segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Análise de Mídia - 15/02/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: A pressão dos jornalões sobre o governo federal chegou ao fim. Talvez o “compromisso” de Jair Bolsonaro com a agenda fiscal de Paulo Guedes (ou seja da Faria Lima, ou seja dos próprios jornais) tenha servido para arrefecer o movimento para deslegitimar o presidente da República. É possível que a responsabilidade pelo descontrole da pandemia no Brasil recaia apenas sobre Eduardo Pazuello e que os jornais não se incomodem com isso. No entanto, uma nova tentativa de desgaste de Jair Bolsonaro pode acontecer num período mais próximo das eleições, quando o presidente não tenha tanta margem para responder e esteja sendo atacado por todos os seus oponentes em conjunto.
O sintoma de que a pressão dos jornais cessou são os destaques das capas. A Folha aponta para obras no estado de São Paulo que estariam atrasadas em função das brigas entre o presidente e o governador. O jornal O Globo coloca pressão sobre o STF informando que 377 processos estão parados na Suprema Corte por causa de pedidos de vista. Chama atenção que a reportagem não tem objetividade alguma, o que faz parecer que o grande objetivo seja somente a manchete “bombástica”. Aparece no texto alguma crítica a Gilmar Mendes por ter segurado o julgamento da suspeição de Sergio Moro por tanto tempo, mas trata-se de uma abordagem também superficial. Já a capa do Estadão menciona o aumento do regime de trabalho domiciliar em empresas. No entanto, o jornal utiliza a expressão “home office” para dizer que é alto o número de escritórios vazios em São Paulo. O uso da expressão anglo-saxã nos faz perguntar o por quê disso.
A Folha de S. Paulo volta a abordar o tuíte do general Villas Boas que, agora sabemos, foi gerado por um núcleo duro do Exército que hoje está lotado em cargos importantes do governo federal e também no comando do Exército. Além disso, o jornal publica textos de dois colunistas que criticam o que chamam de “movimento de perseguição” à Lava Jato. A Folha de S. Paulo também aborda a relação Brasil-China e o quanto o chanceler brasileiro não se cansa de constranger a diplomacia brasileira. No caderno de economia, a Folha publica reportagem sobre um levantamento feito pelo Banco Mundial sobre o endividamento dos países. De acordo com o Banco, todos os processos de endividamento em massa foram seguidos por crises financeiras graves. Por fim, o jornal informa sobre a queda nos investimentos do MEC e o quanto a Educação brasileira está sofrendo sob Jair Bolsonaro. Vale mencionar ainda o texto do jurista Thiago Amparo que publica uma reflexão sobre a eleição de 2022.
O auxílio emergencial é tema em todos os jornais. A Folha aborda a preocupação dos municípios com a falta do auxílio e apresenta um cálculo do governo federal de que o novo auxílio vai chegar para 40 milhões de brasileiros. O Estadão, por sua vez, informa que municípios já estão pagando auxílio em pelo menos 14 Estados.
O jornal O Globo continua de olho nas movimentações políticas de Luciano Huck e denuncia que o MP está investigando as relações do presidente da Alerj com um agiota da Baixada fluminense – não é possível imaginar que não seja mal intencionada uma publicação que informa sobre uma investigação em andamento, ou seja, algo que sequer foi consumado. Mas essa é a prática jornalística que sustentou a Operação Lava Jato durante tantos ano

 

CAPA – Manchete principal: *”Briga de Bolsonaro e Doria prejudica oito projetos em SP”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Revisão perigosa”*: Causa apreensão a notícia de que a ministra Damares Alves, da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, convocou um grupo de trabalho para discutir a revisão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). O tema, afinal, ressurge num governo que busca a todo momento sobrepor sua pauta ideológica ao que considera serem imposições do esquerdismo de governos anteriores —no mais das vezes, combatendo inimigos imaginários. Trata-se também de administração refratária ao diálogo com representantes da sociedade, essencial numa empreitada como essa. Não é que a atual versão do plano de direitos humanos, lançada em 2009 pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dispense revisões. Pelo contrário, o PNDH-3, como é conhecido, merece ser criticamente avaliado à luz de seus impactos concretos, escassos, e seus compromissos retóricos, muitos. Pressionada já na época, a gestão petista revisou pontos centrais das 521 ações do documento em 2010. Num exemplo, saiu do texto, por razões políticas, a defesa da descriminalização do aborto.
Programas nacionais de direitos humanos não são invenção do Brasil, embora o país seja um dos pioneiros em sua adoção. Os dois primeiros datam de 1996 e 2002, no governo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Formulados com participação popular em conferências e formalizados por decreto presencial, os textos têm sua origem na Conferência Mundial de Direitos Humanos das Nações Unidas de 1993. A ONU recomenda que países tracem um plano de ação nacional identificando as medidas de promoção e proteção dos direitos humanos, a serem tratadas como políticas de Estado, não de governo. As metas dos PNDHs brasileiros variam em termos de extensão e temas enfatizados. Direitos LGBTs passaram a ocupar espaço apenas nos dois programas mais recentes, assim como o direito à moradia. É evidente que documentos do gênero dão margem a proselitismo e a discursos vazios. Nem por isso se deve considerá-los inócuos. Os textos já anteciparam iniciativas como o Estatuto do Refugiado, de 1997, e a criação da Comissão Nacional da Verdade em 2011. Será retrocesso deplorável se o governo Jair Bolsonaro pretender impor com uma canetada, sem ampla consulta, sua pauta reacionária —e, em grande parte, minoritária na sociedade brasileira.

CATARINA ROCHAMONTE - *”Cupins contra a Lava Jato”*: Pelo fim de janeiro, o ministro do STF, Edson Fachin, disse que a “corrupção parece triunfar novamente como cupim da República”. No início de fevereiro, esse triunfo se confirmou com a extinção da força-tarefa da Lava Jato no Paraná e o recrudescimento da perseguição contra juízes e procuradores que atuaram na linha de frente da maior e mais exitosa operação de combate à corrupção da história do Brasil. A escalada persecutória tem visado especialmente o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Os cupins em guerra contra a Lava Jato têm usado, dentre outras armas, gravações criminosas de hackers. O senador Renan Calheiros, por exemplo, quer mandar Moro e Dallagnol para a cadeia e quer que os hackers sejam não só anistiados como elevados ao panteão da pátria. Não é difícil que isso aconteça, tendo em vista o extenso acordo de conveniência em prol da impunidade que inclui representantes dos três Poderes; além da militância lulista que ainda grassa no quarto poder.
No STF, o ministro Gilmar Mendes, falando fora dos autos, adiantou julgamentos contra a Lava Jato, insultou de forma leviana e grosseira —sem nenhum apreço pela ortodoxia jurídica ou pelo decoro ministerial— pessoas e instituições. Da força-tarefa de Curitiba disse tratar-se de “um grupo de esquadrão da morte, totalmente fora dos parâmetros legais”. Ironicamente, essa fala sobre assunto em pauta para julgamento coloca o próprio ministro “totalmente fora dos parâmetros legais”. Vale salientar que a fúria do ministro Gilmar contra a Lava Jato representa uma mudança de rumo, uma curva de interesse: em 2015, esse mesmo Gilmar dizia que a Lava Jato havia revelado “o maior escândalo de corrupção no Brasil e quiçá no mundo”. Talvez uma CPI da Lava Toga esclarecesse o motivo da guinada de opinião do ministro que, por seus muitos abusos, tem vários pedidos de impeachment protocolados no Senado; todos devidamente engavetados como parte do acordão da impunidade.
*Catarina Rochamonte - Doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).

MARCUS ANDRÉ MELO - *”Ministérios e corrupção”*: O toma lá dá cá tradicional foi um dos alvos de Bolsonaro em 2018, e uma das suas medidas iniciais foi o enxugamento do portfólio ministerial de 39, sob Dilma, para 22 pastas. Na ausência de parceiros partidários, sua opção foi nomear para os ministérios e estatais os únicos atores que conhecia: os militares. Sim, esta foi a principal razão para esta escolha, na qual muitos analistas só enxergaram autoritarismo e ameaça à democracia. Também ocuparam ministérios soldados da guerra cultural. A redução no número de ministérios representou uma camisa de força para o presidente quando ele se viu impelido a romper com a paralisia decisória em seu governo e a formar um escudo legislativo contra as instituições de controle. Agora terá que expandir aquele número. Em princípio, não há nada perverso na partilha do portfólio ministerial com parceiros. É assim na Dinamarca; é assim na Itália. Aliás, o caso italiano atual é ilustrativo: o minúsculo Viva Itália, que detinha 2 pastas ministeriais (total = 22) e 3% de apoio no eleitorado, acaba de sair do governo, provocando sua queda. Governo de coalizão é a norma e a solução para sociedades plurais. Quase 2/3 das democracias são presidencialistas ou semipresidencialistas; o resto é parlamentarista. Neste grupo as coalizões multipartidárias chegam a 80%; no primeiro chega a mais da metade.
Metade dos gabinetes na Europa entre 1944 e 2005 contava com menos de 17 pastas ministeriais. O tamanho dos gabinetes é função da intensidade de conflitos no interior dos partidos e entre eles. No primeiro caso para manter disciplina; no segundo, na montagem da própria coalizão, como mostram Indridason e Bowler. A patologia dos ministérios hiperdimensionados e disfuncionais fica clara em contextos ultrafragmentados —onde o conflito é não só partidário mas tribal— e onde o estado de direito não está enraizado. O gabinete confunde-se com predação: são 71 ministérios em Uganda, 54 na Nigéria, etc. Arranjos predatórios evitam a escalada do conflito, como argumenta Leonardo Arriola, mas o impacto sobre o desenvolvimento é previsível e perverso. No Brasil, a barganha sobre as pastas ministeriais e diretorias de estatais degenerou em distribuição do butim —o Petrolão pintado por Malu Gaspar em detalhes em “A Organização” é estarrecedor— mas isso não quer dizer que a formação de gabinetes multipartidários seja sempre marcada pela corrupção. O que garante que em países como a Holanda ou Dinamarca não seja assim são as instituições de controle e o império da lei. Estávamos rompendo com o regime de predação, mas o assalto à Lava Jato prenuncia seu retorno.

PAINEL - *”Prefeitos temem piora em escassez de vacinas por cálculo defasado de doses por cidade”*: Prefeitos temem que a escassez de vacinas contra a Covid-19 se agrave nos próximos dias por uma divergência na cota que cada município tem a receber. A distribuição é feita pelo Ministério da Saúde proporcionalmente à população de acordo com projeção do Censo de 2010. “Na vida real é diferente”, diz Geraldo Sobrinho, presidente da entidade que reúne secretários de Saúde de SP. Segundo ele, algumas cidades podem receber uma quantidade de doses até 10% inferior à que precisam. Segundo Sobrinho, o problema pode se manifestar conforme faixas etárias mais numerosas começam a ser vacinadas. “Eu trabalho no meu município com o que tenho cadastrado no sistema. Teve menos morte do que o estimado, ou veio gente de outra cidade, tudo isso acontece”, diz o secretário de São Bernardo.

PAINEL - *”Nova fábrica do Butantan para produção de vacinas será inaugurada em 30 de setembro”*

PAINEL - *”Governadores marcam reunião com Pazuello para cobrar cronograma de vacinas”*

PAINEL - *”Advogados fazem força-tarefa para categorizar diálogos hackeados da Lava Jato”*: Advogados do grupo Prerrogativas montaram força-tarefa no Carnaval para categorizar os diálogos entre procuradores e juízes da Lava Jato. O objetivo é depois acionar os conselhos do Ministério Público e da Justiça e cobrar punições aos envolvidos. Os defensores concentraram a análise nas mensagens a que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve acesso. São 740 gigabytes, o que, segundo advogados, dá cerca de 10% do total de conversas que foram hackeadas e obtidas na operação Spoofing, da PF, que investiga seis pessoas que teriam invadido os celulares de procuradores.

PAINEL - *”Entidades veem entraves em projeto de regulamentação da lei de proteção de dados”*
PAINEL - *”Sinalização de ACM Neto de que atuará para DEM virar oposição é vista com desconfiança no Congresso”*
PAINEL - *”Lira promete relatoria de regras da eleição de 2022 a presidente do Podemos”*

PAINEL - *”Bolsonaro indica a aliados que não deve desmembrar Ministério da Economia para evitar desgaste com Guedes”*: O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indicou a pessoas próximas que não deverá recriar pastas que exijam desmembrar o Ministério da Economia, como seria o caso da Indústria e Comércio. O presidente avaliou, em conversas reservadas, que Paulo Guedes tem apego ao poder e que retirar funções hoje nas mãos do ministro desgastaria a relação, o que ele quer evitar agora. Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares diz que as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo ainda não discutiram formalmente trocar de tática para priorizar ações contra a reforma administrativa e privatizações em vez do “Fora, Bolsonaro”.

