segunda-feira, 6 de abril de 2020

Análise de Mídia 06/04

 
DOS JORNAIS DE HOJE: Os conflitos de Jair Bolsonaro com outras figuras políticas e com os ministros de seu governo são o principal tema do noticiário político. A última pesquisa Datafolha que revela a aprovação muito maior ao ministro da Saúde do que a do presidente é utilizada pela Folha para demonstrar que, no momento, Jair Bolsonaro não pode demitir Mandetta. No entanto, os jornais mostram que Bolsonaro já ameaça demitir o ministro da Saúde e outros que ele considera que estão se achando estrelas.
O jornal O Globo aborda o avanço do coronavírus em cidades do interior, onde a estrutura hospitalar é menor ou quase não existe. O jornal também informa que os governos estaduais estão buscando empréstimos com instituições internacionais para burlar a falta de ação do governo federal. Além disso, o Globo ainda publica reportagem sobre como o capitalismo pode ser afetado pela pandemia.
O Estadão, por sua vez, informa que o número de consultas médicas a distância está explodindo no Brasil. O jornal também aborda o que devem ser as próximas ações do Banco Central para tentar injetar dinheiro na economia diante dos aumentos de juros que os bancos têm imposto a quem busca crédito. O Estadão também mostra que empresários estão cobrando medidas do governo, mas o secretário do Tesou Nacional, Mansueto Almeida, disse em entrevista ao jornal que a pandemia não pode se transformar em uma “farra fiscal”. Sinal de que a política de austeridade continua em marcha por aqui. Por fim, o Estadão mostra que os pequenos agricultores já estão sendo duramente atingidos pela crise.
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Isolamento contra vírus tem apoio de 76%, diz Datafolha”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Caixa de Pandora”*: O impacto devastador da crise provocada pela pandemia de Covid-19 sobre a renda das famílias e a receita das empresas tumultuará, inevitavelmente, as relações contratuais que envolvem pessoas físicas e jurídicas. Nesse contexto, é desejável evitar que reveses temporários resultem em danos permanentes para os mais vulneráveis. Para tanto, países têm adotado normas jurídicas excepcionais para este período de colapso da atividade econômica. O Brasil deu o primeiro passo nessa direção com a aprovação, pelo Senado, do projeto de lei 1.179/2020, na sexta (3). O texto, que ainda passará pela Câmara dos Deputados e pelo crivo presidencial, institui um regime emergencial a vigorar de 20 de março a 30 de outubro, a tratar de temas tão diferentes quanto ações de despejo e serviços de entrega de mercadorias. Deve-se ter em mente que interferir em contratos livremente firmados entre particulares constitui uma anomalia. Ainda que a emergência do coronavírus possa justificá-la, a tarefa é complexa e sujeita a equívocos desastrosos. Fizeram bem os autores do projeto —uma associação entre as cúpulas do Legislativo e do Judiciário, ficando o Executivo de fora— em abandonar propostas como a que permitira a suspensão do pagamento de aluguéis. A pretexto de proteger inquilinos, a medida colocaria em risco locadores que dependem dessa renda.
Mesmo em questões menos controversas, o texto estará sujeito a questionamentos. O dispositivo que suspende o prazo para usucapião, por exemplo, parece inferir que o Judiciário ficará inoperante nos tempos de confinamento —o que não é verdadeiro. Corretamente, o projeto suspende liminares para desocupação de imóvel urbano em ações de despejo ajuizadas a partir de 20 de março. Pode-se objetar, contudo, que ações de reintegração de posse não tenham sido incluídas na norma. Tampouco se mostra indiscutível a necessidade de restringir o direito do consumidor de se arrepender de uma compra pela internet. Empresas têm adaptado seus sistemas de venda por essa via, e não se conhecem dados que sustentem a impossibilidade de fazê-lo dentro das normas vigentes. Dúvidas à parte, o diploma votado pelo Senado tem o mérito de oferecer algum ordenamento mínimo para os tempos excepcionais que teremos pela frente. Pior será ficar à mercê de decisões voluntaristas de juízes de primeira instância ou iniciativas irrefletidas deste ou daquele parlamentar. Infelizmente não há tempo para um debate mais aprofundado em torno de temas tão espinhosos. Que os deputados examinem o texto com cautela, sem abrir uma caixa de Pandora de normas arbitrárias e mal concebidas.
PAINEL - *”Depen estima que 30 mil presos tenham sido liberados por decisões judiciais durante pandemia”*
PAINEL - *”Governadores articulam proposta de PEC para adiar pagamentos e dívidas”*: Insatisfeitos com a demora do governo em atender os seus pleitos, governadores do Sul e Sudeste articulam propor uma PEC diretamente aos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), que já foi batizada de emergencial. Uma das propostas em estudo, discutidas na semana passada, é adiar a data limite para o pagamento de precatórios atrasados, dívidas decorrentes de perdas na Justiça, de 2024 para 2040, além da suspensão do teto de despesas com pessoal (de 60%). O deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), relator do chamado Plano Mansueto, de socorro a estados, é contra o pacote. "O isolamento acaba em junho. Temos que arrumar a casa, e rápido, e não ficar querendo aproveitar o momento e dar uma de malandro", diz.
PAINEL - *”Plano de Ministério da Saúde prevê flexibilização de isolamento logo após a Páscoa”*: O Ministério da Saúde planeja começar nesta semana a preparação para mudar a orientação do tipo de isolamento, saindo do atual para o chamado de restrito, cujo foco é mais direcionado a idosos e grupos de risco. A abertura deve ser por regiões, desde que respeitados critérios, como número suficiente de leitos de UTI, respiradores, máscaras, luvas, pessoal e testes rápidos em grande volume. A nova orientação passaria a valer a partir da Páscoa, dia 13. Com a dificuldade com fornecedores e para importação de insumos, o ministério pode reavaliar a data. O plano elaborado que deve ser colocado em prática, revelado pela Folha, prevê escolas fechadas até fim de abril, com possibilidade de prorrogação até o fim de maio. A quarentena virou o principal motivo de embate entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Integrantes da pasta chefiada por Mandetta ficaram irritados com um evento marcado pela XP Investimentos sobre o uso de hidroxocloroquina, cuja eficácia não tem comprovação. Nos bastidores, questionava-se por qual motivo a corretora dava espaço para o tema controverso e para a Prevent Senior, que concentra 58% das mortes por coronavírus em São Paulo. O evento foi adiado.
PAINEL - *”Em crise com Mandetta, Bolsonaro apoia postagem de Osmar Terra contra isolamento”*: Entre um e outro compromisso do fim de semana, como divulgar vídeos sobre uso de hidroxocloroquina, anunciar a religiosos que vai demitir integrantes do governo e aglomerar pessoas sem máscaras em frente ao Palácio da Alvorada para oração, Jair Bolsonaro usou o Twitter para mostrar apoio ao ex-ministro Osmar Terra (MDB-RS). O deputado federal e médico ganhou uma curtida do presidente em uma postagem que dizia que países que tentaram quarentena não conseguiram achatar a curva de casos e estão no pico da epidemia. Osmar Terra virou contraponto de Luiz Henrique Mandetta e referência de bolsonaristas. Ele diz que apenas idosos e grupos de risco devem ser isolados. Neste sábado, o Twitter aplicou uma sanção em uma outra postagem feita pelo ex-ministro, na qual ele afirmava que "a quarentena aumenta os casos do coronavírus".
PAINEL - *”Recado de Bolsonaro sobre demissão de estrelas foi para Mandetta e Moro, avaliam políticos”*: Entre políticos, o recado de demissão dado por Jair Bolsonaro neste domingo (5) não foi só para Luiz Henrique Mandetta (Saúde), mas também para o ministro Sergio Moro (Justiça). Segundo relatos, a relação entre o ex-juiz e o presidente degringolou no ano passado e não mais se refez. No início deste ano, Bolsonarou chegou a falar da possibilidade de recriar um ministério de segurança pública, que esvaziaria os poderes de Moro. Pela manhã deste domingo, Bolsonaro recebeu o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, e o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), amigo de longa data. Segundo Fraga, que já foi cotado algumas vezes nos últimos meses para se tornar ministro, o presidente apenas relatou sua preocupação com a situação econômica do país.
Para parlamentares de centro, a pesquisa Datafolha, que mostrou que a renúncia do presidente da República em meio à sua atuação no combate à Covid-19 é rejeitada por 59% dos brasileiros, revela que eles estão certos de não colocar o impeachment na ordem do dia.
*”Sem citar Mandetta, Bolsonaro ameaça demitir integrantes do governo que viraram 'estrelas'”* - Sem citar nomes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse neste domingo (5) que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta". "[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona", afirmou Bolsonaro a um grupo de cerca de 20 religiosos que se aglomerou diante do Palácio da Alvorada. "Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu", disse o presidente. Bolsonaro não falou com os jornalistas nem permitiu que a imprensa se aproximasse do local onde conversou com os religiosos. No entanto, parte da conversa foi transmitida pelo próprio governo em suas redes sociais. Outros trechos da fala de Bolsonaro foram gravados por apoiadores. Nos últimos dias, Bolsonaro vem se estranhando com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e chegou a afirmar que falta humildade ao seu auxiliar e que ele extrapolou.O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa. Após essa declaração, dada na quinta-feira (2), o ministro reagiu em seguida e disse: "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha". Nos bastidores, Mandetta tem dito a aliados que não pretende pedir demissão e só sairá do cargo por decisão de Bolsonaro. Procurado pela Folha para se manifestar sobre as declarações do presidente neste domingo, o ministro não respondeu.
Além de Mandetta, outros ministros têm discordado de Bolsonaro nessa crise. Conforme a Folha mostrou, Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) uniram-se nos bastidores no apoio ao colega da Saúde e na defesa da manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população. O trio formou uma espécie de bloco antagônico, com o apoio de setores militares, criando um movimento oposto ao comportamento do presidente. Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada, a aprovação da condução da crise do coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou e já é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente. Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde. Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%).​ A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu no final de março, quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia de Brasília, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde. O giro de Bolsonaro ocorreu um dia após Mandetta ter reforçado a importância do distanciamento social à população nesta etapa da pandemia do coronavírus.
Neste domingo, Bolsonaro, que já demitiu quatro ministros (Gustavo Bebianno, Ricardo Vélez, Santos Cruz e Osmar Terra) e deslocou outros três (Floriano Peixoto, Gustavo Canuto e Onyx Lorenzoni) desde que assumiu o poder, em 2019, disse ter errado na escolha de alguns deles. "Escolhi, critério técnico, errei alguns, alguns já foram embora. Estamos vivendo agora um novo momento. Uma crise, chegou no mundo todo, não deixou o Brasil de fora. O outro problema que vivemos é a questão do desemprego", disse Bolsonaro. Desrespeitando as recomendações das autoridades sanitárias, ele e seu ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) fizeram uma aglomeração com evangélicos que jejuaram por Bolsonaro durante todo o dia. O presidente, que convocou o jejum como forma de combater o coronavírus, recebeu aliados, entre eles o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF). De acordo com o ex-deputado, Bolsonaro estava de jejum desde a 0h de domingo e havia tomado apenas uma xícara de café. "Só o cafezinho. Não vi ele comer nada", disse. Segundo Fraga, o presidente relatou sua preocupação com a situação econômica do país. Apesar de ter apertado a mão e abraçado um pastor, Bolsonaro não atendeu a pedidos de posar abraçado com fiéis. "Eu vou ser esculhambado pela imprensa", disse a uma mulher. Bolsonaro e os apoiadores oraram, e o presidente chegou a se ajoelhar no chão com eles. Ao falar das consequências econômicas oriundas do coronavírus, afirmou que o Brasil tem um povo "até pacífico demais". "Nenhum país no mundo tem o que a gente tem, em especial o povo, até pacífico demais até muitas vezes. Mas a gente tem que pregar isso, uma mensagem de paz e não de terrorismo, histeria, como foi pregado junto ao povo brasileiro", disse o presidente.
Em mais um ataque a governadores, com quem vem travando uma disputa política em torno das medidas restritivas, ele disse, sem citar nomes, que os chefes dos estados agem por motivações políticas. "Cada chefe do Executivo querendo dizer que determinou mais medidas restritivas do que o outro, como se estivesse preocupado com a vida de alguém. Alguns se renderam às decisões desses governantes e acabaram cumprindo. Já tem gente que está voltando atrás, tem chefe que está voltando atrás", afirmou Bolsonaro. Ainda neste final de semana, a AGU (Advocacia-Geral da União) afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o governo Bolsonaro tem seguido todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde no combate à pandemia, incluindo medidas de isolamento social. Apesar das recorrentes críticas de Bolsonaro ao isolamento, a AGU disse que as medidas adotadas até aqui visam justamente manter as pessoas em casa, a exemplo do auxílio emergencial a trabalhadores informais. A manifestação foi feita na ação em que o ministro Alexandre de Moraes deu 48 horas para Bolsonaro prestar esclarecimentos sobre o pedido da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para que a Corte obrigue Bolsonaro a seguir as recomendações da OMS. Sem citar o Ministério da Saúde, o advogado-Geral da União, ministro André Mendonça, que assina a peça, afirma que todas as pastas da Esplanada têm atuado de maneira coordenada, “observadas as competências de cada uma delas”.
