quarta-feira, 22 de abril de 2020

Análise de Mídia 22/04

DOS JORNAIS DE HOJE: O fato que transparece como o mais importante para os jornais é a autorização do STF para abertura do inquérito sobre as manifestações contra a democracia que ocorreram no último domingo. Folha e Estadão mostram que há divergências entre juristas sobre se Bolsonaro deveria ser alvo da investigação ou não. A Coluna do Estadão indica que o ministro Alexandre Moraes estaria com “sangue nos olhos” para conduzir as investigação e que esta acabaria se cruzando com o inquérito que já está em andamento sobre fake news e discurso de ódio relacionados ao STF.
O Valor Econômico entrevista o presidente do Clube Militar que minimiza a participação de Jair Bolsonaro na manifestação em Brasília. Ele minimiza até as manifestações, mas diz não colocar a mão no fogo por ninguém. O presidente do Clube Militar parece pensar da mesma forma que a ala militar do governo, que Bolsonaro vem sendo cerceado pelos demais Poderes. O que eles não parecem entender é o que é a democracia, não se trata apenas de obter mais votos nas eleições.
Reportagem da Folha de S. Paulo chama atenção para a aparente mudança de postura do PGR diante do governo Jair Bolsonaro. Já o Estadão informa que o governo federal estaria negociando com o centrão para conseguir ter um nome alinhado como próximo presidente da Câmara. O jornal ainda destaca a falta de testes que já foram prometidos pelo Ministério da Saúde e a difícil situação de povos indígenas diante da epidemia. Sobre os indígenas, o Valor informa que a Comissão Arns enviou uma carta para Sergio Moro solicitando que o ministro da Justiça tome alguma atitude urgente. O Valor Econômico também publica reportagem sobre as demissões na indústria e como os empresários se dizem desamparados pelo governo e por bancos.
 
CAPA – Manchete principal: *”STF autoriza apuração de ato pró-golpe a que foi Bolsonaro”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Resposta a Bolsonaro”*: Fez bem o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, em autorizar a abertura de inquérito para apurar a ocorrência de crimes contra a segurança nacional durante manifestação em que se defendeu intervenção militar no domingo (19), em Brasília. O ato, que contava com a participação de não mais que algumas centenas de energúmenos, ganhou repercussão porque o presidente Jair Bolsonaro aproveitou a ocasião para, em frente ao quartel-general do Exército, fazer um discurso de sotaque golpista com insinuações contra o Congresso. A investigação é oportuna. Mesmo que não resulte em processo, o que ora parece mais provável, demonstra ao presidente e a seus acólitos que as instituições estão prontas a reagir com destemor a investidas autoritárias. O procurador-geral da República, Augusto Aras, evitou citar Bolsonaro no pedido de investigação. Limitou-se a mencionar “atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF”. A ausência do nome do chefe de Estado, cuja presença na manifestação foi ostensiva, é eloquente.
O fato de a conduta do mandatário não constar do documento não significa que ele esteja imune à apuração. Se for constatada sua participação em delitos, o inquérito poderá dar origem a um processo por crime comum —além de servir de subsídio a um eventual pedido de impeachment. Em ambas as hipóteses, para que os processos avancem, é necessária a autorização da Câmara dos Deputados, por maioria de dois terços de seus membros. Em caso de impeachment, o julgamento cabe ao Senado; tratando-se de infração penal comum, ao Supremo. Em tese, o inquérito vai averiguar se houve violações a dispositivos de defesa do Estado que constam da famigerada Lei de Segurança Nacional, por meio da qual o regime militar processou opositores. Merecem destaque o artigo 17, que coíbe tentativas de “mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”, e o 23, que criminaliza o incitamento à subversão da ordem política. Aqui cabe, decerto, uma interminável discussão sobre se as ações de Bolsonaro efetivamente se encaixam nesses dispositivos e se eles próprios não são inconstitucionais, ao limitar demasiadamente o princípio da liberdade de expressão. Não deixa de ser irônico, de todo modo, que um notório admirador da ditadura agora se veja às voltas com a lei dos tempos de arbítrio.
PAINEL - *”Prefeito de Manaus chora, pede ajuda e diz que Bolsonaro tem de ser presidente de verdade e respeitar coveiros”*: O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM​), diz que a capital do Amazonas já não vive uma emergência, mas um estado de calamidade. A cidade tem, até o momento, 1.809 casos de contaminação pelo coronavírus, além de 163 óbitos. O estado tem taxa de ocupação de 91% de seus leitos de UTI, cálculo que Virgílio considera exageradamente otimista. O tucano revela ao Painel uma outra conta com a qual ele afirma ter ficado assombrado: no domingo (19), 17% (ao menos 20 indivíduos) das 122 pessoas enterradas em Manaus morreram em suas casas. Na segunda (20), a taxa subiu para 36,5% (ao menos 38 pessoas) dos 106 mortos. "São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho? ", diz. "Estamos em ponto de barbárie." Nem todos os casos de mortos citados pelo prefeito receberam até o momento a confirmação de terem relação com o coronavírus. No entanto, Virgílio afirma acreditar que, sim, a contaminação pelo Covid-19 seria o motivo.
Virgílio reuniu-se nesta segunda-feira (20) com o vice-presidente, Hamilton Mourão, para apresentar as demandas da cidade na pandemia. Pediu aparelhos de tomografia, profissionais treinados, equipamentos de proteção individual e remédios. "O Tamiflu (nome comercial do oseltamivir) estamos dando contado", diz. "O Amazonas pede socorro. SOS Amazonas. Aceitamos voluntários, médicos, aparelhos que estejam em bom funcionamento ou novos", completa. Ele afirma que escreverá uma carta aos líderes do G20 solicitando ajuda. Virgílio diz ter aproveitado o encontro para desabafar contra Jair Bolsonaro. Ele, cujo pai, o senador Arthur Virgílio Filho, teve o mandato cassado pela ditadura militar, revoltou-se com a presença do presidente no ato pró-golpe militar de domingo (19).
"Não podia deixar de condenar o presidente participar de um comício, aglomerando, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, cassou Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país", diz. "É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a Organização Mundial da Saúde e os esforços que fazem governadores e prefeitos", afirma Virgílio. "Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas." Segundo Virgílio, Mourão ouviu calado. Horas depois do desabafo, Bolsonaro voltaria a incomodar o prefeito ao dizer que não é coveiro após ter sido perguntado pela Folha sobre o número aceitável de mortes por coronavírus. "Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros", afirma Virgílio. Ao falar sobre esses funcionários, começou a chorar.
"Não fui criado sob essa lógica do 'homem não chora'. Nessa crise tem acontecido isso. Às vezes, consigo controlar. Não que precisasse controlar. Muitas vezes, não consigo", afirma. Sobre as valas que têm sido abertas pela prefeitura para comportar o aumento do número de corpos, o prefeito diz que estão sendo usadas retroescavadeiras para dar conta do serviço. "Tem ali o retrato da família, põe o retrato da pessoa para poder ser homenageada em 2 de novembro [dia de finados], para não ficar aquela coisa que me lembra a ditadura militar, em que a família sabe que morreu mas não sabe onde está o corpo. É um trabalho incessante para evitar o caos funerário", diz Virgílio. Segundo ele, os caixões serão colocados próximos uns aos outros, "bem juntos", mas ressalta que haverá separação entre as valas.
PAINEL - *”Meirelles defende abertura selecionada, e diz que reabrir e depois fechar é péssimo para a economia”*
PAINEL - *”China pede inspeção, segura carga e atrasa chegada de 17 milhões de máscaras no Brasil”*: A aduana chinesa atrasou o cronograma do governo brasileiro, que previa receber nesta terça (21) voo fretado com materiais hospitalares para o combate ao coronavírus. A China quer inspecionar um lote de 5 milhões de máscaras antes de enviar uma carga de 17 milhões de unidades ao Brasil, com o argumento de que precisa conferir a qualidade do material. A previsão do Ministério da Infraestrutura é que a inspeção seja feita nesta quarta (22), com a liberação da carga para embarque. Os aviões fretados pelo Brasil já estão na China, à espera dos produtos.
PAINEL - *”Arrecadação derrete em Goiás durante isolamento, mas faturamento do agronegócio aumenta”*
PAINEL - *”Ministros reduzem uso de aviões da FAB durante pandemia do coronavírus”*
*”STF autoriza apuração de ato pró-golpe militar que teve participação de Bolsonaro”* - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de inquérito para investigar as manifestações realizadas no último domingo (19). O pedido de investigação foi feito na segunda-feira (20) pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. O objetivo de Aras é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por "atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF". “O Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, afirmou o procurador-geral, sem citar o presidente Jair Bolsonaro, que também participou de ato em Brasília. Interlocutores do procurador-geral afirmam que, inicialmente, Bolsonaro não será investigado. Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizar as manifestações, ele pode vir a ser alvo do inquérito. A Lei de Segurança Nacional a que se refere o procurador-geral foi sancionada em 1983 e tipifica crimes que podem ser cometidos contra a ordem política e social. A legislação prevê crimes que lesam a “integridade territorial e a soberania nacional”; o regime representativo democrático”; e “a pessoa dos chefes dos Poderes da União”. Entre as penas, há a previsão de 3 a 15 anos de prisão para quem tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, o “regime vigente ou o Estado de Direito”. A lei também estabelece 1 a 5 anos de reclusão para quem integrar qualquer “agrupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente por meios violentos ou com emprego de grave ameaça”. ​
Em sua decisão, segundo nota divulgada pelo tribunal, Moraes cita a Constituição e salienta que, como descrito pelo PGR, "revela-se gravíssimo, pois atentatório ao Estado Democrático de Direito brasileiro e suas Instituições republicanas". "São inconstitucionais, e não se confundem com a liberdade de expressão, as condutas e manifestações que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático", afirma o ministro do Supremo. "Também ofendem os princípios constitucionais aquelas que pretendam destruí-lo, juntamente com instituições republicanas, pregando a violência, o arbítrio, o desrespeito aos direitos fundamentais. Em suma, pleiteando a tirania", completa Moraes. Ainda de acordo com a decisão de Moraes, a investigação irá apurar a "existência de organizações e esquemas de financiamento de manifestações contra a democracia e a divulgação em massa de mensagens atentatórias ao regime republicano, bem como as suas formas de gerenciamento, liderança, organização e propagação que visam lesar ou expor a perigo de lesão os direitos fundamentais, a independência dos Poderes instituídos e ao estado democrático de direito, trazendo como consequência o nefasto manto do arbítrio e da ditadura".
No pedido ao STF, a PGR cita que os organizadores das manifestações podem ser enquadrados no artigo 23 da Lei de Segurança Nacional. O trecho da legislação fixa pena de 1 a 4 anos de prisão a quem incitar "a subversão da ordem política ou social” e a “luta com violência entre as classes sociais” ou a quem estimular a animosidade entre as Forças Armadas e a sociedade. A PGR afirma que a reedição do AI-5, “ato institucional que endureceu o regime militar no país”, foi uma das pautas dos protestos. Também ressalta que a Procuradoria pretende apurar “fatos em tese delituosos” e que a “investigação refere-se a atos realizados em todo país”. As informações foram divulgada por meio de nota. ​Além disso, a PGR acredita que os manifestantes podem responder pelo artigo 22 da lei, que prevê a reclusão de 1 a 4 anos para quem fizer propaganda em público de processos violentos ou ilegais para alterar ordem política social. Na visão de pessoas ligadas a Aras, a investigação também pode revelar a prática descrita no 16 da Lei de Segurança Nacional. Trata-se do trecho da legislação que prevê pena de 1 a 5 anos de prisão a quem integrar “partido, comitê, entidade ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça”.
*”Entenda investigação de ato pró-golpe militar que teve participação de Bolsonaro”*
ENTREVISTA - *”Cabe às instituições corrigir rumos do barco à deriva, diz presidente da OAB sobre Bolsonaro”*
*”Ala militar nega golpismo, mas apoia Bolsonaro no embate com Poderes”* - A ala militar do governo negou às cúpulas do Congresso e do Judiciário haver qualquer risco de ruptura democrática por parte de Jair Bolsonaro, mas também fez questão de dizer que considera que os Poderes têm agido de forma a cercear o presidente na crise do coronavírus. A impressão foi registrada pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Os três conversaram com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, ao longo do domingo (19). Naquele dia, Bolsonaro decidiu após almoçar com os filhos ir encontrar manifestantes pedindo intervenção militar e edição de "um AI-5" em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. A cena foi desenhada para chocar o mundo político e supor o apoio dos militares ao governo e a eventuais arroubos autoritários do presidente. Ato contínuo, Toffoli procurou Azevedo, que já foi seu assessor e com quem mantém interlocução frequente. Tanto o ministro do Supremo como os presidentes das Casas do Congresso, em telefonemas separados, cobraram um posicionamento das Forças Armadas. Azevedo é um ponto de contato tanto com os militares dentro do governo quanto com o oficialato da ativa, de quem é superior hierárquico. Ouviram a negativa de intenções golpistas e a promessa de que Bolsonaro iria baixar o tom, o que de fato aconteceu na manhã seguinte. Além disso, o próprio general Azevedo divulgou nota reiterando o comprometimento das Forças Armadas com a Constituição e priorizando o combate ao coronavírus "e suas consequências sociais" —uma deixa não casual, alinhada à ênfase que Bolsonaro faz do impacto econômico da pandemia.
Os interlocutores do ministro da Defesa compreenderam que a ala militar do governo não reprova a irritação de Bolsonaro, ao contrário. Isso alarmou atores políticos em Brasília, que passaram a segunda trocando impressões sobre quais podem ser os próximos passos da crise. Na avaliação dos fardados do governo, o Congresso tem agido sistematicamente contra Bolsonaro, tolhendo suas iniciativas. O Supremo também colabora com o clima de cerco ao Planalto com suas decisões em prol dos governadores e prefeitos na emergência sanitária. A visão do presidente na crise vai além: o mandatário máximo acha que estados, liderados por São Paulo do rival João Doria (PSDB), estão aliados a Maia e a setores do Supremo para buscar seu impedimento. Isso o fez subir o tom no domingo, como de resto já previam adversários políticos ao analisar seu isolamento na crise. Se a ala militar foi compreensiva com o gesto do chefe, o mesmo não se pode dizer da ativa das Forças Armadas. Alguns membros do Alto Comando do Exército, usualmente simpáticos a Bolsonaro, se disseram chocados com o uso simbólico do QG da Força para o proselitismo do presidente. Assim, é possível dizer que o delicado equilíbrio entre um governo loteado por militares e os fardados da ativa sofreu um abalo significativo. A defesa constitucional feita por Azevedo foi pactuada para acalmar ânimos, mas as fissuras devem continuar.