*”Embate entre Doria e Bolsonaro vai além da vacina e atinge ao menos oito obras em São Paulo”*
*”'Menudo' de ACM Neto, novo ministro de Bolsonaro tem raízes em PE, ascendeu na BA e busca caminho próprio”*

CELSO ROCHA DE BARROS - *”O centro democrático existe?”*: Na semana passada, o PSDB resolveu fazer uma dessas coisas que tucano faz e isolou João Doria. Isso, o cara que comprou a vacina, o único tucano com um trunfo eleitoral para 2022. Como resultado desse isolamento, Doria pode ficar sem a legenda do PSDB para concorrer em 2022. Se isso acontecer, o único sucesso de políticas públicas do Brasil desde a eleição de Bolsonaro —a compra das vacinas pelo estado de São Paulo— pode não ter qualquer peso na eleição presidencial de 2022. Um dos fatores que parecem ter precipitado a briga foi a tentativa de Doria expulsar Aécio Neves, aquele do Joesley. Doria queria expulsá-lo porque Aécio seria um dos incentivadores dos tucanos que traíram a candidatura de Baleia Rossi na eleição da Câmara. Perdeu a briga. Aécio ainda controla uma máquina fisiológica em Minas Gerais, e, neste caso específico, estava defendendo o direito de os deputados se venderem, algo que a turma leva bastante a sério.
Além disso, uma ala do PSDB lançou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para disputar com Doria a candidatura de 2022. Leite começou a disputa afirmando que o PSDB não deve fazer oposição “sistemática” a Bolsonaro. Foi uma declaração desastrosa. Ninguém discute que os tucanos podem apoiar as propostas de Guedes, mas abster-se de fazer oposição dura a Bolsonaro é perdoar o autogolpe, é perdoar as mortes da pandemia, é defender uma impunidade muito pior do que a que foi negociada no acordão que encerrou a Lava Jato. Leite, um político jovem, não precisava dessa declaração no currículo. Como no caso da crise do DEM, a crise do PSDB é mais uma vitória que Jair Bolsonaro conquistou por ter ganho o Congresso para Arthur Lira. Mas a cabeça de Doria é um prêmio muito maior do que a de Rodrigo Maia. O governador de São Paulo é o principal desafiante de Bolsonaro já no ringue. Tinha o trunfo da vacina, que, vamos repetir, é o trunfo que todo mundo queria ter: a vacina salva vidas. Só a vacina vai trazer a normalidade de volta, só com normalidade teremos crescimento econômico de novo. E todos sabemos que Bolsonaro só começou a comprar vacinas para competir com Doria.
Enfim, morreu de vez o argumento dos tucanos que dizem que votaram no Bolsonaro porque do outro lado era o PT. Não foram capazes de tomar uma posição clara contra Bolsonaro nem quando do outro lado eram eles mesmos. Primeiro o DEM, depois o PSDB, o que sobrou do tal centro democrático? Ele existe? Talvez não. Talvez ele sempre tenha sido a direita incomodada com o fato de que Bolsonaro não havia lhe entregue nacos suficientemente grandes do governo, do orçamento, do poder. Acho cedo para cravar esse diagnóstico. A popularidade de Bolsonaro é baixa para o padrão histórico de presidentes nesta altura do primeiro mandato. Se toda a rejeição a Bolsonaro fosse de esquerda, o segundo turno de 2022 seria entre Ciro e Haddad. Como isso não parece provável, imagino que haja, sim, um setor do eleitorado que é mais ou menos de centro e é contra Bolsonaro. Se esse eleitorado existir, Luciano Huck pode herdá-lo sozinho. Não seria surpresa, aliás, se descobríssemos que os partidários de Huck no PSDB estavam entre os que manobraram para neutralizar Doria. Se não manobraram, certamente lucraram com a manobra.

*”Tuíte do general Villas Bôas sobre Lula foi atenuado; atuais ministros de Bolsonaro discutiram o texto”* - A famosa postagem no Twitter do então comandante do Exército antes do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha um teor bastante mais incendiário do que o publicado. Segundo o relato feito em um depoimento publicado pela Fundação Getúlio Vargas na semana passada pelo general da reserva Eduardo Villas Bôas, que comandou o Exército de 2014 a 2019, ao menos três ministros do governo Bolsonaro e o atual chefe da Força souberam da nota. Ela foi atenuada por ação do então ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, hoje diretor-geral de Itaipu, um episódio até aqui inédito que foi relatado à Folha por integrantes do governo Michel Temer (MDB). No dia 2 de abril de 2018, uma segunda-feira, o comandante Eduardo Villas Bôas discutiu a ideia de admoestar o Supremo Tribunal Federal, que em dois dias iria julgar um pedido para evitar a prisão de Lula, condenado em segunda instância no caso do tríplex de Guarujá. Silva e Luna foi alertado acerca do tuíte e ficou assustado. Acionou o general da reserva Alberto Mendes Cardoso, conhecida voz moderada que foi chefe da Casa Militar/Gabinete de Segurança Institucional do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Ambos trabalharam para retirar menções que sugerissem intenções de interferência institucional aberta contra o Supremo. Sobrou a ameaça velada, que no livro "General Villas Bôas: Conversa com o comandante", de Celso Castro, o ex-comandante diz ter sido "um alerta". Procurado, Silva e Luna não comentou o episódio. "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", dizia a primeira postagem, feita no dia 3 de abril. "Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", completava. No livro da FGV, o general afirma que não discutiu o tema com o ministro, embora cite erroneamente Raul Jungmann como o titular da pasta —ele havia deixado da Defesa no começo de 2018 para assumir a Segurança Pública. Lula acabou tendo o pedido negado pelo plenário do Supremo e, no dia 7 de abril, foi preso em Curitiba. Deixou a cadeia 580 dias depois, após o STF derrubar a regra que permitia prisão a partir da condenação em segunda instância. Diferentemente do que se intui da leitura da entrevista de Villas Bôas, o temor militar da volta da esquerda ao poder personificado em Lula, o ex-presidente segue inelegível mesmo solto. No livro, o ex-comandante repetiu o que havia dito em entrevista à Folha em novembro de 2018, dizendo não se arrepender do gesto e negando intuito de favorecimento político a Bolsonaro, um capitão reformado do Exército.
Por outro lado, descreve o processo de apoio ao hoje presidente entre os militares e a ojeriza crescente ao PT, o que elabora um quadro claro de ação política do Exército, consolidado quando diversos generais da reserva e da ativa integraram o governo em 2019. Assim, o relato de Villas Bôas envolve diretamente três ministros de Bolsonaro, pois ele afirma que discutiu o tema com sua equipe e com os integrantes do Alto-Comando do Exército, o colegiado de 15 generais de quatro estrelas, o topo da hierarquia. Alguns integrantes do grupo afirmaram, sob reserva, que a decisão final sobre as postagens foi de Villas Bôas e de seu grupo mais próximo, o chamado núcleo duro. O ex-comandante afirma que falou com os membros residentes em Brasília, o que coloca o hoje ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo, na discussão. Ele era então chefe do Estado-Maior, segundo posto da Força, integrate do círculo íntimo do comandante. O hoje ministro não quis comentar o episódio. "O conteúdo do livro cabe ao seu autor", disse, por meio de sua assessoria. Outro atual ministro era Luiz Eduardo Ramos, que recebera sua quarta estrela em novembro de 2017 e fora nomeado em 28 de fevereiro para ser comandante do Sudeste, em São Paulo. Ele só assumiu o cargo em 3 de maio, então estava na condição de adido do Estado-Maior do Exército em abril, fazendo a passagem para o comando.
Hoje ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, muito próximo do presidente, o general da reserva nega ter participado. "Não fui consultado", afirmou, por telefone. O então comandante também disse ter enviado a nota para os generais de quatro estrelas que já comandavam áreas, no próprio dia 3, e ouviu suas sugestões. Entre eles estavam o atual chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, que era comandante do Sudeste e interventor militar no Rio de Janeiro à época. A Folha enviou um questionamento a sua assessoria, mas não obteve resposta. Também integrava o grupo o atual chefe da Força, Edson Leal Pujol, que era o comandante militar do Sul —ele havia substituído o hoje vice-presidente Hamilton Mourão, removido da função após criticar o governo de Dilma Rousseff (PT) em 2015. A reportagem também não recebeu resposta do Comando do Exército sobre pedido para comentar o caso. Pujol tem comandado um processo de separar a linha de atuação do serviço ativo dos militares do governo, após o ensaio de crise institucional que envolveu os militares e Bolsonaro no ano passado. Ele parece cioso do dano potencial à imagem das Forças Armadas reafirmado pelo livro de Villas Bôas.
+++ A reportagem mostra o uso político da credibilidade do Exército junto da sociedade. Não se pode esquecer que esse movimento político de um núcleo do Exército – algo que não é nada inédito no Brasil – foi o fator que promoveu e fortaleceu a política neoliberal que custou direitos aos trabalhadores e tantas vidas na pandemia.

*”Defensores de candidaturas independentes insistem em bandeira e veem causa mais forte pós-eleição”*
*”Quase metade dos réus em ação sobre doleiros se tornam delatores”*

*”China ignora pedidos de Bolsonaro por troca de embaixador no Brasil”* - Convencido pelo chanceler Ernesto Araújo, o presidente Jair Bolsonaro pediu no ano passado ao regime chinês a troca de seu embaixador no Brasil, Yang Wanming. A medida foi tomada em abril e reiterada em novembro, após bate-bocas via redes sociais entre o diplomata e o deputado Eduardo Bolsonaro. Pequim ignorou a solicitação brasileira nas duas ocasiões. Ernesto tomou as dores do filho do presidente Bolsonaro e rompeu relações com Yang. O estopim que motivou o pedido foi o embate no Twitter entre Eduardo e o diplomata chinês. Em março de 2020, o deputado publicou um texto comparando a pandemia da Covid-19 ao acidente nuclear de Tchernóbil (1986) e afirmando que o regime chinês tinha responsabilidade pela disseminação da doença. "Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste,mas que salvaria inúmeras vidas", escreveu o deputado na época.
Yang classificou a fala de Eduardo de "insulto maléfico", e o perfil oficial da embaixada veiculou uma publicação que acusa o deputado de ter contraído um "vírus mental". O embate fez o governo brasileiro tomar decisão drástica, que gerou apreensão entre diplomatas no Itamaraty. No fim de março, Ernesto enviou para Paulo Estivallet de Mesquita, o embaixador do Brasil em Pequim, um telegrama diplomático solicitando que ele entregasse um documento formal ao governo chinês pedindo a substituição de Yang —o que ocorreu no início de abril, segundo pessoas que participaram das discussões ouvidas pela Folha sob condição de anonimato. A solicitação foi ignorada. Procurado, o Itamaraty não se manifestou sobre o tema. Em novembro, no auge dos ataques à Huawei, gigante chinesa de telecomunicações, Eduardo acusou a China de promover a espionagem industrial via equipamentos 5G. Yang reagiu, e o Itamaraty solicitou novamente a troca.
Os pedidos formais de substituição de Yang foram secretos, mas uma carta enviada por Ernesto à embaixada da China em Brasília deu o tom da insatisfação do governo Bolsonaro com o diplomata chinês. "Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados", afirmou o Itamaraty na carta, encaminhada em novembro. Oficialmente, não houve respostas sobre os pedidos de troca de Yang. No entanto, Pequim fez chegar a autoridades brasileiras a informação de que seu embaixador no Brasil é um quadro conceituado do serviço público chinês. Um membro do governo Bolsonaro argumenta que as declarações de Yang foram avalizadas pelas autoridades em Pequim, que têm instruído seus diplomatas no exterior a responder à altura diante de manifestações consideradas ofensivas ao regime. As relações de Ernesto com Yang estão cortadas. As portas da divisão do Itamaraty responsável por Ásia e Pacífico também estão fechadas para ele, de acordo com pessoas próximas ao embaixador.
Interlocutores ouvidos pela Folha destacaram que a solicitação de substituição do embaixador chinês feita pelo governo brasileiro foge totalmente da praxe diplomática. Os governos têm a prerrogativa de expulsar do país diplomatas estrangeiros, mas esse gesto é considerado extremado e com o potencial de prejudicar as relações bilaterais. Caso Bolsonaro tivesse optado por essa medida, a resposta inevitável seria a expulsão do embaixador brasileiro de Pequim, escalando a crise diplomática com o maior parceiro comercial do Brasil. Ainda segundo esses interlocutores, Ernesto optou por uma medida mais "leve" e com efeito de "marketing", especialmente levando em conta interesses da família Bolsonaro. Um diplomata com experiência na relação Brasil-China afirma que o governo Bolsonaro deveria saber que Pequim não atenderia ao pleito. Se cedesse ao Brasil, a China poderia ver requisições semelhantes chegarem de outros países onde embaixadores chineses protagonizaram polêmicas. Na Suécia, por exemplo, o embaixador chinês fez declarações que provocaram mal-estar nas autoridades locais. O constrangimento de Ernesto —ignorado por Pequim— ficou mais evidente quando o presidente Bolsonaro foi obrigado a procurar a China sobre a liberação de insumos para a fabricação da vacina contra o coronavírus.
O Palácio do Planalto tentou, até o último momento, garantir a importação de imunizantes prontos da Oxford/AstraZeneca fabricados em um laboratório na Índia. Entretanto, diante do fracasso das negociações com a Índia , acabou sofrendo um revés político para o governador João Doria (PSDB-SP), que negociou diretamente com um laboratório da China a compra da Coronavac. Coube a Doria a primeira foto da vacinação no país. Para piorar a situação do governo federal, que já vinha sendo criticado pela demora no início da vacinação, tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) estavam com remessas atrasadas de insumos para a fabricação dos imunizantes. Os insumos —tanto da vacina da Oxford/AstraZeneca quanto a da Coronavac— são produzidos pela China. Bolsonaro passou a apelar para a China e chegou a pedir uma conversa telefônica com o líder do país, Xi Jinping.
Diante das dificuldades, Bolsonaro pediu em uma live que Ernesto recompusesse as relações com o gigante asiático. O chanceler respondeu que o embaixador do Brasil em Pequim estava dialogando com o governo chinês diretamente. Mas nos bastidores, o chanceler manteve a política de "portas fechadas" para Yang. Além do mais, Ernesto não abriu mão da retórica anti-China que marcou sua administração e, recentemente, ordenou a subordinados que reunissem declarações críticas feitas por autoridades estrangeiras contra o regime chinês. Em uma das solicitações, à qual a Folha teve acesso, Ernesto pede que membros do corpo diplomático lhe enviem manifestações das autoridades da Austrália e do Japão contrárias a Pequim. Para contornar a falta de diálogo do Itamaraty com a embaixada chinesa, o presidente acatou sugestões de ministros que formaram uma espécie de "tríplice aliança" para tentar salvar a relação do Brasil com seu principal parceiro comercial. Fazem parte dos esforços os ministros Eduardo Pazuello (Saúde), Tereza Cristina (Agricultura) e Fábio Faria (Comunicações). O vice-presidente, general Hamilton Mourão, que preside a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), não foi convidado. Ele vive o pior momento da sua relação com Bolsonaro, que parou de delegar ao vice tarefas no governo.

