MIDIALTERNATIVA FREE PRESS: Deu na Imprensa

Enquanto alguns dos principais jornais do mundo — leia em Internacional — fazem alarde quanto aos desdobramentos das revelações de que 300 funcionários públicos, 35 chefes de Estado e 130 bilionários mantém contas em paraísos fiscais —, a imprensa nativa se limita a relatar o apagão das redes sociais ligadas ao Facebook nas manchetes. No Brasil, o escândalo da Pandora Papers é alvo de reportagens dos veículos Metrópoles, El País e Poder 360 e Pública, que integram o Consórcio de Jornalistas Investigativos que estão à frente das denúncias.

A revelação de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mantêm offshores em paraísos fiscais, assim como outros milionários brasileiros, inclusive alguns com dívidas bilionárias junto à Receita Federal não merecem qualquer chamada no alto da primeira página dos jornais. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) denunciou Guedes e Campos Neto à Comissão de Ética Pública. Ele diz que há conflito de interesses com a manutenção de empresas em paraísos fiscais.

No GGN, Luís Nassif comenta: “O que uma autoridade econômica de uma grande economia pode fazer com seus fundos offshore, tendo acesso a informações antecipadas sobre os rumos da economia e as medidas econômicas? Uma primeira análise é sobre os rumos da política monetária. Ao permitir a notável depreciação do dólar, ambos foram diretamente beneficiados”, lembra. Ele aponta caminhos para uma investigação sobre ambos a partir do acompanhamento de alguns fundos. Leia a íntegra do artigo ao final deste briefing.

À exceção da Folha, que lembra que Guedes quis tirar taxação de paraíso fiscal da reforma tributária e que alta do dólar aumentou a sua fortuna no exterior, nenhum jornalão faz menção ao escândalo nas primeiras páginas. Pior faz o Valor Econômico, que entrevistou ontem Roberto Campos Neto, e não fez menção ao episódio. A PGR vai abrir uma investigação sobre as contas no exterior.

Eis as manchetes dos principais veículos nacionais — Folha: Apagão global de Facebook e WhatsApp afeta bilhões. Estadão: Pane global expõe dependência de aplicativos do Facebook. O Globo: Pane global de Facebook e apps afeta negócios e gera perdas. El País (Brasil): As finanças do céu: a milionária rede dos Legionários de Cristo em um paraíso fiscal. Valor: Campos Neto descarta ajuste na meta e diz que foco é 2022.

LULA

Jornais repercutem o encontro de Lula ontem com as bancadas do PT da Câmara e do Senado em um hotel em Brasília. Diz o Globo: Contra Bolsonaro, Lula quer intensificar divulgações do PT nas redes sociais. “Ex-presidente pediu que políticos tentem desmontar “teias de mentiras”, em menção às divulgações de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro”, informa.

Valor relata que Lula veta “salto alto” no PT e cobra diálogo. “[A orientação dele] é para estarmos todos na pauta do povo, cuidar dos mais pobres e buscar alternativas para atração de investimentos para gerar emprego e renda”, afirmou o governador. “Nada de sapato alto, de já ganhou. A hora é de humildade, muito diálogo e trabalho”, diz o governador Wellington Dias fazendo um balanço da conversa com o ex-presidente.

Painel da Folha noticia que Lula disse no encontro com as bancadas que quer novas lideranças como candidatos e sugere anistia de dívidas do Fies. E ainda informa que PT prepara minicurso com argumentos anti-Lava Jato para deputados.

Em reportagem de Monica Bergamo, Gleisi Hoffmann comenta o pedido de trégua de Ciro Gomes (PDT): “Que bom que ele está com esse objetivo também”. Gleisi afirma que o PT já está “em trégua há muito tempo”, e que fica feliz com o fato de Ciro, que tem feito reiterados ataques a legenda, caminhe na mesma direção, propondo um cessar-fogo nos ataques.

