quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Enquanto Guedes frita, Brasil ultrapassa as 117 mil mortes por covid

O presidente Jair Bolsonaro atacou diretamente, ontem, o ministro da Economia Paulo Guedes. “A proposta que a equipe econômica apareceu para mim não será enviada ao Parlamento, não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos.” Ele discursava durante uma cerimônia para o religamento de um autoforno, numa usina da Usiminas e se referia ao impasse interno do governo sobre o programa que substituirá o Bolsa Família. Na escolha das palavras, apresentou seu ministro como alguém insensível com a pobreza. “Não podemos fazer isso daí com, por exemplo, a questão do abono para quem ganha dois salários mínimos. Não podemos tirar isso de 12 milhões de pessoas para dar para o Bolsa Família ou Renda Brasil.” O presidente confirmou que estenderá o auxílio emergencial até dezembro. “É uma conta pesada, sabemos que os R$ 600 é pouco para muita gente que recebe, mas é muito para o país que se endivida e, lamentavelmente, como é emergencial, temos que ter um ponto final nisso.” (Poder 360)

A jornalista Cristiana Lôbo foi a primeira a conseguir conversa com Guedes após o ataque público. “Está tudo equacionado”, afirmou o ministro. “Não tem truque e nem fura-teto. Tudo será feito com total transparência. Ele é o presidente e é quem decide.” Cristiana lhe perguntou sobre o ataque público. “As coisas são assim mesmo: a economia é o cara que faz o papel de mau, e a política é o cara que faz o papel do bem” (G1)

Valdo Cruz: “Ao desautorizar publicamente a proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, de criação do Renda Brasil, o presidente Jair Bolsonaro colocou o Posto Ipiranga na frigideira e jogou para a plateia. A avaliação é de interlocutores do chefe da equipe econômica. Amigos do ministro Paulo Guedes avaliam que, se não der novas declarações defendendo o ministro, Bolsonaro terá colocado o chefe da equipe econômica na frigideira de vez.” (G1)

Vinícius Torres Freire: “Jair Bolsonaro tem de tomar sua primeira decisão relevante de governo: o dinheiro que seria destinado ao Bolsa Família Verde Amarelo. O que acontece então nessa situação inédita? Bolsonaro frita o ministro Paulo Guedes em público. É fato que o Ministério da Economia havia vazado esse plano de renda básica sem ter o ‘tá ok’ do presidente. Tais coisas acontecem porque o governo não tem rumo, programa e Bolsonaro lida com os ministros como se fossem estranhos: não governa, libera o desgoverno (Educação, Ambiente, Itamaraty) ou o não-governo (Saúde). O pito de Bolsonaro virou rebu. Ministros vazaram intrigas contra Guedes para jornalistas e povos dos mercados. Azedou o clima entre credores do governo e negociadores de dinheiro em geral, que ignoraram pedidos de ‘patriotismo’ de Bolsonaro. Juros e dólar subiram. O ambiente na finança melhorou um tico quando Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e do parlamentarismo branco, reafirmou que não vai passar qualquer tentativa de burlar o teto de gastos. Maia, assim como Guedes, está dizendo que o dinheiro para o Renda Brasil terá de vir do corte de outras despesas. Bolsonaro quer que Guedes faça mágica ou joga para a plateia (‘não me deixam governar’). Mantido o teto, não há dinheiro para os planos sociais que podem sustentar a popularidade presidencial. Logo, Bolsonaro está em uma sinuca de bico, como diz o povo. Começou a tratar Guedes como tratava Sergio Moro nos meses antes da degola: desautorizações e pitos do tipo ‘quem manda sou eu’. O Posto Ipiranga foi reduzido a loja de conveniência. Muita gente acha que já tem uma faixa de ‘passa-se o ponto’. Que fosse. Nada disso resolve o problema político-eleitoral de Bolsonaro. Para resolver, ou derruba o teto sem mais, à matroca, o que vai dar em besteira econômica, ou compra briga social.” (Folha)





Os protestos por conta dos sete tiros disparados pela polícia contra as costas de Jacob Blake, um homem negro, de 29 anos, se ampliaram ontem. Um rapaz de 17 anos, branco, armado com uma AR-15, ainda matou dois e feriu um terceiro dos manifestantes na cidade de Kenosha, estado do Wisconsin. (Vox)

Os jogadores da NBA paralisaram ontem a liga pela primeira vez colocando a continuidade dos playoffs em xeque. O primeiro foi Milwaukee Bucks, que representam justamente o estado de Wisconsin. O time se recusou a enfrentar o Orlando Magic no jogo 5 da primeira rodada dos playoffs, e a partida foi suspensa. Pouco depois, a liga anunciou que também não ocorreriam os jogos entre Rockets e Thunder e entre Lakers e Trail Blazers. A liga feminina de basquete e a liga de beisebol seguiram o exemplo e também cancelaram jogos previstos para o dia. (UOL)

O conflito marcará a eleição presidencial. Na terceira noite de sua convenção nacional, o Partido Republicano reforçou uma mensagem anti-protestos. “Vou mandar a Guarda Nacional para Kenosha para restaurar a lei e a ordem”, afirmou no Twitter o presidente Donald Trump. (Twitter)

O rapaz de 17 que atirou contra manifestantes negros foi identificado na primeira fileira de um discurso de Trump, em janeiro. (Buzzfeed)

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