*”Apoiadores de Navalni protestam contra Putin usando velas de Dia dos Namorados na Rússia”*

TODA MÍDIA - *”EUA cortam vacina e empurram Europa e América Latina para a China”*: Com o enunciado “Diplomacia da vacina eleva influência da China na Europa”, o Wall Street Journal noticia que Hungria e Sérvia já estão usando, Montenegro e Macedônia começam em dias e Alemanha e Áustria também querem. O problema foi que, no caso das "três vacinas" aprovadas antes na região, as americanas Pfizer e Moderna e a britânica AstraZeneca, "os fabricantes têm se debatido para entregar". Os EUA "se concentraram primeiro na imunização da sua própria população".
Uma autoridade húngara apontou que "o veto à exportação das vacinas pelos EUA" deixou seu país sem saída. Outra, sérvia, disse que tentou Pfizer e AstraZeneca, conseguiu poucas doses e "é porque apelamos à China que temos a melhor vacinação na Europa". A questão se estende à América Latina. No Washington Post, "Estrangeiros estão tomando vacinas nos EUA". Logo abaixo, detalha serem latino-americanos, "possivelmente milhares". Cita celebridades de México e Argentina que viajaram a Miami para tomar. Informa que o governo mexicano havia encomendado ao laboratório "agressivamente, mas os suprimentos da Pfizer secaram". E que os governadores de Flórida e Texas já se mexem para barrar os estrangeiros. O site da organização americana AS/COA alerta para "momento emblemático", ocorrido duas semanas atrás. No título da mexicana Proceso: "Não chegam vacinas... E López Obrador pede a Biden. Mas o mandatário lamentou não poder ajudar". Brasil, Chile, Peru, Argentina e o próprio México já se voltam para a China, quando não Rússia, avisa a AS/COA, prevendo "consequências imprevisíveis para alianças e a geopolítica na América Latina".
DESPACHO DO RIO
Na home do Washington Post (acima), do correspondente: "Minha mulher e eu pegamos Covid-19. Nosso médico no Brasil prescreveu um remédio usado para tratar parasitas em gado".
'SHAME ON YOU, NYT'
No final da semana, o New York Times publicou que a "China se recusou a entregar dados importantes à OMS", reportagem que levou a uma cobrança agressiva de Pequim por Washington, em seguida. Mas cientistas da missão da Organização Mundial da Saúde à China saíram denunciando, via Twitter: "Nossas declarações foram propositalmente distorcidas". Um deles, que preside a EcoHealth Alliance, de Nova York, foi além: "É decepcionante gastar tempo com jornalistas para ver citações selecionadas erroneamente para se encaixar numa narrativa prescrita previamente. Você devia se envergonhar, NYT."
NÃO É GENOCÍDIO
Destaque do fim de semana no site da Economist, o editorial "Como falar sobre Xinjiang" anota que o secretário de Estado de Biden, ecoando o de Trump, "chamou de 'genocídio' a perseguição aos uigurs", muçulmanos daquela região chinesa. "Mas isso é correto?", pergunta, para responder que "não é". Pequim "trancou talvez um milhão deles" e "esterilizou algumas mulheres uigurs. Mas isso não é chaciná-los". Argumenta que "Biden está certo em criticar os abusos, mas deve fazê-lo com verdade". Acusar a China de genocídio, "na ausência de assassinato em massa, é diminuir o estigma único da palavra".

MATHIAS ALENCASTRO - *”Frantz Fanon e a Folha”*
*”Morre aos 90 anos Carlos Menem, presidente da Argentina de 1989 a 1999”*
*”Meghan Markle e príncipe Harry esperam segundo filho”*

*”Dívida global bate recorde, traz risco de crise e põe crescimento em xeque”* - A pandemia da Covid-19 acelerou em 2020 a tendência global de endividamento de governos e empresas e levou o mundo ao maior volume de dívidas da história. Como consequência, o crescimento global nos próximos anos pode ser ainda menor do que antes da pandemia, com elevado risco de crises financeiras pelo caminho. Entre 2011 e 2019, as economias avançadas já apresentavam baixo crescimento, de 1,9% ao ano, em média. Desde os anos 1980, todos os booms de endividamento —e o atual foi extremamente agudo— acabaram levando a crises em várias partes do mundo. Atualmente perto de US$ 280 trilhões, as dívidas globais atingiram em 2020, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) mundial, mais do que empresas, cidadãos e países deviam ao final da Segunda Guerra —conflito que, entre 1939 e 1945, causou perdas materiais e humanas sem precedentes, mas seguido por fase de forte crescimento.
Segundo o IIF (Institute of International Finance, que reúne 400 bancos em 70 países), a dívida global aumentou mais rápido nos últimos anos e além do que se previa após o início da pandemia. Sem precedentes na comparação com períodos anteriores, o salto de 2016 até ao fim de 2020 foi superior a US$ 50 trilhões (mais de US$ 15 trilhões só no ano passado). Entre 2012 e 2016, o aumento havia sido de US$ 6 trilhões. No total, o mundo deve hoje, em média, o equivalente a cerca de 365% de tudo o que produz em um ano —435% do PIB nos países ricos e 250% nos em desenvolvimento. Para governos de nações emergentes como o Brasil, essa montanha de débitos exigirá, já em 2021, um grande esforço de refinanciamento. Juntas, as 30 maiores nações em desenvolvimento têm cerca de US$ 7 trilhões em débitos estatais vencendo neste ano. No Brasil, com R$ 5 trilhões de dívida pública federal, R$ 1,4 trilhão (28%) vencem em 2021. Hoje rolada em prazos cada vez mais curtos, a dívida brasileira pode aumentar se o Banco Central iniciar um processo de alta dos juros, o que dependerá da inflação —pressionada não pelo aumento da atividade, mas pelo valor do dólar e dos preços de commodities agrícolas, cotadas na moeda americana.
Segundo organismos internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial e o IIF, a dívida global no patamar atual tem potencial para desacelerar o ritmo de crescimento mundial e, à medida que a inadimplência de créditos privados aumentar, obrigar governos a se endividar mais para resgatar os falidos. “Uma crise silenciosa está ganhando força e pode prejudicar a recuperação nos próximos anos. Embora [esse tipo de crise] nem sempre inclua pânico e corridas, ela impõe custos múltiplos”, afirma Carmen Reinhart, economista-chefe do Banco Mundial. “A reestruturação e a recapitalização dos bancos para restaurar a solvência podem ser caras para governos e contribuintes, e os novos empréstimos tendem a permanecer deprimidos, reduzindo a atividade.” Reinhart ressalta que “a crise de crédito também tem efeitos distributivos, porque atinge de forma mais aguda as pequenas e médias empresas e as famílias de baixa renda”. Extenso trabalho do Banco Mundial em 2019 mostrou que todas as grandes ondas de endividamento no passado terminaram em “crises financeiras”, sobretudo nos emergentes —incluindo a crise da dívida dos países latino-americanos nos anos 1980; a asiática, em meados dos anos 1990; e o estouro da “bolha” dos créditos “subprime” nos Estados Unidos, no final dos anos 2000. O Banco Mundial já considerava que o mundo se encaminhava para algo parecido antes mesmo da disparada do endividamento com a Covid-19.
Para José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários da FGV/Ibre e ex-diretor da Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Central, o endividamento global elevado “compromete o futuro”. “Empresas endividadas investem menos, e, nesse caso, não importa que o crédito tomado seja a juro zero. O principal da dívida precisa ser pago, o que inibe novas despesas, investimentos e mesmo a captação de outros fundos no futuro.” Segundo José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator, o endividamento público muito elevado, e não somente o empresarial, torna-se um risco para a atividade futura. “Quem compra os papéis de governos [pessoas físicas e empresas] não aposta na economia ou em seu crescimento, mas na proteção de seu dinheiro, e acaba sancionando o endividamento e os gastos dos países que emitem dívida”, afirma Gonçalves. Isso geraria uma espécie de círculo vicioso, com os governos tendo que captar cada vez mais dinheiro no mercado para estimular uma atividade econômica que não decola. Na semana passada, por exemplo, os governos de Espanha e Portugal ofereceram ao mercado títulos equivalentes a € 8 bilhões, pagando juros ao redor de 1% ao ano. Apesar da oferta “limitada”, a demanda de investidores explodiu e passou dos € 100 bilhões.
Atualmente, os Estados Unidos e a zona do euro financiam suas políticas expansionistas pagando taxas de juros negativas (abaixo da inflação) nos títulos que vendem ao mercado. Os riscos do endividamento recorde também são grandes para o setor bancário, pois a crise provocada pela pandemia causada pela Covid-19 levou dezenas de países a flexibilizar regulamentações e a exigir menos provisionamento de caixa para enfrentar empréstimos inadimplentes; assim como a relaxar o rigor na classificação de risco de débitos antes considerados de difícil recebimento. As mudanças sugerem que a extensão da inadimplência, e a precariedade de muitos créditos a receber pelos bancos, pode estar hoje subestimada, o que tende a se agravar em um contexto de economia em baixo crescimento. Em relatório recente, o FMI sugere que, “com o esperado aumento das falências, parte da dívida privada pode migrar para o setor público por meio de resgates financeiros” —aumentando o endividamento estatal. Para Gavyn Davies, do fundo americano Fulcrum Asset Management, algumas categorias de endividamento causam mais preocupação. Entre elas, as dívidas corporativas nos Estados Unidos e de empresas voltadas ao consumo mais prejudicadas pelas medidas de distanciamento social adotadas contra a Covid-19, sobretudo na Europa.
Nas economias avançadas, os bancos centrais vêm estimulando o aumento das dívidas privadas por meio da compra de seus títulos, como forma de manter as empresas à tona e financiar pacotes de ajuda. Somente nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentou de US$ 4,1 trilhões, em fevereiro de 2020, para US$ 7,4 trilhões, neste ano, a compra desses papéis. Assim, além de as dívidas dos governos crescerem de forma acelerada na pandemia, empresas e bancos persistiram numa tendência de mais endividamento que ocorre desde o fim dos anos 2000. À época, o mundo sofreu sua maior crise financeira, no biênio 2008-2009, desde o crash da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Em artigo há alguns dias no jornal The Washington Post, Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, ex-presidente da Universidade Harvard e defensor da eficácia de políticas fiscais expansionistas, afirmou que, desta vez, devido à escala dos incentivos, os Estados Unidos podem estar pondo em risco a estabilidade financeira e o valor do dólar. Em relatório recente, o FMI também alertou para o risco de aumento da inflação, apesar da baixa atividade econômica, se os bancos centrais continuarem muito agressivos em suas políticas de injeção de liquidez, como o Fed vem fazendo.
“Nesse contexto, as expectativas de inflação podem aumentar muito rapidamente, uma vez que os governos comecem a incorrer em grandes déficits fiscais”, diz o FMI. O Fundo afirma que “a credibilidade pode ser prejudicada quando se considera que os bancos centrais conduzem a política monetária para manter baixos os custos dos empréstimos dos governos em vez de garantir a estabilidade de preços”. Júlio Senna lembra, no entanto, que, nos nove anos que antecederam 2020, quando a pandemia se instalou, a inflação anual média nos países desenvolvidos foi de 1,5%, abaixo dos 2% geralmente perseguidos como meta. Assim, seria bastante provável que o mundo já estivesse metido —antes mesmo da Covid-19— em um processo conhecido como “estagnação secular”. Cunhado no fim dos anos 1930, o termo foi resgatado por Summers em 2013, considerando que o mundo rico enfrentava desaceleração da produtividade, menor intensidade de capital para projetos lucrativos, envelhecimento e baixo crescimento populacional. O aumento da expectativa de vida e a piora da distribuição de renda também seriam fatores de freio ao consumo e estímulo à poupança —forças que já inibiam o crescimento global antes mesmo da nova montanha de dívidas criada pelo coronavírus.