*”Grupo de bolsonaristas se aglomera, ignora pandemia, ataca Doria e pede reabertura do comércio em SP”* - Um grupo de cerca de 200 simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) protestou em São Paulo neste domingo (5) contra as medidas de isolamento adotadas para evitar a disseminação do novo coronavírus. Aglomerado, o grupo primeiro protestou na avenida Paulista, em frente à sede da Fiesp (federação das indústrias de São Paulo), entidade aliada a Bolsonaro. Depois, seguiu para se manifestar diante da Assembleia Legislativa, onde gritou palavras de ordem contra o isolamento e o governador João Doria (PSDB), adversário político do presidente. O tucano decretou quarentena no estado e chegou a pedir para que a população não seguisse as recomendações do presidente sobre a pandemia. Os manifestantes fecharam algumas das faixas da avenida diante da Assembleia. "Governador, queremos trabalhar", gritavam, enquanto caixas de som tocavam o hino nacional. Na maior bandeira da manifestação, estava escrito "Doria vergonha de São Paulo, desgraça do Brasil, impeachment já". A Polícia Militar, que acompanhou o protesto, fechou os dois lados da avenida Pedro Álvares Cabral na altura do prédio do Legislativo. Entre os manifestantes, havia idosos, considerados parte dos grupos de risco da Covid-19, e pessoas com máscaras de proteção cirúrgicas e caseiras. Vários deles usavam bandeiras do Brasil e roupas das cores verde e amarelo, como a da seleção de futebol. Medidas mais abrangentes de distanciamento social e restrição de circulação de pessoas têm sido criticadas por Bolsonaro durante a pandemia. O governo chegou a produzir uma campanha batizada de "O Brasil não pode parar", contrária a medidas de confinamento adotadas no país. O presidente tem se mantido na contramão do que dizem especialistas e líderes mundiais, incluindo o americano e aliado Donald Trump, e também do discurso de um bloco que inclui os ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça).
Na semana passada, Bolsonaro reconheceu que ainda não tem apoio popular suficiente para determinar uma reabertura da atividade comercial no país. Em entrevista à rádio Jovem Pan, ele disse que poderia tomar uma decisão sobre o tema. “Para abrir comércio, eu posso abrir em uma canetada. Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona, na base da lei." Neste domingo (5), porém, ele admitiu a aliados que não tem poderes para determinar a reabertura do comércio. Enquanto isso, a aprovação da condução da crise do novo coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou e já é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente. É o que revelou pesquisa do Datafolha feita de quarta (1º) até esta sexta (3). O levantamento ouviu 1.511 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou menos. Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Luiz Henrique Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde.
Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%). Nessa duas semanas entre as pesquisas, Bolsonaro antagonizou-se com Mandetta em diversas ocasiões. Contrariando a recomendação internacional seguida pelo ministro, insistiu que o isolamento social não é medida salutar para conter o contágio do Sars-CoV-2. Chegou a fazer pronunciamento em rede nacional na semana passada para fazer a defesa da abertura do comércio e foi pessoalmente visitar ambulantes no entorno de Brasília. Após uma tentativa de enquadramento por parte da ala militar do governo, modulou seu discurso e fez nova fala, na terça (31), mais ponderada.
*”Com receio de demitir Mandetta, Bolsonaro repete fritura feita com Guedes e Moro”*
*”Veja ministros que assim como Mandetta foram alvo de fritura pública por Bolsonaro”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Independência de Mandetta mostra que clima não é favorável a Bolsonaro”*
*”Aprovação de ministério de Mandetta também avança entre eleitores de Bolsonaro, diz Datafolha”* - Embora o presidente mantenha um discurso oposto às recomendações feitas pelas autoridades sanitárias no enfrentamento ao coronavírus, a aprovação do desempenho do Ministério da Saúde durante a crise da Covid-19 disparou também entre eleitores de Jair Bolsonaro. A mais recente pesquisa Datafolha aponta que, entre os brasileiros que declaram ter votado em Bolsonaro no segundo turno da última corrida presidencial, 82% classificam como ótimo ou bom o trabalho da pasta comandada pelo médico e deputado licenciado Luiz Henrique Mandetta (DEM). Esse número foi registrado no levantamento feito de quarta (1º) até a última sexta-feira (3), período em que o presidente criticou publicamente a postura do ministro, que é favorável a medidas de isolamento social para frear o contágio pelo vírus, e chegou a dizer que “falta humildade” ao auxiliar. O levantamento ouviu 1.511 pessoas por telefone, para evitar contato pessoal, e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. O índice de 82% representa um impulso de 18 pontos percentuais na avaliação do ministério dentro do grupo de eleitores de Bolsonaro. Na pesquisa feita de 20 a 23 de março, a aprovação do trabalho da pasta era de 64% nesse mesmo segmento. A disparada da avaliação entre os bolsonaristas é similar à alta observada na aprovação do desempenho do ministério na média da população. Nesse mesmo período, a opinião positiva sobre a condução da crise pela pasta saltou de 55% para 76% entre todos os brasileiros.
A pesquisa aponta ainda que a diferença na avaliação do trabalho das duas autoridades foi ampliada nas últimas semanas entre os eleitores de Bolsonaro. No levantamento de março, 56% dos entrevistados desse grupo diziam que o presidente fazia um trabalho ótimo ou bom e 64% aprovaram o trabalho da pasta de Mandetta. Agora, 54% deles têm opinião positiva sobre a conduta de Bolsonaro, contra os 82% que elogiam a atuação do ministério. Na última semana, as divergências entre o presidente e o responsável pela área de saúde no governo se intensificaram. O ministro reforçou sua posição favorável ao isolamento social como ferramenta para conter o alastramento do vírus, enquanto Bolsonaro continuou a se manifestar pela retomada da atividade econômica. O presidente visitou ambulantes no entorno de Brasília, em campanha pela reabertura do comércio, e divulgou mensagens que apontavam o prejuízo enfrentado pela população devido a medidas restritivas impostas por governadores em prefeitos. No fim de semana, ele manteve esse discurso e, em sintonia com líderes evangélicos, propôs um jejum para superar a crise. Neste domingo, disse que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta".
Bolsonaro também destoou das orientações de Mandetta ao incentivar o uso da cloroquina em pacientes contaminados pelo coronavírus. O ministro costuma afirmar que o medicamento não é uma panaceia e que seu uso só deve ser feito em pessoas em estado grave ou crítico. Ainda não há comprovação científica da eficácia do tratamento, mas há indícios nesse sentido. Entre os eleitores de Bolsonaro, a aprovação do trabalho do presidente ficou estável nas últimas semanas –56% em março e 54% em abril. A avaliação negativa também oscilou dentro da margem de erro: de 14% para 18%. Os bolsonaristas mantiveram sua avaliação positiva do trabalho dos governadores, outro grupo que se tornou alvo do presidente durante a crise. Na última pesquisa, 56% dos brasileiros que declaram ter votado no presidente dizem que o trabalho dos líderes regionais é ótimo ou bom –um percentual semelhante ao obtido pelo próprio Bolsonaro nesse segmento. O Datafolha também perguntou aos entrevistados se eles concordam com o pedido do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para que os brasileiros não sigam as orientações do presidente sobre o coronavírus. Metade dos eleitores de Bolsonaro se opõe ao tucano, mas quase quatro entre dez deles estão de acordo com a declaração. Entre o público que afirma ter votado no presidente há dois anos, 37% dizem que a população não deve seguir orientações de Bolsonaro. Outros 49% dizem que Doria está errado e que o país deve cumprir as recomendações feitas pelo chefe do Palácio do Planalto.
O pedido do governador paulista foi feito há uma semana, num momento agudo do embate entre o presidente e governantes regionais –a quem Bolsonaro culpa pela retração econômica provocada pelas medidas de contenção ao vírus, como o fechamento do comércio. Doria, que se elegeu em 2018 com um discurso sintonizado com Bolsonaro, ampliou sua postura crítica ao Planalto e reforçou a recomendação para que a população fique em casa. “Não sigam as orientações do presidente da República. Ele não orienta corretamente a população e lamentavelmente não lidera o Brasil no combate ao coronavírus e na preservação da vida”, declarou o tucano, no dia 30. Ainda que a avaliação positiva do Ministério da Saúde tenha disparado entre os eleitores de Bolsonaro, a maior parte deles afirma que o presidente mais ajuda do que atrapalha no enfrentamento à Covid-19. No grupo, segundo o Datafolha, 62% dos entrevistados deram respostas favoráveis a Bolsonaro, enquanto 29% desses eleitores disseram que o presidente atrapalha mais do que ajuda. Na média da população, entretanto, essas proporções são diferentes. Para 51% dos brasileiros em geral, Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda no combate ao vírus. Pensam o contrário 40% dos entrevistados ouvidos pelo Datafolha na última semana
FÁBIO ZANINI - *”Trilogia sobre educação mostra nova trincheira do bolsonarismo contra esquerda”*: Desde o início do governo de Jair Bolsonaro, o interesse de parte da direita brasileira pelo dia 31 de março vem sendo renovado pela Brasil Paralelo. A produtora de vídeos gaúcha costuma escolher o aniversário do golpe de 1964 para lançar suas produções. No ano passado, foi um documentário condescendente com a deposição do presidente João Goulart pelos militares. Neste ano, é uma ambiciosa trilogia sobre a educação brasileira, “Pátria Educadora”. O apego à data é tamanho que o lançamento online foi mantido em plena crise do coronavírus, o que acabou diminuindo muito seu impacto. Apenas premières previstas para cinemas foram suspensas. Os números envolvidos são grandiosos. São cerca de três horas e meia de duração no total, acessíveis sem custo no YouTube, e mais 40 minutos extras para assinantes. Até a tarde de domingo (5), os três filmes tinham conjuntamente cerca de 1,3 milhão de visualizações. A produção, diz a Brasil Paralelo, custou R$ 2 milhões e o trabalho intenso de 20 pessoas durante um ano. A empresa diz que não aceita dinheiro público e se financia apenas com recursos de membros pagantes. Talvez tenham dado o passo maior do que a perna, vide os irritantes apelos por assinaturas ao custo de R$ 10 veiculados em intervalos de poucos minutos nos filmes, com o mote “não deixe nosso sonho acabar”. Correndo ou não o risco de morrer, a Brasil Paralelo tornou-se a produtora por excelência do conservadorismo bolsonarista, com o filósofo Olavo de Carvalho como figura de destaque nos vídeos e grande inspiração ideológica. “Pátria Educadora” é uma produção que segue o nicho de documentários engajados que está em alta já há alguns anos, cuja maior expressão foi “Democracia em Vertigem”. A exemplo da produção pró-PT indicada ao Oscar, “Pátria” é bem feito tecnicamente, traz bons depoimentos e imagens de arquivo e lança questionamentos pertinentes. Mas não se engane: é cinema enviesado.
A própria escolha do tema é reveladora. A educação, para os conservadores, é hoje o principal front da batalha contra o “marxismo cultural”, um suposto domínio da esquerda sobre a produção e a difusão de conhecimento. O título faz troça com o slogan do segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff, interrompido pelo impeachment em 2016. De modo geral, “Pátria Educadora” vai bem nas perguntas que faz e é simplificadora nas respostas que dá. Por que o Brasil, cujo gasto com educação é maior do que o de países mais desenvolvidos, não consegue sair das últimas colocações em rankings internacionais de aprendizado? Por que as universidades brasileiras produzem tantos artigos científicos de baixa qualidade? Por que o acesso universal à educação infantil não se traduz em jovens mais preparados? A gigantesca estrutura educacional, concentrada no MEC (Ministério da Educação), não deveria ser mais enxuta e descentralizada? São provocações bem colocadas, apresentadas com dados persuasivos sobre nossa tragédia educacional. Depoimentos de educadores, cientistas políticos, diplomatas, historiadores e filósofos, todos à direita no espectro ideológico, somam-se a uma bem feita reconstituição da história da educação no Brasil e no mundo. O papel de Gustavo Capanema, Anísio Teixeira e outras referências da área está presente. Em alguns momentos é quase possível esquecer que se trata de uma trilogia engajada, mas as numerosas falas de Olavo de Carvalho e do folclórico ministro da Educação, Abraham Weintraub, acabam desmoralizando qualquer pretensão de sobriedade. A resposta da trilogia para as perguntas que faz é rasa, para dizer o mínimo. Em uma frase, é tudo culpa da esquerda. É a mentalidade esquerdista que tornou o Brasil tão atrasado em matéria de educação, diz “Pátria Educadora”: a esquerda que aparelhou as universidades, menospreza o ensino de exatas, incentiva o desrespeito aos professores e promove a balbúrdia em festas com sexo, álcool e drogas. E também que incentivaria as discussões sobre gênero, sexualidade, racismo e xenofobia, contra os valores da família, da ordem e da pátria.