No Estadão, Eliane Cantanhede ainda se apega a uma terceira via ao vislumbrar o cenário das eleições presidenciais. E tenta colocar na mesma balança Lula e Bolsonaro. “Tudo é incerto em 2022, porque a maioria do Brasil é de desinteressados e/ou indecisos”, diz, parecendo desconhecer o resultado das últimas pesquisas eleitorais. E ameaça: “Não custa lembrar que Lula tem muito esqueleto no armário, e Bolsonaro coleciona desastres”.

Bela Megale informa no Globo que Força Aérea Brasileira tem investigado a filiação de militares a partidos políticos, em especial aqueles ligados ao PT. A coluna teve acesso a casos de três militares que passaram a ser alvos de um Procedimento de Apuração e Transgressão Disciplinar nas últimas semanas por terem filiações ativas junto ao partido.

ELEIÇÕES 2022

O Globo noticia que Telegram é candidato a 'vilão digital' nas eleições de 2022, porque tem moderação mínima. “Ferramenta é considerada terreno mais fértil a campanhas de desinformação e discurso de ódio por especialistas. Empresa russa não tem representação legal no Brasil”, resume.

O jornal carioca ainda destaca que a pandemia e o discurso radical desidrataram o apoio a Bolsonaro entre deputados estaduais. Nas cinco maiores casas legislativas estaduais do país, quatro em cada dez deputados que votaram em Bolsonaro em 2018 já admitem escolher outro candidato em 2022.

No PSDB, João Doria e Eduardo Leite apostam em dissidências em diretórios para vencer prévias tucanas. E o governador de São Paulo admite desistir de candidatura para unir terceira via.

CPI

Estadão noticia que Comissão técnica deve recomendar exclusão definitiva do 'tratamento precoce' do SUS contra a covid. Colegiado ligado ao Ministério da Saúde se reúne nesta semana e tendência é de se opor às orientações defendidas por Bolsonaro. Diretriz poderá ser usada por CPI da Covid.

O jornal ainda destaca declaração de Mário Luiz Sarrubb informando que Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo está investigando mortes na Prevent Senior. No Ceará, a Operadora Hapvida é alvo do Ministério Público por uso do 'kit covid’. E a Coluna do Estadão especula sobre o relatório final da comissão: Desafio será evitar contaminação política.

Valor reporta que a CPI ouve hoje sócio da VTCLog, prestadora de serviços ao Ministério da Saúde desde 2018 e que durante a pandemia ficou responsável pela distribuição de vacinas. Ele ingressou no STF para ter o direito a ficar em silêncio na sessão. Os advogados pedem que o empresário não seja obrigado a prestar o juramento de dizer a verdade e lembram que ele se encontra na condição de investigado com sigilos quebrados pela CPI.

ECONOMIA

Valor noticia que reservas internacionais podem bancar aporte no banco do Brics, sugere Paulo Guedes. “Proposta para capitalização do NDB é questionada por especialistas em contas públicas”, aponta o jornal. O governo poderia utilizar recursos das reservas internacionais para fazer um aporte de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões no New Development Bank (NDB), o “banco do Brics”, disse o ministro, na abertura da Semana Orçamentária do Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo ele, essa operação não impactaria o valor das reservas nem sua finalidade.

Ainda no Valor, Luiz Schymura aponta que é difícil imaginar que índice de desemprego vai ficar abaixo de 10% antes de 2026. “O novo coronavírus aterrissou no Brasil em um momento particularmente ruim para o trabalhador. O país havia sido abalado pela forte recessão de 2014-2016 e tentava ainda tropegamente retornar à realidade do mercado de trabalho pré-crise”, escreve. “Diante dos estragos da pandemia, os cenários traçados para o retorno ao padrão de empregabilidade anterior a 2015 não estão nada animadores”.