*”BC ganha autonomia e acumula marcos históricos em 5 décadas de atuação”*
PAINEL S.A. - *”Judicialização da maconha medicinal volta a aparecer em SP com alta dose de seringa a US$ 199”*
PAINEL S.A. - *”Teste de Covid positivo em farmácia bate recorde em fevereiro”*
PAINEL S.A. - *”Rastreamento de motos refletiu aquecimento do delivery”*

PAINEL S.A. – *”Donos de apartamentos de Manhattan dão mais de 2 meses de aluguel grátis para atrair inquilino”*
PAINEL S.A. – *”Carrefour diz que não sentiu efeito do fim do auxílio emergencial”*
PAINEL S.A. - *”Fabricante de doces Fini renova marca e prepara expansão de exportações”*
PAINEL S.A. - *”Combinadas, Empiricus e Vitreo negociam com investidores”*

*”Governo mapeia resistências a propostas da reforma tributária”*

*”Auxílio emergencial vai chegar a mais de 40 milhões de pessoas, calcula governo”* - A recriação do auxílio emergencial vai atender mais pessoas do que o inicialmente previsto. Segundo estimativas da equipe econômica, o programa deve chegar a mais de 40 milhões de indivíduos em 2021. Mesmo assim, o auxílio deve contemplar uma população menor do que a de 2020. No dia 4 de fevereiro, o ministro Paulo Guedes (Economia) previa contemplar 32 milhões de brasileiros no auxílio emergencial. O objetivo do Ministério da Economia é fazer uma filtragem e deixar o programa mais focado, direcionando recursos apenas à população pertencente às camadas mais baixas de pobreza. De acordo com pessoas com conhecimento da negociação ouvidas pela Folha, a ideia da equipe econômica parte da premissa de que 75% dos recebedores do auxílio emergencial em 2020 representavam a parcela de 50% da população brasileira com menos recursos. O novo programa seria voltado apenas a essa parcela de 75% de recebedores mais pobres. Apesar de ser mencionado nos bastidores um pagamento para mais de 40 milhões, o percentual representaria pelo menos 50 milhões —considerando os dados atualizados em dezembro pela Caixa (67 milhões receberam o auxílio emergencial). De qualquer forma, a pasta buscar fazer as regras atenderem os mais carentes enquanto poupa recursos em relação ao programa do ano passado —que teve até servidores e militares recebendo o dinheiro, infringindo as regras previstas.
A quantidade de pessoas a receber o auxílio inclui os beneficiários do Bolsa Família, que devem receber um aumento para obterem o mesmo que os demais atendidos. Apesar de pressões entre congressistas por um valor mais alto, a equipe econômica insiste em que a quantia a ser paga deve ficar entre R$ 200 e R$ 250 por beneficiário. Valores como de R$ 300 são rechaçados sob a ótica de que todo o país seria empobrecido por consequências de um programa mais caro (como a inflação e o aumento de juros). A equipe também estuda eliminar o pagamento em dobro para mães solteiras, feito no ano passado —casos em que foi possível obter R$ 1.200 em vez dos R$ 600 pagos nas cinco primeiras parcelas, e R$ 600 em vez de R$ 300 nas últimas quatro. A última parcela foi referente a dezembro de 2020. O programa custaria no mínimo entre R$ 8 bilhões e R$ 12,5 bilhões por mês, considerando as variáveis de população e valor do benefício previstas nas regras em estudo. O Ministério da Economia vem dizendo que busca um programa que dure somente três ou quatro meses, o que levaria o custo mínimo do auxílio emergencial em 2021 a um número entre R$ 24 bilhões e R$ 50 bilhões. Em 2020, o total liberado foi de R$ 322 bilhões.
Para liberar esse montante, o governo precisa alterar a Constituição de forma a obter segurança jurídica para a operação por causa de dois fatores principais. Hoje, regras fiscais impedem o país de criar um programa que demande tantos recursos de dívida —por isso, é necessária uma flexibilização nas normas. Outro argumento é que há controvérsias sobre a hipótese de os efeitos da pandemia serem previsíveis ou imprevisíveis em 2021, visto que o novo coronavírus chegou ao país há quase um ano. A interpretação faz diferença porque o auxílio emergencial será criado por meio de crédito extraordinário —dispositivo que libera recursos fora do Orçamento tradicional e fora do teto de gastos, algo permitido pela Constituição somente para despesas urgentes e imprevisíveis (como em caso de guerra, comoção interna ou calamidade pública). Como não há consenso técnico sobre encarar a pandemia como algo previsível ou não, uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para liberar gastos neste ano enterraria a discussão. O instrumento usado em 2020 foi a PEC da Guerra, que flexibilizou as regras fiscais e vigorou até o fim do ano.
Agora, Guedes prefere uma cláusula de calamidade pública a ser inserida na PEC do Pacto Federativo —proposta elaborada por ele que tramita desde novembro de 2019 no Congresso e revê despesas públicas. O objetivo de Guedes é liberar os recursos, mas com uma contrapartida fiscal. O Ministério da Economia ficou de "compactar" a PEC do Pacto Federativo com a cláusula de calamidade pública e apresentar uma versão a representantes do Congresso. A partir daí, começam as discussões com o Legislativo para definir a estrutura final do texto. A expectativa na equipe econômica é de aprovação definitiva em três semanas e de o auxílio começar a ser pago ainda em março. Do lado do Congresso, a perspectiva é que a proposta seja apresentada na reunião de líderes de bancada do Senado, na quinta-feira (18). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deve se reunir no dia anterior com o senador Márcio Bittar (MDB-AC), que é relator na Casa da PEC do Pacto Federativo. Bittar também está estudando durante o Carnaval seu relatório para a proposta. Após reunião na sexta-feira (12), Guedes, Pacheco e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciaram o acordo pelo qual o auxílio ficou atrelado à aprovação da PEC do Pacto Federativo. Pacheco afirmou na ocasião que o pagamento do auxílio se daria em março, abril, maio e, "eventualmente", em junho.

RONALDO LEMOS - *”Clubhouse é o aplicativo do momento”*
*”Tuítes de Elon Musk enlouquecem mercado financeiro e são criticados”*
MARCIA DESSEN - *”Crédito com garantia de imóvel”*
*”Saiba como fugir do risco Brasil e diversificar investimentos no exterior”*

ENTREVISTA DA 2ª - *”Manter Carnaval na pandemia seria desfilar por cima de cadáveres, diz Neguinho da Beija-Flor”*

*”Sob Bolsonaro, gasto do MEC com investimentos é o menor desde 2015”* - Os investimentos do MEC (Ministério da Educação) nos dois primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (sem partido) foram os menores desde 2015. A situação tem impacto nas instituições de ensino superior e técnicas federais. Esses gastos são aqueles direcionados à expansão da oferta de políticas públicas, como compra de equipamentos, insumos para laboratórios e obras. Não entram no cálculo os pagamentos de salários e custeio do MEC, que também passam por reduções. No primeiro ano de gestão Bolsonaro, em 2019, o ministério executou apenas R$ 39 milhões das rubricas inscritas como investimentos, em valores atualizados pela inflação. O montante equivale a 6% do previsto no Orçamento. Houve uma reação em 2020, quando se chegou a R$ 60 milhões de gastos com investimentos. Ainda assim, o valor é o menor desde 2015, auge da crise econômica no governo de Dilma Rousseff (PT). Mais de um terço dos recursos do ano passado, entretanto, é relacionado a ações emergenciais de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus nas instituições federais de ensino, sem impacto nas demandas estruturais permanentes. O MEC foi procurado, mas não se manifestou sobre os questionamentos apresentados pela reportagem.
Os investimentos não acompanham também a evolução do número de alunos de ensino superior. De 2015 a 2020, o total de matrículas cresceu 10% na rede (universidades e institutos federais). Esses recursos emergenciais foram direcionados para que as instituições colaborassem na produção de equipamentos de proteção individual, e uma parte, para um projeto do MEC que ofereceu acesso à internet a estudantes pobres das federais. A verba só só foi anunciada em agosto passado, apesar de as unidades terem fechado as portas desde março. Na média dos dois primeiros anos de governo Bolsonaro, o MEC executou de fato 10% do que havia sido orçado como investimento. No mesmo período da gestão anterior, de Dilma e Michel Temer (MDB), esse índice foi de 12%. Apesar de a diferença nos percentuais ser pequena, os Orçamentos de 2019 e 2020 foram menores do que o acumulado nos dois anos iniciais da gestão passada. Em valores nominais, foram R$ 12 milhões a menos na comparação dos dois períodos —quando atualizados pela inflação, a diferença chega a R$ 29,8 milhões.
"A situação é extremamente complexa e delicada, não conseguimos executar nosso planejamento e mesmo tocar a própria consolidação da rede", diz a professora Sônia Regina de Souza Fernandes, que assume neste mês a presidência do Conif (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica). "Temos muitas unidades que precisam se consolidar em termos de infraestrutura, aquisição de equipamentos, laboratórios, e [a redução de orçamento] tem implicações na oferta de cursos e de novas vagas", afirma. Com relação à educação profissional, os cortes afetam obras atrasadas em 24 institutos federais, que somam R$ 88 milhões, segundo levantamento do Conif do fim do ano passado. São construções de salas, laboratório, aquisição de equipamentos, atualização de data center para reforço do ensino a distância e até reforma de telhado. Colaboram com o preocupante cenário, diz Fernandes, as reduções orçamentárias que se acumulam desde 2015 e que impactam as contas de custeio, e o fato de o Orçamento de 2021 ainda não ter sido aprovado pelo Congresso. Com isso, o percentual atual destinado à rede neste ano está muito baixo.
Sob a gestão do ex-ministro Abraham Weintraub, que ficou no cargo de abril de 2019 a junho de 2020, o MEC passou por uma paralisia com fortes reflexos na execução orçamentária. A pasta sofreu contingenciamentos, perdeu quase R$ 1 bilhão para que o governo pagasse emendas parlamentares em busca de apoio, represou recursos ao longo de 2019 e somente nos últimos dias do ano acelerou empenhos (a primeira etapa da execução). Em 2020, as confusões ideológicas provocadas por Weintraub, que insultou até o STF (Supremo Tribunal Federal), travaram o andamento dos trabalhos, segundo relatos de membros do governo. A pandemia impactou os gastos do governo como um todo. No entanto, decisões políticas da gestão Bolsonaro representaram prejuízo para educação: houve, por exemplo, a retirada de R$ 1,4 bilhão do MEC para financiar obras federais gerenciadas por outras pastas. A maior parte desse corte afetou a educação básica e profissional. O orçamento de 2021 prevê para o MEC uma redução de 21% nos recursos dos programas de educação profissional, gestados sobretudo pelos institutos federais.
O projeto no aguardo de aprovação parlamentar ainda condiciona 42% dos recursos da Educação a aprovações de créditos extras pelo Congresso, como revelado pela Folha. O efeito mais contundente dessa situação, que representa insegurança aos ordenadores de despesas, será nas universidades e institutos federais. O atual ministro, Milton Ribeiro, tem tido atuação criticada pela sua distância dos temas e decisões da pasta. O pesquisador Gregório Grisa, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, diz que a paralisia do MEC provocou uma imobilidade nas instituições no planejamento. Ele ressalta que os investimentos "são a cereja do bolo" dos recursos discricionários (de livre aplicação do governo), que têm tido fortes reduções. "Reitor nenhum vai ampliar cursos e vagas, assim como ampliar pesquisas e projetos de extensão, com o universo de constrangimento de capital. Não é só o fato de receber menos recursos, mas eles não sabem quando, não sabem o perfil de contingenciamento, só o que sabem é que não vai ter investimento", diz Grisa. Segundo o pesquisador, sem investimentos não há adaptações prediais, de laboratórios e compra de insumos para pesquisa. "Isso implica menor uso ou inviabilidade de uso [de recursos] que afetam projetos de ensino, extensão e pesquisa."