Nessa justificativa, revela-se mais uma vez a obsessão do conservadorismo com a figura de Paulo Freire. O autor de “Pedagogia do Oprimido” é praticamente pauta única do segundo filme da trilogia, que tem 1h10 min de duração. O patrono da educação brasileira, morto em 1997, é descrito como a fonte de todos os males, do suposto atraso no nosso método de alfabetização à criação de um clima de anarquia nas salas de aula. Até a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (aprovada por um governo tucano) e a dificuldade de tradução de artigos brasileiros para o inglês caem na conta dele. Nem o PT deve achar Paulo Freire tão importante assim. Em compensação, não há palavra sobre o caos que tem sido a educação no governo Bolsonaro, primeiro com a incapacidade de gestão do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, depois com a boçalidade de Weintraub e seu vídeo dançando com guarda-chuvas. Os problemas do ensino brasileiro são uma herança coletiva ao longo de décadas, e a esquerda certamente tem sua parcela de responsabilidade. O fato de ser identificada como "a" culpada é sintomático do estado de ânimos dos conservadores nesse tema. “A educação brasileira é tirânica”, diz Olavo de Carvalho em uma das suas falas, num chamado aos discípulos para empreenderem a batalha pelo ensino, contra a influência do marxismo e o poder do Estado centralizador. Como mostra "Pátria Educadora", esta guerra mal começou, e é difícil imaginar como alunos e professores se beneficiarão dela.
*”Carlos Bolsonaro estremece acordos eleitorais em partido de Crivella no Rio”*
ENTREVISTA DA 2ª - *”Mundo pós-pandemia terá valores feministas no vocabulário comum, diz antropóloga Debora Diniz”*
*”Na Itália, uma família tentava internar avô com coronavírus. Conseguiu quando alguém morreu”*
MATHIAS ALENCASTRO - *”Ministros ideológicos como Weintraub e Ernesto sabotam o Brasil”*
*”Rainha Elizabeth compara isolamento por coronavírus à separação de famílias na 2ª Guerra”*
*”Premiê do Reino Unido é internado com sintomas persistentes de Covid-19”*
*”'Não queremos outros conseguindo máscaras', diz Trump após críticas de países aliados”*
*”Médico, premiê da Irlanda vai trabalhar um dia por semana no combate ao coronavírus”*
*”Áustria é 3º país a falar em retomada; casos desaceleram em parte da Europa”*
*”Coronavírus chega a campos de refugiados na Grécia, que decreta isolamento”*
*”Apesar de baratas, não é horas de comprar ações, afirmam analistas”*
*”Alerta de crise por coronavírus demorou a chegar ao pequeno investidor”*
MARCIA DESSEN - *”Bendita liquidez”*
PAINEL S.A. - *”Mais de mil empresas se comprometem a não demitir na crise do coronavírus”*: A tônica das mensagens empresariais desde o início da quarentena foi ameaça de corte, pedido de crédito e redução de imposto. Mas, discretamente, explodiu neste fim de semana um manifesto de companhias se comprometendo a não fazer demissões. Daniel Castanho, presidente do conselho da Ânima Educação, que abriu a iniciativa após conversar com algumas dezenas de empresários, afirma que, de sexta-feira (3) a domingo (5), a lista passou de mil inscrições. O manifesto subiu para a internet em um site chamado “Não Demita”. A introdução diz aos empresários que suas companhias têm a responsabilidade de retribuir o que a sociedade lhes proporciona, “começando pelas pessoas que dedicam as vidas ao sucesso do seu negócio”. Entre os que já estão públicos aparecem nomes como Accenture, Alpargatas, Boticário, Bradesco, BR Partners, BRF, BTG, Camil, C&A, Cosan, Itaú, JBS, Magalu, Microsoft, MRV, Natura, PwC, Renner, Salesforce, Santander, SEB, Suzano, Vivo, XP e WEG. Mais nomes de empresas serão publicados gradativamente, conforme o trabalho dos programadores do site e a confirmação de que os signatários são os representantes legais das empresas. São Paulo teve cerca de 270 adesões, o Rio teve 55 e Brasília, 48, assim como Curitiba. Castanho diz que vê um amadurecimento de parte dos empresários. Na opinião dele, se o isolamento não fosse respeitado, o Brasil teria mais dificuldade para superar a pandemia. “Seria uma tragédia não só pelas mortes provocadas pelo coronavírus, mas também economicamente”, afirma ele.
PAINEL S.A. - *”Nubank manda cadeira para casa de funcionário em home office no coronavírus”*
PAINEL S.A. - *”OAB pede monitoramento de produtividade em tribunais na quarentena”*
PAINEL S.A. - *”iFood repassa R$ 500 mil em gorjeta para entregadores em 15 dias”*
PAINEL S.A. - *”Governos estudam receio de viagens durante a Páscoa”*
PAINEL S.A. - *”Empresários sugerem aproximação de Skaf com Doria por coronavírus”* - Empresários que participam do conselho criado por Paulo Skaf para melhorar a interlocução do empresariado com Bolsonaro se dizem satisfeitos com a ponte criada para levarem suas questões ao governo federal. Eles lembram, porém, que a grande preocupação da indústria é o ICMS, tributo estadual, ou seja, seria interessante ver Skaf se aproximar de João Doria, com quem disputou a eleição de 2018. Na sexta-feira (3), foi indeferido o mandado coletivo de injunção que Fiesp e Ciesp ingressaram no TJ-SP pedindo que o estado suspendesse por 180 dias o recolhimento de tributos para todas as empresas de SP. Dias antes, também não deu certo uma outra tentativa de liminar para prorrogar os tributos estaduais para os associados.
*”Maia quer discutir com governo proposta do Senado que amplia auxílio emergencial”*
*”Crédito a empresas para pagamento de salários começa a ser liberado na segunda (6)”*
RONALDO LEMOS - *”App do governo terá desafio gigante”*
*”CPTM pode obrigar funcionários em grupo de risco a trabalhar, decide TST”*
*”Justiça determina que Rappi e iFood deverão dar auxílio financeiro a entregadores afastados por coronavírus”* - A Justiça do Trabalho de São Paulo determinou em decisão liminar (provisória) neste domingo (5) que as plataformas de entrega Rappi e iFood paguem assistência financeira de ao menos um salário mínimo (R$ 1.045) aos entregadores afastados por integrarem grupos de risco, por suspeita de coronavírus ou por estarem com a doença. A decisão é válida para todo o Brasil, segundo o MPT (Ministério Público do Trabalho. A Folha procurou as duas empresas, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. A decisão, emitida pelo juiz Elizio Luiz Perez, do TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região) atende a pedidos movidos pelo MPT. A sentença garante "assistência financeira aos trabalhadores que integram grupo de alto risco [maiores de 60 anos, pessoas com doenças crônicas, imunocomprometidos e gestantes], que demandem necessário distanciamento social ou afastados por suspeita ou efetiva contaminação pelo novo coronavírus". O valor pago não poderá ser inferior ao salário mínimo e será calculado a partir da média dos pagamentos diários feitos ao entregador nos 15 dias anteriores à decisão judicial. O magistrado decidiu também que os dois aplicativos devem fornecer álcool gel com concentração de 70% aos entregadores para que eles possam higienizar as mãos e também seus veículos e mochilas usadas nas entregas.
As empresas deverão disponibilizar lavatórios com água corrente e sabão para que os entregadores possam lavar as mãos, e deverão dar orientações a respeito das medidas de controle tomadas no âmbito da pandemia. Rappi e iFood têm 48 horas para cumprir a decisão, contadas a partir da notificação pelo MPT, de acordo com a sentença. "O que pedimos é que essas empresas cumpram normas de segurança e saúde. Existe uma relação de proveito do trabalho dos entregadores, que estão alheios a qualquer tipo de garantia trabalhista, estão expostos a riscos e podem ser fonte de contaminação", diz a procuradora Tatiana Bivar, uma das autoras da ação civil pública movida contra o iFood. Segundo ela, o preço de um frasco de um litro de álcool pode chegar a R$ 35, "dinheiro que faz falta aos entregadores, que ganham por serviços realizados". "Pela primeira vez, a Justiça do Trabalho reconheceu a responsabilidade dessas plataformas digitais pela proteção dos trabalhadores que prestam serviços a elas. Por isso, é uma decisão importante", afirma Ronaldo Lima dos Santos, procurador do trabalho e coordenador nacional do grupo de trabalho do MPT sobre a Covid-19.
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PROFISSIONAIS ESSENCIAIS CONTRA O CORONAVÍRUS - *”‘Nunca havia me sentido tão importante’, afirma gari”*
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TABATA AMARAL - *”Coronavírus vs. Periferia: uma lição de solidariedade”*
*”Déficit de pessoal em hospitais municipais se agrava com vírus”*
*”SP projeta 220 mil contaminados pelo coronavírus em documento ao Banco Mundial”*
*”Montadoras e empresas químicas e têxteis produzem insumos hospitalares”* - A partir de meados de abril, pode começar a faltar ventilador, o equipamento que sustenta a respiração dos doentes críticos de Covid-19, com pulmões devastados pela doença. A Itália passou por essa situação: sem o aparelho, um paciente crítico, em tratamento intensivo, perde a vida. As projeções se baseiam no estoque conhecido de equipamentos até o início do ano. Mais estão a caminho. Segundo avaliações do governo federal, de estados e de engenheiros e executivos da área, até fins de março eram produzidos cerca de 1.000 ventiladores por mês pelas quatro maiores empresas do setor, que fazem o grosso da produção local (Magnamed, Intermed, KTK e Leistung). O governo federal estima que o país precisará de 12 mil a 15 mil aparelhos extras nos próximos três meses, apenas. Faltariam uns 10 mil equipamentos, pois. O governo paulista estima, por ora, que precisará de 3.000 a 4.000 extras. Segundo o governo federal, a produção pode aumentar progressivamente para até 4.800 aparelhos por mês, entre maio e junho. Segundo o governo paulista, a 3.000, mas em meados de maio, na hipótese mais otimista. Antes da epidemia, o Brasil tinha cerca de 61 mil ventiladores em operação. Não há estatística sobre o aumento recente do número. Caso a taxa de pacientes em situação crítica, precisando de UTI ou pelo menos de ventiladores, seja de 5% dos casos conhecidos, 3.000 ventiladores novos em um mês poderiam suportar uma população de 60 mil doentes confirmados.
Atendendo a pedidos dos governos ou por iniciativa própria, empresas diversas colaboram com firmas tradicionais —oferecem engenheiros, equipamentos e peças, a fim de aumentar a produção. "O Ministério da Saúde define qual é a demanda, as compras, o planejamento. Outros órgãos do governo tentam articular empresas e instituições para atender a essa demanda. Desse trabalho tiramos essa estimativa inicial, baseado em possibilidades concretas de produção, importação de insumos, regulamentação", diz Gustavo Ene, secretário do Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Serviços e Inovação da Secretaria Especial de Produtividade do Ministério da Economia.
Empresas como Mercedes, Bosch, WEG, Flextronics, GM e Fiat colaboram com engenharia e parte da produção de peças, com o que auxiliam o aumento de produção de empresas estabelecidas no ramo de ventiladores (ou o fazem até com produção própria). Além disso, outras empresas podem entrar no ramo. Duas novas, uma no Rio Grande do Sul e outra em Minas Gerais, desenvolveram equipamentos; a mineira já deve testar o seu na semana que vem. Engenheiros da USP e da UFRJ estão com projetos em fase final, avaliados como realistas pelos governos paulista e federal e com empresas dispostas a fabricá-los. A vantagem deles é que dependem menos ou em nada de peças e partes importadas. Segundo o governo paulista, há 30 projetos na fila, 28 de novas empresas ou universidades. Segundo o governo federal, as novas empresas poderiam produzir cerca de 4.000 aparelhos em três meses. A importação de peças é um problema, pois há escassez mundial e disputa entre governos pela produção restante, embora não seja esse o único empecilho. Várias empresas envolvidas nessa nova cadeia produtiva têm problemas financeiros.
O governo federal tenta importar mais aparelhos. De resto, montadoras de automóveis, fabricantes de máquinas e equipamentos e o Senai tentam consertar cerca de 3.700 ventiladores fora de serviço. O esforço de conseguir aparelhos extras vai ser suficiente? Depende da velocidade da epidemia em cada região do país, para começar. As projeções são ainda díspares. Técnicos do governo paulista estão para concluir estudo mais preciso. "Como vai ser o ritmo em São Paulo? Se for como nos países europeus, precisaremos de uma tal quantidade de equipamentos. Se for como nos EUA, vamos precisar do triplo", diz Patrícia Ellen da Silva, secretária de Desenvolvimento Econômico do governo paulista, integrante da comissão de monitoramento do impacto econômico da Covid-19 do governo paulista. Patricia diz que o governo paulista tomou medidas precoces de isolamento, em vigor no nono dia depois da transmissão comunitária. "Foi mais cedo que em grandes países europeus, que, no entanto, depois foram mais estritos. Aqui, temos cerca de metade da população circulando, é bom esclarecer, para evitar os tantos equívocos da discussão sobre isolamento". Especialistas dizem que a capacidade de atender doentes críticos depende também da capacidade de se diminuir a ocupação de leitos de UTI por outros pacientes. Pode ser difícil. José Roberto Ferraro, professor de cirurgia e superintendente do Hospital São Paulo, tem 76 leitos de UTI para adultos, dos quais reservou 35 para doentes de Covid-19, 24 já ocupados até sexta-feira, quando falou à Folha. Contava 66 casos de Covid-19, confirmados ou possíveis, e 9 mortos. "Somos um hospital público, de porta aberta. Chegam pessoas infartadas, com AVC ou acidentados graves. Precisamos cuidar de todos".
