 66 anos, Mercadante passou os últimos 26 anos acompanhando a realidade social das favelas de Heliópolis, em São Paulo. Ele viu com apreensão o calendário apresentado pelo ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), que prevê o pagamento aos trabalhadores informais e vulneráveis somente a partir do dia 16 de abril. “Estamos totalmente disponíveis para ajudar nisso, na parte técnica. Nossa responsabilidade é essa, solidariedade, e salvar vidas. Precisa fazer online, com agilidade, na ponta.” A maioria das pessoas tem WhatsApp nas periferias, e um comunicado geral sobre cadastro pode ser distribuído pelo governo, sugere. Além do Cadastro Único e dos dados do Bolsa Família, o governo tem como fazer um rápido cruzamento de dados do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) com cadastros de MEI, checando o volume de trabalhadores informais e autônomos.
Logo após o impeachment de Dilma, a fundação criou os Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas (Napps), para cada área de governo. Agora, Mercadante anuncia a criação do Observatório do Coronacrise, destinado a elaborar propostas alternativas de políticas públicas. “Queremos unir a experiência internacional, boas práticas que estão sendo feitas por secretarias estaduais, e tratar mais sobre esse ponto de vista de propostas de políticas públicas inovadoras.” Ele enfatiza o diálogo positivo da oposição com os presidentes Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, ambos do DEM, e enfatiza que a paternidade de projetos, nesta crise, é algo irrelevante, e as construções precisam ser coletivas, algo que o governo federal parece não assimilar. Os dois núcleos com maior demanda atual são os de saúde e economia. No Napps de economia, segundo ele, mais de 50 profissionais estão se reunindo diariamente para debater medidas que seria aplicáveis e necessárias ao Brasil hoje. Além do auxílio emergencial aos informais e mais vulneráveis e à distribuição da merenda escolar mesmo aos que estão sem aulas, há outros dois eixos de ação defendidos pela FPA, diz Mercadante. Um deles é criar uma política agressiva de capital de giro, de R$ 300 bilhões, coordenada pelo Banco Central, aos setores econômicos impactados pela quarentena. As linhas de crédito teriam carência de 24 meses, com 60 meses para pagar, com juros da Selic mais 0,5% de taxa de administração. A outra frente é o programa “Ninguém demite ninguém”, em que o Estado complementa os salários dos trabalhadores, para evitar demissões em massa. O custo do programa seria de R$ 34 bilhões ao mês.
*”‘Bolsonaro cria caos que não existe’”* - O cenário de colapso social, com uma legião de pessoas famintas, sem emprego nem renda, saqueando comércios em meio à pandemia do novo coronavírus, é afastado, neste momento, pelas lideranças dos principais movimentos populares do país. Dirigentes sociais discordam do discurso repetido pelo presidente Jair Bolsonaro, de que a manutenção da quarentena deve gerar o caos social no país, e avaliam que a aprovação do auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais durante três meses, que pode chegar a R$ 1,2 mil por família, dará fôlego momentâneo a 30,5 milhões de pessoas. Os movimentos populares, no entanto, pressionam o governo pela sanção imediata da proposta aprovada pelo Congresso, e pedem celeridade na distribuição dos recursos à população de baixa renda. Líder nacional do MST, João Pedro Stédile diz que a ideia do colapso social é usada pelo presidente para reforçar o temor da população e, dessa forma, pressionar pelo fim do isolamento social. “Não vi nenhum sinal ainda de caos. A população está apreensiva, com medo, mas ainda não existe isso [colapso social]”, afirma. “É um discurso reiterado pelos grupos de direita, que atuam nas redes sociais, para criar um clima de caos que não existe”, diz. Stédile. Na avaliação do líder do MST, o discurso do “colapso social” pode ser usado por Bolsonaro como justificativa para tomar medidas autoritárias. Há duas semanas, o presidente não descartou decretar estado de sítio por conta da epidemia dos casos de covid-19 e disse que “ainda não considera decretar estado de sítio.
Stédile defende a manutenção da quarentena e diz que a população está “disciplinada”, seguindo as orientações dos governadores, de manter o isolamento social. Para o líder do MST, é um falso dilema dizer que é preciso escolher entre salvar a economia ou manter a quarentena, ou seja, salvar vidas. “Esse discurso revela o grau de despreparo e irresponsabilidade do sujeito que infelizmente está ocupando a Presidência”, diz Stédile. “Bolsonaro, com essas atitudes, revela que está completamente isolado da sociedade brasileira e tem que apelar para um discurso populista, rasteiro, para manter aglutinados seus apoiadores nas redes sociais”, afirma. “Não há mais nenhuma voz no mundo todo que tenha a mesma postura e a mesma linha política de Bolsonaro.”