*”Escolas municipais de São Paulo retomam aulas presenciais de forma parcial”*
*”Volta às aulas após quase um ano provoca estranhamento em pequenos e ansiedade nos maiores”*

THIAGO AMPARO - *”O golpe de 2022 será com armas”*: Com ironia, aqui vai um alerta de gatilho (literalmente): todos os fatos futuros narrados aqui jamais ocorrerão e as instituições estão funcionando perfeitamente. Todos os fatos pretéritos, no entanto, ocorreram. Vejo a panela em que o sapo da democracia, lentamente, cozinha. Ali está o sapo banhando-se na água do autoritarismo, como quem flutua na santa paz de um mercado e de um centrão felizes, apesar de você. 30 de outubro de 2022. Quando Jair Bolsonaro perdeu o segundo turno da eleição presidencial com 45% dos votos, apesar do apoio em segundo turno do DEM e do PSDB, de uma oposição dividida e de fake news de fraude eleitoral, as coisas começaram de fato a ficar feias. Não que elas já não estivessem feias, dadas as 400 mil mortes pela pandemia e a vacinação que deslanchou só em 2022. Carnaval em 2022, como no ano anterior, não houve. Tal qual um tenentismo 2.0, a revolta começou entre militares. O fogo de palha estava nos 12% dos policiais militares, que uma pesquisa de julho de 2020 já mostrara serem favoráveis a prender ministros do STF e fechar o Congresso. Os outros 88%, poucos afetos à revolta, se juntaram ao movimento, mais por demandas corporativas como aumento salarial do que fé na revolução. Diversos estados viram o motim que acontecera no Ceará em fevereiro de 2020 se espalhar no seu quintal. O bolsonarismo havia cooptado policiais, em especial depois do decreto que, no meio do carnaval de 2021, os autorizou a terem duas armas de uso restrito, e facilitou a aquisição de armamentos pesados que antes constavam da lista de produtos controlados do Exército. Mais armas em circulação e menos controle é igual a mais armas com o crime organizado e as milícias. De início, a revolta sofreu resistência dos novos generais das polícias militares, cargo recém-criado pela nova lei orgânica das PMs, adotada no final de 2021 com a bênção do arenão de Lira e Pacheco. Independentes por lei de seus governadores, os comandantes das PMs decidiram apoiar, com relutância, o desvario de seus subordinados. O STF tentou intervir, mas os ministros bolsonaristas na Corte pediram vista, com medo de se repetir aquele premonitório agosto de 2020 em que Bolsonaro ameaçou mandar tropas para o Supremo.
A população, embora desaprovasse em 72% a proposta de armar cidadãos, ficou com medo de protestar. Milícias armadas a serviço do poder de plantão contribuíram para tanto. A alta de 5% dos assassinatos em 2020 fora alimentada por disputas entre grupos armados, impulsionada pelas armas que migraram do mercado legal para o ilegal. Era previsível: 2020 já tinha visto um aumento de 91% no registro de armas em relação a 2019. E o ano seguinte, 2021, fora pior ainda. O controle de armas se tornou mais raro. Conforme fora estipulado em decreto de fevereiro de 2021, quem escondia fuzis em casa era avisado, 24 horas antes, de qualquer fiscalização. Estado de direito apenas para humanos direitos com fuzil. O que se seguiu foram meses de um governo à base da bala, sangue e medo, como sempre fora. Dezenas foram mortos Brasil afora, na balbúrdia militaresca, até que a nova presidência tomou posse, com atraso e sem a presença de Bolsonaro, que foi morar entre Atibaia e Barra da Tijuca. Lá pelos idos de 2023, quando o golpe fracassado de 2022 esmorecer na memória, colunas de jornal dirão que era possível o STF e o Congresso terem revogado os decretos pró-armas, que a escolha não era tão difícil assim, que não faltou quem avisara que a falta de um projeto progressista de segurança nos custaria a democracia, que a frente poderia ter sido ampla, e que o presidente da república deveria ter sido investigado por genocídio. Em 2023, no entanto, já era tarde. Quem dera estivéssemos em 2021.

*”Ginásio do Ibirapuera acumula déficit de R$ 76,2 milhões nos últimos dez anos”*
*”Do Leblon à Maré, 'órfãos do Carnaval' lotam ruas do Rio”*
*”Praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, tem aglomeração no Carnaval”*
*”Equipes de ambulâncias privadas dizem não conseguir se imunizar em SP”*

*”Brasil registra a maior média móvel de mortes desde o início da pandemia”*
*”Variante do coronavírus é identificada em morador de SP que não foi ao Amazonas”*

MÔNICA BERGAMO - *”Saul Klein entra na Justiça para cobrar mais de R$ 13 mi do irmão Michael”*
MÔNICA BERGAMO - *”Ex-secretários da Cultura de SP assinam carta por retomada do ProAC”*

MÔNICA BERGAMO - *”Vereador pede que Ministério Público investigue denúncias de contágio por Covid-19 em escolas de SP”*: O vereador paulistano Celso Giannazi (PSOL) diz estar recebendo relatos de casos de infecção por Covid-19 em escolas municipais. Ele pediu que o Ministério Público investigue denúncias de três profissionais que afirmam ter contraído o vírus trabalhando presencialmente na zona sul, em programa de recuperação. A Secretaria Municipal de Educação afirma que adotou diversos cuidados para o retorno às aulas, investiu em segurança e orientou as unidades educacionais a seguirem um protocolo em caso de suspeita de casos nas unidades.

MÔNICA BERGAMO - *”Duzentas entidades assinam manifesto contra revisão 'arbitrária' de Programa Nacional de Direitos Humanos”*: Mais de 200 entidades e movimentos sociais assinam uma nota pedindo a revogação de portaria do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que revisa o Programa Nacional de Direitos Humanos. A medida foi antecipada pela coluna na última semana. O documento classifica o ato como “decisão arbitrária da ministra Damares Alves”, chefe da pasta. “A portaria deixa evidente em sua composição, da qual fazem parte apenas membros do Executivo, a visão de Estado e gestão pública autoritária contrária à Constituição Federal e aos tratados de direitos humanos”, diz o texto. A carta tem entre seus signatários o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, o Movimento Negro Unificado e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa.

MÔNICA BERGAMO - *”Rachel Maia lança livro sobre sua trajetória do extremo sul de SP ao comando de multinacionais”*

CAPA – Manchete principal: *”STF tem 377 julgamentos parados por pedidos de vista”*

EDITORIAL DO GLOBO - *”Oposição rachada facilita vida de Bolsonaro em 2022”*: A maior vitória do presidente Jair Bolsonaro na eleição da cúpula do Congresso nem foi a garantia de que aliados comandarão Câmara e Senado. Foram os desentendimentos que se alastram pela oposição e já facilitam sua vida na campanha eleitoral de 2022. A tão falada ampla aliança para tentar derrotá-lo se tornou uma impossibilidade. Como falar em aliança quando os principais partidos não conseguem nem manter a paz interna? Tem racha no DEM, conflitos no PSDB, disputas no MDB... Para não falar no incômodo criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os partidos de esquerda, ao lançar novamente Fernando Haddad como pré-candidato do PT. Bolsonaro testemunha cenas explícitas de desarticulação entre os adversários. A eleição dos candidatos bolsonaristas Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para as presidências da Câmara e do Senado, impulsionada pela larga distribuição fisiológica de verbas, rachou vários partidos. No DEM, a vitória de Lira causou abalos sísmicos. Rodrigo Maia (RJ), que presidia a Câmara e lançara Baleia Rossi (MDB-SP) para substituí-lo, foi atropelado pela tendência bolsonarista do partido. Anunciou a desfiliação e rompeu com ACM Neto, presidente da legenda. “Um amigo de 20 anos entregou nossa cabeça numa bandeja para o Planalto”, disse ao “Valor Econômico”. Maia queria levar o DEM para o centro, facilitando a repetição da dobradinha tradicional com o PSDB que tem funcionado desde os tempos de FHC. Mas também os tucanos não se entendem. O partido entrou em ebulição. Em jantar na noite de segunda no Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria, que deseja presidir o PSDB a partir de maio, propôs afastar o grupo do ex-governador e deputado Aécio Neves, antigo desafeto, de modo a abrir espaço para Maia e seus parceiros do DEM. Piorou a situação e prejudicou o próprio projeto de representar a legenda na eleição. O governador gaúcho, Eduardo Leite, já aceitou convite para ser pré-candidato a 2022.
À esquerda, Lula aproveitou para já indicar Fernando Haddad sem conversar com aliados naturais, como PDT, PSOL ou PCdoB. No PDT, Ciro Gomes trabalha faz tempo para se candidatar. Certamente o PSOL, depois do desempenho de Guilherme Boulos na eleição para a prefeitura de São Paulo, tentará disputar o primeiro turno da eleição presidencial para tentar atingir a cláusula de desempenho na Câmara de Deputados. A mesma lógica vale para o PCdoB, que se organiza em torno da pré-candidatura de Flávio Dino, governador do Maranhão. Fraturada, a oposição não tem muito tempo para se estruturar. Se continuarem as picuinhas e disputas de ego, a eleição de 2022 poderá repetir a polarização de 2018, entre Bolsonaro e Haddad. É um cenário que favorece mais Bolsonaro como tributário natural do antipetismo do que Haddad como sorvedouro do antibolsonarismo. Para derrotar Bolsonaro, será vital haver entendimento em torno de nomes e projetos agregadores. Não será fácil, por isso é preciso superar logo as crises. É compreensível que as legendas queiram escolher logo seus puxadores de votos para o primeiro turno. Bolsonaro tem, contudo, uma base eleitoral que hoje lhe garante a presença no segundo. Sem uma aliança bem construída antes do pleito, cresce muito a chance de que fique mais quatro anos no Planalto.
+++ Depois de isolar completamente as vozes da esquerda, agora, em certo desespero diante da possibilidade de Jair Bolsonaro vencer em 2022, o jornal O Globo demonstra alguma preocupação com o que chama de fragmentação entre os partidos de esquerda. A preocupação tem origem nos rachas que atingiram os partidos PSDB e DEM – queridos das Organizações Globo.