Ferraro diz que pretende comprar mais 24 respiradores (para chegar a 171), por R$ 63 mil cada, e abrir mais 10 leitos de UTI nos próximos dias, mas não sabe do que mais ainda vai precisar. "O planejamento agora é para uma semana. A situação muda a cada dia. Os doentes chegam agora em estado mais grave. Nossos casos de UTI são de 14 dias, pelo menos. Estamos recapacitando médicos para atender doentes de Covid, mas demora mais para retreiná-los como intensivistas. Estamos tentando contratar, também." O hospital chegou a abrir campanha de doações até para obter álcool em gel, agora fornecido por unidade da própria Unifesp, à qual o HSP é ligado. "Agora, nosso orçamento estourou, com o aumento do consumo de materiais e dos preços, que subiram 10 ou 30 vezes, para alguns itens. Estamos atrasando e renegociando contas para enfrentar a crise, não podemos evitar". Ferraro explica que mais testes poderiam auxiliar os hospitais, que poderiam utilizar com mais eficiência os recursos. O médico também pede aumento da produção de equipamentos. Segundo o governo federal e paulista, empresas têxteis e químicas devem sanar parte das deficiências. Fernando Pimentel, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), conta que várias firmas do setor estão convertendo capacidade para a produção de máscaras cirúrgicas. "Podemos fazer centenas de milhões. Sabemos fazer, claro, e existe matéria prima aqui. O problema é com as N95, de produção muito mais complexa. Um insumo essencial é importado e há corrida mundial. Mas também estamos tentando desenvolver, rapidamente", diz Pimentel. Indústrias químicas e de cosméticos, por sua vez, desenvolveram substituto para o carbopol, que faz o gel do álcool em gel, de produção praticamente limitada a uma grande empresa no país. Criaram um espessante alternativo. Álcool não falta no país.
MÔNICA BERGAMO - *”Estado de SP enfrenta dengue, sarampo e H1N1 em meio à crise do coronavírus”*
MÔNICA BERGAMO - *”Dedé Santana diz que Regina Duarte deu esperança aos circenses”*
MÔNICA BERGAMO - *”Após disputa na Justiça, Prefeitura de Cotia compra 25 respiradores”*
MÔNICA BERGAMO - *”Universal está distribuindo 500 mil kits de higiene a presidiários”*: A Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, anunciou que está distribuindo 500 mil kits de higiene para presidiários de todo o Brasil. Eles estão sendo transportados em 54 caminhões. A Universal nos Presídios fez uma campanha e arrecadou, em fevereiro, R$ 7,5 milhões para a aquisição dos produtos. A Universal tem trabalho histórico e milhares de fiéis no sistema carcerário brasileiro. A igreja também está distribuindo marmitas e itens de proteção para caminhoneiros em 150 postos da Polícia Rodoviária Federal.
MÔNICA BERGAMO – *”Conselheiros tutelares de SP reclamam que receberam poucos equipamentos”*
MÔNICA BERGAMO - *”Projeto pede hospedagem em hotéis para vítimas de violência doméstica durante quarentena”*: A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), em ação conjunta com a Defensoria Pública de SP, protocolou um plano de emergência com medidas de proteção a mulheres em situação de violência enquanto durarem as restrições sociais do novo coronavírus. “O Brasil já observou aumento em quase 9% do número de ligações recebidas pela Central de Atendimento à Mulher em março”, afirma o projeto de lei. O documento pede que o poder público providencie, em caso de falta de vaga em abrigos, hospedagem em pousadas e hotéis —que deverão assegurar a segurança da vítima.
 
CAPA – Manchete principal: *”Vírus já circula em 397 cidades fora de grandes centros urbanos”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Congresso mostra eficiência em decisões na crise”*: O Congresso está fazendo uma coerente releitura da História em sintonia com as necessidades impostas pela crise provocada pela pandemia. Na semana passada realizou a primeira sessão remota bicameral dos seus 195 anos. Com 89% dos votos de senadores e deputados, aprovou mudanças significativas no Orçamento da União para permitir ao governo federal uma ampla margem de aumento nos gastos com o socorro a pessoas, empresas, estados e municípios durante esta etapa da calamidade pública. Nos últimos 15 meses têm sido frequentes as análises sobre o protagonismo do Legislativo no vácuo de um governo recolhido aos próprios impasses político-ideológicos. Nessa crise, a novidade está na demonstração de inusual agilidade operacional e de amplo consenso entre parlamentares em decisões sobre questões complexas e abrangentes para a emergência sanitária nacional. A velocidade legislativa tem acompanhado o ritmo de avanço da Covid-19 em direção à periferia das grandes cidades e das capitais para o interior. Em alguns aspectos, ecoa a reação à epidemia de 1918, quando um vírus de gripe chegou ao país a bordo do navio Demerara, com escalas no Recife, em Salvador e no Rio. No mês seguinte, outubro, deflagrou-se uma devastação no país, que não dispunha de rede pública hospitalar. A dimensão das fragilidades do setor público, do clima de caos e horror da época está nos registros históricos sobre grande número de sepultamentos em covas coletivas.
Ultrapassada a emergência, em 1919, o Congresso aprovou uma ampla reforma na Saúde, de âmbito nacional, que pode ser interpretada como marco inaugural da luta pela construção do Sistema Único de Saúde, consolidado em 1988 e posto à prova na atual pandemia. Nos últimos dias, o Legislativo não só mostrou celeridade como, também, bom senso ao apartar as próprias divergências, típicas de qualquer parlamento, numa espécie de quarentena. Por consenso, dispensou o governo do cumprimento das metas fiscais, aplainando o caminho para quase R$ 400 bilhões de despesas efetivas (antes de juros e encargos da dívida pública) acima das receitas previstas no Orçamento de 2020. Retirou as amarras da burocracia orçamentária. Não mais será preciso que o governo aponte a origem dos recursos para custear os gastos emergenciais, enquanto durar a pandemia. Atuou, ainda, junto ao Supremo Tribunal Federal para que se produzisse decisão imediata, liminar, desobstruindo o caminho do governo na ampliação dos necessários investimentos em saúde. Poderá avançar muito mais, em torno de temas consensualmente já estabelecidos — entre outros, as políticas de renda mínima e de saneamento básico —, reconhecidos como fundamentais à reconstrução do país.
*”Rumo ao interior – Novo coronavírus chegou a 397 municípios além de capitais e regiões metropolitanas”* - Um mês após a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no interior do país, 397 municípios fora as capitais e cidades das regiões metropolitanas já registram contaminação pela Covid-19, segundo levantamento do GLOBO com o auxílio das bases de dados Brasil I.O e Lagom Data. Em paralelo ao avanço da epidemia em centros como Rio, São Paulo e Fortaleza, o ritmo de contaminação também se acelerou em cidades de médio e pequeno porte na última semana. Nesse período, o número de municípios do interior com confirmação do vírus mais que duplicou, com novos registros em 222 cidades que até então não estavam nas estatísticas do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais. A interiorização do vírus aparece com mais força no Sul e no Sudeste, que tinham 256 cidades com casos confirmados até a manhã de ontem. Nessas regiões, sete a cada dez municípios com registros da Covid-19 não estão na região metropolitana nem nas capitais. Especialistas na área de saúde alertam que a falta de estrutura hospitalar e de regras mais restritas de isolamento social em municípios menores podem aumentar os riscos para as populações locais, especialmente as faixas de menor poder aquisitivo e acima de 60 anos. Metade das cidades do interior do país que têm casos do novo coronavírus não tinha leitos de UTI pelo Sistema Único de Saúde (SUS) até fevereiro deste ano, data da última atualização do DataSUS.
— Mesmo que pessoas de cidades pequenas sejam infectadas, elas não serão tratadas lá. Elas vão para as cidades polo em cada estado. Esses centros urbanos irão sobrecarregar e, consequentemente, aumentar a demanda das capitais. Outra preocupação dos municípios são os recursos para a manutenção dos serviços essenciais, como limpeza e transporte coletivo —disse o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), presidente da Frente Nacional de Prefeitos.
FALTA DE LEITOS DE UTI
Em uma nota técnica sobre a situação de alocação de UTIs durante a crise do novo coronavírus, publicada no último dia 22, pesquisadores do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) alertaram para a distribuição desigual de equipamentos hospitalares e leitos de UTI pelo interior do Brasil. De acordo com o estudo, um terço das 450 regiões de saúde do país — divisões adotadas pelos estados para planejar recursos e atendimento às populações locais, com grupos de cidades próximas —não contavam com leitos de UTI na rede pública antes do início da pandemia. Além disso, oito regiões de saúde sequer contavam com respiradores, equipamento essencial em casos graves.
— O atendimento regionalizado se mostra mais eficiente para o sistema e o investimento público. Há um fluxo entre as cidades pequenas para as cidades-polo e temos limitações de recursos humanos e materiais. Por isso, as medidas de isolamento se mostram essenciais e racionais, até para o gasto público —afirmou Beatriz Rache, uma das autoras da nota técnica do IEPS.
Até o último sábado, ao menos 48 das cerca de 455 mortes confirmadas em decorrência do coronavírus haviam ocorrido com moradores do interior do país. Parintins (AM), uma das primeiras cidades do interior a registrar morte por Covid-19, no último dia 25, é um dos 65 municípios com contaminação confirmada sem infraestrutura de internação nos arredores. A vítima, um empresário de 49 anos, teve de ser levada numa UTI aérea até Manaus para ser internada no Hospital Delphina Aziz, onde faleceu. A mulher do empresário também testou positivo para Covid-19 e permanece em quarentena na capital amazonense.
TOQUE DE RECOLHER
Por conta da preocupação com o coronavírus, o município decretou toque de recolher das 20h às 6h e determinou que os alunos da rede municipal tenham aulas através do rádio. Um dos casos confirmados é de uma criança de 1 ano e 4 meses que vive em uma aldeia de pescadores e passou por mais de uma unidade de saúde em Parintins antes de ter a confirmação do Covid-19. A criança permanece isolada em um hospital municipal, e todos os 15 familiares que vivem na mesma casa estão em observação.
— Aqui bateu o terror por conta do coronavírus. O pessoal tinha aquele costume de às cinco da tarde tomar um banho, se arrumar e dar uma volta na cidade. Isso mudou. Hoje é uma cidade calma, pacata, silenciosa. Os ensaios do Festival do Boi (de Parintins) foram todos suspensos, porque é como se fosse escola de samba, e a princípio o festival será adiado de junho para outubro — afirmou o prefeito Bi Garcia (PSDB).
Valparaíso de Goiás (GO) tem 168 mil habitantes e cinco casos de Covid-19 confirmados. A cidade na divisa com o Distrito Federal e a 200 quilômetros de Goiânia é uma das que não dispõem de UTIs. Os pacientes em situação grave são transferidos para Goiânia, assim como o material para análise e confirmação dos casos. O prefeito Pábio Mossoró (MDB) conta que a cidade está acatando as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde e determinando medidas de isolamento social, como fechamento do comércio e suspensão de aulas.
— Nossa preocupação é que muitos moradores trabalham em Brasília, como domésticas, e depois retornam para a cidade. Aqui não temos estrutura para tratar casos graves. Os quatro confirmados estão sendo monitorados. Tivemos uma senhora com suspeita que teve uma complicação respiratória grave e foi transferida para UTI em Goiânia. A pandemia vai trazer enormes prejuízos financeiros para as cidades e para o país, mas a nossa prioridade é salvar vidas.
*”Cidades na rota da epidemia somam 4 milhões de idosos”*
*”Brasil vai testar uso de plasma – Estudos são incipientes em fase inicial, mas especialistas são otimistas”*
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*”China volta lentamente ao normal sob controle”*
*”Na sala de casa – Pandemia leva 57% dos alunos do Ensino Médio a terem aulas remotas”*
*”Equilibrando dificuldades – Escolas privadas buscam novas formas de ensinar”*
*”Ajuda que vem de fora – Estados negociam empréstimos com instituições internacionais”* - Com quedas bruscas na arrecadação devido ao avanço do coronavírus, ao menos seis estados negociam com organismos multilaterais, como o Banco Mundial, novos empréstimos ou o remanejamento de crédito tomado no passado para ampliar gastos com saúde e fortalecer o caixa. No caso de novos financiamentos, o gargalo é a exigência de aval do Tesouro Nacional, que não pode ser concedido hoje por causa da fragilidade fiscal de muitos governo estaduais. A expectativa é que a aprovação do chamado Plano Mansueto, que flexibiliza essas regras e deve ser votado na Câmara nesta semana, permita um reforço nos recursos para fazer frente à pandemia. São Paulo montou projeto para obter US$ 100 milhões junto ao Banco Mundial para o combate ao vírus. O dinheiro será usado na abertura de 500 leitos de UTI. O governo aguarda análise da União. Em Santa Catarina, deputados estaduais autorizaram o governo de Carlos Moisés (PS L) a transferi rum alinha de crédito de US$ 344 milhões junto ao Bank of America por outra do mesmo valor no Banco Mundial, que cobra juros menores. A operação deve liberar cerca de R$ 1 bilhão para o custeio da máquina pública. Para o combate ao coronavírus, o governo catarinense pede R $500 milhões ao BNDES.