Do lado dos Poderes, há diferenças de tons. Na romaria de políticos à casa de Maia na noite de domingo, depois negada pelo presidente da Câmara, mais de um dos presentes observou que o deputado estava mais incomodado do que Alcolumbre com a escalada da crise. Isso se explica porque Maia foi eleito o alvo preferencial das redes bolsonaristas em seu protestos. Mas também há, subjacente, a intenção presumida de Alcolumbre de sair da sombra do politicamente mais denso colega da Câmara. Já Toffoli, que viu outros ministros se manifestarem contra Bolsonaro no domingo, só fez uma fala sobre o episódio na segunda, quando a situação estava mais clara. Marcou posição, mas como é o árbitro final de muitos conflitos que ainda podem surgir, deverá manter o perfil mais discreto. Para um participante das tratativas do domingo, a inflexão da ala militar precisa ser acompanhada de perto. Desde que recuperou prestígio no governo, no começo do ano, ela servia mais de anteparo ao radicalismo de Bolsonaro do que de amplificador de crises. Do ponto de vista institucional, todos parecem convencidos de que não há riscos reais de ruptura, até porque o presidente não tem força para isso —não há amplo apoio social, empresarial ou de militares a quaisquer aventuras. Mas também é claro o método de Bolsonaro em seus flertes autoritários. O presidente faz um gesto, é repreendido e modera o tom no dia seguinte. Mas a corda foi esticada mais alguns centímetros. Na opinião desse político, se o presidente se sentir amparado pelos militares do governo, novos episódios são inescapáveis. Com o agravante de que os elementos de mediação evaporam aos poucos.
ELIO GASPARI - *”O presidente virou vivandeira”*
*”Alvo de ataques internos, Aras muda de tom sobre pandemia”* - Com uma escalada de críticas que partem de dentro do Ministério Público Federal, o procurador-geral da República, Augusto Aras, tem se equilibrado entre a pressão de seus pares para agir contra ações controversas do presidente Jair Bolsonaro e a resposta que tem dado às demandas para não ser acusado de omissão. Na segunda-feira (20), Aras pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de inquérito para investigar as manifestações do domingo (19) que pediram intervenção militar, o que foi acatado pelo ministro Alexandre Moraes. A solicitação mira os organizadores dos atos, mas deixa de fora Bolsonaro. Segundo pessoas próximas a Aras, ele não viu no discurso presidencial elementos que pudessem ser questionados como referendo a intervenção militar. Para uma ala de procuradores, o gesto de ir à manifestação poderia levar o presidente a responder por agir contra políticas de saúde. Mas já houve questionamento interno sobre esse tema quando Bolsonaro foi a outros protestos semanas atrás, e Aras argumentou que o presidente estava exercendo sua liberdade de expressão.
No domingo, até ministros do Supremo avaliaram que o procurador-geral não poderia ficar inerte aos atos pró-golpe. Os ministérios públicos federais no DF e em outros estados também haviam proposto investigação sobre os atos. Integrantes do MPF avaliam que Aras agiu no limite de sua atribuição para também não ser acusado de omissão. Aras tem tido embates com seus pares por arquivar pedidos de providências contra declarações de Bolsonaro na pandemia. Ele foi indicado pelo presidente ao cargo em 2019, sem disputar eleição interna da categoria na qual se forma uma lista tríplice de nomes sugeridos ao Planalto. Na semana passada, ele já havia mudado de tom sobre o combate à pandemia e buscou usar o apoio dos ministérios públicos dos estados e de outros braços do MPU (Ministério Público da União) para demonstrar força. No dia 13, enviou ao ministro do STF Luís Roberto Barroso um parecer sugerindo que a decisão sobre a quarentena deveria ser tomada pela União e que o Judiciário não poderia interferir nas medidas. Afirmava que não é possível determinar o grau de isolamento social adequado contra a disseminação do vírus. Dois dias depois e ante forte reação interna, mudou de tom: defendeu claramente a competência de prefeitos e governadores para decretar a quarentena e não questionou a eficácia da diretriz de que a população fique em casa. Auxiliares do chefe do MPF afirmam que não houve recuo. Segundo esses interlocutores, na semana anterior ele já havia se manifestado ao Supremo com a mesma análise de que as medidas cabiam a cada estado e município. Os dois pareceres com tons distintos na mesma semana, porém, foram lidos como tentativa de marcar posição, evitar derrotas no STF e amainar as críticas da classe. A manifestação do início da semana passada foi enviada em resposta a uma ação que questiona uma campanha do governo federal pregando o fim das quarentenas. O trecho considerado mais polêmico, porém, foi um que relativizou a eficácia do distanciamento social. O procurador escreveu que as “incertezas que cercam o enfrentamento” do coronavírus por todos os países “não permitem um juízo seguro quanto ao acerto ou desacerto de maior ou menor medida de isolamento social”.
Aras avançou dizendo que essas medidas “dependem de diversos cenários não só faticamente instáveis, mas geograficamente distintos, tendo em conta a dimensão continental do Brasil”. A manifestação foi interpretada como um gesto político de Aras porque encontra respaldo no discurso de Bolsonaro e contraria medidas defendidas pelo próprio comitê criado na PGR para analisar o combate à Covid-19. Após as críticas, o PGR enviou outra manifestação ao STF numa liminar concedida por Moraes que proíbe a União de barrar ações adotadas por estados e municípios. Nesse caso, ele concordou com o ministro, afirmou que o Executivo federal não tem poderes para minar ações de outros entes e não relativizou a eficácia do isolamento. Para integrantes do MPF, as manifestações com tons distintos são resultado da constatação de Aras de que sua posição anterior não encontraria respaldo no STF e passava sinalização ruim à categoria. Outro ponto de choque entre Aras e seus pares foi seu pedido para ministérios do Executivo devolverem à PGR, sem resposta, eventuais recomendações feitas por procuradores de outras instâncias. A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) estuda entrar com representação contra Aras no STF por entender que a atitude pode ferir a independência funcional do MPF nos estados e dos órgão estaduais. As variações no seu discurso frearam essa ofensiva, por ora. Em outra frente, o procurador articulou com o presidente do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais, Paulo Passos, uma carta pública com elogios à condução da PGR divulgada na quinta-feira (16).
Compõem o conselho os 26 procuradores-gerais de Justiça, além dos chefes do Ministério Público Militar, do Ministério Público do Trabalho e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. A ideia da carta surgiu de um grupo de procuradores-gerais, que, vendo a ofensiva contra Aras, avaliaram que poderiam apoiá-lo. Aras foi avisado da iniciativa e, segundo relatos, ajudou a construir o texto, que diz que ele “age de forma democrática e responsável, ponderada” com interlocução com os signatários da nota. Também fez questão de dar ampla divulgação ao documento, para mostrar força diante de seu isolamento no MPF. Para os integrantes dos outros braços do MPU e estados, é útil manter bom diálogo com Aras porque ele pode garantir recursos e poder. Ele nomeou para a Secretaria-Geral do Conselho Nacional do Ministério Público o ex-procurador-geral militar Jaime de Cassio Miranda, em gesto ao MPU. Também tem buscado acomodar cada vez mais integrantes dos órgãos estaduais na estrutura do órgão.
CONRADO HÜBNER MENDES - *”A democracia não é para sempre, e a revolução autoritária não será promulgada”*
*”Estados mais afetados, como SP e RJ, são menos transparentes em gastos com pandemia”*
*”Trump suspende emissão de green card por 60 dias e restringe imigração nos EUA”*
*”Brasil segue EUA e deixa de apoiar medida da ONU de cooperação contra coronavírus”* - A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, na noite desta segunda-feira (20), um acordo de cooperação internacional que visa garantir o acesso global a medicamentos, vacinas e equipamentos médicos para enfrentar a pandemia de coronavírus. Apenas Brasil, Estados Unidos e outros 12 países, entre os 193 membros da ONU, deixaram de patrocinar a resolução. Normalmente, os países votam as resoluções durante encontros promovidos pelo órgão. Devido à pandemia, a assembleia mudou as regras de votação e agora faz circular um rascunho do documento entre os Estados-membros. Se um único país apresentar objeções à resolução dentro do prazo de avaliação, ela é derrubada. Cada país pode endossar a proposta como patrocinador ou copatrocinador. Países que não escolhem uma dessas opções mas também não apresentam objeções à resolução estão, em tese, apoiando o texto. Na prática, entretanto, deixar de expressar uma posição clara sobre a questão demonstra falta de entusiasmo pela causa. Neste momento de pandemia de coronavírus, entretanto, de acordo com diplomatas ouvidos, a posição representa uma aceitação de mau grado. A Folha apurou que esse foi o caso do Brasil. O texto da resolução, apresentada à Assembleia Geral pelo governo do México, "reafirma o papel fundamental" da ONU na coordenação de uma resposta global à pandemia e "reconhece o papel de liderança crucial desempenhado pela Organização Mundial da Saúde".
Na semana passada, o presidente americano suspendeu os repasses feitos à instituição. Na ocasião, o líder do país que hoje lidera o ranking em número de casos e de mortes causadas pelo coronavírus disse que o órgão "falhou em seu dever básico e deve ser responsabilizado". Trump disse ainda que a organização promoveu desinformação criada pela China sobre o vírus –o que, segundo o republicano, provavelmente levou a um surto maior do que o previsto. Endossar neste momento a resolução da ONU seria, então, uma medida contraditória. Apesar de os EUA não terem apresentado objeções à resolução adotada nesta segunda, a Folha apurou que o país buscou uma articulação com outros Estados-membros para não ser o único a deixar de endossar a resolução. O Brasil foi um dos convocados para aderir a essa coalizão. A Venezuela, os EUA e o Brasil são os únicos países das Américas a não patrocinar o projeto. O presidente Jair Bolsonaro também já teve rusgas com a OMS. Em março, ele tirou de contexto fala do diretor-geral da organização, afirmando que Tedros Adhanom Ghebreyesu tinha voltado atrás em suas posições e defendido que as pessoas "têm que trabalhar", contrariando assim as recomendações de distanciamento social.
A frase completa de Tedros, na ocasião, foi: "Cada indivíduo é importante, cada indivíduo é afetado pelas nossas ações. Qualquer país pode ter trabalhadores que precisam trabalhar para ter o pão de cada dia. Isso precisa ser levado em conta". O alinhamento entre Brasil e Estados Unidos frente à resolução da ONU por cooperação internacional é mais um dos episódios em que as posturas de Bolsonaro e Trump em relação ao coronavírus apresentam semelhanças. Ambos estão em conflito com governadores estaduais, defendem a reabertura da economia em um prazo que especialistas apontam como prematuro e perigoso e minimizaram a gravidade da pandemia em suas primeiras semanas —Bolsonaro continua nesta toada. Procurado pela Folha, o Ministério das Relações Exteriores disse que o Brasil se "uniu ao consenso" dos demais Estados-membros para demonstrar apoio ao texto apresentado. "Informamos que a referida resolução foi aprovada por procedimento silencioso, sem objeção da delegação brasileira, que acompanhou o consenso dos demais países", disse, em nota, o Itamaraty. Além de Brasil, EUA e Venezuela, Austrália, Coreia do Norte, Eslovênia, Gabão, Hungria, Irã, Paquistão, República Democrática do Congo, Romênia, Rússia e Somália também não patrocinaram a resolução da ONU. Nenhum dos países apresentou objeções ao projeto.
*”Com letalidade 10 vezes a da Covid-19, ebola persiste na República Democrática do Congo”*
*”Brasil cai em ranking mundial de liberdade de imprensa pelo 2° ano seguido”*
*”Kim Jong-un se recupera após procedimento cardiovascular, diz site”*
*”Considerada exemplo, Singapura vê casos de coronavírus dobrarem em 2ª onda”*
*”Quase 500 funcionários do palácio presidencial da Índia entram em isolamento”*
*”Presidente do Afeganistão se isola após dezenas de funcionários receberem diagnóstico de Covid-19”*
*”Por ajuda a estados, senadores aceitam congelar salário de servidor por 2 anos”* - Líderes do Senado são favoráveis ao congelamento por dois anos de salário de servidores públicos em troca da aprovação de ajuda financeira da União a estados e municípios. Governo e Senado articulam um novo projeto de lei para socorrer os entes durante a crise do coronavírus. Concursos públicos ficariam suspensos pelo mesmo período. As negociações encabeçadas pelo ministro Paulo Guedes (Economia) e pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), buscam um meio-termo na disputa com a Câmara. A ideia do governo é engavetar o texto aprovado pelos deputados, que não tem contrapartidas de estados e municípios. O projeto foi articulado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com governadores.
Pelo texto aprovado, o governo estima impacto de mais de R$ 200 bilhões para cobrir o rombo com a queda de ICMS (imposto estadual) e ISS (imposto municipal). Maia diz que serão R$ 89,6 bilhões. Para tentar barrar o plano da Câmara, Guedes apresentou aos senadores contraproposta de R$ 127,3 bilhões. Isso inclui R$ 49,9 bilhões com medidas já adotadas e R$ 77,4 bilhões em novas ações. Na segunda-feira (20), o ministro disse que poderia ampliar o plano do governo. Para isso, o Senado teria de aprovar o congelamento de salários do funcionalismo. Apesar da promessa, técnicos da economia veem pouco espaço para que esse auxílio financeiro seja expandido. Desde domingo (19), Guedes tem feito ligações a líderes do Senado. Na segunda-feira (20), ele se reuniu com Alcolumbre e, em pelo menos duas ocasiões, o presidente Jair Bolsonaro esteve presente. De acordo com o líder do PSD, Otto Alencar (BA), partido com a segunda maior bancada no Senado, só atrás do MDB, a conversa com Guedes tem sido na linha de beneficiar todos os estados. Para ele, o plano da Câmara ajuda estados com dívidas elevadas com a União, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. “Na Bahia, por exemplo, a dívida é pequena. Não dá para comparar com São Paulo e Rio de Janeiro. Esses estados já se beneficiaram, os outros não”, afirma.
