segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

A urgente fuga para o campo na pandemia: utopia ou tendência?

 


Cinco dias após acabar o primeiro estado de alarme na Espanha, a medida que confinou a população dentro de suas casas por meses em uma das mais duras quarentenas contra a covid-19 no mundo, Alona e Alberto trocaram o apartamento onde moravam em Madri e partiram rumo a uma nova vida em uma antiga casa de campo em Muras, uma localidade espanhola de 642 moradores, que desde meados do século XX perdeu 80% da população. Passaram a primeira noite em uma barraca no quintal. De madrugada ouviram lobos. Para afugentá-los, colocaram música eletrônica. Na vida urbana, ir ao campo sempre foi um ideal de fuga rumo à qualidade de vida. Mas a pandemia do novo coronavírus deu urgência à necessidade de mais liberdade. Há vários fatores que justificam o êxodo urbano. Um deles é reduzir a ansiedade que, com o vírus, nos deixa sem ar. Reportagem de Pablo de Llano mostra como a Espanha —onde a maioria da população vive concentrada em 30% do território—, vive um fenômeno de êxodo urbano desde o início da pandemia, numa tendência que se repete em várias partes do planeta, entre elas no Brasil. “É como uma espiral que, muito lentamente, começa a girar ao contrário”, diz um dos entrevistados, que fez o caminho inverso de seus pais, trocando a cidade pelo campo.

Ainda na Europa, o Portugal vive um pesadelo com a explosão de casos e mortes causadas pela covid-19 semanas depois das festas de fim de ano. O chamado “milagre português” manteve o vírus sob controle durante a primeira onda, mas, quase um ano depois, este país com mais de 10 milhões de habitantes é o líder mundial em contágios e em média de mortes por dia. Teve que pedir ajuda internacional. “A palavra ‘milagre’ foi a pior que poderíamos ter usado, porque aquilo se conseguiu com trabalho”, lamenta Aurora Viães, vereadora na localidade de Vila Nova de Cerveira, onde um asilo geriátrico passou de não ter nenhum caso a registrar o adoecimento de todos os pacientes e funcionários. “Salvar o Natal foi um grande erro; sabíamos, mas não esperávamos que chegasse a ser desta magnitude”, admite Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos da Saúde Pública do país, como conta a correspondente Sonia Vizoso.

Em São Paulo, o repórter Felipe Betim entrevistou o médico epidemiologista José Cássio de Moraes, 75 anos, para saber dele onde o Brasil erra e acerta na condução da atual campanha de vacinação contra o coronavírus. O médico fala com a propriedade de quem participa há 46 anos do planejamento das principais campanhas de vacinação do país. Professor da faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro do Observatório Covid-19, ele trabalha com imunização desde 1975, quando o Brasil vacinou sua população contra a meningite. “Temos estrutura que pode atingir 100% da população e know how, mas por pressões e disputas políticas estamos nesta situação, com muita dificuldade de executar”, argumenta. “É triste. Países com menos estrutura, como os EUA, começaram antes a vacinar.” Por outro lado, ele lembra como a pandemia mostrou aos brasileiros que o SUS “possibilitou a sobrevivência de milhões de pessoas”. E, por isso, esse sistema, que é universal e gratuito, “passou a ser valorizado.” Nesta segunda-feira, as escolas estaduais de São Paulo retomam as aulas presenciais, após meses fechadas, mas professores cobram do Governo que sejam priorizados na fila da vacinação, que ainda caminha lentamente.

Para ler com calma, ainda nesta edição, o repórter Miguel Ángel García Vega traça uma detalhada trajetória de Jeff Bezos, o criador da Amazon, que surpreendeu o mundo ao anunciar na semana passada sua decisão de deixar o comando da empresa aos 57 anos. "O homem que em duas longas décadas construiu um gigante com um valor em Bolsa de 1,7 trilhão de dólares mudou para sempre o comércio eletrônico, desenvolveu o sistema logístico mais sofisticado que a humanidade já conheceu, acumulou em seus bolsos 188 bilhões de dólares, expandiu até o céu o negócio da computação em nuvem."


Meio século na linha de frente das campanhas de vacinação no Brasil
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O médico José Cássio de Moraes participa do planejamento das campanhas desde a crise de meningite. “A pandemia nos lembrou o valor do SUS”
Vacinação em São Paulo avança mais lentamente que em outros Estados
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Apesar da pressa de Doria em aplicar a 1ª vacina contra a covid-19 do Brasil no Estado, municípios demoram em usar doses disponíveis ou registrar as que já foram aplicadas, gerando subnotificação. População vive vaivém da quarentena

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