sexta-feira, 7 de maio de 2021

Porta com 40 buracos de tiro": Chacina no Rio deixa rastro de horror

 


A favela do Jacarezinho foi palco, nesta quinta-feira, da operação policial mais letal da história do Estado do Rio de Janeiro. Ao menos 25 pessoas morreram, entre eles um agente de segurança. Felipe Betim conta que os policiais removeram corpos do local, contrariando os protocolos que permitiriam uma perícia posterior, e criticaram o "ativismo que vitimiza criminoso”. Em depoimento ao EL PAÍS, Joel Luiz Costa, morador do Jacarezinho e advogado do Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), relata o que encontrou após a chacina e diz ter visto sinais inequívocos de execução: “Cano estourado, porta com 40 buracos de tiro, poça de sangue no chão. É desolador ver isso no seu espaço.” Em análise, Cecília Oliveira detalha porque a operação viola a resolução do Supremo Tribunal Federal que suspendia ações do gênero em comunidades durante a pandemia e lembra de casos de violência policial que nunca foram apurados até o fim.

Em Brasília, foi a vez do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ser ouvido na CPI da Covid. O ministro abraçou a árdua tarefa de tentar equilibrar-se entre o negacionismo do Planalto e a lealdade a Jair Bolsonaro e irritou os senadores, conforme mostra reportagem de Beatriz Jucá. Enquanto isso e, pelo segundo dia consecutivo, Bolsonaro subiu o tom nas declarações públicas. Depois de atacar a China, agora o ultradireitista fez ameaças sobre as eleições presidenciais do ano que vem: “Se não tiver voto impresso em 2022, não vai ter eleição”.

Para sextar e amenizar as dores brasileiras, destacamos uma entrevista feita pela repórter Joana Oliveira com o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença. Estradeiro, Alceu se viu obrigado a ficar em casa por causa da pandemia e, na falta do que fazer, fez do violão uma de suas principais companhias. Admirado com seu sucesso nas redes (“Do nada, a internet descobriu uma música dos anos 70 e foi esse pipoco!”), ele conta que durante o confinamento compôs três discos em voz e violão, em uma rotina que confessa ter lhe trazido uma certa nostalgia. “Tem dias que dá uma tristeza na gente, mas depois passa. Eu costumo acabar com minha tristeza andando”, diz ele. O artista, que já foi alvo de milícias virtuais por defender o uso de máscaras contra a covid-19, é um entusiasta do SUS e da vacinação. “Tomei a Coronavac. O único efeito colateral que eu tive foi que agora eu falo mandarim”, brinca.

No EL PAÍS que fazemos desta sexta, apresentamos o jornalista e cientista Javier Sampedro. O repórter da seção de Ciência do jornal afirma que até antigas obviedades podem se diluir em meio a uma epidemia de boatos: “A função de um jornal é dizer a verdade, ou o que nesse momento mais se aproxime da verdade. Nosso trabalho é a forma de nos rebelarmos contra a consagração da mentira.”


Polícia nega erro em operação no Jacarezinho e critica “ativismo judicial”
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Segunda maior chacina da história do Rio, massacre ocorre mesmo com resolução do STF que suspende operações policiais na pandemia
“Cano estourado, porta com 40 buracos de tiro, poça de sangue no chão”
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Em depoimento ao EL PAÍS, Joel Luiz Costa, morador do Jacarezinho, relata o que encontrou após a chacina. "É desolador ver isso no seu espaço”
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