Após conversar com Guedes, Alencar se propôs a redigir a parte do texto no novo projeto que impede o reajuste salarial para servidores públicos pelos próximos dois anos, desde que o governo federal cumpra com a proposta feita de aumentar a ajuda aos estados. “Podemos colocar um parágrafo único, dizendo que, enquanto houver recuo do PIB (Produto Interno Bruto), não terá aumento de salário. Se tem redução do PIB, qualquer governador não poderá dar aumento salarial porque não terá recurso”, disse. Com contrapartidas, senadores já conversam com governadores para conseguir apoio. “O Senado está trabalhando para construir um texto que atenda melhor os estados, obviamente [é] esse projeto que está sendo construído em conjunto [com o governo]. Sendo aprovado no Senado, os governadores vão pedir para a Câmara votar”, disse a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no Senado, Simone Tebet (MDB-MS). Para o líder do MDB na Casa, Eduardo Braga (AM), o projeto que veio da Câmara já não existe mais no Senado. Ele defendeu a busca por convergência. “O Davi já matou o projeto da Câmara quando ele apensou ao do [Antonio] Anastasia [PSD-MG]. Vai vir um novo projeto, e o congelamento de salários vai acontecer”, afirmou. “Não tem como o governo repassar recurso para os estados em uma pandemia e os governadores fazerem reajuste salarial. Todos precisam cumprir limites enquanto estivermos nesta calamidade.”
A pressa dos senadores agora é para conseguir consenso no texto para que ele seja votado até o próximo dia 30. Desse forma, ajudariam os estados a não virar o próximo mês com as contas no vermelho. “Hoje, nem que seja por medida provisória ou por um novo projeto de lei, alguma ajuda precisamos conceder aos estados. Não podemos passar do dia 1º de maio para termos uma votação porque os estados não vão conseguir fechar as contas do mês”, disse o líder do PP no Senado, Esperidião Amin (SC). A disputa entre Câmara e equipe econômica se deu em torno do repasse direto da União para estados e municípios, o que tem impacto no Orçamento. O Ministério da Economia vem tentando limitar essa medida para que o rombo das contas públicas não cresça ainda mais em 2020. O texto que ainda será discutido no Senado terá de voltar para a Câmara, que dará a palavra final sobre a ajuda aos estados e municípios.
PAINEL S.A. - *”Maia tenta derrubar ideia de obrigar empresários a emprestar dinheiro”*
PAINEL S.A. - *”Comércio pressiona Doria para reabrir no dia 1º de maio”*
*”Revogação do Emprego Verde e Amarelo cria insegurança jurídica”* - A revogação da Medida Provisória 905, que criou o Emprego Verde e Amarelo, deixa os trabalhadores com esse tipo de contrato em situação de insegurança jurídica. A regra que permitiu a contratação de jovens de 18 a 29 anos a um custo menor para as empresas vigorou entre os dias 11 de novembro do ano passado e esta segunda-feira, 20 de abril. A MP perderia a validade no fim do dia e foi revogado pelo presidente Jair Bolsonaro após o Senado indicar que não votaria o texto. Considerada uma minirreforma trabalhista, a medida provisória dava desoneração parcial da folha de pagamentos, pois não havia recolhimento de contribuição previdenciária ao INSS e o percentual pago ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), ao invés dos 8% obrigatórios, ficaria em 2%. O assessor jurídico da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo), Eduardo Pastore, diz que a revogação da medida –que perderia a validade nesta segunda- deixa insegurança jurídica grande para quem contratou trabalhadores pelas regras do programa.
“Tecnicamente, enquanto ela estava em vigência, teve força de lei. Sabemos que o presidente não pode reeditar com o mesmo texto, então não sabemos ao certo como fica a situação agora. É o tipo de situação que deixa muitas dúvidas”, afirma. A advogada Letícia Ribeiro, sócia da área trabalhista do Trench Rossi Watanabe, diz que os contratos estão em um limbo jurídico e, por isso, devem ser encerrados pelas empresas. “Esses contrato foram assinados sob regras que não existes mais, como a questão do FGTS reduzido”, afirma. Para a especialista, a MP, ao perder a validade, seja porque foi revogada ou porque não teve a votação concluída, anula o efeito para os contratos já firmados. Para Ricardo Calcini, professor de direito do trabalho na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), no entanto, todos os contratos firmados nas regras do contrato Verde e Amarelo estão seguros pela validade provisória da MP e seguirão vigentes até a data em que eram previstos. “Tudo o que foi pactuado no período mantém a validade, pois a medida provisória é uma espécie normativa e, enquanto produziu efeitos, foi considerada lei”, diz. O especialista diz que somente um decreto legislativo poderia regular essa aplicação, mas ressalta que não há tradição nesse tipo de medida. “Isso dificilmente vai acontecer, ainda mais neste momento”, afirma.
Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou, em sessão realizada de maneira remota, fora do plenário, um texto modificado, um pouco menor do que o enviado pelo governo no ano passado, mas que ainda alterava 19 leis ordinárias, além da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Não houve tempo ou clima político para a votação no Senado. O presidente Jair Bolsonaro prometeu o envio de outra medida com validade durante a pandemia do novo coronavírus. A MP 905 teve amplo apoio das entidades patronais, como CNC (Confederação Nacional do Comércio) e CNI (Confederação Nacional da Indústria). Em São Paulo, a Fiesp (federação das indústrias) divulgou nota na sexta-feira (17) com um apelo pela conclusão da votação na data final. Pastore, da FecomercioSP, diz que que o país perde grande oportunidade de geração de empregos a um custo menor para as empresas. Além disso, afirma que outros pontos incluídos no texto, como a liberação ampla para o trabalho aos domingos, dava flexibilidade às decisões dos empresários. “Sentimos muito por o Congresso não ter convertido a medida em lei. É uma perda muito grande, pois o contrato Verde e Amarelo tinha uma redução significativa de encargos sociais”, diz. Procurado por duas vezes, em fevereiro e na semana passada, a Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, informou não saber quantos contratos foram firmados sob a regra da MP 905.
*”Mais de 5 milhões vão receber o auxílio emergencial nesta quarta”*
*”Acordo para pagar perdas da poupança nos planos econômicos é prorrogado por cinco anos”*
*”Indústria pediu que Doria sinalizasse flexibilização da quarentena”* - A proposta para a flexibilização da quarentena imposta para conter o novo coronavírus no estado de São Paulo começou a ser gerida pelo governador João Doria (PSDB-SP) na semana passada. Na última quarta-feira (15), o governador se reuniu com 13 industriais que fazem parte de um grupo nomeado Coalizão da Indústria e que foi criado no final de 2018 para atender as demandas do setor perante aos governos. O grupo apoia a quarentena, mas pediu ao governador ao menos uma previsão de quando as coisas começariam a ser flexibilizadas. Segundo relatos ouvidos pela reportagem, os industriais argumentaram que precisam estar preparados para a retomada. Na ocasião, o governador teria dito que a data para o fim da quarentena era a resposta da pergunta de US$ 100 milhões. O governo do estado começará a anunciar nesta quarta-feira (22) as medidas de reabertura gradual da atividade econômica. O governador afirmou, no entanto, que nada muda até o dia 10 de maio. Na quinta-feira (16), em outra reunião do governador, dessa vez com cerca de 150 empresários, a economista Ana Carla Abrão, da consultoria e estratégia de negócios Oliver Wyman Brasil, fez uma apresentação com viés econômico e sugestões para uma decisão futura. Fontes ouvidas pela reportagem avaliam que Doria deve se basear no estudo apresentado para balizar suas decisões.
Intitulado “Navegando a Quarentena”, o estudo se propõe a “dar mais segurança às decisões de política pública relacionadas ao distanciamento social e à mitigação dos impactos econômicos de curto, médio e longo prazos”. Segundo o documento, a consultoria desenvolveu um programa que já foi capaz de fazer projeções precisas sobre o avanço do número de casos em outros países e cidades como Nova York, por exemplo. No caso do Brasil, os resultados apontam a proximidade do pico de casos confirmados, mas a apresentação faz uma ressalva: “Ainda é cedo para afirmar, porém sob continuidade de uma estratégia de contenção e supressão e assumindo os padrões atuais de testagem, estamos nos aproximando do pico diário de novos casos.” A expectativa é que o navegador seja alimentado com dados do estado de São Paulo ainda nesta terça-feira. A partir daí será possível calibrar as estratégias de flexibilização da quarentena. O navegador pode ajudar, por exemplo, a definir quais as localidades devem aumentar ou diminuir o isolamento social. O objetivo é “prover o Governo de São Paulo de informações técnicas adicionais de forma a discutir, em diferente cenários, o melhor momento e a forma segura para o relaxamento da quarentena”. Segundo a coluna Painel SA noticiou nesta terça-feira (21), o comércio em São Paulo também pressionou o governador e o prefeito da capital, Bruno Covas, para a reabertura no dia 1º de maio, que é feriado.
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*”Instituto de infecções dos EUA contraindica hidroxicloroquina e azitromicina”* - Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), dos EUA, divulgou um documento no qual contraindica o uso de hidroxicloroquina e azitromicina para tratamento da Covid-19. A entidade também não indica o uso de lopinavir/ritonavir, drogas que também estão em estudo para tratar a doença. A recomendação foi elaborada por um painel de especialistas com representantes de pelos menos 13 entidades, como agências governamentais (entre elas a agência que regula remédios, a FDA ,e o Centro de Controle de Doenças, o CDC) e associações médicas americanas. Segundo o documento, o uso das drogas citadas só deve ser feita em ensaios clínicos. A associação de hidroxicloroquina e azitromicina é desencorajada por causa de sua potencial toxicidade. Com relação somente à hidroxicloroquina e à cloroquina, o Niaid afirma que ainda não há dados suficientes para uma indicação a favor ou contra as drogas no tratamento da Covid-19. O documento alerta, contudo, que o uso deve ser acompanhado de monitoramento dos efeitos adversos, considerando o risco de alterações cardíacas e mal súbito. O documento também afirma não haver evidências para indicação ou desencorajamento do uso do remdesivir, também em estudo contra a doença. As recomendações reproduzem a cautela de Anthony Fauci, diretor do Niaid, quanto ao assunto e se contrapõem ao otimismo do presidente republicano Donald Trump em relação à droga, situação que lembra os diferentes tons do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e do presidente Jair Bolsonaro. “É tudo baseado em dados”, disse Susan Swindells, membro do painel responsável pelas recomendações e professora na Universidade de Nebraska, à NPR. “Nós olhamos tudo que estava disponível. Não tinha nada funcionando maravilhosamente bem.” As recomendações devem ser atualizadas conforme novos dados surgirem. Swindells também disse à NPR que existe a possibilidade de atualização quanto ao remdesivir já na próxima semana.
ESTUDO AMERICANO NÃO MOSTRA EFEITO DE HIDROXICLOROQUINA E AZITROMICINA
Um novo estudo americano ainda não publicado e revisado por pares analisou uso de hidroxicloroquina e azitromicina em pacientes internados de Covid-19 e não observou eficácia do tratamento em reduzir mortes ou necessidade de respiração com auxílio de máquinas. A pesquisa encontrou também uma mortalidade maior nos pacientes que tomaram somente hidroxicloroquina. Problemas metodológicos, porém, não permitem tirar conclusões seguras sobre uso da droga. O estudo em questão é retrospectivo, ou seja, ele olha para o passado, o que já diminui o nível da evidência. Os pesquisadores usaram informações do banco de dados americano do sistema de saúde destinado a veteranos dos EUA referentes ao período de 9 de março a 11 de abril. Ao todo, foram incluídos na análise 368 pacientes, a maior parte deles negros, todos homens e com uma média de idade acima de 65 anos.
Os próprios autores afirmam, na pesquisa, que esse recorte etário e de gênero pode não ser visto em populações mais jovens ou de mulheres. Nos dados analisados pelos pesquisadores, 97 pacientes foram medicados com hidroxicloroquina, 113 com a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina e 158 tiveram somente o tratamento padrão para a doença (remédios sintomáticos). Os pacientes que receberam as outras drogas também continuaram a receber, de modo associado, o tratamento comum. Comparado ao grupo que não tomou as medicações, os cientistas encontraram um maior risco de morte no grupo que tomou somente hidroxicloroquina. Nenhuma diferença foi encontrada em relação ao grupo que tomou a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina. Especialistas afirmam que a maior mortalidade verificada pode ser devida a diversos fatores. Nos pacientes que receberam as drogas, por exemplo, a doença estava mais severa. “Considerando-se que aproximadamente 80% dos pacientes com formas leves e moderadas da doença vão se recuperar, provavelmente os pacientes que não tomaram medicação teriam melhor evolução de qualquer maneira”, diz Leonardo Weissmann, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Além disso, não há randomização dos pacientes, ou seja, a droga não era distribuída aleatoriamente para os participantes do grupo, fator que minimiza os riscos de vieses na pesquisa. Com isso, segundo Weissmann, o estudo não traz novidades. De toda forma, dizem os autores, “esses achados demonstram a importância de esperar os resultados de estudos prospectivos, randomizados e controlados já em andamento antes da adoção maciça do uso dessas drogas”. Algo na mesma linha de cautela consta em um documento recente da SBI. “A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) manifesta sua grande preocupação pelo uso indiscriminado de medicamentos, vitaminas, antioxidantes, entre outros, sem qualquer comprovação científica de eficácia e segurança de seu uso.” A sociedade afirma que os estudos não randomizados e não controlados trarão, se muito, evidências científicas fracas de segurança e eficácias de medicamentos, sejam eles quais forem. “Corremos o risco de centenas de milhares de pacientes receberem medicações que, ao final, não saberemos se são eficazes e seguras contra a Covid-19”, afirma o documento, datado de 19 de abril, que aponta uma série de critérios para a condução adequada da pesquisa científica sobre a doença.​
*”Enterros triplicam, e cemitério de Manaus abre valas comuns para vítimas do coronavírus”*
MÔNICA BERGAMO - *”Hospitais públicos têm dificuldade para contratar profissionais para UTIs de pacientes com Covid-19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Conselho Federal de Medicina diz não ter data para divulgar parecer sobre hidroxicloroquina”*
MÔNICA BERGAMO - *”Ministros do STF acreditam que investigação sobre protestos antidemocráticos pode chegar a Bolsonaro”*: Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) acreditam que a investigação sobre protestos antidemocráticos pode chegar a Jair Bolsonaro ou a pessoas de seu círculo íntimo —ainda que o procurador-geral da República, Augusto Aras, não tenha pedido inquérito contra ele. Magistrados acham que, se houve participação do presidente ou de seu círculo familiar na organização dos atos, dificilmente a Polícia Federal não conseguirá desvendá-la. A nota do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, dizendo que as Forças Armadas são “obedientes à Constituição”, não impressionou os meios jurídicos e políticos de Brasília. Ela só foi divulgada no fim da tarde de segunda (20), mais de 24 horas depois de Bolsonaro discursar em evento que pedia intervenção militar.