REMANEJAMENTO
É uma estratégia semelhante à do Pará, onde a queda de arrecadação do ICMS deve chegar a 40% em 2020. Segundo o secretário de Fazenda, René Sousa, o estado vem pleiteando ao Banco Mundial e à Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) a mudança em crédito solicitado antes da crise, destinado ao saneamento. A ideia é ter fôlego para comprar mais estruturas de combate à doença. No Ceará, o governo de Camilo Santana (PT) transferiu para esses fins 25% dos recursos de empréstimo de R$ 1,1 bilhão para obras obtido junto ao Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) em 2018. Asim, o governo comprou 700 respiradores e outros insumos médicos de fornecedores da China, que devem chegar até 15 de abril, disse a secretária de Fazenda, Fernanda Pacobahyba. O Rio Grande do Norte também está remanejando para a saúde R$ 22 milhões de um empréstimo de US$ 360 milhões tomado há cinco anos com o Banco Mundial. Segundo o secretário de Planejamento, Aldemir Freire, o remanejamento é necessário porque novo financiamento de R$ 1,1 bilhão, que o estado negocia com o Banco Mundial e com a AFD, depende da aprovação do Plano Mansueto e levará tempo. Pelas regras atuais, a fragilidade financeira do estado impede que ele receba garantia da União para esse tipo de operação.
— Como enfrentamos uma urgência nos próximos 60 dias, estamos concentrando as adaptações no empréstimo antigo. Não teremos tempo hábil para utilizar o dinheiro novo no combate à pandemia —ponderou Freire.
Em Pernambuco, a expectativa também é que o Plano Mansueto permita a obtenção de recursos para o combate ao coronavírus junto ao Banco Mundial, mas o valor de eventual empréstimo ainda não foi fechado. O chamado Plano Mansueto — em referência ao secretário do Tesouro, Mansueto Almeida — pretende facilitar R$ 40 bilhões em operações de crédito dos estados com garantias da União. Empréstimos com esse aval têm juros mais baixos. Hoje, apenas estados com nota “A” e “B” podem acessar esses empréstimos. O Plano Mansueto estende essa possibilidade a estados com nota “C” em troca de medidas de ajuste fiscal. O plano também permite a suspensão, neste ano, do pagamento de empréstimos junto ao sistema financeiro, a instituições multilaterais e de dívidas junto à União.
CAUTELA FISCAL
Ana Carla Abrão, economista e sócia da Oliver Wyman, avalia que, por se tratar de um momento de calamidade, a flexibilização de algumas normas fiscais pode ser feita. Mas diz que isso não deve abrir precedentes para desmonte dos controles:
—Uma coisa é agir de forma pontual, a outra é abrir possibilidades para que todos se endividem, e sabemos onde isso vai dar. É preciso manter as instituições fiscais de pé para que sejam abertos caminhos emergenciais.
Ana Carla indica que o mais urgente neste momento é a coordenação entre todos os níveis de governo para que os empréstimos, caso autorizados, sejam bem executados. Em estados em má condição fiscal, a dificuldade de obter aval do Tesouro é um desafio para obter recursos internacionais no momento de crise.
—Não temos capacidade de pagamento para contratar novos empréstimos neste momento. Não temos aval do Tesouro para financiamentos novos — afirmou o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), que vem pleiteando ao governo federal a entrada do estado no regime de recuperação fiscal. — Para os efeitos do coronavírus precisaremos de algo novo, imediato e robusto do governo federal.
Para Regina Esteves, presidente da ONG Comunitas, dedicada à inovação na gestão pública, mais importante do que obter mais recursos é garantir um bom uso deles:
—Estamos discutindo endividamento para tratar os doentes. Haverá recursos também para a prevenção da população?
*”Guedes defende congelamento de salário de servidor”*
*”Pandemia deve mudar a face do capitalismo”* - O confinamento inédito de metade da população mundial e o consequente pandemônio que se abateu sobre as economias globais devem mudar a face do capitalismo. A relação entre empresas, sociedade e governos mudou. Dificilmente voltará a ser o que era, na avaliação de especialistas. Fala-se até em um novo contrato social. Grandes corporações e bancos sobretudo, socorridos com trilhões de dólares na crise financeira global de 2008, serão cobrados. Os mercados terão nova missão. Diante dos esforços para reconstruir as economias — só o Reino Unido já liberou 418 bilhões de libras (mais de R$ 2,5 trilhões) em pacotes de estímulos para minimizar os efeitos da pandemia do novo coronavírus —, a fatura começa a ser apresentada. O que se espera é um capitalismo mais benevolente.
—Assim como os contribuintes ajudaram a salvar os bancos em 2008, o governo agora quer trabalhar com os bancos para retribuir o favor e apoiar empresas e pessoas, as que mais precisam no Reino Unido — disse o ministro de Negócios, Energia e Estratégia Industrial, Alok Sharma.
IMPOSTOS MAIS ALTOS
A declaração foi feita nos boletins diários do governo conservador britânico à televisão semana passada. O mesmo partido que, há mais de dez anos no poder, empunhava a bandeira da austeridade fiscal até pouco tempo atrás.
— Será totalmente inaceitável se os bancos rejeitarem empréstimos para as boas empresas — completou Sharma.
A presença do Estado deve ser maior daqui por diante como catalisador da recuperação. Sobretudo depois dos pacotes multibilionários de estímulos. A ajuda é para manter a economia em “hibernação”, diz Abhimay Muthoo, professor de economia e reitor da Universidade de Warwick:
— É preciso saber por quanto tempo os países conseguem manter a economia hibernando. Isso vai determinar o ritmo da retomada. O certo é que haverá nova ordem internacional. Vamos precisar de uma sociedade mais generosa, o que se traduz em redistribuição de renda, impostos mais altos, serviços públicos eficientes e Estados com presença maior do que nos últimos anos.
Espera-se uma recessão global. Itália e Espanha, as nações com o maior número de casos da Europa, devem perder 15% do PIB no primeiro trimestre, segundo a Oxford Economics.
— Governos poderão deixar claro às empresas que precisarem de apoio que ele dependerá de certos critérios. Outro ponto que me parece óbvio é que os dias de uso exagerado de recompra de ações para a maximização excessiva de lucros, possivelmente às custas de outros fins, podem ter acabado — disse Jim O’Neill, presidente da Chatham House, um dos centros de pesquisa mais prestigiados da Europa.
RECOMPRA DE AÇÕES
Ex-economista-chefe do banco Goldman Sachs e criador, em 2001, do acrônimo Brics — grupo de países em desenvolvimento que seriam as locomotivas da economia global: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, O’Neill trabalhou no mercado financeiro por mais de duas décadas. Mas há alguns anos defende um novo propósito para os lucros das empresas. Segundo ele, em 2018, o total de operações de recompra de ações pelas dez maiores companhias americanas ficou próximo de US$ 1 trilhão. E os maiores compradores eram elas próprias, que teriam se tornado, nas palavras de O’Neill, meras administradoras de balanços, obcecadas por desempenho. Em 2018, sugeriu taxar mais este tipo de operações, e dar crédito tributário para os gastos das empresas com investimentos. No limite, até mesmo tornar ilegais as operações de recompra em companhias com produtividade baixa. O tema estaria sendo estudado pelo governo britânico. No ano passado, o Business Roundtable, que reúne presidentes de grandes empresas americanas, já falava no fim da cultura dos “acionistas primeiro”. Para a Social Market Foundation, as companhias têm a oportunidade de criar uma nova relação com a sociedade.
NOVO CONTRATO SOCIAL
O diretor da entidade, James Kirkup, afirma que as empresas “deveriam concordar com um novo contrato social baseado no cumprimento das obrigações tributárias, no tratamento aos trabalhadores e no apoio às comunidades em troca da ajuda recebida durante a crise do coronavírus. Uma das conclusões de um relatório coordenado por O’Neill para o governo britânico sobre a crescente resistência aos antibióticos era a de que a falta de investimentos para resolver o problema custará ao planeta dez milhões de vidas por ano a partir de 2050 em razão de infecções (e da falta de antibióticos). E causará prejuízo de US$ 100 trilhões à economia global. O documento defende 29 intervenções que custariam US$ 42 bilhões para resolver a questão. Segundo O'Neill, o valor é menos do que o que as três maiores companhias farmacêuticas destinaram à recompra de suas próprias ações ao longo de uma década:
— Não é nada comparado aos custos de não resolver o problema ou ao colapso causado pela Covid-19 .
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Contra ‘empoçamento’, BC comprará títulos e carteiras”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O perigo da desinformação”*: Recente pesquisa do Datafolha sobre a percepção da população acerca da epidemia de covid-19 mostrou que o grau de desinformação a respeito da doença é maior entre os mais pobres e menos escolarizados. Não chega a ser um resultado surpreendente, uma vez que essa parcela da sociedade apresenta em geral um nível reduzido de conhecimento a propósito dos grandes problemas nacionais. No caso da epidemia, porém, tal constatação é particularmente preocupante, porque é a informação de qualidade que pode reduzir a disseminação do novo coronavírus, especialmente entre cidadãos vulneráveis – que não dispõem de recursos básicos e são, por isso, dependentes de um Estado que já apresenta sinais de exaustão para conter uma epidemia que mal começou. A pesquisa mostrou que a faixa dos entrevistados com renda familiar mensal de até dois salários mínimos concentra o maior número de pessoas que se consideram apenas “mais ou menos” informadas (27%) ou que se dizem “mal informadas” (5%) sobre o novo coronavírus. O contraste é gritante com as faixas superiores de renda. Entre os entrevistados com renda superior a 10 salários mínimos, apenas 13% se consideram “mais ou menos” informados e 1%, “mal informado”. Mesmo o grupo dos entrevistados na faixa salarial mais baixa que se consideram “bem informados” (67%) está muito distante dos 83% de cidadãos no topo da pirâmide socioeconômica que dizem ter o mesmo grau de conhecimento sobre a epidemia. Além disso, dos que consideram que “não há motivo para tanta preocupação” – o que indica propensão ao relaxamento e a não seguir as orientações do Ministério da Saúde –, os maiores porcentuais se concentram entre os mais pobres (14%) e menos escolarizados (15%), contra apenas 3% entre os mais ricos e 6% entre os mais escolarizados.
Esse contraste fica ainda mais evidente quando a pesquisa pergunta se os brasileiros estão mais preocupados do que deveriam. Para 26% dos que ganham até dois salários mínimos e 28% dos que fizeram até o ensino fundamental, há exagero, enquanto apenas 12% dos que recebem mais de dez salários mínimos e 12% dos que têm ensino superior são da mesma opinião. Para 63% dos mais ricos e 35% dos mais pobres, os brasileiros estão menos preocupados do que deveriam. Os mais expostos à doença, isto é, os mais idosos, também mostram um preocupante descolamento da realidade. Dos que têm 60 anos de idade ou mais, nada menos que 34% dizem não ter medo de serem infectados pelo vírus, enquanto entre os entrevistados de 16 a 24 anos esse porcentual é de apenas 19%. É também entre os mais idosos que está a maior parcela dos que acreditam não ter a menor chance de pegar a doença (19%), contra 9% na faixa dos 16 a 24 anos. Esses números são um potente indicativo da necessidade de melhorar e ampliar a comunicação oficial para esclarecer a população a respeito da epidemia e sobre como os cidadãos podem colaborar para ajudar as autoridades e os agentes de saúde a contê-la.
Já está claro que somente a informação de qualidade, transmitida de maneira clara e direta, é um potente instrumento para frear o vírus. O governo precisa alinhar seu discurso e impedir ruídos que possam causar confusão, como tem acontecido nos últimos dias. Não é o momento de falar em possível tratamento ou de classificar de exageradas medidas que, ao contrário, são essenciais para frear a expansão do novo coronavírus. A comunicação oficial deve ter como objetivo primordial isolar o vírus da desinformação, que pode levar os cidadãos a ignorar a necessidade de distanciamento social e também a comprar e consumir remédios que ainda estão em fase de testes, acarretando sérios riscos para a saúde pública e pessoal. A Organização Mundial da Saúde já qualificou a atual epidemia de “massivo infodêmico”, em que há superabundância de informações. Se por um lado esse fenômeno é positivo, pois acelera a tomada de decisões por parte de autoridades e de cidadãos, por outro pode causar tumulto e descrença. Cabe ao governo, com a autoridade que tem, instruir os cidadãos sobre a realidade dos fatos, especialmente para a população que, quando for afetada, terá poucos recursos para se defender.
