segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A dor de mais de 100.000 mortos é nossa

Brasil

Desde sábado, o Brasil arrasta, e arrastará para sempre, a marca dos mais de 100.000 mortos para a covid-19 no ano de 2020. A pandemia foi cruel no mundo todo, mas aqui sabemos que o vírus foi politizado e a autoridade máxima do Brasil fez gestos grosseiros enquanto o país sangrava a cada cifra macabra. “Vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar deste problema”, disse o presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira, na iminência dos seis dígitos que estavam chegando. E, no sábado, quando o mórbido marcador virou para os 100.000, o derradeiro golpe, com o presidente comemorando o título do Palmeiras no Campeonato Paulista.
A frieza do Governo Bolsonaro entrará para os livros de história, mas o Brasil segue seu rumo vivendo um luto coletivo inevitável. O país foi dividido na guerra política entre os que apoiam a ciência e os que zombam dela —caso do presidente, que mascara a realidade tal qual os militares o fizeram na ditadura para ocultar assassinatos. Mas o momento é outro, alerta Ana Claudia Arantes, especialista em intervenções de luto. A“ repercussão emocional não vai deixar as pessoas esquecerem”, diz. “O mundo que vem por aí é muito mais desafiador que a pandemia.”
O presidente está refém do negacionismo que pregou desde o início, cuja face mais exposta é uma caixa de comprimidos de hidroxicloroquina exibida a qualquer momento. Um placebo midiático para esconder que esse caos tem método, alerta o colunista Oliver Stuenkel, e se engana quem pensa que há um acaso na incompetência. Há uma chuva de cheques passando pelas contas de Fabrício Queiroz que alcançam a primeira-dama Michele Bolsonaro, um dossiê antifascista e arroubos golpistas no caminho.
São estes dois Brasis que gritam hoje: de um lado, um país que não sente a dor e nem se responsabiliza pelas vítimas da covid-19; de outro, um país que se despediu de Dom Pedro Casaldáliga, que viveu pelos mais vulneráveis, justamente os mais atingidos pela pandemia.

100.000 vidas roubadas pela covid-19 no Brasil à prova de negacionistas
100.000 vidas roubadas pela covid-19 no Brasil à prova de negacionistas
Mapa e ondas de mortes exaltam desigualdades históricas. Indígenas, negros e pessoas com baixa escolaridade estão entre os mais vulneráveis

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