MÔNICA BERGAMO - *”Norma de Regina Duarte permitirá prorrogação de prazos na Lei Rouanet”*
MÔNICA BERGAMO - *”Empresas doarão um milhão de sabonetes para comunidades de SP e RJ”*
 
CAPA – Manchete principal: *”STF investiga organização de atos contra democracia”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”A marcha para o colapso em algumas regiões”*: Hospitais superlotados, com as UTIs sem vagas, era o pior cenário traçado pelos especialistas desde que o Sars-CoV-2 teria saltado de um animal silvestre para uma pessoa em um mercado de carnes exóticas em Wuhan, na China, e começou a se alastrar pelo planeta com uma enorme capacidade de infeccionar pulmões antes de invadir todo o organismo.
Sem vacina e algum antivirótico eficaz, a Covid-19, a partir do início do ano, começou a se tornar a maior pandemia em cem anos. Nos últimos dias, o país tem começado a pagar o preço da imprevidência, mas também a colher resultados relativamente positivos por precauções tomadas. No quadro de falência de sistemas de saúde em estados e municípios, em maior ou menor grau, as regiões Norte e Nordeste já começam a enfrentar as situações mais dramáticas. Com a capacidade de seus hospitais públicos ocupada em mais de 90%, Amazonas (91%), Pará (97%) e Pernambuco (99%) estava montem em virtual colapso. O que significas em condições de atender os doentes mais graves, que necessitam de assistência em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) equipadas com respiradores mecânicos, em falta no mundo. Há dias, foram registrados corpos ao lado de pacientes no Hospital João Lúcio, em Manaus. Um contêiner frigorífico passou a receber cadáveres no local. Cena já observada em Nova York, cuja renda per capita é algumas vezes superior à dos moradores da capital do Amazonas. A Covid-19 tem nivelado por baixo sistemas de saúde.
Mas não há fatalismos nesta guerra real. No Brasil, morreram até ontem 2.757 pessoas, e os infectados pelo novo coronavírus somavam 43.114. Cabe sempre lembrar que existe grande subnotificação nos registros. Em alguns locais, como Manaus e outros, a tragédia poderia ter sido evitada, ou reduzida, se o isolamento social houvesse acontecido mais cedo. À medida que os dramas evoluem isso vai ficando mais evidente, apesar da resistência do Palácio do Planalto em aceitar o que está sendo demonstrado em diversos países. A Alemanha, com mais de 80 milhões de habitantes, não chega a ter 5 mil mortos, e a Itália, com cerca de 60 milhões, já enterrou mais de 23 mil, porque agiram de forma diferente. Há grande pressão em hospitais de São Paulo e Rio. Mas se os governadores fluminense e paulista, Wilson Witzel e João Doria, não houvessem agido para reduzir a movimentação nos estados e nas capitais — o prefeito paulistano, Bruno Covas, participa das entrevistas diárias de Doria —, é certo que a gestão da área de saúde nos dois estados e nas duas capitais estaria ainda mais difícil. Os erros e acertos do poder público como um todo e da própria sociedade nesta crise histórica já estão sendo contabilizados em número de caixões e de covas abertas em cemitérios lotados.
*”STF abre inquérito sobre protestos – Foco é a organização de atos contra a democracia”*
*”Lava-Jato defende fortalecimento das instituições”* - A força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, à frente da Operação Lava-Jato, se manifestou pelo fortalecimento da democracia e das instituições em meio a protestos que pedem intervenção militar, fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso. No último domingo, o presidente Jair Bolsonaro participou de um desses atos, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. “A Lava-Jato entende que o momento deflagrado pela crise de saúde em decorrência do coronavírus exige, de todos nós —das instituições públicas, de seus representantes e da sociedade civil —, compromisso com ações que fortaleçam a democracia, a integridade, a solidariedade e a segurança institucional, sanitária e econômica de nosso país”, disseram os procuradores em nota enviada à BBC. A força-tarefa ressaltou que, como parte do Ministério Público, sempre defendeu e defende a Constituição: “A força-tarefa da Operação Lava-Jato, como parte do Ministério Público brasileiro, defende e sempre defendeu a Constituição, a ordem jurídica, o regime democrático e o interesse público, na esfera de suas atribuições”. Os atos aconteceram em várias cidades brasileiras, e os manifestantes pediram até a reedição do AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar no país. Ao discursar na manifestação em Brasília, no último domingo, Bolsonaro disse que “acabou a época da patifaria” e “é agora o povo no poder”. Ministros do STF e parlamentares reagiram aos protestos. Logo após a participação na manifestação, Bolsonaro publicou trecho do discurso em uma rede social em que a faixa que pede intervenção militar aparece ao fundo e fez questão de destacar justamente o momento em que diz que acredita nos manifestantes.
MUDANÇA DE TOM
No dia seguinte, em encontro com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que defende o Supremo e o Congresso “abertos e transparentes”. Já o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, divulgou na noite de segunda-feira uma nota na qual afirma que as Forças Armadas trabalham “sempre obedientes à Constituição”. Antes de divulgar a nota, o ministro da Defesa se reuniu com os comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. O documento diz que o coronavírus é o inimigo comum do país hoje e que os militares não se afastarão do que manda a Constituição. “As Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição Federal”, diz trecho do documento divulgado pelo ministro.
*”General no time do novo ministro – Escolhido pelo Planalto será número 2 de Teich”*
*”Dez estados já iniciaram flexibilização do isolamento”*
*”Manaus pede ajuda – Prefeito fala em caos funerário”*
*”Hospitais já operam no limite da capacidade em Pernambuco e Ceará”*
*”Visitas suspensas – Na Papuda, advogados cobram até R$ 900 por notícias de infectados”*
*”Casos de síndrome respiratória disparam – Com Covid-19, internações já superam 2019 inteiro”*
*”Dinheiro no caixa – BNDES pede para suspender repasse ao Tesouro e pagar dividendo mínimo”*
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Governo entrega aos Estados apenas 2,5 milhões de testes”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O poder que Bolsonaro quer”*: Em meio ao repúdio unânime das instituições à sua participação num comício de caráter golpista em Brasília no domingo passado, o presidente Jair Bolsonaro defendeu-se dizendo que “falta um pouco de inteligência para aqueles que me acusam de ser ditatorial”. Segundo Bolsonaro, “o pessoal geralmente conspira para chegar ao poder”, mas “eu já estou no poder, eu já sou presidente”. E concluiu: “Então eu estou conspirando contra quem, meu Deus do céu?”. De fato, Bolsonaro já está no poder, conferido a ele pelos eleitores no pleito de 2018. A questão é que esse poder Bolsonaro não quer, não só porque, no fundo, sabe que não tem a menor ideia de como exercê-lo, tamanho é seu despreparo, mas principalmente porque é um poder regulado pela Constituição e limitado pelos freios e contrapesos institucionais. Um presidente “pode muito, mas não pode tudo”, como disse o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, ao criticar a convocação, feita por Bolsonaro, de protestos contra o Congresso, em fevereiro. Ou seja, já naquela ocasião, o presidente deixava explícito que não pretendia se submeter aos controles constitucionais, pois, em sua visão, sua Presidência é “o povo no poder”, como bradou aos seus seguidores no domingo passado. Depreende-se que Bolsonaro almeja presidir um regime plebiscitário, em que a voz do que ele chama de “povo” se impõe como a lei, tendo o presidente como zeloso intérprete, submetendo todos os demais Poderes a seu tacão.
Nesse regime dos sonhos bolsonaristas, nem o tal “povo” nem o presidente da República são responsáveis pelos problemas do País; estes são sempre fruto das tramoias dos demais Poderes, que se recusam a satisfazer a vontade do “povo” e são vistos como inimigos que tramam para usurpar o poder conferido ao presidente nas urnas. Não à toa, Bolsonaro vive a invocar a possibilidade de sofrer impeachment, quase como se estivesse a desejá-lo, para servir como “prova” da tal conspiração. O poder que Bolsonaro almeja, portanto, é aquele exercido sem que tenha de prestar conta às demais instituições democráticas – que permanecem em funcionamento, mas sem condições objetivas de cumprirem suas funções. Nem é preciso ir muito longe no tempo para encontrar exemplos desse tipo de regime – a Venezuela do ditador Hugo Chávez é o caso mais bem acabado de uma autocracia construída sem a necessidade de um golpe formal. Não deve ser mero acaso que em 1999 o então deputado Bolsonaro tenha rasgado elogios ao caudilho venezuelano, dizendo que Chávez, “uma esperança para a América Latina”, faria “o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força”.
Como ensinou Chávez, a construção do poder discricionário demanda uma democracia de fachada, com eleições regulares e Parlamento em funcionamento, enquanto as estruturas democráticas vão sendo carcomidas. A imprensa livre é sufocada e a oposição é constrangida pela máquina de destruição de reputações. Já o Judiciário é tomado por governistas, transformando-se em pesadelo dos dissidentes do regime. Assim, estão dadas as condições para que a Constituição se torne letra morta. É evidente que tal empreendimento deve ser contido já em seus primórdios. O Congresso faz sua parte quando impede Bolsonaro de aprovar medidas inconstitucionais e quando investiga a militância virtual bolsonarista que atua febrilmente para constranger os opositores do presidente. Do mesmo modo, é alentador observar que o Supremo Tribunal Federal também está vigilante. Agora mesmo, por meio do ministro Alexandre de Moraes, atendeu ao pedido da Procuradoria-Geral da República e mandou abrir inquérito para saber quem organizou o ato antidemocrático do qual o presidente Bolsonaro participou animadamente no fim de semana. O ministro teve que lembrar que a Constituição “não permite o financiamento e a propagação de ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado democrático, nem tampouco a realização de manifestações visando o rompimento do Estado de Direito”. Essa investigação deve ir até o fim, dando nome e sobrenome aos liberticidas – seja qual for o cargo que ocupem ou o poder que tenham – e estes devem ser punidos de acordo com a lei.
COLUNA DO ESTADÃO - *”Planalto tenta articular seu ‘Plano Marshall’”*: Com o aval de Jair Bolsonaro, o general Braga Netto trabalha para anunciar este mês uma espécie de “Plano Marshall” (Segunda Guerra). O chefe da Casa Civil quer algo para uns “30 anos”, segundo quem ouviu dele as linhas gerais do projeto de recuperação da economia brasileira, combalida com a grave crise da covid-19. Uma reunião de Braga Netto com grandes empresários está sendo negociada para ocorrer o mais breve possível. O ministro Paulo Guedes (Economia), porém, ainda não tomou parte nas conversas sobre o assunto, restritas ao Planalto.
» Inquérito. Enquanto alas do MPF ainda bombardeiam Augusto Aras por excluir Bolsonaro do inquérito para investigar os atos contra a democracia, os mais otimistas já olham para frente: a bola agora está com Alexandre de Moraes, e ele tem “sangue” nos olhos, diz um colega dele.
» Aritmética. Parlamentares estão com a calculadora na mão por causa do movimento de Jair Bolsonaro para ganhar o Centrão e isolar Rodrigo Maia. Num cálculo dos cálculos, Bolsonaro teria pouco menos de 200 parlamentares, e Rodrigo Maia, cerca de 160.
» Já vi esse filme. Há temor de que o governo repita o script da reforma da Previdência: prometeu e não entregou e, se entregar, acaba fritando e tomando o cargo de volta.
» Empoçou. Sob ataque dos artistas, Regina Duarte até elaborou medidas para ajudar o setor na crise da covid-19, mas elas estão paradas na burocracia da Esplanada dos Ministérios.
*”Supremo abre inquérito sobre ato antidemocrático”* - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu ao pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, e decidiu abrir um inquérito para apurar “fatos em tese delituosos” envolvendo a organização de atos antidemocráticos. No domingo, o presidente Jair Bolsonaro participou de protesto em Brasília marcado por faixas e palavras de ordem contra o Congresso e o STF e a favor de “uma intervenção militar”. Bolsonaro, no entanto, não é alvo do inquérito sigiloso, que investiga a autoria e o financiamento das manifestações. Segundo o Estado apurou, Aras mencionou indícios de que a organização dos atos em todo o País contou com a atuação de dois deputados federais, que entraram agora na mira do inquérito – os nomes não foram divulgados. O envolvimento de parlamentares com prerrogativa de foro foi um argumento usado para acionar o STF. Para Moraes, é imprescindível a verificação da existência de grupos e esquemas de financiamento de manifestações “contra a democracia e a divulgação em massa de mensagens atentatórias ao regime republicano, bem como as suas formas de gerenciamento, liderança, organização e propagação que visam lesar ou expor a perigo de lesão os direitos fundamentais, a independência dos poderes instituídos e o Estado Democrático de Direito”. O ministro também já autorizou diligências para colher provas. Na última segunda-feira, o ministro Gilmar Mendes defendeu a quebra do sigilo telefônico e bancário de pessoas que participaram das manifestações contra a democracia. A nova apuração deve dar fôlego ao inquérito das fake news, que também investiga ataques contra instituições democráticas e está sob a relatoria de Moraes. Aberto por determinação do presidente da Corte, Dias Toffoli, o inquérito das fake news investiga ameaças, ofensas e falsas notícias espalhadas contra integrantes do Supremo e seus familiares. De acordo com Toffoli, os ataques ao tribunal despencaram 80% após o início da apuração.
