sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Anvisa reage a pressões do Centrão e a “realidade” na quinta-feira foi traduzida em 1.291 vidas perdidas, elevando o total de mortes a 228,8 mil

 A Anvisa reagiu ontem à mais ostensiva tentativa de politizar as vacinas contra a Covid-19. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ameaçou “enquadrar” a agência para que aprove o uso emergencial de 11 vacinas. Segundo Barros, os diretores da Anvisa “não estão nem aí” para a pandemia. O presidente da agência, Antonio Barra Torres, chamou o deputado às falas, afirmando que ou o parlamentar deve formalizar denúncias que tenha contra a Anvisa ou se retratar. Com a repercussão, o presidente Jair Bolsonaro acabou desautorizando o líder, dizendo que a Anvisa “não pode sofrer pressão”. (Estadão)

No cerne da polêmica está a liberação da vacina russa Sputnik V, apelidada de “vacina do Centrão” e “vacina do Bolsonaro”. Ela é objeto de um lobby intenso, comandado pelo ex-deputado e ex-governador do DF Rogério Rosso (PSD), que tem grande trânsito junto ao Centrão. Segundo o presidente da Anvisa, nos 22 anos da agência “pouquíssimas vezes houve tanta movimentação política”. A questão é que, não testada no Brasil em fase 3, a Sputnik V pode livrar o governo federal da incômoda dependência da CoronaVac, importada e produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. (Folha)

O Senado aprovou a MP que agiliza aprovação de vacinas e autoriza o Brasil a participar da Iniciativa Covax, da OMS. (UOL)

Não é mais só o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. A Procuradoria-Geral da República abriu uma investigação preliminar para apurar a conduta do governo Bolsonaro na crise da Covid-19 no Pará. A decisão, porém, não foi espontânea; foi tomada após o PCdoB acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da crise. (G1)

No inquérito que já está em andamento sobre a situação no Amazonas, Pazuello prestou depoimento ontem à Polícia Federal em Brasília. Ao longo de quatro horas, ele listou ações do Ministério da Saúde no estado. (UOL)

E o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou no Senado um pedido de CPI para investigar possível omissão do governo federal no combate a pandemia. O pedido tem assinatura de 30 senadores, três a mais que o mínimo exigido, mas a instalação da CPI depende da leitura pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Que é aliado do governo. (Poder 360)

Com a sensibilidade de sempre, Jair Bolsonaro disse ontem no Pará que as mortes pela pandemia “são uma realidade” e “que não se pode parar o país por isso”. A “realidade” na quinta-feira foi traduzida em 1.291 vidas perdidas, elevando o total de mortes a 228,8 mil e mantendo a média móvel acima de mil pelo décimo-quinto dia consecutivo.

E o Rio de Janeiro ultrapassou São Paulo como a cidade com o maior número de mortos no país, mesmo tendo a metade da população (6,748 milhões de pessoas contra 12,33 milhões). A capital fluminense acumula 17.535 óbitos, contra 17.491 da outra ponta da Via Dutra. (G1)




Derrotado na tentativa de eleger seu sucessor na presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) articula seu futuro político atirando em várias direções no espectro partidário. Ele já conversou com o Cidadania e também avalia o PSL, que tem a maior bancada na Casa. Seu plano é levar consigo outros 40 políticos, a maioria do DEM. Aliás, segundo Bela Megale, o desligamento de Maia da legenda é esperado para a próxima semana. (Globo)

A distância entre Maia e o presidente do DEM, ACM Neto, só aumenta. Segundo Mônica Bergamo, o nome de Neto já circula como possível vice de Bolsonaro, em 2022. (Folha)

Míriam Leitão: “Maia, em conversa com amigos sobre a sua situação partidária, está dizendo que é difícil permanecer no DEM e a um deles explicou dessa forma: ‘Arena não dá’, referindo-se ao partido que deu sustentação à ditadura. Na entrevista que concedeu à Camila Matoso, na Folha, o presidente do Democratas, ACM Neto, disse que o partido ‘não vai com extremos em 22’, mas acrescentou que não descarta alinhamento com Bolsonaro. Uma resposta que é uma contradição ambulante.” (Globo)

Pois é... O governador goiano Ronaldo Caiado já deu a partida. Assumiu a defesa ostensiva de que o DEM apoie a reeleição de Bolsonaro em 2022. (Folha)

E a eleição para presidências de Câmara e Senado não afetou só o futuro de Maia, conta Alberto Bombig na Coluna do Estadão. As eleições serviram para “o bolsonarismo se infiltrar nos partidos”, ele ouviu do deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP). Em São Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia estuda deixar o DEM e migrar para o PSDB — e isto o definiria como candidato à sucessão de João Doria. (Estadão)

Roberto Freire, presidente do Cidadania: “Esse processo que estava existindo do ponto de vista de 2022 — discussões sobre alternativas, que tipo de articulação e de aliança que estava surgindo — isso mudou, sofreu um retrocesso. O que ocorreu com o DEM e com o PSDB gerou problemas para o PSDB, para o DEM, para a articulação do Luciano Huck, para setores da esquerda que também tiveram problema. Foi desconstruído um pouco do que você já tinha acumulado, vai ter que ser retomado. Precisa ver o rescaldo desse episódio para começar a saber como retomar.” (Estadão)




Os integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato não escondem a frustração com a dissolução do grupo. Januário Paludo, um dos mais experientes procuradores a atuar na força-tarefa diz que o futuro do combate à corrupção no país é incerto, mas que instituições como o MPF renascem mais fortes. (Globo)

Para ler com calma: “A Operação Lava Jato foi o principal evento político do Brasil na década de 2010. O Brasil de hoje foi em grande parte moldado por uma operação criminal deflagrada em Curitiba em 2014, cujo principal líder foi o então juiz Sergio Moro”, avalia o doutor em filosofia e teoria do direito Rubens Glezer. Mas o próprio Moro deflagou a crise na operação ao aceitar ser ministro da Justiça de Bolsonaro meses depois de condenar Lula e tirá-lo da disputa eleitoral. Em 2021, além da dissolução da força-tarefa, o STF deve julgar o habeas corpus de Lula pedindo que sua condenação seja anulada. “É uma oportunidade para reafirmar o pacto civilizatório segundo o qual o modo pelo qual a punição é alcançada importa tanto quanto o resultado.” (Piauí)




Meio em vídeo. Na quarta-feira, 3, o YouTube suspendeu o canal do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, o Terça Livre, para sempre. Essa é uma vitória da democracia. Pode um ato que alguns chamam de censura ser democrático? Se está combatendo ainda em seu ninho uma tirania que tenta nascer, sim. Mas como identificar quando isto ocorre? Veja no YouTube.




A Smartmatic, responsável por um dos sistemas de votação eletrônica usados nos EUA, entrou na Justiça contra o canal de TV FoxNews, três de seus apresentadores e os dois principais advogados de Donald Trump, Rudy Giuliani e Sidney Powell, por difamação. Eles são acusados de prejudicarem a reputação da empresa ao espalharem notícias falsas sobre fraudes nas eleições de 2020. A Smartmatic pede como indenização a bagatela de US$ 2,7 bilhões (R$ 14,5 bilhões). (CNN)

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