domingo, 2 de maio de 2021

Prazer, ministro. Somos filhos de porteiros formados na universidade

 


Há um claro mal estar numa parte da sociedade brasileira por conta da janela de oportunidades que programas de bolsas de estudo ou cotas raciais abriram para os jovens da baixa renda. É comum ouvir comentários irônicos ou críticos em todo lado. O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi uma das vozes a amplificar esse elitismo ao sugerir que o filho do seu porteiro havia entrado com zero na faculdade graças ao programa Fies. Foi um comentário ácido, vindo de uma autoridade, que deveria incentivar esses programas, e não contribuir para esse preconceito.

Gil Alessi e Regiane Oliveira contam histórias de filhos e filhas de empregadas domésticas e porteiros pelo Brasil, que mudaram um destino quase pré-determinado e reescrevem a história de suas famílias através da educação. “Antes de fazer universidade todos os meus trabalhos eram subempregos. Hoje eu consigo sonhar”, diz Luiz Henrique Faria Marins, filho do Sr. Otávio, um porteiro em um prédio de classe média alta em São José dos Campos (SP). "O maior preconceito que sofri por ser bolsista e filho de porteiro veio do Paulo Guedes”, complementa.

Nesta edição, a economista Mônica de Bolle escreve sobre um país em que o Estado injeta recursos e incentivos sociais para recuperar emprego e renda, enquanto os liberais à brasileira pedem cintos apertados no orçamento para lidar com a pandemia e a pós-pandemia. Os Estados Unidos de Joe Biden tem planos trilionários para ousar e retomar a liderança do país. Uma estratégia central que vem gerando debates acalorados no Brasil de Bolsonaro que, ao contrário, enxuga cada vez mais programas sociais consolidados.

A retomada é um desafio para países da América Latina e para as grandes potências. A União Europeia vive dias difíceis com a recessão registrada neste primeiro trimestre. O desabamento da economia na Alemanha (-1,7%) explica parte desse baque. A locomotiva europeia se viu castigada pelas medidas de confinamento, por um inverno duro para a construção civil e por incidentes nas cadeias de suprimento.

Para relaxar, nesta edição Tom Zé conta seus novos projetos musicais da temporada. Em uma conversa de quase duas horas com Joana Oliveira, o artista octogenário revisita memórias de sua juventude no sertão, fala sobre seu processo criativo, os tempos autoritários que o Brasil enfrenta, o movimento da Tropicália e sua admiração por Caetano Veloso e Gilberto Gil. "Eu sou uma pessoa simples, talvez inteligente. Eu trabalho, faço música, mas o que eu vi esses homens fazerem, minha filha, é de outro mundo”, diz.

Leia também as reflexões de Gilberto Gil na conversa com o repórter Guilherme Henrique. Gil fala sobre os sentimentos difusos que tem vivido ao longo da pandemia, a sua visão sobre a realidade política e ambiental brasileira, e o futuro que espera após a crise sanitária. "Quero que o aperfeiçoamento humano aconteça em todos os indivíduos, não só para os meus familiares, amigos”, afirma.



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