Prevista para ser concluída em junho, a investigação das fake news deverá ser prorrogada mais uma vez, segundo o Estado apurou. A ideia é que as provas colhidas nesse inquérito subsidiem a análise sobre a organização dos protestos de domingo e vice-versa. De acordo com um integrante da Corte, a investigação sobre os atos contra a democracia “já terá meio caminho andado”. Como Moraes quer examinar o financiamento das manifestações de domingo, é provável que empresários bolsonaristas – que já está entraram no radar do inquérito das fake news – também virem alvo da nova apuração, avaliam fontes que acompanham os trabalhos. “Vai ser bonito de se ver os patrocinadores de atos que pregam a ruptura da democracia atrás das grades. Já dou uma ideia ao MPF (Ministério Público Federal): uma ação civil pública bilionária exigindo reparação de dano moral coletivo, com pedido cautelar de indisponibilidade de bens”, escreveu o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas em seu perfil no Twitter. Ao atender ao pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinar a abertura da investigação, Moraes considerou “gravíssima” a realização de protestos com mensagens contra o Congresso Nacional e o STF. Para o ministro, a Constituição “não permite o financiamento e a propagação de ideias contrárias à ordem constitucional e ao Estado Democrático, nem tampouco a realização de manifestações visando ao rompimento do Estado de Direito”. O pedido de Aras foi sorteado entre dez ministros do STF – Toffoli ficou de fora por não receber esse tipo de caso enquanto comanda o tribunal. O algoritmo do Supremo deixou a nova investigação com Moraes. “Como diria Maradona: a mão de Deus”, resumiu um ministro.
*”Deputados citam Exército e atacam Maia e governadores”*
*”Planalto age para fazer sucessor de Maia”* - A estratégia do presidente Jair Bolsonaro para formar uma base de sustentação parlamentar passa pela eleição para o comando da Câmara, hoje nas mãos de Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu desafeto. Ao tentar atrair o Centrão com a oferta de cargos – que vão de diretorias do Banco do Nordeste a secretarias em ministérios –, Bolsonaro também procura construir uma candidatura à sucessão de Maia. Nos bastidores, o presidente se movimenta para impulsionar a campanha do deputado Marcos Pereira (SP) nessa disputa, marcada para fevereiro de 2021. Vice-presidente da Câmara, Pereira comanda o Republicanos, partido que recentemente abrigou o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, ambos do Rio. Os dois se filiaram temporariamente, enquanto o Aliança pelo Brasil não consegue as assinaturas suficientes para sair do papel. Pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Pereira é um dos postulantes do Centrão ao comando da Câmara. A bancada evangélica leva hoje o título de principal avalista de Bolsonaro no Congresso. Outro candidato que conta com a simpatia do presidente é o deputado Arthur Lira (AL), líder do PP e réu em processo por corrupção passiva. A ideia de Bolsonaro é observar, mais adiante, qual dos dois será fiel a seu projeto e terá mais viabilidade. Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), não poderão concorrer à reeleição, se não houver mudanças de regras. Motivo: a Constituição impede que os presidentes da Câmara e do Senado sejam reconduzidos aos cargos na mesma legislatura. Antes da crise do coronavírus, no entanto, havia uma articulação nesse sentido, principalmente por parte de Alcolumbre, que encomendou até parecer jurídico. Bolsonaro, por sua vez, está convencido de que precisa construir uma alternativa a Maia. Cabe ao presidente da Câmara autorizar ou não a tramitação de qualquer pedido de impeachment na Casa.
Cargos. Em outra frente para buscar apoio, o Planalto decidiu apressar a entrega de cargos a partidos do Centrão, como mostrou o Estado. Bolsonaro impôs, porém, um filtro: os indicados não podem ter trabalhado em administrações do PT. Além disso, o Planalto vai monitorar as redes sociais de todos. O DEM perderá o comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e da Parnaíba (Codevasf), que deve ser entregue ao PP de Lira e do senador Ciro Nogueira (PI). Pelo acerto dos últimos dias, o PL de Valdemar Costa Neto ficará com o Banco do Nordeste. O governo também prometeu ao partido de Valdemar a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, cargo que formula estratégias de combate ao coronavírus. O Republicanos, por sua vez, poderá ocupar uma secretaria no Ministério do Desenvolvimento Regional. Pereira foi ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços na gestão de Michel Temer. Bolsonaro fará nova rodada de conversas nos próximos dias. Hoje, ele receberá o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB. Amanhã a audiência será com o prefeito de Salvador, ACM Neto, que dirige o DEM.
No domingo, porém, ao participar de manifestação que defendia o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, o presidente atacou o que chamou de velha política. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil”, disse ele, em cima da caçamba de uma caminhonete, diante do Quartel-General do Exército. Para o deputado Efraim Filho (PB), líder do DEM na Câmara, as divergências devem ser arquivadas neste momento. “Falar em intervenção militar, por um lado, e impeachment, por outro, é um desserviço para o Brasil. Já temos crise de saúde, crise econômica e uma nova crise política não seria bem-vinda”, afirmou. “Precisamos de um pacto de união nacional para enfrentar a covid-19. Não é hora de disputa política nem de discursos agressivos”, avaliou Baleia.
*”Brasil cai para 107º lugar em ranking de liberdade de imprensa”* - A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou o ranking de liberdade de imprensa de 2020. Na edição deste ano, o Brasil perdeu duas posições e agora ocupa o 107.º lugar entre os 180 países que compõem a lista. O continente americano é o que, atrás da Europa, registra as melhores condições para o exercício do jornalismo. “Ainda que os pesos-pesados regionais, os Estados Unidos e o Brasil, tenham se tornado verdadeiros antimodelos.” A razão disso, segundo o relatório, está nas ações de dois chefes de Estado eleitos democraticamente: Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Ambos estariam “desmoralizando a imprensa e encorajando o ódio aos jornalistas em seus países”.
O documento diz que, no caso brasileiro, a queda no ranking “está largamente associada à chegada de Bolsonaro ao poder”, pois ele contribuiria com a “deterioração do ambiente em que operam jornalistas, marcado por hostilidade permanente que atravessa a relação do governo com a imprensa”. A organização trata ainda do chamado gabinete do ódio, que afirma cercar o presidente e promover ataques em larga escala a jornalistas que fazem revelações sobre políticas do governo. “Desde o início da epidemia de coronavírus, Jair Bolsonaro redobrou seus ataques à imprensa, que ele considera responsável por uma ‘histeria’ destinada a gerar pânico no País”, afirmou a ONG. A organização conclui que o presidente “insulta e ataca sistematicamente alguns dos jornalistas e meios de comunicação mais importantes do País, o que estimula aliados a fazerem o mesmo, alimentando um clima de ódio e desconfiança para com os diferentes atores da informação”. O País mantém tendência de queda – em 2019 já havia caído duas posições –, mas permanece a frente de Venezuela (147.ª) e Cuba (171.ª). A metodologia do ranking baseia-se num sistema de pontos que analisa pluralismo, independência, ambiente e autocensura, arcabouço jurídico, transparência e qualidade das infraestruturas de apoio à produção de informações. “Na América Latina, os ataques físicos à profissão costumam ser acompanhados de campanhas de assédio cibernético, ou cyberbullying, realizadas por exércitos de trolls e/ou apoiadores dos regimes autoritários. Esses métodos de censura online estão proliferando perigosamente e são particularmente violentos contra as mulheres jornalistas”, afirma a RSF.
*”Trump restringe imigração em meio a alta no desemprego de Estados-chave”*
*”França e Holanda retomam aulas dia 11, com restrições”*
*”Ministério promete agora 46,2 milhões de testes, mas só entregou 2,5 milhões”* - Mesmo atrasado para entrega da primeira leva de testes para covid-19 prometidos, de 23,9 milhões de unidades, o Ministério da Saúde quase dobrou a meta e quer distribuir 46,2 milhões de exames durante a crise. Até agora, no entanto, a pasta só enviou aos Estados 2 milhões de testes rápidos, recomendados para aplicação em profissionais de saúde, e 524,3 mil testes do tipo RT-PCR – mais caro, rápido e preciso. A ideia de dobrar a meta de testes foi anunciada na segunda-feira pelo novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele afirmou que a medida é um pilar do projeto “que já está sendo feito” de revisão do distanciamento social. O fim das quarentenas é uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro. Opor-se a ideia foi um dos motivos para a demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM). “Teste em massa não significa testar a população toda. A gente vai usar teste de forma que pessoas examinadas vão refletir a população brasileira”, disse Teich em vídeo enviado pela equipe de comunicação do ministério. O ministério também ampliou a capacidade de análise de testes. Em contrato com o Grupo Dasa, a pasta espera processar 30 mil exames por dia. A Coreia do Sul realiza de 10 a 15 mil testes diários. Técnicos da pasta dizem que mesmo com maior capacidade de processamento no Brasil, há dificuldade para encontrar exames confiáveis no mercado. Outro ponto que dificulta a entrega é o atraso da Fiocruz na produção. Em boletim epidemiológico divulgado no fim de semana, o ministério afirma que recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para testagem em massa, sem alerta para os países se equiparem, fez sumir o produto do mercado. Os testes rápidos já entregues pelo governo foram doados pela mineradora Vale. Já exames do tipo RT-PCR distribuídos são de compras feitas com a Fiocruz, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e doação da Petrobrás.
O governo fechou recentemente também uma compra de 10 milhões de testes RT-PCR por meio de parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A previsão é de que cerca de 500 mil testes comecem a chegar na próxima semana e, depois, cerca de 800 mil a cada semana. Segundo integrantes do ministério, há forte pressão do Palácio do Planalto para ampliar o número de testes no País. A Saúde tem sinalizado que pretende ampliar o público-alvo para exames de diagnóstico rápido. Antes a pasta recomendava apenas a aplicação de testes rápidos para quem atua na “linha de frente” do combate à covid-19, como profissionais da saúde. Em boletim publicado no fim de semana, no entanto, o ministério afirma que deseja “progressivamente” incluir idosos, portadores de condições de risco para complicações da covid19 e a população economicamente ativa na rotina de testagem. A ideia seria também aumentar a “carteira” de curados e imunes à doença que poderiam retornar ao trabalho, dizem integrantes do governo. Os testes rápidos, porém, têm “limitações importantes”, reconhece o próprio ministério em nota. O produto doado pela Vale, por exemplo, pode errar 75% dos diagnósticos negativos, segundo análise do Grupo Dasa feita a pedido do governo federal. Como este exame detecta a presença de anticorpos, o ministério orienta aplicá-lo sete dias após o começo de sintomas da doença. O Ministério da Saúde confirmou ontem mais 166 mortes ocasionadas pelo novo coronavírus, totalizando 2.741 óbitos. O total de casos soma 43.079.
Drive-thru. O governo do Distrito Federal começou nesta terça-feira a realizar testes na população para covid-19 por meio de serviço de drive-thru, aplicação no estacionamento. A ideia é chegar a 450 mil exames até maio, segundo o governador do Ibaneis Rocha (MDB). A primeira fase dos testes, com 100 mil exames, está sendo feita no Plano Piloto e em Águas Claras, regiões com mais casos da covid-19. Houve filas de carros em pontos de coleta de amostras, como no Estádio Mané Garrincha e nos estacionamentos de cinco pontos em Águas Claras. Para decidir quem está apto ao exame, o Corpo de Bombeiros mede a temperatura dos passageiros com câmeras térmicas. Apenas quem apresentar febre é selecionado. O governo realizou testes rápidos, que apresentam resultados em até 30 minutos, mas têm menor grau de precisão, e do tipo RTPCR, com resultado em 48 horas. Ibaneis Rocha tem dito que os dados de infectados no Distrito Federal servirão para auxiliar em decisões sobre flexibilizar a quarentena.
*”Manaus começa a enterrar em vala coletiva”*
*”7 Estados e DF afrouxam isolamento; SP planeja transição”* - Ao menos sete Estados – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Paraíba, Sergipe e Tocantins – e o Distrito Federal já afrouxaram desde a semana passada o isolamento social, imposto para conter o avanço do coronavírus no Brasil. São Paulo planeja a reabertura gradual da economia a partir do dia 11. Infectologistas recomendam cautela nos planos de retomada. O governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), flexibilizou medidas para municípios fora da Grande Porto Alegre na semana passada. Ficou nas mãos dos prefeitos a decisão de reabrir o comércio. Ontem, ele divulgou um plano para implementar o distanciamento social controlado no Estado a partir de maio. Na prática, a ideia é criar um sistema de classificação das regiões conforme o avanço do surto e capacidade do sistema de saúde. Assim, definirá quais serviços poderão funcionar em cada área.
O governador catarinense, Carlos Moisés (PSL), liberou, já desde ontem, o funcionamento de templos e igrejas. A partir de hoje, também ficam autorizados shoppings, centros comerciais, galerias, restaurantes e academias. Todos os estabelecimentos devem seguir medidas de distanciamento social e higienização. “O achatamento da curva do coronavírus está fazendo sucesso, agora é hora de achatar a curva do desemprego”, disse Rodrigo Rossoni, presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis. No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) anunciou a flexibilização no sábado e autorizou a reabertura do comércio em cidades de risco “baixo” e “moderado” – com taxa de infectados até 50% acima da média do Estado. Pela regra, só eram de alto risco Vitória e cinco cidades vizinhas. Os comércios autorizados devem respeitar o limite de um cliente por 10 m² e obrigatoriedade de máscara para funcionário. Horários também são restritos. Em decreto no domingo, o governador Ronaldo Caiado (DEM) liberou atividades religiosas, salões de beleza e obras civis em Goiás. Na sexta, o governador João Azevêdo (Cidadania) liberou na Paraíba óticas, estabelecimentos de produtos hospitalares e concessionárias. Esses locais, onde funcionários devem usar máscaras, só podem funcionar por delivery ou como ponto de retirada de mercadorias, sem fila. Outras ações de isolamento social foram prorrogadas até dia 3.
