terça-feira, 21 de abril de 2020

Bolsonaro recua enquanto negocia no Congresso


À porta do Palácio da Alvorada, ontem pela manhã, um presidente Jair Bolsonaro distinto daquele de domingo conversou com sua claque de praxe. Quando um sugeriu o fechamento do Supremo, ele interveio. “Sem essa coisa de fechar”, afirmou. “ Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é minha casa, é a tua casa. Então, peço por favor que não se fale isso aqui. Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente.” Segundo o presidente, qualquer manifestante que estivesse pedindo por um AI-5 ou confronto com as instituições da Democracia exercia seu direito de livre expressão mas que ele pedia era o retorno ao trabalho. “Em todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão. Pegue o meu discurso, dá dois minutos, não falei nada contra qualquer outro poder, muito pelo contrário.” E arrematou, tentando explicar que defendia o sistema democrático. “Eu sou realmente a Constituição.”

Míriam Leitão: “Bolsonaro tentou consertar ontem o que havia feito na véspera, como é de seu estilo. Mas, ao fazer isso, mostrou de novo que de democracia ele não entende. ‘A Constituição sou eu.’ Não é não. A Lei Maior está sobre todos nós, e a ela todos devemos respeito, inclusive o presidente. O ato ao qual compareceu no domingo na prática pedia o fim da Constituição como foi pactuada entre os brasileiros em 1988. As Forças Armadas ficaram em silêncio durante um dia inteiro. No começo da noite de ontem, o Ministério da Defesa disse que as Forças Armadas trabalham ‘com o propósito de manter a paz e a estabilidade’ e disse que são obedientes à Constituição. O problema é que há muita ambiguidade. A ordem do dia de 31 de março exaltava o golpe, dizendo que ele fora feito para defender a democracia. O presidente usa símbolos do Exército — o dia, o local — para passar a mensagem de pedido de intervenção militar. Ontem, Bolsonaro se fez de desentendido. Ora, presidente, não faça tão pouco da inteligência alheia. A presença física do chefe do Executivo, comandante em chefe das Forças Armadas, já era suficiente. Significa endosso ao que estava escrito nas faixas e ao motivo da convocação. As democracias não morrem mais como antes, com militares, tanques e blindados desfilando nas avenidas das grandes cidades. Eles morrem aos poucos, quando um chefe de governo vai minando diariamente a força dos poderes, como foi feito pelo coronel Hugo Chávez na Venezuela. Se cercou de militares e era isso que se via em Miraflores, uma presidência militarizada. Chávez atacava diariamente a imprensa, os partidos que não se submetiam a ele, a Justiça e estimulava a polarização. Nos seus discursos, ele dizia falar pelo povo. Chávez dizia que, com ele, o povo estava no poder. O populismo é assim.” (Globo)

Enquanto isso... O PT estuda apresentar um pedido de impeachment do presidente diz Bela Megale. (Globo)

Não será o único. De acordo com Guilherme Amado, já são 16 os pedidos de impeachment na mesa de Rodrigo Maia. Ao menos por enquanto, todos na gaveta. (Época)



Bolsonaro subiu na picape domingo para afirmar que não negociaria. Enquanto isto, está em fase de negociação aberta de troca de cargos por votos com partidos do Centrão, no Congresso. Segundo o que a repórter Thais Bilenki ouviu de parlamentares, o clamor por ditadura e as críticas à velha política formam uma cortina de fumaça para desviar o olhar do troca-troca em curso. No fundo está o princípio do desgaste de Rodrigo Maia, cujo mandato como presidente da Câmara se encerra em fevereiro de 2021, e já há grupos políticos pleiteando a posição. É onde o Planalto gostaria de intervir. Não à toa, portanto, a onda de ataques bolsonaristas a Maia, via redes sociais. Mas a estratégia tem um risco: embora seja pequena, existe uma base leal ao bolsonarismo no Legislativo. E ela se oporá, provavelmente com estridência, à distribuição de cargos para o Centrão. (Piauí)

Pois é... Líder da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor durante seu processo de impeachment, delator do Mensalão petista após se desentender com o então ministro José Dirceu a respeito do valor do butim, ex-presidiário da Lava Jato, Roberto Jefferson está de volta. 

Agora, defendendo Bolsonaro. Jefferson circula com a ‘denúncia’ de que Maia trama contra o presidente. Sinal de que o PTB está mergulhado na negociação. (Folha)




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