Sem revelações bombásticas, mas descrevendo um roteiro detalhado do negacionismo que levou a omissão por parte do governo Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta depôs ontem durante sete horas à CPI da Pandemia. Ele disse acreditar que Bolsonaro recebia “aconselhamento paralelo”, pois quando parecia entender a gravidade da pandemia e a necessidade de medidas de distanciamento, mudava de opinião no dia seguinte. Segundo o ex-ministro, em uma das reuniões, chegou a ser apresentado o rascunho de um decreto para a Anvisa incluir a indicação de Covid na bula da Cloroquina, o que foi rejeitado pela agência. Mandetta disse ainda ter entregado uma carta a Bolsonaro, na presença de outros ministros, defendendo medidas como o isolamento social, mas foi ignorado. Perguntando sobre quem mais o atrapalhou, ele citou o ex-chanceler Ernesto Araújo, por seus atritos com a China, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, que classificou como “pessoa desonesta intelectualmente”. (Folha)
Da bula da cloroquina às críticas duras a Guedes, confira os principais pontos do depoimento de Mandetta. (UOL)
Igor Gielow: “Todos sabiam o que seria descrito, mas a ênfase colocada em pontos como a ignorância deliberada em nome da imunidade de rebanho e à promoção criminosa da hidroxicloroquina até com mudança proposta de bula deu tintas dramáticas ao relato. Ao fim, se o Planalto esperava dividir com Mandetta algo do horror associado a Eduardo Pazuello, falhou.” (Folha)
Em geral, o depoimento foi morno. Mandetta procurou ser técnico nas respostas e driblou as armadilhas da minoria governista, chegando a provocar um momento de constrangimento. Após o senador Ciro Nogueira (PP-PI) ler uma pergunta sobre protocolos no início da pandemia, Mandetta disse ter recebido na véspera a mesma indagação, exatamente igual, via Whastapp, do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que a apagou em seguida. (G1)
Valdo Cruz: “Causou irritação na equipe do presidente Jair Bolsonaro a nova trapalhada de governistas na CPI da Covid que acabou por deixar claro que o Palácio do Planalto está não só elaborando requerimentos de convocações e pedidos de informações como também encaminhando perguntas a serem feitas para depoentes na comissão.” (G1)
Previsto para a tarde de ontem, o depoimento do sucessor de Mandetta, Nelson Teich vai acontecer hoje. A oposição quer que ele fale sobre a suposta pressão de Bolsonaro para aprovação do uso da cloroquina, motivo pelo qual o médico teria pedido demissão após somente 28 dias no ministério. (Globo)
Teich falará hoje porque o também ex-ministro Eduardo Pazuello avisou que não compareceria por ter tido contato com duas pessoas com Covid-19. Os governistas queriam que o general falasse por vídeo, mas o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), remarcou o depoimento presencial para 19 de maio. (Poder360)
Malu Gaspar: “Pazuello já planejava não comparecer à CPI da Covid desde o final de semana, quando participou de um media training para se preparar para o depoimento. Ele estava muito tenso e preocupado com a possibilidade de ser preso logo após depor. Nos últimos dias, Pazuello tem apresentado oscilações de humor, por achar que o círculo próximo de Jair Bolsonaro planeja abandoná-lo em algum momento.” (Globo)
E a ausência de Pazuello na CPI provocou uma enxurrada de memes nem um pouco gentis. (Poder360)
A Câmara dos Deputados aprovou ontem o texto-base do projeto que revoga a Lei de Segurança Nacional, o mais longevo entulho autoritário do regime militar. No lugar dela, serão definidos no Código Penal os crimes contra a democracia, incluindo golpe de Estado e “comunicação enganosa em massa”. Após a votação dos destaques, o texto seguirá para o Senado. (G1)
Painel: “O Ministério Público Federal recebeu o relatório final da investigação envolvendo o assessor para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins. A apuração concluiu que os gestos feitos às costas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em 24 de março, tinham conotação racista. O auxiliar do governo Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia do Senado e, agora, o MPF terá que decidir se denuncia Martins ou se opina pelo arquivamento.” (Folha)
Guilherme Amado: “Eduardo Paes acertou sua ida para o PSD. O prefeito do Rio de Janeiro e Gilberto Kassab vinham conversando há algumas semanas e tudo foi decidido numa última reunião na semana passada. Rodrigo Maia, que chegou a estar perto de ir para o PSDB, deve acompanhar Paes.” (Época)
O partido de Kassab, forte em São Paulo, quer aumentar sua presença no Rio e vem sondando também o governador Cláudio Castro. Castro, alinhado com o governo federal, já trocou farpas com Paes por conta de medidas de distanciamento social, mas os dois se congratularam após o leilão da Cedae, na semana passada. (Globo)
O prefeito licenciado de São Paulo, Brunos Covas, teve alta na UTI do Hospital Sírio-Libanês, onde estava devido a uma hemorragia no estômago. Covas seguirá internado num quarto de acompanhamento semi-intensivo para retomar o tratamento de um câncer metastático no aparelho digestivo. (UOL)
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu ontem habeas corpus ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha em um processo por corrupção e lavagem de dinheiro. Cunha e o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves foram presos por suposta propina de R$ 77 milhões para favorecimento de empreiteiras. Como o dinheiro teria sido pago na forma de doações eleitorais legítimas, os ministros seguiram o entendimento do STF e remeteram o caso para a Justiça Eleitoral. Na semana passada, em outra ação, Cunha conseguiu que o TRF-4 revogasse sua prisão preventiva, embora ele continue em prisão domiciliar numa terceira investigação. (Poder360)
Meio em vídeo: Para Christian Lynch, cientista político do IESP-UERJ, o Brasil calhou de entrar num ciclo mundial conservador justamente quando estava com a democracia desestruturada. Marco Aurelio Ruediger, diretor de Análises de Políticas Públicas da FGV, entrou nos detalhes de como a Revolução Digital mudou a maneira como sociedades funcionam. Durante pouco mais de uma hora, acompanhados de Ricardo Rangel, colunista da Veja; Hussein Kalout, de Harvard, e João Carlos Burm Torres, da Universidade de Caxias do Sul, trabalharam duro para explicar de onde veio o caminhão que atropelou a democracia brasileira. A conversa, organizada pelo grupo Derrubando Muros, está na íntegra no YouTube.
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