A
guerra na Ucrânia volta às manchetes dos jornalões brasileiros, em meio
à crise política que vive o governo Bolsonaro. Os principais diários
nacionais tratam de questões distintas em suas edições nesta
quarta-feira, 30 de março. Folha: Rússia anuncia ‘redução drástica’ de ataques a Kiev. Estadão: Com trocas partidárias, Bolsonaro reforça base de apoio em campanha. O Globo: Silva e Luna: Petrobrás não pode fazer política partidária. Valor: Apesar de reveses, Pix já é líder em pagamentos.
Outra notícia importante do dia é que Bolsonaro propõe mudar lei antiterrorismo com brecha para perseguir os movimentos sociais. “Texto proposto ao Congresso inclui como passíveis de punição atos com fins políticos ou ideológicos com emprego de violência”, relata a Folha. A
proposta abre brecha para criminalizar os movimentos sociais. De acordo
com o projeto a definição de terrorismo passa a contemplar as “ações
violentas com fins políticos ou ideológicos”.
O Globo reporta que a ministra Rosa Weber, do STF, rejeita pedido do procurador-geral Augusto Aras para arquivar inquérito sobre prevaricação de Bolsonaro no caso Covaxin. “Ministra
apontou que tese defendida por procurador-geral para inocentar
presidente 'não se sustenta' e pede nova avaliação sobre as provas”, resume. É a primeira vez que um ministro do STF reverte um arquivamento solicitado por Aras em relação a Bolsonaro.
Na política, a Folha volta a colocar o presidente e o líder petista em situações de similaridade ao apontar que ambos fazem campanha antecipada. Bolsonaro, Lula e rivais põem campanha na rua com vistas grossas do sistema eleitoral — diz a manchete do alto da página 4. “Propaganda na TV, comícios e carreatas só estão liberados a partir de 16 de agosto, mas, na prática, já estão ocorrendo”, aponta.
Estadão traz reportagem mostrando que as trocas partidárias reforçam base de apoio a Bolsonaro na campanha por reeleição.
PL, Progressistas, Republicanos, PSC e PTB alcançam 171 deputados, o
equivalente a 1/3 da Câmara. Legendas aliadas ao ex-presidente Lula
somam 113 parlamentares.
E novos dados do Datafolha mostram a problemas para o governo diante do aprofundamento da crise social. Quantidade de comida em casa é insuficiente para 24% dos brasileiros. “Insegurança alimentar é mais aguda entre os mais pobres e no Nordeste, mostra pesquisa”,
relata. Nada menos que um de cada quatro brasileiros afirma que a
quantidade de comida disponível em sua mesa foi inferior à necessária
para alimentar sua família nos últimos meses. Fábio Zanini comenta, na Folha: Datafolha mostra dificuldade de Bolsonaro em contrapor Auxílio Brasil ao Bolsa Família de Lula. “Projeto de presidente de obter dividendos eleitorais de seu programa ainda não saiu do papel”, diz.
Folha destaca declaração de Lula comparando a Petrobrás a Jesus Cristo. Ele disse ontem que a estatal foi ‘crucificada’ pelos adversários. “Preço dos combustíveis vira tema de debate nas campanhas eleitorais deste ano”, constata o jornal. Em evento com petroleiros no Rio de Janeiro, Lula voltou
a criticar a política de preços da Petrobras e a escalada dos
combustíveis no Brasil. Ele disse que a estatal é estratégica para os
interesses nacionais e afirmou que a companhia foi alvo de “mentiras”
nos últimos anos. Valor informa que Lula quer reverter estratégia da Petrobrás. Ex-presidente petista critica política de preços da estatal e indicação de Adriano Pires ao comando da empresa.
A imprensa aposta que a crise entre o Planalto e o novo comando da estatal tende a se perpetuar. Atritos entre Petrobras e governo devem continuar, dizem aliados. “Indicado para comandar petroleira estuda fundo para compensar preços e proximidade com Congresso pode abreviar caminho”, aponta a Folha.
Jornais informam que o mercado vê pouca chance de política de preços da Petrobrás mudar. Novo presidente é considerado um defensor de preços internacionais; estatuto proíbe operações com prejuízo. Apesar disso, a CVM abriu investigação sobre troca no comando da Petrobrás. Regulador do mercado financeiro avaliará divulgação da demissão de Silva e Luna.
E o novo cotado para assumir o Ministério da Educação é o reitor do ITA.
Anderson Correia tem recebido ligações de integrantes do Centrão após
nova troca no comando do MEC. Ele pode vir a substituir o pastor Milton
Ribeiro. Secretário-executivo do MEC, Victor Godoy assume pasta interinamente e é o mais cotado para o cargo.