Na última quinta-feira, o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD), liberou hotéis, motéis, pousadas, restaurantes e bares, sob recomendação de “rigorosas medidas de cuidado”. Também ficou definido que todo decreto com proibições será válido por sete dias, para que o governo avalia a necessidade de cada medida. O Distrito Federal, da gestão Ibaneis Rocha (MDB), permitiu o funcionamento de óticas há uma semana. Antes, já havia liberado lojas de eletrodomésticos e prevê reabrir outros estabelecimentos a partir do dia 4. Ainda na semana passada, o Tocantins apresentou recomendações para a “retomada gradativa” da economia. Segundo a gestão Mauro Carlesse (DEM), passou a ficar a cargo de prefeitos revogar ou manter regras de quarentena. A sugestão foi de reabrir serviços não essenciais, como shoppings, centros comerciais, galerias, bares e restaurantes, com orientação de “manter rígido” o controle de aglomerações. Segundo o governo, foi levado em conta que o Tocantins é o último no ranking de casos confirmados.
Transição. Outros Estados, como São Paulo, planejam a reabertura gradual da economia após a quarentena. A gestão João Doria (PSDB) deve anunciar esta semana o plano, para que possa ser implementado a partir do dia 11, quando é previsto o fim da quarentena. Mas, segundo o governo, esse processo dependerá do uso de leitos hospitalares, sobretudo de UTI, sua comparação com a demanda da região e o grau de urgência e segurança para reabrir cada setor. “Acho que, por enquanto, na capital e região metropolitana, ainda é fundamental que tenhamos o isolamento social”, disse ontem ao Estado o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, que afirma debater o tema com o Estado. No Rio, o governador Wilson Witzel (PSC) debate amanhã possível flexibilização. No início do mês, ele havia retirado restrições para 30 cidades que não registravam casos. Para Eliseu Waldman, professor da USP, é preciso ter transparência nos dados para sair da quarentena e acompanhar a experiência da Europa. “Cabe a discussão, mas não é possível improvisar.”
*”Índios enfrentam fantasma do vírus”* - A disseminação acelerada do novo coronavírus tem provocado temor em aldeias do Brasil. Boletins epidemiológicos da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, indicam aumento de 68,7% de diagnósticos confirmados da covid-19 entre índios, o que preocupa infectologistas e desafia estratégias de prevenção dos governos. O número de infecções em indígenas, grupo considerado mais vulnerável à doença, aumentou de 16 para 27 casos desde a última segunda-feira. Oficialmente, o País também registrou três mortes – duas em Manaus e outra em Roraima.
De acordo com o Censo IBGE 2010, existem ao menos 305 etnias e 896,9 mil indígenas no Brasil. O Estado procurou tribos das cinco regiões do País, com realidades distintas, para abordar medidas preventivas e os efeitos da pandemia nas aldeias. Em comum, os povos relataram que tentam seguir o isolamento social. Mesmo aqueles que vivem em contexto urbano. “Se um vírus desse entra na comunidade, é o extermínio de um povo”, afirma Sonia Ara Mirim, líder Guarani e moradora da Terra Indígena Jaraguá, na cidade de São Paulo. A aldeia tem sobrevivido à base de cestas básicas doadas para se manter longe de aglomerações. Desde 17 de março, portaria da Fundação Nacional do Índio (Funai) proíbe não índios de entrar nas aldeias. Pelo Brasil, caciques e lideranças mandaram fechar acessos e espalharam faixas de alerta. Os povos, no entanto, relatam dificuldades diversas: desde escassez de equipamentos de proteção, falta de testes e ausência de rede hospitalar, ao risco de passar fome por desabastecimento. Boletins da Sesai apontam que os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) Alto Solimões e Manaus, na região amazônica, são responsáveis por 22 dos 27 casos de covid-19 – ou 81,5% dos diagnósticos entre indígenas. Com histórico de invasão de garimpeiros, essas áreas abrigam aldeias isoladas, cujo acesso só é possível por aeronaves ou embarcações.
O Instituto Socioambiental desenvolveu um índice para medir o grau de exposição de tribos ao coronavírus. Nas dez primeiras posições de mais risco, cinco ficam na região Norte, quatro em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul. Coordenador do Programa de Monitoramento do ISA, Antonio Oviedo avalia que, em geral, o sistema de saúde em terras indígenas não está à altura da pandemia – para alguns povoados, o socorro a hospitais pode demorar dias só no deslocamento. “Existem municípios que não dispõem de leito hospitalar e respirador, mas lá têm duas ou três terras indígenas com 5 mil, 6 mil habitantes”, diz. “Esses dados mostram o quão vulnerável e em risco essas populações estão no território nacional.” Os Guarani Kaiowá da comunidade Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante (MS), enfrentam, além da violência de invasores, o perigo do coronavírus. “Os rezadores têm rezado todas as noites, invocando os espíritos de proteção”, relata a liderança Clara Almeida, que reclama de falta de equipamentos de proteção e de orientação por parte de equipes da Sesai. Em março, a Sesai elaborou plano de contingência para o vírus em povos indígenas, com três níveis de resposta: “alerta”, “perigo iminente” e “emergência em saúde pública”. Por nota, o Ministério da Saúde diz orientar tribos, gestores e colaboradores desde janeiro. Cada Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) elaborou um plano de ação específico à realidade do local, diz a pasta. A Funai afirma ter distribuído 4,2 mil cestas básicas para tribos em situação de vulnerabilidade em várias regiões.
*”’Toda doença é um espírito. Dizer ixtiwa é reverenciá-la’”* - Em ia-tê, a linguagem da tribo Fulni-ô, “novo coronavírus” se diz “ixtiwa”. A pronúncia começa por um chiado prolongado, quase como um sopro: Ishh. Em seguida, a língua se põe entre os dentes e – de golpe curto – forma a sílaba tônica: Tí. Só então os lábios articulam um círculo pequeno que vai se abrindo rapidamente: Uáá. Não mais do que isso. Ishh-Tí-Uáá. Entre os falantes de ia-tê, a palavra equivale a esse tal coronavírus – ou catapora, enxaqueca, amidalite, insuficiência renal, diabetes, lepra, frieira, piriri. Tanto faz. Para os Fulni-ô, todas as doenças têm um nome só.
Presente em registros etnográficos desde 1749, os Fulni-ô vivem no sertão de Pernambuco, no chamado polígono das secas, em assentamentos de terra batida que contornam a cidade de Águas Belas, lugarejo com 43 mil habitantes e IDH de 0,526, inferior ao do Quênia. Entre estudiosos, a tribo ganha destaque por manter rituais religiosos e a língua nativa imunes à passagem do tempo. “Na nossa crença, toda doença é um espírito. Dizer ‘ixtiwa’ é uma maneira de reverenciá-la”, explica o índio Ubiran Fulni-ô, de 36 anos, que atua como agente de saúde no território. Embora ainda não haja notícia de infectados por covid-19 na aldeia ou em seus arredores, é errado pensar que a doença não forçou a tribo a repensar medidas de prevenção. “Nosso povo vê o que o jornal mostra o tempo inteiro. Somos seres humanos e temos receio de alguma pessoa da comunidade venha a adoecer”, diz Ubiran. No povoado, por mais respeito à entidade, a ordem é não deixar o coronavírus entrar. No início da crise, os Fulni-ô que moravam longe foram convocados a voltar – hoje, cerca de 7 mil pessoas estão reclusas no povoado, segundo estimam os locais. Eventos costumeiros, como palestras ou apresentações de dança fora da aldeia, também foram cancelados para reduzir riscos de contágio.
Diariamente, Ubiran visita 88 famílias, confere o isolamento social e orienta sobre cuidados com a higiene. “A Sesai fez as orientações e nós repassamos ao povo: queremos multiplicadores de saúde”, afirma. Escasso no sertão, o álcool em gel é dividido entre todos. Rende pouco. Também é incomum encontrar máscara de proteção – basicamente só médicos e enfermeiros estão “cobertos”, como se fala na tribo. “Vivemos em um lugar quase sem água, de quentura, muita poeira, fogueira e fumaça”, descreve. “Para prevenir, o mais fácil é usar sabão e lavar a mão direitinho.” Com base no trabalho de campo, o agente de saúde indígena calcula que ao menos 10% da tribo têm mais de 60 anos – grupo expressamente proibido de deixar suas casas até para comprar comida. Na semana passada, os idosos da tribo foram vacinados contra gripe influenza. Para fechar o corpo contra o coronavírus, contudo, sábios Fulni-ô têm recomendado chá de quina-quina, tipo de arbusto comum na região.
*”’Eu por acaso tenho o nariz para trás?’, questiona Krahô”* - Com a luta deflagrada, líderes Krahô convocaram onze guerreiros e, aos escolhidos, deram a missão de guardar os portais da aldeia. Eles ficam 24 horas por dia em alerta, revezando-se apenas para dormir. Têm ordem de não deixar ninguém passar – é que os visitantes podem trazer com eles o novo coronavírus para a tribo. O cacique confirma que estão todos alarmados: “Quando essa doença aparece na TV, assusta. A figura que montaram é uma coisa horrível, toda cabeluda, o povo fica muito preocupado”. Conhecidos como guardiões do cerrado, os cerca de 3,6 mil Krahô vivem em 38 aldeias situadas em uma área de 303 mil hectares em Itacajá e Goiatins, municípios às margens do Rio Tocantins, na região nordeste do Estado. Com a história de interação com brancos marcada por reviravoltas, o grupo indígena já foi alvo de massacre de fazendeiros na década de 1940 e hoje mantém boa relação com comerciantes e turistas – atividade, aliás, provedora de parte considerável da renda do povoado e que precisou ser interrompida por causa da covid-19. Uma das lideranças da aldeia, Getúlio Krahô, 76 anos, diz que a tribo tem levado a sério a pandemia e se mantido em isolamento social. “Por causa dessa gripe, o povo ficou sem jeito, ficou preso. Existe muita preocupação. Toda hora discutimos o problema, quando vai acabar, o que precisa ser feito”, relata. “Não posso mais chegar na cidade, fazer minhas compras e voltar. Pediram e eu tenho de obedecer. Tem de respeitar.”
Foi de discussões na tribo que nasceu a estratégia de deixar guerreiros em vigília, enquanto os demais ficam nas casas. Em guaritas, os homens destacados controlam não só a chegada de não indígenas – ou “cupen”, para os Krahô – mas também a saída dos aldeados, só autorizados a ir ao centro urbano, a cerca de oito quilômetros de lá, diante de extrema urgência, como atendimento médico ou saque de benefícios sociais. As poucas máscaras de proteção que chegaram às aldeias foram destinadas aos sentinela, por estar mais suscetíveis ao contato externo. Fogueiras, em volta das quais a comunidade se reúne para contar histórias, agora são acesas com intuito de ajudar a iluminar locais ermos e deixar a fiscalização mais fácil. Os indígenas se mobilizaram, ainda, para fazer uma vaquinha na comunidade e comprar celulares para os vigilantes. “Quando alguém da aldeia precisa de alguma coisa, eles ligam para os comerciantes da cidade, que vêm trazer a mercadoria até a guarita”, relata o cacique Roberto Krahô. “Antes de entrar, todo material passa por limpeza com sabão, sabonete, lenço.” Considerado sábio no povoado, Getúlito Krahô diz que a prioridade é preservar vidas. Segundo ele, o Brasil precisa corrigir políticas públicas e alterar a maneira de enxergar os povos indígenas, garantindo-lhes segurança, sem distinção. “No chão desta terra, a gente aprende assim: você, meu irmão, tem o nariz para frente. E eu, por acaso, tenho o nariz para trás?
*”’Sem ajuda, metade vai passar fome’, diz líder Xakriabá”* - Nas aldeias Xakriabá acontece assim: em se plantando, nada dá. Castigado pela falta de chuva em São João das Missões, município no norte de Minas, o povoado pré-colonial testemunhou nas últimas décadas gerações de índios desistirem da lavoura para tentar a vida nas cidades. Faz pouco mais de um mês que o cenário mudou. Por causa do coronavírus, postos de trabalho minguaram. Sem emprego, centenas de membros da tribo, enfim, retornaram às terras dos seu ancestrais. Pelo registro de moradores, a população aumentou de 9,1 mil para mais de 10 mil pessoas – cenário que preocupa o coordenador de equipes de saúde indígena, Marciel Bispo, 34 anos. Segundo ele, as famílias apareciam aos montes, para aflição dos grupos sanitários empenhados no combate à covid-19. “Se a doença chegar, muita gente vai sofrer.” Distribuídas por 34 aldeias, a maioria das casas é simples, com gente demais e cômodos de menos, descreve o enfermeiro Xakriabá. Algumas, de pau a pique, nem janela têm. “As moradias são escuras, quase sem ventilação. Você chega a ver quatro ou cinco crianças em um quarto pequeno, dormindo emboladas. As famílias correm risco maior nessa situação”, diz. A escassez de alimentos e de itens básicos de higiene também começa a dar os primeiros sinais de alerta. “Quem saía para ganhar o pão de cada dia não está recebendo. Muitas pessoas já sentem dificuldade para comprar”, afirma Bispo. “Sem ajuda, metade vai passar fome”.
Formado em enfermagem em 2009, Bispo foi o primeiro Xakriabá a pisar em uma universidade, após ter sido beneficiado por cota étnica, segundo conta. Hoje, atua na prevenção da aldeia contra a covid-19. Parte do seu trabalho é organizar a avaliação clínica e cadastro, com informações como cidade de origem e histórico de doenças, dos índios que voltaram. No território, se alguém apresentar sintoma da doença, a ordem é ficar 14 dias de quarentena. “Por tempo indeterminado fica expressamente proibida a entrada de pessoas não indígenas”, diz uma faixa pendurada na entrada do território, habituado a receber vizinhos, turistas e pesquisadores. Embora o povoado tenha dez postos de saúde, o hospital de referência fica a mais de três horas de viagem, em Montes Claros, cidade a 256 quilômetros de distância. Na avaliação de Bispo, a malha de atendimento está aquém do necessário para lidar com pandemias. “Se sair indígena doente daqui, não há garantia de que vai conseguir vaga em CTI”, afirma. Por enquanto, a única suspeita de covid-19 aconteceu com um jovem de 21 anos, morador de Goiânia. De volta à tribo, ele tinha febre alta e tosse. Passou duas semanas em casa, sendo obrigado a usar máscara e recebendo visita de equipes de saúde. A quarentena já acabou mas, até hoje, ninguém sabe confirmar se ele estava ou não com coronavírus. O teste solicitado ao governo, segundo Bispo, nunca chegou à aldeia.