*”Parados no Supremo – Pedido de vista concentra poder em um só magistrado e paralisa 377 processos”* - Em meio à iniciativa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, de pregar contra as decisões monocráticas de ministros, o julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro na condenação do ex-presidente Lula expôs outro mecanismo que concentra poder nas mãos de um magistrado: os pedidos de vista. Neste momento, o expediente paralisa 377 processos na Corte, em desrespeito, na maioria das vezes, ao regimento interno do colegiado, que prevê a obrigatoriedade de retorno do caso ao plenário duas sessões depois para que a tramitação seja retomada. O mais comum é que os ministros levem meses e até anos para devolver os casos para julgamento. No caso da suspeição de Moro, o ministro Gilmar Mendes pediu vista do julgamento em dezembro de 2018, na Segunda Turma. Até agora, Cármen Lúcia e Edson Fachin votaram a favor de Moro. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski ainda não votaram, mas deram a entender nos debates que consideram exacerbada a atuação do ex-juiz na condução da Lava-Jato. Em outubro do ano passado, o ministro Celso de Mello, que também votaria, se aposentou e foi substituído por Nunes Marques. Com a nova configuração do colegiado, Mendes cogita retomar o julgamento ainda neste semestre, na esperança de seu ponto de vista sair vitorioso. Isso porque o voto de Celso de Mello era uma incógnita e, no STF, ministros acreditam que Nunes Marques votará contra Moro, por ser visto como garantista. O constitucionalista Mamede Said, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a demora em devolver os casos para julgamento contribui para a morosidade da Justiça, que já está congestionada com muitos processos:
— O pedido de vista é um direito do magistrado em qualquer tribunal, em geral, para firmar uma ideia mais precisa sobre matéria. Mas muitas vezes (em que) ele é utilizado, acaba surtindo efeito de procrastinar, retardar o julgamento do feito.
Temas polêmicos
Atualmente, entre os pedidos de vista no STF, 207 são do plenário. Nesses casos, os 11 ministros participam do julgamento. Outros 90 são da Primeira Turma, formada por cinco ministros; e 80, da Segunda Turma, constituída por outros cinco magistrados. Dos 377 pedidos de vista no STF, 152 já foram devolvidos e, em tese, a votação pode ser retomada a qualquer momento, dependendo apenas de o presidente da Corte, Luiz Fux, incluir os processos na pauta. Entre os processos que aguardam reposição na agenda está o que versa sobre a criminalização do porte de drogas para consumo próprio. Em setembro de 2015, o ministro Teori Zavascki pediu vista no julgamento. Com a morte dele, em janeiro de 2017, o seu substituto, o ministro Alexandre de Moraes, herdou o processo e em novembro de 2018, devolveu o caso para ser analisado em plenário. O então presidente do STF, Dias Toffoli, chegou a marcar o julgamento por duas vezes no ano seguinte, mas o retirou de pauta. Até agora, três ministros votaram: o relator Gilmar Mendes, que defendeu a descriminalização do porte para uso de todo tipo de droga; e Fachin e Luís Roberto Barroso, que votaram pela descriminalização, mas só para o porte de maconha.
Num outro caso, em maio de 2012, o ministro Luiz Fux pediu vista no julgamento de uma ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra uma lei do Estado do Rio de Janeiro que trata da organização do Tribunal de Justiça local e prevê, entre outros itens, algumas gratificações, como o auxílio pré-escolar. Em dezembro de 2017, Fux devolveu o caso para julgamento. Um ano depois, Toffoli, então presidente a Corte, marcou o julgamento para março de 2019, mas, logo depois, o retirou da pauta. Na Suprema Corte dos Estados Unidos, os ministros podem rejeitar o julgamento de uma causa em razão de a questão envolver valores que não estão maduros socialmente para serem julgados. A Constituição brasileira não permite isso. A válvula de escape para esse filtro, muitas vezes, acaba sendo o pedido de vista. O pedido de vista mais antigo aguardando julgamento no plenário é do ministro Carlos Ayres Britto, que se aposentou em 2012. A interrupção do julgamento foi em agosto de 2006. Ele devolveu o caso para a pauta em fevereiro de 2012, mas a ação jamais voltou a julgamento. O processo trata do quorum necessário para o Legislativo deliberar sobre acusação contra governador por crime de responsabilidade.
Também no plenário, Gilmar Mendes pediu vista de um processo em agosto de 2011 e ainda não o devolveu. É o caso mais antigo do plenário sem devolução do ministro. O caso trata de execução extrajudicial no Sistema Financeiro de Habitação. Na Primeira Turma, o caso mais antigo de pedido de vista é de um processo de uma empresa de energia elétrica do Espírito Santo que questiona o cálculo de alguns impostos federais. Fux interrompeu o julgamento em outubro de 2016. O ministro não integra mais o colegiado desde setembro do ano passado, quando assumiu a presidência do STF. Na Segunda Turma, o recorde é de um processo com pedido de vista também de Ayres Britto em agosto de 2010 e jamais devolvido para julgamento. É um processo em que uma empresa aérea tentou anular uma multa aplicada pela Justiça. A assessoria de comunicação do STF divulgou nota defendendo o direito dos ministros de pedirem vista e ponderando sobre as dificuldades de elaborar a pauta de julgamentos. “É prerrogativa dos ministros pedirem vista para estudarem melhor os processos em andamento na Corte. Em relação à pauta do plenário, que é elaborada pelo presidente da Corte, a definição dos julgamentos é feita em interlocução com os relatores dos casos, respeitando sempre que possível a prioridade por eles solicitada, e levando em conta casos que demandam solução em prol da segurança jurídica do país”, diz o texto.
Outros tribunais
O pedido de vista não é um mecanismo apenas do STF; ele existe também nos outros tribunais brasileiros. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), por exemplo, pedidos de vista vêm retardando a análise, pela Quinta Turma da Corte, de habeas corpus do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso da “rachadinha” na Alerj. Em novembro do ano passado, o relator, ministro Felix Fischer, votou para negar os pedidos da defesa, mas o ministro João Otávio de Noronha pediu vista. O regimento interno do STJ prevê que a vista deve ser devolvida em até 60 dias, prazo que fica suspenso durante o recesso e as férias. Noronha fez isso dentro o prazo e, na última terça-feira, votou a favor de parte dos pedidos da defesa. Mas o julgamento não foi concluído porque o próprio relator pediu nova vista.
+++ A reportagem não parece ter outro objetivo senão o impacto da manchete que coloca uma crítica ao STF. Já o conteúdo é extremamente superficial. Apenas uma fonte (um “especialista”) foi ouvida. Não há qualquer contraponto à opinião desse único “especialista”. É o famoso “samba de uma nota só”. Não é nada surpreendente que o Globo defenda tanto a Lava Jato, as reportagens do jornais operam de forma parecida, adotam uma tese e encontram uma maneira de provar aquele ponto, mesmo que seja sem respeitar o que deveria ser uma “boa prática”

*”Huck conversa com seis partidos de olho em 2022”* - No domingo, dia 7, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) desembarcou no Rio para um encontro com o apresentador Luciano Huck. Ao deputado, interessava alinhar os seus rumos após a eleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) para sucedê-lo e a briga pública com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM-BA). A Huck, era importante ouvir um dos muitos interlocutores que passou a ter na política nos últimos tempos devido às articulações para se lançar candidato ao Planalto no ano que vem. Desde 2018, quando seu nome já havia sido especulado para a disputa que elegeu Jair Bolsonaro, o apresentador tem relações explícitas com PSDB, DEM e Cidadania (na época chamado de PPS). O GLOBO apurou que, nos últimos meses, o apresentador também já abriu canal com PSB, Podemos e PSD como possibilidades para 2022. Ele até agora não indicou, entretanto, se de fato entrará na política e se adotará um perfil de centro-esquerda ou centro-direita. Na conversa com Maia, Huck ouviu que o DEM não poderia mais hospedar um projeto antibolsonarista diante do alinhamento da bancada baiana na vitória de Lira na Câmara — dias depois, ACM Neto telefonou para o apresentador negando a informação. Naquela noite, o ex-presidente da Câmara queria saber dos planos de Huck e contou ao apresentador as suas duas principais hipóteses quando deixar o DEM: filiar-se ao PSL, dono de milionário fundo partidário; ou migrar para o PSDB de João Doria. Liderar uma fusão de Cidadania, Rede e PV, noticiado como possibilidade durante a semana, está em segundo plano para Maia. A ex-senadora Marina Silva resiste a dar fim ao Rede; já o PV vive uma crise interna com parte da sigla tentando desalojar do poder o presidente José Luiz Penna.
Huck mais uma vez não se comprometeu com respostas concretas a Maia. Tem sido este o conselho dado pelo seu principal consultor político, o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. O ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, exerce o mesmo papel na área econômica. O apresentador considera que haverá dois momentos de tomada de decisão: a entrada na política, por volta de setembro deste ano, quando o cenário econômico e social estará mais claro; e a filiação partidária no primeiro semestre de 2022 apenas.
Projeção de cenários
Hartung e Huck têm olhado com lupa todas as pesquisas recentes para decidir os próximos passos. O ramo das sondagens interessa tanto ao apresentador que ele abriu sua agenda em 5 de fevereiro para uma conversa com Murilo Hidalgo, dono do Paraná Pesquisas. Diante dos dados, o ex-governador do Espírito Santo projeta o seguinte cenário para Huck organizar o futuro: Bolsonaro perderá popularidade ao longo do ano. Mesmo criando um novo auxílio, o valor jamais será próximo aos R$ 600 pagos em 2020, o que alimentará a frustração de parte do eleitorado. Com o poder da máquina, Hartung imagina, contudo, que o piso da avaliação ótimo e bom do presidente não cairá de 25%, o que o tornará competitivo para estar no segundo turno em 2022. A despeito da força do Planalto, pesquisas divulgadas neste início de ano, especialmente uma do Datafolha de janeiro, animaram Huck e o seu entorno. Em um índice de confiabilidade de figuras públicas brasileiras, o apresentador apareceu na frente do governador de São Paulo, João Doria, com ativos eleitorais que há tempos os tucanos encontram dificuldades de ter: entrada no Nordeste e na população de baixa instrução.
Baixos índices
Hartung chegou a fazer uma análise para Huck no fim do ano passado: a vacina Coronavac, do Instituto Butantã, poderia equivaler ao Plano Real para FH em 1994. Quase um mês depois do início da imunização no país, os índices de popularidade de Doria pelo Brasil profundo patinam. Os baixos números do governador de São Paulo coincidem com o movimento que ocorreu na semana passada no PSDB, de lançamento da pré-candidatura presidencial do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. No campo do que se convencionou chamar de centro na política brasileira, uma análise de Huck e seu entorno é diferente de praticamente todo o mundo político: o ex-juiz Sergio Moro ainda pode, sim, ser candidato devido aos seus altos e resilientes (embora em queda) índices de popularidade. Com Moro na urna, Huck estará fora do jogo de 2022.

*”MP investiga relação do presidente da Alerj com agiota da Baixada”* - A relação entre um agiota do município de Paracambi, na Baixada Fluminense, e o deputado estadual André Ceciliano (PT), reeleito presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) este mês, está no centro de uma investigação conduzida pelo Ministério Público (MP) fluminense, iniciada no ano passado e, recentemente, deslocada de competência no Judiciário. Tratado inicialmente como uma suspeita de “rachadinha” no gabinete de Ceciliano, o caso mira o empresário da construção civil Carlos Alberto Dolavale, de 63 anos, que esteve lotado no gabinete do petista, assim como quatro pessoas com quem ele tem parentesco. A proximidade da família com o político dura quase duas décadas, desde quando ele foi prefeito de Paracambi. Dolavale e a ex-mulher, Elisângela Barbiere, foram citados no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que, em 2018, identificou movimentações atípicas de funcionários da Alerj. Os lotados no gabinete de Ceciliano somam o maior montante identificado pelo órgão: mais de R$ 49 milhões movimentados entre 2011 e 2017, sendo R$ 45 milhões apenas pela família de Dolavale. O documento embasou a Operação Furna da Onça, que prendeu sete deputados estaduais do Rio e revelou transações financeiras suspeitas de assessores de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, hoje senador.
O dinheiro movimentado por Dolavale, Elisângela e o pai dela, o aposentado Benjamin Barbiere, foi o estopim para que o MP passasse a buscar indícios de desvios dos salários pagos pela Alerj à família. Com a quebra de sigilo bancário e fiscal de Ceciliano, a promotoria descartou a existência de “rachadinha” e passou a considerar, em seguida, que a remuneração pudesse ter sido utilizada pelo parlamentar na quitação de uma suposta dívida contraída com Dolavale. Ceciliano nega que o débito tenha existido. Conforme noticiou o jornal “Folha de S.Paulo”, no ano passado, o próprio Dolavale disse à Polícia Federal (PF), ao depor em 2012, em outra investigação, que Ceciliano devia R$ 170 mil por compras feitas na loja de material de construção que administrava à época, em Paracambi. O petista foi prefeito do município entre 2001 e 2008. Após a informação ter sido divulgada pela “Folha”, Dolavale voltou a se pronunciar em juízo, corrigindo-se: a dívida seria de um vereador da cidade que teria utilizado o nome de Ceciliano como garantia. Após essas afirmações, o MP solicitou autorização judicial para realizar novas diligências. O Tribunal de Justiça (RJ) do Rio, no entanto, alterou a competência do caso e o enviou à primeira instância em Paracambi, onde há uma vara única de Justiça. A mudança sinaliza uma alteração no foco da investigação, uma vez que Ceciliano, enquanto deputado estadual, tem foro privilegiado e o direito de ter processos julgados em segunda instância.
No lugar do político, Dolavale passou a ser o principal alvo do procedimento, tendo em vista as discrepâncias entre os valores movimentados e as rendas dele e dos familiares. Registros policiais obtidos pelo MP indicam que Dolavale atuaria como agiota: as autoridades receberam relatos de pessoas que teriam sido ameaçadas por não conseguirem quitar suas dívidas com o empresário. Procurado, André Ceciliano afirmou confiar na Justiça e estar “certo de que não cometeu qualquer irregularidade”. O presidente da Alerj pontuou, em nota, que não se encaixa nos critérios que o MP estipulou para as investigações das “rachadinhas” e disse que não teria existido “ilicitude ou irregularidade” nas nomeações de Dolavale e de membros da família. Questionado sobre a origem de sua ligação com o empresário, Ceciliano justificou que os Dolavale “são pessoas conhecidas em Paracambi”, onde foi prefeito por dois mandatos, e completou afirmando que Carlos Alberto “é um empresário conhecido na região e já foi diretor do maior hospital da cidade”. O texto do parlamentar ainda diz que ele sempre esteve à disposição dos investigadores, tendo se disponibilizado a entregar seus sigilos bancário e fiscal à promotoria, e finaliza declarando que “ficou comprovado, no avanço das investigações do MP, que as relações financeiras de Carlos Alberto e sua mulher Elisângela nada tinham a ver com o exercício da atividade deles na Alerj”.
Trabalho à distância
Dolavale e Elisângela ainda estavam casados em 2018, quando o relatório do Coaf veio à tona. Os dois foram nomeados para o gabinete de Ceciliano em 2011. Ele deixou o cargo no ano seguinte, enquanto ela permaneceu empregada até fevereiro de 2019. Elisângela foi a recordista individual de transações atípicas identificadas pelas autoridades: sozinha, movimentou R$ 26 milhões enquanto recebia um salário de cerca de R$ 7 mil. A filha dela, Vanessa Barbiere, esteve como funcionária do gabinete entre 2012 e 2015. O pai, Benjamin Barbiere, não esteve lotado, mas fez transações que, para o MP, não eram condizentes com a renda da aposentadoria. No ano passado, a separação de Dolavale e Elisângela foi formalizada judicialmente. Filho do primeiro casamento do empresário, anterior ao relacionamento com Elisângela, Rogério Flores Dolavale é sócio do pai em uma empresa de construção civil, desde 2019, e esteve lotado no gabinete de Ceciliano até março daquele ano. O GLOBO verificou que, em fevereiro de 2018, um ano antes da exoneração, Rogério abriu um processo contra uma companhia de energia elétrica no qual informou ser auxiliar de escritório e morar em Paracambi, no bairro Raia. O local fica a cerca de 80 quilômetros da Alerj, com percursos que podem durar até duas horas de carro e quase três horas em transportes públicos. O gabinete de Ceciliano afirmou, na nota enviada ao GLOBO, que os integrantes da família Dolavale “entendiam as demandas da população” de Paracambi e “tinham a função de atendimento às demandas dos moradores da Baixada Fluminense”. O texto informa que eles teriam atuado tanto no gabinete da Alerj quanto nas cidades da região. Procurado, o advogado Ricardo Tonassi, que representa Carlos Alberto Dolavale e a família, não quis comentar o caso, que corre sob segredo de Justiça.