Ainda sobre as mudanças no MEC e na Petrobrás, Painel da Folha diz que a queda do presidente da Petrobras aumenta rusga do Exército com a Marinha. “Oficiais avaliam que o general Silva e Luna foi injustiçado por falta de articulação política de ministro”,
resume. Silva e Luna “pagou o pato” da ineficiência na articulação
política do ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque.
Elio Gaspari comenta a crise no governo Bolsonaro, com a nova queda de ministro, listando outros que também deixaram a esplanada. “Em
três anos de governo, Jair Bolsonaro empossou sete ministros na
Educação e na Saúde. Esse desfile seguiu um padrão. … (Alguns) acabaram
fritos”, observa. “Os demais atolaram na inépcia e no destrambelho. (…) Milton Ribeiro revelou-se um campeão. De um lado, ganha
um fim de semana num garimpo ilegal quem for capaz de apontar uma só
iniciativa competente que ele tenha patrocinado no MEC”.
Na economia, uma sucessão de notícias ruins para o governo. Valor informa que a produtividade no Brasil em 2021 é a mais baixa em 12 anos, indica FGV. Para o economista Claudio Considera, problema não está na pandemia, mas na crise da indústria nacional. E a inflação no centro da meta em 2023 parece cada vez mais distante. Desaceleração dos preços em 2022 está mais difícil, com reflexo no próximo ano, dizem economistas. Valor traz ainda o vice Hamilton Mourão criticando o teto de gastos e as emendas parlamentares. Ele reclama de concentração de poderes dos presidentes da Câmara e Senado.
LULA
Jornais noticiam como
grande novidade as reuniões de tucano e petistas para tratar de política
econômica de Lula. Todos os jornalões trazem reportagem mostrando o
encontro de um dos pais do Plano Real, Pérsio Arida se reúne com petista Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo.
A informação sobre o encontro foi revelada pela agência “Brasil Alta
Frequência”. “Conversamos, tivemos um diálogo sobre a conjuntura e os
desafios, há disposição e interesse em aprofundar as discussões, mas não
há necessariamente compromisso com o programa de governo”, disse o
petista.
Painel da Folha noticia que grupo do PSOL defende ruptura com Lula e Rede e diz que petista é dose mínima de veneno. “Militantes afirmam que o partido não tem vocação para ser puxadinho do PT nem da Rede”, destaca. O grupo lançou documento em que critica a direção do partido por sinalizar apoio a Lula (PT) e Alckmin (PSB) e por negociar a criação de uma federação com a Rede. “A
carta já conta com mais de 600 assinaturas, de figuras como os
ex-deputados Babá (fundador do PSOL) e Milton Temer e o professor
aposentado da Unicamp Plínio de Arruda Sampaio Júnior”, diz a nota.
A coluna da Folha ainda informa que Lula marca encontro com sindicalistas para 13 de abril.
Ex-presidente vai se reunir com representantes de centrais alinhadas à
sua candidatura, como CUT, Força Sindical e CTB. A ideia do petista é
ouvir contribuições do grupo para sua plataforma de campanha.
E o Estadão tenta ganhar clicks ao apontar que Lula sugere festival só com aliados após polêmica no Lollapalooza.
Em vídeo publicado no Twitter, Lula se cerca de artistas como Zeca
Pagodinho, Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Ludmilla. A edição 2022
do Lollapalooza ficou marcada por manifestações de apoio ao petista.
PSDB
Estadão relata que o governador de São Paulo, João Doria, mobiliza tucanos e tenta isolar dissidência pró-Leite. “Grupo do governador aposta na Federação com Cidadania para mudar correlação de forças na sigla”, destaca o jornal.
Painel da Folha aponta que aliados de Doria falam em subir o tom contra Eduardo Leite se ele iniciar ‘campanha paralela’. Secretário diz que conspirar dentro do partido é ainda pior do que se tivesse migrado para outra legenda.
BRASIL NA GRINGA
O diário francês Le Monde noticia a troca de comando na maior empresa do Brasil. O presidente Jair Bolsonaro demite o CEO da Petrobras, devido ao aumento dos preços dos combustíveis. “Diz-se
que o chefe de Estado critica o chefe da empresa, Joaquim Silva e Luna,
por ter aumentado os preços da gasolina e do gasóleo, anulando os
esforços do governo para travar a inflação”, sintetiza.
INTERNACIONAL
O avanço das negociações
entre Rússia e Ucrania, mediadas pela Turquia, ganha repercussão
global, com jornais destacando o progresso de um possível acordo de paz.
A mídia russa insiste na autonomia dos territórios na região de Donbass e a Crimeia. Diz o Russia Today: Situação da Crimeia não está em discussão – Moscou.
E o Asia Times informa: O destino de Mariupol é a chave para um acordo com a Ucrânia. “O
porto estratégico à beira-mar de Mariupol está na mira militar da
Rússia, à medida que seus objetivos de invasão começam a ficar mais
claros”, relata.