*”’A hora deles vai chegar’, ameaça Bolsonaro”*
*”Presidente tem ‘certas imunidades’, diz Aras”* - Pressionado a agir para enquadrar Jair Bolsonaro diante de suas polêmicas atitudes na condução da crise do coronavírus, o procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que a instituição deve se afastar de disputas políticas. Para o chefe do Ministério Público Federal, o presidente tem “liberdade de expressão” e os Poderes devem se guiar pelo consenso social. “A Procuradoria-Geral da República não é casa de solução política. É casa da legalidade. Para cassar presidente, é preciso ir ao Congresso”, disse Aras ao Estado. “Os poderes Legislativo e Executivo, eleitos pelo povo, devem se guiar pelo consenso social resultante do amplo debate instalado em todos os seus segmentos. Diversamente, as duas magistraturas, especialmente o Ministério Público, devem buscar sua legitimação no dever de fundamentar seus atos e decisões na Constituição e nas leis do País”, argumentou. Aras arquivou, recentemente, pedido de subprocuradores para obrigar Bolsonaro a seguir recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia. “É preciso separar Estado e governo”, afirmou ele. “O Estado brasileiro está funcionando normalmente, com técnicos empenhados no combate à covid-19. O governo, na figura do presidente, tem liberdade de expressão e goza de certas imunidades, assim como os parlamentares. Eventuais medidas que contrariem as orientações técnicas poderão ser passíveis de apreciação judicial.”
Confronto. A falta de reações mais enfáticas por parte dos Poderes abriu espaço para governadores como João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC) assumirem o papel de antagonistas do presidente. Doria chegou a pregar a desobediência aos insistentes apelos de Bolsonaro para a abertura do comércio. “Não sigam as orientações do presidente”, aconselhou o governador de São Paulo. Witzel, por sua vez, sugeriu que Bolsonaro seja julgado internacionalmente por “crime contra a humanidade”. Doria e Witzel sonham em disputar o Planalto, em 2022, quando o presidente planeja concorrer à reeleição. Aliados de primeira hora, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), foram se desgarrando de Bolsonaro no primeiro mês da pandemia. Embora o caso mais notório seja o de Caiado, o governador do Acre, Gladson Cameli (Progressistas), também afirmou que os embates provocados pelo presidente são “desnecessários” e acabam por deixá-lo cada vez mais isolado. Próximo de Bolsonaro, Cameli disse não saber quem está aconselhando o presidente. “Prefiro dizer que não entendo qual é a estratégia”, resumiu o governador do Acre. “Quando eu falar com ele, vou dizer que ele está tirando autoridade dos ministros e dos governadores. Todos estão em alinhamento. Por que só o presidente não está? Até Donald Trump (presidente dos EUA) está voltando atrás, tomando outras medidas. Por que ele não está fazendo isso?”, questionou.
*”EUA se preparam para ‘semana de horror’ com novos focos da pandemia”* - Duas das principais autoridades de saúde do governo Donald Trump disseram ontem que os Estados Unidos vão viver um momento decisivo nesta semana, quando espera-se que o surto atinja seu pico em lugares como Nova York, e com o aumento de casos em New Jersey e New Orleans. “A próxima semana será o nosso momento Pearl Harbor, será nosso momento 11 de Setembro, o momento mais difícil para muitos americanos em toda a sua vida”, disse Jerome Adams, diretor do Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, cargo que equivale ao de ministro da Saúde. A comparação com o ataque contra a base naval de Pearl Harbor, na 2ª Guerra, e com o atentado terrorista contra o World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, foi um alerta contundente de Adams a alguns Estados que não adotaram medidas restritivas. “Creio que 90% dos americanos estão fazendo a sua parte, até mesmo nos Estados onde não há decretos em vigor. Mas, se esses governadores não podem nos dar 30 dias de quarentena, então nos deem uma semana ou o que puderem para não sobrecarregarmos os nossos sistemas de saúde na próxima semana”, declarou.
As terríveis advertências de Adams foram repetidas pelo médico Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, que instou os americanos a “ficarem em casa e assistirem ao noticiário”. “Vai ser uma semana muito ruim. Vai ser chocante para alguns, e é realmente perturbador de ver, mas é isso que vai acontecer antes que as coisas comecem a melhorar.” O próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem, em sua conta no Twitter, que haverá “duas semanas difíceis pela frente”. Trump disse que se reuniria na tarde de ontem com a força-tarefa da Casa Branca sobre o coronavírus. “Nós estamos aprendendo muito sobre o Inimigo Invisível. Ele é duro e esperto, mas nós somos mais duros e mais espertos!”, afirmou Trump, também no Twitter. Os avisos vieram em meio ao aumento do número de casos e de mortes em vários Estados americanos. Nova York continua sendo o epicentro da pandemia de coronavírus nos EUA. No domingo o Estado totalizou 4.159 mortes, e o número de casos atingiu 122.031. Na cidade de Nova York, o número era de 67.551 infectados.
Mas o total de mortos e infectados também aumentou em Michigan, Louisiana e New Jersey, e alguns governadores pediram uma determinação nacional para que as pessoas fiquem em casa. Em New Jersey, o número de casos cresceu 25% em um dia, chegando a 34 mil casos. O número de mortos aumentou 30%, com 200 mortos de sábado para domingo. Já New Orleans se tornou o símbolo do desleixo da Louisiana no combate ao coronavírus. O Estado demorou para tomar medidas de confinamento e permitiu que o famoso carnaval de New Orleans ocorresse normalmente. O número de casos no Estado aumentou 35%, chegando a 12.400 casos até ontem, com mais de 400 mortos em um único dia. “Esses Estados devem se tornar os novos epicentros da pandemia nos EUA nos próximos dias, e isso é um sinal de como eles demoraram para agir”, disse Gary Wagner, professor de epidemiologia da Universidade da Louisiana.
*”Premiê britânico é internado por causa de sintomas do coronavírus”*
*”Na Itália, voltar ao trabalho depende de ter anticorpos”*
*”Prefeitura no Equador distribui caixões de papelão”*
*”Regulamentada às pressas, consulta médica a distância explode no Brasil”* - Regulamentada às pressas no País por causa do surto de covid-19, a telemedicina teve nas duas últimas semanas uma explosão em número de atendimentos. As consultas a distância entraram na rotina de hospitais, operadoras e clínicas. Em alguns casos, a demanda pela teleconsulta aumentou sete vezes em 15 dias, segundo levantamento do Estado com empresas que oferecem a modalidade. Por resistência principalmente de conselhos regionais de medicina, atendimentos online não eram permitidos no Brasil até março. No dia 19, com a escalada da covid-19 e a necessidade de reduzir a ida desnecessária a prontos-socorros, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou, temporariamente, atendimentos virtuais para triagem e monitoramento de pacientes em isolamento. No dia 20, o ministério editou portaria em que regulamentava a prática. Centros médicos que já ofereciam a modalidade mesmo sem aval do CFM tiveram alta expressiva. No Hospital Albert Einstein, o número de teleconsultas diárias saltou de 80 para 600. “Cerca de 450 delas são por sintomas de covid-19 e as outras 150 são de outras doenças. Estávamos com 100 médicos nesse projeto, mas estamos contratando e devemos chegar a 500”, diz Sidney Klajner, presidente do Einstein.
Entre os pacientes que usam a plataforma de telemedicina do hospital estão beneficiários da Amil e da Care Plus. Na primeira, os atendimentos aumentaram seis vezes. Na segunda, o número de teleconsultas passou de 100 por mês para 100 por dia. “Já preconizávamos esse tipo de atendimento justamente em situações como essas, em que o deslocamento não é recomendado. Além da parceria com o Einstein para casos de pronto-atendimento, autorizamos todos os médicos credenciados a fazerem consultas a distância”, diz Ricardo Salem, diretor médico da Care Plus. Outras dezenas de empresas adaptaram suas plataformas para passar a oferecer o serviço. A Doctoralia usou a tecnologia de telemedicina que já tem em outros países e começou a oferecer o atendimento virtual no Brasil no mesmo dia em que a portaria do governo foi editada. Na primeira semana, agendou 5.170 consultas virtuais. Na seguinte, o número passou para 8.855. “Já tivemos 3 mil profissionais cadastrados para atendimento online. Para poder atender pela nossa plataforma, os médicos precisam ter o CRM e o RQE (registro de especialista) validados”, diz Cadu Lopes, CEO da Doctoralia. Ele conta que as especialidades mais buscadas são psiquiatria, dermatologia, urologia e ginecologia. Na GSC Integradora de Saúde, mais de 3 mil médicos se cadastraram em apenas 48 horas para oferecer o atendimento online. “O objetivo é aumentar a oferta de teleconsulta para tirar pacientes do front dos hospitais. Além de diminuir o risco de colapso do sistema, evita que um paciente se contamine ou seja vetor de transmissão para outras pessoas”, destaca Ana Elisa Siqueira, CEO da GSC.
A rede de clínicas populares Dr.Consulta foi outra que também passou a oferecer atendimento virtual após a regulamentação. Em duas semanas, já foram abertas agendas para profissionais de 20 especialidades e feitas mais de 2 mil consultas online, segundo Renato Pelissaro, diretor de Marketing e atendimento ao cliente da companhia. “A quantidade de atendimentos tem dobrado a cada três ou quatro dias. Vemos que o público da consulta virtual é predominantemente jovem e das classes A e B”, relata. Mas há idosos que também têm usado o serviço para evitar a ida a um consultório, conta Fabrícia Jung, médica do Dr.Consulta. “São pessoas com doenças crônicas que precisam ser monitoradas, mas com medo de sair de casa. Às vezes só precisam de ajuste de tratamento, troca de receita. Já atendi um paciente de 85 anos e outro de 95 por videoconferência.” Há jovens que, mesmo fora do grupo de risco, buscam atendimento online para preservar parentes idosos. “Moro com minha mãe, que é idosa, e com meu irmão, que tem problema respiratório. Estava há três dias com sintomas de sinusite, mas não queria ir ao pronto-socorro para não correr risco de me contaminar e trazer o vírus para casa”, diz o gerente de recrutamento e seleção Renan de Carlos Sertorio, de 30 anos, que buscou o atendimento online da Care Plus. “No começo fiquei meio receoso porque não sabia como o médico poderia me examinar. Mas ele fez perguntas precisas, me passou alguns medicamentos e estou 100%.”
Dificuldades. Embora em alta, a falta de regulamentação prévia da telemedicina traz agora insegurança para médicos e pacientes, diz Antonio Carlos Endrigo, diretor de tecnologia da informação da Associação Paulista de Medicina (APM). “A portaria do ministério veio em boa hora, mas como não tínhamos normas prévias, os médicos estão perdidos. Alguns estão usando o que têm à mão para atendimentos, como whatsapp ou skype, mas essas não são as melhores formas de garantir a privacidade dos dados.” Procurado, o CFM afirmou que concluiu em fevereiro a consulta pública para atualizar a resolução de 2002. Não disse quando o documento deve ser concluído e publicado.
*”No SUS, Curitiba e Vitória têm atendimento remoto”*
*”SP projeta 220 mil casos e pede verba extra”*
*”Isolamento deve seguir, mas interior já afrouxa”* - A quarentena determinada no Estado de São Paulo por causa do coronavírus tem validade até amanhã, mas cidades do interior já têm afrouxado as restrições ao comércio. O governo se reúne hoje para discutir o isolamento social e a expectativa é de estender a medida por 15 dias. Há, porém, pressão de setores do varejo para que haja uma abertura escalonada. Desde o dia 24, a gestão João Doria (PSDB) determinou o fechamento do comércio e de serviços não essenciais, o que inclui bares, restaurantes e cafés, que só podem funcionar com serviços de delivery. Já os considerados essenciais, como farmácias e supermercados, podem abrir as portas. Diferentemente do presidente Jair Bolsonaro, que fala em receio de crise econômica e pede a volta dos cidadãos ao trabalho, Doria tem defendido o isolamento social para frear o avanço da covid. O Palácio dos Bandeirantes realiza hoje, pela manhã, uma reunião do Centro Contingência. O encontro marcará o retorno do médico David Uip, chefe do núcleo, que se curou do coronavírus.
A prefeitura de Pindamonhangaba, por exemplo, publicou decretos liberando o funcionamento de feiras, restaurantes, lojas de tecidos e de material de construção desde anteontem. No caso dos restaurantes, que antes só podiam funcionar no delivery, foi permitido o atendimento presencial, embora com restrições para evitar aglomeração. A gestão municipal disse que as medidas estão alinhadas com as diretrizes estaduais e federais. A cidade tem 79 casos suspeitos, um positivo e quatro mortes em investigação. O comércio de Conchal, na região de Piracicaba, já reabre hoje. O decreto da prefeitura libera até hotéis, bares e trailers de lanches. Ainda há restrição de acesso para evitar aglomerações e o comércio deve adotar medidas de higiene. Lojas de roupas, óticas e papelarias podem funcionar em horário normal, mas com acesso restrito a um cliente por 10 m². Conforme a prefeitura, a decisão foi tomada após análise de pedido feito pelo comércio do município, que tem 10 casos suspeitos e investiga um óbito. Em Morungaba, foram liberados os salões de beleza. O decreto, de sexta, libera o funcionamento com um cliente por vez.