INTERNACIONAL

Washington Post mantém a ampla repercussão ao escândalo do vazamento de contas em paraísos fiscais dos bilionários. Hoje, o jornal destaca em manchete: o dinheiro estrangeiro inunda secretamente os paraísos fiscais dos EUA. Algumas contas estão contaminadas. “Magnatas e outros ligados à lavagem de dinheiro, corrupção e exploração de trabalhadores escolheram os EUA em vez dos paraísos fiscais tradicionais do mundo”, noticia.

O inglês The Guardian também repercute os desdobramentos do dinheiro escondido dos bilionários em paraísos fiscais, alvo de vazamentos nos chamados Pandora Papers. Conservadores enfrentam ligações para devolver dinheiro de doadores apontados pelos jornais no escândalo Pandora Papers. “Ministros forçados a responder uma série de perguntas sobre supostas ligações dos doadores conservadores com a corrupção”, aponta o jornal.

O francês Le Monde também participa do consórcio que denunciou a farra dos paraísos fiscais. Pandora Papers: um mergulho mundial nos segredos das finanças offshore. O jornal e o consórcio de jornalistas ICIJ tiveram acesso aos dados confidenciais de 14 empresas especializadas em paraísos fiscais, revelando os segredos de 300 funcionários públicos, 35 chefes de estado, 130 bilionários.

Na esteira do escândalo Pandora Papers, o espanhol El País revela que uma em cada três multinacionais espanholas paga menos de 10% do seu lucro global em impostos ao Tesouro da Espanha. Vinte grandes grupos estão sob pressão ainda menor: em 2018 pagaram menos de 2% de seus lucros ao governo. De acordo com o jornal, as 122 maiores multinacionais espanholas pagaram 18,3% de seu lucro global em 2018 em impostos.

A manchete do New York Times informa que a agenda de Biden está em jogo e o lobby contrário ganha força em Washington. “Os interesses comerciais estão usando anúncios e outros esforços para persuadir os democratas a mudar ou eliminar um projeto de lei de política social de US$ 3,5 trilhões”, aponta o jornal.

Como segundo destaque, o NYTimes reporta a pane global das redes sociais, abaladas pelo apagão. Desapareceu em minutos, acabou por horas: a paralisação abala o Facebook. “Quando os aplicativos usados por bilhões de pessoas em todo o mundo desapareceram, vidas foram interrompidas, negócios foram cortados de clientes — e alguns funcionários do Facebook foram impedidos de entrar em seus escritórios”, reporta o jornal.

Wall Street Journal destaca na manchete principal que edifícios vazios em cidades provinciais da China testemunham o desastre de Evergrande. A gigante imobiliária fez muitos empréstimos para se desenvolver em lugares distantes como Lu'an. Deixados para trás: compradores de apartamentos inacabados, estátuas de Pégaso guardando “terra das fadinhas”.

Já o Financial Times dá na manchete principal que o petróleo dos EUA atinge maior alta em 7 anos depois que Opep + resistiu aos apelos para acelerar a produção. “Decisão do grupo ameaça aumentar as tensões com a Casa Branca sobre temores de que o aumento dos preços possa atrapalhar a recuperação econômica”, resume.

AS MANCHETES DO DIA

Folha: Apagão global de Facebook e WhatsApp afeta bilhões

Estadão: Pane global expõe dependência de aplicativos do Facebook

O Globo: Pane global de Facebook e apps afeta negócios e gera perdas

Valor: Campos Neto descarta ajuste na meta e diz que foco é 2022

El País (Brasil): As finanças do céu: a milionária rede dos Legionários de Cristo em um paraíso fiscal

BBC Brasil: Consumo de pé de galinha em alta e outros 5 dados que revelam retrato da fome no Brasil

UOL: Sete dos 13 hospitais da Prevent Senior em SP funcionam sem licença

G1: Falha interna ao alterar configurações derrubou redes, diz Facebook

R7: Índice FipeZap: preço da casa própria tem alta 4,6% abaixo da inflação nos últimos 12 meses

Luís Nassif: Pandora Papers: O caminho para investigar Paulo Guedes e Campos Neto

Tijolaço: Conjecturas sobre o caso Evergrande