*”Vírus pode atacar também o sistema nervoso central”* - O novo coronavírus pode atacar também o sistema nervoso central, causando problemas neurológicos graves a médio e longo prazo, como Alzheimer. O alerta foi feito em um artigo publicado ontem na Trends in Neuroscience (revista do grupo Cell) e assinado por cientistas brasileiros, incluindo Jorge Moll, da UFRJ e presidente do conselho do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), um dos autores do artigo.
Em um levantamento feito com base em diversos estudos, os cientistas mostram que as doenças cerebrovasculares estão entre as comorbidades de pacientes que testaram positivo para a covid-19 e desenvolveram complicações respiratórias graves. Um dos estudos, cita o artigo, relata casos de isquemia em 20% de 113 pacientes mortos. Outro estudo avaliou 214 pacientes na China e concluiu que 36% tiveram alguma manifestação neurológica. “Alterações, incluindo encefalite, foram descritas”, confirma a diretora-presidente do Idor, Fernanda Tovar-Moll, que também assina o artigo. O estudo lembra ainda que a conexão entre infecções virais e patologias do sistema nervoso central não é exatamente uma novidade e as observações feitas dos casos de covid-19 são semelhantes às notadas em casos de infecção por outros coronavírus, como SARS e MERS. Pesquisador da Queens University, no Canadá, o brasileiro Douglas Munoz também assina o artigo. Ele lembra que, dada a dimensão global da pandemia atual, é necessário considerar desde já os possíveis impactos a longo prazo da covid-19 no cérebro. “Ressaltamos a importância de acompanhar os pacientes nos próximos anos, pois a infecção por SARS-COV-2 pode favorecer ou aumentar a suscetibilidade a desenvolver doenças como Alzheimer e outros distúrbios neurodegenerativos ou neurológicos”, concluiu Fernanda de Felice, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, também autora do artigo.
Explicação. A invasão pelos coronavírus já foi documentada em estudos com modelos animais e parece ocorrer por meio de nervos como o trigêmeo e o nervo olfatório, como relata o professor Octávio Marques Pontes Neto, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da MedicinaUSP em Ribeirão Preto. “Estudos mostram que esse tipo de vírus pode invadir e migrar pelo neurônio e pode induzir a confusão no sistema imunológico.” “Já há estudos que mostram que nos casos mais graves há até 5% de AVCs e outros tipos de enfartes”, argumenta Pontes Neto. “A anosmia, que é a perda do cheiro e do gosto, é um dos sintomas mais comuns e decorre da infecção do nervo olfatório”, ressaltou. De acordo com o pesquisador, já há documentação científica também da ocorrência da síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF), um distúrbio autoimune que agride as paredes vasculares venosas e arteriais.
*”Retração do PIB deve levar País a novo recorde de recuperações judiciais”*
 
CAPA – Manchete principal: *”‘Inundação’ de petróleo é desafio para a Petrobras”*
*”Empresas de ônibus têm perdas de R$ 2,5 bi e buscam socorro federal”* - Compra de R$ 2,5 bi em créditos eletrônicos de passagens pela União e diesel a preço de custo estão entre as reivindicações
*”FGV prevê queda de 39% no PIB do turismo em 2020”*
*”Demanda menor breca produção de refinarias”* 
- Queda no preço de combustíveis nos postos não acompanha redução adotada por Petrobras
*”Rio e Espírito Santo refazem cálculos para royalties de petróleo”* - Perda de receitas deve ser mais profunda e prolongada do que a inicialmente esperada por Estados
*”Receita de ICMS sobe no RJ, apesar da pandemia”* - A indústria e o atacado puxaram para cima o nível de atividade econômica no Estado do Rio de Janeiro durante o mês de março, garantindo um aumento na arrecadação de ICMS apesar das restrições impostas pelo poder público para conter o avanço da covid-19. O valor total das notas fiscais eletrônicas emitidas no Estado do Rio cresceu 20,3% em março, ante o mesmo mês de 2019, totalizando R$ 119,56 bilhões. No mesmo período, o montante de ICMS discriminado nessas notas aumentou 12,33%, também na comparação anual. Os impactos iniciais do novo coronavírus na economia fluminense estão registrados no primeiro boletim de uma série que a Receita estadual pretende divulgar periodicamente sobre o tema. Em março, a receita consolidada de ICMS do governo fluminense somou R$ 3,05 bilhões, um aumento de R$ 246 milhões em relação ao mesmo mês de 2019. Em termos percentuais, o avanço foi de 8,7%, bem menor portanto que a variação no volume financeiro de notas fiscais emitidas. Isso acontece porque, embora sejam indicadores de atividade econômica, dados como a quantidade (e o valor) de notas fiscais emitidas por empresas e prestadores de serviços não espelham diretamente a arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Ainda assim, o valor total das notas fiscais emitidas pela indústria fluminense (seja para empresas, seja para consumidores finais) aumentou 20,73% em março, na comparação anual. O segmento de atacado teve desempenho mais modesto mas positivo: expansão de 4% no valor total das notas fiscais e de 7,6% no montante de ICMS que aparece nestes documentos eletrônicos. Até a quantidade de notas fiscais emitidas pelos atacadistas cresceu (2,89%) em março, em relação a igual mês de 2019. Já no setor varejista teve em março desempenho negativo em todos estes três quesitos (valor total das notas fiscais, ICMS discriminado nas notas e quantidade emitida). “Havia uma expectativa de aumento da atividade econômica”, diz o secretário estadual de Fazenda do Rio de Janeiro, Luiz Claudio Rodrigues de Carvalho. “Vínhamos numa retomada econômica promissora que foi abortada pela pandemia.” O tombo a que Carvalho se refere aparece na análise dos dados semanais, principalmente quando se compara a primeira semana de março (1º a 7) à última (29 de março a 4 de abril).
A comparação entre um período anterior à quarentena com outro no qual já estavam vigentes as medidas de distanciamento social é particularmente desfavorável para os varejistas. Tomando por base essas duas semanas, o valor total das notas emitidas pelo varejo do Estado do Rio encolheu quase 30%, enquanto a quantidade de documentos caiu 38%. A hipótese mais provável para explicar o maior impacto na região tem a ver com o fato de alguns dos primeiros casos da covid-19 no Estado terem sido registrados nos municípios de Volta Redonda e Barra Mansa. O secretário de Fazenda conta que os dados de atividade econômica, combinados aos de saúde, serão utilizados para estabelecer a estratégia de saúde do Estado da quarentena, quando houver condições. “Em vez de ficar no achismo, vamos nos fiar na ciência”, diz ele. Em meio à crise, Carvalho reconhece que será muito difícil manter a máquina pública estadual em funcionamento sem auxílio financeiro do governo federal. “Vamos continuar pagando os salários, mas é necessário manter as demais áreas funcionando”, conclui.
*”Combustível vai ajudar para deflação em abril e maio, estimam economistas”*
*”BNDES não vai ser hospital de empresas, diz secretário”* - O aumento dos repasses de recursos da União para Estados e municípios vai reduzir, inevitavelmente, a oferta de fôlego financeiro para as empresas que estão enfrentando a crise resultante da pandemia do coronavírus. O quadro foi descrito ontem pelo secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos Da Costa, durante uma live com o Valor. Ele lembrou, no entanto, que o foco do governo está principalmente no socorro às micro, pequenas e médias empresas e que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) “não vai virar hospital de empresas”. Da Costa também confirmou que os setores aéreo, de energia elétrica e automotivo (não só montadoras, mas a cadeia produtiva toda), além do varejo não alimentício e não farmacêutico, são alvo do governo no auxílio para grandes empresas. “Quanto mais o Congresso destinar recursos para governos, menos dinheiro sobrará para as empresas”, disse Da Costa. Atualmente, o governo está em atrito com o Congresso devido a um pacote de ajuda aos entes federados. “Todo apoio dado é financiado pelo pagador de impostos. Nossa visão é que é preciso ter equilíbrio entre socorro ao setor público e ao setor privado.”
Da Costa ressaltou que o auxílio às grandes empresas tem participação direta de um “consórcio” de bancos comerciais - privados e o Banco do Brasil - junto com o BNDES. Não será horizontal, escolhendo setores inteiros da economia, mas olhando indicadores específicos que demonstrem a saúde financeira de cada companhia (como endividamento) e o potencial de geração de empregos na futura retomada quando o pico da pandemia ficar para atrás. “Queremos minimizar as perdas das empresas, mas elas vão acontecer”, ponderou. Na sua avaliação, o governo pretende aproveitar a saída da crise para aumentar a competitividade da economia. Alertou, no entanto, que os gastos de agora não podem piorar excessivamente as condições de recuperação. “Estamos em uma situação muito difícil, mas nossas ações podem definir quem seremos no futuro”, acrescentou o secretário. “Em momento de enorme crise, alguma expansão de gasto já está acontecendo, mas essa não é a ação que vai caracterizar a retomada”, disse Da Costa, reiterando que não há um recuo nas convicções liberais da equipe econômica e que a aposta nas reformas continua como uma prioridade. Da Costa lembrou ainda que o governo está trabalhando para que linhas de capital de giro cheguem à ponta, especialmente nas pequenas e médias empresas, o que ainda não aconteceu. “As primeiras medidas foram monetárias, agora temos que garantir que recursos cheguem”, afirmou ele. “Talvez os recursos tenham ido para grandes empresas e para quem tinha recursos disponíveis”, completou. “Também estamos trabalhando em outras linhas para garantir que os recursos cheguem à pequenas empresas.” Ele disse esperar que a oferta chegue “em poucas semanas” para as empresas. A solução para as pequenas, de acordo com o secretário, passa pela oferta de crédito com garantias do governo, que assumiria os maiores riscos das operações. No caso das médias, o foco deverá ser na preservação dos postos de trabalho.
*”Por alívio na tarifa, MME pode estender concessão de usinas”* - Uma das ações cogitadas pelo MME e pela Aneel é a repactuação voluntária dos contratos bilaterais de compra e venda de geradoras com distribuidoras
*”Indústria e comércio iniciam demissões e preveem ao menos 3 milhões de cortes”* - Ainda sem dados oficiais para medir o impacto da crise do novo coronavírus no mercado de trabalho, entidades setoriais tentam mapear como empresários têm reagido a esse choque. Pesquisas de associações apontam que a demissão não é a primeira opção dos empregadores, embora em muitos casos ela não tenha sido evitada. Levantamento da associação da indústria de máquinas e equipamentos (Abimaq) feito entre 30 de março e 3 de abril a partir de uma amostra de associadas aponta que 21,5% demitiram parte de seus funcionários (cerca de 16,4% do quadro) em razão da pandemia. Foram cerca de 11 mil postos diretos fechados, ou 3% dos trabalhadores do setor. A medida mais citada, por 63% dos empresários, porém, foi o oferecimento de férias individuais, para 27% dos funcionários. Com 86% dos fabricantes relatando piora na atividade, o temor é que o número de demissões cresça significativamente. Segundo José Velloso, presidente-executivo da Abimaq, a estimativa atual é que o contingente chegue a 50 mil desempregados diretos e 150 mil indiretos.
Das empresas ouvidas, cerca de um terço já buscou crédito para capital de giro em bancos, sendo que a finalidade mais citada (48%) era custear a folha de pagamento. Segundo as empresas, as condições médias encontradas foram juros de 14,3% ao ano, com carência de sete meses e prazo de 26 meses. Apenas 11% afirmaram já terem finalizado o processo - entre aquelas que ainda não tomaram os recursos, 20% alegaram falta de crédito no mercado. “Nenhuma ação de crédito chegou à ponta. Empresas de pequeno e médio porte estão sem capital de giro. Aqueles que recebidos pelos bancos encontram juros no dobro do que tinham”, diz Velloso. “Isso vai empurrar ainda mais as empresas para problemas.” Outra pesquisa, encomendada pelo sindicato da micro e pequena indústria do Estado de São Paulo (Simpi), revela situação semelhante. Foram ouvidas 208 indústrias da região nos dias 13 e 14 de abril. Embora 64% dos entrevistados considerem sua situação financeira atual ruim ou péssima e 53% tenham dito de ela piorou nos últimos dez dias, a parcela das empresas que já demitiu desde o começo da crise ainda não é maioria e soma 18%. Boa parte (6% em ambos os casos) desligou até 10% empregados ou então mais de 30% dos funcionários, em fábricas que têm, em média, até 50 empregados.
Na percepção de 71% dos entrevistados, porém, as medidas do governo não chegaram a suas empresas e 91% dizem que não têm acesso a crédito. “A empresa ou vai diminuir a carga horário ou vai demitir. Precisamos de uma enxurrada de recursos imediatamente na ponta. Não podemos enfrentar um problema novo com as velhas fórmulas de análise de crédito” diz Joseph Couri, presidente do Simpi. Para comércio e serviços, a preocupação é ainda maior. Segundo a associação de bares e restaurantes (Abrasel), cerca de 350 mil postos foram fechados até 10 de abril. A entidade alerta que os cortes no início de maio poderão alcançar 1 milhão, caso estabelecimentos não retornem a suas atividades, ainda que gradativamente. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) não tem número fechado, mas calcula que, considerando queda de 41% no faturamento do varejo em março ante igual mês de 2019, há potencial para destruição de 1,8 milhão de postos formais em três meses. “Estatísticas mostram cerca de 1,2 milhão de acordos para reduzir jornada ou suspender contrato. É um universo pequeno perto do número de trabalhadores formais, então faz pensar que o grosso do impacto ainda pode vir com demissão”, diz Fabio Bentes, economista da CNC.
*”Comissão alerta Moro para ‘imenso risco’ aos povos indígenas”* - Os povos indígenas estão ameaçados de genocídio diante da covid-19. Entre os índios brasileiros, os grupos isolados “são os mais vulneráveis entre os vulneráveis”. A primeira frase é da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, referência internacional no assunto. A segunda é de um ofício protocolado anteontem no Ministério da Justiça e Segurança pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, mais conhecida como Comissão Arns. A carta foi encaminhada ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a quem está subordinada a Fundação Nacional do Índio (Funai). Foi assinada pelo jurista e ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns. Pelo ofício, a comissão pede que o ministério mobilize “suas forças de segurança para impedir a invasão de terras indígenas e expulsar, nos termos da lei, invasores de todas essas terras, bem como das áreas interditadas para a proteção de povos isolados”. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA) há 116 registros de povos isolados, sendo 28 confirmados pela Funai e os demais em estudo. “No contexto atual da pandemia, as invasões colocam em imenso risco a sobrevivência dos povos indígenas”, diz o texto. Em seguida, lista alguns casos: na TI Karipuna, em Rondônia, grileiros se aproximam da aldeia Panorama, “onde os indígenas se refugiaram para tentar se proteger do novo coronavírus”.