No comando do MTST, Guilherme Boulos diz o país enfrentará o “caos social” se o governo não assumir responsabilidades e se não implementar imediatamente o auxílio de R$ 600 aos mais carentes. “Se demorar alguns dias, terá um forte impacto na população”, diz. “Esse auxílio será uma medida decisiva para evitar o caos”, afirma. O líder dos sem-teto cobra outras medidas para garantir a seguridade social e ações do governo federal para preservar empregos e a renda dos trabalhadores. O auxílio de R$ 600 para os trabalhadores informais foi definido pelo Congresso, apesar de o governo ter defendido que o benefício fosse de R$ 200. “É claro que o efeito que o isolamento social tem na economia coloca milhões de pessoas no desespero. Mas não existe essa história de ou você morre de fome ou morre com a covid-19”, afirma. “Se o governo federal cumprir com sua responsabilidade social, apesar de Bolsonaro, não vai ter o caos social, nem os saques por desespero da população”, afirma Boulos. “A aposta no colapso social é para quem busca uma saída autoritária”, diz Boulos, que concorreu pelo Psol contra Bolsonaro na disputa presidencial de 2018.
Com atuação nas periferias de grandes centros urbanos, o líder da Central dos Movimentos Populares, Raimundo Bonfim, também reforçou a defesa do isolamento social como uma das medidas para combater a pandemia do novo coronavírus. “O presidente está apostando no caos, com uma preocupação das pessoas que é a falta de renda e de emprego. É irresponsável fazer esse jogo de ter que escolher se vai morrer de fome ou contaminado pelo vírus. Ele induz as pessoas que estão com medo a voltar ao trabalho”, diz Bonfim. ‘ A situação econômica é realmente preocupante, mas temos que evitar a contaminação em massa e dar tempo para que o sistema de saúde possa ser estruturado”, diz. Movimentos populares lançaram a campanha “Bolsonaro paga já”, para pressionar o governo a sancionar o projeto que prevê o auxílio e pagar os trabalhadores. “Esse auxílio não resolve o problema, mas já alivia”, diz Bonfim. “E o governo tem que pagar agora, porque muitas famílias não têm mais um centavo.”. As frentes de esquerda Brasil Popular e Povo Sem Medo, junto com mais de 70 movimentos populares, divulgaram uma cartilha com propostas para combater as crises social e econômica decorrentes da epidemia do coronavírus. Junto com partidos de centro-esquerda, os movimentos sociais e entidades buscam construir pontes com partidos de centro e de direita para fazerem frente a Bolsonaro. Em comum, lideranças sociais avaliam que o presidente tornou-se o “principal obstáculo” no combate à pandemia, mas afirmam não há apoio político neste momento para o impeachment, além de ser um processo demorado. “Mas há outras saídas jurídicas, como a cassação da chapa de Bolsonaro pela Justiça Eleitoral e o acolhimento de notícia-crime contra o presidente pelo Supremo”, diz Boulos. Stédile diz que é preciso “encontrar alguma forma jurídic” para que o presidente deixe o governo. “Já existe um clima de tentar construir a transição para um governo de ‘salvação nacional’, que tenha a responsabilidade política de unir a sociedade e tenha como pauta primeiro salvar o povo, a saúde, depois reorganizar a economia, para ter emprego e renda.”
*”Cresce temor de lenta retomada após crise”* - Cresce entre os economistas a percepção de que a recuperação após a crise do coronavírus não será rápida, como muitos ainda esperam
*”EUA avaliam pacote para a infraestrutura de US$ 2 tri”* - O presidente dos EUA, Donald Trump, lança a proposta por mais um pacote dias antes do anúncio dos novos pedidos de seguro-desemprego, que deve dobrar para um novo nível recorde nesta semana
*”Casa Branca espera até 240 mil mortes nos EUA”*
*”Italianos começam a sentir fadiga do isolamento”* 
- Um mês depois da primeira experiência de um rígido distanciamento social na Europa, os italianos começam a sentir as consequências sociais e econômicas das medidas de confinamento
*”Espanha proíbe despejo por falta de pagamento”* - As novas medidas visam proteger os desempregados, trabalhadores afastados temporariamente, autônomos de baixa renda, profissionais que perderam contratos de curto prazo e trabalhadores domésticos

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