*”Para Bolsonaro, ‘povo vibra’ com novas regras de uso de armas”*
*”Seleção à distância – Vestibulares realizados em casa viram realidade em universidades privadas”*

*”São Paulo detecta cepa de vírus em paciente que não esteve no Amazonas”*
*”Atalho para o consumo – Consórcios ressurgem e já tem quase 8 milhões de participantes”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Home office deixa um em cada cinco escritórios sem inquilino”*
+++ Por que “home office” e não “trabalho domiciliar” ou “trabalho de casa”? O uso de uma expressão estrangeira significa o novo regime de trabalho de uma forma menos pejorativa ou tanto faz? O uso da expressão em inglês diminui a sensação de precarização do trabalho? Lembrando que a linguagem é um campo de disputa política permanente e a construção de sentido e significado é o que encaminha uma sociedade em direção ao neoliberalismo ou ao socialismo ou seja lá para onde for.

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Unidos pela vacina”*: Aprioridade nacional é a vacinação de todos os brasileiros maiores de 18 anos contra a covid-19, respeitando-se, é claro, a ordem de precedência estabelecida pelas autoridades de saúde. Não é a única prioridade em um país marcado por tantas chagas abertas, mas não é possível dar a atenção necessária a temas como recuperação econômica, reformas estruturais, políticas educacionais e preservação do meio ambiente, enquanto cerca de 1,5 mil brasileiros morrem em decorrência da doença todos os dias. Uma situação como essa paralisa a Nação. Não se pode vislumbrar um futuro mais promissor para o País se o morticínio causado pelo novo coronavírus não for interrompido o mais rápido possível. A perda de tantas vidas, dia após dia, drena as forças da sociedade, que não pode simplesmente olhar resignada para o ignominioso comportamento do presidente Jair Bolsonaro na condução do País em meio a esta tragédia sem precedentes. São quase 240 mil vidas perdidas por uma única causa em tão pouco tempo, e há de chegar o dia em que o presidente da República terá de responder à Justiça por sua parcela de responsabilidade na produção deste terrível resultado.
É consenso que apenas uma massiva e rápida campanha de vacinação – como só o SUS tem experiência em fazer – pode frear a circulação do vírus e impedir o crescimento desenfreado das internações e mortes por covid-19. Mas, se depender da iniciativa do governo, muita gente morrerá até que o País possa contar com as doses de que tanto precisa. Em audiência no Senado, na quinta-feira passada, o ministro da Saúde foi incapaz de responder a uma singela pergunta formulada pelas senadoras Rose de Freitas (MDB-ES) e Simone Tebet (MDB-MS): quando haverá vacinas suficientes para imunizar todos os brasileiros elegíveis? Diante da desidiosa atuação do governo federal, que trata a emergência sanitária na base do improviso e da negação, um grupo de empresários, entidades de classe e veículos de imprensa, entre os quais o Estado, se uniu para ajudar a agilizar a compra de vacinas, o transporte, a distribuição e a aprovação dos imunizantes no País. A sociedade se mexe. O movimento “Unidos pela Vacina”, é importante frisar, não visa a comprar diretamente os imunizantes. O objetivo é usar a força da sociedade para pressionar todas as esferas de governo, nos limites de suas responsabilidades, a fim de garantir que entre 60% e 70% da população esteja vacinada até setembro.
“Não vamos sair comprando vacinas”, disse a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza. “O governo federal não precisa de dinheiro para vacinas. Se a necessidade fosse dinheiro, seria mais fácil. Mas podemos agilizar a compra com a influência das nossas empresas.” De fato, a atribuição de comprar vacinas é do Ministério da Saúde, que as distribui aos Estados e estes, aos municípios. O movimento “Unidos pela Vacina” ajuda muito como mais um instrumento de pressão da sociedade sobre um governo que custa a pegar no tranco. Os membros do movimento foram divididos em grupos de trabalho. O principal, como não haveria de deixar de ser, é o que trata da disponibilidade de vacinas em quantidade para atender toda a população. A ciência fez seu trabalho. E com louvor. A partir do primeiro caso registrado de covid19, no fim de 2019, em poucas semanas o sequenciamento genético do novo coronavírus já havia sido realizado. Daí para o desenvolvimento de não uma, mas de ao menos seis vacinas seguras e eficazes contra o patógeno levou pouco mais de um ano. Um feito científico sem precedentes. Portanto, há vacinas. O governo federal é que não trabalhou com diligência para trazêlas aos brasileiros a tempo de salvar vidas. E não o fez porque Jair Bolsonaro não quis. É tão simples quanto isso. Passa da hora de fazê-lo agir como presidente da República.

*”Municípios já dão auxílios em ao menos 14 Estados”* - Enquanto o governo federal ainda discute se volta a pagar o auxílio emergencial, governadores e prefeitos criam ou prorrogam programas próprios a fim de atenuar a ausência de renda e o desemprego acentuados com a pandemia de covid-19. A iniciativa ocorre em cidades de ao menos 14 Estados. Juntamente com os governos locais, o investimento chega a R$ 973 milhões e o atendimento prestado alcança 1,8 milhão de pessoas. Há ações do tipo em capitais como Salvador, Manaus, Cuiabá e São Paulo, mas também em cidades menores, como Guaxupé (MG), Canoas (RS) e Bela Vista de Goiás. O formato do auxílio e o número de atendidos variam, assim como a vigência e o valor. Em parceria com o governo do Pará, Belém pagará o benefício mais alto: até R$ 450, para 9 mil famílias. Promessa de campanha do prefeito eleito Edmilson Rodrigues (PSOL), o “Bora Belém” foi incorporado pela gestão do governador Helder Barbalho (MDB) por meio de uma aliança partidária inusitada, mas que não se limita ao Pará. O novo coronavírus fez com que a defesa de programas de transferência de renda não se limitasse aos partidos de esquerda. Levantamento do Estadão mostra que representantes de ao menos 15 siglas têm projetos de renda básica para dar suporte à população mais carente, do PSOL ao PSL. A prefeita Nárcia Kelly (PP), reeleita no ano passado para comandar por mais quatro anos a cidade de Bela Vista de Goiás, apresentou no dia 1.º a proposta de conceder R$ 300, inicialmente por seis meses, a moradores da cidade com renda familiar de até R$ 89. O projeto aguarda aprovação dos vereadores. Em Rolândia (PR), conforme prometido na campanha, o prefeito Ailton Maistro (PSL) abriu licitação para contratar a empresa que vai fornecer os cartões do “Bolsa Rolândia”. O programa emergencial pagará, a 1.636 famílias, um benefício de R$ 300 nos meses de março, abril e maio.
Com filas de espera nos hospitais e até falta de oxigênio para tratar pacientes graves da doença, Manaus ficou marcada como uma das situações mais caóticas e dramáticas provocadas pela pandemia no País. A necessidade de fechar comércios para conter o contágio levou o prefeito David Almeida (Avante) a lançar o “Auxílio Manauara”, que pagará R$ 200 mensais por um período de seis meses, prorrogáveis por mais seis. Ao todo, 40 mil famílias serão beneficiadas. A prefeitura vai investir R$ 8 milhões por mês no programa. Segundo Almeida, o município enfrenta a maior queda de arrecadação da história, mas ele acredita que o programa assistencial vai movimentar a economia, assim como o pagamento de pequenos fornecedores, que estavam sem receber. “Se nós colocarmos o dinheiro na mão do pequeno, esse pequeno paga o mercadinho, paga a prestação da moto, compra o tijolo, compra o cimento, fomenta a economia dos bairros e faz com que o dinheiro volte para o poder público”, disse o prefeito de Manaus no lançamento do auxílio, no dia 10. Em São Paulo, segundo as contas da Prefeitura, cerca de 1,3 milhão de pessoas estão aptas a receber mais um benefício de R$ 300, dividido em três parcelas de R$ 100. No ano passado, a gestão Bruno Covas (PSDB) concedeu o mesmo valor e, diante da não prorrogação do auxílio federal, propõe a retomada do programa. O projeto foi aprovado em primeira votação semana passada e deve ser levado novamente ao plenário da Câmara nos próximos dias.
Limite. Diferentemente da capital paulista, Salvador não interrompeu o pagamento. O prefeito eleito Bruno Reis (DEM) prorrogou o benefício emergencial, de R$ 270 por mês, até março. E cobra o governo de Jair Bolsonaro para fazer o mesmo. “A realidade da maioria dos municípios do Brasil não permite a manutenção dos auxílios próprios. Só oito capitais criaram benefícios emergenciais e, neste momento, Salvador é a única que está mantendo porque conseguimos ao longo desses anos ter uma situação privilegiada nas contas públicas”, afirmou Reis. Macapá atualmente também paga um benefício, o “auxílio alimentação”, de R$ 300. A diferença é que ele é novo, aprovado em lei de dezembro.
Para a superintendente da Fundação Tide Setubal, Mariana Almeida, a retomada do auxílio federal e a abertura de uma discussão sobre propostas de renda básica permanente são urgentes, assim como os mecanismos tributários necessários para seu financiamento. “São necessárias soluções fiscais para garantir a responsabilidade social que o momento exige e tais soluções requerem debate, seriedade e abertura para análise de cenários e busca por evidências robustas”, disse Mariana, que é professora do Programa Avançado em Gestão Pública do Insper e doutora em Economia do Desenvolvimento pela FEA-USP. O governo Bolsonaro estuda a volta do auxílio a partir de março, mas não há consenso sobre o valor – estima-se entre R$ 200 e R$ 250 – nem o período de vigência. Alguns gestores estaduais e municipais foram alvo de investigações relacionadas à pandemia. O Ministério Público do Amazonas pediu a prisão dealmeida por desvios das vacinas contra o novo coronavírus. No Pará, a Polícia Federal pediu o indiciamento do governador Helder Barbalho (MDB) pela compra irregular de respiradores para tratamento da covid-19 no ano passado. Ambos negam irregularidades. Almeida classificou a atuação do MP de “ilegal e arbitrária”. Barbalho afirmou que ‘o relatório da PF não prova o envolvimento do governador em nenhum ato ilegal ou antiético”.