No Pará, o avanço ocorre em várias frentes, “especialmente na TI Trincheira-Bacajá”. No Maranhão, líderes guajajara “têm sido vítimas recorrentes de assassinato” pela atuação ilegal de madeireiros. Segundo a plataforma de monitoramento dos povos indígenas na pandemia feita pelo ISA, existem hoje 27 casos de indígenas confirmados em áreas rurais e três mortes, duas no Alto Rio Solimões e uma de um jovem yanomami. O texto pede ação direta do ministro Moro. Solicita a “adoção de medidas urgentes” à proteção das terras indígenas “diante da possibilidade de uma catastrófica mortandade entre povos” e até “da extinção de alguns grupos”. Manuela, membro da Comissão Arns e responsável pela relatoria dos povos indígenas, lembra que em 2019 estimavam-se em 20 mil os garimpeiros invasores da TI Yanomami, em Roraima. “Agora já se fala em 30 mil.” Em março, o líder yanomami Davi Kopenawa esteve em Genebra participando de audiência no Conselho de Direitos Humanos da ONU, com participação da Comissão Arns e do ISA. “Há um problema geral de aumento de invasões”, diz a antropóloga, lembrando que os invasores têm sido movidos pela mensagem de que podem ocupar que o governo vai legalizar. “É algo gravíssimo.”
Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), de janeiro a setembro de 2019 havia 150 terras indígenas invadidas, mais que o dobro do verificado em 2018 - 73 registros. “Este é um grande perigo, porque leva ao contágio”, diz Manuela, lembrando que os indígenas estão tentando se isolar para evitar ficarem doentes. Epidemias de gripe, sarampo e varíola dizimaram povos no passado. “Há muitos testemunhos históricos destes fatos”, diz Manuela, professora aposentada da Universidade de São Paulo e da Universidade de Chicago. Segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os alertas de desmatamento em março aumentaram 29,9% em relação a março passado, que já havia sido “desastroso”, diz o ofício. Fundada em 2019, a Comissão Arns tem 22 membros.
*”Impeachment de Bolsonaro requer um crime, diz presidente do Clube Militar”* - Há pouco mais de um mês, quando se iniciavam panelaços diários contra Jair Bolsonaro, o presidente do Clube Militar, general da reserva Eduardo José Barbosa, de 64 anos, considerava não haver qualquer condição para que um processo de impeachment fosse “pra frente” porque o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM) tinha “consciência” de que um pedido de afastamento do chefe do Executivo não prosperaria. O assunto, porém, já é cogitado como uma possibilidade, depois do avanço da crise do novo coronavírus e da reação da classe política, do Judiciário e da sociedade civil à participação de Bolsonaro em ato em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, onde manifestantes radicais, no domingo, pediram um golpe militar e um novo AI-5, que fortaleceu a ditadura em 1968. Para Barbosa, Bolsonaro pode ser alvo de um processo de impeachment desde que haja uma “argumentação”, “se realmente acharem alguma coisa que ele esteja cometendo de crime [de responsabilidade]”. O presidente do Clube Militar, instituição que costuma refletir o pensamento das Forças Armadas, ressalva, no entanto, que o pedido não poderia se basear apenas num juízo político. “Ouvi falar, não sei se é verdade, que estão preparando um processo de impeachment por causa de ingovernabilidade. Isso não existe, que crime é esse?”, afirmou ao Valor.
Lembrado de que boa parte de deputados e senadores votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) com base na mesma tese da ingovernabilidade e do “conjunto da obra”, Barbosa reafirma que em 2016 houve a caracterização de um crime de responsabilidade, ainda que a manobra contábil no governo da petista já tivesse sido operada por outros presidentes. “Conjunto da obra foi a argumentação, sim, mas o crime caracterizado foi a pedalada fiscal. Ah, mas os outros [presidentes] também faziam? Talvez. Só que não abriram [processo de impeachment] contra eles”. Questionado se a destituição de Bolsonaro poderia ser considerada um “golpe”, como os apoiadores do presidente proclamam nas redes sociais, o general da reserva reforça a questão jurídica. “Não sei qual vai ser a argumentação. É golpe se não tiver argumentação. [Com a Dilma] O conjunto da obra foi agravante, digamos assim. Mas não pode julgar somente pelo agravante. Primeiro tem que ter o crime”, diz. Em menos de 16 meses de mandato, mais de uma dezena de ações e falas de Bolsonaro já foram apontadas como passíveis de enquadramento como crime de responsabilidade. Mas sua participação e discurso em frente a um quartel do Exército, em manifestação com várias faixas que pediam intervenção militar, com o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal (STF), configurou o episódio em que foi mais longe. Até o procurador-geral da República, Augusto Aras, cuja atuação tem sido criticada pela tolerância com Bolsonaro, pediu a abertura de inquérito sobre os atos realizados em Brasília e em outras cidades do país, o que foi autorizado ontem pelo STF.
Eleitor de Bolsonaro em 2018, Eduardo José Barbosa minimiza a presença do presidente no protesto. “Ele ter ido não há nada demais. Não estava propriamente apoiando aquelas faixas ou dizeres. Ele próprio não falou sobre quebra de hierarquia institucional”, diz. O general da reserva argumenta que o país já teria visto outros atos, realizados pela esquerda, e “com aval de presidentes”, nos quais militares teriam sido atacados verbalmente e nos quais o fim da Polícia Militar (PM) estava entre as pautas. A abolição da PM no Brasil já foi recomendada pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) como forma de combater as execuções extrajudiciais e os esquadrões da morte. Para Barbosa, as manifestações políticas são democráticas “desde que sejam pacíficas”. “Antidemocrático seria fechar [Congresso e STF]. Mas pedir o pessoal pode; é só uma manifestação”, diz. Indagado se palavras, por vezes, podem ser instrumentos para a violência e a ilegalidade, ou se constituem, elas mesmas, um crime, como ameaçar alguém de morte, o militar relativiza. “Até onde sei, ameaça [de morte] é um crime, embora a Justiça, às vezes, possa ter a interpretação de que se você planejar o crime, como um assalto a banco, não é necessariamente um crime. Se eu não colocar em execução, não é crime nenhum. Mas não sou jurista pra dizer o que o juiz vai considerar como prova. Isso é controverso”, diz, acrescentando que seria inviável “condenar tudo que é discurso”.
A defesa de um golpe militar já foi sugerida em palestra pelo filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), quando, em 2018, disse que bastariam “um soldado e um cabo” para fechar o STF. Barbosa afirma que não há clima para uma intervenção militar nos moldes do que aconteceu em 1964 e que, quatro anos depois, levou ao recrudescimento da ditadura, com o Ato Institucional nº 5. “O AI-5 foi um mecanismo criado para combater uma luta armada que começou a acontecer no Brasil. Foi uma coisa específica daquela época. Não estamos nesse cenário”, diz. Para o general da reserva, o governo de então não tinha um preceito constitucional que desse amparo para tomar decisões mais rigorosas. “Hoje, a Constituição prevê medidas que possam ser tomadas para combater pandemias ou um cenário de crise qualquer, as mais graves seriam o estado de defesa ou de sítio, que têm que ter aprovação do Congresso. É diferente”, afirma. Barbosa diz que as manifestações de domingo não querem “dizer nada”: “O povo está indo para frente do quartel, mas o pessoal do quartel não está participando e, até onde eu sei, e conheço o atual comandante do Exército [general Edson Pujol] muito bem, tenho certeza absoluta de que a política está fora do quartel”. Para o presidente do Clube Militar, o posicionamento mais contundente da caserna contra os atos não seria necessário porque “a posição do Exército é não ter posição”.
Em sua opinião, no entanto, Bolsonaro estaria sendo alvo de um boicote do Congresso e do STF, que estariam o impedindo de governar. Barbosa nega que o presidente esteja mobilizando seu eleitorado contra as instituições, num processo de radicalização semelhante ao ocorrido na Venezuela, e com sinal invertido, pela extrema-direita. Afirma que, diferentemente de Hugo Chávez, Bolsonaro não tem controle do Parlamento e do Supremo, e não faria perseguição à oposição. Sobre o discurso de campanha, quando o então candidato disse que ele e seus seguidores iriam “fuzilar a petralhada”, o general minimiza, considerando que “aquilo é figura de retórica”. Para Barbosa, o que muitos criticam como falta de habilidade política, populismo, radicalismo e autoritarismo de Bolsonaro é consequência da escolha dos eleitores. “Quando ele diz “o meu jeito é esse” é porque foi isso que o fez ganhar as eleições”, diz o general, para quem não tem nada de errado Bolsonaro querer implementar sua agenda “porque o povo o elegeu”. Lembrado de que a população também elegeu o Congresso, Barbosa endossa a retórica de Bolsonaro, segundo a qual os parlamentares o chantageariam com a política do toma-lá-dá-cá. No entanto, da mesma forma como não mostrou provas de que houve fraude nas eleições de 2018, o presidente não apresenta fatos concretos que baseiem suas críticas ao Parlamento. “Acho que está todo mundo errado”, concede o general. O militar afirma que não põe a mão no fogo por ninguém, ao ser recordado que Bolsonaro, apesar do discurso anticorrupção, tem dezenas de pessoas ligadas à sua família, além do filho e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigados pela prática de rachadinha. “Não tenho nada a favor de Eduardo, nem de Flávio, nem do próprio Jair Bolsonaro. Se acharem alguma coisa desonesta de Jair Bolsonaro, que processem e, se for condenado, que seja preso também”, diz.
+++ O general expressa o que talvez também seja a compreensão que Jair Bolsonaro possa ter sobre o que é democracia. Eles acreditam que basta ganhar as eleições para ter poder sobre os outros Poderes, sobre as demais instituições.
*”Crise institucional ainda não é risco, afirma Garman”* - Para diretor do Eurasia,Congresso está mais preocupado em enfrentar coronavírus do que elevar tensão com Bolsonaro
*”Governo e empresários cobram Plano Teich”*
*”Ministro dá aval para investigar ato pró-AI-5”*
*”Radicalismo de Bolsonaro é retórico, afirmam auxiliares”* - O gesto do presidente Jair Bolsonaro, de participar de uma manifestação pró-AI-5 em frente ao Quartel General do Exército no último domingo, foi visto no Palácio do Planalto mais como um arroubo retórico do que uma ameaça, ainda que velada, à institucionalidade do país. Mas para militares, alguns deles integrantes do governo, o presidente passou do ponto e chegou perto de uma “linha vermelha”. Ministros e outros auxiliares enxergam que o presidente tenta dissociar a sua imagem e suas atitudes da instituição Presidência da República. Comporta-se como candidato, endurece na retórica contra a chamada “velha política” e na defesa de teses contrárias às do próprio governo - ou que em situação normal seriam consideradas uma afronta à democracia. Porém, o governo continua funcionando normalmente, ministros seguem diretrizes técnicas e as negociações com o Congresso seguem dentro de um patamar normal para a atual gestão. Consultado sobre se é possível separar os atos e palavras do presidente da instituição que ele representa, um general respondeu com uma pergunta: “Independente do que foi dito, e sobre isso me reservo o direito de não comentar, como se materializa a instituição Presidência da República? A Constituição Federal brasileira há de ser sempre solução a todos os desafios institucionais do país. Não há atalhos fora dela!”, afirmou o general. Na opinião de interlocutores, o alvo no domingo não foi a democracia, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem o Palácio do Planalto tenta enfraquecer atraindo partidos do Centrão para sua esfera de influência.
Uma sinalização disso é a adesão de Roberto Jefferson, presidente do PTB, à tese sem provas de que Maia está tramando um golpe contra o presidente. Outros partidos estão em conversas por cargos no governo. Mas a presença de Bolsonaro em um ato pró-golpe em frente ao QG do Exército, em Brasília, incomodou a cúpula militar e ligou alertas no governo. A caserna fez chegar a Bolsonaro seu desagrado por meio dos militares que despacham no Planalto e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, que emitiu uma nota para deixar claro que as Forças Armadas não pretendem sustentar um golpe. “As Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição Federal. O momento que se apresenta exige entendimento e esforço de todos os brasileiros”, escreveu. “Nenhum país estava preparado para uma pandemia como a que estamos vivendo. Essa realidade requer adaptação das capacidades das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: o coronavírus e suas consequências sociais. É isso o que estamos fazendo”. A nota reflete também pressões de parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Azevedo chegou a trabalhar no gabinete do presidente da Corte, Dias Toffoli, antes de ganhar um cargo na Esplanada. Auxiliares avaliam que, apesar do puxão de orelha, Bolsonaro continuará radicalizando ocasionalmente. Acreditam que, nas vezes em que tentou moderar o discurso, seguiu sob críticas da mídia e ainda perdeu apoio entre o núcleo mais radical e fiel de sua base. Ao radicalizar, conseguiu reconquistar apoio, sobretudo nas redes sociais. O objetivo é manter a base acesa. Com 30% de apoio, ele está garantido em um segundo turno eleitoral em 2022, acreditam.
*”Governo quer selar acordo com o Centrão”*
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*”Alguns Estados do sul dos EUA começam a reabrir economia”* - EUA vivem disputa entre o presidente Donald Trump e parte dos governadores, que querem manter as medidas de restições para conter a epidemia. Outros governadores, porém, estão autorizando a retomada de atividades não essenciais
*”Estudo francês indica risco de retorno da epidemia”* - Estudo francês diz que nível de imunização no país é baixo demais, o que indica que um relaxamento prematuro das medidas de isolamento social poderia causar uma nova onda da epidemia
*”‘Curva na baixa renda vai definir plano de ação’”* - Para Pércio de Souza, da Estáter, indicadores de contaminação e óbitos da covid-19 no Brasil nos próximos 15 dias ajudarão a traçar estratégia de retomada às atividades

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