Campos do Jordão. Já em outros locais, a prefeitura precisou ir até a Justiça para garantir o isolamento. Campos do Jordão obteve liminar para impedir que sites de hospedagem continuem oferecendo serviços de turismo na cidade da Serra da Mantiqueira. A Justiça determinou a exclusão de anúncios das “casas para a quarentena”, sob pena de multa diária. A cidade tem uma morte e 30 casos em investigação.
*”Brasil testará tratamento com plasina”* - Os Hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), testarão o uso de plasma sanguíneo de pacientes já recuperados da covid-19 em doentes que ainda têm a infecção. As instituições receberam anteontem o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para fazer o estudo em humanos e iniciarão hoje a triagem de possíveis doadores de plasma. A autorização para a pesquisa brasileira veio um dia após a Food and Drugs Administration (FDA), agência de medicamentos americana, autorizar estudo similar com pacientes dos Estados Unidos. Os cientistas acreditam que o plasma de um indivíduo em recuperação pode ajudar um paciente doente por já conter anticorpos contra a infecção. “Essa pesquisa é baseada em experiências anteriores que, há mais de cem anos, identificaram que o plasma de convalescentes podia ser útil no tratamento de pessoas ainda durante a infecção”, explica Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente de pesquisa do Einstein. “Este conceito é denominado transferência passiva de imunidade. Se a terapia funcionar, ela poderá fornecer os anticorpos necessários para aqueles que ainda não os têm em níveis capazes de protegê-los, levando a uma melhora dos sintomas e à diminuição do vírus no organismo.”
Poderão receber infusões de plasma dentro da pesquisa pacientes graves internados em leitos de UTI ou na unidade semi-intensiva, em um período anterior ao da intubação e que ainda não tenham apresentado nenhuma resposta imunológica durante o pico da doença. Rizzo explicou ao Estado que serão considerados doadores aptos pessoas que: 1) tiveram covid-19 há mais de 15 dias e há menos de 45 dias; 2) não apresentam mais sintomas; e 3) tiveram confirmação laboratorial prévia de infecção pelo vírus, mas que não apresentam mais o material genético do vírus em seu organismo. Os possíveis doadores devem ainda apresentar anticorpos neutralizantes, moléculas capazes de combater a infecção. O protocolo brasileiros é baseado no da Universidade Johns Hopkins, que fará os estudos com plasma nos EUA. Após a aprovação da pesquisa americana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota afirmando que estudos com plasma “têm sugerido resultados promissores, porém derivam de análises não controladas e com tamanho limitado de amostras”. Para o órgão, os estudos feitos até agora são insuficientes para comprovar a eficácia, o que requer pesquisas mais aprofundadas.
*”Estudo vai usar modelo de sondagem eleitoral”* - Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, vai usar uma metodologia similar à das pesquisas eleitorais para calcular quantos casos de covid-19 existem no Brasil. Os testes começam em 15 dias. Antes do fim de maio, o País já terá dimensão bem mais clara do tamanho da epidemia. Originalmente, o objetivo do projeto era fazer o levantamento de forma experimental somente no Rio Grande do Sul, com financiamento de R$ 1 milhão do Instituto Serrapilheira. Mas o Ministério da Saúde logo percebeu o potencial da ideia. Antes que os técnicos fossem a campo no Sul, firmou um contrato para uma pesquisa de abrangência nacional. Será o primeiro estudo no Brasil a estimar o número de infectados com maior precisão.
Projeções matemáticas sugerem que os números oficiais da epidemia representam apenas 10% do total real de infectados. Pela dimensão mundial da pandemia e pelo tamanho da população brasileira, não há testes disponíveis para todos. Por isso, apenas os casos mais graves, que requerem internação hospitalar, estão sendo testados.Pelo menos 80% dos infectados, no entanto, têm pouquíssimos sintomas ou nem sequer os apresentam. Mesmo assim, transmitem o vírus. É por isso que, atualmente, o distanciamento social é a única forma de impedir disseminação maior da doença: ao confinar todo mundo, os portadores assintomáticos também ficam isolados. Mas se soubermos com mais exatidão quantos são os infectados, onde eles estão e, sobretudo, quem já teve a doença e está imune, será possível, por exemplo, criar medidas de prevenção menos radicais e mais objetivas. Os doentes poderiam ser isolados e os que já estão imunizados poderiam voltar ao trabalho sem risco de contaminação. “Para combater a epidemia, é preciso entender urgentemente a epidemiologia da doença”, afirma o diretor-presidente do Serrapilheira, Hugo Aguilaniu. “Este é apenas um primeiro passo, mas é fundamental que seja feito o mais rapidamente possível, pois, sem dados sólidos, nenhuma política de saída de crise é possível. Por isso decidimos apoiar este projeto.”
De acordo com o protocolo do estudo desenhado para o Brasil, serão testadas 99.750 pessoas de todas as regiões brasileiras em três fases. Cada uma terá 33.250 pessoas, e haverá intervalos de tempo de duas semanas entre elas. Somente em São Paulo serão 8.250 testados. Nas pesquisas de intenção de voto, que têm margem de erro de 2% a 3%, são entrevistadas, em média, duas mil pessoas. “Neste momento, a melhor recomendação é o isolamento”, constata o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da UFPel e coordenador-geral do projeto. “Mas sabemos que esse isolamento não pode durar seis meses, um ano. Por isso, precisamos de evidências científicas para recompormos nossa força de trabalho. Isso não pode ser feito por critérios ideológicos, e sim científicos. Vamos identificar os imunizados e devolvê-los ao mercado de trabalho.” Um instituto de pesquisa deverá ser contratado para fazer a coleta dos exames. Eles vão testar as pessoas com um teste rápido para detectar o novo coronavírus e também entrevistálas em todos os Estados do País, em amostras proporcionais às populações locais. Especialistas do IBGE trabalham em outras etapas do processo. “O nome do projeto é ‘back to the basics’ (de volta ao básico, em inglês)”, disse Hallal. “A epidemiologia avançou muito e faz muitas modelagens, cria modelos estatísticos, para ver o que vai acontecer daqui a vinte anos com epidemias que já estão aqui há séculos. Com isso, nos desacostumamos a fazer os trabalhos mais básicos da epidemiologia. Mas agora, com uma epidemia nova, temos que fazer isso, voltar ao básico; saber, antes de mais nada, quantas pessoas foram infectadas.” O número de pessoas testadas servirá como uma amostra muito mais confiável do que as disponíveis hoje do total da população. O custo estimado é R$ 30 milhões. O estudo no Rio Grande do Sul está mantido: serão testadas 18 mil pessoas, em 4 fases.
*”Compra direta de carteiras é aposta do BC contra ‘empoçamento’ do dinheiro”* - O governo aposta na compra direta, pelo Banco Central, das carteiras de crédito e títulos das empresas como forma de fazer com que recursos liberados pelo governo cheguem efetivamente às mãos dos empresários. No sábado, 4, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reclamou que os recursos liberados aos bancos para ampliar o crédito no País estão “empoçados no sistema financeiro”. Ou seja, mesmo com medidas de estímulo, como a redução do depósito compulsório (recursos que as instituições financeiras têm de manter no Banco Central), o dinheiro não está chegando a quem busca. A compra direta de carteiras ou títulos já é utilizada por outros bancos centrais do mundo, como o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos. Esse instrumento permite ao BC injetar recursos no mercado para ajudar as empresas conseguirem dinheiro, sem precisar dos bancos como intermediários. Para que isso aconteça, porém, é necessária a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que já está no Congresso. A interlocutores, Guedes tem dito que os bancos ficam “segurando a grana” porque não querem correr riscos – uma prática “desde sempre”. A maior queixa é que, se ficar o dinheiro parado nos bancos, não vai chegar nos “pequenos”. Como o BC só pode até agora fazer operações diretas com as instituições financeiras, os bancos acabam com um poder enorme do Brasil. Com a aprovação da medida, o BC deixaria de depender do sistema bancário e poderia negociar uma carteira de crédito de uma varejista, por exemplo.
Guedes e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, começaram a discutir a proposta depois que ficou claro que a liberação dos compulsórios não surtiu efeito. Guedes cobrou de Campos Neto uma reação ao “empoçamento”. Foi aí que surgiu a proposta do financiamento da folha de salários via BNDES, e a PEC começou a ser pensada com líderes do Congresso. A linha de financiamento da folha de salário, já divulgada, consiste em liberar R$ 40 bilhões a pequenas e médias empresas para pagar até dois salários mínimos (R$ 2.090) para cada funcionário. Os bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) vão pegar o dinheiro do BNDES para pagar diretamente o funcionário, sem passar pela conta da empresa.
Orçamento de guerra. O novo arsenal para o BC foi incluído, a pedido da equipe econômica, na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do “orçamento de guerra”, que prevê retirar algumas amarras de regras fiscais para facilitar os gastos públicos neste momento de pandemia. A emenda já foi aprovada em dois turnos na Câmara na última sexta-feira, 3, e aguarda duas votações do Senado (onde precisa do apoio de, pelo menos, 49 de 81 senadores). Pela PEC, o montante da cada operação de compra terá de ser autorizado pelo Ministério da Economia. Para o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o dinheiro “morre” nos bancos, que preferem investir em títulos públicos. Ele defende uma forma de “punição “do BC aos bancos que não emprestarem e alongarem os prazos. “Os bancos não querem dar dinheiro novo, nem querem alongar. Querem comprar só títulos públicos”, diz. Segundo ele, se os bancos não fizerem isso, haverá uma quebradeira geral. “As empresas não vão pagar, as pessoas não vão pagar e vai ser uma quebradeira geral. Os bancos também vão quebrar na frente.” Na prática, com o risco de quebradeira generalizada e disparada dos calotes, os bancos endureceram as concessões justamente quando as empresas mais precisam para honrar os pagamentos a funcionários e fornecedores. A liberação de recursos aos bancos tem dois objetivos principais: garantir que as instituições não quebrem e manter a disponibilidade de dinheiro para a concessão de empréstimos a empresas e famílias. Procurada para comentar a declaração de Guedes sobre o empoçamento de recursos nas instituições financeiras, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.
*”Tesouro poderá garantir empréstimos”* - O Ministério da Economia trabalha na elaboração de uma nova fórmula para destravar o crédito dos bancos para as empresas brasileiras. A ideia é usar fundos de aval de instituições como o BNDES e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além do próprio Tesouro, para garantir os empréstimos. Até o momento, o BC anunciou a injeção de R$ 1,2 trilhão no sistema financeiro. Parte dos recursos ainda depende de regulamentação para começar, de fato, a chegar às instituições financeiras, mas o BC tem repetido que o sistema já está líquido e que mais medidas estão a caminho. A intenção é utilizar fundos de aval – como os do Sebrae e do BNDES – para assumir parte do risco de calote. “Teríamos de fazer uma corrente da seguinte maneira: os fundos de aval avalizam a operação para substituir a garantia real que os pequenos (empresários) não têm”, disse o assessor especial do Ministério da Economia, Guilherme Afif Domingos. Pelo que está em estudo haveria uma “parada de perdas” (stop loss), limitando a exposição do fundo de aval ao risco. A parcela de risco que o fundo não conseguir assumir ficaria sob a responsabilidade do Tesouro Nacional – no limite, dinheiro do contribuinte.
Divisão. Uma das medidas já anunciadas traz dinâmica semelhante. O governo decidiu injetar R$ 40 bilhões no mercado de crédito para concessão de empréstimos a baixo custo (3,75% ao ano) para a folha de pagamento das empresas, por um período de dois meses. Deste total, 85% são recursos do Tesouro Nacional (R$ 34 bilhões) e 15% dos bancos (R$ 6 bilhões). Agora o governo desenha também a entrada dos fundos de aval nas operações. “É uma questão de se fazer o cálculo e se fazer a conta do risco assumido e da forma da divisão de risco”, afirmou Afif no sábado a empresários do varejo. “Mas tem de ter um sistema central para avalizar as operações para destravar o sistema de crédito.”
*”Empresários cobram medidas do governo”* - Desde o início da crise, muitos setores vêm se queixando da dificuldade de acesso ao crédito e cobram novas medidas do governo e do Banco Central para aumentar a liquidez no mercado, mesmo após a injeção de R$ 1,2 trilhão (16,7% do PIB) feita no sistema pela autoridade monetária. Associações setoriais pedem, por exemplo, para que o Tesouro assuma 100% do risco de operações de crédito. “Era muito fácil (conseguir crédito) um mês atrás com os bancos. Agora, ninguém quer dar dinheiro. O mundo está com medo. Por isso, em tempos assim, os governos têm de agir”, diz o presidente da companhia aérea Azul, John Rodgerson. O setor aéreo é um dos mais afetados pela crise decorrente da pandemia de covid-19 e as empresas têm buscado renegociar dívidas, além de reivindicarem no governo novas linhas de crédito para capital de giro. Há uma negociação em curso com o BNDES. Também sofrendo os impactos da crise, varejistas afirmam que os recursos que o Banco Central liberou nos últimos dias não têm chegado aos empresários e que entidades financeiras até aumentaram as taxas de juros. “O que a gente pede é que os bancos contribuam neste momento, façam seu sacrifício”, diz o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), José César da Costa.