A mídia europeia, contudo, mostra o tamanho da encrenca: a ameaça de corte de gás russo. O Financial Times mostra a razão para esses temores: UE e Rússia em impasse sobre pagamentos em rublos por gás.
O jornal diz que a Rússia declarou que os pagamentos serão feitos em
rublos em meio a sanções ocidentais, mas os líderes europeus estão se
recusando a fazê-lo — insistindo que devem continuar a fazer pagamentos
em euros ou dólares.
O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung também alerta para a situação: UE teme fim abrupto do fornecimento de gás. Países do G7 se recusaram a pagar pelo fornecimento de gás em rublos. “O
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ameaçou interromper as entregas se
a UE realmente se recusasse a pagar o gás em rublos em entrevista à
emissora de televisão americana PBS na noite de segunda-feira: ‘Sem
pagamento - sem gás’, disse Peskov”, destaca o jornal. “A
emergência pode, portanto, ocorrer já na sexta-feira. Porque o
presidente russo, Vladimir Putin, pediu à empresa de gás Gazprom, ao
governo russo e ao banco central que apresentassem um plano para mudar
os pagamentos para rublos até quinta-feira”. O Sueddeutsche Zeitung destaca na manchete de capa: O aumento dos preços da energia está tornando a vida visivelmente mais cara.
O Pravda traz na manchete um economista apontando que o rublo é mais eficaz como nova unidade de pagamento em acordos internacionais.
Vasily Koltashov explica por que a União Econômica da Eurásia está
abandonando o dólar. “Teoricamente, para os acordos, não precisamos de
uma nova unidade de pagamento dentro da estrutura da União Econômica da
Eurásia”, explica. “Para fazer isso, você pode usar o rublo como a moeda
mais segura. Além disso, a segurança do rublo aumentará à medida que o
comércio ocorrer nessa moeda”.
O Asia Times mostra uma manchete alarmista: Risco de guerra nuclear é real. “O
que Vladimir Putin tem que fazer para convencer Washington de que a
crise na Ucrânia é um conflito preliminar no que pode ser uma guerra
nuclear?”, escrevem Uwe Parpart e David P. Goldman. “Em
23 de fevereiro, Putin alertou sobre uma guerra nuclear. Em 19 de
fevereiro, ele realizou um exercício completo das forças russas de
mísseis balísticos. Em 27 de fevereiro, ele colocou a Rússia em alerta
nuclear – que continua em vigor. Joe Biden não entendeu a mensagem”.
Asia Times ainda destaca outra reportagem que mostra o potencial bélico de outros atores no tabuleiro da geopolítica mundial: Inferno sobre rodas: China prepara armas nucleares ferroviárias de alta velocidade. “Plano de mísseis ferroviários visa tornar o arsenal nuclear da China mais móvel e difícil de interceptar e destruir”, informa.
Sobre a perspectiva de
um avanço nas negociações de paz, a mídia estadunidense também parece
cética. Dos principais jornais, só o Wall Street Journal é objetivo e direto na manchete: Kiev oferece neutralidade a Moscou. O New York Times destaca na manchete principal que as negociações de paz produzem sinais de progresso, mas o fim da guerra não está à vista. E o Washington Post: Ocidente cauteloso enquanto negociações de paz aumentam esperanças.
Reportagem do Washington Post revela que Covid se aproxima de Biden à medida que as restrições caem. Vários assessores da presidência testaram positivo. O jornal ainda relata que a Casa Branca se volta para a qualidade do ar no mais recente esforço para impedir o coronavírus.
O NYTimes ainda destaca no pé da capa da edição de hoje o envolvimento direto de Donald Trump no atentado ao Capitólio, no ano passado. Novo foco em como um tweet de Trump incitou grupos de extrema-direita antes de 6 de janeiro. “Promotores
federais e investigadores do Congresso estão documentando como a
postagem do ex-presidente — ‘Esteja lá, será selvagem!’ tornou-se um
catalisador para militantes antes do ataque ao Capitólio”, aponta o jornal.
A mídia chinesa mantém o tom arredio às movimentações da Casa Branca. O Global Times destaca na edição de hoje que Biden está atolado em crise de credibilidade na Ucrânia em meio à tentativa de buscar aumento de gastos com defesa. “Incentivar a guerra para desviar conflitos internos não funcionará ou tornará os EUA grandes”, resume. E o Diário do Povo: EUA têm responsabilidades inevitáveis pela crise na Ucrânia. “A
crise da Ucrânia expôs ainda mais a essência da hegemonia americana e
as consequências perniciosas da mentalidade da Guerra Fria”, escreve Zhong Sheng. “A
expansão oriental da OTAN liderada pelos EUA é a causa raiz da crise, e
os EUA são os iniciadores da crise. Como apontou um especialista
internacional, é possível parar a guerra apenas quando o pano de fundo
da guerra é conhecido por todos”. |