*”Inquérito pode tirar patente de Pazuello”* - O inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar se houve omissão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no colapso da rede pública de hospitais de Manaus pode levar a uma condenação do general da ativa e até mesmo, em última análise, à sua perda de posto e patente pelo Superior Tribunal Militar (STM). Em outras palavras, na visão de especialistas ouvidos pelo Estadão, o oficial do Exército coloca em risco sua carreira militar por atos como agente político. Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal no início do mês para explicar a sua atuação na crise instalada na capital do Amazonas, onde dezenas de pacientes morreram asfixiados por falta de oxigênio. A suspeita é de que houve omissão da pasta no episódio. O processo tramita no Supremo porque o militar possui prerrogativa de foro perante a Corte, já que ocupa um cargo de ministro de governo. Ao determinar a abertura da investigação, no último dia 25, o ministro Ricardo Lewandowski deu um prazo de dois meses para a conclusão dos trabalhos. Uma eventual condenação de Pazuello pela Justiça Militar, em um segundo momento, com a perda de posto e patente (uma espécie de encerramento da carreira no Exército), está diretamente ligada aos desdobramentos do inquérito contra o ministro que atualmente tramita no Supremo. Caberá ao procurador-geral da República, Augusto Aras, verificar os indícios levantados contra Pazuello e decidir se apresenta ou não uma denúncia. A análise de uma eventual acusação ficaria sob a responsabilidade dos 11 integrantes do plenário do STF, que poderiam colocar o general no banco dos réus. “É preciso deixar bem claro que o Supremo absolve inocentes e condena culpados. Não se tem ainda elemento para se formar uma convicção. O que houve, no meu modo de ver, foi o fator-surpresa, porque alguns países também foram surpreendidos com falta de oxigênio”, disse ao Estadão o presidente do STF, Luiz Fux, em entrevista publicada no último dia 7.
Se a denúncia for aceita pela Corte, o passo seguinte seria abrir uma ação penal e aprofundar as investigações sobre a atuação de Pazuello no cargo, que poderiam resultar na condenação ou na absolvição do ministro. O inquérito poderia sair das mãos do Supremo se eventualmente Pazuello deixar o cargo de ministro de Saúde. Nesse cenário, a tendência é que o inquérito seja encaminhado à Justiça Federal do Distrito Federal. “Penso que não há que se falar em crime propriamente ou impropriamente militar, já que o general Pazuello agiu dentro dos ditames do ordenamento jurídico comum”, avalia o advogado Pedro Carvalho, secretário-geral adjunto da comissão de direito militar da OAB-DF. “Ademais, não haveria razão para tal imputação em crime militar, já que ele, apesar de ser oficial general em atividade, exerce o cargo de ministro de Estado, ou seja, ele agiu como agente público e não como militar”, acrescentou. Além do inquérito no STF, a atuação de Pazuello é alvo de questionamentos no Tribunal de Contas da União (TCU) e de um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. Na quinta-feira passada, o ministro esteve no Congresso e apelou para que a pandemia não seja usada como “frente política”. “(É) contra esse inimigo (covid-19) que temos de nos unir”, disse o ministro.
Desdobramentos. Ao longo dos últimos dias, o Estadão conversou com integrantes do STM, da PGR, do Ministério Público Militar (MPM) e do Ministério da Defesa para traçar o destino jurídico de Pazuello, a depender dos desdobramentos do inquérito do STF. As fontes pediram para não serem identificadas porque podem eventualmente atuar no caso. Uma condenação criminal poderia impedir uma promoção, mas, segundo militares ouvidos pela reportagem, Pazuello já chegou ao topo da carreira – e não pode ser mais promovido, por ser Oficial de Intendência. Nesse caso, o topo da carreira é o posto de general de três estrelas, já ocupado pelo ministro da Saúde. Um ministro ouvido reservadamente pela reportagem disse que Pazuello não poderia ser general quatro estrelas, nem se fosse o melhor titular da Saúde do mundo. Na avaliação de um integrante do MPM, uma punição a Pazuello no âmbito da Justiça Militar é possível no caso de o ministro ser condenado previamente pelo Supremo (ou pela Justiça Federal). Uma decisão sobre a perda de posto e patente caberia ao plenário do STM, em um segundo momento.
Nesse julgamento, o STM decidiria se Pazuello é indigno ou não de pertencer às fileiras do Exército. É um julgamento que vai tratar dos aspectos éticos e morais do oficial sob o prisma do Estatuto dos Militares. “Se o militar, independentemente de ser ministro – vale para todos –, se for condenado por mais de dois anos e um dia, inicia-se um outro processo para a perda do posto e patente, que será julgado pelo STM. É prerrogativa do STM julgar os oficiais generais”, explicou o ex-ministro do STM Rosa Filho. “É muito difícil haver expulsão, mas ele perder o posto e a patente é como se fosse um ‘morreu para a família dele’. Não deixa de ser uma expulsão das Forças Armadas”, afirmou. Nesse caso, quem apresenta a ação, chamada de “representação por indignidade”, não é Aras, e sim o procurador-geral da Justiça Militar, Antônio Pereira Duarte. A ação só é apresentada após o esgotamento de todos os recursos da condenação criminal. Se a condenação for de até dois anos, o procedimento é outro. O caso é submetido antes ao Conselho de Justificação, formado por três oficiais da ativa. Os oficiais elaboram um relatório a ser enviado ao comandante do Exército. O conselho tem um prazo de 30 dias para concluir seus trabalhos. Nesse cenário, caberia ao comandante do Exército analisar se arquiva o caso ou o envia para o STM. Procurado, o STM não quis comentar a situação de Pazuello. O Ministério da Saúde também não se manifestou.

*”’Comissão não é espaço para fazer oposição’”* - A indicação da senadora Kátia Abreu (Progressistas-to) para o comando da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) no Senado já preocupa o governo. Candidata à vice na chapa liderada por Ciro Gomes (PDT) nas eleições presidenciais de 2018 e amiga da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a senadora afirma não haver motivo para esse “temor” da ala governista. “Presidência de comissão não é espaço para fazer oposição. Há espaços institucionais para isso”, disse a senadora, em entrevista ao Estadão/broadcast. “Os Poderes Executivo e Legislativo devem conviver com independência e harmonia e assim o faremos. Se meus colegas e meu partido me indicaram, e se estou sendo muito bem recebida, é porque confiam na minha performance.”
Apesar da posição moderada, Kátia Abreu defende aproximação entre Brasil e China, país que é um dos principais alvos da ala ideológica do governo e que tem, no ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um de seus expoentes. Ela ainda precisa ser formalmente eleita pelos senadores, mas há acordo em torno de seu nome. À frente da comissão, será formalmente responsável pela aprovação de diplomatas indicados pelo governo para embaixadas no exterior, mas quer que o trabalho vá além dessa atribuição – entre elas discussões sobre Defesa, também no rol de assuntos da comissão. “Uma das atribuições da comissão é a defesa nacional. O ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) já pediu a mim um encontro com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e eu me coloquei prontamente à disposição para discutir e aprender”, afirmou. A parlamentar destaca a necessidade de uma aproximação entre Brasil e China, que é um dos principais parceiros comerciais do País e maior produtor de insumos e vacinas para a covid-19. Kátia Abreu elogiou a missão internacional do 5G, liderada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. A comitiva visitou países europeus e asiáticos para conhecer fornecedores locais. “Temos que decidir o que for melhor para o Brasil no 5G, sem preconceitos e ideologia.”
“A China é muito importante para o agronegócio, mas lidera também o comércio eletrônico. Temos muito a aprender com eles. Precisamos de uma legislação sobre esse tema e podemos ser protagonistas. O comércio eletrônico não pode ocorrer sem regras, de forma informal, com todo mundo sendo engolido e perdendo mercado”, disse. Ela defende uma aproximação do Senado com o parlamento europeu, para destravar o acordo entre Mercosul e União Europeia. “Esse acordo precisa ser resgatado. O governo está se empenhando, mas o Congresso pode ajudar atuando junto ao parlamento europeu”, afirmou. A senadora também quer levantar discussões sobre barreiras sanitárias no comércio internacional, que impedem produtos brasileiros de entrar em alguns países. “O Brasil tem todas as condições de liderar uma discussão sobre a questão sanitária sob o ponto de vista internacional. Isso não pode ser usado como barreira, nem por nós nem por ninguém. No Congresso, podemos uniformizar normas, procedimentos e linguagem”, disse. Produtora rural, a senadora reconhece que o Brasil ainda é considerado um país fechado em termos comerciais e que também deve fazer concessões. Segundo ela, a corrente comercial representa 25% do PIB. “Precisamos almejar 40% em cinco ou dez anos, e o Congresso pode contribuir nessa discussão”, disse.

*”CCJ vira alvo de disputa no Senado”*

*”Bolsonaro diz que povo está ‘vibrando com novo decreto’”* - Ao ser questionado pelos jornalistas sobre os decretos que facilitam o acesso a armas e munições no País, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou ontem que “o povo tá vibrando”. A declaração foi dada logo após o presidente encontrar apoiadores na saída do Forte Marechal Luz, em São Francisco do Sul (SC), onde passa o carnaval com a família. Os jornalistas insistiram no assunto, mas Bolsonaro se negou a responder. “Só falo se estiver ao vivo”, disse, já deixando o local. Mais cedo foi a vez do filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) cobrar apoio aos decretos durante um encontro com apoiadores. “Cadê o rapaz que queria arma?”, perguntou Eduardo ao grupo de pessoas que aguardava o presidente na praia, no fim da manhã. Em tom de jogral, Eduardo utilizou velhos bordões contra a esquerda para interagir com o público: “Vocês estão com saudades do BNDES mandando dinheiro para Cuba?”, questionou, ouvindo na sequência um coro de “não”. Em seguida, perguntou: “Criança na escola é para aprender sexo?” Ele também provocou o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Se o Lula vier aqui vai ter esse carinho todo?”, questionou o filho 03 de Bolsonaro ao grupo de apoiadores do pai. Mas houve a mesma receptividade entre os presentes quando Eduardo falou sobre o recém publicado decreto das armas, que flexibiliza a compra de armas e munição. Os vídeos foram postados na rede social do deputado federal. As cenas gravadas por Eduardo ocorreram no retorno de uma pescaria. Como o forte onde estão hospedados tem acesso direto para o mar, a presença do presidente alterou a rotina da praia. O acesso ao mar é controlado por seguranças e todos precisam passar por revistas.
Mudanças. No fim da noite de sexta-feira, o governo federal alterou quatro decretos de 2019 que regulam a aquisição de armamento e munição por agentes de segurança e grupos de colecionadores, atiradores e caçadores (CACS). As alterações flexibilizam os limites para compra e estoque de armas e cartuchos. Entre as mudanças estão o aumento, de quatro para seis, do número máximo de armas de uso permitido para pessoas com Certificado de Registro de Arma de Fogo, a possibilidade de substituir o laudo de capacidade técnica – exigido pela legislação para colecionadores, atiradores e caçadores – por um “atestado de habitualidade”, emitido por clubes ou entidades de tiro. Outra mudança é a permissão para que atiradores e caçadores registrados comprem até 60 e 30 armas, respectivamente, sem necessidade de autorização expressa do Exército. Anteontem, Bolsonaro citou o referendo de 2005 ao divulgar, no Twitter, a publicação dos decretos. “Em 2005, via referendo, o povo decidiu pelo direito às armas e pela legítima defesa”, afirmou. A consulta popular levou à derrubada de um artigo do Estatuto do Desarmamento que proibia o comércio de armas no País. Facilitar o acesso às armas e munições é uma bandeira de Bolsonaro desde a época em que ele era deputado. Em 2019, o presidente tentou flexibilizar o porte e a posse de armamento por decreto, mas foi derrotado no Senado, que anulou o ato por meio de um projeto de decreto legislativo. Quando o texto foi enviado à Câmara, o governo recuou e decidiu revogar seu próprio decreto para evitar a derrota.
Em janeiro, Bolsonaro afirmou a apoiadores, na porta do Palácio do Alvorada, que preparava novos decretos para facilitar o acesso a armas de fogo a CACS. Na ocasião, citou o crescimento recorde na venda de armamentos, mas disse esperar aumento ainda maior. Segundo a Polícia Federal, 179.771 novas armas foram registradas no País no ano passado, aumento de 91% em relação a 2019. Parlamentares do PSOL e do PCDOB informaram que vão ao Supremo Tribunal Federal contestar as mudanças. O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) apontou “risco à democracia”, anunciou que o partido vai ajuizar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adi). O decreto publicado no Diário Oficial da União é assinado por Bolsonaro, pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, e pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Além da flexibilização da posse de armas, o presidente havia prometido recentemente se empenhar para aprovar no Congresso uma ampliação dos critérios previstos para o chamado excludente de ilicitude para agentes de segurança e militares. Ele disse no início do mês, em Cascavel (PR), que já tem “acordado” com os novos presidentes da Câmara e do Senado a votação de um projeto. A intenção é que o projeto de lei tenha efeito para militares e agentes de segurança que atuam em operações de Garantias da Lei e da Ordem (GLO).

*”Após se librar do impeachment, Trump enfrenta tentativas de leva-lo à prisão”*
*”Em Mianmar, general prende ativistas, corta internet e reprime atos”*

*”Após ‘onda’ de devoluções, total de escritórios disponíveis em SP sobe 50%”*
*”Empresas radicalizam e adotam home office para 100% da equipe”*
*”Empresas deverão ter mais escritórios na mesma cidade”*

Nenhum comentário:

Postar um comentário