A CNDL é uma das cinco entidades ligadas ao varejo signatárias de uma carta enviada ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que pede novas medidas para amenizar a crise. No documento, as associações do setor afirmam que os bancos têm cobrado até 70% a mais em operações de crédito habituais, como para capital de giro. “Entendemos que, num momento de crise, as medidas adotadas pelo Banco Central devam caminhar juntas com as instituições financeiras”, diz o documento. Também signatária da carta, a Associação Brasileira de Franquias (ABF) é a favor de uma linha de crédito para as franquias. “As franquias representam 2,7% do PIB, têm 161 mil lojas e geram 1,4 milhão de empregos diretos”, disse Sidnei Amendoeira, diretor da entidade. Segundo ele, os empresários buscam novas linhas neste momento crítico e precisam refinanciar o passado. Um dos maiores multifranqueados do País, Glauber Gentil, dono de 92 lojas das marcas O Boticário, Quem disse, Berenice? e Swarovski, em quatro Estados do Nordeste, tem na mesa três frentes de atuação para enfrentar a crise do coronavírus. A primeira, já em implantação, é a renegociação com fornecedores. “As conversas estão intensas.” Outras duas medidas ainda estão sendo avaliadas. Uma delas é captação de recursos com bancos. “Outra possibilidade é antecipar recebíveis com empresas de cartão de crédito.” Uma das várias propostas apresentadas pelas varejistas ao BC é justamente usar a estrutura dos adquirentes de cartão para a concessão de crédito a taxas inferiores às cobradas nas transações tradicionais. Para isso, o Tesouro ou o BNDES teriam de arcar com o risco da operação. “Com essa estrutura, o governo assumiria 100% do risco. A taxa de juros teria de ser um porcentual muito razoável, algo como 1%. Se o governo não disponibilizar liquidez, a conta não vai fechar”, diz Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que também assina a carta enviada ao BC.
Riscos altos. Para o analista de risco Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating, é natural que os juros cobrados pelos bancos subam em momentos como o atual, em que os riscos estão elevados. “O futuro é totalmente obscuro. Os bancos podem conhecer seus clientes, mas não sabem se os clientes de seus clientes terão condições de pagar.” Procurada, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que as taxas de juros cobradas estão estáveis nas últimas semanas, com exceção dos créditos negociados com grandes empresas. “Isso ocorre porque o custo de captação aumentou substancialmente, mas, neste caso, as operações de crédito envolvem grandes empresas, que demandam volumes significativos de recursos, com impactos relevantes sobre a liquidez do setor bancário”, informou em nota. “As instituições financeiras trabalham com análise de risco de toda a economia e houve mudanças significativas nas últimas semanas. Houve uma revisão geral do risco. As medidas recentes do governo, via Banco Central e Ministério da Economia, são, sem dúvida, muito bem-vindas e buscam justamente endereçar algumas dessas questões, como liquidez. Mas, mesmo com essas importantes medidas, a circulação de dinheiro ficou mais restrita”, informou a entidade.
ENTREVISTA: MANSUETO DE ALMEIDA, secretário do Tesouro Nacional - *”Pandemia não pode virar uma farra fiscal”* - Envolvido na elaboração das medidas para enfrentar a crise da covid-19, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, o “homem do cofre”, diz que o governo está preparado para gastar mais se for necessário para proteger as pessoas em situação de risco. Mas avisa: se o governante utilizar esse espaço para uma “farra fiscal”, poderá ter problemas no futuro com órgãos de controle e ou com os seus eleitores. Para ele, não existe dinheiro de “A ou de B” na ajuda da crise. “O dinheiro é do contribuinte, e todos os programas públicos são financiados com dinheiro de impostos e dívida.” Ele antecipou que prepara uma mudança para que Estados não sejam penalizados nas operações de empréstimos já analisadas e que podem ter problemas na aprovação final em decorrência do cenário de não pagamento de dívida recente. A seguir, os principais trechos da entrevista:
• Muitos acusam o Tesouro de ser xiita fiscal num momento de grave crise. Como o sr. responde?
- Todos do Tesouro entendem a necessidade da expansão das despesas temporárias, em especial, gastos com saúde, para amenizar o efeito da crise nas famílias de baixa renda ou trabalhadores sem renda, e políticas para manutenção do emprego. Antes mesmo da declaração de calamidade pública, defendi a mudança da meta de primário para gastar mais com saúde e para combater os efeitos econômicos e sociais. Com todo respeito a quem critica, acho que não procede. Acontece que, para poder gastar, precisamos ter fonte para a despesa e cumprir com as regras fiscais em vigor. O decreto de calamidade pública afasta apenas a necessidade de cumprir a meta de primário (resultado calculado pela diferença entre as despesas do governo e as receitas com tributos, sem levar em conta os gastos com os juros da dívida), mas não excepcionaliza o cumprimento das demais regras, entre as quais, a regra de ouro, que é uma regra constitucional (impede o governo de se endividar para pagar despesas correntes, como salários, Previdência Social e benefícios assistenciais). Isso só foi resolvido com a liminar do ministro (do STF) Alexandre de Moraes e, posteriormente de forma definitiva, com a PEC do orçamento de guerra.
• Se a crise piorar ainda mais, o governo está preparado para gastar mais e socorrer as pessoas e empresas. Há limite?
- Não é questão de estar ou não preparado. Se isso acontecer, nós teremos de, necessariamente, fazer isso para garantir que não faltarão recursos para saúde e para proteger as pessoas em situação de risco. Mas por enquanto não esperamos que isso aconteça.
• O governo tem dito que as medidas ficarão restritas a 2020. Como o governo lidará com a pressão por continuidade do gasto num cenário de contas ainda deficitárias?
- Por enquanto, aqui e no resto do mundo, se trabalha com um cenário de distanciamento social por alguns meses. Não faz sentido neste momento especular o cenário de retomada da economia. O aumento do gasto público este ano, em uma situação de calamidade pública, é totalmente legítimo e necessário. Por enquanto, ninguém espera que essa situação se repita no próximo ano e, sendo este o caso, não há porque continuar com políticas que só se justificam em um contexto de calamidade.
• A calamidade pode servir de porteira para uma “farra” de gastos com coisas não ligadas ao seu enfrentamento? Estados têm conseguido vitórias importantes no STF e Congresso avança em propostas amplas de aumento de despesas...
- Não acho isso. Se qualquer governante utilizar o espaço fiscal dado pela boa vontade do STF e do Legislativo para viabilizar políticas públicas que não estejam relacionadas à crise do coronavírus e transformar isso em uma farra fiscal, acho que qualquer governante poderá ter problemas no futuro com órgãos de controle e com os seus eleitores.
• O presidente do BB, Rubem Novaes, disse que governadores gastam com dinheiro alheio. É verdade?
- Eu não sei o que o presidente do Banco do Brasil falou e não me cabe interpretar o que outro membro da equipe econômica falou. Mas não existe dinheiro de A ou de B. O dinheiro é do contribuinte e todos os programas públicos são financiados com dinheiro de impostos e dívida.
• Há risco de uma quebradeira geral dos Estados que obrigará uma salvação da União em valores muito maiores do que os já anunciados?
- Os Estados teriam de fazer muitas coisas erradas para chegarmos a uma situação que colocaria em risco o ajuste fiscal. Não há hoje esse risco. Vários Estados já receberam ajuda neste ano com a suspensão do serviço da dívida com a União, a decisão do governo federal de recompor as perdas com FPE (Fundo de Participação dos Estados) e FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e até mesmo a postergação de impostos federais, como o PIS/Pasep. Para ocorrer um risco de quebradeira dos Estados o governo federal teria de permitir uma expansão muito rápida da dívida pública com novas operações de crédito em valores muito alto. Ninguém na equipe econômica concordaria em fazer algo que colocasse em risco a recuperação da economia e a retomada do ajuste fiscal no próximo ano.
*”Grupo de empresas faz manifesto pedindo manutenção de empregos”*
*”Pequeno agricultor sofre efeito da crise”* - O agricultor José Claudio Vieira Menino, de 63 anos, produtor de hortaliças em Piedade (SP), foi obrigado a jogar fora 100 caixas de alface há duas semanas porque não tinha para quem vender. Com restaurantes, feiras e hotéis fechados por conta do coronavírus, a produção encalhou e o alface estragou. “Reduzi o plantio, mas ainda estou perdendo de tudo na roça. Joguei um monte de muda fora e mandei parar a produção do viveiro. Tem sido só prejuízo, mas ainda é cedo para fazer contas, pois a situação só está piorando”, disse. Como ele, milhares de pequenos produtores agrícolas do interior de São Paulo enfrentam prejuízos porque ficaram sem mercado para seus produtos – verduras, legumes, frutas, insumos para temperos, ovos e aves caipiras ou de produção orgânica. Muitos adotaram a entrega a domicílio e aumentaram as vendas, mas ainda há encalhe de produção. Em entrevista à Rádio Eldorado, o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Gustavo Junqueira, demonstrou preocupação com o problema e disse que buscava solução com outros secretários e o Ministério da Agricultura, como financiamento para o produtor sobreviver a esse período.
O agricultor orgânico José Roberto da Silva, presidente da Cooperativa de Produtores Familiares de Piedade, disse que praticamente todos os 30 agricultores tiveram perdas e foram obrigados a reduzir os plantios. “Muitos atendiam pedidos para a merenda escolar das escolas – que suspenderam as aulas –, e para o comércio local, que está fechado. As duas feiras da cidade que também escoavam parte da produção foram suspensas. Estamos tentando abrir canais de venda direta para as indústrias que ainda funcionam e restaurantes que usam delivery, mas não será no volume de antes”, disse. No município de Pereiras (SP), Paulo Albino Theófilo, encarregado de uma empresa familiar de avicultura, disse que a venda de ovos caiu e os plantéis de frango caipira, que seriam vendidos para abate, estão encalhados. Parte da produção era enviada para feiras e mercados da capital. “As aves continuam sendo alimentadas todo dia, mas a gente não consegue vender porque os clientes estão com as portas fechadas. Até para vender frango caipira ao preço da ave de granja está difícil. São dez funcionários e alguns estão sendo demitidos. Infelizmente o estrago está feito, prejuízo grande mesmo”, disse. Em São Miguel Arcanjo (SP), a secretaria municipal de Agricultura e Meio Ambiente contabilizou perdas de hortaliças, tomate, pimentão, pepino e caqui em volumes ainda não apurados. “São mais de 1,2 mil produtores que dependiam principalmente do Ceasa, da capital, para escoar a produção, mas os pedidos cessaram. Nosso movimento de caminhões para lá caiu 50% e ainda pode se agravar. Neste momento não temos nenhum pedido de lá”, disse o secretário Wesley Vieira Batista. Só um produtor, no Bairro Guararema, jogou fora 80 caixas de legumes.
A crise do coronavírus também fez a prefeitura de Itatiba (SP) cancelar a 17.ª edição da Festa do Caqui, que deveria ter sido realizada entre 17 de março e 5 deste mês. A cidade colhe 5 mil toneladas do fruto por ano e a festa, além da venda direta de 20 toneladas de frutas selecionadas, é o ponto de encontro de produtores e compradores. O evento era a aposta do produtor Roberto Alves para comercializar a maior parte de sua produção. Agora ele está com a safra encalhada. “Estou colhendo conforme consigo vender, mas já tem fruta perdendo no pé.” O produtor Luis Carlos Cestarolli, do Sítio Recanto do Vovô, em Louveira (SP), já deveria ter colhido 50 toneladas de caqui rama forte – metade da produção de seus pomares –, mas só conseguiu vender 15 toneladas. “Deveria estar colhendo 300 caixas por dia, mas só estou conseguindo vender 100 caixas diárias. O restante fica passado e tem de ser jogado fora. Se o mercado não reagir, vamos perder muita fruta no pé.” O produtor já descartou ao menos 3 toneladas de frutas colhidas que encalharam.
Delivery. Grupos de produtores tentam driblar a queda na demanda com criatividade. A Vila Yamaguishi, importante polo de produção orgânica em Jaguariúna (SP), criou um sistema de delivery e retirada das caixas com alimentos no sítio para reduzir a perda de produção. Em cerca de 30 hectares são cultivadas mais de 60 variedades de frutas e legumes. “Vínhamos trabalhando com entrega a domicílio desde o início das nossas atividades, mas o escoamento forte se dava pelas vendas em feiras de produtos orgânicos, lojas e restaurantes, que estão fechados devido à crise do coronavírus. Agora, nosso foco é o delivery, mas o volume de vendas não cobre o que deixamos de vender nas feiras”, disse Isack Ryuji Minowa, um dos produtores.
 
+++ O jornal não liberou a sua versão digital até o fechamento da análise de mídia.

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